Economia - Revista Vox Objetiva

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Economia
Câmbio fixo ou
flutuante?
O
tema está na ordem do dia e tem preocupado o governo, empresários e o setor financeiro do país. A guerra cambial é hoje uma
realidade que atinge o Brasil e seus efeitos podem ser os mais perversos na economia. Economistas alertam para o risco de desindustrialização, trazendo ainda a possibilidade de reversão de todas as conquistas de estabilidade conseguidas ao longo dos últimos anos.
O noticiário do dia a dia vem abordando a guerra cambial ao longo das
últimas semanas e aponta o Brasil como um dos principais destinos de
fuga de capitais estrangeiros, sobretudo e notadamente dos Estados Unidos. Isso acontece porque os norte-americanos ainda tentam se recuperar
da crise que os atingiu em 2008 e 2009. Recentemente, o governo daquele
país injetou mais de US$ 600 bilhões na economia, por meio da emissão
de moeda.
Tentando reduzir os riscos de investimentos, o capital especulativo “procura” o Brasil e investe nos títulos da dívida pública do país, de longe um
dos mais rentáveis do mundo. Com essa enxurrada de dólares na nossa
economia, somada ao fato de nosso câmbio ser flutuante, ou seja, depende
da oferta e da procura de dólares, o efeito é a desvalorização da moeda
americana e uma valorização exagerada do real. Até este ponto, o leitor
pode pensar que o fato de o real estar valorizado é bom para a economia
do país porque implica na entrada da moeda estrangeira no país. Não necessariamente.
Se por um lado a desvalorização do dólar deixa produtos importados
bem mais acessíveis ao bolso do brasileiro, por outro, ela deixa também a
indústria nacional menos competitiva e com menos capacidade de exportação. A conta é simples. Se a moeda brasileira está supervalorizada no
exterior, consequentemente, nossos produtos estarão mais caros. Sendo
assim, a competitividade de preços dos produtos nacionais vai por água
abaixo.
Além disso, desvalorização da moeda americana faz ainda com que os
produtos oriundos dos Estados Unidos fiquem desvalorizados. Seja, pelo
status de comprar algo importado ou pela própria qualidade do produto,
muitos consumidores acabam optando pelos bens de consumo estrangeiros, estrangulando, ainda mais, a economia brasileira. A questão é, portanto, bem mais grave do que pode parecer num primeiro momento.
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Diante desse cenário, economistas
têm questionado. Porque o governo
não volta a fixar o câmbio? Desde
1999, o Brasil tem câmbio flutuante. A crise da desvalorização do real
naquele ano ocorreu justamente
na passagem do regime de câmbio
fixo para o câmbio flutuante. Para o
economista Wilson Benício Siqueira, do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG),
o país hoje precisa voltar ao regime
de câmbio fixo para não prejudicar
a balança comercial brasileira.
“Imaginemos a China, por exemplo. É o país que mais cresce no atual cenário econômico mundial. Os
chineses têm sua economia voltada
para a exportação e para se tornarem competitivos, desvalorizaram
sua moeda, o yuan, por meio do
câmbio fixo, e se tornam competitivos no mercado internacional. Na
prática, eles ganham muito dinheiro e têm uma balança econômica
voltada para as exportações”, analisa Siqueira.
A preocupação do economista faz
sentido, diante das previsões pessimistas da balança comercial brasileira. Em 2010, o Brasil registrou
exportações recordes, que atingiram US$ 201,9 bilhões, valor 31,4%
maior que em 2009. Entretanto,
as importações também bateram
Lula deixa
economia
brasileira com
sérios problemas.
Dilma terá que
usar toda sua
capacidade de
economista para
colocar o Brasil
nos trilhos Rodrigo Freitas
recordes, chegando a US$ 181,6 bilhões, um resultado 41,6% além do
anotado no ano anterior, bem superior, portanto, ao avanço percentual
de nossas vendas externas. Desta
forma, o superávit da balança comercial ficou em US$ 20,3 bilhões,
quantia 20,1% menor que a de 2009,
e pior resultado dos últimos oito
anos.
As expectativas do mercado, segundo a pesquisa Focus, do Banco
Central, divulgada em janeiro, são
de que o resultado comercial brasileiro seja menor em 2011 - US$
8,75 bilhões -, e recue ainda mais em
2012, chegando aos US$ 5 bilhões.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson
Braga de Andrade, disse recentemente em Belo Horizonte que se o
país conseguir a “proeza” de manter
A presidente Dilma
terá que mostrar
jogo político para
resolver problema
econômico que Lula
deixou de herança.
a balança comercial, ao menos nos patamares de 2010, “vai estar bom demais”. Ele criticou também a demora do governo em implementar medidas de controle cambial no país e disse que essa situação agita o mercado
e prejudica ainda mais o mercado exportador.
A fixação do câmbio é certamente um assunto polêmico e melindroso,
que depende diretamente de uma resposta política. No Senado, o assunto começa a ser discutido.
O senador Roberto Cavalcanti (PRB-PA), que
integra a Comissão de Assuntos Econômicos
da Casa, defende uma mudança na “filosofia do
câmbio”, caso o dólar continue a trajetória de
derretimento. “O câmbio terá que deixar de ser
flutuante e terá que sofrer intervenção do Estado”, afirma.
Entretanto, a proposta de fixar o câmbio no
país mais uma vez não vai encontrar vida fácil no
chamado “núcleo duro” do governo. A presidente
Dilma Rousseff já avisou que não pretende implementar medidas de fixação do câmbio no
Brasil. Logo após ser eleita, Dilma atacou o governo de Fernando Henrique
Cardoso, que durante cinco anos
“Para conseguirmos ser competitivos,
inovadores, temos ainda dois problemas:
falta de mão de obra qualificada e
exportação exagerada de commodities”
Olavo Machado
Presidente da
Fiemg, Olavo
Machado, diz
que o país
não pode
ficar refém das
medidas para
controle da
guerra cambial
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Economia
Ministro Fernando Pimentel
promete unir
forças a sua
companheira
de partido na
primeira ‘saia
justa’ da presidente
adotou o câmbio fixo, e descartou a ideia. “Não acredito
que manipular câmbio resolva coisa alguma. Nós temos
uma péssima experiência disso”, avisou a presidente. Ela
avisou ainda que tem um “compromisso forte com os pilares da estabilidade macroeconômica” e manterá o câmbio
flutuante.
A decisão de Dilma é também respaldada pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Fernando Pimentel. Em sua posse, Pimentel garantiu que
sua pasta estará atenta aos movimentos da economia e
que o governo não ficará “parado e inerte”, diante da situação. O ministro prometeu ainda trabalhar em conjunto
com a área econômica do governo para contornar os efeitos da guerra cambial.
O professor do MBA em economia da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) Mauro Rochlin não vê com bons olhos a
solução de fixar o câmbio no país. Ele defende uma “quarentena na entrada de capital de curto prazo” no país.
“Temos um bom exemplo: o Chile, na década de 1990,
viveu uma situação parecida com a nossa e fez com que
a entrada de capitais especulativos no país sofresse restrições. Se isso não produziu valorização no dólar, ao menos
impediu uma desvalorização mais acentuada. Não se deve
mexer no regime de câmbio porque isso pode sugerir uma
mudança mais radical e aí sim assustar os mercados que
estão em contato conosco”, afirma o especialista.
Competitividade
O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado Junior, acredita que a competitividade da indústria brasileira precisa ser aumentada, para que o país não fique “refém” de medidas ligadas
apenas ao controle cambial. Para ele, o Brasil não pode se
contentar em vender produtos de pouco valor agregado
ao mercado externo. Machado avalia que essa seria uma
forma de valorizar o produto nacional.
“Podemos vencer essa questão do câmbio estimulando a
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competitividade. Aí entra o trabalho do Pimentel,
no ministério. Mas, para conseguirmos ser competitivos, inovadores, como ele mesmo disse que temos que ser, temos ainda dois problemas: falta de
mão de obra qualificada e exportação exagerada
de commodities”, afirma o dirigente da Fiemg.
Em que pese a gravidade da questão cambial
atualmente, os economistas e empresários são
unânimes num ponto: para resolver essa e outras questões, o país não pode se furtar a fazer as
reformas tributária e trabalhista, sob a pena de
criar um fardo ainda maior para os investidores.
“Desonerar os setores produtivos nacionais passa a ser uma necessidade premente para garantir
a competitividade dos produtos e serviços nacionais, não só na disputa dos mercados externos,
mas, também, na sobrevivência das empresas
que abastecem nosso próprio mercado no embate
com as importações. Uma das respostas para esse
desafio é representada pelas duas reformas mais
reivindicadas pelo setor produtivo nacional: a tributária e a trabalhista”, avalia Eduardo Pocetti,
CEO da BDO no Brasil, uma das cinco maiores
empresas do mundo em auditoria e tributos.
Se de um lado o setor produtivo aguarda ansiosamente pelas reformas, de outro, o governo deve
enfrentar dificuldades para assinalá-las. O tema
foi alvo da campanha da presidente Dilma Rousseff e passou em branco nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A maior dificuldade do governo é negociar as mudanças com
o Congresso.
A intenção inicial da presidente Dilma era dar
andamento à reforma tributária ainda em seu primeiro ano de mandato. Mas os próprios partidos
que integram sua base podem melar as negociações, enquanto os cargos do governo federal não
forem ocupados.
Na pratica, significa dizer que Dilma quer esperar seus aliados se acomodarem nos cargos de
primeiro, segundo e terceiro escalões, manter boas
relações com o Congresso e, então, tentar iniciar a
reforma tributária. Além disso, a presidente precisa também entrar em acordo com governadores
e prefeitos, que, certamente, não aceitarão perdas
em suas arrecadações.
Dilma assume seu mandato diante de um momento turbulento e desafiador. A economia trava
uma guerra de câmbio entre os países e ela não
pode ficar parada. As reformas também se fazem
necessárias e são cobradas por todos os setores
produtivos do país. A grande dúvida é se a presidente terá o apoio necessário para tratar das mudanças que se fazem urgentes.
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