Profº. Cláudio Brito Tradicionalmente, estudamos que o corpo é um conjunto de órgãos e sistemas, é a estrutura física dos animais que, no caso dos homens, se divide em cabeça, tronco e membros. O resto de que falamos é o raciocínio, os sentimentos, as memórias, a espiritualidade, a história do indivíduo e tantas outras coisas que fazem parte desse corpo. Isso acontece por causa de uma visão de que, quando falamos em corpo, estamos nos ferindo apenas à parte biológica do homem e da mulher. Nesse caso, estamos nos referindo ao seu organismo. A abordagem do corpo na filosofia ocidental é, predominantemente, marcada pelo dualismo, entendido, de maneira geral, como a separação entre corpo e alma, matéria e espírito. Desta forma a concepção dualista de homem privilegia o espírito, o intelecto, a razão, colocando o biológico para um segundo plano, muitas vezes submetido a estes. O corpo é entendido por Platão como um “cárcere” da alma, que a impede de chegar ao “real” conhecimento das coisas. O corpo se deixa levar por paixões, amores, temores e imaginações de toda sorte que impedem o alcance do conhecimento real. Esta frase mostra bem a idéia de corpo como lugar da mente, como suporte, como acessório. Mostra um corpo, enquanto aparato biológico, subjugado à mente e que só tem importância enquanto suporte saudável para o desenvolvimento da mente. Percebemos aqui o entendimento de corpo meramente no seu aspecto biológico. O corpo é um conjunto de órgãos, organizado por leis da fisiologia, que nada mais é do que o suporte da parte mais nobre do ser humano, a alma, ou a mente. Esta é uma visão dualista de homem, que divide o ser em duas partes distintas, que interagem, mas que também possuem uma relação quase hierárquica entre elas. A partir dessa idéia, pode-se perceber uma valorização daquilo que é próprio da mente, em detrimento daquilo que é próprio do corpo (organismo). Na idade média vamos ter um entendimento de corpo, como sendo a parte do ser humano que precisa ser subjugada pelo espírito. O corpo é o lugar do prazer e do pecado, enquanto o espírito é a parte do ser humano que o liga a Deus. Neste entendimento o objetivo do homem é cultivar o que é próprio do espírito, em detrimento do que é próprio do corpo. O que é próprio do espírito eleva até Deus, enquanto o que é próprio do corpo leva ao Ainda no século XIX, vamos encontrar no pensamento de Nietzche uma crítica à tradição dualista e uma valorização do corpo na compreensão do homem. No seu pensamento, a existência do homem só tem sentido naquilo que lhe seria mais humano, seu próprio corpo. A partir do corpo, o homem pode agir, e agindo, pode conseguir sua realização como homem. O corpo faz-se presente em todos os atos humanos, é a vida em plenitude, em toda a sua força. Desprezar o corpo é negar a vida e o próprio ser, pois eu não tenho um corpo, eu sou um corpo. Ao valorizar o corpo, não estamos desprezando a consciência, esta pertence integralmente ao corpo. Para o filósofo MerleauPonty, é a partir do corpo que o sujeito humano se situa no mundo e que conhece. O corpo não é objeto, nem idéia, é a expressão singular da existência do ser humano que se move, que vive. O corpo é situado historicamente, é fruto da cultura e ao mesmo tempo criador de cultura. O corpo marca a própria existência do ser humano que é inteligível, sensível, sexual, biológico, artístico, etc. Entendemos o corpo como fruto do entrelaçamento do que é natural e do que é cultural. Desta forma, o corpo não é entendido mais apenas no seu aspecto biológico, fisiológico, mas também no seu aspecto cultural. O corpo humano é fruto do que é biológico e da cultura em que o indivíduo está situado. Este é um entendimento de corpo em uma percepção totalmente contrária daquelas dualistas, que o entendiam apenas no seu aspecto biológico, para ser entendido como a própria existência e plenitude do ser humano. Linguagem é um distintivo do ser humano e, enquanto tal, é um dado que acompanha a história da humanidade. Desde a Antiguidade mais remota, ela sempre tem sido um recurso indispensável para a organização coletiva do trabalho e para o estabelecimento das relações sociais. O corpo é uma “casa” cheia de linguagens – vozes, sorrisos, sensualidade, sexualidade, raça, etnia – no sentido que são marcas vivas, significantes, mutáveis, temporais, históricas. Os corpos falam uma multiplicidade de vozes, movimentos e corpos que se apresentam de forma diferenciada nos posicionamentos de cada indivíduo, de cada jovem, de cada adulto. A linguagem corporal é a maneira pela qual a comunicação é marcada pela intencionalidade do corpo. O corpo é o elemento central da comunicação. Emitimos mensagens corporais, somos mímicos, expressamo-nos com gestos, choro, riso, dor, grito, ruído, respiração, até pelo próprio silêncio. Todos esses e outros elementos são conteúdos de expressão da nossa linguagem. O conhecimento sensível, estético, expresso na linguagem do movimento é tido como secundário, marginalizado do contexto cultural, no máximo complemento de atividade racional e produtiva. Pela expressão corporal, diferenciamonos das outras pessoas, marcamos a nossa presença, nossa identidade. O lógico iguala-nos, o sensível diferencianos. Talvez por isso, o movimento e o corpo sejam tão castrados, já que vivemos numa sociedade massificada. As expressões não-verbais não são consideradas na aprendizagem, mas deveriam. A linguagem corporal diz muito a respeito de nós mesmos, no olhar, no tom de voz, no tônus muscular.