Aonde Vai a Taxa de Câmbio no Brasil ? A queda que vem sendo registrada nos índices de preços no Brasil tem mais a ver com a redução da taxa de câmbio do que com o aumento da taxa de juros, sobre cujos efeitos já tivemos oportunidade de abordar, anteriormente. Basta observar as curvas e a correlação estatística entre essas taxas e a variação do IPA-Índice de Preços no Atacado da Fundação Getúlio Vargas, que tem influência decisiva sobre a variação do IGP-M e do IGP-DI. Temos escutado que, por causa do volume e do desempenho de nossas exportações, nossa moeda tem se valorizado, o que deveria ser um motivo de orgulho para todos nós. Porém, a realidade não é bem essa. Acontece que as exportações ainda têm se mantido em nível elevado pois alguns contratos firmados há mais de um ano, quando o preço da moeda americana era superior a R$ 3,00, ainda estão em vigência, além daqueles firmados entre subsidiárias de empresas multinacionais situadas em diversos continentes, contratos esses denominados de “intercompany sales”. E, adicionalmente, pela atração promovida pela taxa de juros paga pelos papéis brasileiros, observamos a existência de um outro fator que promove a aceleração na queda da taxa de câmbio : a entrada cada vez maior de valores destinados a aplicações financeiras, em vista do fantástico resultado produzido em moeda estrangeira por ditas aplicações. A título de exemplo, caso um detentor de recursos tivesse resolvido trazer dez milhões de dólares para aplicar no Brasil, no final de dezembro de 2004, aquele valor seria convertido em R$ 26.536.000,00. Aplicando esses recursos de forma conservadora, com base unicamente na taxa SELIC, o citado detentor de recursos teria em mãos, no final do mês de setembro de 2005, o montante bruto de R$ 30.239.255,00. Transformando ditos reais em dólares, o valor correspondente seria de US$ 13,594,342.00. Assim sendo, o ganho bruto em moeda norte-americana seria de 35,94% naquele período de nove meses, refletindo um ganho realmente extraordinário, equivalente ao resultado de uma aplicação em um país estrangeiro por um período superior a nove anos. Recorrendo aos ensinamentos do Frei Lucca 2 Pacciolo, mentor do princípio das “partidas dobradas”, verificamos que, se alguém tem um ganho de tal magnitude, alguém tem uma perda de idêntico valor. E este último alguém é a economia brasileira. Assim sendo, sem qualquer dúvida, além do valor obtido com os saldos de nossa Balança Comercial, a entrada de moeda estrangeira com o objetivo de aplicar no mercado financeiro do Brasil é uma das principais razões da valorização do real e, conseqüentemente, da redução das taxas de câmbio que temos observado no mercado de nosso País, com impacto direto sobre os índices inflacionários, vários deles com evolução negativa nos últimos meses. Esse último episódio, à primeira vista, parece interessante. Mas é extremamente desestimulante para aqueles que investem no setor real da economia, com sérias repercussões “a posteriori”. Assim, as negociações de moeda estrangeira no mercado brasileiro, que acontecem de forma cumulativa, vêm transformando as taxas de câmbio em bolas de neve que deslizam ladeira abaixo, cuja velocidade somente poderá ser controlada e revertida caso o Banco Central volte a intervir com firmeza, comprando diariamente grandes volumes de dólares e euros no mercado, ou caso o saldo da Balança Comercial inicie um processo irreversível de redução. Uma outra medida, que seria aquela já anteriormente aplicada no País no final dos anos 60 e no decorrer dos anos 70 do século passado, seria a de retornar ao sistema de câmbio controlado, porém levando em conta os custos comparativos de produção dos principais parceiros comerciais. Mas isso poderia ser considerado um retrocesso, apesar de que a taxa de câmbio hoje vigente, e que deverá ser aquela a ser utilizada para o cálculo do nosso Produto Interno Bruto em dólares, irá gerar um número totalmente desviado da realidade, já que ela tem derivado da negociação de um número não muito elevado de produtos comercializados com o exterior – quando comparado ao total de produtos e serviços gerados pelo restante da economia –, sendo resultado de negociações em um mercado restrito e específico e, portanto, sujeito a manobras especulativas de toda ordem. Basta lembrar que, em meados de agosto do ano passado, a taxa de câmbio R$/US$ era superior a R$ 3,00 e, no final deste mês de setembro, aquele número já chegava a R$ 2,21. Para finalizar, a pergunta que nos resta fazer é a seguinte : até quando as empresas exportadoras do Brasil vão conseguir manter preços atrativos, competitivos, gerando rentabilidade e remuneração adequada aos investidores e, ao mesmo tempo, conseguir sustentabilidade para suas 3 operações com uma taxa de câmbio em queda tão constante e significativa, e que aumenta de forma irrefutável os custos gerados em reais – principalmente os fixos – após a sua tradução para a moeda estrangeira? Será que temos que esperar ainda mais algum tempo para, somente quando houver uma drástica inversão no saldo de nossas transações com o exterior, tentarmos alguma manobra, ou desenvolvermos alguma solução? Ou será que, quando decidirmos fazer algo a respeito, não será demasiado tarde? São Paulo, 29 de setembro de 2005. Paulo de Albuquerque Diretor de Economia e Estatística da ABRACI Diretor de Análise e Estudos Econômicos do Grupo Formitex – São Paulo Membro da Diretoria do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos – DEPECON – da FIESP Membro do Conselho Superior de Economia – COSEC – do Instituto Roberto Simonsen – FIESP Ex-Presidente do Grupo Estratégico de Economia da Câmara Americana de Comércio de São Paulo – AMCHAM Ex-Professor de Economia e Finanças da Universidade Ibirapuera – São Paulo Ex-Professor de Estatística Metodológica da PUC – RS