Corpo, cultura e Linguagem Corporal Fonte:Profº Wanderson

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Corpo, cultura e Linguagem Corporal
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Fonte:Profº Wanderson Robson
O que é Corpo ?
Tradicionalmente, estudamos que o corpo é um conjunto de órgãos e sistemas, é a
estrutura física dos animais que, no caso dos homens, se divide em cabeça, tronco e membros.
Mas aí vem a pergunta: e o resto ?
O resto de que falamos é o raciocínio, os sentimentos, as memórias, a espiritualidade, a
história do indivíduo e tantas outras coisas que fazem parte desse corpo. Isso acontece por causa
de uma visão de que, quando falamos em corpo, estamos nos ferindo apenas à parte biológica do
homem e da mulher. Nesse caso, estamos nos referindo ao seu organismo.
A abordagem do corpo na filosofia ocidental é, predominantemente, marcada pelo
dualismo, entendido, de maneira geral, como a separação entre corpo e alma, matéria e espírito.
Desta forma a concepção dualista de homem privilegia o espírito, o intelecto, a razão, colocando o
biológico para um segundo plano, muitas vezes submetido a estes.
Na filosofia antiga, o corpo é entendido por Platão como um “cárcere” da alma, que a
impede de chegar ao “real” conhecimento das coisas. O corpo se deixa levar por paixões, amores,
temores e imaginações de toda sorte que impedem o alcance do conhecimento real.
Aqui se abriga a famosa frase do poeta romano Juvenal: Mente sã em corpo são. Esta
frase mostra bem a idéia de corpo como lugar da mente, como suporte, como acessório. Mostra
um corpo, enquanto aparato biológico, subjugado à mente e que só tem importância enquanto
suporte saudável para o desenvolvimento da mente.
Percebemos aqui o entendimento de corpo meramente no seu aspecto biológico. O corpo
é um conjunto de órgãos, organizado por leis da fisiologia, que nada mais é do que o suporte da
parte mais nobre do ser humano, a alma, ou a mente.
Esta é uma visão dualista de homem, que divide o ser em duas partes distintas, que
interagem, mas que também possuem uma relação quase hierárquica entre elas. A partir dessa
idéia, pode-se perceber uma valorização daquilo que é próprio da mente, em detrimento daquilo
que é próprio do corpo (organismo).
Na idade média vamos ter um entendimento de corpo, como sendo a parte do ser humano
que precisa ser subjugada pelo espírito. O corpo é o lugar do prazer e do pecado, enquanto o
espírito é a parte do ser humano que o liga a Deus. Neste entendimento o objetivo do homem é
cultivar o que é próprio do espírito, em detrimento do que é próprio do corpo. O que é próprio do
espírito eleva até Deus, enquanto o que é próprio do corpo leva ao pecado.
Ainda no século XIX, vamos encontrar no pensamento de Nietzche uma crítica à tradição
dualista e uma valorização do corpo na compreensão do homem. No seu pensamento, a
existência do homem só tem sentido naquilo que lhe seria mais humano, seu próprio corpo. A
partir do corpo, o homem pode agir, e agindo, pode conseguir sua realização como homem.
O corpo faz-se presente em todos os atos humanos, é a vida em plenitude, em toda a sua
força. Desprezar o corpo é negar a vida e o próprio ser, pois eu não tenho um corpo, eu sou um
corpo.
Ao valorizar o corpo, não estamos desprezando a consciência, esta pertence integralmente
ao corpo.
Para o filósofo Merleau-Ponty, é a partir do corpo que o sujeito humano se situa no mundo
e que conhece. O corpo não é objeto, nem idéia, é a expressão singular da existência do ser
humano que se move, que vive.
O corpo é situado historicamente, é fruto da cultura e ao mesmo tempo criador de cultura.
O corpo marca a própria existência do ser humano que é inteligível, sensível, sexual, biológico,
artístico, etc. Entendemos o corpo como fruto do entrelaçamento do que é natural e do que é
cultural.
Desta forma, o corpo não é entendido mais
apenas no seu aspecto biológico, fisiológico, mas
também no seu aspecto cultural. O corpo humano é fruto
do que é biológico e da cultura em que o indivíduo está
situado.
Este é um entendimento de corpo em uma percepção totalmente contrária daquelas
dualistas, que o entendiam apenas no seu aspecto biológico, para ser entendido como a própria
existência e plenitude do ser humano.
Corpo e Linguagem
Linguagem é um distintivo do ser humano e, enquanto tal, é um dado que acompanha a
história da humanidade. Desde a Antiguidade mais remota, ela sempre tem sido um recurso
indispensável para a organização coletiva do trabalho e para o estabelecimento das relações
sociais.
O corpo é uma “casa” cheia de linguagens – vozes, sorrisos, sensualidade, sexualidade,
raça, etnia – no sentido que são marcas vivas, significantes, mutáveis, temporais, históricas.
Os corpos falam uma multiplicidade de vozes, movimentos e corpos que se apresentam de
forma diferenciada nos posicionamentos de cada indivíduo, de cada jovem, de cada adulto.
A linguagem corporal é a maneira pela qual a
comunicação é marcada pela intencionalidade do corpo. O corpo
é o elemento central da comunicação. Emitimos mensagens
corporais, somos mímicos, expressamo-nos com gestos, choro,
riso, dor, grito, ruído, respiração, até pelo próprio silêncio. Todos
esses e outros elementos são conteúdos de expressão da nossa
linguagem.
O conhecimento sensível, estético, expresso na linguagem do movimento é tido como
secundário, marginalizado do contexto cultural, no máximo complemento de atividade racional e
produtiva.
Pela expressão corporal, diferenciamo-nos das outras pessoas, marcamos a nossa
presença, nossa identidade. O lógico iguala-nos, o sensível diferencia-nos. Talvez por isso, o
movimento e o corpo sejam tão castrados, já que vivemos numa sociedade massificada. As
expressões não-verbais não são consideradas na aprendizagem, mas deveriam. A linguagem
corporal diz muito a respeito de nós mesmos, no olhar, no tom de voz, no tônus muscular.
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REFERÊNCIAS
GONZÁLEZ, Fernando Jaime et. Al. Dicionário crítico da Educação Física. Ijuí, Editora Unijuí, 2005.
NÓBREGA, Teresinha P. da. Corporeidade e Educação Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito. 2ª Ed.
Natal, EDUFRN, 2005.
BRUHNS, Heloisa T. O corpo parceiro e o corpo adversário. Campinas, Papirus, 1993.
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