A pesquisa escolar como método de aprendizagem

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Programa de capacitação descentralizada – Teia do Saber – 2006.
Disciplina: Pesquisa e Normalização Bibliográfica
PESQUISA ESCOLAR
Prof. Ms. Daniel Abraão Pando
Introdução
As técnicas de ensino voltadas para a repetição de conceitos supostamente verdadeiros
não são suficientes para preparar os alunos para a chamada sociedade da informação, na qual as
exigências são baseadas na capacidade de utilização adequada dos amplos e complexos recursos
informacionais disponíveis. Assim sendo, quanto mais cedo a criança for exposta a esses
recursos, de maneira sistematizada, mais condições terá de utilizá-los adequadamente e de
maneira crítica.
Uma tarefa comum na escola fundamental, que implica necessariamente a utilização de
recursos informacionais, é o trabalho de pesquisa escolar. Concebida originalmente como
instrumento para a aprendizagem por descoberta, processo pelo qual o aluno vai construindo seu
próprio caminho para o conhecimento, sob orientação de agentes educacionais, a pesquisa
escolar deveria se caracterizar como uma atividade sistematizada, um processo formal que visa
encontrar respostas para questões propostas pelo professor ou pelos próprios alunos. No entanto,
a mesma resvalou, ao longo dos anos, para a cópia literal e indiscriminada de textos, a tal ponto
que, hoje, suscita reclamações de todos nela envolvidos.
A pesquisa escolar como método de aprendizagem
“Conhecer é descobrir e construir e não copiar.” (FREIRE, 1997)
Educadores de todos os tempos têm se preocupado em entender como a criança aprende
para, a partir daí, criar ou possibilitar a criação de métodos de ensino apropriados. No início do
século XX, o filósofo – educador John Dewey descreveu o processo construtivo no qual o
indivíduo aprende através da ação. Opondo-se à idéia de uma cultura estática, pronta e acabada,
a ser vinculada na mente dos alunos, Dewey via a escola como lugar de questionamento e
reconstrução, inserida numa sociedade em permanente mudança.
Suas idéias influenciaram enormente no Brasil a Didática da Escola Nova que, na década
de 30, considerava o ensino como um processo de pesquisa, de atividade em torno de um
problema. Segundo a compreensão escolanovista, os assuntos que merecem ser tratados pela
escola são problemas significativos que devem ser investigados pelo próprio aluno, a partir de
suas dúvidas e indagações. A psicologia genética veio aprofundar a compreensão sobre o
processo de desenvolvimento na construção do conhecimento, desvelando os mecanismo pelos
quais as crianças constroem representações internas de conhecimentos construídos socialmente.
É, pois, sob a influência desses modos de pensar que a pesquisa escolar é introduzida na
prática educacional brasileira a partir dos anos 60, ao lado de outras técnicas, métodos e
procedimentos considerados ativos, em oposição ao tipo de ensino centrado no professor e na
transmissão, sem questionamento do seu conhecimento, dito “legítimo” .
No momento atual, os Parâmetros Curriculares Nacionais enfatizam a participação
construtiva do aluno na aprendizagem, dentro de um processo de reorganização do
conhecimento, enfatizando a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo à dúvida e o
desenvolvimento do raciocínio. Desta perspectiva, aprender a aprender deverá ser uma
habilidade fundamental dos indivíduos que crescem numa sociedade em acelerada
transformação, não só no que se refere ao arsenal tecnológico disponível como também nas
relações sociais afetivas.
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Segundo Valente (1999) vive-se hoje em um mundo dominado pela informação e por
processos que ocorrem de uma maneira muito rápida e imperceptível. Por isso, é importante que,
ao invés do aluno memorizar informação, aprenda a buscar e a usar essa informação da forma
que melhor lhe convier.
Educar na e para a Sociedade da Informação significa, portanto, criar condições
favoráveis para a autonomia do educando na busca de novos conhecimentos, no compasso de um
processo investigativo, representado pela pesquisa escolar, que pressupõe a localização de fontes
de informação, a exploração de novas idéias e problemas, a sistematização, o refinamento e, por
fim, a comunicação dessas idéias. A partir da dúvida, que impulsiona e estimula a busca do
conhecimento, o educando deverá estar apto a fazer este percurso da pesquisa escolar cujo
objetivo final é ajudar a formar um indivíduo crítico e com espírito aberto para as aceleradas
transformações presentes na sociedade da informação.
Pedro Demo (1998) chama atenção para a importância da aprendizagem feita com base
naquilo que denomina de questionamento reconstrutivo, fundamento para a formação da
consciência crítica do indivíduo. Para o educando, saber fazer uma leitura critica do mundo que o
rodeia é, na prática, o resultado dessa consciência que se forma através do auto-conhecimento, da
capacidade de se expressar com clareza e da motivação para formular novos questionamentos.
Entretanto, é preciso lembrar que a sociedade atual, caracterizada pela abundância, por vezes
excesso de informação, apresenta ao aluno pesquisador o problema de definir o que é informação
suficiente tanto quanto o de selecionar a informação relevante. O desafio para o aluno será, pois,
não só o de desenvolver habilidades de ir além da localização das fontes de informação, mas ser
capaz de encontrar significados através da produção de sentido em mensagens diversas e
numerosas e, por vezes, inconsistentes.
Assim, a pesquisa escolar interessa aos educadores e aos alunos, tornando-se uma prática
comum nas escolas, do Ensino Fundamental à Educação Superior, caracterizando-se como um
trabalho de busca de informação e de conhecimento. Entende-se como informação a primeira
condição para aquisição do conhecimento. Para a informação tornar-se conhecimento deve ser
previamente processada pelo indivíduo, ou seja, interpretada para descobrir sua significação. “O
processo de conhecimento é o de buscar soluções para determinados problemas.”(AUTHIER,
2003). Para Castells (1999), “a informação, em seu sentido mais amplo, tem sido fundamental
em todas as sociedades, [. . .] e o paradigma digital fez emergir a sociedade da informação e com
ela a sociedade em rede. As ferramentas tecnológicas tornaram-se essenciais para a
formalização e a disseminação do conhecimento.” Segundo o autor, é preciso aliar à tecnologia a
capacidade do indivíduo em aprender a captar, gerir, disseminar e aplicar o conhecimento
adquirido.
Sendo assim, a pesquisa escolar é uma das atividades que possibilita aos alunos a
captação, a geração, a disseminação e a aplicação dos conhecimentos adquiridos. Para que isso
ocorra, é necessário que as etapas de desenvolvimento sejam orientadas pelo professor que deve
ser um facilitador para as buscas realizadas pelos alunos, em um ambiente construtivista. Por
outro lado, os alunos devem se tornar o centro do processo de aprendizagem onde tenham o
controle desse processo realizado em um ambiente cooperativo, autonomizador e interativo. Na
concepção da teoria piagetiana, o conhecimento não está no sujeito, nem tampouco no objeto. O
conhecimento é construído na interação do sujeito com objeto, por isso a interação sujeito-objeto
é um ponto fundamental a ser considerado no projeto de ambientes de apoio à aprendizagem.
Portanto, a interação é o requisito fundamental na epistemologia genética.
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Neste novo paradigma, o aluno transforma-se de um agente passivo de
recepção dos conhecimentos repassados pelo professor em um ser ativo,
responsável pelo próprio desenvolvimento. O professor, por sua vez,
perde seu posto de detentor e repassador de conhecimento a passa a ser
aquele que fomente o desequilíbrio cognitivo do aluno (na busca de um
reequilíbro em um nível cognitivo mais elevado). (NITZKE; FRANCO,
2002, p.24 ).
No ambiente construtivista, os alunos assumem a responsabilidade da sua própria
aprendizagem, trazendo as suas estruturas e perspectivas às atividades desenvolvidas,
reconhecendo que os indivíduos são “agentes ativos” que se comprometem com a construção do
seu próprio conhecimento, integrando a nova informação no seu esquema mental e
representando-a de uma maneira significativa.
Vygotsky enfatiza que a inteligência humana provém da “nossa sociedade ou cultura” e
que ocorre através da interação com o ambiente social. Para Vigotsky “o desenvolvimento
cognitivo foi compreendido como uma conseqüência do conteúdo a ser apropriado e das relações
que ocorrem ao longo do processo de educação e de ensino.” (FREITAS, 1995, p.101). Desse
modo, o aprendizado precede o desenvolvimento, quando a criança, através de sua experiência
cotidiana, no convívio com as pessoas de seu meio, de sua cultura, forma e utiliza os conceitos
espontâneos sem estar conscientes deles. No período de escolaridade, com a aquisição dos
conceitos científicos, ela adquire a capacidade de defini-los por meio de palavras e de operar
com os mesmos. Poder-se-ia dizer que o desenvolvimento dos conceitos espontâneos da criança
é ascendente, enquanto o desenvolvimento dos seus conceitos científicos é descendente, para um
nível mais elementar e concreto. Isso decorre das diferentes formas pelas quais os dois tipos de
conceitos surgem. (VYGOTSKY, 1987, p.93).
A pesquisa escolar contribui para propiciar que o conceito espontâneo abra caminho para
o conceito científico e este forneça estrutura para o desenvolvimento daquele, tornando-os
consciente e deliberado.
REFERÊNCIAS
CAMPELLO, Bernadete Santos et. al. A Internet na pesquisa escolar: um panorama do uso da
WEB por alunos do ensino fundamental. Disponível em:
< http://dici.ibict.br/archive/00000832/>. Acesso em: 29 set. 2006.
CAMPELLO, Bernadete Santos et. al. Recursos informacionais para o ensino fundamental.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651998000300004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>
Acesso em: 29 set. 2006.
GARCEZ, Eliane Fioravante. Orientação à pesquisa escolar aos alunos de 5ª série de escola
pública estadual: relato de experiência. Disponível em:
< www.eci.ufmg.br/gebe/downloads/302.pdf> . Acesso em: 25 set. 2006.
MORO, Eliane Lourdes da Silva ; ESTABEL, Lizandra Brasil. A pesquisa escolar
propiciando a integração dos atores – alunos, educadores e bibliotecários – irradiando o
benefício coletivo e a cidadania em uma ambiente de aprendizagem mediado por
computador.
Disponível
em:
<http://www.cinted.ufrgs.br/renote/mar2004/artigos/03apesquisa_escolar.pdf#search=%22%22a%20pesquisa%20escolar%20propiciando%22%22> .
Acesso em: 29 set. 2006.
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