Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM ABORDAGEM DAS INFECÇÕES POR CITOMEGALOVÍRUS EM PACIENTES SUBMETIDOS A TRANSPLANTE RENAL INTRODUÇÃO: O citomegalovírus (CMV) ou herpesvírus humano tipo-5 é, juntamente com o HHV-6 e HHV-7, pertencente à subfamília β-herpesviridae que, assim como outros membros da família herpesvírus, têm capacidade de permanecer latente, integrado no cromossomo da célula hospedeira, após uma infecção aguda. Ele é encontrado em latência na maioria dos indivíduos adultos, com soroprevalência de 30 a 70% em países desenvolvidos e até mais de 97% em países em desenvolvimento. A infecção por CMV ocorre em grande parte dos receptores de órgãos sólidos (44 a 85%), geralmente nos primeiros meses após o transplante, quando a imunossupressão é mais intensa. A infecção sintomática ocorre em 8% dos pacientes submetidos a transplante renal. TRANSMISSÃO: O CMV é transmitido principalmente através do órgão doado e, menos comumente, através de hemoderivados. Há três padrões de transmissão em transplantados de órgãos sólidos: 1) infecção primária: quando um indivíduo soronegativo recebe um órgão com células infectadas com o vírus latente; 2) Infecção secundária ou reativação: quando ocorre reativação de vírus latente endógeno do receptor; 3) Superinfecção ou reinfecção: quando o receptor soropositivo adquire o vírus latente em células de um doador soropositivo, mas tem reativação do vírus endógeno (com origem no receptor) 1 ; . PATOGENIA: Embora o sítio exato de latência não seja bem conhecido, sabe-se que as células mononucleares, neutrófilos, linfócitos e células endoteliais albergam o genoma do CMV 2 ; . Na maioria das vezes, CMV doença em imunocomprometidos é atribuída à disseminação viral para múltiplos órgãos. A reativação do CMV a partir do estado de latência é o primeiro grande passo na patogênese da infecção pelo CMV. O genoma do CMV codifica as chamadas proteínas 1 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM “imediatamente precoces” e “precoces” e as de aparecimento tardio, as proteínas tardias. O início da replicação viral depende das proteínas precoces”. Alguns mediadores estão implicados no processo de reativação, incluindo-se o fator de necrose tumoral (TNF), catecolaminas e prostaglandinas pró-inflamatórias. TNF é o mediador chave implicado neste processo, que se combina com o receptor de TNF presente em células do vírus latente, resultando na ativação da proteína-kinase C e NFkB. Estes ativam os genes que desencadeiam a replicação inicial. Este seria o motivo de reativação do vírus latente em situações do vírus latente em situações como sepse, insuficiência hepática aguda, administração de globulinas anti-timócitos (ATG), OKT-3 e outras substâncias pró-inflamatórias 3 ; 4 ; . FATORES DE RISCO: Diversos fatores de risco para infecção por CMV têm sido descritos em transplante renal. O estado de receptor soronegativo e o doador soropositivo previamente ao transplante e o uso de terapia com anticorpos anti-linfocitários representam alto risco de desenvolvimento de doença por CMV. Outros fatores de risco compreendem alta dosagem de micofenolatomofetil (3g/d), infecção por vírus herpes humano tipo-6, transplante renal com doador cadáver e tratamento para rejeição 5 ; . Doador soropositivo e receptor soronegativo para CMV - Transplantes entre doadores que são soropositivos para CMV e receptores que são soronegativos (D+/R-) apresentam uma elevada incidência (60-80%) de infecção subseqüente por CMV. Em transplantes D+/R-, o tempo médio de detecção de CMV por testes sorológicos (infecção primária) é, em média, 5 semanas pós-transplante, e aproximadamente 60% dos pacientes que desenvolvem infecção primária por CMV apresentam, ainda, evidência de CMV doença 19. Terapia com globulina anti-timócito - Em meados de 1980, globulina antitimócito foi introduzida como um imunossupressor adjuvante a ciclosporina em pacientes com demora no funcionamento do enxerto no período precoce pós-transplante. Subseqüentemente, seu uso tornou-se disseminado, sendo suas principais indicações clínicas o tratamento de rejeição aguda, rejeição resistente a esteróides e como terapia de indução. Com o aumento da administração de globulina anti-timócito, muitos dos efeitos adversos potenciais tornaram-se aparentes, especialmente infecção viral. Estudo de coorte realizado por Siu e col envolveu pacientes submetidos a um primeiro 2 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM transplante renal de doador cadáver entre 1983 a 1998 (n=148). Este estudo teve como objetivo avaliar a associação entre a administração de globulina anti-timócito e infecção ou doença por CMV em receptores de enxerto renal de doador cadáver. Relatos dos primeiros 2 anos foram retirados dos prontuários destes pacientes. Pacientes que receberam OKT3, FK506 ou que tivessem informações incompletas do prontuário foram excluídos do estudo, permanecendo 114 pacientes para análise do estudo. Os pacientes foram divididos em três grupos: (I) grupo de pacientes com infecção por CMV; (II) grupo de pacientes com doença por CMV; e (III) grupo controle. Um número total de 42 (36.8%) pacientes recebeu globulina anti-timócito. Cerca de 45 pacientes tiveram documentação de infecção ou doença por CMV. Trinta e três pacientes apresentaram infecção e 11 pacientes apresentaram doença por CMV. Todos os 11 pacientes com doença por CMV receberam terapia imunossupressora padronizada (CSA, prednisona e AZA) comparado com 26 (76.5%) pacientes que apresentaram infecção por CMV e 48 (69.8%) paciente do grupo controle, havendo apenas uma diferença estatisticamente significante entre o grupo CMV doença e o grupo controle, com OR 1,17 (P<0.05). No grupo controle, apenas 20 (29%) pacientes receberam ATG no primeiro mês pós-transplante, sendo que 18 (54.5%) pacientes do grupo infecção por CMV e 10 (91%) pacientes do grupo doença por CMV também receberam ATG. Estas diferenças foram significativas com um OR para infecção por CMV de 2.72 (95% CI: 1,19-6,2, P<0.02) e 10.9 para o grupo de CMV doença (95% CI:2,19-54, P<0.001). Esta associação entre a administração de ATG e desenvolvimento de infecção ou doença por CMV permaneceu válido após análise de regressão logística, ainda que outros fatores confundidores potenciais fossem levados em consideração. Outros estudos ainda reportam uma incidência variada de 43% a 92% de pacientes com infecção por CMV em associação ao uso de globulina anti-timócito 22. Impacto do MMF na infecção por CMV - Muñoz e col realizaram um estudo de coorte, em Madrid, envolvendo 1018 transplantes renais nos últimos dez anos, cujo objetivo principal foi relatar a incidência de infecção por CMV antes e após introdução de micofenolato-mofetil (MMF) no esquema imunossupressor dos pacientes. Estes pacientes foram divididos em dois grupos: grupo I, cujos pacientes não receberam MMF (n= 637); e o grupo II, composto de pacientes que receberam MMF em seu esquema imunossupressor (n= 381). Os resultados obtidos foram os seguintes: a incidência de infecção por CMV foi maior no grupo II (8.4%, 32 de 381 pacientes) do que no grupo I (3.6%, 23 de 637 pacientes) (P< 0.01). Os autores concluíram que, embora o 3 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM MMF contribua de forma significativa para a redução da incidência de rejeição aguda, por outro lado é considerado como fator de risco para o desenvolvimento de infecção por CMV, fato este confirmado pelo presente estudo 21. HHV-6 versus CMV – Vários estudos clínicos tem demonstrado uma interação entre HHV-6 e CMV no período pós-transplante renal. Em 1996, Herbein e col realizaram um estudo longitudinal baseado no isolamento de HHV-6 e CMV. Um total de 32 receptores de transplante renal, hepático e rim-fígado foram seguidos por 3 meses pós-transplante. Considerando os pacientes que apresentaram infecção primária ou reativação por HHV-6, várias manifestações clínicas foram observadas apenas em pacientes que apresentavam infecção concomitante por CMV. DesJardin e col ainda estudaram a interação entre HHV-6 e CMV, retrospectivamente, através de espécimes de soro de 53 receptores de transplante renal testados para anti-HHV-6. Eles conseguiram associar a reativação de HHV-6 com infecção por CMV em receptores de transplante renal com risco para o desenvolvimento de infecção primária por CMV. Ratnamohan e col avaliaram a incidência de infecção por CMV e HHV-6 em uma série prospectiva de 30 receptores de transplante renal e rimpâncreas. O DNA do CMV e HHV-6 foi detectado por PCR no soro e na urina. A detecção simultânea do DNA de HHV-6 e CMV na urina ou no soro foi o melhor preditor de doença em modelos univariados e multivariados. É possível que a associação entre HHV-6 e CMV esteja relacionada a uma imunossupressão severa, predispondo a associação entre as duas infecções. Por outro lado, HHV-6 induz imunossupressão, podendo esta ocorrer através da interação do vírus com o sistema imune 23. DEFINIÇÕES E QUADRO CLÍNICO: Infecção pelo CMV pode ocasionar efeitos diretos e indiretos em receptores de transplante renal. Definições sobre estes efeitos são referidas a seguir: EFEITOS DIRETOS DO CMV: Infecção pelo CMV: é definida como o isolamento do vírus ou a detecção de proteína viral ou ácido nucléico a partir de qualquer fluido ou tecido do corpo. 4 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM A infecção pode ser definida com sintomática ou assintomática, sendo a última designada como doença por CMV 6 ; . Infecção assintomática pelo CMV: consiste na presença de infecção ativa por CMV, evidenciada através de exames tais como antigenemia e PCR, na ausência de sintomas atribuídos à infecção 6 ; . Infecção primária pelo CMV: é definida como a detecção do CMV em indivíduos previamente soronegativos. O encontro de anticorpos por si só já é aceitável para o diagnóstico nesta situação, porém consiste em achado tardio e não auxilia no diagnóstico precoce. Métodos com antigenemia e PCR são necessários para maior rapidez do diagnóstico 6 ; . Infecção secundária: é definida como infecção ativa ou doença pelo CMV em receptores com sorologia positiva para CMV prévio ao transplante 6 ; . Síndrome viral do CMV: Segundo Ljungman e cols., é melhor definida em pacientes submetidos a transplante de órgão sólido. Os critérios são a presença de febre (temperatura >38,0ºC) por pelo menos dois dias em um período de 4 dias, neutropenia ou trombocitopenia e a detecção de CMV no sangue. Podem estar presentes sintomas constitucionais como astenia e artralgia. Para os autores, o termo “síndrome do CMV” parece inadequado, principalmente em transplantados de medula óssea, devido à possibilidade de infecção por outros vírus que causam quadros semelhantes, como o herpesvírus tipo-6, tipo-7 e adenovírus. O tratamento antiviral usado para o CMV tem também certa ação nestas viroses, tornando mais difícil definir relação de causalidade 6 ; . Doença invasiva pelo CMV (doença em órgão alvo): é a presença de sinais e/ou sintomas relacionados ao órgão alvo, mais o achado do vírus em amostra de determinados fluidos (lavado broncoalveolar, LCR) ou tecido (biópsia pulmonar, de mucosa digestiva), através de cultura viral, histopatologia, imuno-histoquímica ou hibridização in situ. Geralmente o PCR positivo obtido de amostra de sangue por si só não é suficiente para o diagnóstico, pois pode detectar apenas viremia transitória. A biópsia, além de confirmar o diagnóstico, é também importante para se detectar a associação de agentes como, por exemplo, fungos em infecções pulmonares. As infecções mais freqüentemente descritas em pacientes transplantados são: doença gastrointestinal, pneumonia, hepatite, nefrite, cistite, pancreatite, retinite, doença em sistema nervoso central e miocardite (as últimas sendo menos comuns em transplante renal) 6 ; . 5 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Na prática clínica, evidências que sugerem doença gastrointestinal por CMV são: - Sintomas gastrointestinais: odinofagia e/ou disfagia; náuseas e vômitos; dor abdominal; colite e/ou diarréia com sangue; abdômen agudo. - Lesões gastrointestinais (achados de endoscopia digestiva alta): úlcera esofágica; úlcera gástrica; úlceras únicas ou múltiplas no intestino delgado e cólon; colite focal ou difusa. - CMV sendo detectado na ausência de outros patógenos. Terapia antiviral beneficia pacientes com doença confirmada histologicamente. Ainda, em pacientes com imunossupressão persistente, recidiva clínica, virológica e histológica pode ocorrer após suspensão da terapia. EFEITOS INDIRETOS DO CMV: - Rejeição aguda do enxerto: evidências de estudos de coorte mostram que a infecção por CMV está associada a risco aumentado de rejeição em receptores de rim, coração, pulmão e fígado. - Diminuição da sobrevida do enxerto: Estudo de coorte realizado por Humar e col, envolveu 1339 receptores de transplante primário de rim, cujos transplantes foram realizados de 1 de janeiro de 1985 a 30 de junho de 1997. Este estudo teve como objetivo avaliar a sobrevida do enxerto em até 10 anos pós-transplante e a relação com infecção por CMV e redução na sobrevida do enxerto. Doença por CMV foi documentada em 219 (18.4%) pacientes. Esta população de estudo foi dividida em 4 grupos: grupo sem rejeição aguda e sem doença por CMV, grupo sem rejeição aguda e com doença por CMV, grupo com rejeição aguda e sem doença por CMV e um grupo com rejeição aguda e doença por CMV. Os resultados obtidos foram os seguintes: rejeição aguda apresentou-se como o fator de risco mais significante para rejeição crônica do enxerto (RR>17, P=0.0001); CMV doença apresentou um RR 1.3 (P=0.1); no grupo de pacientes com rejeição aguda e doença por CMV o RR para desenvolvimento de rejeição crônica foi de 1.37, maior do que no grupo com rejeição aguda sem CMV doença. No grupo de pacientes com rejeição aguda e sem CMV a sobrevida do enxerto em 5 anos foi de 72.1% e em 10 anos de 54.3%, enquanto que no grupo que apresentava rejeição aguda e doença por CMV a sobrevida do enxerto em 5 anos foi de 56.7% e em 10 anos de 41.7% 24. 6 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM - Aterosclerose do enxerto: mais descrita em transplante cardíaco, como causa de isquemia miocárdica e perda do enxerto. - Infecções secundárias: Um efeito importante de infecção por CMV em receptor de transplante, é que ele exerce um estado de imunossupressão potencial, resultando em um aumento na susceptibilidade de resultar em superinfecção oportunista por uma variedade de patógenos. Superinfecção pulmonar pode ocorrer com P. carinii, A. fumigatus e bactérias 7. Os principais mecanismos sugeridos como causa de infecção secundária são a quebra das barreiras mucosas pelo CMV e possíveis alterações na imunidade humoral e mediada por células 6 ; . DIAGNÓSTICO: Os primeiros métodos diagnósticos a serem desenvolvidos para o diagnóstico de infecção por CMV foram cultura viral e os testes sorológicos. Estes exames, porém, apresentam positividade tardia, o que não contribui para um diagnóstico precoce da infecção pelo CMV. De modo geral, a positividade do Shell vial se dá em torno de 25 dias após o início da doença, não se constituindo, na atualidade, como método de escolha para diagnóstico precoce. Em relação aos testes sorológicos, sua interpretação consiste no aparecimento de IgM ou aumento de 4x o valor de IgG. É um exame que apresenta alta sensibilidade, próxima de 100%, porém um baixo valor preditivo positivo, e hoje em dia tem sido recomendado apenas para avaliação sorológica pré-transplante 7 ; . Impacto causado pelo CMV na morbidade, mortalidade e risco de perda do enxerto exigiu métodos diagnósticos rápidos, eficazes, e de alta sensibilidade e especificidade. Grandes avanços no diagnóstico precoce de CMV foram obtidos através de exames tais como antigenemia e métodos de detecção de ácido nucléico (PCR, ensaios de captura híbrida e NASBA). Antigenemia consiste na pesquisa de pp65. Anticorpos monoclonais dirigem-se a esta proteína pp65 e a reação é feita com imunoperoxidase ou Imunofluorescência indireta e leitura por microscopia óptica. É um método simplse, rápido, de alta acurácia, podendo ser obtido resultado quantitativo. Sua positividade ocorre, em média, entre 7 a 9 dias antes dos sintomas 7 ; . PCR quantitativo para CMV é um dos métodos mais empregados para detecção e quantificação viral. Apresenta alta sensibilidade, sendo útil, também, no diagnóstico precoce de infecção pelo CMV. Devido à sua 7 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM capacidade de detecção de DNA latente, podem ocorrer resultados falsopositivos, devendo-se ter cuidado na interpretação do resultado 3 ; . PROFILAXIA E TRATAMENTO PARA INFECÇÃO POR CMV: PROFILAXIA: Profilaxia para citomegalovírus consiste na administração de antivirais ou componentes hematológicos imediatamente após o transplante para todos os pacientes ou para aqueles considerados como tendo alto risco para infecção por CMV 8 ; . Em anos recentes, alguns agentes têm sido relatados como capazes de diminuir a incidência de infecção primária e secundária por CMV em receptores de transplante renal. Dentre estes podemos citar: globulina hiperimune, aciclovir oral ou intravenoso, ganciclovir oral ou intravenoso 9 ; , valaciclovir 10, e valganciclovir 11. Devido ao risco de submeter os pacientes a efeitos adversos a antivirais e aparecimento de resistência do citomegalovírus ao ganciclovir, sugere-se o uso de profilaxia para pacientes de risco para CMV como em situação de sorostatus D+/R- e pacientes que são submetidos a tratamento anti-rejeição. Imunoglobulina hiper-imune anti-CMV: Preparações de imunoglobulina inicialmente foram estudadas em receptores de transplante renal e demonstraram eficácia variável. Estudos randomizados controlados com placebo (dois em transplante hepático e um em transplante renal) mostraram que a imunoglobulina reduz a freqüência de infecção grave por CMV. Exceto em pacientes com perfil D+/R-, o risco de doença por CMV foi menor, mesmo com uso de OKT3. O produto é caro, embora provavelmente custo-efetivo 8 ; . Aciclovir: Aciclovir oral em altas doses é bem tolerado, mas seu uso profilático não teve grande aceitação, apesar do fato de que este antiviral reduza o risco de CMV doença entre receptores de transplante renal e outros transplantes de órgãos sólidos, como demonstrado em alguns estudos. A eficácia limitada de aciclovir oral pode ser resultante de sua baixa biodisponibilidade e baixa sensibilidade in vitro do CMV à droga. Representa uma medicação de baixo custo 12 . Valaciclovir: Valaciclovir profilático representa uma das possíveis estratégias para o manejo do risco para CMV após transplante renal 12 . Entretanto, aumento de doença por CMV após suspensão do Valaciclovir tem 8 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM sustentado a possibilidade de seus efeitos profiláticos serem menores do que os do ganciclovir 13. Ganciclovir oral: O ganciclovir oral apresenta baixa biodisponibilidade e pobre absorção, sendo seu uso limitado. Ele é útil para profilaxia, porém apresenta baixa eficácia na terapêutica preemptiva e tratamento para CMV 14. Estudo prospectivo randomizado, controlado envolveu 42 pacientes submetidos a transplante renal, seguidos por 6 meses após o transplante. Foi realizado profilaxia com ganciclovir VO 1000mg 3x/dia durante as primeiras 12 semanas do pós-operatório, e comparou-se com um grupo sem profilaxia submetido a tratamento baseado em resultados de PCR. Nenhum paciente do grupo ganciclovir desenvolveu doença por CMV nas primeiras 12 semanas, comparado com 14 de 23 pacientes do grupo sem profilaxia que tiveram doença por CMV no mesmo período (p<0,0001). Ao longo dos 3 primeiros meses pós-transplante, os pacientes do grupo ganciclovir tiveram uma freqüência menor e o início mais tardio de viremia e do surgimento de doença do que o outro grupo. Os autores concluíram que o ganciclovir por 12 semanas previne a infecção e doença por CMV em transplantados renais durante a profilaxia, persistindo o efeito após a descontinuidade. Ganciclovir intravenoso: Ganciclovir intravenoso tem sua eficácia comprovada na profilaxia para CMV em receptores de transplante . Peddi e col conduziram uma análise retrospectiva de pacientes transplantados renais com rim de doador cadáver, e comparou dois grupos: um grupo com e outro sem profilaxia com Ganciclovir. Este estudo não mostrou diferença na taxa de desenvolvimento de infecção por CMV, mas demonstrou uma demora no tempo de desenvolvimento de infecção por CMV no grupo que recebeu ganciclovir (97.4 dias versus 48.3 dias) 15 . Dickenmann e col realizaram um estudo prospectivo, cujo objetivo foi avaliar a eficácia da profilaxia para CMV com ganciclovir intravenoso em altas doses, em pacientes que receberam tratamento com globulinas antilinfócitos. Este estudo, realizado de 1994 a 2001, envolveu 51 pacientes que receberam ganciclovir intravenoso, correspondendo a uma dose de 10mg/kg administrada três vezes por semana, com dose ajustada de acordo com o clearance. Nem todos os pacientes receberam todas as nove doses preconizadas no estudo, sendo que um paciente, tratado inicialmente com globulina anti-timócito, seguido de OKT-3, recebeu 14 doses de ganciclovir; e terapia foi descontinuada em 2 pacientes devido a leucopenia significativa (um paciente apresentou leucopenia na quinta e o outro na oitava dose). Sete (14%) de 51 pacientes desenvolveram 9 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM CMV doença dentro de seis meses após tratamento anti-rejeição, apesar da profilaxia com ganciclovir. O regime utilizado neste estudo foi, em grande parte, um sucesso na prevenção de doença por CMV, mas não preveniu infecção assintomática por CMV. Ainda, 55% dos pacientes desenvolveram antigenemia positiva para CMV, como conseqüência do tratamento anti-rejeição, apesar da profilaxia com ganciclovir. Esta conseqüência pode ser devido ao intervalo muito prolongado de uma dose para outra (1 dose três vezes por semana), e isso poderia ter permitido a replicação viral do CMV na ausência de concentrações séricas adequadas do ganciclovir 16. Embora ganciclovir intravenoso seja altamente eficaz, ele apresenta como inconveniente a necessidade de se utilizar cateter intravenoso, o incômodo de receber injeções por um tempo prolongado, além de freqüentes visitas ao hospital, não sendo considerado mais como “Gold Standard” para profilaxia para CMV 17. Valganciclovir: atualmente é a droga de escolha para profilaxia de infecção por citomegalovírus. Valganciclovir, uma pró-droga do ganciclovir intravenoso (IV), apresenta uma biodisponibilidade 10 vezes maior do que a do ganciclovir oral e cinética comparável ao Ganciclovir IV. A apresentação da droga é em comprimidos de 450 mg, sendo a dose de uso profilático correspondente a 900 mg por dia em pacientes com clearance normal, havendo correção de dose de acordo com o clearance renal do paciente. Valganciclovir tem o potencial de reduzir a duração de estadia hospitalar e complicações associadas ao acesso intravenoso prolongado 17 . Um estudo retrospectivo envolvendo pacientes de alto risco para o desenvolvimento de doença por CMV (D+/R- e pacientes que receberam indução ou tratamento anti-rejeição com anticorpo anti-linfocítico), foi realizado envolvendo 343 receptores de órgãos sólidos: transplante renal (n=302), transplante de pâncreas (n=10) e transplante rim-pâncreas (n=31). Destes, 109 receberam profilaxia com Valganciclovir 900mg VO 1x por dia. Foram excluídos 21 pacientes da análise: 13 pacientes (12%) por suspensão da medicação devido à custo ou preferência clínica, 3 pacientes (3%) apresentavam dados incompletos, 3 pacientes (3%) perderam o enxerto no primeiro mês pós-transplante e 2 pacientes (2%) tinham < 18 anos. Portanto, um total de 88 pacientes (81%) foi incluído nesta análise. A incidência geral de doença por CMV foi de 5.7% (5/88). Todos os episódios de citomegalovírus foram de pacientes que se encontravam na situação de sorostatus D+/R- ((17.2% [5/29] versus 0% [0/59], P < 0.001). Destes pacientes, todos os episódios de CMV foram em 10 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM pacientes que receberam < 100 dias pós-transplante de profilaxia para CMV (29% [5/17] versus 0% [0/12], P= 0.06). A incidência global de leucopenia foi de 11% e trombocitopenia de 7%, com incidência similar entre o grupo D+/Re de pacientes que receberam anticorpo anti-linfocítico. A conclusão do trabalho foi que valganciclovir é um agente eficaz na prevenção de CMV doença em receptores de transplante de rim e pâncreas que apresentavam alto risco para o desenvolvimento de doença por CMV. O tempo adequado de profilaxia no caso de D+/R- é indefinido, sendo que 3 meses de profilaxia parece ser o suficiente para os pacientes que recebem terapia anti-rejeição 18 . TRATAMENTO: Os princípios do manejo da infecção e doença pelo citomegalovírus no hospedeiro imunossuprimido consistem em (1) prevenir que manifestações graves de doença por CMV se desenvolvam; (2) definir estratégias para a monitorização dos pacientes em relação à presença de viremia (ou presença do vírus na urina ou saliva); (3) aumentar a vigilância caso os pacientes desenvolvam uma condição favorável para aumentar o risco de doença por CMV e (4) instituir tratamento precoce ou preemptivo. Para alguns autores a realização de uma vigilância pós-transplante para detectar e tratar infecção por CMV pode, entretanto, ser uma estratégia mais atrativa do que profilaxia. Podem ser sugeridas duas estratégias de supervisão no período póstransplante: uma “estratégia de doença estabelecida” e uma “estratégia preemptiva” 19 . Tratamento preemptivo: consiste na administração de agentes antivirais em momento posterior ao transplante, quando há evidências de replicação viral detectada por métodos diagnósticos virológicos ou moleculares, tais como antigenemia e PCR.O tratamento preemptivo requer maior vigilância e freqüente monitorização do antígeno ou DNA do CMV, seguido de terapia antiviral específica em altas doses para aqueles pacientes cujos sinais de infecção pelo CMV são detectados. Ganciclovir intravenoso é o tratamento de escolha para infecção e doença por CMV, e consiste na primeira droga antiviral a ser efetiva no tratamento da doença por citomegalovírus em humanos 19 . Tratamento preemptivo foi avaliado em 2 estudos envolvendo transplantados renais. Foram comparados o uso de ganciclovir EV com nenhuma terapia durante o tratamento com anticorpos anti-linfocítico. A freqüência de doença por CMV foi de 14% no grupo que recebeu tratamento 11 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM preemptivo versus 33% do grupo que não recebeu e a viremia foi de 17% no grupo tratado versus 35% no grupo que não recebeu tratamento preemptivo . Tratamento de doença estabelecida: Consiste na introdução de tratamento com antiviral em pacientes que apresentarem sinais e sintomas compatíveis com infecção associada à detecção de CMV em órgão afetado. Criticas a “estratégia de doença estabelecida” inclui o fato de que os pacientes podem apresentar um risco maior de desenvolver formas graves de doença por CMV, caso não haja detecção precoce do diagnóstico e introdução imediata de terapia adequada. Esta pode ser uma implicação a longo prazo, desde que a infecção esteja associada com um risco aumentado de rejeição do enxerto, sendo este um forte fator de risco para subseqüente nefropatia do enxerto 19 . O uso de uma estratégia seja ela profilática ou de tratamento preemptivo não exclui o uso da outra, visto que cada uma pode ser utilizada em subgrupos diferentes dentro de uma mesma unidade de transplante. Ainda, ambas podem ser usadas ao mesmo tempo em pacientes de alto risco, para os quais a profilaxia não foi suficiente para evitar o aparecimento de infecção ou doença por CMV 20 . RECIDIVA DE INFECÇÃO POR CMV Recidiva de CMV é definida como nova infecção em pacientes com infecção previamente documentada, tendo tido negatividade em exames de vigilância ativa por pelo menos 4 semanas. Pode ser resultante da reativação de vírus latente (endógena) ou de reinfecção (exógena). É importante a distinção entre recidiva e reinfecção, que é definida como a detecção de uma cepa de CMV diferente da que causou a infecção original do paciente. Estas cepas podem ser detectadas por técnicas de sequenciamento de regiões específicas ou técnicas moleculares que detectem genes sabidamente polimórficos. A reativação é definida pelo encontro de cepas virais semelhantes, com as mesmas técnicas 6 ; . Recidiva de doença pelo CMV pode envolver 60% dos pacientes com doença primária e 20% daqueles já soropositivos previamente ao transplante, apesar de tratamento antiviral efetivo. A recidiva de doença invasiva por CMV pode ocorrer em 20 a 30% dos pacientes submetidos a transplante renal (rim e rim-pâncreas), incluindo doença primária e secundária. Nos estudos que evidenciam estas taxas de recorrência, os pacientes foram tratados com Ganciclovir EV na dose de 10mg/kg/dia por 14 a 21 dias 1 ; 2 ; . 12 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Na prática clínica, os principais fatores de risco para recidiva de infecção por CMV são: - Transplante com doador cadáver; - Administração de tratamento anti-rejeição; - Presença de persistência de DNA viral (detectado por PCR) no final do tratamento, número elevado de células positivas na antigenemia antes do tratamento; - Demora na redução do número de células positivas durante o tratamento antiviral; - Transplante duplo (rim-pâncreas) e diabetes mellitus tendem a aumentar o risco de recidiva da doença. Em caso de recidiva após completar tratamento antiviral, administrar novamente o ganciclovir de acordo com a rotina do hospital. Uma advertência é que o tratamento do CMV pode não evitar doença caso a patogênese desta seja imuno mediada, às vezes havendo necessidade de se ajustar dose de imunossupressores. RESISTÊNCIA AO GANCICLOVIR: Resistência ao Ganciclovir tem sido reportada em até 7% dos transplantes de órgãos sólidos e podem ser tratados com agentes de segunda linha como o foscarnet. Este agente está associado a significante nefrotoxicidade e outros efeitos adversos de importância. Não existem evidências que suportam o uso de aciclovir, valaciclovir e imunoglobulina anti-CMV em receptores de transplante renal. Falha na resposta a terapia pode ser devido a tratamento inadequado, resistência ao ganciclovir ou superinfecção 11 . Os fatores relacionados com resistência são: alta carga viral, imunossupressão e exposição intermitente a antivirais, freqüentemente em subdoses. Clinicamente esse paciente se comporta com persistência ou aumento da carga viral, mesmo estando em uso de dose adequada de ganciclovir (5mg/kg EV 2x dia). 13 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM TRATAMENTO: GANCICLOVIR: Mecanismo de ação: O ganciclovir é um análogo de nucleosídeo da guanosina, um homólogo do aciclovir, que inibe a atividade de todos os herpesvírus. In vivo, ganciclovir é convertido a ganciclovir trifosfato, que inibe a DNA polimerase viral, incluindo a do vírus herpes simples e CMV, por competitivamente inibir a incorporação da deoxiguanosina trifosfato ao interior do DNA viral alongado. Após a liberação de pirofosfato, ganciclovir monofosfato é incorporado no fim de uma cadeia de DNA viral, diminuindo a replicação. Ao contrário do aciclovir, ganciclovir não finaliza absolutamente a cadeia, e curtos fragmentos subgenômicos de DNA do CMV continuam sendo sintetizados. Todos os efeitos antivirais da droga são devidos à habilidade de inibir a síntese de DNA do CMV e, portanto, a replicação do vírus por diminuição do alongamento do DNA viral. Absorção, distribuição e excreção: A biodisponibilidade oral do ganciclovir é muito baixa. A droga é bem distribuída no SNC e em outros locais. A maior parte do ganciclovir é eliminada inalterada na urina, e sua meia-vida é prolongada para cerca de 30 horas na presença de insuficiência renal grave. A concentração do ganciclovir no sangue diminue em 50% depois de 4 horas de hemodiálise; então o ganciclovir deve ser readministrado logo após a diálise. Dose: 5mg/kg/dose 12/12h Efeitos adversos: - Mielotoxicidade (pancitopenia, leucopenia, trombocitopenia) - Hepatotoxicidade - Nefrotoxicidade - Alterações do SNC: cefaléia, alterações comportamentais, convulsões - Febre - Náuseas, vômitos - Eosinofilia - Flebite (uso intravenoso) - Carcinogênico para os profissionais que preparam a medicação intravenosa, necessitando a preparação do ganciclovir intravenoso ser realizada com fluxo laminar para evitar este efeito carcinogênico. - Hemólise. 14 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Resistência: a possibilidade deve ser considerada em pacientes com pobre resposta clínica ou presistente excreção viral durante a terapia com ganciclovir. Mutações na timidina quinase e/ou gene de DNA polimerase surgem para mediar a resistência. VALGANCICLOVIR: Mecanismo de ação: Após absorção no trato gastrointestinal, valganciclovir é rapidamente e extensivamente convertido a ganciclovir, um análogo sintético do nucleotídeo 2´-deoxiguanosina que inibe a replicação dos vírus do grupo herpes in vitro e in vivo. A atividade do ganciclovir contra CMV humano resulta primariamente na inibição da síntese do DNA viral por ganciclovir trifosfato em células humanas infectadas. A fosforilação do ganciclovir é iniciada por UL97 (formação de ganciclovir monofosfato) em células infectadas por CMV, e completada (formação de ganciclovir trifosfato) por kinases da célula do hospedeiro induzidas pela infecção por CMV. Ganciclovir trifosfato então compete com deoxiguanosina trifosfato (dGTP) como um substrato para DNA polimerase viral UL54. Conseqüentemente, redução da incorporação de dGTP e substituição da incorporação de ganciclovir trifosfato no interior do DNA viral leva a formação de curtos fragmentos subgenômicos de DNA do CMV e reduz a taxa de alongamento da cadeia viral. Isto impede a expressão do gene e síntese da proteína viral, portanto inibindo a produção de pró-gene viral. Absorção, distribuição e excreção: após administração oral, valganciclovir é bem absorvido no trato gastrointestinal e é rapidamente hidrolisado a ganciclovir na parede intestinal e hepática. A biodisponibilidade absoluta do valganciclovir é 10 vezes maior quando comparado ao ganciclovir oral (60.9% vs 5.6%). Ligação do valganciclovir à proteína plasmática não tem sido determinado devido a sua rápida conversão de pró-droga à ganciclovir. Dados previamente obtidos de autópsia em pacientes que receberam ganciclovir intravenoso sugerem que o rim é o principal sítio de concentração da droga, seguido dos pulmões, fígado, e cérebro. Valganciclovir é eliminado do corpo (como ganciclovir) exclusivamente por excreção renal, através de filtração glomerular e secreção tubular ativa. Dose profilática: 900 mg VO 1x por dia. 15 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Efeitos adversos: - Diarréia (13%); - Náuseas (8%); - Vômitos (4%); - Mielotoxicidade (neutropenia – 16%; anemia – 11%). FOSCARNET: Deve ser reservado para pacientes que são intolerantes ao ganciclovir ou que apresentem falência a esta droga. Mecanismo de ação: inibe a polimerase do DNA e a transcriptase reversa virais. A droga interage com os locais de ligação do pirofosfato. Não foi ainda detectada resistência. Sugere-se que haja sinergismo in vitro da associação de foscernet com ganciclovir. Apresentação, administração e excreção: É administrado por via intravenosa após um bolus inicial de 20mg/kg durante 30 minutos. A posologia recomendada é de 60mg/kg 8/8h durante 2 a 3 semanas, ou até resolução da evidência de infecção ou doença por CMV. O foscarnet penetra bem no sistema nervoso central, e é de excreção renal. Efeitos adversos: - Alteração da função renal (risco de insuficiência renal aguda); - Náuseas, vômitos, fadiga, cefaléia; - Anemia;- Tremores, convulsões, irritabilidade;- Hipocalemia / hipercalcemia - Hiperfosfatemia / hipofosfatemia 16 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Embora não haja uma padronização quanto ao tempo de tratamento adequado para infecção e doença por CMV, os esquemas sugeridos pelo Hospital do Rim e Hipertensão, de acordo com a manifestação clínica e indicação de tratamento, consistem em: Manifestação clínica/ indicação do tratamento Doença não invasiva primária Droga Dose Tempo de Tratamento Ganciclovir 5 mg/kg EV 12/12h seguido de 5 mg/kg/dia 3x/semana 3 semanas Valganciclovir Ganciclovir 900 mg/dia VO 5 mg/kg EV 12/12h Ganciclovir Ganciclovir ou Doença não invasiva secundária CMV invasivo independente do status sorológico Ganciclovir ou Valganciclovir Tratamento Ganciclovir Preemptivo (Uso de OKT3, Thimoglobulina , ou CMV primário na impossibilidade do uso de Valganciclovir) Profilaxia para Valganciclovir pacientes adultos de alto risco para *** doença pelo CMV (D+/R-) OKT3/ATGAN Tratamento Total (incluindo profilaxia 2ª) 6 semanas Monitorização do tratamento 3 semanas 2-3 semanas 3 semanas * - Clínica - Antigenemia ** 5 mg/kg EV 12/12h seguido de 5 mg/kg/dia 3x/semana 3 semanas 6 semanas 900 mg/dia VO 5 mg/kg EV 12/12h 3 semanas 2-3 semanas 3 semanas * - Clínica - Antigenemia ** - EDA – a critério clínico repetir EDA para casos específicos - PCR - Antigenemia ** 900 mg/dia Até o 3º mês póstransplante Até o 3º mês póstransplante 3 semanas 3 semanas - Clínica - Antigenemia ** - PCR quantitativo - Antigenemia na suspeita de infecção por CMV - PCR, quando disponível, na suspeita de CMV 17 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Doença não invasiva primária: Refere-se ao paciente com status sorológico negativo para CMV, no período pré-transplante, que recebeu um rim de doador soropositivo para CMV, cuja manifestação clínica apresentada classifica-se como doença não invasiva. Os pacientes assintomáticos que apresentarem apenas antigenemia positiva para CMV são excluídos desta classificação e enquadrados como tratamento preemptivo. O tratamento sugerido consiste em Ganciclovir endovenoso na dose de 5mg/kg administrado a cada 12 horas por um período de 3 semanas, seguido de profilaxia secundária com Valganciclovir 900mg VO por dia durante 3 semanas ou Ganciclovir endovenoso 5mg/kg administrado 3 vezes por semana, resultando num total de 6 semanas de tratamento. ** O tempo de tratamento com dose plena, que corresponde as primeiras 3 semanas, pode ser estendido de acordo com a não resolução clínica ou persistência da positividade da antigenemia, ressaltando que ocorre negativação da antigenemia antes da carga viral. Em relação à profilaxia secundária, a tendência é dar preferência ao uso do Valganciclovir, visando menor tempo de permanência hospitalar, maior comodidade para o paciente e redução dos efeitos adversos relacionados ao acesso venoso, levando em conta sua boa biodisponibilidade (em torno de 60%) comparável ao Ganciclovir endovenoso. O Ganciclovir administrado via oral não é considerado mais como opção para profilaxia devido a sua baixa biodisponibilidade (6-8%) 17. Doença não invasiva secundária: Refere-se ao paciente com status sorológico positivo no período pré-transplante, independente do status sorológico do doador, que apresenta como manifestação clínica doença não invasiva. São excluídos deste grupo os pacientes que apresentarem apenas antigenemia positiva para CMV sem qualquer sinal ou sintoma clínico, sendo que estes se enquadram no tratamento preemptivo. O esquema de tratamento sugerido consiste na administração de Ganciclovir endovenoso na dose de 5mg/kg a cada 12 horas por um período de 2-3 semanas, de acordo com a resolução clínica e a negativação da antigenemia. * O tratamento pode ser prolongado caso o paciente tenha recebido tratamento anti-rejeição recentemente, na persistência do DNA viral ou quando o número de células na antigenemia for superior a 100 células. ** Sugere-se apenas suspender o ganciclovir quando houver negativação da antigenemia, visto que, como já mencionado anteriormente, ocorre negativação da antigenemia antes da carga viral. 18 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM CMV invasivo independente do status sorológico: Refere-se a qualquer paciente, independente do status sorológico, que apresente sinais e/ou sintomas relacionados ao órgão alvo, associado à evidência do vírus em amostra de determinados fluidos (tais como lavado broncoalveolar e líquor) ou tecidos (ex.: biópsia pulmonar, de mucosa digestiva), através de cultura viral, histopatologia, imuno-histoquímica ou hibridização in situ. O esquema de tratamento proposto consiste em Ganciclovir endovenoso na dose de 5mg/kg a cada 12 horas durante 3 semanas, seguido de profilaxia secundária com Valganciclovir 900mg via oral por dia ou Ganciclovir endovenoso 5mg/kg três vezes por semana durante 3 semanas, num total de 6 semanas de tratamento. ** O tempo de tratamento com dose plena, ou seja, as primeiras 3 semanas, pode ser prolongado de acordo com a não resolução dos sinais e/ou sintomas clínicos ou persistência de positividade da antigenemia, lembrando que ocorre negativação da antigenemia antes da carga viral. Quanto à doença invasiva de trato gastrointestinal a repetição de EDA (endoscopia digestiva alta) não é regra, sendo reservada para aqueles pacientes que persistirem com sinais e/ou sintomas relacionados à doença, ou apresentarem suspeita de complicações, devendo-se avaliar caso a caso. O PCR, quando disponível no serviço, como ser um exame auxiliar na avaliação de resolução da doença. Tratamento preemptivo: Refere-se ao paciente com infecção secundária por CMV que recebeu terapia de indução ou tratamento anti-rejeição com OKT3 ou Thimoglobulina e ao paciente com infecção primária por CMV na impossibilidade do uso de Valganciclovir. Estes pacientes apresentam infecção assintomática evidenciada apenas por antigenemia ou PCR positivo na ausência de qualquer sinal ou sintoma. A terapia proposta consiste em Ganciclovir endovenoso 5mg/kg a cada 12 horas durante 2-3 semanas. * O tratamento pode ser prolongado caso o paciente tenha recebido tratamento anti-rejeição recentemente, na persistência do DNA viral ou quando o número de células na antigenemia for superior a 100 células. ** Como já mencionado anteriormente, sugere-se suspensão do tratamento apenas após negativação da antigenemia, visto que esta ocorre antes da negativação da carga viral. 19 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM Profilaxia para pacientes adultos de alto risco para doença por CMV (D+/R-): Refere-se aos pacientes adultos que apresentarem status sorológico negativo para CMV previamente ao transplante e que receberem um rim de doador soropositivo para CMV. O esquema proposto consiste em Valganciclovir 900 mg via oral por dia nos primeiros 3 meses pós-transplante. Sugere-se antigenemia semanal ou realização de PCR quando possível. *** Há relatos de trabalhos em literatura que apontam uma tendência de aumento na incidência de doença por CMV 25. OBS: Em situações nas quais o paciente encontra-se internado e necessita de profilaxia primária ou secundária, não havendo uma previsão de alta para o mesmo, sugere-se o uso do Ganciclovir intravenoso visando um menor custo para o tratamento. Outras situações nas quais prefere-se o uso de Ganciclovir intravenoso seriam: uso em pacientes com idade inferior a 18 anos, pacientes que apresentarem um clearance de creatinina menor do que 10, pacientes impossibilitados de receber medicações de uso interno e outras situações que contra-indiquem o uso do Valganciclovir. Sugere-se avaliação de um especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias para a tomada destas decisões. AJUSTE DO GANCICLOVIR ENDOVENOSO PARA A FUNÇÃO RENAL: Dose normal >50ml/min 10-50ml/min <10ml/min 5 mg/kg 12/12h 5 mg/kg 24-48h 5 mg/kg 48-96h 5 mg/kg 12/12h HD: após CAPD ≤10 CAVD: 2,5mg/kg/dia AJUSTE DO VALGANCICLOVIR ORAL PARA A FUNÇÃO RENAL: Dose normal ≥60 ml/min 900 mg 1x/dia 900 mg 1x/dia 40 a <60 ml/min 450 mg 1x/dia 25 a <40 ml/min 450 mg em dias alternados 10 a <25 ml/min 450 mg 2x vezes por semana 20 Hospital do Rim e Hipertensão Fundação Oswaldo Ramos Órgão Suplementar UNIFESP - EPM DOSE PARA CRIANÇAS: Ganciclovir: 30mg/kg/dose 8/8h BIBLIOGRAFIA: 1- Patel, R. & Paya, V. Infections in Organ Transplant Recipients. Clin Microbiol Reviews 1997; 10(1): 86-124 2- Patel, R & Paya, V. Cytomegalovírus Infection in Solid Organ Transplant Recipients. Transplant Infections, Lippincott-Raven Publishers, Philadelphia, 1998. 3- Boschiroli, A M. 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