1 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 Possíveis contribuições da filosofia pragmática de Dewey na educação Cleidiane Nogueira Prates1 Ms.Warley Kelber Gusmão de Andrade2 1 Acadêmica do 8º Período da Graduação em Pedagogia da UNEB, Campus XII, Guanambi-BA e-mail: [email protected] 2 Professor de Filosofia do Departamento de Educação da UNEB, Campus XII, Guanambi-BA e-mail: [email protected]; Comunicação Possíveis contribuições da filosofia pragmática de Dewey na educação Resumo Este artigo aborda algumas reflexões acerca da filosofia pragmática de Dewey na educação. A ideia de educação pregada pela filosofia pragmática está pautada sob as experiências individuais e sociais do sujeito, dando ênfase à ação e reflexão no meio social, sendo que a prática é fundamental na filosofia deweyana e esta se constitui a partir do pensamento reflexivo que permite estabelecer uma conexão entre o sujeito e o mundo em que ele vive. Dewey apresenta sua teoria pragmática discutindo sobre alguns dualismos que ainda perpetuam na sociedade contemporânea tais como: trabalho e lazer, individuo e mundo, vida e educação, experiência e natureza que contribuem para uma educação desconectada da experiência e consequentemente dificulta a construção de uma sociedade democrática. Para superar essa visão dualista das teorias do conhecimento Dewey se fundamenta no principio da continuidade que permite a interação entre individuo e sociedade a partir da experiência. Há interação do organismo e do meio ambiente, ao passo que este não permanece passivo, ele reage sobre ele. Em educação, isso consiste no processo de reflexão-ação; ação-reflexão, visto que o processo de conhecer está relacionado à atividade de reorganização da experiência baseando-se no método experimental de pensar que seria o “aprender a aprender” como uma forma de “ressignificar experiências.” O principio da continuidade da filosofia de Dewey baseiase num conceito muito forte que é a vida que teve grande influência da teoria de Darwin, pois para o autor a vida social se perpetua através da educação e é esta que cumpre o papel de dar continuidade a esse processo vital, afinal, “educação é vida, não preparação para a vida.” Palavras chave: John Dewey; educação; filosofia pragmática; experiência. Introdução Neste artigo discutiremos sobre as possíveis contribuições da filosofia pragmática de Dewey na educação. Antes de falar sobre essas contribuições, situaremos o leitor acerca do entendimento da palavra pragmatismo. A palavra pragmatismo1 é de origem grega e significa trabalho. O pragmatismo busca subsídios para lidar com a criação de ideias novas frente ao mundo no qual vivemos 1 OZMON; CRAVER. Pragmatismo e Educação. 2004. P.31 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 2 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 em constante processo de mudanças. A ideia de educação pregada pela filosofia pragmática está pautada sob as experiências individuais e sociais do sujeito, dando ênfase à ação e reflexão no meio social, priorizando o aprendizado experimental, através do contato com múltiplas experiências, despertando assim o interesse, a curiosidade do educando, levando-o a investigação dos problemas, e consequentemente ao aprendizado através do próprio esforço, à descoberta de novidades, bem como a realizar a interligação com o conhecimento já existente. A teoria pragmática muitas vezes é mal interpretada quanto a sua contribuição na educação, principalmente quando o termo pragmático é “[...] entendido como “fim prático” ou “satisfação das necessidades práticas” ou algum tipo de “utilidade” definida do material do conhecimento [...]” (MURARO, 2008.p.44). Dewey desfaz esse mal entendido afirmando que o pragmatismo também denominado instrumentalismo “[...] ação ou prática desempenha, realmente, um papel fundamental. Mas ele não diz respeito à natureza das consequências, mas a natureza do conhecimento [...]” (DEWEY, 1953.p.331-332 apud MURARO, 2008.p.45). Isso significa que o pensamento é um instrumento para o conhecimento, e este não pode ser algo previamente definido.Quando Dewey ressalta a importância da ação ou prática em sua teoria ele se refere ao pensamento reflexivo, ao processo de duvida-investigação que permite estabelecer uma conexão entre o sujeito e o mundo em que ele vive. O pensamento reflexivo se dá justamente pelo confronto com situações problemáticas que permitem ao homem resolver conflitos pela transformação da situação existente de modo a introduzir novas hipóteses, pois o pensamento não se trata de decifrar algo que já existe e já foi resolvido como verdade absoluta. O pragmatismo deweyano não busca formular verdades sobre o processo educativo, este “[...] concebe o homem como um ser social, um ser de vontade e que age sobre o mundo, um ser de experiência compartilhada. O pensamento e o conhecimento são mediados pelas ações e visam atender aos fins práticos de sua vontade [...]” (MURARO, 2008.p.46). Daí a grande ênfase na experiência um dos conceitos norteadores da filosofia deweyana que inclusive teve uma forte influência de Darwin. Dewey buscou no principio biológico de Darwin superar os dualismos existentes em sua época. E para discutir com mais profundidade a teoria pragmática de Dewey apresentaremos alguns dualismos que ainda são perpetuados na sociedade contemporânea, e, contribuem segundo o autor para uma educação desconectada com a experiência. Além de apresentar esses dualismos, buscaremos mostrar alguns aspectos do Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 3 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 pensamento deweyano que contribuem para a efetiva interação entre trabalho e lazer, individuo e mundo, vida e educação, experiência e natureza. Trabalho e lazer Um desses dualismos que ainda perpetua na sociedade contemporânea, embora tenha tido origem na Grécia é a separação entre educação liberal e educação profissional e industrial, uma vez que acreditava-se que a educação liberal fosse superior à educação profissional, pois esta se constituía por uma classe ociosa que se dedicava à filosofia, as artes, ao lazer, e consequentemente não necessitava do trabalho para sobreviver, afinal a concepção que se tinha era de que “[...] viver para a subsistência também torna os homens inaptos para a vida racional [...]” ( DEWEY, 2007.p.33). Dewey supera essa visão mostrando que é possível reconciliar “[...] a educação liberal com a capacidade de participar eficientemente e alegremente das ocupações produtivas. E tal educação tenderá, por si só acabar com os males da situação econômica existente.” (DEWEY, 2007.p.44). Nesse sentido pode associar-se educação liberal e profissional a partir do momento em que o indivíduo é levado a perceber os objetivos do seu trabalho como algo significativo para si, ou seja, ele faz parte do processo e os objetivos são compartilhados de forma que o trabalho torna-se edificante e não algo meramente imposto externamente; é nessa perspectiva que se constitui a sociedade democrática. Indivíduo e mundo O outro dualismo apresentado por Dewey refere-se à mente individual e o mundo. Para o autor, tanto na Grécia como na Idade média, o indivíduo não era um sujeito que conhecia; o conhecimento verdadeiro estava em entidades superiores – a razão para os gregos e Deus para os medievais. Quando acontecia ao contrário, este conhecimento era considerado senso-comum, errôneo. Por outro lado, na Idade Média, o individualismo religioso estava muito presente, e este tratava “[...] o conhecimento como algo formado dentro do indivíduo, por meio de seus atos e estado mentais.” (DEWEY, 2007.p.49). A mente individual provocou o problema da filosofia, afinal, como se dá o conhecimento sendo que o sujeito - aquele que conhece e o objeto - a coisa a ser conhecida não se interconectam? Daí, o desenvolvimento da teoria do conhecimento para explicar como esse processo ocorre. Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 4 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 As teorias filosóficas baseadas na concepção de mente isolada, fechada em si mesmo, apartada do mundo desenvolveram algumas maneiras para tentar explicar a interação entre os homens: 1- Um desses métodos representa o autoritarismo do passado mediante as verdades consideradas eternas e impostas externamente ao individuo. “[...] Em educação, a ênfase pode não ser na verdade eterna, mas na autoridade do livro e do professor, desencorajando a variação individual” (DEWEY, 2007.p.58). O educando é considerado um mero receptor do saber pronto advindo da escola, do método e do professor. 2- Outro método para lidar com a questão do conhecimento consiste na teoria racionalista de René Descartes que foi importante para a valorização da capacidade de pensar do indivíduo, entretanto “[...] sua natureza formal e vazia, por considerar a razão algo completo em si mesmo e à parte da matéria [...]” contribuiu com o dualismo entre mente e corpo, atribuindo à Razão um papel privilegiado. “Em educação isso corresponde a confiar em regras e princípios gerais preestabelecidos para assegurar o entendimento, sem levar em conta se as idéias dos alunos realmente estão de acordo com eles” (DEWEY, 2007.p.59). O conhecimento nessa teoria está exclusivamente na razão, a matéria, as instituições, a história foram desconsideradas, isso em educação consiste em atribuir valor apenas aquilo que está voltado para o intelectual. Dewey critica essa posição intelectualista “[...] por ser uma maneira autoritária de conhecer a relação entre experiência e conhecimento, [...]” (MURARO, 2008.p.54) e a define da seguinte forma: [...] Teoria de que toda experiência é uma forma de conhecimento, e que todo objeto, toda natureza é, em princípio, para ser reduzida e transformada até ser definida em termos idênticos às características apresentadas pelos refinados objetos da ciência como tais.” (DEWEY, 1958.p.21 apud MURARO, 2008.p.54). 3- Ao contrário da filosofia racionalista pensadores ingleses como Locke criaram uma filosofia baseada na liberdade e igualdade entre os homens e na independência do indivíduo2. Essa filosofia preocupou-se com a democracia, mas propagou o individualismo, a idéia de que o ser humano só age movido pelo seu próprio interesse. Para Dewey, isso corresponde às recompensas prazerosas e aos castigos dolorosos na educação. 2 Comentário de Cunha, M. V. Dewey, John. Democracia e Educação: Capítulos Essenciais, 2007, p.59. Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 5 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 4- A filosofia alemã partiu da filosofia racionalista de Descartes, entretanto ampliou a idéia de razão, sendo que em Hegel, filosofo do idealismo alemão “[...] A razão é absoluta. A natureza é a razão corporificada. A história é a razão em seu progressivo desdobramento no homem [...].” (DEWEY, 2007.p.61). Dewey afirma que esse idealismo, nos aspectos educacionais pode ser chamado de idealismo institucional, ou seja, a educação foi organizada de acordo com os interesses do Estado, e, a livre participação do individuo nas questões sociais, políticas, não acontecia. Partindo dessas teorias Dewey não afirma que a educação tenha sofrido influencia direta das filosofias então desenvolvidas, mas sim que os dualismos instalados no âmbito educacional coincidiram com as idéias decorrentes da discussão epistemológica criada pelos filósofos da modernidade3. Ao retratar o dualismo entre indivíduo e mundo, a escola promoveu dicotomias no processo de ensino, os métodos e os conteúdos escolares eram impostos sem levar em consideração as variações individuais do educando, pois uma sociedade baseada na educação tradicional prezará muito mais pela homogeneidade dentro de uma classe do que a liberdade. Sendo que para Dewey a liberdade é fundamental numa sociedade democrática. Liberdade significa autonomia para pensar, estabelecer relações entre as coisas e tomar decisões. A idéia de ser livre diz respeito a uma disposição interior do indivíduo e não podem ser substituída ou confundida com a liberdade em seu aspecto físico, exterior [...] (CUNHA, 2008.p.65). Princípio da continuidade Dewey busca superar a visão dualista das teorias do conhecimento apresentadas, fundamentando-se no [...] “princípio da continuidade que nega a ruptura brusca da experiência” [...] (MURARO, 2008.p.42). Para isso, o autor utiliza vários argumentos: 1- “O avanço da fisiologia, bem como da psicologia associada a ela, mostrou a ligação entre a atividade mental e a atividade do sistema nervoso [...]” (DEWEY, 2007.p.94). Esse argumento mostra que há interação entre mente e corpo, e é o sistema nervoso que mantém a conexão entre mundo interior e o ambiente, superando assim a ideia de dualismo entre indivíduo e mundo. 3 Comentário de Cunha, M. V. Dewey, John. Democracia e Educação: Capítulos Essenciais, 2007, p.69 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 6 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 2- “O desenvolvimento da biologia confirma essa lição com as teorias evolutivas na ênfase dada à continuidade entre as mais simples e as mais complexas formas orgânicas até chegar ao homem [...]” (idem.p.95). Este segundo argumento defende que a vida mesmo em suas formas inferiores já se vê a relação entre o organismo e o ambiente. O ser humano interage com o mundo de forma inteligente, e o conhecimento faz parte desse processo. 3- “O desenvolvimento do método experimental como meio de obtenção de conhecimento e de ter certeza de que é conhecimento e não mera opinião [...]” (idem. p.96). O terceiro argumento de Dewey fundamenta-se na concepção de que só podemos considerar conhecimento aquilo que nossa atividade produziu mudanças físicas, caso contrário as idéias são apenas hipóteses, palpites. O método experimental de pensar prever a utilidade do conhecimento com base na observação e previsão dos fatos, mesmo quando este não dá certo, ele é intelectual, e permite a aprendizagem e reflexão. A teoria do conhecimento que Dewey desenvolve para superar os dualismos citados anteriormente pode ser chamada pragmática. “[...] Sua característica essencial é manter a continuidade entre o conhecimento e uma atividade que modifica propositadamente o ambiente [...]” (DEWEY, 2007.p.105). Nessa concepção, o conhecimento não é algo definido, ele é gerado por intermédio do pensamento reflexivo. E a potencialização deste, se dá numa interação entre indivíduo e sociedade a partir da experiência. Experiência e natureza A experiência é uma das palavras chaves da filosofia deweyana, que constitui uma nova filosofia da experiência e do conhecimento, a qual se fundamenta na superação dos dualismos entre inteligência e ação, teoria e prática, saber e fazer, espírito e corpo, trabalho e lazer, etc. A experiência para Dewey não é algo que se oponha à natureza. “[...] Experiência é uma fase da natureza, é uma forma de interação, pela qual dois elementos que nela entram – situação e agente – são modificados” (DEWEY, 1971.p.14). De acordo com Dewey “a experiência é da e está na natureza” (OZMON; CRAVER, 2004.p.140). Nesse sentido há interação do organismo e do meio ambiente, ao passo que este não permanece passivo, ele age sobre o meio ambiente e este reage sobre ele. Em educação, isso consiste no processo de reflexão-ação; ação-reflexão, afinal o conhecimento perpassa pela interação entre os organismos, e é o conhecimento que dá subsídios para tornar uma Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 7 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 experiência aproveitável em outra experiência, mantendo sempre a continuidade entre experiência, natureza e método. Na concepção deweyana, nem toda experiência é cognitiva, a criança ao nascer tem suas experiências, ela sente dor, tem fome, sede, embora não saiba que as tem. È o que Dewey chama de experiência primária que se dá pelo processo de ação e reação, como fonte do conhecimento. O cérebro e o sistema nervoso são primariamente órgãos de ação e reação; biologicamente pode se assegurar sem contravenção que a experiência primária é de tipo correspondente. Portanto, amenos que haja uma ruptura da continuidade histórico e natural, a experiência cognitiva deve se originar dentro daquela de tipo não cognitiva (DEWEY, 1958.p.23 apud MURARO, 2008.p.55). Assim, a experiência primária é imprescindível para manter a continuidade da experiência, visto que, o processo de conhecer está relacionado à atividade de reorganização da experiência, e à medida que acontece essa reorganização, o sujeito se vê como um ser ativo, participativo, e não como um mero receptor de conhecimentos prontos. Experiência educativa A experiência educativa é a experiência inteligente, em que o pensamento tem utilidade baseando-se no método experimental de pensar. Seria o “aprender a aprender” como uma forma de “ressignificar experiências.” Nessa perspectiva, a educação perpassa pela reconstrução e reorganização da experiência, uma vez que, esse processo é guiado pela inteligência criativa. O elo de ligação entre o individuo e a coletividade é a inteligência. “[...] È a inteligência, nascida no social e socialmente articulada que permite ao individuo desenvolver em si mesmo o espírito de integração que o une ao todo [...]” (CUNHA, 2008.p.36). Vida e educação O conceito de vida é muito forte na filosofia deweyana, posto que sua teoria pragmática teve grande influência da teoria darwinista de “[...] adaptação dos organismos vivos ao seu ambiente natural, para fundamentar o caráter ativo, inteligente, interativo e natural da atividade do homem” [...] (MURARO, 2008.p.39). Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 8 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 De acordo com Dewey, “a vida se caracteriza [...] por uma força de duração ou resistência que lhe permite renovar-se ainda quando julgamos que se destrói [...]” (DEWEY, 1971.p.18). O autor compara a vida física com a vida social afirmando que [...] a vida social se perpetua por intermédio da educação. “O que a nutrição e a reprodução são para a vida fisiológica, a educação é para a vida social” (idem. p.19). Assim a educação cumpre o papel de dar continuidade a esse processo vital, “[...] sem a educação o grupo social não persistiria enquanto tal e não seria capaz de superar as situações novas que a ele se apresentam” (CUNHA, 2008.p.38). Desse modo educar não é transmitir um saber livresco para reprodução de conhecimentos tidos como verdades absolutas; educar é oferecer subsídios para que o sujeito interaja no seu meio sabendo agir de acordo às situações que exijam ser reformuladas. A escola muitas vezes desconsidera a aprendizagem advinda do ambiente natural de vida do educando para valorizar um “espírito livresco e pseudo-intelectual” que vêem o conhecimento como algo isolado. Dewey critica essa idéia e afirma: “Educação é vida, não preparação para a vida- muito antes que houvesse escolas houve educação [...]” (DEWEY, 1971.p.37). Para o autor “não há necessidade de se preparar o educando para o futuro. Se no presente a escola propiciar experiências duradouras e saudáveis para o desenvolvimento da criança, esta será capaz de lidar com o futuro seja ele o que for” (CUNHA, 2008.p.47). Considerações Finais Através desta pesquisa bibliográfica foi possível apresentar o pensamento deweyano e compreender um pouco mais acerca das contribuições que a filosofia pragmática de Dewey trouxe para a educação. Levando em consideração que o pensamento filosófico-educacional desse autor foi elaborado ao longo de meio século; período em que presenciou várias transformações sofridas pela humanidade. Dewey viveu a consolidação do império norte-americano e suas mazelas; o nascimento e a estagnação da União Soviética; o notável avanço tecnológico e a proliferação da sociedade de massas. Viu o predomínio da escola tradicional e a tentativa de aplicação de suas próprias teses educacionais; percebeu o modo descuidado como muitas delas foram transpostas para a prática de sala de aula. (CUNHA, 2008.p.74) Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos v.1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 9 Anais da XV Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – A Universidade e suas práticas no Contexto Regional: construindo diálogos V. 1, nº. 1, 2010. ISSN – 2448-1319 Diante desses fatos, Dewey elaborou sua própria teoria do conhecimento, baseada nas necessidades de reconstrução social que o próprio ambiente observado por ele exigia. Daí a dinâmica do conhecimento construído a partir da experiência, “[...] pois o ato de pensar começa justamente com a experiência [...]” (CUNHA, 2008.p.53). Na teoria pragmática deweyana, educar não é estabelecer fins externos ao processo educacional; tampouco inculcar conhecimentos prontos no espírito do educando como se o mesmo não fosse um ser ativo, capaz de reorientar e ressignificar suas próprias experiências. Dewey acredita que a “[...] continuidade da vida humana implica reproduzir crenças, hábitos e ideias de uma geração para outra, e, ao mesmo tempo, renovar esse conjunto de elementos definido como cultura [...]” (CUNHA, 2008.p.38). E é a educação que dá subsídios para que haja essa continuidade social da vida. Assim, tanto a filosofia, como a pedagogia deweyana são cruciais para se pensar a educação a partir de um novo olhar; pensar numa escola que vivencie práticas democráticas para a construção de uma sociedade também democrática na qual as experiências são compartilhadas visando superar a fragmentação do conhecimento. O que Dewey propõe não é que sua teoria seja aplicada e seguida como um formulário pronto, o que ele propôs foi um método suscetível de mudanças para que pensemos a realidade da nossa escola. Esse método, que também pode ser chamado pensamento reflexivo requer do educador atitudes democráticas, “[...] o que se traduz em uma crença obstinada no potencial da educação como instrumento de equalização das oportunidades de acesso aos bens culturais e tecnológicos produzidos pela humanidade” (CUNHA, 2008.p.44). Referências CUNHA, Marcus Vinicius da. 5. ed. John Dewey: uma filosofia para educadores em sala de aula. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008. CUNHA, Marcus Vinícius. John Dewey e o pensamento educacional brasileiro: a centralidade da noção de movimento. [s.l]. Disponível em: http://www.anped. org.br/rbe/rbedigital/RBDE17_08_Marcus_Vinícius_da _Cunha.pdf. Acesso em: 20 ago. 2008. DEWEY, John. Vida e educação. Trad. Anísio S. Teixeira. São Paulo: Melhoramentos, 1971. DEWEY, John. Democracia e educação: capítulos essenciais. Apresentação e comentários Marcus Vinicius da Cunha. Trad. Roberto Cavallari Filho. São Paulo: Ática, 2007. GHIRALDELLI JR., Paulo. 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