Texto integral - Embrapa Cerrados

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EFEITO DO VIGOR SOBRE A ABUNDANCIA DE INSETOS INDUTORES DE
GALHAS EM Astronium fraxinifolium.
Elaine Cristina de Souza Almeida¹, Giovana Rodriques da Luz¹, Gisele Cristina de
Oliveira Menino¹, Magnel Lima de Oliveira¹, Marcílio Fagundes¹, Geraldo Wilson
Fernandes².(¹Universidade Estadual de Montes Claros, Vila Mauricélia, Caixa Postal
126, Cep. 39401-08, Montes Claros/MG. e-mail:[email protected] ²Universidade
Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha, Cep. 31270-90, Belo
Horizonte/MG).
Termos para indexação: Insetos Galhadores, Hipótese do Vigor, Astronium
fraxinifolium.
INTRODUÇÃO
A qualidade e a quantidade de recursos oferecidos pela planta hospedeira
exercem um papel preponderante sobre a diversidade de insetos herbívoros (Price,
1992). A hipótese do vigor de planta prediz que plantas com módulos mais vigorosos
hospedam um maior número de espécies por ofertarem maior número de folhas novas
com tecido ainda reativo para a indução de galhas. O vigor ainda é entendido como o
crescimento de plantas ou módulos de plantas acima do crescimento médio de uma dada
população (Price, 1991). Entretanto, o tamanho da planta pode ter um efeito positivo
sobre a diversidade de insetos devido ao efeito da área per se (Strong et al., 1984).
Plantas maiores disponibilizam maior quantidade de recursos (possui maior sítio de
oviposição) e são mais aparentes para o inseto galhador (Lawton, 1983; Fernandes &
Price, 1988). Desta forma, existe uma maior chance de ataque em módulos mais
vigorosos, mesmo que não haja uma seleção preferencial pelo inseto galhador. Faria &
Fernandes (2001) sugeriram que ao se testar a hipótese do vigor a disponibilidade de
recursos deve ser considerada.
Astronium fraxinifolium (Anacardiaceae) é uma espécie arbórea conhecida
popularmente por Gonçalo Alves que pode atingir até 20 metros de altura. No norte de
Minas Gerais, a fenologia de A. fraxinifolium é marcada pela queda das folhas entre os
meses de março e julho, com emissão de folhas novas a partir do mês de setembro
(Mendonça, 2002; Nunes et al., 2003). Os seus folíolos são atacados pelas fêmeas de
um herbívoro galhador não identificado (Homoptera: Pysillidae) que induz a formação
de galhas no local da oviposição. As galhas formadas são elípticas com uma única
câmara podendo apresentar coloração verde e vermelho.
Este trabalho objetivou testar a hipótese do vigor respondendo as seguintes
perguntas: 1) Módulos maiores são mais atacados? 2) Folíolos mais novos são mais
atacados?
METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido no Refúgio de Vida Silvestre, inserido na Área de
Proteção Ambiental (APA) do Rio Pandeiros, no Município de Januária, Norte de Minas
Gerais, (S 15°29’15’’ WO 44°21’40’’). Esta APA apresenta uma área de 380.000 ha,
divididos em várias fisionomias vegetais, onde se destaca o Cerrado, Caatinga Arbórea,
Floresta Seca Calcária, Mata Ciliar e as Áreas de Planícies Alagáveis. O clima desta
região é do tipo semi-árido, com estação seca e chuvosa bem definida, sendo as chuvas
concentrada entre os meses de novembro a janeiro (IGA, 2006).
Foram escolhidos aleatoriamente 20 indivíduos de Astronium fraxinifolium,
dos quais foram coletados 10 ramos terminais para medição do comprimento do eixo
central do ramo e de suas respectivas folhas. Também foi quantificado o número de
folhas por ramo e folíolos por folha, além do número de galhas em cada módulo.
Para determinar a idade dos folíolos, estes foram enumerados em ordem
crescente da base para o ápice, sendo considerados os mais velhos aqueles mais
próximos da base.
Visando minimizar o efeito da disponibilidade de recurso, o número total de
galhas encontrado em ramos e folhas foi dividido por folha e folíolo, respectivamente.
A hipótese do vigor foi testada através de análise de variância (ANOVA).
Para
responder as perguntas propostas, o número de insetos galhadores foi utilizado como
estimativa do ataque de insetos, enquanto o efeito do vigor foi medido através da
abundância de galha (variável dependente) em relação ao comprimento do ramo,
comprimento da folha e idade do folíolo (variáveis independentes).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A abundância de galhas foi positivamente relacionada com o comprimento
do ramo indicando a primeira vista que ocorre maior ataque em ramos mais vigorosos.
Entretanto, quando se tira o efeito da área (Dividindo o número de galhas pelo número
de folhas quando analisando o tamanho do ramo, e pelo número de folíolo quando
analisando o tamanho da folha) a relação é inversamente proporcional. Ou seja, o
número de galhas no ramo, por unidades de folhas diminuiu à medida que o
comprimento do ramo aumentava (F=11.626 e P= 0.0008) (figura 1) e o número de
galhas por folíolo diminuía à medida que o comprimento da folha aumentava (F= 9.445
e P= 0.0021) (figura 2) não corroborando a hipótese do vigor.
Os ramos maiores tiveram mais galhas devido a um efeito da área, ou seja, módulos
vigorosos são maiores e por isso apresentam mais recursos do que módulos menores
(Araújo et al., 2003). Desta forma, quando o efeito da área foi retirado ao dividir o
número de galhas total no ramo pelo número de folhas e o número de galhas totais da
folha pelo número de folíolos, desapareceu a relação positiva entre o número de galhas
e o tamanho do módulo. Estes resultados corroboraram os encontrados por Faria &
Fernandes (2001) que consideraram que o ataque do galhador Neopelma baccharidis
pode estar associado à quantidade de recursos e não ao crescimento da planta. Vários
autores (Araújo et al., 2003; Cornelissen & Fernandes, 2001; Gonçalves-Alvim et al.
1999; Faria & Fernandes, 2001) ao testar a hipótese do vigor, retiraram o efeito do
tamanho do módulo dividindo o número de galhas por cm e/ou peso seco do módulo.
Os resultados aqui encontrados, mesmo utilizando uma metodologia diferente, estão de
acordo com os apresentados pelos autores acima.
Figura 1- Variação do número de galhas/folha (F=11.626 e P= 0.0008) com o tamanho do ramo
da planta hospedeira (Astronium fraxinifolium), na Área de Proteção Ambiental do Rio
Pandeiros (Januária/MG).
Figura 2- Variação do número de galhas/folíolo (F= 9.445 e P= 0.0021) com o tamanho do eixo
central da folha da planta hospedeira (Astronium fraxinifolium), na Área de Proteção Ambiental
do Rio Pandeiros (Januária/MG).
Quanto à influência da idade da folha na preferência do inseto fêmea, os
resultados deste trabalho mostraram que o ataque foi maior nos folíolos com idade
intermediária, ou seja, os dispostos no centro da folha (F= 2.862 e P= 0.0002) (figura 3).
Figura 3- Número de galhas (F= 2.862 e P= 0.0002) com a variação da idade dos folíolos da
planta hospedeira (Astronium fraxinifolium), na Área de Proteção Ambiental do Rio Pandeiros
(Januária/MG). A idade está representada por ordem decrescente das letras alfabéticas.
Os folíolos de idade intermediária foram os mais atacados, o que pode ser
explicado pelo fato destes em relação aos folíolos de idade mais avançada apresentarem
menor porcentagem de esclerofilia. Por outro lado, os folíolos apicais, ou seja, os mais
novos da folha provavelmente apresentaram menor quantidade de galhas que os folíolos
do centro devido à questão temporal, ou seja, as galhas poderiam ainda não ter sido
induzidas no período da coleta e assim não foram contabilizadas, uma vez que o
Astronium fraxinifolium emite folhas novas a partir do mês de setembro e este trabalho
foi realizado em meados do mês de outubro.
CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou não existir efeito do vigor dos módulos sobre a
indução de galhas em Astronium fraxinifolium. Por outro lado, o estudo corrobora a
relação espécie-área, uma vez que ao retirar o efeito da área os módulos maiores não
apresentaram maior abundância de galhas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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