Agroecologia e Segurança Alimentar: Um olhar para a produção agrícola do futuro Agroecology and Food Safety: A look at the agricultural production of the future FERREIRA, Cleia Simone1; FERREIRA, Luiz Leonardo² 1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Goiás, Campus de Jataí; Graduada em Direito pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS/ 2008); Servidora Pública da Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior de Mineiros/GO - FIMES (2015/2), [email protected] ²Técnico Agrícola - Universidade Federal da Paraíba (2004), Graduado em Engenharia Agronômica - Universidade Federal da Paraíba (2010), Mestre em Agronomia - Universidade Federal da Paraíba (2012) e doutor em Fitotecnia pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (2015), Servidor Público da Fundação Integrada Municipal de Ensino Superior de Mineiros/GO - FIMES (2015/2), [email protected] Resumo: A preocupação com a sustentabilidade e a segurança alimentar para as presentes e futuras gerações, causam importantes discussões não somente acadêmica, como sociais e políticas no sentido de viabilizar a produção agrícola responsável com a implantação da agroecologia. Assim, o objetivo geral deste artigo foi compreender com maior abrangência as potencialidades humanas e da natureza na produção agrícola a partir da agroecologia e segurança alimentar. Para o alcance do objetivo traçado foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, com método dedutivo e análise qualitativa, que permitiu concluir que: a agroecologia não é somente uma nova forma de produção de alimentos, mas é um processo que traz em sua essência a sustentabilidade; redução do uso de mecanização e produtos químicos na agricultura; além da preocupação com o acesso a toda a sociedade a esta produção gerando segurança alimentar, constituindo assim, a produção agrícola do futuro. Palavras-chave: Agricultura, Saúde, Produtividade. Abstract: Concern about the sustainability and food security for present and future generations, cause important discussions not only academic, and social and policies to enable the responsible agricultural production with the implementation of agroecology. Thus, the purpose of this paper was to understand more comprehensive human potential and nature in agricultural production from agroecology and food security. To reach the established objective was developed a literature search, with deductive method and qualitative analysis, which concluded that: agroecology is not only a new form of food production, but it is a process that brings in its essence sustainability; reducing the use of mechanization and chemicals in agriculture; beyond concern with access to the whole society to this production generating food security, thus, the agricultural production of the future. Keywords: Agriculture, Health , Productivity . Introdução O desflorestamento e o uso inadequado dos recursos naturais em nome do avanço da fronteira agrícola causaram diversos problemas, como o aumento do aquecimento global, a destruição de recursos naturais e do sistema agroflorestal, causando danos especialmente para os pequenos produtores que são os fornecedores de alimentos para a população, posto que os grandes proprietários rurais em sua essência são monocultores. Este artigo trouxe como base de análise os aspectos que envolveram os avanços da agricultura para a produção alimentar, inclusive os elementos perniciosos que estão envolvidos em um modelo de agricultura da monocultura, mecanizada e emergente da Revolução Verde1. No decorrer deste artigo também foram analisadas ponderações sobre a necessidade de produção de alimentos sem a devastação dos recursos ambientais, surgindo aspectos relevantes sobre a agroecologia, que segundo Schmitt e Tygel (2009) incorpora não apenas a produção de alimentos junto a proteção de recursos disponíveis na natureza, como também traz a dimensão social em que os indivíduos estão inseridos. Partindo do pressuposto que o ser humano vem a ser o principal agente transformador do meio ambiente se faz necessário compreender a dicotomia necessidade de produzir alimentos e necessidade de proteção dos recursos utilizados para esta produção, motivo que gerou o interesse na execução deste estudo e observação de abordagens sobre a agroecologia. Neste sentido, o objetivo geral deste estudo foi compreender com maior abrangência as potencialidades humanas e da natureza na produção agrícola a partir da agroecologia e segurança alimentar. Metodologia Este artigo teve sua realização com base em uma pesquisa bibliográfica, que a luz da compreensão de Marconi e Lakatos (2013) constitui uma forma de levantamento de dados secundários de especial relevância para a construção de estudos científicos, com método dedutivo e análise qualitativa. 1 A Revolução Verde iniciou no Brasil no final da década de 1960 e início da década de 1970 e constituiu o desenvolvimento no campo com o aumento da produtividade agrícola a partir do uso de inovações tecnológicas; pesquisas em sementes; mecanização do campo e o uso de fertilização do solo com a aplicação de produtos químicos. Na execução da pesquisa bibliográfica foi efetivada a partir de pesquisas em livros e utilizada a Rede Mundial de Computadores (INTERNET), especificamente em banco de dados que contemplavam estudos e artigos acadêmicos, com a inclusão somente de estudos executados entre os anos de 2009 a 2015. Os estudos analisados ficaram divididos em relação à quantidade em 10 (dez) divididos em: 04 (quatro) do ano de 2009; 01 (um) de 2010; 02 (dois) de 2012; 01 (um) de 2013; 01 (um) de 2014 e 01 (um) do ano de 2015. Observou-se que dentre os estudos sobre a agroecologia no Brasil o ano de 2009 concentrou maior quantidade e qualidade dos mesmos, o que gerou inclusive influência no material teórico para a execução deste artigo. Importante ressaltar que um dos critérios de exclusão de material para o desenvolvimento deste estudo foi à forma estrutural do documento, em que não foram utilizados somente livros e artigos científicos, excluídos manuais, monografias e demais formas de escrita científica. A análise qualitativa desenvolvida possibilitou a compreensão mais específica dos benefícios ambientais e sociais da aplicação do processo de produção agroecológico e os fatores que envolvem a relação crescimento populacional/ segurança alimentar. Resultados e discussões Fatores como a produção e distribuição de alimentos para todas as pessoas, continuam apresentando desafios, pois a produção de alimentos, nem sempre significa que todas as pessoas possam ter acesso a eles, bem como, o desenvolvimento do agronegócio não significa a maior quantidade alimentar, visto que esta é uma atividade que visa o lucro e atua voltado para a monocultura e não para a segurança alimentar (SANTOS et al., 2009). O conceito e as primeiras discussões sobre a segurança alimentar surgiram posterior a 1ª Grande Guerra Mundial, quando a compreensão de que o país que tivesse domínio sobre a produção e distribuição (fornecimento) de alimentos teria poder de dominação sobre os demais. Esta concepção gerou equivocadamente a compreensão de que a segurança alimentar se relaciona unicamente com a produção de alimentos e não com a forma de produzir e o acesso das pessoas aos alimentos. Neste sentido, desde a I Conferencia Mundial de Alimentação, a segurança alimentar ganhou um conceito mais amplo, que envolve a produção, distribuição e acesso para todas as pessoas, além da proteção dos recursos produtivos (SILVA, 2010). A segurança alimentar está envolvida também com a dignidade de cada pessoa e, o seu direito de acesso a uma alimentação de qualidade, não causando legiões de excluídos neste contexto, para uma evolução nos processos de produção de alimentos, sem equidade em seu consumo. Neste sentido, a segurança alimentar e a agroecologia surgem como elementos para a construção de uma nova sociedade, com direito de todas as pessoas ao consumo de alimentos. A viabilidade na construção de uma sociedade em que todas as pessoas tenham acesso aos alimentos não está unicamente relacionada ao aumento da produção ou produtividade dos produtores, mas, inclusive, ao modelo produtivo e ao processo de distribuição dos alimentos. Quando as nações conceberam que produzir alimentos era essencial para a o domínio de uma nação sobre a outra, houve o desenvolvimento da Revolução Verde, que trouxe a produção de alimentos em larga escala, a partir da evolução tecnológica e do uso de fertilizantes, ou produtos químicos que desequilibraram a natureza e desgastaram recursos, especialmente, o solo e a água (RIGON, 2009). A Revolução Verde constituiu um modelo de produção capitalista, que transformou o campo em um ambiente de tecnologia e alta produtividade, com o uso de inovações tecnológicas e científicas, que trazem altos índices de lucratividade da terra, mas provocam um processo de exclusão de grande parte da população mundial de ter acesso aos alimentos (SILVA, 2015). Concentra-se o entendimento de que a Revolução Verde trouxe a contradição mundial de produzir cada vez mais, a altos custos e priorizar somente a um pequeno grupo a capacidade de consumir estes alimentos, criando uma legião de excluídos que formam uma sociedade marcada pela evolução tecnológica no campo e o aumento da fome no mundo. Esta agricultura moderna é marcada por características que a torna dicotômica, pois, este processo de modernização aumentou a quantidade de alimentos e o custo de sua produção, reduziu a participação do trabalho humano com o aumento do desemprego e do êxodo rural e, além disso, trouxe um processo de uso inconsequentes de insumos químicos e destruição dos recursos naturais (BARBOZA; SANTOS, 2012). Na produção agrícola vinculada ao agronegócio é de monoculturas, em processos produtivos tecnológicos e extremamente lucrativos, que têm como princípio o ganho de lucros financeiros e econômicos a partir da exportação. Enquanto que a agroecologia busca a diversidade de produção, o aproveitamento racional dos recursos ambientais e o acesso de todas as pessoas a estes alimentos, ou seja, é uma questão de construir uma sociedade de forma equitativa com base na segurança alimentar (SILVA, 2015). Em se tratando de segurança e direito alimentar é relevante perceber que não se pode pensar unicamente na produtividade e lucratividade da terra, mas, na forma adequada de produção que resgate a proteção dos recursos naturais e a segurança de que o alimento produzido no campo possa chegar a mesa de todas as pessoas, o que fecunda um novo cenário de produção no campo, como é o agroecológico em detrimento a antiga forma apregoada pela Revolução Verde (SANTOS et al., 2009). A disseminação de uma nova forma de produção agrícola se faz a partir de diferentes métodos produtivos se comparados com a Revolução Verde, o que possibilita práticas produtivas mais saudáveis para o meio ambiente e a própria sociedade. Desse modo, agroecologia não apenas é diferente na ótica da tecnologia, mas no conceito social dos resultados da produção, ela traz em sua essência a produção de alimentos com redução de efeitos aos recursos naturais e, ao mesmo tempo, com articulação junto a movimentos sociais que tenham por objeto proteger o direito de todas as pessoas o acesso aos alimentos produzidos. Assim, o chamado campo agroecológico é socialmente mais abrangente (SCHMITT; TYGEL, 2009). Ao observar as abordagens aqui apresentadas tem-se que a discussão sobre a sustentabilidade alimentar não é somente acerca do modelo produtivo, mas também da estrutura agrária implantada, e do acesso aos alimentos produzidos. Desse modo, é preciso questionar se o modelo de agronegócio implantado no Brasil em que a maximização de monocultivos que se volta para a exportação e a maximização do lucro é o que poderá efetivamente tornar a segurança alimentar no mundo uma realidade (RIGON, 2009). Em tempo percebe-se que dentre os problemas que se avultam no Brasil está o resultado de uma relação desigual, que envolvem: “[...] às questões de acesso a terra e aos meios de produção frente a uma agricultura excludente responsável pela insegurança alimentar e nutricional de famílias no campo e nas cidades e a perda da soberania alimentar do povo brasileiro” (SILVA, 2010, p.4). Ao avaliar a perspectiva ambiental que envolve a produção de alimentos e o agravamento dos problemas ambientais, aponta-se a agroecologia como uma forma de criar um modelo de produção ecológico de alimentos, que se eleve pelo desenvolvimento sustentável (RIGON, 2009). Em se tratando de agroecologia, se esclarece que esta é mais do que um processo ou forma de manejo produtivo ecologicamente responsável dos recursos naturais, vem a ser um campo do conhecimento científico que, busca o uso racional dos recursos para a produção de alimentos e o acesso a todas as pessoas em uma forma de crescimento social e ecológico (PETERSEN et al., 2009). Em conformidade com a perspectiva agroecológica a produção agrícola deve estar embasada na evolução econômica e reprodução socioambiental, que se originam nos ajustes de produção de alimentos para perpetuar o homem em um ecossistema saudável. Dessa forma, consta-se que a produção de alimentos sem o uso de produtos químicos está longe de ser uma forma de retrocesso da modernização agrícola, mas sim, um modo de produção que se preocupe com a segurança alimentar da mesma forma que busca produzir com sustentabilidade (PETERSEN et al., 2009). o processo de modernização da agricultura fez com que o agricultor abandonasse o conhecimento auferido com os anos de trabalho, o que gerou a expropriação do saber-fazer das comunidades rurais e repassou essa capacidade para as corporações do agronegócio transnacional, gerando dependência tecnológica dos produtores a estas grandes empresas, reduzindo a sua capacidade autônoma de produção e promovendo a desconexão da agricultura quanto ao uso do ecossistema, o equilíbrio produtivo e convívio das comunidades rurais e o consumo de alimentos (PETERSEN et al., 2009). Para ocorrer o retorno do equilíbrio entre homem/terra/produção alimentar é importante o processo de transição agroecológica, que origine enfoque social para a agricultura e possibilite o desenvolvimento rural também para pequenos produtores, trazendo a importância na conservação dos recursos naturais, viabilizando uma produção alimentar sustentável e gerando as condições necessárias para as famílias e comunidades camponesas (ARAÚJO; MAIA, 2012). Contemplou-se que a sustentabilidade do sistema alimentar em todo o mundo está comprometida, pois o objeto proposto é com a produção agrícola não é a segurança alimentar, mas sim o lucro com esta atividade, não existindo comprometimento na proteção dos recursos naturais renováveis e não renováveis, permitindo a preservação e perpetuidade da produção de alimentos em longo prazo (FURTADO; BEZERRA, 2014). Conclusões O desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica para a construção deste artigo permitiu concluir que a implantação da agroecologia traz diversos benefícios, desde a produção sustentável, até a segurança alimentar e a possibilidade de acesso aos alimentos produzidos para toda a sociedade. Contemplou-se que esta agricultura de monocultivo, tecnificada, que faz uso de produtos químicos em larga escala e que usa de forma indiscriminada os recursos naturais pode até solucionar o problema da Balança Comercial do Brasil, porém, perpetua a desigualdade no campo entre pequenos e grandes produtores e na cidade entre pobres e ricos. Por isso, o modelo agroecológico deve não apenas ser palco de discussões e estudos acadêmicos, mas também, fazer parte de Políticas Públicas para o desenvolvimento de pequenas propriedades em nome de a segurança alimentar e da justiça social. A conclusão final deste estudo é que a produção agroecológica traz em sua essência não apenas a possibilidade de produzir de forma sustentável os alimentos, mas, de distribuir para toda a população, sem exclusão e sem perpetuar o lucro sobre a necessidade e segurança alimentar em todo o mundo. Referências bibliográficas ARAÚJO, Joaquim Pinheiro de; MAIA, Zildenice Matias Guedes. Agroecologia, soberania alimentar e comercialização solidária na feira agroecológica de MossoróRN: o enlace da sustentabilidade. Raízes. 32(2): 166-175, 2012. BARBOZA, Aldemir Dantas; SANTOS, Maria Rosalva. A agroecologia como estratégia de desenvolvimento da agricultura familiar. XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária. “Territórios em Disputa: os desafios da Geografia Agrária nas contradições do desenvolvimento brasileiro”. Uberlândia-MG, 15 a 19 de outubro de 2012. FURTADO, Adriella Camila Gabriela Fedyna da Silveira; BEZERRA, Islandia. 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