Cadê o MEU país???* (Bruno Malaguti - www.brunomalaguti.myblog.com.br) Corrupção não é novidade. É herança de colonização, faz parte da cultura e é ensinada nas famílias e escolas quase inocentemente. Malandragem, por essas bandas, é questão de sobrevivência. Brasileiro não perde chance de tirar vantagem, e dar risada dos “otários” é esporte nacional, tão popular quanto futebol. Não é preciso repetir que temos um Congresso elitista, defensor dos interesses de uma minoria burguesa etc, etc, etc. Já estou cansado desse discurso inflamado de esquerda, que repeti a vida inteira. Os últimos utópicos da política brasileira (como a grande Heloísa Helena) viraram caricaturas, cada vez mais isolados nas suas ilusões de igualdade, quimera de uma Democracia Social, na qual a Constituição Federal é verdadeiramente respeitada. E o PT tratou de acabar de vez com o projeto de uma revolução pacífica, democrática, que colocaria o povo efetivamente no comando do país. O Governo sabia do esquema dos correios? Claro. O PT foi conivente? Sim. E o mensalão, existe mesmo? Com certeza! Não há defesa possível para o Partido dos Trabalhadores. Principalmente por causa da sua postura histórica de combater exatamente essas práticas. Mas antes de crucificar o Governo, e é isso que está sendo feito por nossa mídia comprometida e parcial, porque ninguém discute a responsabilidade do Congresso Nacional? Meu Deus, não seriam eles tão ou mais culpados? Lembrem que o Governo se tornou, por inabilidade, refém do Congresso. Governar sem maioria no Brasil é como navegar sem leme. O barco fica sem rumo mesmo. Na última eleição presidencial, eu chorava de rir com Regina Duarte dizendo “eu tenho medo!” com aquela cara de protagonista de novela (utilizando-me de um eufemismo politicamente correto). Era obvio que o PSDB e o PFL estavam mesmo com muito medo de perder os esquemas da propina, perder o comando das estatais, ficar sem pastas no Governo e, conseqüentemente, perder milhões em dinheiro sujo durante o mandato de Lula. Ocorre que o PT foi manipulado até pelos aliados, que exigiram a continuidade dos “mensalões” que sempre ocorreram, em todos os governos que o nosso amado país já teve. Distribuir cargos e pagar diretamente aos Deputados sempre foi prática comum, sendo a única forma de conseguir maioria no Congresso e votar os projetos de interesse do Governo. Escrevo esse texto ouvindo discursos hipócritas na CPI dos correios, em que Roberto Jefferson “entrega” o esquema do mensalão. Os Deputados, indignados por terem sido jogados numa “vala-comum” da corrupção, ficam irritantemente repetindo que precisam preservar a sua honra, que têm mulheres e filhos, começaram a trabalhar com 10 anos de idade... um verdadeiro circo, em que os palhaços somos nós. Amanhã, os adversários de hoje estarão aos risos e abraços nos corredores do Congresso, comemorando mais uma CPI inútil. Assusta que a imprensa esteja preocupada com a tal mesada, mas ninguém questiona quanto vale cada ministério e cada presidência dos inúmeros órgãos da administração pública indireta, empresas estatais e sociedades de economia mista. É nesses órgãos que a corrupção reina absoluta, com licitações fraudadas, nepotismo, contratos superfaturados etc, etc, etc. Não pretendo tentar dirimir a culpa do PT. Ao elegê-lo, projetamos expectativas de que esse Governo combatesse essa podridão e adotasse um novo modelo econômico. O PT perdeu a chance de expor as suas dificuldades logo no começo, quando poderia usar o apoio popular para promover, de imediato, uma reforma política que mudasse o perfil do Congresso. Deveria ter se dirigido à população e explicado quais os partidos e quais os deputados, atribuindo-lhes nomes, estavam votando contra as mudanças. Fazer isso não é fácil, é comprar briga com o grande capital, mas era melhor que mergulhar na lama, abandonar todas as ideologias e unir corrupção com o pior autoritarismo como vem fazendo. Mas o maior problema do Brasil não é sistema político, ou a justiça (ou a falta dela). Não são as leis velhas, nem as novas, nem a economia que não cresce, nem os juros altos. O nosso maior empecilho é o mesmo de toda a humanidade: as pessoas. A dificuldade de melhorar vem da ignorância imposta a muitos, da falta de caráter de tantos e do egoísmo e indiferença de quase todos. Quisera eu estar equivocado E que nessa sociedade Houvesse gente de verdade E que ninguém ficasse calado... * Esse título é referência ao livro de Michael Moore, “Dude, where is my country?”, no qual ele questiona o atual comportamento da sociedade norte-americana. Michael Moore foi brilhante em seus documentários e nos dois livros que lançou, mas, com todo respeito, não chega aos pés dos nossos sociólogos e escritores tupiniquins. João Ubaldo atropela o gringo fácil com “Viva o povo brasileiro”. P.s. : Desculpem os versos simplórios, prometo me esforçar mais... Bruno Malaguti 14.06.2005 Disponível em www.brunomalaguti.myblog.com.br