O suicídio em Angola - Jornal da Saúde Angola

O Caminho do Bem
a saúde nas suas mãos
MINISTÉRIO DA SAÚDE
GOVERNO DA REPÚBLICA DE ANGOLA
jornal
Ano 8 - Nº 79
Fevereiro/Março
2017
Mensal Gratuito
European Society for
Quality Research
Lausanne
Director Editorial: Rui Moreira de Sá
OXFORD
aude
A
da
EUROPE BUSINESS ASSEMBLY
N
G
O
L
A
O suicídio em Angola
Os dados relativos à prática do suicídio foram, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tratados e
analisados, permitindo traçar um retrato da situação no país. Combater um problema que se torna cada
vez mais comum é o objectivo das autoras do estudo. "O livro também ensina os leitores a defenderem-se, a
protegerem-se, a proteger os outros, a ajudarem-se a si próprios e a ajudar os outros", revelam. |Pags.6 a 13
Primeiro estudo
a nível nacional
apresentado
em livro
FAUSTA
DA CONCEIÇÃO
“Se conseguirmos, com a
edição desta obra, evitar um
caso de suicídio que seja, já
será muito bom, porque só o
facto de conseguirmos salvar
uma vida é gratificante para
o resto da nossa existência”
Ordem dos Médicos homenageia
131 profissionais pelo
cumprimento do dever
A Ordem dos Médicos de Angola (ORMED) homenageou 131 médicos que completaram 25 anos de carreira pela sua entrega à saúde e bem-estar das populações.
Na cerimónia – que teve lugar no dia do médico – o bastonário da Ordem, Carlos Alberto
Pinto de Sousa, disse ao Jornal da Saúde que o acto teve “um significado muito importante porque distingue, ao mais alto nível, todos aqueles que tiveram um desempenho
exemplar, que actuaram com profissionalismo e humildade, cumpriram os deveres e
souberam transmitir às novas gerações um legado salutar”. |Pags.3 a 5
Esperança
de vida dos
angolanos
aumentou
50% nas
últimas
décadas
Periodontite:
uma das causas
de perda de dentes
Estima-se que 80% da população adulta,
potencialmente, sofra de doença periodontal. A doença periodontal – enquanto
patologia que afecta os tecidos de suporte
dentário – é, por vezes, negligenciada pela
ausência de informação sobre os sinais e
sintomas que a acompanham. Sendo nas
suas formas menos graves facilmente tratada, quando em estados avançados pode levar à perda de dentes. |Pag.14
No âmbito da boa governação e da liderança
participativa, o ministro
da saúde, Luís Gomes
Sambo, falou recentemente sobre o estado do
sector e revelou que a esperança de vida dos angolanos consta entre os
melhores do continente:
era de 41 anos, em 1990,
passou para 49 anos, em
2000, e, actualmente, é
de 61 anos.
A mortalidade infantil
que, em 1990, era de 258
óbitos por mil nascidos
vivos, melhorou para
158 por mil, em 2007, e
hoje é de 44 óbitos por
mil nascidos vivos.
A conferência de imprensa completa do ministro Gomes Sambo
pode ser acedida em
www.jornaldasaude.org
2 OPINIãO
Fevereiro/Março 2017 JSA
QUADRO DE HONRA
Rui MoReiRa de Sá
Director Editorial
Empresas Socialmente
Responsáveis
[email protected]
O Jornal da Saúde chega gratuitamente
às suas mãos graças ao apoio das seguintes empresas e entidades socialmente
responsáveis que contribuem para o bem-estar
dos angolanos e o desenvolvimento sustentável
do país.
Depressão e suicídio
de mãos dadas
De acordo com uma recente mensagem da directora regional da
Organização Mundial da Saúde (OMS) para África,Matshidiso Moeti, por ocasião do Dia Mundial da Saúde (7 de Abril), cerca de 322
milhões de pessoas no mundo são afectadas pela depressão, considerada umas das principais causas de incapacidade a nível mundial,
e um dos factores que contribuem para o fardo mundial de doenças. Na região africana, são perto de 30 milhões de pessoas.
A depressão é uma das principais causas das mortes por suicídio,
aproximadamente 800 mil por ano.É,aliás,a segunda principal causa
mundial de morte em jovens dos 15 aos 29 anos. Em Angola, em
2014 e no primeiro semestre de 2015, registou-se um total de 783
casos, dos quais 85% são homens, com Luanda à cabeça, seguida de
perto pela Huíla.
A depressão afecta pessoas de todas as idades, de todos os quadrantes e em todos os países. O estigma e o receio do isolamento
social são obstáculos à procura de ajuda,existindo uma necessidade
premente de prevenir e tratar as pessoas atingidas por este grave
e complexo problema de saúde.
Sem tratamento,a depressão pode ser recorrente,duradoura,prejudica a capacidade de um indivíduo para lidar com as actividades
diárias, e pode ter consequências devastadoras para o relacionamento com a família e os amigos.
Nem de propósito, os dados relativos à prática do suicídio em Angola foram agora, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tratados e analisados.Este trabalho de elevado valor científico,reunido
em livro lançado este mês em Luanda,da autoria de Fausta Conceição, Luísa Assis, Edite Neves e Rosária Neto, permite traçar um retrato da situação no país e combater um problema que se torna cada vez mais comum. Os transtornos psíquicos, como a depressão,
a esquizofrenia, o consumo de álcool e outras drogas, ou o transtorno bipolar estão entre as principais causas de suicídio no nosso
país, mas a estas juntam-se motivos como “a existência de problemas financeiros e passionais”, entre outros.
A ler nesta edição.
FICHA TÉCNICA Conselho editorial: Prof. Dr. Miguel Bettencourt Mateus (coordenador), Dra. Adelaide Carvalho, Prof. Dra. Arlete Borges,
Enf. Lic. Conceição Martins, Dra. Filomena Wilson, Dra. Helga Freitas, Dra. Isabel Massocolo, Dra. Isilda Neves, Dr. Joaquim Van-Dúnem, Dra. Joseth de Sousa, Prof. Dr. Josinando
Teófilo, Prof. Dra. Maria Manuela de Jesus Mendes, Dr. Miguel Gaspar, Dr. Paulo Campos.
Director Editorial: Rui Moreira de Sá
[email protected];
Redacção: Susana Gonçalves (edição); Cláudia Pinto; Francisco Cosme dos Santos.Correspondentes provinciais: Elsa
Inakulo (Huambo); Diniz Simão (Cuanza Norte); Casimiro
José (Cuanza Sul); Victor Mayala (Zaire)
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Fotografia: Jorge Vieira.
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DIA DO MÉDICO 3
Fevereiro/Março 2017 JSA Bastonário Carlos Alberto Pinto de Sousa
“Homenageamos os
médicos que actuaram
com profissionalismo e
humildade, cumpriram
os deveres e tiveram um
desempenho exemplar”
Francisco cosmE Dos santos
Ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo “Os médicos
dedicam a vida
ao serviço da
humanidade”
n A Ordem dos Médicos de
Angola (ORMED) homenageou 131 médicos que completaram 25 anos de carreira
pela sua entrega à saúde e
bem-estar das populações.
Na cerimónia – que teve lugar no dia do médico, a 26
de Janeiro, em Luanda – o
ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, sublinhou que
“todos os médicos devem fidelidade à profissão e, como
sempre, têm que dedicar as
suas vidas ao serviço da humanidade”.
Disse ainda que têm
também que exercer a profissão com consciência e
dignidade, colocar a saúde
do doente acima de qualquer interesse, a obrigação
de preservar a vida humana,
o dever de pôr os conhecimentos científicos e as tecnologias de saúde com toda
a lealdade ao serviço dos
doentes.
O dirigente acrescentou
que os profissionais de saúde devem ter a capacidade e
a honestidade para conhe-
cerem os seus limites, e
aceitar chamar outros médicos, com mais qualificação ou mais experientes,
sempre que necessário.
No dia em que a Ordem
dos Médicos de Angola
completou o seu 27º aniversário, o ministro lembrou à
classe médica que prestar
assistência a um doente em
estado grave nos serviços de
urgências é um dever humanitário.
Gomes Sambo fez menção ao código internacional
de ética médica de 1949. Este documento determina
que o médico deve manter o
mais alto nível de conduta
profissional e não permitir
que a ganância ou lucro influenciem o exercício livre
da medicina, independentemente do seu juízo profissional sobre os doentes. E,
ainda, que o médico deve
tratar os colegas e os doentes com honestidade e denunciar os que possuem carácter inadequado e deficiente, no que diz respeito a
competência, sobretudo os
que ocorrem em fraudes ou
engano.
Humanização dos serviços
O governante convidou todos os médicos para considerarem a humanização
dos serviços de saúde como
parte da agenda de trabalho. Com vista a melhorar o
comportamento de vários
médicos e as respectivas tomadas de decisões em relação à profissão, aconselhou
a pautarem sempre a sua
conduta pelo juramento de
Hipócrates, código internacional de ética médica e outros manuais como principais guias.
No certame, o titular da
pasta da saúde felicitou o
bastonário da Ordem dos
Médicos, e os que lhe antecederam, pelos progressos
realizados em matéria de
organização interna da Ordem e pelas suas contribuições decisivas para a edificação do Serviço Nacional
de Saúde.
com rUi morEira DE sÁ
n Na cerimónia de homena-
gem aos médicos que completaram 25 anos de carreira
- que teve lugar no dia do
médico, a 26 de Janeiro, em
Luanda – o bastonário da da
Ordem dos Médicos de Angola (ORMED), Carlos Alberto Pinto de Sousa, disse
ao Jornal da Saúde que o acto teve “um significado muito importante porque distingue, ao mais alto nível, todos
aqueles que tiveram um desempenho exemplar, que
actuaram com profissionalismo e humildade, cumpriram os deveres e souberam
transmitir às novas gerações
um legado salutar”.
No quadro do lema adoptado este ano “Trabalhar para humanizar o atendimento”, Carlos Pinto de Sousa
lembrou aos médicos o seu
papel fundamental na humanização, que passa também pelo contacto com os
pacientes e suas famílias. “A
classe é incentivada a nunca
esquecer que, para ser médico, é preciso pensar, primeiro que tudo, nos doentes
e, consequentemente, não
permitir a existência de brechas no edifício moral desta
profissão, construída ao longo de vários anos”.
O bastonário garantiu
que a Ordem vai continuar a
pugnar no sentido dos médicos, integrados em equipas de saúde, exercerem a liderança decorrente do mérito e da prova irrefutável da
sua competência. “A Ordem
defende, preconiza e estimula o papel primordial dos
médicos junto das popula-
ções e promove constantemente uma aproximação a
outras associações de profissionais”.
A instituição assume ainda o compromisso de contribuir, de forma inequívoca,
para a execução das acções
de saúde que as políticas públicas definam como prioritárias no âmbito da saúde no
país.
O bastonário Pinto de
Sousa defendeu ainda que
“os médicos devem valorizar os novos conceitos que a
medicina defende, ou seja,
permanente e actuante profissionalismo, adaptando-se
à realidade sem ferir os valores fundamentais que constam no código deontológico
da profissão médica”.
Não obstante a medicina,
nas últimas cinco décadas,
ter sofrido transformações
significativas motivadas pela evolução científica e tecnológica, e também pelos
padrões nosológicos, e de se
observarem novos paradigmas evolutivos marcados
pela ramificação da medicina em especialidades médi-
cas e áreas de actuação, “a
profissão de médico continua baseada no juramento
hipocrático dos pontos de
vista formal e substancial”,
lembrou.
“O que vale dizer que
continua a valorizar-se a relação médico-doente, na
sua dimensão holística e humanista, cujo conteúdo ultrapassa a ideia utilitarista
da profissão”, sublinhou.
De acordo com Pinto de
Sousa, “o compromisso dos
médicos assume a responsabilidade consciencializada face aos doentes e às
doenças, a liberdade de
prescrição dentro dos limites impostos do código ético-deontológico, a verticalidade de procedimentos,
portanto não vulneráveis a
interesses mercantilistas e
sem prejuízo da sua dignificação social e material, humildade intelectual que é
exigida pela grandeza dos
que reconhecem a necessidade de actualização científica permanente e solidariedade para com os colegas”,
concluiu.
4 DIA DO MÉDICO
Instituto Nacional de Sangue
“Somos dos primeiros médicos a exercer
medicina no período
pós-independência
em Angola”
Menezes Pedro
Freitas
Pediatra
Faculdade de Medicina
da Universidade
Agostinho Neto
Hospital Municipal
do Bailundo, Huambo
Para mim, esta homenagem
significa, em primeiro lugar,
o reconhecimento do esforço
empreendido nos estudos,
dado que não foi fácil, no passado, fazer uma licenciatura
em medicina. Em segundo
lugar, um grande reconhecimento do contributo dado ao
sector de saúde e o trabalho
que prestei às populações
que precisavam dos cuidados sanitários desde o início
e durante toda a minha carreira médica no país.
Os principais desafios
que enfrentei foram a adaptação repentina a que tive de
me sujeitar devido aos trabalhos que desenvolvi em
condições adversas. No início, durante os estudos, já
havia muitas dificuldades,
pois faltavam livros, computadores, energia eléctrica…
Após a formação, trabalhávamos com o que era possível, porque não tínhamos
outras alternativas e também éramos os primeiros
médicos a exercer a medicina no período pós-independência em Angola.
“Integro o grupo de
médicos que enfrentaram muitas dificuldades para se formarem”
Eunice Manico
Faculdade de Medicina, da
Universidade Agostinho Neto
Chefe do departamento da
promoção e gestão de dadores de sangue
Esta homenagem tem um
significado extremo que me
deixa bastante orgulhosa.
Na realidade, integro o grupo de médicos que enfrentaram muitas dificuldades para se formarem. Considero
assim uma grande batalha
chegarmos até este dia que
consagra os 25 anos de carreira de vários edificadores
da medicina no país.
Os principais desafios
que enfrentei ao longo do
exercício da medicina foram
muito difíceis, desde a falta
de cultura, por parte dos angolanos, quanto à necessidade e valor da doação de
sangue, o que tem sido uma
luta constante para salvar vidas, entre outros reptos que
que o tempo apagou…
Um caso de sucesso na
minha carreira consistiu na
formação que fiz para me
tornar especialista, após longos anos à espera desta especialidade.
“Pode-se melhorar a
saúde se todos os profissionais primarem
pela humanização e
olharem os pacientes
com zelo e muito
amor”
Elisa Gaspar
Faculdade de Medicina do
Instituto Superior de Ciências Médicas na ex-URSS
Pediatra-neonatologista e
coordenadora do núcleo do
aleitamento materno
Maternidade Lucrécia Paim
Esta homenagem tem um
grande significado porque
vem lembrar o que representaram para mim estes 25
anos de exercício de medicina. Na verdade, foram muitas as vitórias no processo de
aquisição de mais conhecimentos ao longo da profissão: fiz dois mestrados em
saúde materna infantil no
Brasil, e de saúde pública em
Espanha, e vários outros cursos, entre os quais o de formação de formadores em
três etapas (Angola, Singapura e Cabo Verde) para o
melhoramento dos programas a nível da África.
Os principais desafios
Fevereiro/Março 2017 JSA que enfrentei foram a falta
de equipamentos e de tecnologia em geral. Quando
regressei ao país, não existiam os quadros que temos
actualmente. Éramos três
médicos que trabalhávamos
no berçário da maternidade.
Após o falecimento de um,
tivemos de fazer incontáveis
sacrifícios para garantir a assistência de muitas crianças
que nasciam diariamente.
Um caso de sucesso que
realço foi, por coincidência,
relacionado com um familiar: a minha tia abortava frequentemente, sem querer.
Foi assim hospitalizada, durante cerca de dois meses,
para poder ter, finalmente,
um bebé. Acompanhei-a em
permanência. Como médica, após o serviço ia a casa
apenas para trocar de roupa
e regressava de imediato para cuidar dela. Quando deu
à luz foi uma alegria e não
me ausentei sem que ela recebesse o título de alta!
Pode-se melhorar a saúde se todos os profissionais
primarem pela humanização dos serviços, olhando os
pacientes com zelo e muito
amor.
“Durante toda a vida,
empenhei-me para
que muitas mulheres
conseguissem ter
uma gravidez sem riscos e filhos saudáveis”
Augusta Leonel
Faculdade de Medicina
da Universidade
Agostinho Neto
Gineco-obstetra
Clínica Girassol
Esta homenagem tem para
mim um significado de extrema importância, porque
já passaram 25 anos desde
que me formei e, ao longo
deste período, dei o meu
melhor em prol da saúde
dos angolanos. Agradeço à
Ordem dos Médicos de Angola por esta louvável iniciativa de reconhecimento a
todos os profissionais que se
dedicaram inteiramente ao
exercício da medicina no
país.
Os principais desafios
que enfrentei na carreira fo-
ram, por um lado, aplicar na
prática tudo que tinha
aprendido na formação académica, e, por outro, empenhar-me cada vez mais para
que muitas mulheres conseguissem ter uma gravidez
sem riscos e filhos saudáveis.
Entre outros casos de sucesso, destaco os episódios
de várias mulheres que não
conseguiam terem filhos,
com histórias de fertilidade
difíceis, e ter conseguido
tratá-las com êxito. Inclusive, houve muitas mães que
atribuíram o meu nome aos
seus filhos pelo reconhecimento do meu trabalho.
Pode-se melhorar a saúde apostando na formação
de quadros e investindo
neste sector, priorizando-o,
de forma a desenvolvê-lo.
“O desafio mais gratificante foi a contribuição permanente
para a melhoria da
saúde da população
angolana”
Ana Ruth Luís
Faculdade de Medicina da
Universidade Agostinho Neto
Directora dos serviços
de saúde da Chevron
para África Austral
Chevron Angola
Esta homenagem tem um
grande significado porque é
um reconhecimento merecedor, de um trabalho longo,
com grandes dificuldades
enfrentadas na formação.
Entre os principais desafios encarados, sublinharia a
defesa do curso em 1992,
quando o país estava em
conflito armado e eu tive
que defender a tese numa
correria total, devido à guerra que assolava a capital. Outros desafios que não foram
nada fáceis consistiram na
minha especialização, o
mestrado, e – a mais gratificante – a responsabilidade
que suportamos, até ao presente momento, de contribuirmos para a melhoria da
saúde junto a toda a população angolana.
Casos de sucessos são
inúmeros: as vidas que salvei, doentes que consegui-
DIA DO MÉDICO 5
Fevereiro/Março 2017 JSA ram restabelecer a sua condição de saúde e, modéstia à
parte, a minha nomeação
como directora dos serviços
de saúde da Chevron para a
África Austral, entre outros
que foram ganhos no decorrer da carreira profissional e
de que já não me lembro.
Pode-se melhorar a saúde revendo primeiramente
a qualidade da formação
dos médicos. Na realidade, a
medicina é uma profissão e
uma carreira que requer
constantes atualizações.
Destacaria ainda a educação
da população, no sentido de
pautarem os seus comportamentos sempre pela prevenção, dando a conhecer
as doenças que existem e como podem ser prevenidas.
crescimento da Ordem e
contribuíram bastante para
o desenvolvimento da saúde
– que continua a ter progressos significativos.
Os principais desafios
que enfrentei não fogem do
contexto que se vivia na altura em que me formei. A fase
em que comecei a desempenhar a medicina era uma
época difícil, quer para a formação, quer para o exercício
da profissão. Acresce que,
logo após a conclusão do
curso, decidi servir o exército e ingressei nas FAPLA.
O facto de ter ingressado
na Faculdade com uma idade inferior a 18 anos e estar
formado antes dos 25 anos
de idade, sem nenhuma reprovação, constituiu, para
mim, um caso de sucesso. E
também ter feito parte do leque de médicos que edificaram e primaram para o desenvolvimento da medicina
em Angola, para além da
formação de especialização
em oftalmologia no exército.
Pode-se melhorar a saúde com bastante trabalho,
garantindo condições a todos os níveis, no sentido de
haver mais dedicação e empenho por parte dos profissionais.
“Pode-se melhorar a
saúde procedendo à
capacitação contínua
dos médicos e dos técnicos que integram as
equipas”
Pedro Gaspar
Faculdade de Medicina
da Universidade Agostinho
Neto
Director da saúde
da Ingombota
Repartição da Saúde
da Ingombota
“Faço parte do leque
de médicos que edificaram e primaram
para o desenvolvimento da medicina
em Angola”
Francisco Sica
Faculdade de Medicina Universidade Agostinho Neto
Oftalmologista
Marinha de Guerra
Esta homenagem significa o
grande reconhecimento de
todos que acompanharam o
Esta homenagem tem um
significado importantíssimo na minha carreira, pois
trata-se de um gesto que me
orgulha bastante como médico que sou.
O principal desafio que
enfrentei consistiu basicamente em ter exercido a
profissão em condições adversas nas unidades sanitárias, com falta medicamentos, de material gastável, de
equipamentos, entre outros
problemas de vária ordem –
situação que, entretanto,
melhorou.
Pode-se melhorar a saúde em vários aspectos. Desde o nível institucional à capacitação contínua dos médicos e de tantos outros
técnicos que integram as
equipas que dão um contributo significativo ao sector.
“Partos impossíveis
por via natural, realizaram-se com sucesso por cesariana. Hoje, essas crianças são
adultos saudáveis e
contribuem para o
desenvolvimento
socioeconómico
do país”
KirinoTchivanja
Faculdade de Medicina da
Faculdade Agostinho Neto
Ginecologista
Maternidade Lucrécia Paim
Esta homenagem tem um
significado bastante valioso,
não só para mim, mas para
todo grupo que se formou
com tanta determinação em
1992, e que vem contribuindo significativamente para
o desenvolvimento do sector da saúde no país.
Os principais desafios
que enfrentei foram sempre, e continuam a ser, os
cuidados que tenho dedicado às mulheres que acorrem ao hospital, com zelo e
dedicação.
São inúmeros os casos de
sucessos que obtive na minha carreira. Os que mais
me marcaram foram os partos impossíveis de serem
feitos por via natural, apenas por cesariana, e com o
fruto do nosso trabalho realizaram-se com muito sucesso. Hoje, estas crianças já
atingiram a idade adulta,
gozam de boa saúde, e contribuem para o desenvolvimento socioeconómico do
país, em diversas esferas da
vida pública.
Pode-se melhorar a saúde exigindo-se um grande
esforço de toda sociedade.
Em primeiro lugar, o saneamento básico tem de funcionar. Em segundo lugar,
deve-se garantir o fornecimento de água potável para
todos, de forma a evitaremse inúmeras doenças adquiridas por ingestão de águas
não tratadas.
“Nas primeiras jornadas de vacinação tivemos de percorrer localidades minadas,
com vias intransitáveis, mas com esforço
e dedicação conseguimos atingir coberturas elevadíssimas”
Miguel dos Santos
de Oliveira
Universidade de Sinforoso na
Crimeia, República da Ucrânia, ex-URSS
Director Nacional de Saúde
Pública
Esta homenagem constitui
um marco de extremo significado que me faz reflectir
imenso. Demostra o empenho que tive pelos estudos,
o sacrifício empreendido
ao longo destes 25 anos de
carreira que contribuíram
bastante para o bem-estar
das populações.
O principal desafio que
enfrentei consistiu na
adaptação à realidade no
país, após a minha formação ao longo de anos no exterior, designadamente às
condições de trabalho que
encontrei nas províncias
durante a guerra, quando
tínhamos como missão levar a saúde junto das populações. Outro repto que me
lembro foi durante as primeiras jornadas de vacinação. Tivemos de percorrer
localidades minadas, com
vias intransitáveis. Foi
grande o esforço e dedicação, mas conseguimos
atingir coberturas elevadíssimas.
Casos de sucesso são vários: as nomeações como
director hospitalar, direcção provincial da saúde, a
abertura de várias unidades sanitárias em Luanda, a
formação e recolocação
dos quadros do interior.
Pode-se melhorar a saúde trabalhando cada vez
mais, apostando fortemente na formação de técnicos,
e não considerar que a saúde se trata apenas nos hos-
pitais, mas sim antes, a nível da prevenção.
“No início da carreira
deparei-me com situações muito complexas nos hospitais,
as quais só foram ultrapassadas com o espírito de equipa e ajuda mútua entre os
profissionais”
AlbinoTeixeira
Faculdade de Medicina da
Universidade Agostinho
Neto
Director da Clínica da Marinha de Guerra Angolana
Marinha de Guerra
Esta homenagem é o reconhecimento do trabalho árduo que fiz nestes 25 anos
de carreira médica. Como
militar que sou, tive de desempenhar a profissão em
épocas de guerra, o que foi
muito difícil, visto que estava no início de carreira e deparava-me com inúmeras
situações muito complexas
nos hospitais, as quais só foram ultrapassadas com o
espírito de equipa e ajuda
mútua entre os profissionais.
No período de guerra havia muitos feridos para serem assistidos, os recursos
eram poucos, como a falta
de medicamentos, matérias
gastáveis…O que nos fazia
resistir naquela altura, e que
falava mais alto perante várias situações calamitosas,
era o patriotismo.
Um dos casos de sucesso
na minha carreira foi a especialização em cuidados intensivos no Brasil e administração hospitalar na Universidade Nova de Lisboa, o
que me tornou num médico
polivalente.
Pode-se melhorar a saúde investindo fortemente no
sector, principalmente na
saúde preventiva. Deve haver uma maior mobilização,
porque é do conhecimento
de todos a nossa população
é maioritariamente analfabeta. É preciso mais educação sanitária. E, também,
melhorar as condições dos
hospitais, comissões técnicas e a formação contínua
dos profissionais.
Bial Angola
patrocinou
a gala
A Bial patrocinou a gala de homenagem aos
médicos pelos seus
25 anos de carreira.O
seu director emAngola,Nuno Cardoso,
disse ao JS que foi uma
honra para a farmacêutica poder associar-se ao merecido
reconhecimento aos
médicos pela sua entrega à saúde e bemestar das populações.
A Bial actua em cinco
áreas terapêuticas,designadamente a antibioterapia,maternidade,sistema nervoso
central,laringologia e
a dor.Entre os principais produtos que disponibiliza,salientamse o Clavamox,Tricef,
Uroflox,Sedoxil,Folicil,Folifer,Yodafar,Rinialer,Reumon,e o
Rantudil.
Sem revelar mais detalhes,este responsável revelou que a Bial
vai lançar,até Junho,
um novo produto que
vem satisfazer uma
grande necessidade
emAngola.
“O momento perturbador no fornecimento dos medicamentos
já foi ultrapassado,o
grupo está optimista e
acredita que 2017 e
2018 serão anos de
progresso,devido à
regulamentação e organização da esfera
farmacêutica,fruto
dos esforços do executivo”,concluiu.
6 SAÚDE MENTAL
Fevereiro/Março 2017 JSA
Primeiro estudo a nível nacional apresentado em livro
O suicídio
em Angola
Os dados relativos à prática do suicídio foram, pela primeira vez, recolhidos a nível nacional, tratados e analisados, permitindo traçar um retrato
da situação no país. Combater um problema que se torna cada vez mais
comum é o objectivo das autoras do estudo.
SuSana GonçalveS
n Preocupadas com o aumento do número de casos
de suicídio de que começaram a ter conhecimento,
quatro especialistas angolanas em saúde mental decidiram analisar mais profundamente o fenómeno, procurando explicações para o
facto de cada vez mais pessoas optarem por terminar
com a própria vida e, sobretudo, para encontrarem formas para tentarem impedir
novos casos. O resultado
deste trabalho, da autoria de
Fausta Conceição, Luisa Assis, Edite Neves e Rosária Neto, é o livro O Suicídio em Angola, recentemente lançado
em Luanda.
Conscientes de que nem
todos os casos de suicídio
podem ser evitados, estas especialistas sabem que a habilidade em lidar com eles,
assim como saber identificar
sinais de alarme, pode fazer
toda a diferença. Com esta
obra pretendem, também,
fornecer ferramentas para
que, além dos profissionais
“Os transtornos
psíquicos, como a
depressão, a
esquizofrenia, o
consumo de álcool e
outras drogas, ou o
transtorno bipolar, por
exemplo, estão entre
as principais causas de
suicídio, mas a eles
juntam-se motivos
como “a existência de
problemas financeiros
e passionais”
de saúde, também o cidadão
comum consiga identificar
um potencial suicida e intervir de forma a evitar que
cumpra a sua decisão.
“Não é assim tão complicado tentar prevenir o suicídio”, afirma a psiquiatra
Fausta Conceição, autora e
também coordenadora de
Suicídio em Angola. Ao Jornal da Saúde explicou que,
“em primeiro lugar, é preciso
aprender a reconhecer os
pedidos de ajuda que, geralmente, são desvalorizados. É
a partir desses pedidos de
ajuda que podemos actuar”.
E exemplifica, “se alguém
diz, ‘Não aguento, estou farto
da vida’, só o simples facto de
o dizer já deve ser uma chamada de atenção. Ninguém,
no seu estado normal, está
‘farto da vida’. Todos sabemos que a vida tem altos e
baixos e conseguimos gerilos sem pensar em suicídio”.
Porém, não basta conseguir
detectar uma situação de perigo. “É preciso saber como
actuar”, sublinha a psiquia-
tra. E, com esse objectivo, o
livro agora lançado inclui “algumas indicações de formas
como podemos ajudar. É escrito de forma muito sucinta,
não é cansativo. Se fosse um
texto muito exaustivo, as pessoas poderiam não seguir a
leitura. Penso que está interessante porque há vários tópicos e, cada tópico ensina
uma coisa. Ensina os leitores
a defenderem-se, a protegerem-se, a proteger os outros,
a ajudarem-se a si próprios e
a ajudar os outros. Torna
possível intervir em situações no seio familiar, entre
amigos, no meio profissional”. É um livro escrito para
profissionais? “Não. É um livro instrutivo que pode ser lido por quem o desejar”, afirma a autora.
No entanto, a publicação
tem ainda um outro objectivo mais específico. “Este livro
foi feito para ser utilizado em
futuros estudos, em Angola”,
revela. “Um dos problemas
que enfrentamos no país é a
inexistência de bibliografia
para comparação. Não podemos fazer estudos empíricos baseados em bibliografia
de outros países. Os estudos
têm de começar a ser feitos
aqui. Nesse sentido, usámos
um questionário que deverá
ser utilizado em futuras recolhas, para que os dados estejam mais esquematizados.
Tivemos algumas dificuldades nesse aspecto porque
havia muitas omissões em
relação a muitos dados que
deveriam ser referidos e não
foram”, lamenta, acrescen-
8 SAÚDE MENTAL
tando que “todo o livro é baseado em factos reais, apurados através dos dados recolhidos com a ajuda da polícia, em todas as províncias
do País.”
Causas, métodos
e prevalência
Analisados os dados disponíveis, as autoras do livro
concluem que os casos de
suicídio em Angola não se
distinguem muito da generalidade dos casos de outras
latitudes no que diz respeito
a causas e métodos utilizados ou à prevalência em relação ao sexo ou idade.
Os transtornos psíquicos,
como a depressão, a esquizofrenia, o consumo de álcool e outras drogas, ou o
transtorno bipolar, por
exemplo, estão entre as principais causas de suicídio,
mas a eles juntam-se motivos como “a existência de
problemas financeiros e passionais”, por exemplo.
A época de crise económica que vivemos está directamente ligada ao aumento
do número de casos de suicídio, defende Fausta Conceição. “A crise de que tanto se
fala leva ao suicídio. Às vezes,
as pessoas sentem-se desprezadas ou fora de um determinado circuito social
porque não conseguem conquistar as vitórias que outros,
à sua volta, conseguem. Essa
sensação de fracasso leva-as
a olhar para o futuro sem encontrarem uma saída” e, como acontece em todo o
mundo, também aqui o suicídio se apresenta como
uma “solução final”.
Há, no entanto, uma causa bem específica de Angola:
“as acusações de feiticismo,
que ainda persistem no País”
e que estão na origem de
muitos casos.
Os métodos utilizados
também não diferem muito
dos que são mais utilizados
em todo o mundo. “O mais
frequente, no nosso meio, é
a asfixia por enforcamento sobretudo no caso dos homens - enquanto que nos
países nórdicos e europeus
o método mais comum é o
recurso à arma de fogo. Mas
também temos casos de afogamento, de precipitação no
vazio, de intoxicação por
medicamentos ou venenos
e atropelamentos provocados pelas próprias vítimas”,
enumera a psiquiatra.
Em Angola, tal como no
resto do mundo, o número
Fevereiro/Março 2017 JSA
de homens que se suicidam
é muito superior ao das mulheres. “Os homens matamse, as mulheres experimentam”, afirma a especialista.
“Na maior parte dos casos, a
mulher não tem a intenção
de se matar mas, muitas vezes, tal acaba por acontecer.
E, claro, também existem os
casos das mulheres que estão mesmo decididas a morrer. Mas, na maior parte dos
casos, a intenção não é essa.”
Já em relação às faixas
etárias em que se registam
mais casos, também não há
diferenças substanciais em
relação aos indicadores internacionais, sendo mais comum na chamada meiaidade, época em que as pessoas enfrentam problemas
como a perda de emprego,
por exemplo. Porém, a coordenadora de O Suicídio em
Angola destaca os casos nacionais protagonizados por
crianças que, e apesar da sua
prática médica de muitos
anos, não deixam de sensibilizá-la, como o caso de
uma menina de nove anos, e
que explica através das “situações de precocidade que
podem levar a este desfecho.
Há pais que não têm muitas
condições para oferecer aos
filhos que, desde pequenos
têm as responsabilidades de
um adulto. A mãe e o pai vão
para a lavra trabalhar e
aquela criança fica a tomar
conta da casa e dos irmãos
mais novos. Esta situação
provoca um amadurecimento precoce, pois ela passa a pensar como um adulto.
Não tem idade para isso.
Tem idade para ficar a brincar. Ela vê os amigos a brincarem e não pode fazer o
mesmo…”
A opção por colocar um
fim à própria existência não
afecta mais ou menos uma
determinada classe social.
Apesar da falta de dados relativos a este aspecto, não se
pense que uma vida mais
abastada pode ajudar a evitar a decisão. “Temos muitos
casos que revelam que, nas
classes sociais mais elevadas
há tendência para recorrer
ao suicídio e falamos de alguns casos no livro, nomeadamente de ex-ministros e
ministros angolanos que o
praticaram”, revela a autora.
De Luanda ao Kuando
Kubango
Os dados recolhidos pelas
autoras permitem perceber
que as províncias que apresentam o maior número de
suicídios são Luanda, Huíla
e Cuanza Sul. A província do
Namibe é a que tem o menor número de casos e não
há registo de cometimentos
na província do Cuando Cubango.
“Temos muitos casos em
Luanda e muitos casos na
Huíla. No entanto, eu diria
que a taxa será maior na
Huíla, já que Luanda é a província mais pequena mas é
a que concentra uma maior
população. Se compararmos com a Huíla, que é uma
província maior mas com
uma população muito menor, a percentagem de casos
nesta região chega a ser superior. E não é o número
que conta, é a percentagem”,
afirma a especialista, avançando com uma possível explicação: “No Huambo, de
uma forma geral, as pessoas
são muito púdicas e conservadoras. O mínimo deslize,
o mínimo insulto, assume
Suicídio em Angola
Luanda e Huíla à frente do pelotão
2014 / 2015 (1º semestre)
PROVÍNCIA
Cabinda
Zaire
Uíge
Cuanza Norte
Bengo
Luanda
Malange
Lunda Norte
Lunda Sul
Cuanza Sul
Benguela
Huambo
Bié
Moxico
Huila
Namibe
Cunene
Total
HOMENS
12
4
11
22
7
134
38
21
44
42
53
63
34
26
110
4
37
662
MULHERES
4
0
2
3
0
25
5
3
11
12
6
10
4
11
12
2
11
121
"Na maioria das
vezes, a tentativa
de suicídio é,
na verdade, um
pedido de ajuda"
enormes proporções. Não
encaram bem uma situação
que os envergonhe.”
O perigo do preconceito
Apesar de poder ameaçar
qualquer um, o suicídio
continua a ser um tema tabu
e, “pela natureza do acto, as
pessoas preferem ignorá-lo”.
Muitas vezes, as famílias
nem sequer comunicam
que houve um suicídio.
Acontece os médicos pedirem ajuda no seio familiar e
perceberem que ninguém
se tinha apercebido da existência do problema. “Mas
todos nós, que lidamos com
esta situação e no campo da
saúde mental, sabemos que
há repercussões, no futuro,
para o resto da família. Uma
das primeiras perguntas
que fazemos sempre aos pacientes são os seus antecedentes familiares e se houve
algum suicídio, ou tentativa,
na família, mas eles escondem e ignoram esse facto.
Ainda há os que conseguem
contar as situações, mas são
uma minoria”, diz a especialista.
Detectar para tratar
e prevenir
Na esmagadora maioria das
situações a tentativa de suicídio é, na verdade, um pedido de ajuda. Tal como
acontece em todo o mundo,
“podemos dizer que há uma
percentagem mínima de
tentativas que culminam
em suicídio”, defende Fausta
Conceição, alertando para a
importância de denunciar
estes casos. “Se forem tentativas que cheguem ao nosso
conhecimento conseguimos trabalhar esses casos
de forma a tentar evitar que
se repitam. Nestes casos, defendo que é mandatário o
internamento, para podermos prevenir toda e qualquer situação.”
Defendendo que é possível tratar casos de depressão
que poderão culminar em
suicídio, Fausta Conceição
afirma que quem conhecer
bem o que é uma depressão,
os seus vários tipos e sintomas, pode tratá-la. “Nós estamos aptos a tratar de todo
e qualquer transtorno da
nossa área.
Só não trata aquele que
não conhece a real situação
do paciente. Mas é preciso
saber distinguir as situações”, diz, referindo ainda
que “quem faz o bom médico é o bom paciente” e explicando que, por vezes, é preciso levá-lo a tomar a consciência de que está doente
para que “seja mais fácil tratá-lo, porque reconhece que
necessita de ajuda e segue a
medicação prescrita”.
E foi com o objectivo de
ajudar que as quatro autoras
se dedicaram à escrita desta
obra. Agora, que chegou aos
escaparates, Fausta Conceição expressa o seu desejo:
“Se conseguirmos, desta
forma, evitar um caso de
suicídio que seja, já será
muito bom, porque só o facto de conseguirmos salvar
uma vida é gratificante para
o resto da nossa existência.”
Fevereiro/Março 2017 JSA
9
Fausta
Conceição
Paixão pela
psiquiatria
Casos “exclusivos”
de Angola
n Fausta Conceição destaca,
entre as causas de suicídio,
uma situação muito concreta
que ocorre na província da
Huíla e que é “uma daquelas
situações que encontramos
quando exploramos as tradições e a cultura de um país
com 18 províncias, cada qual
com hábitos, costumes e até
línguas e dialetos, diferentes.
Na Huíla existe um ritual que
se chama “coi” e que acontece quando existe uma traição
amorosa levada a cabo pela
mulher. O marido, ao aperce-
“Na Huíla existe um
ritual que se chama
“coi” e que
acontece quando
existe uma traição
amorosa levada a cabo
pela mulher”
ber-se que foi traído, reúne as
famílias, a sua, a da mulher e
a do prevaricador. Depois de
uma reunião, a que chamam
‘amigável’, e em que está presente o soba da região, é decidida a multa que o traidor
terá de pagar. Por norma, a
multa será paga em cabeças
de gado. O marido, sabendo
que o rival não conseguirá
pagar um valor elevado, exige uma multa exorbitante.
Tudo isto é determinado,
com prazos e regras muito
bem estabelecidos. O traidor,
sem capacidade para proceder ao pagamento, à medida
que vê os dias passarem e
percebe que não vai ser capaz de honrar o castigo, opta
por suicidar-se. Escolhe este
acto para não ficar envergonhado e para não envergonhar o seu povo. É uma questão de honra.”
Ao conversarmos com Fausta Conceição transparece a paixão com que fala da sua missão como médica psiquiatra. Confessa que escolheu esta especialidade porque “na altura, não tínhamos psiquiatras. Havia o Dr. Rui Pires e a Dra. Natália do
Espírito Santo. Quem cuidava dos doentes eram os
enfermeiros. Era a especialidade com maior estigma e continua a ser estigmatizada. Não só os doentes o são… a instituição é estigmatizada e o profissional da instituição é estigmatizado”. O seu lado
humano, no entanto, terá pesado profundamente
nesta escolha.“Os doentes psiquiátricos são muito
desprezados e, se não tiverem alguém que lhes dê
carinho as coisas não melhoram. Um dos motivos
que me leva a gostar da psiquiatria é poder defender os mais fracos.Adoro isto!”
Não baixar os braços
A injustiça a que esta especialidade parece votada
leva-a a não baixar os braços na defesa dos seus pacientes:“Ao longo destes anos vimos que todos os
hospitais passaram por remodelações e a psiquiatria foi ficando sempre para trás. Outros hospitais
têm condições, a psiquiatria não tem. Às vezes, há
‘guerras’ e há quem pense que vou desistir. Não desisto da psiquiatria! Como especialista vou fazer jus
àquilo que aprendi, àquilo que estudei.Vou ensinar
os outros e continuar a tratar dos meus doentes,
que é o que mais adoro”, declara, convicta.
Actualmente, trabalha no Pavilhão Masculino do
Hospital Psiquiátrico de
Luanda, onde estão interna“Um dos
dos mais de 150 pacientes.
motivos que
No Pavilhão Feminino, serão me leva a
cerca de 70, muitas mais do
gostar da
que é habitual,“isto porque
psiquiatria é
este hospital é de tal forma
poder defender
estigmatizado que, se encon- os mais fracos”
trarem alguém na rua que
não têm para onde levar, trazem para aqui. Não interessa tentar perceber o que
se passa. Encaminham logo o doente para a psiquiatria. O mesmo acontece com doentes de outros
hospitais que são transferidos sem razão”, refere a
médica, defendendo que é preciso “distinguir e destrinçar situações e não se pode internar sem critério.Temos de observar e medicar os doentes e eles
devem voltar para a unidade de saúde de onde vieram. Porque em psiquiatria não devem morrer pacientes. Não podemos permitir que venham aqui
“morrer” pessoas”.
Agora que já tem publicado este projecto, revela
que não vai parar por aqui.Tem planos de novas
aventuras literárias quer em termos colectivos,
quer a nível pessoal.“Estou a preparar um livro em
que retrato o dia-a-dia da minha psiquiatria, a que
irei chamar “Psiquiatriando”. É um retrato do meu
quotidiano, do dos doentes… Tenho imensos testemunhos dos meus pacientes,‘montes’ de papéis,
que eles escrevem muito”, adianta, orgulhosa.
Como
ajudar?
As autoras de O Suicídio
em Angola defendem
que é importante saber
ouvir o suicida e saber os
motivos que o levam a
querer acabar com a própria vida. Aconselham a
quem é confrontado com
um potencial suicida a
não o criticar nem adoptar uma postura crítica ou
moralista. Após ouvi-lo,
deverá analisar com ele
as dimensões do problema que o aflige e procurar
possíveis alternativas.
O que fazer
n Explorar as outras saídas, além do suicídio
n Ser afectuoso e dar apoio
n Levar a situação a sério e verificar o grau de risco
n Perguntar sobre tentativas anteriores
n Perguntar sobre o plano de suicídio
n Ganhar tempo - fazendo um contrato
n Identificar outras formas de dar apoio emocional
n Remover os meios pelos quais a pessoa possa matar-se
n Tomar atitudes, conseguir ajuda
n Se o risco é grande, ficar com a pessoa. Não ignorar a si-
tuação
O que não fazer
n Ficar chocado ou envergonhado e em pânico
n Tentar livrar-se do problema acionando outro serviço
e considerar-se livre de qualquer acção
n Dizer que vai ficar tudo bem sem agir para que isso
aconteça
n Desafiar a pessoa a continuar em frente
n Fazer o problema parecer trivial
n Dar falsas garantias
n Jurar segredo
n Deixar a pessoa sozinha.
10 SAÚDE MENTAL
Fevereiro/Março 2017 JSA
Lançamento concorrido
n As antigas instalações da
Divisão de Viação e Trânsito,
em Luanda, foram o cenário
escolhido para o lançamento
de O Suicídio em Angola,
uma cerimónia que contou,
além da presença das autoras (à excepção de Luisa Assis, ausente por motivos de
saúde), com oficiais superiores e subalternos da Polícia
Nacional, instituição que colaborou na obra através do
levantamento dos dados
existentes em território nacional.
A apresentação da obra
esteve a cargo de Carlos Pin-
to de Sousa, bastonário da
Ordem dos Médicos, que
destacou o seu “interesse público” e importância para
“estudantes, profissionais,
docentes e investigadores” e
que definiu como “atraente e
altamente didáctica”.
Rosária Neto, psicóloga
clínica e uma das autoras, recordou como surgiu a oportunidade de se envolver neste projecto: “A nossa especialidade diz tudo. Os casos que
foram acontecendo na nossa
prática médica, não só de
suicídios mas também de intenções suicidas, levaram-
nos a amadurecer esta ideia.
A partir de 2014 decidimos
juntar-nos e fazer este lindo
produto que, acredito, vai ser
muito educativo para as famílias e para a sociedade.”
Esta psicóloga clínica afirmou ter realizado este trabalho a pensar no público em
geral, já que sente que “a população está muito fragilizada, há muitas doenças psiquiátricas mascaradas e as
famílias estão muito desestruturadas. O psiquiatra terá
de dar uma ajuda para ajudar a sociedade a ultrapassar
este momento”. Referindo os
casos com crianças como
aqueles que mais a chocam,
afirmou que “a carência de
afectos leva os jovens para
caminhos de auto-destruição”.
Visivelmente orgulhosa
pela edição deste trabalho,
disse que a maior recompensa foi ter conseguido “dar um
contributo ao país” e, uma
vez que defende que “a prevenção fica mais barata que
a cura”, espera que o livro
possa dar origem a programas que visem melhorar o
bem-estar psicológico dos
angolanos.
Edite Neves, outra das autoras, relembrou que “a ideia
foi amadurecendo a pouco e
pouco, sempre com o objectivo de ajudar a diminuir os
casos de suicídio em Angola”.
Na sua prática profissional, a
psicóloga clínica já lidou
com pacientes com antecedentes familiares de tentativas e suicídios consumados
e acredita que, caso essas tivessem tido acesso a uma
publicação do género talvez
a sua história pudesse ter sido diferente. “As pessoas
com intenção suicida dão sinais que, muitas vezes, são
ignorados por quem as rodeia. Quem ler esta obra poderá passar a estar mais
atento”, desejou.
Confessando “uma enorme felicidade pela publicação do livro”, deixou no ar a
intenção de continuar a trabalhar noutros projectos semelhantes e aproveitou para
deixar um conselho: “Quero
pedir a quem tenha um amigo ou familiar a quem tenha
notado mudanças de comportamento, como a busca
pelo isolamento, tristeza e
choro, que procure ajuda para poder ajudar essa pessoa.”
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12 SAÚDE MENTAL
Fevereiro/Março 2017 JSA
A cada 40 segundos alguém termina com a própria vida
Prevenção do suicídio
Uma luta
global
SuSana GonçalveS
Em determinado momento, há quem deixe
de encontrar solução para os problemas
que o afligem e opte pela morte como resposta à situação que vive. Embora estejam
já identificados alguns factores associados
ao risco de suicídio, o combate a este fenómeno, que ocorre em todos os pontos do
globo, revela-se difícil. Mas são cada vez mais
aqueles que se unem para criar estratégias
eficientes para a prevenção do suicídio.
n De acordo com dados recolhidos a nível
global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012, a cada 40 segundos
uma pessoa terá colocado termo à própria
vida. Porém, e de acordo com indícios revelados no primeiro relatório da organização sobre suicídio, publicado em 2014, para cada suicídio consumado podem ter
existido mais de 20 tentativas, o que implica que, além das 800 mil vítimas, muitos
milhões de pessoas são afectadas pelos resultados de tentativas frustradas ou vivem
a experiência do luto provocada pela morte de um ente querido.
Em qualquer dicionário será fácil encontrar uma definição de suicídio. A popular Wikipédia, descreve-o como o “acto intencional de matar a si mesmo. A sua causa mais comum é um transtorno mental
e/ou psicológico que pode incluir depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, al-
coolismo e abuso de drogas. As dificuldades financeiras e/ou emocionais também
desempenham um factor significativo.”
Este “acto intencional de matar a si
mesmo” verifica-se em todas as idades e
em todas as regiões do mundo. Em 2012,
terá sido a segunda causa de morte no escalão etário entre os 15-29 anos de idade.
Embora, tradicionalmente, as maiores taxas de suicídio se registassem entre os homens de idade avançada, as taxas entre os
jovens têm vindo a aumentar e, agora, estes são o grupo de maior risco em um terço
dos países, tanto no mundo desenvolvido
como no mundo em desenvolvimento.
Apesar de ser considerado um fenómeno global, a verdade, de acordo com o estudo da OMS, é que 75% dos casos de suicídio
a nível mundial ocorreram em países de
baixo e médio rendimento. Nesse ano de
2012, o suicídio representou 1,4% do total
de mortes, tornando-se a 15ª causa de morte.
Numa análise inicial dos resultados obtidos no período entre os anos 2000 e 2012,
registou-se, globalmente, uma queda de 9%
no número de mortes por suicídio, ao mesmo tempo que a população mundial aumentou. A taxa global de mortalidade por
suicídio caiu 21% no mesmo período. No
entanto, depois de controlar o envelhecimento da população, observaram-se au-
mentos em cerca de 50 países, incluindo
em alguns países de alto rendimento, onde
se registam algumas das taxas mais elevadas.
A preocupação das autoridades em relação a estes resultados, levou a que, por todo
o lado, se multiplicassem os estudos sobre
intervenções, baseadas em evidências, que
podem ser implementadas de forma a prevenir as tentativas e o próprio suicídio.
Causas variadas
dificultam combate
O comportamento suicida está associado
à impossibilidade do indivíduo para identificar alternativas viáveis para a solução de
seus conflitos, optando pela morte como
resposta de fuga da situação que o aflige.
No entanto, estão identificados alguns factores associados ao risco de suicídio, incluindo a doença mental, a dependência
de drogas, bem como factores sócio-económicos. Embora as circunstâncias externas, como um evento traumático,
possam desencadear o suicídio, não
parecem ser uma causa independente. É mais provável que os
suicídios ocorram durante os
períodos de crise sócioeconómica, crises familiares ou uma crise individual.
Mais elevadas taxas
de mortalidade por
suicídio de África
(por 100 000 habitantes)
2012
Moçambique
Zimbabué
Burundi
Rep. daTanzânia
Guiné Equatorial
Sudão do Sul
Uganda
Quénia
Angola
Ilhas Comores
Fonte: Organização Mundial de Saúde
17.3
16.6
16.4
15.1
13.9
13.6
11.9
10.8
10.6
10.5
Fevereiro/Março 2017 JSA
O suicídio é, assim, um
problema complexo, no
qual estão implicados factores psicológicos, sociais, biológicos, culturais e ambientais. Em pontos do globo onde o fenómeno tem vindo a
ser alvo de uma maior atenção foram já estabelecidas
algumas causas ligadas à
opção de pôr termo à vida.
Por exemplo, os transtornos
mentais, especialmente a
depressão e os transtornos
por consumo de álcool, são
um importante factor de risco de suicídio na Europa e
na América do Norte. Já nos
países asiáticos, a conduta
impulsiva assume especial
importância da decisão de
pôr cobro à própria vida.
As desordens mentais associadas ao suicídio ocorrem em todas as regiões e
culturas do mundo. Destes
distúrbios, os mais prevalentes serão a ansiedade e a
depressão (que, no pior dos
casos, pode levar ao suicídio), que se estima afectarem quase uma em cada 10
pessoas. Além destas causas, existem ainda outros
factores de risco, como tentativas anteriores e o acesso
fácil a meios de suicídio, como pesticidas ou armas.
Metas para 2030
O combate à depressão moderada e severa está incluído
no Plano de Acção de Saúde
Mental 2013-2020, do plano
de Desenvolvimento Sustentável da Nações Unidas até
2030. Até 2020, o objectivo passa por aumentar a cobertura de
serviços para pessoas com transtornos mentais
graves em
20%. Os Estados membros
da
OMS comprometeram-se a
desenvolver e fornecer serviços de
s a ú d e
mental
abrangentes,
através de serviços sociais
em ambientes
comunitários.
A prevenção do suicídio é outro componente
integral do Plano de Acção,
com o objectivo de reduzir a
taxa de suicídio em 10% até
2020.
No entanto, para que as
respostas nacionais sejam
eficazes, é necessária uma
estratégia multissectorial
abrangente de prevenção do
suicídio, que deve incluir a
identificação precoce e o
controlo efectivo de comportamentos suicidas, bem como o acompanhamento e
apoio comunitário para
aqueles que tentam suicídio,
reduzindo o uso nocivo do
álcool e restringindo o acesso
aos meios mais comuns de
suicídio (pesticidas, armas e
certos medicamentos). Esta
estratégia exige, ainda, que
os dados de suicídio-mortalidade e os dados de tentativa
de suicídio também façam
parte de um sistema de vigilância.
Optimismo moderado
No último meio século, apesar do aumento do número
de suicídios, ocorreram algumas alterações sociais, sobretudo nos países mais desenvolvidos, que lançam alguma esperança no combate
a este flagelo. A descriminalização do suicídio em muitos
países tornou possível, àqueles com pensamentos suicidas, pedirem ajuda, quando
disponível. As estratégias ou
planos de acção nacionais
abrangentes, especialmente
em países de alto rendimento, e a restrição em alguns
países do acesso aos meios
de suicídio tradicionais (como pesticidas ou armas),
também contribuíram para
algumas melhorias. Estão,
entretanto, disponíveis novos tratamentos para a depressão, tanto para episódios
agudos como para a prevenção de recaídas, com base
em medicamentos e intervenções psicológicas que são
eficazes e produzem menos
efeitos colaterais.
No entanto, as taxas de reconhecimento da depressão
permanecem baixas, tanto
por aqueles que sofrem do
problema, como pelos próprios prestadores de cuidados de saúde. De acordo com
pesquisas mundiais de saúde mental, mesmo em nações de rendimento elevado,
apenas cerca de metade das
pessoas com depressão recebe qualquer tratamento, sendo que cerca de 40% recebem tratamento considerado minimamente adequado.
Nos países de baixo rendimento a cobertura é muito
menor. Na Nigéria, por
exemplo, apenas um quinto
13
Medidas de
prevenção
Embora não seja possível
prevenir todos os suicídios, a tomada de uma série de medidas pode ajudar a impedir a maioria.
Tanto a nível local como
nacional, são várias as providências que se podem
executar para reduzir esse risco.
- Reduzir o acesso aos
meios de suicídio mais
frequentes (pesticidas,
medicamentos, armas de
fogo, etc.);
-Tratar os pacientes com
transtornos mentais, e em
particular quem padece
de depressão, alcoolismo
ou esquizofrenia;
- Acompanhar os pacientes que cometeram tentativas suicídio;
- Fomentar um tratamento responsável do tema
nos meios de comunicação;
- Formar os profissionais
dos cuidados primários
de saúde.
daqueles que sofrem um episódio depressivo recebe
qualquer tratamento e apenas um em cada 50 recebe
um tratamento minimamente adequado.
O tabu persiste
O estigma que envolve a depressão e o suicídio, que impede a busca de ajuda e prestação de serviços, é exacerbado para os grupos de
marginalizados e discriminados. Além disso, muitas unidades de saúde em todo o
mundo não têm capacidade
para fornecer tratamento básico para a depressão, uma
vez que os seus profissionais
não estão treinados em questões de saúde mental e os medicamentos não estão disponíveis.
A nível mundial, a prevenção do suicídio é uma necessidade que não tem sido abordada de forma adequada, basicamente, devido à falta de
sensibilização sobre a importância deste problema e do tabu que rodeia e que impede
Em 2012, dos 800
mil suicídios
ocorridos, cerca
de 86% foram
concretizados por
pessoas com menos de 70 anos de
idade
Globalmente, entre os jovens de 15
a 29 anos, o suicídio é responsável
por 8,5% da mortalidade. É a segunda causa de
morte, depois dos
acidentes rodoviários
Em países de renda alta, morrem
por suicídio três
vezes mais homens do que mulheres. Globalmente, o número
correspondente é
de 1,8 vezes
!
que se combata de forma segura. De facto, são muito poucos os países que incluem a
prevenção do suicídio entre
as suas prioridades.
É esse mesmo estigma
que impede a maioria dos
países colectarem correctamente dados relativos ao fenómeno. Dos 194 países da
OMS, apenas 60 mantêm informações sobre o assunto.
A fiabilidade dos sistemas
de certificação e notificação
dos suicídios requere melhorias significativas. O registo
completo de mortes por suicídio nos sistemas de registo
de mortes implica uma boa
ligação entre os sistemas hospitalares e policiais, mas pode ser seriamente comprometido por estigmas, considerações sociais e legais e
atrasos na determinação da
causa da morte. Menos de
metade dos membros da
OMS têm sistemas de registo
de óbitos que apontam as
causas de morte. Em particular, muito poucos países de
baixo rendimento têm estes
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sistemas em funcionamento.
Embora se saiba que a depressão é uma causa prevalente, os dados disponíveis
não são adequados para fornecer estimativas fiáveis das
tendências globais e regionais. Os sistemas nacionais
de informação sobre saúde
não recolhem rotineiramente dados sobre um conjunto
básico de indicadores de
saúde mental em mais de
dois terços dos países e não
conseguem fornecer informações fiáveis sobre a extensão da cobertura dos serviços, mesmo para os transtornos mentais graves.
Assim, a prevenção do
suicídio requer a intervenção
de sectores diferentes da saúde e exige um enfoque inovador, integral e multi-sectorial,
com a participação tanto do
sector da saúde como de outros sectores, como por
exemplo a educação, o mundo laboral, a polícia, a justiça,
a religião, o direito, a política
e os meios de comunicação
social.
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14 ODONTOLOGIA
Celso serra
[email protected]
n Estima-se que 80% da po-
pulação adulta, potencialmente, sofra de doença periodontal. A doença periodontal
– enquanto patologia que
afecta os tecidos de suporte
dentário – é, por vezes, negligenciada pela ausência de informação sobre os sinais e sintomas que a acompanham.
Sendo nas suas formas menos
graves facilmente tratada,
quando em estados avançados pode levar à perda de
dentes. Sinais como: alteração
de cor e forma da gengiva, hemorragia espontânea ou ao
escovar os dentes, mobilidade
dos dentes, alguma supuração, são, entre outros, alertas
de que podemos estar em
presença de uma periodonti-
te uma das causas de perda de
dentes em adultos. A periodontite tem como particularidade a perda de osso de suporte dos dentes. Para que tal
aconteça concorrem vários
factores destacando-se uma
deficiente higiene oral, ser fumador, doenças tais como a
diabetes, stress, alterações
hormonais, entre outras. Sendo uma patologia caracterizada pela reabsorção óssea, perda óssea, só com exames radiológicos se consegue um
diagnóstico correcto.
Deficiente higiene oral
Associada, maioritariamente,
à deficiente higiene oral, a periodontite resulta da acumulação de biofilme que após algum tempo pode dar origem
ao chamado tártaro, placa
bacteriana mineralizada, que
se situa junto aos dentes supra
e subgengivalmente. Este tártaro acaba por fixar, junto dos
tecidos gengivais, bactérias e
os produtos tóxicos resultantes do seu metabolismo. Desta interacção desenvolve-se
Atenção
aos sinais
Sinais como a alteração de
cor e forma da gengiva, hemorragia espontânea ou
ao escovar os dentes, mobilidade dos dentes, alguma supuração, são, entre
outros, alertas de que podemos estar em presença
de uma periodontite, uma
das causas de perda de
dentes em adultos.
uma inflamação que não sendo parada a tempo pode levar
a consequências graves. Se
nem todas as gengivites evoluem para periodontite, muitas são as que por falta de tratamento acabam por evoluir
nesse sentido. Assim, ao primeiro sinal de inflamação da
gengiva devemos actuar no
sentido de evitar que haja
uma progressão da doença. A
existência de hemorragia,
sangue aquando da escovagem é um sinal que deve ser
tido em conta. A gengiva saudável não regista hemorragia
ao ser tocada numa escovagem correcta.
Tratamento
O tratamento da periodontite,
uma vez diagnosticada, passa
por eliminar os factores que
estão na origem da mesma e
manutenção no sentido de
evitar a evolução da doença. A
remoção do biofilme/tártaro,
o controlo adequado da formação do biofilme (escovagem, fio, escovilhão, etc), o recurso a dentífricos e elixires
específicos são, numa primeira fase da doença, as medidas
constantes do plano de tratamento. Se a fase de diagnóstico e execução do plano de tratamentos são importantes, a
fase de avaliação do plano de
tratamento e a manutenção
sugerida são decisivas. Assim,
o paciente deve seguir escrupulosamente as orientações
recebidas pois, dado o carácter de irreversibiliadade da
periodontite, a manutenção
pereiodontite
gengivite
Periodontite: uma
das causas de perda
de dentes
boca saudável
Fevereiro/Março 2017 JSA
diária da saúde oral dentro de
parametros controlados é a
chave para o sucesso do tratamento. Em casos que o tratamento não cirúrgico se revela
insuficiente a cirurgia poderá
ser necessária embora a opção actual seja mais no sentido de a evitar.
Chave do controlo
Resumindo, um bom diagnóstico, apoiado em exames
auxiliares de diagnóstico, um
plano de tratamento adequado às necessiades da situação
e a colaboração diária do paciente são a chave para o controlo de uma patologia que vai
afectando, silenciosamente,
um grande número da população e consequentemente a
conduzir à perda de dentes.