Uma versão mais completa do lema de Yoneda é a seguinte. Teorema (Lema de Yoneda). Sejam X e Y dois objetos de uma categoria C e sejam F : C → Set, G : C → Set definidos assim: F (A) = HomC (X, A) (resp. F (A) = HomC (A, X)), G(A) = HomC (Y, A) (resp. G(A) = HomC (A, Y )) e se ϕ : A → B é um morfismo em C pomos F (ϕ) : F (A) → F (B), F (ϕ)(f ) = ϕ ◦ f (resp. F (ϕ) : F (B) → F (A), F (ϕ)(f ) = f ◦ ϕ) e G(ϕ) : G(A) → G(B), G(ϕ)(f ) = ϕ ◦ f (resp. G(ϕ) : G(B) → G(A), G(ϕ)(f ) = f ◦ ϕ). Se trata de funtores covariantes (resp. contravariantes). F ∼ = G se e somente se X ∼ =Y. Demonstração. A ida ⇒ no caso covariante foi mostrada na aula passada. Vou mostrar a volta no caso covariante. A demonstração no caso contravariante é analoga. Suponha então X ∼ = Y e estamos no caso covariante. Seja r : X → Y um isomorfismo. Queremos mostrar que F ∼ = G. Seja h : F → G a transformação natural definida assim: se A ∈ Ob(C ) pomos hA : F (A) → G(A), hA (f ) = f ◦ r−1 . Se trata de um isomorfismo (de conjuntos) cuja inversa é h−1 A (g) = g ◦ r (lembre-se que r é isomorfismo em C ). Falta mostrar a naturalidade, ou seja, que se ϕ : A → B é um morfismo em C então G(ϕ) ◦ hA = hB ◦ F (ϕ). Se α ∈ F (A) então G(ϕ)(hA (α)) = G(ϕ)(α ◦ r−1 ) = ϕ ◦ α ◦ r−1 , e hB (F (ϕ)(α)) = hB (ϕ ◦ α) = ϕ ◦ α ◦ r−1 . Seja C uma categoria, seja I uma famı́lia de Q indices e seja Xi um ` objeto de C para todo i ∈ I. Lembre-se que produto i∈I Xi e coproduto i∈I Xi , se existirem, são objetos que verificam os isomorfismos funtoriais em X ∈ Ob(C ) seguintes. Y Y HomC (X, Xi ) ∼ HomC (X, Xi ), = i∈I i∈I a Y HomC ( Xi , X) ∼ HomC (Xi , X). = i∈I i∈I Se trata de construções uma o dual da outra, de fato na categoria C op cujos objetos são os objetos de C e HomC op (A, B) = HomC (B, A) o que é um produto em C vira coproduto em C op e vice-versa. Proposição. Seja F : C → D um funtor. Se F é equivalência covariante de categorias então F leva produtos para produtos e coprodutos para coprodutos. Se F é equivalência contravariante de categorias então F leva coprodutos para produtos e produtos para coprodutos. Demonstração. Vou mostrar que se F é equivalência covariante leva produtos para produtos (as outras demonstrações são analogas). Sejam Q Xi objetos de C com i ∈ IQe suponha Q de ter um produto i∈I Xi . Queremos mostrar que (∗) F ( i∈I Xi ) ∼ = i∈I F (Xi ). Lembre-se que equivalência de categorias significa que para todo objeto A, B de C a função HomC (A, B) → HomD (F (A), F (B)) induzida por F é isomorfismo de conjuntos (em outras palavras F é inteiramente fiel - fully faithful) e para todo 1 2 Y ∈ Ob(D) existe um X ∈ C tal que F (X) ∼ = Y (em outras palavras F é essencialmente sobrejetivo - essentially surjective). Para mostrar (∗) basta verificar a propriedade universal, ou seja temos que mostrar que Y Y HomD (Y, F ( Xi )) ∼ HomD (Y, F (Xi )) = i∈I i∈I funtorialmente em Y ∈ Ob(D). Como F é equivalência, existe X ∈ Ob(C ) com F (X) ∼ = Y assim Y Y HomD (Y, F ( Xi )) ∼ = HomD (F (X), F ( Xi )) i∈I i∈I ∼ = HomC (X, Y i∈I ∼ = Y i∈I Xi ) ∼ = Y HomC (X, Xi ) i∈I HomD (F (X), F (Xi )) ∼ = Y HomD (Y, F (Xi )). i∈I A funtorialidade vem do fato que se trata de isomorfismos “naturais”. SOMA DIRETA. Na categoria C dos grupos A é um Q abelianos (ou dos A-módulos, onde ` anel comutativo)L o produto i∈I Xi é o produto direto, o coproduto i∈I Xi é a soma direta i∈I Xi . A soma direta é o conjunto dos elementos (xi )i do produto tais que o conjunto {i ∈ I : xi 6= 0} é finito.LAssim tendo uma famı́lia de morfismos P Xi → X ganhamos um morfismo i∈I Xi → X definido por f ((xi )i ) := i∈I fi (xi ) (essa soma L faz sentido pois é uma soma finita!). Vice-versa, tendo um morfismo f : i∈I Xi → X temos, para todo i ∈ I, um morfismo fi : Xi → X obtido levando a para f (a) onde a é o L elemento de i∈I Xi que tem a na posição i e zero nas outras. PRODUTO TENSORIAL. Seja A um anel comutativo e sejam M, N dois A-módulos. O produto tensorial T = M ⊗A N é um A-módulo com uma função bilinear g : M × N → T (normalmente g(m, n) é indicado com m ⊗ n) com a propriedade (universal) que se P é um A-módulo e f : M × N → P é uma função Abilinear existe um único morfismo A-linear f 0 : T → P tal que f 0 ◦ g = f . Em outras palavras se C é a categoria dos A-modulos temos o isomorfismo funtorial em X BilA (M × N, X) ∼ = HomC (M ⊗A N, X) onde BilA (M × N, X) é o conjunto das funções A-bilineares M × N → X. Lembre-se que todo elemento de M ⊗A N é uma combinação A-linear de coisas do tipo m ⊗ n com m ∈ M e n ∈ N . Agora seja A um anel comutativo e considere a categoria C das Aálgebras comutativas. Se B, C são objetos de C então em particular são Amódulos e podemos construir o produto tensorial B ⊗A C. Ele tem estrutura 3 de A-álgebra definida por (b1 ⊗ c1 )(b2 ⊗ c2 ) := (b1 b2 ) ⊗ (c1 c2 ) extendido por A-linearidade. Proposição. Na categoria C das A-álgebras comutativas temos a B C∼ = B ⊗A C. Em outras palavras o coproduto de dois objetos é exatamente o produto tensorial sobre A. ` Demonstração. Temos que se B C existe verifica a propriedade universal do coproduto que é a HomC (B C, X) ∼ = HomC (B, X) × HomC (C, X) ` funtorialmente em X. Então pelo lema de Yoneda para mostrar que B C ∼ = B ⊗A C basta mostrar que ∼ HomC (B, X) × HomC (C, X) HomC (B ⊗A C, X) = funtorialmente em X. Se temos f : B ⊗A C → X podemos associar a f um par (fB , fC ) ∈ HomC (B, X) × HomC (C, X) definindo fB (b) := f (b ⊗ 1) e fC (c) := f (1 ⊗ c). Vice-versa se β : B → X e γ : C → X temos f : B ⊗A C → X definido por f (b ⊗ c) := β(b)γ(c) extendido por A-linearidade. f é realmente um homomorfismo de aneis pois f ((b1 ⊗ c1 )(b2 ⊗ c2 )) = f ((b1 b2 ) ⊗ (c1 c2 )) = β(b1 b2 )γ(c1 c2 ) = β(b1 )β(b2 )γ(c1 )γ(c2 ), f (b1 ⊗ c1 )f (b2 ⊗ c2 ) = β(b1 )γ(c1 )β(b2 )γ(c2 ) = β(b1 )γ(c1 )β(b2 )γ(c2 ) são iguais pois β(b2 )γ(c1 ) = γ(c1 )β(b2 ) (observe que aqui a comutatividade é essencial: essa demonstração não funcionaria se C fosse a categoria das A-álgebras não necessariamente comutativas). Essas duas correspondências são uma a inversa da outra e isso conclui a demonstração. A funtorialidade vem do fato que o que fizemos são passos “naturais”. Em geometria algebrica o coproduto entra no jogo quando se consideram aneis de polinômios pois se k é um corpo (ou um qualquer anel comutativo - mas falo “corpo” pois vamos trabalhar com corpos) então na categoria C das k-álgebras comutativas temos a a a k[x1 ] k[x2 ] ... k[xn ] = k[x1 , . . . , xn ]. Assim k[x, y] é o coproduto de k[x] e k[y] (observe que o produto de k[x] e k[y] é o produto direto k[x] × k[y]). ` Vamos mostrar o caso n = 2. Para mostrar que k[x, y] = k[x] k[y] temos que mostrar que HomC (k[x, y], X) ∼ = HomC (k[x], X) × HomC (k[y], X). 4 A f : k[x, y] → X associamos o par (f |k[x] , f |k[y] ). Vice-versa dados α : k[x] k[y] → X definimos f : k[x, y] → X levando P (x, y) = P →ci Xdi e β : P ci di i ai x y para i ai α(x) β(y) . Essas associações são uma a inversa da outra. LOCALIZAÇÃO. Seja A um anel comutativo e S um subconjunto multiplicativamente fechado de A com 1 ∈ S. Defina ≡ em A × S pondo (a, s) ≡ (b, t) se e somente se existe u ∈ S tal que (at − bs)u = 0. Se trata de uma relação de equivalência, vamos denotar com a/s a classe de equivalência de (a, s). Seja S −1 A := {a/s : a ∈ A, s ∈ S}. Então S −1 A (a localização de A com respeito a S) é um anel comutativo com unidade. As operações são at + bs ab ab a b + = , = . s t st st st −1 Temos o morfismo estrutural f : A → S A que leva a para a/1. Observe que f (s) é inversı́vel em S −1 A para todo s ∈ S (o inverso de s/1 é 1/s se s ∈ S). A propriedade universal da localização é que se g : A → X é um homomorfismo de aneis comutativos tal que g(S) consiste em elementos invertı́veis então existe um único homomorfismo de aneis ϕ : S −1 A → X tal que ϕ ◦ f = g. Em outras palavras se F (X) indica o conjunto dos homomorfismos g : A → X tais que g(S) ⊆ U (X) (onde U (X) indica o grupo dos elementos invertı́veis de X) então F (X) ∼ = HomC (S −1 A, X) funtorialmente em X ∈ Ob(C ), onde C é a categoria dos aneis comutativos. Exercı́cios. (1) Mostre que uma equivalência contravariante de categorias leva produtos para coprodutos. Q ` (2) Mostre que em geral A B ∼ 6 A B na categoria das k-álgebras = comutativas (k corpo). (3) Mostre que se k[x1 , . . . , xn ] ∼ = k[x1 , . . . , xm ] na categoria das kálgebras comutativas então n = m. [Dica: considere Hom(k[x1 , . . . , xn ], k).] (4) Mostre que k[x1 , . . . , xn ] pode ser interpretada como a k-álgebra comutativa livre com n geradores (cf. a lista de exercı́cios da aula passada para a definição de objeto livre).