AVALIAÇÃO: UM PRESSUPOSTO PARA O ENSINO Kellys Regina Rodio1 Essa pesquisa teve como objetivo problematizar a questão da avaliação, pensando a formação dos profissionais de educação. Analisou-se a entrada de teorias norte-americanas no Brasil, na década de 60, e em que nível – as teorias – refletiram nas posturas e nos instrumentos de avaliação. Pontuando, na seqüência, os significados de um sistema que avalie para o ensino e não para dar notas. Percebeu-se que a busca por métodos de avaliação diversificados propicia um ensino interativo, articulado a um constante “vir a ser”. Educando e educador se tornam mais críticos, criativos e participantes. No lugar de provas há uma observação freqüente do aluno, preocupada em estabelecer melhores condições para o ensino. avaliação, ensino, instrumentos, formação profissional. A temática, avaliação, por ser polêmica instiga a produção dessa comunicação e se fortalece no eixo: Formação dos Profissionais de Educação. Avaliação e formação profissional estão umbilicalmente ligadas. Nos anos de 1960, no Brasil, teorias norteamericanas sobre como avaliar acentuaram-se e estão presentes até a atualidade. Dois modelos, podem ser destacados: a avaliação por objetivos e a avaliação formativa. A primeira, baseada nas idéias de Ralph Tyler, propunha a observação de mudanças comportamentais nos alunos. O professor estabelecia objetivos e verificava se eram atingidos, através de testes. A avaliação por objetivos é um método relevante quando a intenção é testar conhecimentos, por outro lado se o importante é a aprendizagem do conjunto a avaliação formativa (criada por Michael Scriven e aplicada em 1967, no Brasil), abre novos horizontes. Na avaliação formativa os parâmetros visam determinar os 1 Acadêmica do 4º ano de História. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. End. Rua Marechal Deodoro, 1467 apto. 10. Marechal Cândido Rondon – PR. Fone: 254-3216 R. 225. E-mail: [email protected] diferentes ritmos de aprendizado, em cada aluno. Avaliar deixa de ter a função de determinar a aprovação ou não do educando. O professor em vez de despejar conteúdos e cobrá-los em testes, pauta seu trabalho no conhecimento do dia-a-dia, enriquecendo as médias com a produção de pareceres. Os pareceres, analisados individualmente, são essenciais para o conhecimento e a compreensão das dificuldades dos alunos. Ao invés de provas está a observação diária, norteada por instrumentos diversificados. A avaliação formativa ou mediadora dá ênfase na aprendizagem e, em geral, é utilizada para investigar como estão os alunos e direcionar ações para melhorar o ensino. Os alunos, conseqüentemente, percebem na avaliação um objeto de aprendizagem e vêem o trabalho em sala ganhar sentido. Os objetivos dessa discussão estão em problematizar o quanto os números são genéricos e esclarecer, que em termos de construção de conhecimento, os pareceres refletem com mais precisão muitas situações de aprendizagem. E, ainda, perceber que aplicar avaliações só tem sentido quando se busca caminhos para melhorar o ensino. Com relação aos métodos de avaliação, eles variam de acordo com as estratégias de ensino e podem ser aplicados por meio de: textos, auto-avaliações, seminários, observação constante, pesquisas, desenhos, e outros mais. Uma questão significativa está em sempre informar o tema de cada aula e porque é importante estudá-lo. Isso funciona como um acordo, estabelecido no início da aula, entre professor e aluno. A criança sabe o que verá e até onde vai chegar. Na avaliação formativa, deve ficar explícito, que nenhum instrumento é único ou modelo. A variedade é que vai direcionar as ações do professor fornecendo, assim, a obtenção de mais e melhores informações sobre os ritmos de aprendizagem. Os meios utilizados devem ser coerentes com a prática diária e com as características singulares dos alunos. Cada assunto exige do professor uma forma diferente de ensinar e, conseqüentemente, de avaliar, e isso deve estar de acordo com as características singulares dos alunos. Perceba que avaliar só por meio da escrita, significa anular o aluno com mais facilidade de expressão. Os resultados refletirão em profissionais comprometidos e envolvidos com o ensino e, em alunos mais participativos. O professor ao dividir com seus alunos os objetivos da aula os levará a auto-avaliar-se, percebendo as limitações – educador e educando – como algo a superar. Automaticamente, o professor identifica necessidades de aprendizagem, o aluno se sente incluído e participa mais, amenizando sentimentos de exclusão e frustração. Pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996, a avaliação precisa ser contínua e cumulativa, pautada em critérios, sobretudo, qualitativos. Podemos considerar mais significativos os resultados obtidos durante a trajetória escolar, em relação aos estabelecidos por provas finais. No entanto, não serão as regras a direção das mudanças, mas sim a tomada de consciência. A avaliação é uma prática que não se restringe ao meio escolar porque acontece cotidianamente, na interação social. Em alguns momentos é externada e em outros não. O ato de avaliar do e no cotidiano geralmente é considerado senso comum, por ocorrer muitas vezes sem critérios previamente estabelecidos. Em raros casos, ao tomarmos decisões corriqueiras, refletimos sobre os parâmetros que nos levam a julgar as situações que nos envolvem. Se uma avaliação do ponto de vista cotidiano, aparentemente fácil, é complexa, mais complexa ainda é a avaliação numa perspectiva sistemática e científica. Os critérios de uma avaliação são dinâmicos e no caso do ensino e da aprendizagem nem sempre os métodos estabelecidos pelo professor correspondem às metas dos alunos. Nesses casos as notas acabam limitandose muito mais ao prêmio e ao castigo e em nada servem para orientar, direcionar e aprimorar o ensino. Entende-se a avaliação como uma prática constante e complexa, fazendo-se necessário o aprofundamento de reflexões acerca dos conceitos, instrumentos e formas que a envolvam. Quando avaliamos necessitamos ter claro nossos objetivos, já que a avaliação ocorre em função das metas estabelecidas. Desta forma, o professor assume a tarefa de mediador na construção do conhecimento, propiciando melhores condições para ação e reflexão do educando. Consideremos a avaliação como um procedimento interativo, visando fazer do educando e do educador seres melhores, críticos, criativos e participativos. Esta deve estar articulada a um constante “vir a ser”, a um despertar para ações transformadoras. O segredo está em ouvir sempre o aluno, dialogar em todos os momentos, procurando entender seus argumentos, através de perguntas e respostas. O educador necessita, ainda, fazer as escolhas adequadas do instrumental avaliativo, articulando-o ao seu plano de ensino, buscando o desafio e a produção de novos saberes que capacitem professores e alunos para trabalharem com os diversos conflitos presentes em nossa sociedade. HOFFMANN, Jussara. Avaliação Mediadora: uma prática em construção da pré-escola a universidade. Porto Alegre: Mediação, 1997. Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação. PELLEGRINI, Denise. “Um reflexo fiel da escola”. In: NOVA ESCOLA. São Paulo. Ano XVI, nº 147, novembro de 2001. pp. 23-25.