CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior | Prof. André Almeida Aula no 04: Limites e Continuidade Objetivos da Aula 1 • Denir limite de funções; • Calcular o limite de uma função; • Utilizar as propriedades operatórias do limite para calcular o limite de uma função; • Denir função contínua; • Reconhecer uma função contínua através do seu gráco; Velocidade Instantânea Considere o seguinte problema: Exemplo 1. Uma bola é solta a partir do ponto de observação no alto da Torre CN, em Toronto, 450 m acima do solo. Desprezando a resistência do ar, encontre a velocidade da bola após 5 segundos. Solução: De acordo com a Lei de Galileu, temos que a posição da bola função do tempo t, s(t), medida em metros, e em medido em segundos é dado pela equação: s(t) = 4, 9t2 A diculdade em encontrar a velocidade após 5 segundos, está em tratarmos de um único instante, t = 5, e não de um intervalo de tempo. Com isso, tentaremos aproximar a quantidade desejada pelas velocidade médias calculados em intervalos de tempo cada vez menores e próximos de t = 5. Dessa forma, fazendo alguns cálculos, obtemos a seguinte tabela: Intervalo de Tempo(t) Velocidade Média(m/s) 5≤t≤6 5 ≤ t ≤ 5, 1 5 ≤ t ≤ 5, 05 5 ≤ t ≤ 5, 01 5 ≤ t ≤ 5, 001 53, 9 49, 49 49, 245 49, 049 49, 0049 E a partir desses dados, conseguimos notar que sempre que os intervalos de tempo em torno de cam cada vez menores, temos que as velocidades médias se aproximam da velocidade esperamos que exatamente em t=5 segundos, a velocidade seja cerca de velocidade instantânea no instante t0 , 49m/s. 49m/s. Dito isto, denimos a como sendo a velocidade para a qual as velocidades médias se aproximam, sendo essas calculadas em intervalos de tempo cada vez menores, começando em do nosso exemplo, a velocidade instantânea da bola, no instante t = 5, é de t → t0 (Lê-se: t tende a t0 ). t0 . No caso 49m/s. Dizer que tomamos intervalos de tempo cada vez menores e próximos de um instante escrito como t=5 Então, t0 , pode ser Na próxima seção, utilizaremos as noções discutidas aqui para determinar o limite de uma função. 1 Cálculo I 2 Aula n o 04 Limite de Uma Função Conforme visto na seção anterior, podemos conjecturar sobre o valor da velocidade instantânea de um objeto, vericando para qual valor as velocidades médias tendem em intervalos de tempo cada vez menores. Podemos também aplicar esse raciocínio para encontrar um número real aproxima, quando x tende a um número L para o qual uma função f (x) se a. Dito isso, vamos considerar o seguinte exemplo: Exemplo 2. Solução: Analise o comportamento da função f (x) = x2 − 5x + 6 quando x se aproxima de 1. Utilizando as seguintes tabelas x f (x) 1, 1 1, 71 1, 01 1, 9701 1, 005 1, 985025 1, 00001 1, 9999700001 1, 000005 1, 999985 1, 00000001 1, 99999997 x f (x) 0, 5 3, 75 0, 75 2, 81 0, 9 2, 31 0, 99 2, 0301 0, 998 2, 006004 0, 99999 2, 0000300001 podemos observar que sempre que x se aproxima de 1, f (x) assume valores muito próximos de 2. Dessa forma podemos utilizar a notação de limite e escrever lim (x2 − 5x + 6) = 2 x→1 Dessa forma, podemos determinar uma denição intuitiva de limite, como segue: Denição 1 a . (Denição Intuitiva de Limite) (Isso signica que próprio a). f Suponha que f (x) esteja denido quando está próximo de está denido em algum intervalo aberto que contenha a, exceto possivelmente no Então escrevemos: lim f (x) = L x→a e dizemos o limite de se pudermos tornar os valores de tornando x f (x) quando x tende a a é L f (x) arbitrariamente próximos de L (tão próximos de L quanto quisermos), a (por ambos os lados de a), mas não igual a a. sucientemente próximo de Podemos utilizar a notação f (x) → L para representar que se x→a L = lim f (x). x→a Um fato importante a ser destacado na denição é a frase: a, pois f nem sequer precisa estar denida em comportamento de f próximo ao ponto Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida a. a x está próximo de para que se tenha o limite L, a, mas não igual a pois o que importa é o As guras abaixo, ilustram esse fato. 2 Cálculo I Aula n o 04 Figura 1: A função f está denida em a e f (a) = L Figura 2: A função f está denida em a, mas f (a) 6= L Figura 3: A função f não está denida em a Vamos utilizar a denição 1 para determinar o limite das funções nos seguinte exemplos. Exemplo 3. Solução: Estime o valor de x−1 . x→1 x2 − 1 lim Observe que a função f (x) = vamos considerar pontos próximos de x<1 0, 5 0, 9 0, 99 0, 999 0, 9999 f (x) 0, 666667 0, 526316 0, 502513 0, 500250 0, 500025 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 1. x−1 x2 − 1 não está denida em x = 1. Então, como zemos antes, E assim, obtemos as seguintes tabelas: x>1 1, 5 1, 1 1, 01 1, 001 1, 0001 f (x) 0, 400000 0, 476190 0, 497512 0, 499750 0, 499975 3 Cálculo I Aula n o 04 e, através dela podemos observar que x−1 1 = 2 x→1 x − 1 2 lim E esse fato pode ser conrmado pelo gráco da função f. Figura 4: Gráco da função f (x) = Exemplo 4. Solução: Primeiramente, note que senx f (x) = senx f (−x) = Logo, utilizando o fato de f (x) lim Faça uma estimativa para x→0 x x−1 x2 − 1 . é par, pois x sen(−x) −x = −senx senx = = f (x) −x x ser par, construímos a seguinte tabela: x ±1, 0 ±0, 5 ±0, 4 ±0, 3 ±0, 2 ±0, 1 ±0, 05 ±0, 01 ±0, 005 ±0, 001 Desse modo, podemos inferir que lim x→0 E essa armação pode ser vista pelo gráco de Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida f (x) 0, 84147098 0, 95885108 0, 97354586 0, 98506736 0, 99334665 0, 99833417 0, 99958339 0, 99998333 0, 99999583 0, 99999983 senx x f =1 4 Cálculo I Aula n Figura 5: Gráco da função f (x) = Exemplo 5. Solução: Analise Note que lim sen π x→0 x f (x) = sen Dessa forma, somos levados a 04 senx x . π utilizamos a seguinte tabela o x não está denida em x = 0. Então, procedendo como anteriormente, x f (x) 1 0 0, 5 0 0, 25 0 0, 2 0 0, 1 0 0, 01 0 0, 001 0 0, 0001 0 0, 0000001 0 0, 00000000000000001 0 π acreditar que lim sen = 0. Mas isso x→0 x não é verdade, pois observando a tabela a seguir: x f (x) 2/101 1 2/105 1 2/109 1 2/113 1 2/117 1 2/121 1 2/125 1 2/129 1 2/133 1 2/137 1 x f (x) 2/103 −1 2/107 −1 2/111 −1 2/115 −1 2/119 −1 2/123 −1 2/127 −1 2/131 −1 2/135 −1 2/139 −1 Logo, nossa conjectura de que lim sen x→0 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida π x =0 5 o 04 cujas imagens não se aproximam de 0. Cálculo I Aula n não é verdade, pois encontramos até innitos pontos próximos de 0 Pensando nisso, devemos encontrar uma denição mais precisa de limite de uma função. Sendo assim, considere o seguinte exemplo: Exemplo 6. Seja f (x) = Determine Solução: 3, mas 2x − 1 6 x 6= 3 x=3 se se lim f (x). x→3 Para determinarmos o limite pedido, notamos intuitivamente que se tomarmos x 6= 3, temos que lim f (x) = 5. x→3 x próximo de Porém, buscamos um modo de vericar essa armação, e assim tornar mais precisas as frases x sucientemente próximo de a e f (x) arbitrariamente próximo de L contidas na denição 1. Sendo assim,devemos nos fazer a seguinte pergunta: Quão próximo de a, x deve estar para que f (x) dira de L por menos uma quantidade pré-xada? 5 por menos uma quantidade pré-xada? Ou utilizando o nosso exemplo, Quão próximo de 3, x dever estar para que f (x) dira de Essa quantidade pré-xada será representada pela letra grega ε (épsilon). Quando falamos de proximidade de dois números, falamos de distância entre eles, que é justamente o módulo da diferença entre os mesmos, ou seja, nossa indagação pode ser reescrita como o seguinte problema: É possível encontrar um número δ>0 tal que 0 < |x − a| < δ garanta que |f (x) − L| < ε para todo ε>0 Ou para o nosso exemplo: É possível encontrar um número δ>0 tal que 0 < |x − 3| < δ garanta que |f (x) − 5| < ε para todo ε>0 A partir desse momento, vamos analisar o exemplo dado. questionamento agora é: encontrar δ>0 Suponha que ε = 0, 1. Ou seja nosso tal que 0 < |x − 3| < δ ⇒ |f (x) − 5| < 0, 1 Para encontrar esse δ > 0, podemos utilizar o seguinte procedimento: (i) Conjecturar sobre o valor de (ii) Vericar se o valor de δ δ > 0; encontrado no passo anterior é válido. Agora, vamos utilizar esse procedimento no nosso exemplo. (i) Conjecturar sobre o valor de δ . a uma distância δ de 3, Vamos imaginar que existe δ>0 tal que se tomarmos x 6= 3, mas obtemos que |f (x) − 5| < 0, 1 Desse modo, |(2x − 1) − 5| < 0, 1 ⇒ |2x − 6| < 0, 1 ⇒ |2(x − 3)| < 0, 1 ⇒ |2|.|x − 3| < 0, 1 ⇒ 2|x − 3| < 0, 1 ⇒ |x − 3| < 0, 05 Agora, note que para que Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida |f (x) − 5| < 0, 1 temos que adotar δ = 0, 05. 6 Cálculo I (ii) Aula n Vericar se o δ encontrado é válido. Para isso, fazemos 0 < |x − 3| < 0, 05, o 04 e obtemos pelas propriedades de módulo e das desigualdades que 0 < |x − 3| < 0, 05 ⇒ −0, 05 < x − 3 < 0, 05 ⇒ −0, 1 < 2(x − 3) < 0, 1 ⇒ −0, 1 < (2x − 1) − 5 < 0, 1 ⇒ |(2x − 1) − 5| < 0, 1. ε = 0, 0001? Utilizamos o mesmo procedimento e garantimos que δ = 0, 0005. Então,e se considerarmos qualquer ε > 0? Qual o valor de δ ? Vamos utilizar o procedimento acima: Mas se tomarmos (i) ε = 0, 01? Procedemos da mesma forma e obtemos Conjecturar sobre o valor de δ . obtemos que |f (x) − 5| < ε. Considere que existe δ>0 δ = 0, 005. E se tal que se tomarmos 0 < |x − 3| < δ , Dessa forma, |(2x − 1) − 5| < ε ⇒ |2x − 6| < ε ⇒ |2|.|x − 3| < ε ε ⇒ |x − 3| < 2 Então encontramos que (ii) δ= ε 2 Vericar se o valor de δ é válido. δ= Tomando 0 < |x − 3| < ε 2 ε , 2 obtemos que 0 < |x − 3| < ε 2 . Logo, ε ε ⇒ − <x−3< 2 2 ⇒ −ε < 2x − 6ε ⇒ |(2x − 1) − 5| < ε Desse modo, podemos denir limite mais precisamente através da seguinte denição: Denição 2 o número a, . f uma função denida em um intervalo aberto que contenha próprio a. Então, dizemos que o limite de f quando x tende a a (Limite de Uma Função) exceto possivelmente no é L e escrevemos Seja lim f (x) = L x→a se para todo número ε>0 existe um número δ>0 tal que Se 0 < |x − a| < δ então |f (x) − L| < ε Podemos também reformular a denição 2 em notação de intervalos, pois 0 < |x − a| < δ ⇔ −δ < x − a < δ ⇔ a − δ < x < a + δ Mostrando que x pertence ao intervalo aberto (a − δ, a + δ). E 0 < |f (x) − L| < ε ⇔ −ε < f (x) − L < ε ⇔ L − ε < f (x) < L + ε Mostrando que para todo ε>0 f (x) (L − ε, L + ε). pertence ao intervalo aberto podemos encontrar δ>0 tal que se E assim, x ∈ (a − δ, a + δ) então lim f (x) = L x→a signica que f (x) ∈ (L − ε, L + ε). Uma interpretação geométrica do limite de uma função é dada em termos do seu gráco. Para isso, considere o seguinte gráco de uma função Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida f, tal que lim f (x) = L. x→a 7 Cálculo I Aula n o 04 Figura 6: Representação Geométrica do Limite (1) Agora, representaremos o limite L por uma reta tracejada paralela ao eixo x. Figura 7: Representação Geométrica do Limite(2) Sendo assim, representamos o intervalo contenha a reta que passa por (L − ε, L + ε), e desenhamos uma faixa de amplitude 2ε e que L Figura 8: Representação Geométrica do Limite(3) (a − δ, a + δ) no domínio tal que contido na faixa y = L − ε a y = L + ε. Feito isso, podemos determinar um intervalo nos pontos desse intervalo ca totalmente Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida o gráco da função f 8 Cálculo I Aula n o 04 Figura 9: Representação Geométrica do Limite(4) Note que se diminuirmos mais o valor de assim, conseguimos achar outro δ ε, estamos encurtando a faixa que contém L, mas mesmo tal que o ocorrido no passo anterior aconteça novamente. Figura 10: Representação Geométrica do Limite(5) Sendo assim, vamos a alguns exemplos: Exemplo 7. Solução: (i) Vamos mostrar que lim c = c x→a (O Limite da função constante é a própria constante). Vamos utilizar o procedimento. Conjecturar sobre o valor de δ . |f (x) − c| < ε. Suponha que existe δ > 0 tal que se 0 < |x − a| < δ então Mas note que |f (x) − c| = |c − c| = 0 < ε Logo, δ pode ser qualquer valor positivo. A vericação é imediata. Exemplo 8. Solução: (i) Vamos mostrar que lim x = a. x→a Mais uma vez, fazendo uso do procedimento, temos que Conjecturar sobre o valor de δ . Suponha que existe δ tal que se 0 < |x−a| < δ então |f (x)−a| < ε. Sendo assim, |f (x) − a| < ε ⇒ |x − a| < ε Assim, δ = ε. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 9 Cálculo I (ii) Aula n Vericação do Valor de δ . Se δ = ε, então 0 < |x − a| < ε. o 04 Logo, 0 < |x − a| < ε ⇒ −ε < x − a < ε ⇒ −ε < f (x) − a < ε ⇒ |f (x) − a| < ε Exemplo 9. Prove que lim (4x − 5) = 3 x→2 Solução: (i) Conjecturar sobre o valor de δ . |f (x) − 5| < ε, ε > 0. para todo Queremos determinar δ >0 tal que se 0 < |x − 2| < δ |f (x) − 3| = |(4x − 5) − 3| = |4x − 8| = |4(x − 2)| = 4|x − 2| < ε ⇒ |x − 2| < Logo, (ii) δ= então Porém, note que ε 4 ε . 4 Vericar se o valor de δ é válido. ε , então 4 ε ε ⇒ − <x−2< 4 4 ⇒ −ε < 4x − 8 < ε Se tomarmos 0 < |x − 2| < ε 4 δ= ⇒ |(4x − 5) − 3| < ε Exemplo 10. Verique que lim x2 = 9. x→3 Solução: (i) Conjecturar sobre o valor de δ . então |f (x) − 9| < ε. Vamos determinar o valor de δ>0 tal que se 0 < |x − 3| < δ Logo, notamos que |f (x) − 9| = |x2 − 9| = |(x − 3)(x + 3)| = |x − 3||x + 3| Agora, queremos estimar |x + 3|, ou seja, encontrar uma constante C>0 tal que |x + 3| < C , pois assim, |x + 3||x − 3| < C|x − 3| E assim, podemos fazer C|x − 3| < ε ⇒ |x − 3| < Como queremos números x bem próximos de 3, ε =δ C não é absurdo supor que |x − 3| < 1 (1) |x − 3| < 1 ⇒ −1 < x − 3 < 1 ⇒ 2 < x < 4 (2) Então, Pela propriedades das desigualdades, temos por 2 que 5 < x + 3 < 7 ⇒ −7 < 5 < x + 3 < 7 ⇒ −7 < x + 3 < 7 ⇒ |x + 3| < 7 Logo a constante procurada é C = 7. Mas observe que agora temos duas restrições para |x − 3| < 1 e |x − 3| < Logo, escolhemos Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida (3) δ. ε 7 n εo δ = min 1, 7 10 Cálculo I (ii) Aula n Vericar se δ é válido. Seja n εo δ = min 1, 7 e que 0 < |x − 3| < δ . o 04 Note que |f (x) − 9| = |x2 − 9| = |x + 3||x − 3| < 7δ Agora, se δ= ε 7 então, ε |f (x) − 9| = |x2 − 9| = |x + 3||x − 3| < 7δ = 7 = ε 7 Se δ = 1, então 1< ε . 7 Logo, ε |f (x) − 9| = |x2 − 9| = |x + 3||x − 3| < 7δ = 7.1 < 7 = ε 7 Em todos os casos, obtemos que |f (x) − 9| < ε Note que para a função quadrática, mostrar um limite pela denição apresenta certa diculdade, imagine se tivermos a função: x3 − 4x7 + 6x11 f (x) = √ x4 − x2 + 1 Por isso, na próxima seção utilizaremos alguns resultados que nos permite calcular o limite de outras funções utilizando apenas as funções elementares. 2.1 Propriedades de Limites Teorema 1. Supondo c uma constante e que os limites lim f (x) e lim g(x) x→a x→a existem, então: 1. 2. 3. lim [f (x) + g(x)] = lim f (x) + lim g(x) (O limite da soma é a soma dos limites); lim [f (x) − g(x)] = lim f (x) − lim g(x) (O limite da diferença é a diferença dos limites); x→a x→a x→a x→a x→a x→a lim [cf (x)] = c lim f (x) x→a x→a (O limite do produto por uma constante é a constante vez o limite da função); 4. lim [f (x).g(x)] = lim f (x) · lim g(x) x→a 5. Se x→a g(x) 6= 0 e x→a lim g(x) 6= 0 x→a então (O limite do produto é o produto dos limites); lim f (x) f (x) = x→a x→a g(x) lim g(x) lim (O limite do quociente é o quociente dos x→a limites). Vamos analisar alguns exemplos: Exemplo 11. Verique que lim x2 = a2 , x→a Solução: Sabemos pelo exemplo 8 que propriedade (4) para qualquer lim x = a. x→a a ∈ R. Logo, tomando f (x) = x e g(x) = x, segue da que lim x2 = lim x.x = lim x. lim x = a.a = a2 x→a x→a x→a x→a Exemplo 12. Verique que lim (−3x2 + 2x + 10) = 2. x→2 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 11 Cálculo I Solução: Aula n o 04 Sabemos que lim x2 = 22 = 4 x→2 lim x = 2 x→2 lim 10 = 10 x→2 Então, segue do teorema 5 que lim (−3x2 + 2x + 10) = lim (−3x2 ) + lim 2x + lim 10 (Propriedade 1) x→2 x→2 2 = −3 lim x + 2 lim x + lim 10 (Propriedade x→2 x→2 x→2 x→2 x→2 3) = −3.4 + 2.2 + 10 = 2 Mediante os dois últimos exemplos podemos enunciar o seguinte resultado. Teorema 2. Seja f uma função polinomial dada por f (x) = cn xn + cn−1 xn−1 + ... + c1 x + c0 Então lim f (x) = cn an + cn−1 an−1 + ... + c1 a + c0 x→a O teorema acima pode ser provado utilizando o teorema 5. Em posse desse resultado, podemos resolver o seguinte exemplo: Exemplo 13. Calcule lim (x5 + 7x4 − 12x3 + 6x2 − 10x + 1). x→−1 Pelo teorema 2, obtemos que lim (x5 + 7x4 − 12x3 + 6x2 − 10x + 1) = (−1)5 + 7.(−1)4 − 12.(−1)3 + 6.(−1)2 + 10.(−1) + 1 x→−1 = −1 + 7 + 12 + 6 − 10 + 1 = 15 Exemplo 14. Solução: Calcule Note que x2 − 1 . x→−5 x2 + 1 lim g(x) = x2 + 1 6= 0 para todo x ∈ Dg . Observe também que lim x2 − 1 = (−5)2 − 1 = 25 − 1 = 24 x→−5 E que, lim x2 + 2 = (−5)2 + 2 = 25 + 1 = 26 6= 0 x→−5 Então, pela propriedade (5), obtemos que lim x2 − 1 x2 − 1 24 12 x→−5 = = = lim 2 2 x→−5 x + 1 26 13 lim x + 1 x→−5 A proposição seguinte será enunciada sem demonstração. Proposição 1. lim x→a √ √ n x = n x, Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida para todo a > 0. 12 Cálculo I Aula n o 04 A ideia da sua demonstração será dada nas aulas seguintes. O próximo resultado será de grande utilidade para nossos cálculos e reforça a ideia de que para existir o limite a. Teorema 3. x 6= a e se Sejam lim g(x) x→a f g e duas funções. Se existir existir, então lim f (x) x→a δ>0 lim f (x), f x→a tal que não precisa estar denida em f (x) = g(x) para a − δ < x < a + δ, também existirá e lim f (x) = lim g(x). x→a Exemplo 15. (a) (b) (c) (d) x→a Calcule: x2 − 1 ; x→1 x − 1 √ √ x− 3 lim ; x→3 x−3 √ √ 3 x− 32 lim ; x→2 x−2 √ x−1 √ . lim √ x→1 2x + 3 − 5 lim Solução: (i) Note que não podemos utilizar o teorema 5, pois lim x − 1 = 0 x→1 Então vamos tentar utilizar o teorema 3. Desse modo, devemos encontrar uma função f (x) = g(x) em todo ponto próximo de 1, f (x), tal que lim g(x) exista. x→1 g(x) tal que Notando pela denição da função notamos que x2 − 1 (x − 1)(x + 1) = x−1 x−1 de 1, mas que x 6= 1, então f (x) = Como consideramos pontos x próximos temos que x − 1 6= 0. Dessa forma, podemos fazer: + 1) (x −1)(x x2 − 1 = =x+1 x−1 x− 1 Logo, considerando g(x) = x + 1, temos que f (x) = g(x) para todos os pontos próximos de 1, exceto o 1. E sabemos que lim x + 1 = 2. Então, pelo teorema 3, temos que x→1 lim f (x) = lim x + 1 = 2 x→1 x→1 Observação 1. Nos próximos exemplos, não detalharemos tanto as contas, porém, os detalhes omi- tidos são análogos ao item (a). (b) Nossa intenção é utilizar o teorema 3, pois lim x − 3 = 0 x→3 Logo, para pontos x 3, mas x 6= 3, temos √ √ √ √ x− 3 x− 3 √ f (x) = = √ x−3 ( x)2 − ( 3)2 √ √ x− 3 = √ √ √ √ ( x + 3) ( x − 3) 1 √ = √ x+ 3 próximos de Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 13 Cálculo I Aula n Logo, √ lim x→3 o 04 √ x− 3 1 1 √ = √ = lim √ x→3 x−3 x+ 3 2 3 (c) Utilizaremos o teorema 3. Sendo assim, √ 3 lim x→2 √ x− 32 x−2 = = = = √ √ 3 x− 32 √ lim √ x→2 ( 3 x)3 − ( 3 2)3 √ √ 3 3 x− 2 lim √ √ √ √ √ √ 3 3 3 3 3 2 2 x→2 ( 3 x − 2)(( x) + x 2 + ( 2) )) 1 √ lim √ √ √ x→2 ( 3 x)2 + 3 x 3 2 + ( 3 2)2 1 √ 334 (d) Utilizando o teorema 3 e o teorema 5, obtemos que √ x− 1 √ lim √ x→1 2x + 3 − 5 √ = = = = = √ √ √ ( x − 1)( 2x + 3 + 5) √ lim √ x→1 ( 2x + 3)2 − ( 5)2 √ √ √ ( x − 1)( 2x + 3 + 5) lim x→1 2x + 3 − 5 √ √ √ ( x − 1)( 2x + 3 + 5) lim x→1 2x − 2 √ √ √ ( x − 1)( 2x + 3 + 5) lim x→1 2(x − 1) √ √ √ x−1 2x + 3 + 5 lim lim x→1 x − 1 x→1 2 Agora, note que √ √ x−1 lim x→1 x − 1 x−1 √ lim √ 2 ( x) − ( 1)2 √ x−1 = lim √ √ x→1 ( x − 1)( x + 1) 1 = lim √ x→1 x+1 1 = 2 = x→1 E note também que √ lim x→1 Logo, Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 2x + 3 + 2 √ 5 √ √ √ 2.1 + 3 + 5 2 5 √ = = = 5 2 2 √ √ x− 1 5 √ = lim √ x→1 2 2x + 3 − 5 √ 14 Cálculo I 3 Aula n o 04 Funções Contínuas Denição 3. Seja I um intervalo e a ∈ I, dizemos que uma função f :I→R é contínua em a se lim f (x) = f (a) x→a Observação 2. (1) (2) (3) f Para que está denida em lim f (x) x→a f seja contínua em a, devem ser satisfeitas as seguintes armações: a; existe e; lim f (x) = f (a). x→a Exemplo 16. Solução: As funções Seja a f, g : R → R dada por f (x) = c e g(x) = x são contínuas em todo a ∈ R. um número real qualquer. Então lim f (x) = lim c = c = f (a) x→a x→a E também lim g(x) = lim x = a = g(a) x→a x→a Logo, as funções constante e identidade são contínuas Observação 3. Dizemos que uma função é contínua em um intervalo I se ela é contínua em todos os x ∈ I. Gracamente, podemos reconhecer o gráco de uma função contínua como sendo um gráco sem problemas, em outras palavras, um gráco em que possamos traçá-lo sem tirar o lápis do papel, ou seja um gráco que não apresenta furos e saltos. O seguinte gráco exemplica tal ideia. Se f não atende a denição 3 em a é chamada descontínua em a. Gracamente, podemos reconhecer que uma função é descontínua se o seu gráco apresenta furos e saltos, tais como os grácos dos seguintes exemplos: Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 15 Cálculo I Aula n o 04 Figura 11: Gráco de uma função descontínua(1) Figura 12: Gráco de uma função descontínua(2) Figura 13: Gráco de uma função descontínua(2) Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 16 Cálculo I Aula n o 04 Figura 14: Gráco de uma função descontínua(3) Como é do nosso interesse efetuarmos certos cálculos com funções contínuas, exibiremos o próximo teorema que lista as principais funções contínuas. Teorema 4. As seguintes funções são contínuas em seus respectivos domínios: (i) Polinomiais; (ii) Racionais; (iii) Exponenciais; (iv) Trigonométricas; (v) Potências; (vi) Logarítmicas. Mostraremos alguns exemplos de utilização desse teorema. Exemplo 17. (a) (b) (c) (d) (e) (f ) (g) Calcule: lim 5x2 − 6x + 2; x→2 3x2 + 2x ; x→3 5x − 10 lim lim e−x ; x→−1 lim senx; x→0 lim cos x; x→4π lim x→10 √ 5 x; lim ln x. x→25 Solução: Utilizando o teorema 4, obtemos que (a) lim 5x2 − 6x + 2 = 5.22 − 6.2 + 2 = 20 − 12 + 2 = 10 x→2 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 17 Cálculo I Aula n (b) Fazendo f (x) = 3x2 + 2x , 5x − 10 temos que 5.3 − 10 = 5 6= 0. Logo, 3 ∈ Df . o 04 Dessa forma, 3x2 + 2x 3.32 + 2.3 33 = = x→3 5x − 10 5.3 − 10 5 lim (c) lim e−x = e−(−1) = e1 = e x→−1 (d) lim senx = sen 0 = 0 x→0 (e) lim cos x = cos(4π) = 1 x→4π (f ) lim x→10 √ √ 5 5 x = 10 (g) lim ln x = ln 25 = ln 52 = 2 ln 5 x→25 3.1 Operações com Funções Contínuas O resultado dessa seção é de grande importância para efetuarmos cálculos com funções contínuas. Teorema 5. Sejam f, g : I → R (i) f +g é contínua em a e (ii) f −g é contínua em a e (iii) cf é contínua em a e (iv) fg é contínua em a e (v) Se além disso, funções contínuas em a∈I e considere c uma constante. Então, lim (f + g)(x) = f (a) + g(a); x→a lim (f − g)(x) = f (a) − g(a); x→a lim (cf )(x) = cf (a); x→a lim (f g)(x) = f (a)g(a); x→a g(a) 6= 0 então f g é contínua em a e f f (a) (x) = x→a g g(a) lim Os seguintes exemplos ilustram bem a utilização do teorema 5. Exemplo 18. Calcule: (a) x2 − 6x + 2 ; x→−2 x3 − 4x + 5 (b) x2 + ln x − 6sen x ; x→5 x2 − 16x (c) 2x − cosx + 1 ; x→0 2x − 1 (d) (e) lim lim lim lim ex (tgx + cossecx); x→2π lim (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10). x→3 Solução: Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 18 Cálculo I Aula n o 04 (a) Escrevendo h(x) = x2 − 6x + 2 f (x) = 3 x − 4x + 5 g(x) onde f (x) = x2 − 6x + 2 Podemos entender f (x) g(x) e e g(x) = x3 − 4x + 5. como soma de funções: f (x) = f1 (x) + f2 (x) + f3 (x) e g(x) = g1 (x) + g2 (x) + g3 (x) dadas por g1 (x) = x3 2 f1 (x) = x g2 (x) = −4x f2 (x) = −6x g3 (x) = 5 f3 (x) = 2 Note que as funções (i) temos que f (x) e f1 (x), f2 (x),f3 (x), g1 (x), g2 (x) e g3 (x) g(x) são contínuas. Sendo assim, são contínuas. Então, pelo teorema 5 lim f (x) = (−2)2 − 6.(−2) + 2 = 18 x→−2 e lim g(x) = (−2)3 − 4.(−2) + 5 = 5 x→−2 Como g(−2) 6= 0 então, segue do item (v) que lim h(x) = lim x→−2 x→−2 f (x) 18 = g(x) 5 Os próximos limites serão calculados diretamente, sem explicitar todos os passos do cálculo. (b) Considere h(x) = Noter que x2 + ln x + −6sen x f (x) = 2 x − 16x g(x) f (x) e g(x) são funções contínuas, pois são soma e diferença de funções contínuas. Agora, note que g(5) = 52 − 16.5 = 25 − 80 = −55 6= 0 Logo, pelo teorema 5 (v), temos que x2 + ln x + −6sen x 52 + ln 5 − 6sen 5 25 + ln 5 − 6sen 5 = = 2 2 x→5 x − 16x 5 − 16.5 −55 lim (c) Observe que h(x) = em que f (x) = 2x − cosx + 1 e 2x − cosx + 1 f (x) 2x − 1 g(x) g(x) = 2x − 1. Note que f (x) e g(x) são contínuas, pois são soma de funções contínuas. Agora, como g(0) = 2.0 − 1 = −1 6= 0 então, segue do teorema 5 (v) lim x→0 Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida que 2x − cosx + 1 2.0 − cos 0 + 1 0 = = =0 2x − 1 2.0 − 1 −1 19 Cálculo I Aula n (d) Consideremos 04 h(x) = ex (tgx + cossecx) = f (x).g(x) f (x) = ex e g(x) = (tgx + cossecx). item (iv), que onde 5, o Como f (x) e g(x) são contínuas, então segue do teorema lim ex (tgx + sec x) = e2π (tg2π + sec 2π) = e2π (0 + 1) = e2π x→2π (e) Note que podemos escrever p(x) = (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10) = f (x)g(x)h(x) em que f (x) = x2 − 6x, g(x) = 3x − 5 e h(x) = x − 10. f (x), g(x) e h(x) item (iv), que Note que pois são soma de funções contínuas. Logo, segue do teorema 5, são contínuas, lim (x2 − 6x)(3x − 5)(x − 10) = (32 − 6.3)(3.3 − 5)(3 − 10) = (−9).4.(−7) = 252 x→3 Resumo Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula, destacando as denições dadas. Aprofundando o conteúdo Leia mais sobre o conteúdo desta aula nas páginas 78 − 107 e 109 − 117 do livro texto. Sugestão de exercícios Resolva os exercícios das páginas Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 79, 80, 88 − 91, 98 − 100, 107 − 109 e 117 − 119 do livro texto. 20