Lista 1 - Organização de Mercados - Graduação em Economia - EPGE/FGV 2010 (Concorrência Perfeita e Monopólio) Professora: Adriana Perez Monitora: Lavinia Hollanda ([email protected]) 1. Seja um monopolista com função custo c(x) = cx, c > 0, e que se depara com uma função demanda x(p) = Ap " ; " > 0. (a) Calcule a elasticidade-preço da demanda. (b) Resolva o problema de maximização do monopolista e encontre a relação preçocusto em função de ". (c) Mostre que se " 1, o preço ótimo não está bem de…nido. (d) Como o preço varia com "? O que acontece se " ! 1? E se " ! 1? (e) Como um aumento nos custos é repassado ao preço no caso desta função com elasticidade constante? (f) Ache a quantidade que o monopolista escolhe produzir. Resposta: a. A elasticidade é dada por A elasticidade é dada por " 1 :p dlnx(p) ). dlnp " @x p : @p x = ":Ap Ap < 0 (ou por " = " Temos então que @x : p = ":Apx = ":Apx ": " = @p x b. Existem três formas principais de resolver o problema. A primeira é a seguinte: M M ax p = p:x(p) c:x(p) = p:Ap " c:Ap " CPO: @@p = 0 Ap " ":Ap " + ":Ap " 1 = 0 p:(" 1) = ":c pM = ":c (" 1) 1 Segunda maneira de resolver, usando a demanda inversa p = ( Ax ) " e maximizando em x: M ax x M = p(x):x A 1 c:x = ( ) " :x x CPO: @@x = 0 A 1 ( ) " :(1 x p:(1 1 1 ) = c " 1 ) = c " c:x pM = ":c (" 1) Terceira maneira de resolver: M M ax = p:x(p) p c:x(p) CPO: @@p = 0 x(p) + p:x0 (p) = c:x0 (p) Dividindo os dois lados por x0 (p) : x(p) +p=c x0 (p) Coloca p em evidência: x(p) p 1+ 0 = c x (p):p # " 1 = c p 1 + x0 (p):p x(p) Como x0 (p) = chegamos a: dx(p) , dp x0 (p):p : x(p) temos então que " = p 1 1 " Substituindo na expressão, = c pM = ":c (" 1) c. Pela expressão de p acima, vemos que a solução não está de…nida para " 1: 1 Observe que a receita marginal é dada por (" " 1) :( Ax ) " . Logo para " < 1 o monopolista teria receita marginal negativa. Portanto, não poderia ser um ponto de ótimo, uma vez que diminuindo a produção ele poderia aumentar o lucro. Assim, o monopolista só atua na parte elástica da demanda (" > 1). d. Derivando a expressão obtida no ítem anterior em relação a ", obtemos: @p c = <0 @" (1 ")2 Assim, quanto menos elástica a demanda, maior será o preço cobrado pelo monopolista, isto é, maior o seu poder de mercado, medido pelo markup sobre o custo marginal (dado por " " 1 ). O aumento da elasticidade equivale, do ponto de vista do monopolista, a enfrentar um mercado mais competitivo. Logo, quando " ! 1, o preço se aproxima do custo marginal (p = c), como pode ser visto pela fórmula acima, o monopolista perde todo o poder de mercado e a solução competitiva é obtida. 2 e. Temos que @p = " " 1 > 1. Portanto, o repasse é sempre mais do que propor@c cional ao aumento nos custos, para esta função de demanda. Além disso, @ como @" ( " " 1 ) < 0, quanto menor a elasticidade do mercado maior o aumento de preços devido a um aumento nos custos. f. Substituindo a expressão do preço, encontrada no ítem (b), na função demanda, obtém-se que x = A( ""c1 ) " . 2. Um monopolista vende em dois mercados diferentes, sem possibilidade de arbitragem entre eles. A demanda inversa no mercado 1 é dada por p1 = 100 q1 =2, e a demanda inversa no mercado é dada por p2 = 100 q2 . O monopolista produz q = q1 + q2 e tem custo c(q) = q 2 . (a) Calcule a receita marginal em cada um dos mercados e a receita marginal agregada. (b) Calcule a quantidade que o monopolista vai vender em cada um dos mercados. (c) Calcule o lucro total do monopolista. (d) Suponha agora que o monopolista decida dividir a produção em duas plantas, uma destinada a cada mercado. Calcule o quanto será produzido em cada mercado. (e) Calcule o lucro total do monopolista ao dividir a produção. O lucro aumenta ou diminui em relação ao item (c)? Interprete. (f) Suponha que seja possível arbitrar entre os mercados (logo, o monopolista não pode mais discriminar entre os mercados, tendo que vender qualquer unidade ao preço p). Calcule o preço p, a quantidade total produzida, a quantidade vendida em cada mercado e o lucro do monopolista. O que acontece com o lucro? Por quê? Resposta: a. e b. Resolvendo o problema do monopolista: q1 ) + q2 :(100 M = q1 :(100 2 CPO: q1 : (100 q1 ) (100 2 q2 ) (q1 + q2 )2 2:q1 = 2:q2 3q1 ) = q2 q2 : (100 2q2 ) 2(q1 + q2 ) = 0 (100 4q2 ) = q1 2 Substituindo, temos: [100 2(100 2 3q1 )] = q1 q1 = 25 3 q2 = (100 75) 2 q2 = 12; 5 Para calcular a receita marginal, basta substituir os valores acima na receita marginal de cada mercado: Rmg1 = (100 q1 ) = 75 Rmg2 = (100 2q2 ) = 75 c. O lucro total do monopolista será dado por: M = 25:(100 M = 1875 25 ) + 12; 5:(100 2 (25 + 12; 5)2 12; 5) d. O novo problema do monopolista será: q1 ) + q2 :(100 2 Resolvendo esse problema, chegamos a: M ax M novo = q1 :(100 q2 ) q12 q22 100 3 = 25 q1 = q2 e. O novo lucro é M novo = 2916. O lucro aumenta porque, como o custo marginal é crescente, vale a pena dividir a produção (a primeira unidade produzida para atender ao segundo mercado é mais barata em uma nova planta). Note que estamos ignorando os custos …xos da nova planta, o que poderia alterar o resultado. f. O lucro do monopolista diminui quando ele não pode discriminar –com discriminação, o pior possível é o lucro sem discriminação, que pode ser reproduzido. Para resolver o problema, encontramos q1 e q2 em função de p: q1 = 200 q2 = 100 2p p Em seguida, encontramos q = q1 + q2 e maximizamos: q = q1 + q2 = 300 3p M ax p:(300 3p) (300 p 4 3p)2 CPO: 300 6p + 6:(300 300 6p + 1800 3p) = 0 18p = 0 24p = 2100 700 p = 8 Resolvendo para q, q1 e q2 : q = 300 q = 300 q = 300 8 q1 = 200 q1 = 200 q1 = 3p 700 3: 8 2p 700 2: 8 200 = 25 8 q2 = 100 q2 q2 p 700 = 100 8 100 25 = = 8 2 Resultados corrigidos: 700 8 300 q = 8 q1 = 25 25 q2 = 2 p = 3. Um monopolista vende em dois mercados, 1 e 2, com elasticidades "1 = 2 e "2 = 4, respectivamente. Suponha, novamente, a possibilidade de discriminação perfeita. Suponha que o monopolista cobre p1 = 2; 5:p2 . Ele está maximizando? Mostre. Resposta: Não, ele não está maximizando. Supondo custo marginal constante, o problema do monopolista é: M ax(p p 5 c):q(p) A solução para este problema é: p c 1 p j"j , em que j"j é o módulo da elasticidade de cada mercado. Temos, portanto, que; = p1 c 1 = ! p1 = 2c p1 2j p2 c 1 4 = ! p2 = c p2 4j 3 Com isso, chegamos à seguinte relação no ótimo: p1 = 1; 5:p2 4. Considere um monopolista com função demanda inversa P = 90 a C = 200 + 10Q. 5Q e custos iguais (a) Calcule a quantidade e preço que maximizam o lucro do monopolista. (b) Calcule o lucro do monopolista. (c) Suponha que um regulador queira implementar o nível e…ciente de produção. Obtenha o preço, quantidade e lucro da …rma nesse caso. Você acha que seria uma política regulatória adequada? (d) Uma regulação alternativa seria obrigar a …rma produzir no ponto onde o custo médio iguala a receita média. Calcule o nível de produto, o preço e lucro da …rma com essa política regulatória. (e) Argumente através da forma das curvas de custo médio e marginal qual das duas políticas regulatórias é mais adequada. Resposta: a. Resolva o problema (abaixo) do monopolista: M ax (90 Q 5Q)Q 200 10Q CPO: 90 10Q 10 = 0 Q = 8 Resolvendo para P: P = 90 5Q = 50 b. Substituindo os valores de P e Q na fórmula: M M = (90 5Q)Q 200 = 50:8 200 80 = 120 6 10Q c. Queremos o resultado competitivo (e…ciente). Portanto, queremos que o preço seja igual ao custo marginal. Temos que Cmg = 10. Então: P = Cmg P = 10 Com esse preço, substituindo na curva de demanda, teríamos: 10 = 90 Q = 16 5Q O lucro da …rma seria então: C C = (90 5Q)Q = (90 80)16 = 200 < 0 200 200 10Q 160 Portanto, se fosse obrigada a atuar em níveis competitivos, a …rma teria prejuízo e sairia do mercado - e os consumidores não teriam mais a oferta do bem. Logo, não seria uma regulação adequada. d. Para implementar esta alternativa, teríamos que igualar a receita média ao custo médio: Rmedia = 90 5Q = (90 5Q)Q 200 + 10Q = = Cmedio Q Q 200 + 10 ! Q ' 12; 9 Q Substituindo para achar o preço e lucro: P = 90 5Q P ' 25; 5 R R = (90 ' 0 5Q)Q 200 10Q e. Este exercício mostra um caso típico de monopólio natural, onde Cmedio > Cmg (se igualam quando Q ! 1), pois a …rma tem custo marginal pequeno e grande custo …xo. Uma regulação que colocasse a …rma para produzir no nível competitivo não seria adequada, pois levaria a …rma a ter lucros negativos e, por conseguinte, sair do mercado. Uma solução seria obrigar a …rma a produzir no ponto de lucro zero, onde a receita média é igual ao custo médio. Nesse ponto, como foi visto no item anterior, a …rma produz uma quantidade maior do que produziria em monopólio, porém sem ter lucro negativo. 7 5. Suponha que o governo pretenda usar instrumentos tributários para diminuir as distorções causadas pelo monopólio. (a) Sem fazer contas, argumente sobre qual o tipo de tributação (impostos, subsídios) a ser imposta ao monopolista. (b) Se a demanda inversa é dada por p(q), onde q é a quantidade e p o preço, e os custos por cq, mostre o imposto ou subsídio que levaria o monopolista a produzir a quantidade e…ciente. (c) Suponha agora que o monopolista depara-se com uma curva de demanda dada por q = 500 20p. Seu custo marginal de produção é constante e igual a 20 por unidade. O governo pretende intervir de forma a diminuir a distorção de mercado. Utilizando as suas respostas dos itens anteriores, calcule o valor da tributação necessária para implementar preço e quantidade de concorrência perfeita. Resposta: a. A tributação deve ser na forma de um subsídio, uma vez que desejamos que o monopolista produza uma quantidade maior do que ele produziria normalmente. O subsídio desloca a curva a curva de custo marginal para baixo, possibilitando maior nível de produção. b. O problema do monopolista é: M axp(q):q q cq tq CPO: p(q) + p0 (q)q c t = 0 p(q) + p0 (q)q = c + t Quero que ele produza o resultado competitivo, logo onde p(q) = c. Utilizando essa condição na CPO, obtemos o valor de t que leva o monopolista a produzir a quantidade e…ciente: t = p0 (q)q < 0 Um imposto negativo, isto é, um subsídio. c. No resultado competitivo, temos que p = cmg = 20. Logo: 500 q = 20 20 q = 100 p = Temos ainda que: p(q) = 8 1 20 Com isso, chegamos ao subsídio de: t = p0 (q)q 1 t = :100 = 20 5 Ou seja, a tributação necessária para implementar preço e quantidade de concorrência perfeita nesse caso sera um subsídio de $5 por unidade. 6. Verdadeiro ou falso: A distorção do monopólio vem da cobrança de um preço maior do que o preço competitivo. Resposta: Falso. A distorção do monopólio ocorre porque há unidades do bem que podem ser produzidas a um custo menor do que a utilidade marginal do bem nesse ponto e não são vendidas, e apenas por isso: quantidade subótima. Como a demanda relaciona negativamente preço e quantidade, segue que uma quantidade subótima está, quase sempre, associada a um preço acima do preço e…ciente (custo marginal). Se, porém, houvesse outra regra que alterasse o preço para p=cmg e mantivesse a quantidade subótima (racionamento, por exemplo), a ine…ciência seria mantida. Por outro lado, se uma regra mantivesse o preço acima do custo marginal, mas gerasse a quantidade competitiva (p.ex. distribuição dos bens que o monopolista não vende no mercado para aqueles que têm utilidade marginal maior do que o custo marginal), haveria e…ciência (um exemplo mais natural seria o monopolista discriminador de primeiro grau). 9