Meus amigos, a democracia é o governo que emana de todos, de cada um dos brasileiros, e não apenas dos políticos, seus representantes formais. Apesar disso, grande parte da opinião pública trata com desdém a classe política, como se nós fôssemos extraterrestres. Pesquisa realizada nos Estados Unidos no fim do século passado constatou que 99% dos cidadãos daquele País haviam cometido algum crime que os levaria à prisão, se fosse descoberto: sonegação fiscal, uso de drogas, dirigir sob efeito de bebidas etc. Muitos dos brasileiros que pedem o fim da corrupção são corruptos no seu dia a dia. Muitos dos que falam “bandido bom é bandido morto” estavam entre os saqueadores que se aproveitaram da greve dos policiais no Estado do Espírito Santo. Grande parte de nossa população descumpre intencionalmente a lei, estaciona em vagas reservadas a deficientes ou idosos sem ter esse direito, estaciona em fila dupla etc. “A classe política e a sociedade como um todo refletem-se mutuamente. Quando a população culpa os políticos pela corrupção dos costumes e da democracia brasileira esquece que esta mesma democracia emana de cada um dos brasileiros e não apenas dos que os representam.” Evidentemente, não estou dizendo que todo o povo, ou todo o Congresso, é desonesto. Estou dizendo que a classe política e a sociedade como um todo refletem-se mutuamente, e que quando a população culpa os políticos, vê em nós, projeta em nós, aquilo que ela não quer admitir como defeito seu. De qualquer forma, para preservarmos a democracia, e a aperfeiçoarmos, o problema central não é a corrupção. Corrupção certamente é ruim. Mas existe na política desde que existe política. De qualquer forma, não há dúvida de que precisamos combater a corrupção, mesmo em suas variáveis mais difíceis de serem caracterizadas. Nós, políticos, estamos no palco dessa evolução dos costumes e da democracia brasileira; mas quem escreve o enredo e dirige a encenação é o povo brasileiro, as instituições, a imprensa. Antonio Bulhões Deputado Federal / PRB-SP