1. O que são xenobióticos Compostos químicos estranhos a um organismo ou sistema biológico. Podem ser encontrados num organismo mas não são normalmente produzidos ou esperados nesse organismo. O corpo humano é exposto diariamente a inúmeros xenobióticos: Componentes alimentares Toxinas ambientais Fármacos / drogas O corpo humano está exposto ao longo da vida a uma grande quantidade de xenobióticos provenientes de alimentos, toxinas ambientais, ou medicamentos, entre outros, tendo desenvolvido complexos mecanismos enzimáticos para proceder à destoxificação dessas substâncias. Estes mecanismos apresentam grande variabilidade de indivíduo para indivíduo e são afectados por variadíssimos factores, entre eles o estilo de vida e as influências genéticas. Variabilidade individual Afectados por diversos factores: ambiente, estilo de vida, constituição genética Evidências da literatura mostram correlação entre a destoxificação e algumas doenças: cancro, doença de Parkinson, fadiga crónica, alterações do sistema imunitário Os conhecimentos sobre os sistemas de destoxificação e os mecanismos da sua regulação sugerem que a eficiência na destoxificação de xenobióticos pode influenciar o aparecimento de doenças crónicas. A disfunção hepática prejudica a destoxificação 2. Metabolismo dos xenobióticos O órgão onde ocorre o metabolismo dos fármacos é o fígado, por apresentar várias enzimas ou complexos enzimáticos especializados. Dentre elas, destacam-se as mono-oxigenases do complexo enzimático CYP, as redutases, as esterases e as transferases. Outros locais do metabolismo dos fármacos são as células epiteliais do tracto gastrointestinal, pulmões, rins e pele. O metabolismo de xenobióticos envolve a absorção, a distribuição, a biotransformação e a excreção. A absorção ocorre após a inalação ou a ingestão da substância tóxica. A menos que um fármaco actue topicamente ou seja, no seu próprio local de aplicação, ele deve inicialmente penetrar no sangue para depois ser distribuído para o seu local de acção. A mera presença do fármaco no sangue, contudo, não provoca uma resposta farmacológica; para que seja eficaz, o fármaco deve deixar o espaço vascular e penetrar nos espaços intracelulares e/ou extracelulares (distribuição). Após ser absorvido na corrente sanguínea o fármaco distribui-se para os líquidos extra e intracelular. Os xenobióticos lipossolúveis interagem muito prontamente com os lípidos componentes das biomembranas e não podem ser excretadas, a não ser que passem por um processo de aumento da sua solubilidade em água - A biotransformação, que é a transformação enzimática dos fármacos em metabólitos com características mais hidrofílicas, tendo como objectivo facilitar a excreção destes pelo organismo. Está dividida em 2 fases , fase I e fase II, podendo considerar-se fase uma (exportação). ainda terceira Os processos das fases I e II são independentes, ou seja, o fármaco pode sofrer apenas reacções de fase I ou de fase II, ou as duas, sequencialmente. A biotransformação de xenobióticos na fase I ocorre através de reações de redução, hidrólise e/ou oxidação ocasionando sempre uma modificação estrutural do fármaco, o que na maioria das vezes pode levar à sua inactivação. No caso de administração de pró-fármacos, a fase I vai ser fundamental para gerar a substância farmacologicamente activa. Essas reações são responsáveis por expor ou introduzir grupos funcionais relativamente reactivos no xenobiótico, principalmente o grupo hidroxilo, que servirá, então, como ponto de ataque para o sistema conjugador, que fixa a ele um substituto maior, como um grupo glucuronil, sulfato ou acetil. A principal reação da fase I é a oxidação, catalisada principalmente pelos citocromos P-450, e também realizada pelas monoamino oxidases (MAO) e pelas flavinas monooxigenase (FMO). As reações de hidrólise são catalisadas principalmente pelas epóxido hidrolases, peptidases e A-esterases. As reduções são catalisadas por várias enzimas, dentre elas as carbonil redutases e as glutatião redutases, como também por processos não enzimáticos através de agentes redutores. Os produtos da fase I, mais hidrossolúveis, podem ser excretados ou podem, ainda, sofrer biotransformação na fase II cujas etapas frequentemente envolvem reações de conjugação na tentativa de conjugar o fármaco com substâncias endógenas, /*para facilitar a sua excreção. Estas reações de conjugação são catalisadas pelas glutation S-transferases (GST), uridina difosfoglicuronosil transferases (UGT) e sulfotransferases (ST). Em múltiplas reações metabólicas de transferência de electrões em células aeróbicas são formadas espécies reativas de oxigênio que causam peroxidação de lipídios, alterações em proteínas e em ácidos nucléicos, produzindo danos às células. A proteção contra estas ROS é feita pelas enzimas superóxido dismutase, catalase, GST, glutation peroxidase selênio-dependente, aldo-ceto redutase e enzimas de reparo do DNA. 3. Qual a função do Citocromo P450? Citocromo P450 designa uma superfamília de enzimas, as mono-oxigensases, que cataliza o metabolismo oxidativo de uma grande variedade de substratos (reacções nas quais um átomo de oxigénio da molécula de O2 é incorporado na molécula do substrato orgânico, o outro átomo é reduzido a H2O). O CYP é uma proteína (tem grupo prostético heme ou grupo ferro-porfirina), e o seu cofactor é o NADPH. É um sistema que está subdividido em três famílias (CYP1, CYP2 e CYP3) e sete isoenzimas, sendo as mais importantes as CYP2C9, 2CA9 e 3A4. Muitas formas de citocromo P450 catalizam a biotransformação de uma vasta gama de agentes químicos ou xenobióticos, de entre os quais, fármacos de uso terapêutico, nutrientes, produtos naturais e da indústria química, poluentes ambientais, corantes, aditivos, conservantes, etc. No seu conjunto, os citocromos P450 constituem o grupo mais versátil e abundante das chamadas enzimas metabolizadoras de fármacos (drug metabolizing enzymes) e estão presentes a níveis particularmente elevados no fígado. Os citocromos P450 são produto de um vastíssimo nº de genes existente na natureza, cuja expressão é condicionada pelo estado de desenvolvimento da célula ou do organismo, pela identidade ou fenótipo de tecido em causa, bem como pela acção de agentes reguladores, tanto endógenos como exógenos. Com efeito, a expressão destes genes está sujeita a complexos mecanismos de regulação. Os citocromos P450 actuam ao nível da chamada fase I ou fase de activação do metabolismo de xenobióticos. Os progressos da tecnologia do DNA recombinante aplicada ao estudo dos citocromos P450, a par da purificação e análise da estrutura destas proteínas, têm tornado possíveis os mais recentes avanços na identificação da diversidade de formas que compõem esta muito vasta família. Durante os últimos anos, tem-se verificado igualmente uma intensificação da investigação dos mecanismos que regualm a actividade dos genes CYP. Pretende-se explicar a base molecular da especificidade de expressão diferencial de cada gene citocromo P450, que se sabe variar em função da natureza do tecido, do estádio de desenvolvimento, dos estados hormonal e nutricional e ainda em muitos casos, da acção de agentes químicos, indutores e/ou repressores. Estes genes CYP são caracterizados por um acentuado polimorfismo com consequentes variações dos fenótipos de expressão individuais. Um dos aspectos intrigantes do CYP é que algumas das suas isoformas são indutíveis e outras, não. A indução (aumento de produção de enzimas, ocasionado pela administração de fármacos), no caso do CYP, é um processo regulatório lento que pode reduzir a concentração de alguns fármacos no plasma e aumenta a actividade de desintoxicação. O uso de etanol e o tabagismo também podem causar a indução do CYP2E1 e CYP1A, respectivamente, toxicológicas importantes o que pode ter implicações terapêuticas e INIBIÇÃO DO METABOLISMO DE XENOBIÓTICOS Inibição por formação de complexos inactivos com o citocromo P450 Inibição por co-substratos competitivos/não competitivos Inibição através da destruição do citocromo P450 hepático Diminuição da síntese Falta de cofactores 4. O que são interacções medicamentosas? Quais os mecanismos? Interação medicamentosa pode ser definida como a influência recíproca de um medicamento com outra substância. Ou seja, quando um medicamento é administrado isoladamente, produz um determinado efeito. Porém, quando este é associado a outro medicamento, a alimentos ou a outras substâncias (como o tabaco , drogas de abuso, ou mesmo substâncias que o paciente possa entrar em contato, como inseticidas, produtos de limpeza, cosméticos etc.) ocorre um efeito diferente do esperado, caracterizando uma interação. Útil (benéfica) Interacção medicamentosa Respostas desfavoráveis não previstas no regime terapêutico (adversas) Pequeno significado clínico Potencialização do efeito terapêutico Nenhuma modificação no efeito desejado do medicamento Respostas decorrentes da interacção Redução da eficácia Aparecimento de reacções adversas Distintos graus de gravidade Na prática a questão das interações medicamentosas é complexa, pois além das inúmeras possibilidades teóricas de interferência entre os medicamentos, factores relacionados com o indivíduo (idade, constituição genética, estado fisio-patológico, tipo de alimentação) e a administração do medicamento (dose, via, intervalo e seqüência da administração) influenciam na resposta do tratamento. Interacções físicoquímicas •As interações físico-químicas ocorrem fora do paciente pois, entre drogas diferentes podem ocorrer numerosas incompatibilidades, que levam a reações quando estas são misturadas em infusão intravenosa, frascos ou seringas, podendo ocasionar a inativação dos fármacos em questão Interacções terapêuticas •Interacção Farmacocinética •Interacção Farmacodinâmica Interação Farmacocinética As interações deste tipo interferem no perfil farmacocinético do medicamento, podendo afetar o padrão de absorção, distribuição, metabolização ou excreção. São interações difíceis de prever, porque ocorrem com medicamentos de princípios activos não relacionados. Modificam a magnitude e duração do efeito, mas a resposta final do medicamento é preservada Interação Farmacodinâmica A interação farmacodinâmica causa modificação do efeito bioquímico ou fisiológico do medicamento. Geralmente ocorre no local de acção dos medicamentos bioquímicos (receptores específicos, farmacológicos) sendo capaz de ou causar (sinergismo) ou opostos (antagonismo). GRUPOS DE RISCO Idosos Portadores de doenças crónicas através de mecanismos efeitos semelhantes Usuários de dispositivos para infusão de medicamentos intravenosos ou de sonda enteral Insuficientes renais, hepáticos, cardíacos ou respiratórios Doentes com hipotireoidismo Diabetes descompensada 5.Como é metabolizado o álcool? Pequena molécula com grande capacidade de interacção; Somente 2- 10% absorvido é eliminado inalterado (rins e pulmões) 90 – 98% oxidado no organismo, principalmente no fígado. 1. ÁLCOOL DESIDROGENASE (ADH) 2. SISTEMA MICROSSOMAL DE OXIDAÇÃO DO ETANOL (SMOE) 3. Catalase Utilizada em menor quantidade, apenas quando há necessidade de reduzir H2O2. Acontece nos peroxissomos e não produz NADH Interacções associadas ao alcool Fármacos que inibem a aldeído desidrogenase (ALDH) Os fármacos que inibem a oxidação do acetaldeído, por inibição da ALDH, podem provocar uma reacção sistémica se administrados simultaneamente com o álcool – reacção “tipo dissulfiram”. O dissulfiram, usado para encorajar a abstinência em doentes alcoólicos que decidiram parar de beber, ao ser administrado concomitantemente com o álcool conduz a um aumento da concentração de acetaldeído, cujos efeitos adversos são caracterizados por rubor, náuseas, vómitos, palpitações, hipotensão, taquicardia, e cefaleias. Mais raramente, poderá ocorrer uma reacção severa caracterizada por colapso cardiovascular, convulsões ou morte. Interacções farmacocinéticas ao nível do sistema hepático microssomal O álcool pode interferir com os fármacos metabolizados pelas enzimas do sistema hepático microssomal, interacção essa que dependerá da forma como o álcool é consumido. No caso do consumo agudo há uma competição entre o álcool e o fármaco ao nível microssomal, com diminuição do metabolismo do fármaco resultando numa excreção diminuída dos produtos de metabolismo e num aumento do risco de sobredosagem. O consumo crónico de álcool traduzse num aumento da actividade microssomal mesmo na ausência de álcool, com aumento do metabolismo do fármaco e diminuição das suas concentrações plasmáticas.