DIVERSIDADE DE INSETOS GALHADORES ASSOCIADOS À MYRTACEAE DO PARQUE ESTADUAL COSTA DO SOL, RIO DE JANEIRO, BRASIL1 Carvalho-Fernandes, S. P.; Ascendino, S.; Maia, V. C. Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, email: [email protected]. Palavra-Chave: Galhas INTRODUÇÃO As galhas são formadas a partir do resultado da interação entre o inseto galhador e sua planta hospedeira e são consideradas umas das mais complexas associações, pois cada espécie de inseto induz galhas que são fisiológica e morfologicamente diferentes das de outras espécies (SHORTHOUSE et al. 2005). A maioria dos trabalhos realizados em restingas mostra uma elevada diversidade de galhas nessas áreas, revelando a importância dessa vegetação como determinante da riqueza de insetos galhadores (MAIA 2001, MONTEIRO et al. 1994, OLIVEIRA & MAIA 2005). O objetivo do presente trabalho foi investigar a fauna de insetos galhadores associados à Myrtaceae em áreas de restinga do Parque Estadual Costa do Sol, Rio de Janeiro, Brasil. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado bimensalmente no período de junho de 2011 a março de 2012 no Parque Estadual Costa do Sol (PECS), localizado na Região dos Lagos e com uma área de 9.840 ha. O PECS compreende seis municípios, dentre os quais quatro foram investigados por possuírem áreas de restinga bem preservadas: Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo e Cabo Frio. Foram determinados 28 pontos de coleta, e em cada um deles, as espécies de Myrtaceae foram investigadas por 45 minutos à procura de galhas de insetos. As galhas foram acondicionadas em sacos plásticos e levadas ao laboratório para criação dos indutores. Foram elaboradas exsicatas das espécies de Myrtaceae hospedeiras de galhas e enviadas à especialista para identificação. As características internas das galhas e as fases imaturas dos indutores foram obtidas a partir da dissecação das mesmas. Os espécimes de Cecidomyiidae foram montados em lâminas e os demais insetos preservados em álcool 70%. As espécies de Cecidomyiidae foram identificadas com a utilização de chaves GAGNÉ (1994) e comparações com descrições originais. Todos os insetos estão depositados na Coleção de Diptera do Museu Nacional – UFRJ. RESULTADOS 1 Agência de fomento: PROTAXA – CNPq Página Arraial do Cabo foi o município com maior riqueza de galhas (n = 26), seguido de Araruama (n = 20), Cabo Frio (n = 15) e Saquarema (n = 11). Sete mofotipos de galhas foram encontrados em todos os municípios investigados, tais como: galha parenquimática foliar e enrolamento marginal em Eugenia adstringens Cambess., enrolamento marginal em E. copacabanensis kiaersk., galhas foliares cônica e parenquimática em E. uniflora L., e enrolamento marginal e galhas com escamas embricadas em Neomitranthes obscura (DC.) N.Silveira. Outros morfotipos restringiram-se a apenas um município, como galha globosa em E. adstringens em 47 Foram encontrados quatro gêneros e dez espécies de Myrtaceae hospedeiras de 32 morfotipos de galhas no PECS. Os gêneros hospedeiros foram Myrciaria DC. ex Guill., Neomitranthes Kausel ex D. Legrand, Myrcia DC. ex e Eugenia L., sendo o último correspondendo a 62% do total de galhas. Araruama e galha cônica pilosa em E. copacabanensis (Arraial do Cabo). Os órgãos atacados foram folhas (n = 25), caule e gema (n = 3, cada) e fruto (n = 1). A maioria das galhas apresentou coloração verde, sem pilosidade e apenas uma câmara interna. As galhas foram induzidas por Diptera, Hymenoptera, Hemiptera e Thysanoptera. Os Diptera, totalmente representados pela família Cecidomyiidae, induziram 53% das galhas. As demais ordens representaram menos que 6% dos indutores e os outros não foram determinados porque as galhas estavam vazias ou parasitadas. Dentre os Cecidomyiidae, foram encontrados representantes de, pelo menos, cinco gêneros no PECS: Stephomyia Tavares, 1916; Dasineura Rondani, 1840; Neomitranthella Maia, 1996; Neolasioptera Felt, 1908 e Clinodiplosis Kieffer, 1894. DISCUSSÃO Em áreas de restingas, diversos autores (Maia 2001, Monteiro et al. 1994, Oliveira & Maia 2005) obtiveram resultados semelhantes, sendo as Myrtaceae a principal família hospedeira de galhas e Eugenia o gênero mais representativo. Dentre os locais investigados neste estudo, Arraial do Cabo é o município com maior área de restinga, maior riqueza de espécies vegetais e, conseqüentemente, com maior riqueza de galhas. A predominância de galhas foliares corrobora com o padrão global observado para os galhadores e também com os dados encontrados em outras restingas. Dentre os insetos galhadores, as quatro ordens encontradas nesse trabalho são normalmente observadas em restingas. Galhas induzidas por Lepidoptera e Coleoptera não foram encontradas, embora ocorram neste ecossistema (Maia 2001, Oliveira & Maia 2005). Os cecidomiídeos são os galhadores mais representativos mundialmente, e padrão similar ocorre em restingas. Dentre os resultados encontrados, a família Cecidomyiidae sempre se destaca como sendo o principal grupo indutor de galhas. CONCLUSÃO Esse estudo corrobora com a elevada riqueza de insetos galhadores presente em restingas e as espécies de Myrtaceae como uma das principais hospedeiras de galhas nesse ecossistema. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GAGNÉ, R. 1994. The Gall Midges of the Neotropical Region. Ithaca, Cornell University. Press. 352p. MAIA, V.C. 2001. The gall midges (Diptera, Cecidomyiidae) from trhee restingas of Rio de Janeiro State, Brazil. Revista Brasileira de Zoologia, 18(2): 583-629. MONTEIRO, R. F.; Ferraz, F. F. F.; Maia, V. C.; Azevedo, M. A. P. 1994. Galhas entomógenas em restingas: uma abordagem preliminar. III Simpósio de Ecossistemas da Costa Brasileira, vol. 3, ACIESP 87, p. 210-220. OLIVEIRA, J.C.; MAIA, V.C. 2005. Ocorrência e caracterização de galhas de insetos na restinga de Grumari (Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Arquivos do Museu Nacional, 63: 669-675. Página 48 SHORTHOUSE, J.D.; WOOL, D.; RAMAN, A. 2005. Gall-inducing insects – Nature’s most sophisticated herbivores. Basic and Applied Ecology, 6: 407-411.