E o Banco Central agiu - Moodle

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E o Banco Central agiu...
Felizmente, o BC deixou de lado o tratamento jocoso que Lula tem dado à crise e
foi à luta de maneira eficiente
Na coluna da semana passada, alertei para os primeiros sinais -ainda de natureza
financeira- de que a crise que estamos vivendo nas principais economias do mundo
havia chegado forte ao Brasil. Fui ainda mais longe ao pedir uma ação decisiva por
parte do Banco Central para evitar problemas de maior gravidade, principalmente
no setor produtivo. Posteriormente, o mercado foi informado de que empresas
brasileiras haviam realizado volumes incríveis -aparentemente US$ 60 bilhões- de
operações especulativas com a taxa de câmbio. Ao contrário do que disse nosso
presidente, a especulação não era contra o real, mas a favor da nossa moeda.
Imprudentes, algumas empresas apostaram na queda continuada da taxa de
câmbio como forma de reduzir os custos de seus empréstimos.
Apanhadas em um movimento mundial de valorização do dólar, acabaram por
provocar um desequilíbrio extraordinário no mercado futuro da BM&F, ao tentar
cobrir suas posições. Para a especulação passar do dólar futuro para o mercado à
vista, foi um passo. Dessa forma, um desequilíbrio de caixa que afetou poucas
empresas transformou-se em um choque de oferta importante no lado real da
economia. O real chegou a R$ 2,50 por dólar -uma desvalorização de quase 50%
em poucas semanas. Se a febre em nossa economia estava na casa dos 38 graus,
com o choque do câmbio chegou a atingir, na última quarta-feira, mais de 40
graus. Nessa situação, somente um tratamento de choque -tipo banheira com água
gelada- poderia evitar o pior. E, felizmente, o Banco Central deixou de lado o
tratamento jocoso que Lula tem dado à crise e foi à luta de maneira eficiente.
Quando escrevo esta coluna, o paciente já dá sinais de melhora, e a taxa de câmbio
deve voltar a refletir apenas o realinhamento global das moedas emergentes. Com
isso, o governo pode se preocupar com os desdobramentos dos impactos da crise
externa. O primeiro ponto é a recomposição da liquidez do sistema bancário,
principalmente no segmento dos bancos médios e pequenos. A redução dos
depósitos compulsórios, principalmente no segmento mais atingido pela crise, é
uma decisão correta e eficiente. Agora será preciso monitorar a forma como esses
recursos serão reciclados para a economia. Já temos sinais claros de que os bancos
estão evitando expandir seus empréstimos por conta dos riscos -reais ou
imaginários- que vão aparecer em uma economia submetida a uma parada brusca
em sua liquidez. A eficiência da medida tomada está diretamente ligada à forma
como os bancos vão tratar a questão do crédito daqui para a frente.
Nesse aspecto, os elevados prejuízos criados pela especulação com a taxa de
câmbio vieram reforçar o comportamento cauteloso, medroso até, do sistema
financeiro. Não posso deixar de citar outra questão que me preocupa hoje. A brusca
interrupção das operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio) já está
criando uma queda importante da disponibilidade de dólares no mercado. Afinal,
entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões em adiantamentos de câmbio vinham
irrigando o mercado.
Isso é importante porque, nos últimos anos, o câmbio comercial foi o amortecedor
natural do mercado, permitindo estabilidade mesmo em momentos de fortes
remessas de capital financeiro para o exterior. Caso persistam as saídas de capital
de curto prazo -ações e títulos de renda fixa-, poderemos viver uma nova fase de
desvalorização do real.
Fonte
1
BARROS, Luiz Carlos Mendonça de. E o Banco Central agiu.... Folha de S. Paulo,
São
Paulo,
10
out.
2008.
Disponível
em:
<http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2008/10/10/e-o-bancocentral-agiu>. Acesso em: 05 maio 2009.
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