UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Dayse Cardoso da Silva Lima Eunice Chaves Marinez Prates Cantarino Sânzya Theles Oliveira Silva O ATENDIMENTO AO SURDO NA ÁREA DA SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES: avanços e desafios Governador Valadares 2010 1 Dayse Cardoso da Silva Lima Eunice Chaves Marinez Prates Cantarino Sânzya Theles Oliveira Silva O ATENDIMENTO AO SURDO NA ÁREA DA SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES: avanços e desafios Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce como requisito para obtenção do grau de bacharel em Serviço Social. Orientadora: Ana Maria Eller Mariano Governador Valadares 2010 2 Dayse Cardoso da Silva Lima Eunice Chaves Marinez Prates Cantarino Sânzya Theles Oliveira Silva O ATENDIMENTO AO SURDO NA ÁREA DA SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES: avanços e desafios Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce como requisito para obtenção do grau de bacharel em Serviço Social. Governador Valadares, 02 de dezembro de 2010 Banca Examinadora: ______________________________________________ Ana Maria Eller Mariano Orientadora ______________________________________________ Cristina Caetano Salles Examinadora ______________________________________________ Fátima Martins Dias de Oliveira Examinadora 3 Dedicamos a Deus, aos nossos familiares pelo apoio, e aos surdos cujo trabalho foi inspirado. 4 AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus pelo cuidado, pelo consolo. Senhor, nos momentos mais difíceis deu-nos compreensão para nossos estudos, esteve presente, nos auxiliando e iluminando nossas vidas e dando-nos toda sabedoria. Aos nossos familiares, pais, irmãos, filhos, esposos, pelo apoio, pelo carinho, paciência e nos momentos de ausência de nossas vidas, puderam nos entender. Aos amigos, colegas, que oraram por nós. A nossa orientadora Ana Maria Eller Mariano pelo seu apoio e dedicação em prol da realização deste estudo. 5 “A democracia moderna repele a fraternidade no que pode lembrar a caridade. Rejeita a noção de dever substituindo-a pela noção de direito. Se os homens são irmãos, devem ser iguais; se não o são, o mais fraco tem direito de ser protegido. A experiência demonstra que a liberdade não basta para assegurar a igualdade, pois os mais fortes depressa se tornam opressores. Cabe neste caso ao Estado intervir para proteger os fracos. O dever que cada particular não cumpre em relação ao próximo, e a que, em todo o caso, a lei não pode obrigá-lo, pertence ao Estado cumpri-lo em nome de todos, e quando passa a ser um dever do Estado, torna-se um direito para quem se beneficia dele.” RIPERT 6 RESUMO O objetivo deste estudo é analisar os desafios e identificar as possibilidades de efetivação da política de saúde específica para o atendimento aos surdos/as em Governador Valadares. Com a Constituição Federal de 1988, passa-se a enfatizar o respeito e a defesa dos direitos humanos, entre os quais se incluem o direito à saúde aos diversos segmentos sociais, entre eles os/as surdos/as. O Sistema Único de Saúde traz um avanço à saúde, como direito e como um dever do Estado. A Política Nacional de Atenção a Saúde Auditiva é um avanço, no sentido de garantir e estruturar uma rede de serviços que se estabeleça de forma regionalizada e hierarquizada uma linha de cuidados integrais e integrados no manejo das principais causas da deficiência auditiva, com vista a minimizar os danos da deficiência auditiva na população. Os resultados deste estudo demonstraram que há insuficiência de profissionais capacitados para o atendimento aos surdos/as, sendo este fato uma barreira no acesso desse segmento social aos serviços de saúde e a discriminação no tratamento efetuado pelos profissionais, falta de Intérpretes nas instituições públicas e privadas, pouco investimento em campanhas sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS, prevenção da gravidez na Língua Brasileira de Sinais, inexistência da Triagem Auditiva Neonatal e falta de aplicabilidade das leis vigentes que preconizam o atendimento integral e individual. Concluímos que há necessidade de criar estratégias e políticas de saúde que visem consolidar ações articuladas incluindo o cidadão surdo, garantindo um cuidado inclusivo, qualificado e eficaz. Palavra-chave: Surdo/a. Saúde Pública. Atenção Saúde Auditiva. 7 ABSTRACT The aim of this study is to analyze the challenges and identify opportunities for effective health policy for the specific service to the deaf / as in Governador Valadares. With the 1988 Federal Constitution, is to emphasize respect and protection of human rights, among which include the right to health to various social groups, among them / the deaf / as. The Health System provides a breakthrough on health, such as a right and duty of the state. The National Policy for Health Care Hearing is a step forward in ensuring a structure and network services in order to establish a regionalized and hierarchical line of integrated and comprehensive care in the management of the main causes of hearing loss, to minimize damage of hearing impairment in the population. The results of this study demonstrate that there is a shortage of professionals trained to care for deaf / as, being this fact a barrier in this social segment access to health services and discrimination in the treatment provided by professionals, lack of interpreters in public and private institutions, little investment in campaigns on STD / AIDS, prevention of pregnancy in Brazilian Sign Language, lack the Newborn Hearing Screening and lack of enforceability of laws calling for the comprehensive care and individual. We conclude that there is need to develop strategies and health policies aimed at strengthening joint actions including citizen deaf, ensuring an inclusive caring, skilled and effective. Keyword: Deaf / a. Public Health. Hearing Health Care. 8 LISTA DE SIGLAS AAIS – Aparelhos de Amplificação Sonora Individual AIS - Ações Integradas de Saúde CF/88 - Constituição Federal de 1988 CAPs – Caixa de Aposentadorias e Pensões CAAD – Coordenadoria de Apoio e Assistência ao Deficiente CADEF – Centro de Apoio ao Deficiente Físico CONASP - Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária CRASE - Centro de Referência em Atenção Especial à Saúde FAEC - Fundo de Ações Estratégicas e Compensação FMI - Fundo Monetário Internacional IAPs - Institutos de Aposentadorias e Pensões INPS - Instituto Nacional de Previdência Social LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais MARE - Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado MPAS – Ministério da Previdência da Assistência Social NOB - Norma Operacional Básica PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde PNASA – Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva PPI – Programação Pactuada Integrada PSF - Programa Saúde da Família SAS – Serviços da Atenção à Saúde SASA – Serviço de Atenção à Saúde Auditiva SINPAS – Sistema Nacional de Assistência da Previdência Social SUDS – Sistema Unificado e Descentralização de Saúde SUS – Sistema Único de Saúde 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................... 10 METODOLOGIA ............................................................................................... 13 1. CAPÍTULO I .................................................................................................. 15 1.1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL................................... 15 1.2 DÉCADA DE 80: CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A CRIAÇÃO DO SUS...... 30 1.3 A POLÍTICA DE SAÚDE NA DÉCADA DE 90 E OS REBATIMENTOS DO NEOLIBERALISMO............................................................................................ 42 2. CAPITULO II................................................................................................... 54 2.1 POLITICA DE SAÚDE VOLTADA PARA O ATENDIMENTO AO SURDO.... 54 2.2 A SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES E A POLITICA DE ATENDIMENTO AO SURDO.............................................................................. 67 2.3 ANÁLISE DO ATENDIMENTO AO SURDO NA ÁREA DA SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES, CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS AVANÇOS E DESAFIOS.................................................................................... 74 3. CONCLUSÃO................................................................................................. 90 REFERÊNCIAS.................................................................................................. 96 APÊNDICES....................................................................................................... 106 ANEXO................................................................................................................ 130 10 INTRODUÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso, elaborado para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, tem como objetivo analisar o tema: “O atendimento ao/a surdo/a1 na área da saúde em Governador Valadares: avanços e desafios”, tendo como finalidade discutir a efetivação de uma política de saúde específica para o atendimento aos surdos/as na realidade de Governador Valadares, partindo do pressuposto de que a saúde é um "direito de todos e dever do Estado", tendo como objetivos específicos, analisar a política de saúde como direito universal e dever do Estado garantido pela Constituição Federal de 1988; discutir acerca da política de saúde específica de atendimento às surdos no cenário brasileiro; refletir acerca da política de saúde em Governador Valadares e as suas particularidades no atendimento as surdos. A motivação para pesquisar o referido tema surgiu, inicialmente, da experiência do grupo em instituições de atendimento à saúde pública e privada, proporcionada pelo Estágio Curricular Obrigatório do Curso de Serviço Social da UNIVALE 2. É importante destacar ainda, que uma das componentes deste grupo tem uma convivência com a comunidade surda de Governador Valadares e outra trabalha em uma empresa que presta atendimento a esse segmento social. Cabe ressaltar que experiências no campo de estágio possibilitaram a observação de diversos problemas e dificuldades que os surdos/as enfrentam no seu dia-a-dia para garantir seus direitos, especificamente na área da saúde. Através da observação nos campos de estágios, foi verificado que muitos surdos ao serem atendidos nesses espaços, os funcionários quase em sua totalidade, desconhecem a Libras3, e por causa disto, não conseguem estabelecer uma comunicação qualificada para a promoção e proteção à saúde, fazendo com que a maioria destes usuários não receba uma assistência à saúde individualizada e integral. Entendemos que a inclusão social dos surdos nos estabelecimentos de saúde é essencial para a promoção e proteção da saúde, conforme preconiza a Constituição 1 Neste trabalho, utilizaremos os termos pessoas surdas e surdos/as para designar as pessoas que possuem surdez e formam o povo surdo, o qual é objeto do nosso estudo. 2 Realizado no período de 2009 a 2010 no Hospital Municipal de Governador Valadares e na Clínica OTOMED – Serviço de Atenção a Saúde Auditiva. 3 Língua Brasileira de Sinais 11 Federal vigente. Porém, a falta de comunicação muitas vezes a impede, dificultando assim o atendimento humanizado. Considerando que a perda auditiva, independente do seu grau, provoca transtornos na qualidade de vida do ser humano, sejam comunicativas, intelectuais ou sociais, esta é considerada um grave problema de saúde pública, que só foi priorizada no Brasil a partir da implementação da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva em 2004, a qual consiste em um avanço na área da intervenção em saúde auditiva. Tal política tem como objetivo estruturar uma rede de serviços regionalizada e hierarquizada, que estabeleça uma linha de cuidados globais e integrados no atendimento das principais causas da deficiência auditiva. Concomitantemente, ocorreu no cenário brasileiro, a aprovação das Portarias SAS/MS nº. 587 e 589 de outubro de 2004, que determinaram diretrizes para credenciamento de serviços de atenção básica, média e alta complexidade para o atendimento da pessoa com deficiência auditiva. Para a construção desse estudo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, tendo como base autores que discutem a temática e legislações pertinentes à política de saúde específica à pessoa com deficiência auditiva, constituída por dados secundários como livros, artigos que nos auxiliaram para o desenvolvimento desta pesquisa. Foi realizada, pesquisa de campo qualitativa e quantitativa, tendo com objetivo identificar as particularidades do atendimento dos surdos em Governador Valadares, sendo utilizado neste processo a técnica de entrevista semi-estruturada, orientada por questionário4, contendo dez questões, que foram aplicadas em 126 entrevistados no mês de novembro de 2010, onde 47 destes eram surdos/as 5, num universo de 128 surdos cadastrados na Associação dos Surdos de Governador Valadares; 76 profissionais da saúde que atendem diretamente o usuário, no Hospital Municipal (30%), e 20% dos funcionários da OTOMED, 3 gestores, sendo eles do Hospital Municipal, Serviço de Atenção a Saúde Auditiva - OTOMED e CADEF- Centro de Apoio ao Deficiente Físico6. Esta pesquisa subsidiou a compreensão de como os surdos/as tem acessado os serviços de saúde, verificando também como os profissionais realizam seus 4 Apêndice 1; 2 e 3 O critério estabelecido para aplicação da pesquisa foi a utilização de interprete de Libras. 6 Instituição pública que presta serviços de reabilitação às pessoas com deficiência física, bem como o fornecimento de órteses, próteses, dispositivos auxiliares de locomoção, bolsas coletoras de excremento para ostomizados. 5 12 atendimentos, bem como, as dificuldades encontradas para desenvolverem suas ações junto a esses usuários, perpassando assim, pela problematização dos avanços e desafios para a efetivação da Política de Saúde específica voltada para o atendimento aos surdos/as no município de Governador Valadares. Ressalta-se que não foi possível realizar a pesquisa documental aprofundada no Hospital Municipal de Governador Valadares sobre o número de atendimentos realizados especificamente aos/as surdos/as, devido à organização dos cadastros destes atendimentos ainda não serem informatizados e a sua sistematização exigiria uma maior dedicação de tempo na coleta dos dados. Para a construção das referidas reflexões, este estudo será constituído de dois capítulos. No primeiro capítulo será analisada a política de saúde enquanto direito universal e dever do Estado garantido pela Constituição Federal de 1988, compreendendo o desenvolvimento histórico desta política no cenário brasileiro. No segundo capítulo será realizada a análise acerca da política de saúde específica ao atendimento aos surdos/as no Brasil e em Governador Valadares, a partir do entendimento das suas particularidades. Para finalizar, serão discutidos os desafios e limites para a efetivação da PNASA no município de Governador Valadares. Acredita-se que a realização desse trabalho dará maior visibilidade às pessoas surdas, o que é de fundamental importância, visto que ao estudar e analisar as especificidades deste segmento em relação a política de saúde, este estudo, busca colaborar para que estes possam conhecer e reivindicar os seus direitos, bem como, para uma reorganização de serviço de saúde municipal para atendimento aos surdos. 13 METODOLOGIA Este estudo apresenta como referencial metodológico a pesquisa bibliográfica, e entrevista semi-estrutrada. Trata-se de um estudo de campo, através do Estagio Curricular Obrigatório do Curso de Serviço Social da UNIVALE, A pesquisa foi desenvolvida com profissionais da saúde do Hospital Municipal de Governador Valadares, Serviço de Atenção à Saúde Auditiva - Otomed, gestores do Hospital Municipal, do Serviço de Atenção à Saúde Auditiva - Otomed, do Centro de Apoio ao Deficiente Físico – CADEF, também da Secretaria Municipal de Saúde e com os/as surdos/as da Associação dos Surdos de Governador Valadares – ASUGOV. Foram selecionados como sujeitos da pesquisa profissionais que trabalham no HM: Enfermagem, técnicos de Enfermagem, Médicos, Fisioterapeutas, Psicólogos, Assistentes Sociais, Recepcionistas, Radiologistas, Patologistas, Auxiliar da ortopedia (gesseiros); profissionais do Serviço de Atenção à Saúde Auditiva – Otomed: fonoaudiólogas, recepcionista, otorrinolaringologista e os respectivos gestores dos órgãos de saúde. A coleta de dados de se baseou em uma técnica de entrevista. Foi realizada entrevistas individuais semi-estruturadas com cada profissional de saúde e com os surdos acima especificado. A fala dos diversos sujeitos entrevistados, após colhida, foram transcritas de forma a reconstruir a integralidade dos depoimentos. As entrevistas feitas com os participantes do estudo abordam questões, as quais podem verificar a partir do apêndice E na página 113. Considerações éticas Foi solicitado aos informantes desta pesquisa que assinassem o Termo de Consentimento Livre – TCL, que ficou sob a responsabilidade do pesquisador. Foi encaminhado ofício para os gestores do Hospital Municipal, Serviço de Atenção à Saúde Auditiva – Otomed, solicitando a autorização para realização da pesquisa pelos funcionários. A confiabilidade é uma questão importante e o anonimato dos pesquisados deve ser garantido. Os sujeitos desta pesquisa foram identificados por número que correspondeu à ordem da realização das entrevistas. Os dados que poderiam vir a identificar claramente os sujeitos foram omitidos. 14 As entrevistas serão guardadas por um período de três meses, sendo após o material impresso serão destruídos. 15 CAPÍTULO I 1.1 Histórico da política de saúde no Brasil Para discutir a política de saúde específica ao surdo (a), e a efetivação das leis vigentes que preconizam o atendimento integral e individual ao surdo (a) no Brasil, é necessário refletir como a política de saúde foi constituída no cenário brasileiro, compreender todo o seu processo histórico, analisar as reformas e transformações ocorridas nesta política ao longo dos anos, bem como os conflitos, avanços e contradições que perpassaram a busca do direito universal à saúde. Assim, recuperar a trajetória da política de saúde e a conformação desta até o momento presente, demanda rastrear a constituição do sistema de proteção social brasileiro7, entendendo o papel do Estado na sua relação com os interesses das classes sociais, as suas ações interventivas sobre a questão social 8 através das políticas sociais e suas principais características nos diferentes momentos históricos. Diferentemente da forma como o Estado tratava as sequelas da questão social no capitalismo concorrencial9, baseada em ações coercitivas, fragmentadoras da organização da força de trabalho, que buscava a conquista dos seus direitos sociais, no capitalismo monopolista, o Estado se volta a responder institucionalmente à questão social por meio da implementação das políticas sociais. Neste sentido, cabe elucidar que o surgimento das políticas sociais está associado ao processo de desenvolvimento do capitalismo em seu estágio monopolista, vinculadas ao conflito entre o capital e o trabalho 10, e o seu papel na 7 Para aprofundamento dessa discussão ver Fleury,2004; Behring, 2003; Mota, 1995; Viana,1998;Pereira,1996 e 2000; Boschetti, 2003. 8 O conceito de “questão social” que embasará a construção do conteúdo deste trabalho será a seguinte: “Por „questão social‟, no sentido universal do termo, queremos significar o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade política”. Assim, a „questão social‟ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e o trabalho. (Cerqueira Filho apud. Netto, 2005, p. 17). 9 Capitalismo concorrencial fase do capitalismo que teve início com aparecimento de máquinas movidas por energia não-humana. Inicia-se na Inglaterra com a máquina a vapor, por volta de 1746 e finda com o início dos monopólios. (Behring, 2000, p. 32). 10 Segundo Iamamoto e Carvalho, “a questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado”. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão. (1998, p. 77) 16 sociedade, seria assegurar as condições necessárias para o desenvolvimento do capitalismo, através da reprodução do capital e não simplesmente a mera correção dos efeitos negativos do processo de exploração da mais-valia11. A respeito desse avanço por parte do Estado no modo de tratar as seqüelas da questão social no período do capitalismo monopolista, Netto analisa que: É somente nestas condições que as seqüelas da questão social tornam-se (...) objeto de uma intervenção contínua e sistemática por parte do Estado. É só a partir da concretização das possibilidades econômico-sociais e políticas segregadas na ordem monopólica que a questão social se põe como alvo de políticas sociais. (...) No capitalismo dos monopólios, tanto pelas características do novo ordenamento operário e pelas necessidades de legitimação política do movimento operário e pelas necessidades de legitimação política do Estado burguês, a questão social como que se internaliza na ordem econômico-político: não é apenas o acrescido excedente que chega ao exército industrial de reserva que deve ter a sua manutenção "socializada"; não é somente a preservação de um patamar aquisitivo mínimo para as categorias afastadas do mundo do consumo que se põe como imperiosa; não são apenas os mecanismos que devem ser criados para que se dê a distribuição, pelo conjunto da sociedade, dos ônus que asseguram os lucros monopolistas - é tudo isto que, caindo no âmbito das condições gerais para a produção capitalista monopolista, articula o enlace, já referido, das funções econômicas e políticas do Estado burguês capturado pelo capitalista monopolista, com a efetivação dessas funções se realizando ao mesmo tempo em que o Estado continua ocultando a sua essência de classe (Netto, 2001, p. 29-30). Esse novo enfoque do Estado na questão social através da implementação das políticas sociais se justifica pela instabilidade do modo de produção capitalista, que se manifesta nas suas fases de expansão seguidas de fases de recessão12. É necessário ressaltar que para Iamamoto e Carvalho, essa nova realidade de intervenção do Estado, se justifica principalmente pelo caráter político que a questão social passa a adquirir, tendo em vista, a exigência de legitimação da classe trabalhadora, enquanto classe social no cenário político por parte do Estado e do Capital. De acordo com as suas análises, O que se considera como mais – valia é o conjunto do excedente, não é só o lucro. No sistema Capitalista, todo excedente de produção, isto é, tudo o que depois que se pagou os produtos assalariados, fica em primeiro lugar nas mãos do dono da empresa, porque ele é dono das mercadorias que foram produzidas e vendidas (...) Mais – Valia é igual ao lucro bruto, ou seja, a soma de todos os rendimentos que não são salários (Singer, 1983, p. 34 – 35). 12 O que comprova que este sistema não é um sistema estável, mas sujeito a crises constantes, que incidem direta ou indiretamente em todos os níveis da sociedade, o econômico, o social e o político. Para alguns estudiosos como Mandel (1982), essas crises, decorrem de fatores estruturais, isto é, da própria lógica do capital, de causalidades intrínsecas às contradições estruturais postas pelo desenvolvimento do capitalismo. Assim, por sua natureza contraditória, o capitalismo caracterizado por movimentos cíclicos de aceleração e de depressão utiliza as políticas sociais como estratégias anticíclicas. 11 17 (...) as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão (Iamamoto e Carvalho, 1995, p. 78). Não contrária a essa idéia, Behring e Boschetti (2008, p. 78) enfatizam que em relação à particularidade brasileira, a questão social se apresentou enquanto questão política somente a partir da primeira década do século XX, com as primeiras lutas de trabalhadores e as primeiras iniciativas de legislação voltadas ao mundo do trabalho. Neste sentido, segundo as autoras, as primeiras décadas desse século foram marcadas por mudanças em relação à postura do Estado Brasileiro, passando por uma maior intervenção nas expressões da questão social, em resposta à pressão dos trabalhadores, de forma que, em 1919, é instituída a primeira legislação sobre indenização por acidente de trabalho no Brasil. Salvador ressalta que, as iniciativas de proteção social do Estado brasileiro foram bastante restritas nos primeiros 25 anos deste século13. O autor enfatiza ainda que “as primeiras medidas de proteção social nascem no Brasil com mais de trinta anos de atraso em relação aos países centrais do capitalismo” (2010, p.140). Segundo este autor, da falta de industrialização, do limitado poder de pressão dos sindicatos e da estrutura política assentada nos interesses das oligarquias brasileiras. De acordo com Cohn (2001), a origem das políticas de saúde no Brasil caracteriza-se pelo seu vínculo estreito com as políticas de previdência social, principalmente referente à sua forma de financiamento. Essa articulação se configurou em uma relação de dependência das políticas de saúde à previdência social, sendo impossível compreender e explicar essas políticas no país, restringindo apenas a análise do desenvolvimento de uma única política. 13 Cabe ressaltar que analisar a política social no Brasil nos remete ao entendimento de suas particularidades históricas, isto significa compreender as marcas da formação social brasileira e a consolidação do capitalismo de forma subordinada e dependente do mercado mundial. Conforme Salvador, (2010, p. 41) “com a saída do Império (1889) e com uma economia fundada na escravidão até 1888, o Brasil começou o século XX sob a supremacia econômica liberal e baseada no clientelismo político”. Tais situações rebateram fortemente na configuração do mercado de trabalho brasileiro, e na própria formação socio-histórica do Estado. 18 A autora enfatiza que a organização dos serviços de saúde no país, em contraste com os demais países latino-americanos, e em consequência desse vínculo com a previdência social, apresenta um processo de privatização dos serviços de assistência médica extremamente precoce, com o credenciamento de serviços médicos privados pela previdência social, já na década de 1920. Não obstante, em 1923 foi instituída a Lei Eloy Chaves, criando assim as primeiras Caixas de Aposentadorias e Pensões - CAPS, sendo esta iniciativa a primeira modalidade de seguro para trabalhadores do setor privado e um marco para o sistema de previdência no Brasil. Cohn (2001) ressalta que as CAPs eram organizadas por empresa e/ou categoria profissional. Seu sistema básico era o de capitalização coletiva, financiada pelos trabalhadores e empregadores. As primeiras CAPs foram criadas para aquelas categorias que tinham um papel expressivo na atividade exportadora14, como é o caso dos ferroviários, sendo responsáveis pelos seguros sociais e abrangiam a área da saúde, assistência e previdência social, assegurando direitos àqueles que estavam inseridos nesse mercado de trabalho, prestando serviços de assistência médico-curativa, fornecendo medicamentos, aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensões para os dependentes dos empregados e auxíliofuneral. Essas Caixas tinham como fonte de receitas os trabalhadores e as empresas do ramo, enquanto ao Estado cabia apenas o papel de controle externo e de intervenção, em caso de existência de conflito entre as partes (Salvador 2010, p. 143). As arrecadações objetivavam o pagamento das aposentadorias, pensões dos dependentes dos trabalhadores e redução do valor dos medicamentos. Nesse sentido, os seguros sociais atendiam apenas aos trabalhadores inseridos no setor produtivo, enquanto os excluídos do sistema seriam atendidos pelos programas assistenciais (Cohn, 2001, p. 14). Assim, em 1926, as CAPS se estenderam para os portuários e marítimos, com a Lei nº. 5.109 de 20.12.1926. Estas eram, então, estruturadas como organizações privadas, supervisionadas pelo governo e financiadas pelos trabalhadores, patronato e pela contribuição dos usuários da rede ferroviária, via impostos. Posteriormente alcançaram outras categorias ligadas à infra-estrutura de serviços 14 “Para os marítimos e portuários, depois estendeu a outras categorias vinculadas à infra-estrutura nascente no país e aos servidores públicos”. (Salvador 2010, p.143) 19 públicos, refletindo as características do desenvolvimento capitalista do período, centrado em uma economia agro-exportadora em que esses serviços eram essenciais. De acordo com Salvador (2010, p. 144), a partir de 1930, temos um período marcado por profundas transformações sociais e econômicas no país, “destacandose a industrialização, a regulamentação do mercado de trabalho e o estabelecimento de novas relações salariais”. Esse período marcou o início da industrialização do país, e, consequentemente, o momento em que a produção da vida social assentouse mais no trabalho assalariado. Processo que emerge de uma mudança no sistema de produção, antes basicamente agro-exportador, tornando-se mais industrial e voltado para o mercado interno. O novo cenário cria um trabalhador mais desprotegido e mais exposto aos riscos e acidentes. Entretanto, cada vez mais crítico e consciente de seus direitos, o que torna a questão da proteção social emergente e efervescente no debate nacional. Assim, as lutas sindicais por melhores salários e condições de trabalho e as lutas populares por melhores condições de vida provocaram o confronto entre proletariado, burguesia e Estado, em torno de problemas que se referem à sobrevivência dos indivíduos, na sociedade. Essas lutas desenvolveram a consciência das necessidades da produção e dos indivíduos, em determinadas conjunturas. Assim, a primeira etapa da Era Vargas15 foi marcada pela intensa produção legislativa, com muitas inovações no campo das relações de trabalho e das políticas sociais, sobretudo na previdência social. Em 1930 foi criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, que tinha como uma de suas principais atribuições orientar e supervisionar a Previdência Social. Esse novo Ministério serviu como impulso para a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões - IAPs, que se espalharam por todo o país entre 1933 e 1938, ao mesmo tempo em que as legislações sindicais e trabalhistas sofreram profundas alterações. A autora Cohn (2001), ressalta que os IAPs, diferentemente das Caixas de 15 É importante destacar que de acordo com Salvador (2010, p.144), tal período é dividido historicamente como Governo provisório (1930 a 1934), Governo Constitucional (1934 a 1937) e ditadura do Estado Novo (1937 a 1945). 20 aposentadoria do setor urbano 16, em 1933 criou o Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Trabalhadores Marítimos, através do Decreto nº. 22.872 (de 29.06), considerada a Aposentadorias e Pensões, não vinculadas às empresas e sim às categorias profissionais mais expressivas no mercado de trabalho, para as quais sempre havia um sindicato: marítimos, bancários, industriários, servidores do Estado e comerciários, e ainda, possuíam planos diferenciados de benefícios e serviços, sendo os mais comuns as aposentadorias, as pensões, o auxílio-funeral e o auxíliodoença. Com eles, a assistência particular das empresas esvaziava-se em favor da oferta de serviços previdenciários públicos, cujo financiamento contava com recursos da União, embora a criação dos mesmos não tivesse eliminado a prestação de serviços próprios das empresas (Teixeira, 1991 apud Boschetti, 2003, p. 10). Contudo, apenas em 1934 o sistema previdenciário adquiriu status constitucional, com a Constituição Federal vigente na época, estabelecendo a forma tripartite de contribuição já adotada pelos institutos existentes. Nesse período os comerciários e bancários tinham seus próprios IAPs. Esta Constituição trazia um capítulo sobre direitos sociais, contendo grandes novidades, entre elas, a criação do salário mínimo, regulamentado em 1940, e o retorno da pluralidade sindical. De acordo com Salvador, a Constituição de 1934 incluía como proteção social, assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte. (2010, p.145) Desta forma, conforme este autor, a embrionária legislação social, ao se referir ao seguro social17, adotava o termo “previdência” como sinônimo deste, para 16 Em 1930, foi criado o Ministério do Trabalho, e 1932, a Carteira de Trabalho, a qual passa a ser o documento da cidadania no Brasil: eram portadores de alguns direitos àqueles que dispunham de emprego registrado em carteira (Berhing & Boschetti, 2007, p.106). 17 Os seguros sociais, para Boschetti (2003), significam a garantia compulsória de prestações de substituição de renda em momentos de riscos derivados da perda do trabalho assalariado pelo Estado. Foram implementados lentamente pela Alemanha na era Bismarckiana e surgiram sob a ótica privada, e destinados a reduzidas categorias profissionais, espalhando-se no final do século XIX de tal modo que, em 1938, abrangiam 30 países da Europa, Ásia, Américas e Austrália. Na particularidade brasileira, embora alguns autores considerem a sua reforma em 1988, a partir da Constituição, e a aprovação do Sistema de Seguridade Social sob os princípios beveridgiano, (modelo inglês de políticas sociais) baseado na instituição de direitos universais a todos os cidadãos, 21 designar o pagamento dos benefícios de aposentadorias e pensões. Assim, a previdência, um dos mais importantes seguros sociais, surgiu como uma resposta do Estado às necessidades sociais, decorrentes das desigualdades entre os capitalistas e os trabalhadores, trazidas pela expansão do capitalismo industrial (Faleiros, 1983, p. 120). Em relação à saúde, Salvador (2010) enfatiza que haviam poucas unidades de saúde pública, e estas eram vinculadas aos governos estaduais, limitadas territorialmente às capitais e às principais cidades do interior. O financiamento de tais unidades era oriundo dos orçamentos dos governos estaduais, das ínfimas contribuições da União e filantropias. Contudo, de acordo ainda com este autor, “os trabalhadores assalariados contavam com os benefícios de assistência médica curativa e o fornecimento de médicos das caixas e institutos de aposentadorias” (2010, p. 146). Assim, durante o período de 1933 a 1938 as CAPs são unificadas e absorvidas pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões, que vão sendo sucessivamente criadas, agora congregando os trabalhadores por categorias profissionais. Em 1933 é criado o IAPM (dos marítimos), em 1934 IAPC (dos comerciários), e o IAPB (dos bancários), em 1936 o IAPI (dos industriários), que começa a funcionar somente em 1938, e nesse ano o IAPETC (dos trabalhadores em transportes e cargas). Através das 99 CAPs e dos 5 IAPs, mais de 3 milhões de assalariados urbanos e seus dependentes diretos estavam sob cobertura de diversas instituições previdenciárias, constituindo uma ampla e diversificada estrutura administrativa, profundamente marcada por sua vinculação ao Ministério do Trabalho e à burocracia oriunda do sindicalismo corporativista18 (Iamamoto & Carvalho, 2001, p. 292). Faleiros (2000, p. 45) destaca que o objetivo de Vargas se resumia em "controlar as greves e os movimentos operários e estabelecer um sistema de seguro (Vianna, 1998, p. 130), é evidente que os elementos do seguro não foram eliminados da política de previdência social. 18 Corporativismo consistia na articulação da harmonia entre patrões e empregados pela transformação dos sindicatos em órgãos do Estado e pela atribuição a eles de funções assistenciais. Segundo essa política, os próprios trabalhadores seriam instrumentos de prestação de assistência à sua classe, o que institucionalizou o clientelismo e o peleguismo entre os operários. O peleguismo significa a formação de elementos intermediários para amortecer os conflitos entre as classes, assim como os pelegos amortecem os contatos entre o cavaleiro e o cavalo (Faleiros, 1992, p. 69). 22 social. Falava explicitamente em substituir a luta de classes pela colaboração de classes". A cooptação sindical desse período é característica básica, que revela que o sistema de seguro social foi implantado na ótica da seletividade, deixando uma grande demanda da população brasileira fora das estruturas de proteção social. De acordo com Cabral (2000), o projeto previdenciário foi articulado com um conjunto de medidas sociais e trabalhistas que integram uma estratégia maior de política estatal da proposta nacional desenvolvimentista de Vargas. Do ponto de vista estrutural, estava em construção um novo patamar da acumulação capitalista no país, com base no processo de substituição das importações via instalação de um parque industrial e ação ativa do Estado na economia e no setor social, redefinindo as novas relações entre o projeto previdenciário e a sociedade. Com a expansão industrial e o aumento do trabalho assalariado, a previdência social sofreu sua primeira crise, em virtude do aumento do número dos segurados e da inadimplência do Governo para com o sistema, que atingiu cifras significativas. Entretanto, cabe destacar que em 1937 o governo reagiu à pressão dos trabalhadores com um golpe político, instalando o chamado Estado Novo, que vigorou até 1945. Esse Estado Novo se traduziu na eliminação do que existia de democracia representativa no país. Os sindicatos únicos19 foram restabelecidos, as greves proibidas, os partidos políticos abolidos, o Congresso Nacional fechado e toda e qualquer oposição ao Governo reprimida. Segundo Araújo (1991), em 1945, a dívida do Estado com os IAPs equivalia a 85% das despesas totais do conjunto do sistema, pois além das cotas das taxas de previdência ficarem retidas pela União, as reservas do Sistema eram repassadas ao Estado, através de investimentos em títulos da dívida pública ou ações de empresas estatais. Esses recursos foram utilizados para o projeto econômico do Governo de desenvolvimento industrial, a exemplo da indústria de celulose, siderurgia, de álcalis e energia elétrica. Assim, os IAPS “foram utilizados como instrumentos de captação de poupança para realização de investimentos eleitos como estratégicos pelo governo no processo de industrialização”. (Salvador, 2010 p. 148) 19 Além da necessidade de reconhecimento do sindicato por parte do Estado, a legislação também estabelecia a unicidade sindical, ou seja, somente poderia haver um sindicato por categoria em determinada base territorial. A unicidade sindical é o sindicato único estabelecido em lei (Boito Jr, 1991, p. 27). Uma segunda ação decisiva do Estado foi o estabelecimento, também por lei, em 1940, da contribuição compulsória – o imposto sindical –, extensiva a todos os trabalhadores, independente de serem sindicalizados ou não. 23 Em 1945, conforme ainda este autor, o presidente Getúlio Vargas tentou unificar as CAPs e os IAPs, quando assinou o Decreto-Lei nº. 7.526, em 07.05, criando a Lei Orgânica dos Serviços Sociais no Brasil, cujo objetivo era juntar os IAPs e o Instituto de Serviços Sociais do Brasil - ISSB, com o intuito de promover serviços de previdência, assistência médico-hospitalar e condições de melhorias nas áreas de alimentação, vestuário e educação. Contudo, em meados da década de 1940, finda-se o Estado Novo e o primeiro mandato de Getúlio Vargas, com sua deportação em 29 de outubro de 1945. Diante desse quadro, volta o pluripartidarismo 20, eleições diretas e, consequentemente, há uma grande retomada do movimento organizado dos trabalhadores, oprimidos pelo autoritarismo de Vargas. Não obstante, a legislação social e o decreto do salário mínimo não foram suficientes para impedir a deterioração das condições de vida dos trabalhadores. As bases legais também não significaram a verdadeira efetivação dos direitos, que eram desrespeitados ou usados como instrumentos para reforçar o mando patronal. Conforme Paoli apud Telles, (1987, p. 87), os direitos se transformaram em regras legais no processo de trabalho, mas deslegitimaram a reivindicação e legalizaram a repressão. A política social brasileira dos anos 1945 até o início de 1964 foi marcada fortemente pela ideologia populista21, o que permitiu, de certa forma, "voltarmos a ter uma ativação da sociedade civil, o que levou inclusive à forte participação de sujeitos políticos organizados nos movimentos que antecederam o golpe de 1964" (Coutinho, 2002, p. 22). A legislação da previdência após 1945 sofreu profundas mudanças em relação ao período de 1930 a 1945. Porém, as políticas sociais 20 Ver Fleischer, 1981; Souza, 1976. O populismo brasileiro surge sob o comando de Vargas e os políticos a ele associados. Desde 1930, pouco a pouco, vai se estruturando esse novo movimento político. Ao lado das medidas concretas, desenvolveu-se a ideologia e a linguagem do populismo. Ao mesmo tempo em que os governantes atendem a uma parte das reivindicações do proletariado urbano, vão se elaborando instituições e símbolos populistas. Pouco a pouco, formaliza-se o mercado de força de trabalho, no mundo urbano-industrial em expansão. Ao mesmo tempo, as massas passam a desempenhar papéis políticos reais, ainda que secundários. Assim pode-se afirmar que a entrada das massas no quadro das estruturas de poder é legitimada por intermédio dos movimentos populistas. (...) No conjunto, trata-se de uma política de massas específicas de uma etapa das transformações econômico-sociais e políticas no Brasil. Trata-se de um movimento político, antes do que um partido político. Corresponde a uma parte fundamental das manifestações políticas que ocorrem numa fase determinada das transformações verificadas nos setores industrial e, em menor escala, agrário. Além disto, está em relação dinâmica com a urbanização e os desenvolvimentos do setor terciário da economia brasileira. Mais ainda, o populismo está relacionado tanto com o consumo em massa como com o aparecimento da cultura de massa. “Em poucas palavras, o populismo brasileiro é a forma política assumida pela sociedade de massas do país" (Ianni, 1971, p. 209-211). 21 24 respaldavam-se na seletividade e na excludência das classes trabalhadoras, já que só foram beneficiadas as categorias profissionais mais estruturadas e inseridas funcionalmente no mercado de trabalho e que manifestavam expressiva capacidade de pressão, a exemplo dos marítimos, bancários, industriários, servidores do Estado e comerciários. Cohn (2001) aponta que a partir de 1946, sob a democracia populista, há a cooptação das classes assalariadas pelo poder instituído, ao mesmo tempo em que, com o processo de intensa mobilização e luta dos trabalhadores, na busca de formas de organização não verticalizadas, transformava-se o controle da previdência social num importante elemento de reivindicação desses setores, que demandavam o controle dos IAPs. Com o ritmo acelerado da industrialização durante a década de 1950, todo o sistema previdenciário cresceu em volume de recursos, em aparato institucional, e em clientela a ser atendida. Nesse período, o custo da assistência médica experimentou rápida e progressiva elevação, especialmente em função da incorporação tecnológica, trazida pelos avanços produzidos no campo científico e tecnológico, desde a Segunda Guerra Mundial. Ao lado disso, apresentava-se uma demanda social aumentada pelo exército de desempregados, e pelos escombros a que a Europa se viu reduzida, num sistema econômico mundial em crise, pela destruição dos grandes centros produtores e consumidores. Assim, conforme ainda Cohn (2001), a emergência de uma classe média urbana, ávida de inserção nas condições de vida satisfatória, entre as quais se inclui o cuidado à saúde, ocorreu ao lado de um contingente de trabalhadores assistidos por uma estrutura médica hospitalar própria, mas também conveniada e financiada pela previdência dos IAPs. Entretanto, em 1964, com a posse do governo militar, que foi marcado pelo acirramento das desigualdades sociais, pela concentração de renda, e pela intervenção do Estado nos moldes do regime autoritário-burocrático, o compromisso com uma maior acumulação do capital e com o crescimento econômico romperam com o antigo relacionamento democrático entre o Estado a sociedade civil. Assim, os trabalhadores politicamente mais organizados, com influências na formulação de políticas sociais foram desmobilizados, e o trato das seqüelas da questão social foi despolitizado. 25 O golpe de 1964 [...] é dado contra forças sociais crescentes, como o movimento dos trabalhadores rurais, pela primeira vez atuando como ator político, através de sindicatos e de ligas camponesas; como o movimento sindical dos trabalhadores urbanos, extremamente forte naquele momento, organizado na Central Geral dos Trabalhadores (CGT); como o movimento estudantil, liderado pela união Nacional dos Estudantes (Une) etc. Mas eu diria que a prova de que a sociedade civil ainda não era consolidada, estável, é que foi possível acontecer o golpe tal como aconteceu, ou seja, sem nenhuma efetiva reação popular, pelos menos no primeiro momento. Foi anunciado o golpe e resistiu-se muito pouco; a greve geral prevista pelos sindicatos e pela esquerda, e proposta como reação ao golpe, não vingou. Aquela sociedade civil já não existia e isso foi o suficiente para amedrontar a burguesia, para unificar o conjunto das classes dominantes e levá-las a romper com qualquer formalidade democrática durante muitos anos; mas não era ainda consolidada e organizada (Coutinho, 2002, p. 23). Dessa forma, desaparece o populismo e a sociedade civil silencia pela dominação política exercida abertamente pelos militares e tecnocratas instalados nas altas esferas do poder executivo. São tomadas medidas de desengajamento popular nos processos decisórios e o Estado assume mecanismos mais aperfeiçoados de controle, repressão e cooptação. Para Couto: O golpe militar e a forma de governo estabelecida a partir dele tiveram uma incidência importante no campo dos direitos, uma vez que, embora nos discursos oficiais ainda se colocasse a democracia e a garantia dos direitos como razões para a existência da revolução, os instrumentos legais editados nesse período demonstram muitas razões para que se comprove o contrário. (2004, p. 120). Netto (1999) destaca que a ditadura de 1964 representou o estabelecimento de uma relação de interesses da burguesia nacional, representadas pelos grandes setores latifundiários e pelas corporações transnacionais, notadamente norteamericanas, com o objetivo de redimensionar o Estado e a sociedade brasileira em virtude dos interesses do grande capital. Assim, a conjuntura do período da ditadura militar (1964 - 1985) foi marcada também por um novo padrão de acumulação capitalista no Brasil: o monopolista, que redefine as relações Estado-sociedade. Segundo ainda Netto, (...) a idade do monopólio altera significativamente a dinâmica inteira da sociedade burguesa: ao mesmo tempo em que potencia as contradições fundamentais do capitalismo. (...) a constituição da organização monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados (...) (Netto, 2001, p. 1920). 26 Esse fato, por um lado, ensejou mudanças no processo tecnológico de produção e fez surgir a necessidade de abertura de um novo mercado consumidor. Por outro lado, tal modelo de desenvolvimento econômico, centralizado pelos interesses das corporações transnacionais, em associação com o capital nativo, exigiu o controle da população, o esvaziamento das reivindicações sociais e o rebaixamento salarial, o que reforçava a postura autoritária do governo militar. Portanto, no governo militar, o tratamento da questão social, via repressão e assistência, subordinada aos preceitos da segurança nacional e da acumulação capitalista, implicou não só no agravamento das tensões sociais, na ampliação do processo de pauperização absoluta e relativa dos assalariados, mas também estimulou o reaparecimento dos trabalhadores no cenário político da sociedade, a partir da crise e do milagre, na luta por melhores condições de vida e de trabalho. Aí a assistência reaparece na pauta de reivindicação dos movimentos sociais e do próprio movimento sindical, como estratégia mobilizadora pelos trabalhadores para fazer face ao crescente processo de exploração no confronto com o capital e o trabalho. Assistência torna-se também uma demanda da própria classe trabalhadora. Ela passa a ingressar como parte da luta pela conquista da cidadania na época do regime militar, administrada e tutelada pro um Estado que Chico de Oliveira chama de Estado do Mal-estar social, em que os fundos públicos são canalizados para a reprodução do capital, estando ausentes no que diz respeito aos interesses do trabalho (Iamamoto, 1987, p. 44). Por sua vez, a previdência social cumpriu um importante papel nesse período, como política compensatória, ampliando programas assistenciais, numa realidade em que o Estado voltava-se, especificamente, para garantir uma maior acumulação do capital. Segundo Netto (2001) os sistemas de previdência social, além de exercer um importante papel de preservação e controle da força de trabalho, servem também como instrumento para evitar o subconsumo no mercado. Assim, a previdência social no contexto da ditadura militar, adota o modelo centralizado, em oposição ao modelo anterior, mais autônomo, onde as lideranças sindicais, quando não controlavam as organizações previdenciárias, exerciam forte pressão. Sobre elas o referido modelo foi elaborado dentro de critérios técnicos e administrativos considerados "apolíticos", porque excluíam qualquer possibilidade de interferência sindical em sua programação. A reforma implantada emergiu de uma situação na qual, em termos técnicos, refletia os objetivos e valores de um grupo de especialistas, convergindo com os objetivos políticos de centralização e 27 controle do regime político-militar implantado em 1964, reforçando-os. Isso revela os motivos para a ampliação das políticas sociais na sociedade brasileira, a partir de meados da década de 1960, entre elas, a política social previdenciária, acionada pelo capital como um instrumento compensatório. Nesses termos, destacamos: a) a criação do Instituto Nacional de Previdência Social - INPS em 1966, com a unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), com a supressão dos trabalhadores da sua gestão, limitando a sua participação apenas ao financiamento da previdência, através da contribuição mensal retirada de seus salários; b) o PRORURAL, em 1971, o qual foi executado pelo FUNRURAL (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural), e estendeu os benefícios e serviços de assistência médica aos trabalhadores do campo, além de responder à capitalização do setor agrícola e à ascensão do movimento organizado dos camponeses, originário dos anos sessenta, e c) a inclusão dos empregados domésticos e trabalhadores autônomos ou empregadores (individuais) que contribuíssem para o INPS, com 16% de sua renda básica (1972/1973). Em suas reflexões Médici (2005) afirma que, com a criação do INPS, o sistema previdenciário passou também a ser o responsável direto pela assistência médica de todos os trabalhadores formais que contribuíam com a previdência, independentemente do ramo de atividade ou categoria profissional. Essa extensão de cobertura trouxe problemas para as instituições de assistência médica da previdência social, uma vez que, os estabelecimentos dos antigos IAPs não davam conta dessa nova clientela do INPS. Foi necessário então, não apenas ampliar as instalações de assistência médica da previdência, como também, contratar uma rede maior de estabelecimentos privados que, mediante processos de compra e venda de serviços médicos por Unidade de Serviço (US), passariam a integrar a rede de assistência médica do INPS. Entretanto, conforme ainda este autor, foi na década de 1970, quando o Brasil ocupava o 8º lugar entre as economias capitalistas do mundo, e se propalava o "milagre brasileiro” 22 , que os recursos previdenciários começaram a sofrer reduções, quer porque o sistema tinha alcançado níveis de maturidade que elevavam as despesas com aposentados, quer porque o volume de gastos com a Na década de 1970, o Brasil viveu o período que ficou conhecido como o do “milagre econômico”, em que foram apresentados altos índices de crescimento e o consumo de bens duráveis alcançou patamares nunca antes vistos, além da construção de estradas, hidrelétricas e a consolidação de um grande parque industrial no país. (Couto 2008, p.127). 22 28 assistência médica, por meio de redes privadas, era muito alto, ao ponto de se permitir que fossem estruturados no país grandes complexos de serviços médicos particulares; quer porque os mesmos, já haviam sido desviados para investimentos que favoreciam o empresariado industrial brasileiro. Conforme Salvador, Uma das principais características que esteve presente nas políticas sociais durante a ditadura militar (1964 a 1985) foi o padrão regressivo de financiamento. (...) As políticas integrantes do complexo previdenciário (previdência, assistência médica e assistência social) tiveram como principal base financeira, no período, o Fundo de Previdência e Assistência Social (FPAS), mantido pelas contribuições dos assalariados, dos empregadores e dos trabalhadores autônomos, denotando as características regressivas dessas fontes de financiamento. (2010, p. 158) Por conseguinte, o governo militar adotou na previdência uma política de redução de benefícios com o congelamento dos seus valores. Nesse cenário, o Estado começou a usar o discurso governamental da situação deficitária da previdência23. De fato, as mudanças ocorridas no período ditatorial passaram longe de um padrão de bem-estar social24, a expansão dos programas sociais foi seletiva e com o favorecimento do setor privado, principalmente nas áreas de saúde e previdência, habitação e educação. Segundo ainda Salvador, durante a ditadura militar “foi criada a medicina empresarial (grupo) e a previdência complementar privada, além da extinção dos mecanismos que garantiam a participação dos trabalhadores no controle dos sistemas existentes anteriormente”. (2010, p.158) A partir de 1977 a previdência social passou por novas modificações com a criação do Sistema Nacional de Assistência da Previdência Social - SINPAS, através da Lei nº. 6.439, sob orientação, coordenação e controle do MPAS, que previa uma descentralização por área de atividade, ou seja, uma política de previdência, de assistência médica, farmacêutica e social com supervisão dos 23 Para aprofundamento ver Bravo, 2007; Quanto à análise da origem das políticas sociais na particularidade brasileira, estudiosos têm afirmado que o "Estado de Bem-Estar Social", em comparação a outros países, não se concretizou, afirmando alguns que, no Brasil, historicamente, o que predominou, foi um "Estado de Mal-Estar Social", sendo um importante instrumento dos interesses conservadores e elitistas da sociedade. Isso porque as políticas de bem-estar social deram-se, principalmente, após a Segunda Guerra Mundial e referem-se ao "financiamento público das despesas sociais consagradas ao ensino, aos serviços de saúde, às pensões, à indenização de desemprego" (Brunhoff, 1991, p. 55). Isso foi possível graças à existência de um compromisso de classes que liga o Estado, o patronato e os sindicatos a um conjunto de concessões múltiplas. 24 29 órgãos que o constituíam. A finalidade do SINPAS estava respaldada na tentativa de diminuir gastos e racionalizar a administração das várias instituições do sistema previdenciário. Assim, entre outras medidas, restringiu as atribuições do INPS à gerência do sistema de benefícios previdenciários e criou o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social - INAMPS, para cuidar exclusivamente dos assuntos relativos à assistência médica. No entanto, conforme ainda Salvador (2010) em relação à saúde, muitos brasileiros permaneciam ainda sem acesso a serviços médicos, pois estes consistiam na existência de um setor privado de saúde para o atendimento via planos de saúde, destinados a uma parcela reduzida de trabalhadores assalariados. É notório que a produção privada de bens e serviços de saúde foi crescente neste período, financiada pelo Estado via arrecadação da previdência. As análises apreendidas até aqui, permitem visualizar que, ao longo do período ditatorial, foi consolidado no Brasil um “arcabouço político-institucional das políticas sociais brasileiras”. De acordo com Salvador, estas continham as seguintes características: 1. extrema centralização política e financeira no nível federal das ações sociais do governo; 2. fragmentação institucional; 3. exclusão da participação social e política da população nos processos decisórios; 4. autofinanciamento do investimento social; e 5. privatização”. (2010, p.158) Segundo Couto (2008), o cenário brasileiro dos anos de 1980 apresentava um país com grandes dificuldades, decorrentes da alta concentração de renda e o conseqüente agravamento da questão social, e ao mesmo tempo, um tempo pródigo em movimentos sociais e em participação da sociedade, envolvida no movimento pré-Constituinte que fez germinar a construção de uma nova Constituição. 1.2 Década de 80: Constituição Federal e a criação do SUS Como visto anteriormente, podemos considerar que as medidas de proteção social iniciaram-se no Brasil na década de 20, com a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP‟s), que mediante contribuição, possibilitavam aos trabalhadores o acesso aos serviços de saúde e previdência social. Já no período 30 ditatorial, a política social vai caracterizar-se pelo controle, fragmentação e seletividade frente às demandas dos trabalhadores urbanos, institucionalizando os seguros sociais para as categorias de trabalhadores mais organizadas politicamente e mais estratégicas ao desenvolvimento do capitalismo monopolista em ascensão, como eram os casos dos marítimos, dos estivadores, dos bancários e dos industriários. Segundo Bravo (2007) no que diz respeito à fase do processo Constituinte, tem-se que os seus princípios basilares remontam ao período da transição democrática projetada por Geisel nos anos 1974-1979, no âmbito da sua política de distensão, desenvolvida ainda no contexto da ditadura militar. Este momento corresponde, em essência, a uma estratégia pactuada de mudança do regime militar para um governo liberal-democrático, sob a hegemonia de forças conservadoras, ocorrido em meio a uma crise marcada pela recessão econômica. Neste período, a política econômica é reafirmada na tríade capital nacionalprivado, capital internacional e o estatal, engendrando uma queda no padrão de vida da classe trabalhadora que, reativamente, impulsiona o ressurgimento do movimento operário e da organização partidária25 que emergiu na sociedade civil as organizações e movimentos populares, reivindicando melhorias nas condições de vida. Para a autora, a crise do “milagre econômico” brasileiro, que se evidenciou a partir de 1974, e seus efeitos sobre a população permitiram o reaparecimento, no cenário político, de forças sociais que lutavam para recuperar o espaço vedado com o golpe de 1964, cabendo destacar o sindicalismo operário, aliado às categorias profissionais dos estratos médios; os trabalhadores rurais, uma parcela da Igreja, que se posicionou em favor das classes trabalhadoras, e entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), bem como os movimentos urbanos. Durante o período de 1979 a 1985 com o aprofundamento da crise econômica ocasionou enorme endividamento externo, acarretando maior índice de desemprego, 25 É nesse sentido que Mota (1995, p.104) op. cit, assevera que: “[...] no Brasil, a década de 80 representou uma derrota para os trabalhadores no campo econômico, mas certamente, o mesmo não ocorreu no campo da ação organizada das classes subalternas. Os trabalhadores ampliaram, significativamente, sua organização com a formação do novo sindicalismo político, com a criação da CUT, com a construção do Partido dos Trabalhadores e com um amplo leque de movimentos reivindicatórios [...]”. 31 arrocho salarial e a crise da previdência, como dito anteriormente. Conforme Navarro apud Mota (2008, p. 71): (...) crise econômica que, tematizada como produto do esgotamento do padrão de acumulação, subsume na economia uma questão política; subtraise da questão os processos de resistência das classes trabalhadoras, sobretudo nos anos 60, como um dos fatores que desencadeiam a crise. Conforme ainda Bravo (2007), dentre as principais questões identificadas no período ressalta-se o aprofundamento da dívida externa, a elevação da taxa inflacionária, a recessão econômica, que tornou aguda a situação de desemprego e ampliou o processo de pauperização das classes trabalhadoras, com o crescimento da mortalidade infantil e morbidade, por doenças infecciosas. O avultamento dessas questões gerou tensões sociais e violência urbana, dificilmente controlável pelo sistema, o qual teve de enfrentar também déficits no orçamento público. Além das contradições internas, o governo se viu diante da crise energética de âmbito mundial. Bravo (2007) ressalta que, no último governo do regime ditatorial, representado por Figueiredo e sua política de abertura, tem-se como consolidação das liberdades democráticas, o restabelecimento do hábeas corpus, a anistia, a reorganização partidária e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982. Ressalta-se dentre essas mobilizações sociais, a campanha das “Diretas Já”, algo até então nunca vivenciado no país: ma multidão concentrada nas principais cidades, cujo objetivo manifesto era a defesa das eleições diretas para Presidente da República. Segundo Couto: (...) pode-se demarcar que do ponto de vista dos direitos políticos, civis e sociais, os governos que se sucederam de 1964 a 1985 primaram por aniquilar os direitos políticos e civis e por novamente acionar, ainda que de maneira restrita, medidas na área social, desenhando o perfil limitado e autoritário na concepção de direitos sociais, onde os mesmos tinham a finalidade de assegurar a sustentação política do regime. (2004, p. 135). Estes acontecimentos culminaram com a reconstitucionalização do país, inaugurando-se a Nova República sob o governo do presidente José Sarney em 1985, mostrando novas possibilidades frente à insatisfação popular, como vimos anteriormente, principalmente devido às condições de vida da população. Sendo assim, a década de 80 se apresentou com fortes indícios para a mobilização popular 32 e a participação de diversos setores da sociedade civil, e por conseqüência, as reivindicações por direitos sociais, materializados através das políticas sociais – o que teve seu apogeu na Constituição de 1988. Couto evidencia esse paradoxo existente da década de 1980: A década de 80 mostrou-se um país com enormes dificuldades geradas pela grande concentração de renda e por uma política econômica restritiva do ponto de vista da participação da população na riqueza nacional (...). Ao mesmo tempo, foi uma década pródiga em movimentos sociais e em participação da sociedade, organizando-se por meio de entidades e organizações não-governamentais (ongs) e sindicatos, para participarem do movimento pré-constituinte. (2004, p.137) Não contraria a essa idéia, Motta (1995) enfatiza que, tal conjuntura econômica dos anos 80, pode ser compreendida como expressão particular de um processo de proporções mais amplas, que atinge o capitalismo contemporâneo e assume características peculiares no Brasil, em função da sua integração subordinada à ordem internacional. Esta autora esclarece que o termo crise não é utilizado como sinônimo de colapso ou falência, mas na perspectiva de apreender as transformações por que passam o Estado e a sociedade, e as novas relações que estes estabelecem. Não obstante, a autora Raichelis (2007) em sua análise, afirma que, diante da crise do Estado autoritário, do agravamento da questão social na década de 80 – a chamada “década perdida”, em função do aumento da pobreza e da miséria, e da luta pela democratização do Estado e da sociedade, intensifica-se o debate sobre as políticas públicas, especialmente as de corte social. Este movimento põe em discussão não apenas o padrão histórico que tem caracterizado a realização das políticas sociais em nosso país - seletivo, fragmentado, excludente e setorializado mas também a necessidade de democratização dos processos decisórios responsáveis pela definição de prioridades e modos de gestão de políticas e programas sociais. Em conseqüência da crise houve o descontentamento de toda a sociedade, levando a mesma à luta pelos seus direitos, ocorrendo iniciativas populares na política em forma de partidos. Os movimentos sociais se mobilizaram não somente em função dos salários, mas também para a questão da saúde, visando à melhoria dos serviços prestados à população, conforme afirma Behring (2003, p. 49), 33 (...) a sociedade emergiu com força inusitada dos porões da repressão com manifestações de rua, formação de comitês, articulação de organismos, estruturação de baixo-assinados, organizações de lobbies. Fizeram-se ouvir as vozes de mulheres, índios, negros, alem de empresários setores específicos de empresas, ruralistas, evangélicos na disputa por seus interesses na Assembléia Nacional Constituinte. É neste contexto que, na década de 1980, profissionais da saúde e representantes da sociedade civil, na busca por soluções mais eficazes que amenizassem as problemáticas advindas das questões conjunturais e estruturais que repercutiam na área da saúde e, portanto, na vida dos indivíduos se mobilizaram, culminando em conferencias, seminários, e mobilizações no estado de São Paulo, debatendo o agravamento da situação da saúde principalmente na VII e VIII Conferência Nacional de Saúde (Faria & Jatene, 1995). No mesmo período de agudização das expressões da questão social que a Saúde Pública, através do Movimento de Reforma Sanitária apresentou um projeto de política de saúde que até então não se tinha visto na realidade brasileira. Resultou, portanto, uma nova forma de relação entre Estado e Sociedade Civil, provenientes dos embates entre diferentes atores sociais. Sobre esse processo, Bravo 2007, ressalta que a luta pela saúde se ampliou e diversos movimentos se destacaram, dentre eles: os movimentos de bairros de periferia urbana e favelas, políticas, eclesiais de base e sindicais, colocando na pauta de reivindicações essa questão. A partir desses movimentos, surgiram eventos que debateram sobre a política de saúde. O primeiro foi a VII Conferência Nacional de Saúde-CNS, que estava marcada para 1979 e ocorreu em março de 1980, e teve como pontos importantes, a proposta de implantação de um Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde, tendo como objetivo principal a extensão da cobertura dos serviços de saúde à população. Também foi discutido nesta Conferência o resgate da presença dos trabalhadores que foram excluídos da gestão da previdência e reprimidos em suas bases sindicais. Segundo Bravo (2007) foi a partir da VII CNS que se articulou o Conselho Consultivo de Administração de Saúde Previdenciária-CONASP, objetivando sistematizar as políticas de assistência à saúde da população previdenciária, e apresentando algumas estratégias de racionalização dos recursos alocados para a assistência médica. 34 O CONASP, segundo Almeida (1995), composto por representantes da medicina, de vários Ministérios, de trabalhadores, do setor patronal e dos prestadores privados de serviços, com o objetivo de reorganizar a assistência médica no Brasil, reduziu custos e controlou gastos com a assistência médica. O CONASP teve a finalidade de estudar e propor normas mais adequadas para a prestação de assistência à saúde da população previdenciária, assim como indicar a necessária alocação de recursos financeiros de qualquer outra natureza, indispensáveis à operação dessa assistência. De acordo com Oliveira & Teixeira (1986) apud Bravo, o CONASP tinha tais propostas: 1. Melhoria de qualidade da assistência à saúde prestada à população, pelo Inamps direta ou indiretamente; 2. Cobertura assistencial em igualdade de condições, a toda a população rural e urbana; 3. Planejamento da assistência à saúde de acordo com parâmetros assistenciais aceitáveis, respeitadas as disponibilidades orçamentárias do Inamps e das demais instituições envolvidas no processo; 4. Aumento da produtividade dos recursos da Previdência Social, aplicados em saúde com racionalização das formas de prestação de serviços. Uma das estratégias postas do CONASP foi à criação, em 1984, das Ações Integradas de Saúde-AIS, que tiveram propostas de articulação dos recursos federais, estaduais e municipais para a atenção à saúde. Iniciaram com estas ações um processo “embrionário” do SUS no que se refere à universalização (agora o direito à saúde na assistência médica era para toda a população, independente de vínculos previdenciários), priorização dos serviços de atenção primária à saúde, com ênfase na prevenção e descentralização nas decisões administrativas técnicas e políticas. As AIS, como todo projeto inicial, dependendo da intencionalidade política e da correlação de forças que permeiavam as ações em suas implantações, desencadearam algumas distorções ou utilização incorreta da máquina pública, conforme percebemos na citação realizada por Marsiglia (1993, p.26) referente à alocação de recursos aos municípios, Face a face com uma crônica escassez de recursos humanos, materiais e financeiros, a grande maioria dos municípios do país passou a dispor, com os convênios AIS, dos primeiros recursos financeiros que lhes foram repassados pelo INAMPS. Embora muitos municípios não tivessem utilizado os recursos com presteza e eficiência necessária, outros aproveitaram esta oportunidade para criar Secretarias de Saúde com máquinas autônomas da educação, da promoção social ou do saneamento. 35 Assim, Andrade (2007) destaca que, a partir destas proposições, duas medidas importantes foram tomadas, sendo a integração do INAMPS com o Setor Publico de Saúde e a Implementação do Sistema de Assistência médico-hospitalar da Previdência Social, induzindo novos mecanismos de auditoria técnica além de propostas de co-gestão hospitalar. (...)as AIS criaram a infra-estrutura fundamental de rede física de cuidados básicos de saúde, essencial ao posterior desenvolvimento das políticas de universalização e descentralização (...) na construção de um sistema de saúde descentralizado”. (Guimarães, 1994,p.86) Porém mesmo com a criação das AIS, não foi possível resolver toda a problemática que a saúde estava enfrentando. Então foi criado o Sistema Unificado e Descentralizado – SUDS, que contribuiu para o desenvolvimento da qualidade das AIS e de sua consolidação. Através destes movimentos sociais e ações voltadas para a melhoria da saúde, os profissionais dessa área, professores universitários, estudantes de medicina, sindicalistas e os movimentos populares da sociedade civil se organizaram em busca de um ideário. Estes grupos deram origem ao Movimento Sanitarista, cujo objetivo era buscar respostas para os dilemas da política de saúde nacional, influenciados também pelos debates mundiais acerca da promoção da saúde, tendo como ideal a busca pela saúde enquanto direito de todos e dever do Estado. (Bertolli Filho, 2001) O Movimento Sanitário é, conforme a interpretação de Fleury 1995, apud Escorel (1995): Como de caráter contra-hegemônico, concretizador das propostas de transformação do Sistema de Saúde – constituído na primeira década do regime autoritário que materializava a hegemonia da política de mercantilização da medicina sob o comando da Previdência Social. (1995, p. 95) Segundo Bertolli Filho (2001), as ações de assistência à saúde da população em geral passaram, então, a ser discutidas pelo Movimento da Reforma Sanitária em um processo político que, motivado pelos médicos sanitaristas, mobilizou a sociedade brasileira, propondo novas políticas e novos modelos de organização do sistema, serviços e práticas de saúde. Todo este esforço convergia para uma 36 política de saúde democrática, com propostas que procuravam instituir programas que atendessem às necessidades do usuário, antes centralizadas nas mãos do governo federal, visando à descentralização dos serviços, tendo também como princípios a universalização e a unificação. Outro fato marcante e fundamental para a discussão da questão da saúde no Brasil, nesse período, ocorreu na preparação e realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em março de 1986, em Brasília. A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um marco significativo não somente na história da saúde, mas também no contexto brasileiro das políticas sociais, pois visava debater com os diversos atores sociais que ali estavam presentes as problemáticas na área da saúde e também questões permeadas no momento pré-constituinte. As temáticas discutidas foram acerca da saúde enquanto direito inerente à personalidade e à cidadania, a reformulação do Sistema Nacional de Saúde, em consonância com os princípios de descentralização, participação universalização e integração entre os entes federativos (União, estados, municípios), e sobre o financiamento setorial. A Conferência propiciou a criação de uma comissão composta por vários segmentos da sociedade que objetivavam propor mudanças no padrão organizacional do sistema de proteção social no país (...) embora de fato, a repercussão se deu mais na área da saúde e da previdência. (Marsiglia, 1993, p. 27). Esta Conferência, ao contrário das anteriores, contou com a participação de mais de 4.500 pessoas, exibiu o momento em que ganhava força a discussão sobre o direito de todos ao acesso à saúde e consolidou os princípios defendidos pelo Movimento da Reforma Sanitária. Conforme Bravo (1996, p.77) os setores empresariais da saúde não participaram, em protesto contra o principio da conferência, que se fundamentou no conceito de saúde enquanto direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Foi reforçada ainda, nesta conferência a necessidade de ampliar as propostas das AIS, almejando ações mais eficazes no que se refere à unificação do Sistema de Saúde – com fortes traços para a universalização e a descentralização político administrativa. Para que estas questões pudessem ser definidas com maior clareza e alcançassem os objetivos propostos na Conferência, segundo consta nos Anais desta Conferência, a discussão foi iniciada a partir de uma reflexão sobre o próprio conceito de saúde, 37 (...) saúde não é simplesmente a ausência de doença, não é simplesmente o fato de que, num determinado instante, por qualquer forma de diagnóstico médico, ou através de qualquer tipo de exame, não seja constatado doença na pessoa. Para a OMS, é mais do que isso: além da simples ausência de doença, saúde deve ser entendida como bem estar físico, mental e social. (BRASIL, 1987, p. 36). Arouca (2002) continua evidenciando que para tal compreensão, faz-se necessário a abrangência da interpretação deste conceito, pois uma qualidade de vida implicaria em questões mais amplas, até então não subsumidas no Brasil. A partir desta visão, o processo saúde-doença deixou de ser entendido apenas enquanto alternativas individuais e pontuais, alcançando uma compreensão mais abrangente, a partir do modo como os homens estabelecem relações com o meio, das relações que estabelecem entre si enquanto indivíduo e enquanto grupo. Materializou-se, assim, na VIII Conferência Nacional de Saúde o consenso em torno dessa nova lógica que permeava a definição de saúde, seus determinantes, sua incorporação ao direito de cidadania, a conseqüente intervenção do Estado e a criação do Sistema Único de Saúde, conforme evidencia Marsiglia: (...) o Movimento Sanitário encaminhou a elaboração de um projeto para a área, que se denominou Reforma Sanitária, buscando definir ao nível do Legislativo as normas legais a serem inseridas na Nova Constituição Federal para garantir a efetivação das reformas. (Marsiglia, 1993, p. 27). Segundo Bravo (1996), essa conferência representou um marco para a sociedade, pois a introduziu no cenário da discussão da saúde. Os debates saíram dos seus fóruns específicos (ABRASCO, CEBES, Medicina Previdenciária, Saúde Publica), assumindo outra dimensão com a participação das entidades representativas da população. A questão da saúde expandiu ainda à análise setorial, referindo-se à sociedade como um todo, propondo-se não somente o Sistema Único, mas a Reforma Sanitária. (Bravo apud Netto, 1996, p.77). O relatório final da VIII Conferência Nacional de Saúde (Anais, 1987, p. 382) foi divulgado amplamente entre os participantes e os delegados, e nele continha o conceito de saúde e a necessidade de reestruturação do setor com a criação do Sistema Único de Saúde, que representasse uma nova estrutura que separasse a saúde da previdência. Neste relatório a saúde, em seu sentido mais amplo, foi considerada como resultante das condições de alimentação, moradia, trabalho, meio 38 ambiente, lazer, acesso a bens e serviços, sendo então referência para os constituintes dedicados à elaboração da Carta Magna de 1988, conforme Arouca (1991). O processo constituinte e a promulgação da Constituição de 1988 representaram no plano jurídico, o compromisso com a afirmação e extensão dos direitos sociais em nosso país, frente à grave crise e às demandas de enfrentamento dos enormes índices de desigualdade social existentes. A Constituição Federal inseriu avanços, em busca de corrigir injustiças sociais acumuladas ao longo do tempo. Em relação à saúde, a Assembléia Constituinte se transformou em uma arena de interesses políticos, onde de um lado estava um bloco formado por grupos empresariais, tendo como líderes a Federação Brasileira de Hospitais (que representava o setor privado), e a Associação de Indústrias Farmacêuticas (representando as multinacionais), e do outro lado, o bloco da Reforma Sanitária, representadas pela Plenária Nacional de Saúde na Constituinte, órgão que passou a congregar cerca de duas centenas de entidades representativas do setor26. Bravo (2007) considera que a eficácia da Plenária das Entidades, para atingir seus objetivos, foi resultado do uso de três instrumentos de luta: a capacidade técnica de formular com antecipação um projeto de texto institucional claro e consistente, a pressão constante sobre as constituintes e a mobilização da sociedade. Nessa perspectiva, o direito à saúde articulado pela Reforma Sanitária fundamenta o protagonismo dos sujeitos sociais para defesa dos direitos à saúde, através de apoio, participação e pressão coletiva. A implicação direta deste processo foi a necessidade do Estado assumir a política de saúde, integrada às demais políticas econômicas e sociais, não mais de forma autoritária e centralizadora, visando controlar a população. Tal responsabilidade implica ser assumida de uma forma descentralizada e participativa, com a população assumindo a participação na formulação, gestão e avaliação destas políticas sociais. Na conjuntura apresentada, cabe destacar ainda a criação, em 1987, do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde-SUDS, cujo objetivo principal era 26 As entidades que participam da Plenária foram: sindicados e centrais sindicais, associações profissionais e culturais, partidos políticos, progressistas, movimentos populares, associações de usuário entre outros. 39 unificar racionalizar, democratizar e descentralizar os recursos federais, estaduais e municipais. Com a criação dos SUDS: (...) os convênios passaram a ser assinados com os Estados tendo em vista: repassar as funções de gerência dos serviços previdenciários para as secretarias estaduais, bem como a decisão e execução de contratos do INAMPS com o setor privado na região. Recomendava-se, ao mesmo tempo, que as secretarias estaduais descentralizassem o atendimento básico de saúde, deixando-os a cargo das secretarias municipais (Marsiglia, 1993, p. 28). Esses movimentos culminaram por assegurar na Constituição Federal de 1988 a saúde, sendo definida como um elemento da Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência), a qual compreende: “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (Brasil, 1988, p.103). Assim, com a Constituição Federal de 1988 a saúde foi vinculada aos direitos sociais, compondo o tripé da Seguridade Social. Após constantes discussões e impasses na elaboração da Constituição Federal de 1988, a saúde foi garantida como direito universal, mediante políticas sociais e econômicas, que contribuam para a redução dos riscos de doenças e outros agravos. O acesso às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde passa a ser universal e igualitário, para todos os indivíduos. Neste Sistema, os serviços de saúde seguem algumas diretrizes, como a universalização, a descentralização, o financiamento eqüitativo, comando único em cada esfera de governo, atendimento integral e participação comunitária. A saúde, neste momento, ganha outra conotação legal e incorpora novas instâncias legais de regulação, para sua efetivação. Entre elas, cita-se a Lei Orgânica da Saúde composta pelas Leis nº. 8.080 e nº. 8.142 de 1990, que criam os princípios e diretrizes da Política Nacional de Saúde (1968), bem como, delegam novas responsabilidades às três esferas de governo. Avançou-se, quanto à competência do poder público (especialmente, para Estados e municípios), aos quais foram delegadas responsabilidades na elaboração de ações e serviços públicos de saúde, sua regulamentação, fiscalização, controle e execução, para a integração das redes regionalizadas e hierarquizadas do Sistema Único de Saúde SUS. 40 Com a Política Nacional de Saúde e a descentralização político-administrativa do Estado, se estabeleceu um novo parâmetro de atendimento. Ampliaram-se às responsabilidades, principalmente no âmbito municipal, quanto às responsabilidades pela atenção básica de serviços e ações em saúde, e simultaneamente foi estabelecido o processo de regionalização, como estratégia para a hierarquização dos serviços de saúde. Esse processo procurava viabilizar níveis maiores de eqüidade, com a criação de mecanismos para fortalecer a capacidade de gestão do SUS. A proposta pretendia contemplar a lógica do planejamento integrado, respeitando os limites intermunicipais para a garantia do acesso às ações e serviços necessários a todos e otimizando recursos disponíveis. Nogueira (2002) ressalta que na Lei Orgânica da Saúde, a satisfação das necessidades em saúde foi vista como um direito independente de contribuição ou qualquer outro requisito antecedente, bem como, não estava submetida à sujeição de limites. Com isso, o direito à saúde passou a ter independência frente ao mercado no momento que foi proposto o atendimento universal, integral e igualitário para todos. O referido autor destaca ainda que, estes são os elementos institucionais e organizativos que viabilizarão a concepção de direito aprovada pela Constituição Federal. O artigo 198 da Constituição Federal de 1988 determina que as ações de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I. Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III. Participação da comunidade. (Brasil, 1988). É criado então o Sistema Único de Saúde - SUS, cujas características apontam que, primeiramente, o SUS é um sistema, ou seja, é formado por várias instituições dos três níveis de governo (União, Estado e Municípios), e pelo setor privado contratado e conveniado. O serviço privado, quando contratado pelo SUS, deve atuar como se fosse público, usando as mesmas normas do serviço público. Depois é único, isto é, tem a mesma doutrina, a mesma filosofia de atuação em todo o território nacional, e é organizado do acordo com uma mesma sistemática. De acordo com Andrade, o SUS, 41 (...) representou importante ponto de inflexão na evolução institucional do Brasil e determinou praticamente uma total reengenharia institucional, ao introduzir novo arcabouço jurídico institucional no campo das políticas publicas em saúde. (Andrade, 2007, p. 38) Assim, verifica-se que, conforme a Constituição Federal, o SUS tem por princípios doutrinários: a) a universalidade - todos os indivíduos têm direito ao atendimento sem distinção de raça, cor, religião, renda, entre outros; b) a eqüidade todo cidadão é igual, perante o SUS, e terá atendimento conforme suas necessidades, a fim de atender e tratar desigualmente os desiguais; c) a integralidade - os serviços de saúde devem atender o indivíduo como um ser humano integral, que está, constantemente, submetido a diferentes situações de vida e de trabalho que o levam a adoecer e morrer. O indivíduo deve ser compreendido como um ser social, cidadão que, biológica, psicológica e socialmente está sujeito a riscos de vida; d) descentralização - envolve a redistribuição das responsabilidades pelas ações e serviços de saúde entre os níveis de governo: União, Estados e Municípios; e) controle social - é a garantia constitucional, para que a população, através de suas entidades representativas, participe do processo de formulação das políticas de saúde e do controle de sua execução, em todos os níveis de governo, por meio dos Conselhos e Conferências de Saúde; f) complementaridade do setor privado, que de acordo com o artigo 199 desta, em seu inciso l, “as instituições privadas poderão participar de forma complementar do SUS, seguindo as diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou convênio, com preferência às entidades filantrópicas e sem fins lucrativos” (Brasil, 1990). Um dos princípios norteadores do SUS, que vem se destacando no cenário dos avanços institucionais, é a descentralização, entendida como a redistribuição das responsabilidades por ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo. Sendo assim, compreende-se que quanto mais próximo das demandas as decisões são tomadas, maiores serão as chances das ações se concretizarem com sucesso. Há o reforço do poder municipal - municipalização, sendo delegadas responsabilidades na gestão e implementação das ações e serviços em saúde. Essa nova atribuição conferida aos municípios, como cita Nogueira (2002), causou alterações significativas, pois transferiu a capacidade decisória sobre ações e programas de saúde para o âmbito municipal. Simultaneamente, foram ampliadas as competências estaduais, mas, especialmente à esfera municipal, foram atribuídas 42 responsabilidades executivas na provisão de serviços sociais, abrindo espaço para diversas práticas que apresentaram resultados, por vezes, favoráveis, por vezes, desfavoráveis para o campo da saúde. Segundo Gerschman (2001), o final dos anos 1980 foi marcado por diversos avanços trazidos pela Constituição. Suas inovações ocorreram, especialmente, em relação à descentralização das políticas públicas, que buscava a reordenação do sistema com centralidade nos princípios do SUS, e no processo de descentralização das ações nas três esferas de governo. Porém, em contrapartida a este processo, a partir da década de 1990, com o advento do modelo neoliberal, a política de saúde vem sofrendo ataques sucessivos, ameaçando a consolidação dos princípios e diretrizes do SUS. Desta forma, vivenciamos a ascensão de um modelo de atenção à saúde cada vez mais excludente e privatista e negligenciador dos direitos sociais garantidos na Constituição Federal de 1988, conforme veremos a seguir. 1.3. A política de saúde na década de 1990 e os rebatimentos do neoliberalismo Pouco tempo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, na década de 90 o país experimenta, conforme já desenvolvido no capítulo anterior, a invasão de uma fatídica onda neoliberal, que acarreta transformações profundas no país nas suas dimensões políticas, econômicas sociais e ideológicas. Desta forma a então „conjuntura constitucional‟ e seus avanços no campo dos direitos sociais e da participação popular na sua formação e fiscalização foi contra-arrestada pelo avanço de um discurso que, usando o argumento da necessária redefinição das relações entre o Estado e a sociedade, passa também em investir na participação social no campo da sociedade civil. Esta participação é incentivada, a partir dos anos 1990, pelo projeto neoliberal em ascensão, não na direção do controle social na gestão e implementação das políticas sociais, mas na direção de transferir e atribuir às organizações da sociedade civil o papel de agentes do bem-estar social mediante práticas voluntárias, filantrópicas e caritativas (Duriguetto, 2005, p. 89 e 90). 43 Para Bravo (2006b) apesar dos avanços na área da saúde, nessa década assiste-se também ao avanço das políticas neoliberais onde o Estado teve seu papel redirecionado. Nesta esfera ocorreu a chamada Reforma do Estado ou Contrarreforma27 que em conjunto com a Reforma Constitucional (mais voltada para o setor da previdência), tinham por intuito desmontar a seguridade social brasileira. A Contrarreforma tinha como objetivo redirecionar o papel estatal, desviando-o de suas funções básicas ao passo que expandia sua presença no setor produtivo. Os anos 1990 são marcados pela forte entrada do projeto neoliberal no país, o qual revelou um processo político-econômico anti-Constituição Federal de 1988, isso porque o avanço da política neoliberal levou o país a adotar um modelo fragmentário de proteção social, reforçando a idéia de um "Estado mínimo" como saída para a crise econômica. Nesse contexto, defendeu-se através de um discurso falseado em prol do social, o corte de gastos e a desativação dos programas sociais públicos, por entenderem que acarretavam déficit público, inflação, redução da poupança interna e desestímulo ao trabalho. Para Matos, tal estratégia de rearticulação do capital, trouxe também, [...] a defesa de um Estado mínimo para as questões do social, a promoção de uma reestruturação do mundo do trabalho, em que a precarização e a drástica redução das conquistas sociais e trabalhistas são propostas em nome de uma adaptação inexorável aos novos ditames mundiais. O discurso predominante passa a ser o de que a globalização é um fato inconteste, que atinge a todos, sendo necessário um conjunto de esforços nessa realidade. [...] Tendemos a pensar diferente: o projeto neoliberal, as estratégias de globalização e a reestruturação produtiva não são mais que uma fase tática de sobrevivência e de manutenção do capitalismo, frente a sua crise estrutural (2003, p.90 -91). Contudo, cabe destacar que a Constituição de 1988 definiu um conceito de Seguridade Social abrangente, estendendo os direitos à cobertura previdenciária, saúde e assistência social para a totalidade da população, independentemente do exercício profissional e da existência de vínculo contributivo. Isso significou segundo Silva (1997) grandes avanços no campo da proteção social do trabalhador e dos cidadãos, passando a ser visto como um conjunto de iniciativas indissociáveis e essenciais. Cabe ressaltar que o modelo de Seguro Social adotado na Constituição 27 Para aprofundamento ver Behring, Elaine Rossetti. Brasil em contra-reforma – São Paulo: Cortez, 2003. 44 Federal de 1988 veio a se contrapor ao modelo de Seguro Social que fora adotado no Brasil desde a década de 1930, desenvolvido a partir da Era Vargas, voltado para a classe trabalhadora contributiva da Previdência Social. Ou seja, a proposta de Seguridade Social agora buscava superar a concepção de proteção baseada apenas no vínculo trabalhista e no assistencialismo via filantropia, ao afirmar o princípio de justiça, eqüidade, solidariedade e cidadania. Com isso a nova Constituição procurou resgatar o direito social. Podemos admitir que essa nova característica da seguridade social brasileira conferida pela Constituição de 88 apresenta uma abertura para a construção de um sistema de proteção social universal e igualitário semelhante ao Estado de BemEstar Social implementado por países europeus nos "30 Anos de Ouro" seguintes à 2ª Guerra. Contudo, o mesmo estava longe de se concretizar, se consideramos a falência da economia internacional ocorrida na década de 1970, devido à saturação dos paradigmas de acumulação capitalista adotados. A partir dos anos 1940, o capitalismo vivencia o esgotamento do padrão de acumulação baseado na produção e no consumo de massas. Este esgotamento, identificado como crise do fordismo/keynesianismo, se expressou principalmente pela queda nas taxas de lucro, variações na produtividade e desemprego. Em resposta a esse abalo no sistema financeiro internacional, os países hegemônicos apontam à necessidade de se encontrar mecanismos de superação dos problemas demandados por essa situação. A solução encontrada foi à reforma do Estado via implantação da política neoliberal. Assim, nas últimas duas décadas do século XX, as medidas de ajustes necessárias ao processo de reestruturação econômica vem se dando através da defesa de um programa de corte neoliberal, assentado na negação da regulação econômica estatal, no abandono das políticas de pleno emprego e na redução dos mecanismos de Seguridade Social em prol da sua regulação via mercado. De acordo com Anderson (1995), o neoliberalismo surge como uma reação técnica e política contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Esse processo acabou por determinar outro perfil para a seguridade social brasileira, marcada pela mercantilização dos serviços de saúde e previdência social para os trabalhadores assalariados e, ao mesmo tempo, pela difusão de programas de assistência social para os pobres, coerentes com a proposta neoliberal do Estado 45 Mínimo e com a necessidade de redução dos impactos sociais dos ajustes econômicos. É nesse contexto que emerge o "Estado mínimo" ou "Estado máximo" para o capital no dizer de Netto (1993), voltado para "erradicar mecanismos reguladores que contenham qualquer componente democrático de controle do movimento do capital" e, ao mesmo tempo, gerindo o social na ótica dos ajustes neoliberais de diminuição dos gastos sociais e da desregulamentação, diminuição ou do aniquilamento dos direitos sociais historicamente conquistados. Desse modo a trajetória política do grande capital nos anos 80 e 90 no Brasil vêm se dando pela tentativa de construção de sua hegemonia, através da formação de uma cultura marcada pela necessidade de desqualificação das demandas dos trabalhadores, enquanto exigência de classe. Na Seguridade Social essa iniciativa é materializada pelo argumento da necessidade de mudanças no sistema de seguridade social existente, de modo a adequá-lo a reformas macroeconômicas com o consentimento das classes trabalhadoras. Segundo Mota (2008), esse contexto, tornou possível a formação de uma cultura política da crise, marcada pelo pensamento privatista e pela constituição do cidadão - consumidor28. Carvalho (2005) enfatiza que não podemos negar que a década de 1980 foi um período de resultados positivos, dentre os quais o autor destaca a gradativa descentralização dos serviços para os estados e municípios e a progressiva unificação das ações de saúde em uma única instituição, o Sistema Único de Saúde (SUS). Este é a concretização do texto constitucional, que declara, a partir de 1988, a saúde como um direito de todos e um dever do Estado. Este novo sistema traz consigo inúmeros desafios, a começar pela grandiosidade que é fazer cumprir o conteúdo legalmente instituído no que tange à administração, organização, execução, e tantos outros aspectos referentes à assistência cotidiana, entre os quais a qualidade dos serviços prestados pelos trabalhadores. No entanto, o SUS e as políticas públicas, de um modo geral, passam a enfrentar, a partir dos anos de 1990, outros “contra-ataques”, operadas pelas políticas de cunho neoliberal nos governos no país. Estas instalam-se no campo da saúde, introjetando, em meio ao SUS, um projeto de saúde articulado ao mercado. 28 Para Mota, o cidadão-consumidor “é o sujeito político nuclear da sociedade regulada pelo mercado” (2008, p.164). 46 Este pautado na política de ajuste tem como tendências a contenção dos gastos com a racionalização da oferta e a descentralização com isenção de responsabilidade do poder central. Ao Estado cabe garantir um mínimo aos que não podem pagar ficando para o setor privado o atendimento aos cidadãos consumidores. Como principais características destacam-se: o caráter focalizado para atender às populações vulneráveis, a desconcentração dos serviços e o questionamento da universalidade do acesso. Bravo (2006, p. 35) Entretanto, apesar do direito à saúde ter se ampliado com a eliminação da contribuição previdenciária como condição para o acesso aos serviços públicos de saúde, a baixa qualidade do subsistema político acabou por expulsar os segmentos sociais das camadas médias e do operariado mais qualificado. Dessa forma, o mandamento constitucional da universalização da saúde como direito de todos os cidadãos acabou sendo reinterpretado na prática social como um “universalismo excludente” 29. Tal fato, segundo Mendes (1994), se deu porque o processo de universalização do sistema de saúde vem sempre acompanhado de mecanismos de racionamento, principalmente a queda na qualidade dos serviços públicos. Este fenômeno da “universalização excludente” acabou por criar, dentro do espaço público uma opção pela focalização através da atenção primária seletiva, como expansão de um modelo assistencial de baixo custo, dirigido a grupos populacionais excluídos do modelo médico-assistencial privatista. Segundo Faveret e Oliveira (1990) este processo da “universalização excludente”, ao expulsar do subsistema público os segmentos de classe média e os trabalhadores mais qualificados, grupos de maior vocalização política, acabou por contribuir para a erosão das bases sociais da reforma sanitária, anulando a capacidade de formação de opinião política do segmento de classe média e a força de mobilização dos sindicatos dos setores industriais modernos. Dessa forma, esvaecem as bases de apoio político para a melhoria dos serviços públicos e cresce o risco de perpetuação do ciclo: má qualidade - expulsão de setores organizados baixa atividade reivindicatória – má qualidade. Para o autor Mendes (1994), na realidade os setores sociais expulsos do subsistema público de saúde não são totalmente expulsos, visto que eles continuam a depender do subsistema de alta tecnologia para receber os serviços de alto custo, 29 Para aprofundamento ver. MENDES, Eugênio Vilaça (org). Distrito Sanitário – O processo social de mudança das práticas sanitárias do sistema único de saúde. SP/RJ,HUCITEC –ABRASCO,1994. 47 pois geralmente tais serviços não são cobertos pelo subsistema de atenção médica supletiva30. É importante compreender que o fenômeno da “universalização excludente” faz parte de uma estratégia para que se cumpra o processo de privatização da saúde. Este é objetivo central para a implantação da política social neoliberal, pois é esta ação que atende ao objetivo econômico de abrir todas as atividades econômicas rentáveis ao investimento privado, com vistas a ampliar os âmbitos da acumulação, bem como atende ao objetivo político-ideológico de remercantilizar o bem-estar social, depende de ações estatais específicas com o intuito de criar um mercado estável e garantido, assim como para resolver as contradições políticas geradas pela imposição dos postulados neoliberais. Segundo Laurell (1997), uma das condições para que o processo de privatização seja socialmente aceito, bem como para criar uma demanda para os benefícios ou serviços privados - fato que só ocorre quando os serviços fornecidos pelo setor público são considerados insuficientes ou de má qualidade – é o corte dos gastos sociais públicos. Tal corte acaba por provocar uma deterioração dos serviços públicos e o seu desprestígio, provocando a migração do setor de classe média e os trabalhadores de maior qualificação para o setor privado, ajudando-o a criar uma demanda para si e a tornar o processo de privatização aceitável socialmente. Neste contexto, há um processo de satanização do Estado31, que passa a ser visto como espaço de corrupção e ineficiência, e, por outro lado, a exaltação do mercado, enquanto espaço da virtude e da eficiência. Para Bravo & Matos, (2001) a privatização gera uma dualidade discriminatória entre os que podem e os que não podem pagar, passando o cidadão a ser dicotomizado entre cliente e consumidor. O cliente é objeto das políticas públicas, oferecido através de um pacote mínimo para a saúde, previsto pelo Banco Mundial. Já o cidadão consumidor tem acesso aos serviços de saúde, via mercado. Assim, as políticas sociais sob a perspectiva neoliberal, especialmente a política de saúde, tem por base a desigualdade entre os indivíduos, contrariando o princípio legal da universalidade do atendimento. Rompe-se com a perspectiva de direitos sociais 30 Idem. À satanização do Estado deve-se creditar a possibilidade da redução e, em alguns casos, da supressão da sua intervenção garantidora de direitos sociais e, mais amplamente, da mercantilização de serviços e produtos anteriormente de sua responsabilidade. (Cf. Teixeira, 2006, p.138-139). 31 48 universais, passando a ser visto como cidadãos apenas aqueles que possuem poder de consumo. Para o autor Coutinho (2000), apesar dos avanços obtidos com a Constituição Federal de 1988 e as Leis Orgânicas da saúde, ao reconhecer a política de saúde como um direito social derivado do exercício de uma cidadania plena, tal direito foi desmantelado, não chegando a ser implementado. Tal fato demonstra que a presença dos direitos sociais nas Constituições, ou seja, seu reconhecimento legal, não garante de forma automática a efetiva materialização dos mesmos, mas que mesmo assim é importante assegurar seu reconhecimento legal, visto que isso facilita a luta para torná-los efetivamente um dever do Estado. Não é a toa que os neoliberais têm se empenhado em eliminar tais direitos das normas legais e, especialmente da Constituição. Conforme Netto (1999), a orientação do projeto político do grande capital, cujo objetivo era a integração subordinada do Brasil ao sistema econômico mundializado, materializou-se na política econômica de FHC, desenvolvida através das seguintes ações: o “Plano Real”, enquanto instrumento de estabilização monetária, como o primeiro passo para a abertura do mercado brasileiro (de bens e serviços) ao capital internacional, desregulamentando-o; a redução do papel empresarial estatal, decorrente da desregulamentação do mercado brasileiro, que levou a privatização e a redução dos fundos públicos para o financiamento das políticas sociais voltadas para a massa dos trabalhadores, sob o pretexto da redução do déficit público e em nome do “ajuste estrutural”. Assim, segundo o autor, o projeto político do grande capital, conduzido por FHC, concentrou-se na reforma do Estado brasileiro sob a perspectiva neoliberal, “reforma” esta conduzida contra o espírito da Constituição de 1988. A reforma do Estado atinge o setor saúde notadamente, apresentando uma proposta de reforma para este setor, dirigida para a assistência ambulatorial e hospitalar, afirmada no documento MARE32 como uma das partes fundamentais e mais caras do SUS. Assim, são propostas três ações: 1- Uma descentralização mais rápida e decisiva, com maior definição das atribuições e do poder de decisão das três esferas de governo, mantendo-se os 32 O documento do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE)- nº13, 1998, em especial de Bresser Pereira, apresenta uma proposta de reforma para o setor saúde, dirigida para a assistência ambulatorial e hospitalar, afirmada no documento como uma das partes fundamentais e mais cara do SUS. (Bravo, 2008, pág. 208). 49 estágios atuais: “centralizados”, “descentralização incipiente”, “descentralização parcial” e “descentralização semiplena”. 2- A montagem de um sistema integrado, hierarquizado e regionalizado, composto por dois subsistemas. O primeiro denominado subsistema de entrada e controle, em que a porta de entrada seria os postos de saúde e o Programa Saúde da Família (PSF), responsáveis pela integralidade das ações, encaminhamentos para atendimento de casos de maior complexidade e de especialização para a rede ambulatorial e hospitalar, através de Autorização de Internação Hospitalar, que passaria a ser distribuída pelo número de habitantes e não mais por número de leitos. O segundo, intitulado subsistema de referência ambulatorial e especializada, seria formado pelas unidades de maior complexidade e especialização na rede ambulatorial e por hospitais credenciados (estatais – futuramente Organizações Sociais –, públicos não-estatais e privados). As unidades de emergência seriam as únicas a terem atendimento direto; em seguida o usuário deverá ser encaminhado ao distrito sanitário de sua área. Estimava-se que 60% a 75% dos casos atendidos não eram de emergência. Aspectos importantes da reforma do Estado para o setor saúde são encontrados em diversas normatizações que surgem na segunda metade da década de 1990, como a Norma Operacional Básica (NOB-96), regulamentação dos planos e seguros de saúde e dos preços dos medicamentos, incluindo aí estabelecimento dos genéricos. Esta NOB, ao enfatizar os Programas de Saúde da Família (PSF) e Agentes Comunitários de Saúde (PACS), tem clara orientação focal, priorizando a atenção básica desarticulada da atenção secundária e da terciária. Percebe-se, também, nessa proposição, a divisão do SUS em dois: o hospitalar (de referência) e o básico – através dos programas focais. Essa proposição, apesar de ser anterior, estava articulada ao documento do MARE de 1998, que deixa subentendidos dois sistemas: um SUS para os pobres e outro sistema para os consumidores. Segundo Behring e Boschetti (2007) outra questão que aparece e que possui destaque no processo de reforma em curso é o Programa de Publicização 33, que se 33 O acompanhamento da implementação do Programa de publicização podia ser feito por meio da página da internet, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). As duas primeiras instituições estatais a tornarem-se organizações sociais foram a Associação de Comunicação Educativa Roquete pinto e Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncroton. No território das 50 expressou na criação das agências executivas e das organizações sociais, e mais recentemente na regulamentação do Terceiro Setor – aspecto que não aparece no Plano, mas que se desdobra a partir dele, para a execução de políticas públicas. Essa nova arquitetura institucional na área social – sempre ignorando o conceito constitucional da seguridade, combinada com o serviço voluntário, que desprofissionalizava a intervenção nessas áreas, remetendo-as para o mundo da solidariedade, da realização do bem comum pelos indivíduos através de um trabalho voluntário não remunerado, deve ser entendida conforme Montaño, “como um fenômeno real inserido na e produto da reestruturação do capital, pautado nos princípios neoliberais, que criam um novo padrão para a função social de respostas às seqüelas da “questão social” (2002, p.22)”. Tal resposta deixa de ser privilégio do Estado, passando a ser uma responsabilidade dos próprios sujeitos portadores de necessidades, o “cidadão pobre”, e da ação filantrópica, “solidário-voluntária”, de organizações e indivíduos. Desse modo, a resposta às necessidades sociais deixa de ser uma responsabilidade do Estado e um direito do cidadão, para ser uma opção do voluntário que ajuda o próximo, e um não-direito do “cidadão-pobre”. Isso se configura na chamada refilantropização, que implica numa precipitada volta ao passado sem esgotar as possibilidades da política pública na sua formatação constitucional. Segundo Telles apud Behring, (2003, p. 254), “esse processo, trata-se de uma nova forma de gestão da pobreza e do social, em que há um encapsulamento comunitário da questão social e o esvaziamento das noções de democracia e justiça social”. Em outubro de 2002, a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva configurou-se num marco político importante na história do Brasil. Pela primeira vez foi eleito um representante da classe operária no país, ainda que sob um arco de alianças bastante amplo. Porém, um ponto que merece destaque é que o governo Lula se esbarra na hegemonia mundial neoliberal, que vai além dos projetos nacionais e também lida e reforça a despolitização dos partidos, o que também é resultado da política de alianças que já vinha se consolidando desde as eleições de 1994. agências, estava em curso, quando da conclusão deste trabalho, a definição do Contrato de Gestão das seguintes instituições: Inmetro, Cadê, IBGE, CNPq, DAS e ANSV. (cf. Behring, 2003, p. 204) 51 O que se colocava como problema imediato e efetivo era articular um arco de forças políticas e sociais que, amarrando interesses diferentes, assegurasse o enfrentamento com os beneficiários da orientação macroeconomia da era FHC (ou seja, com os segmentos parasitáriofinanceiros); problema difícil de solução, na medida em que supunha o exercício da hegemonia do PT sobre o conjunto dos aliados. (Netto, 2004, p. 13). Segundo Netto (2003), o que mais caracteriza o governo Lula é a convivência de “duas almas” em um mesmo governo, ambas mudancionistas: uma buscaria dar continuidade ao governo FHC, por meio do aprofundamento de suas feições; outra, progressista, em que procuraria “dar início ao árduo trabalho de superação de suas pesadas hipotecas”. Estas duas almas, a conservadora e a progressista, seriam resultantes da própria natureza do governo eleito, que buscou articulações além da esquerda para vitória eleitoral. Sobre a vitória do Presidente Luis Inácio Lula da Silva, Coutinho (2003, p.22) ressalta: Trata-se da maior vitória política da esquerda em nosso país (...) foi a vitória de um projeto político, representado, sobretudo, por um partido que soube crescer nos quadros de um processo de redemocratização do qual, foi de resto, um dos maiores protagonistas. Bravo & Matos (2004), identifica aspectos positivos e negativos presentes no atual governo. Como aspecto positivo, ressalta o retorno da concepção de Reforma Sanitária; alterações na estrutura organizacional do Ministério da Saúde; a ocupação nos cargos de segundo escalão de profissionais comprometidos com a Reforma Sanitária; a convocação extraordinária da 12ª Conferência Nacional de Saúde 34; a participação do Ministro da Saúde nas reuniões do Conselho Nacional de Saúde; e a escolha do representante da CUT para assumir a Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Saúde. Bravo (2007) acrescenta, ainda, como ponto positivo a criação da Secretaria de Gestão do Trabalho em Saúde, que buscaria enfrentar a questão da qualificação dos Recursos Humanos para o SUS, que é um grande problema de estrangulamento do sistema. Outro aspecto inovador na estrutura do Ministério 34 Teve como objetivo definir orientações para o plano plurianual de saúde do governo e as principais diretrizes a serem incorporadas ao sistema de saúde. Escrita pela autora Bravo, publicado pela revista Inscrita, (2004). 52 refere-se à criação da Secretaria de Atenção à Saúde, que visou unificar as ações de atenção básica, ambulatorial e hospitalar, integrando as atribuições das extintas secretarias de Política de Saúde e Assistência à Saúde. Foi também criada a Secretaria de Gestão participativa, que tem como função fortalecer o controle social, organizar as conferências de saúde e estabelecer a comunicação do ministério da saúde com outros níveis de governo e com a sociedade. Em relação aos aspectos negativos, Bravo (2007) ressalta a continuidade da política de saúde dos anos 90, com ênfase na focalização, na precarização, na terceirização dos recursos humanos, no desfinanciamento deste setor e a falta da não referência à concepção de Seguridade Social, inscrita na Constituição Federal de 1988, mencionada apenas no Programa de Governo, além da não implementação do Conselho de Seguridade Social. Como exemplos de focalização podem ser destacados a centralidade do Programa Saúde da Família (PSF), hoje denominado por Estratégia de Saúde da Família, sem alterá-lo significativamente, para que se torne em estratégia de reorganização da atenção básica, em vez de ser um programa de extensão de cobertura para as populações carentes. É importante sinalizar que este programa precisa ter sua direção modificada na perspectiva de prover a atenção básica em saúde para toda a população de acordo com os princípios da universalidade e para garantir a integralidade, o programa de ter como meta a (re) organização do sistema como um todo, prevendo a articulação da atenção básica com os demais níveis de assistência. Outro aspecto que está relacionado mais diretamente com a precarização e a terceirização dos recursos humanos refere-se à continuidade e ampliação da contratação de agentes comunitários, bem como a inserção de outras categorias que são regulamentadas (auxiliar e técnico de saneamento, agentes de vigilância sanitária, agentes de saúde mental). A incorporação dos agentes comunitários de saúde na equipe do PSF já foi polêmica, gerando diversos debates centrados na ausência de regulamentação da profissão, como também da imprecisão de suas funções, da precarização das contratações e da falta de concurso público para a seleção dos mesmos, que tem sido realizada, na maioria dos casos, com base em indicações político-partidárias. Autora Bravo (2007) destaca, ainda, como aspecto negativo no atual Governo o desfinanciamento, sendo esta a situação mais séria, pois está diretamente 53 articulada com o gasto social do governo e é a determinante para a manutenção da política focal, de precarização e terceirização dos recursos humanos. Conforme esta autora o governo se comprometeu com o FMI a estudar a desvinculação de recursos para a saúde e educação, o que significa eliminar da Constituição de 88 os preceitos que obrigam a União, o Estado e os Municípios a gastarem um percentual de todo o dinheiro arrecadado para os setores da educação e saúde. Contudo, de acordo com Carvalho (2004) apud Bravo (2007), o argumentado utilizado pelos economistas do governo é que a vinculação da saúde e educação inibem, de maneira significativa, uma alocação mais justa e eficiente de se usar os recursos públicos. Desse modo, os autores acabam por considerar que na atualidade mantêmse a disputa entre os dois projetos sanitários: o Projeto de Reforma Sanitária e o Projeto Privatista; e que o atual governo ora fortalece o primeiro projeto, ora mantêm a focalização e o desfinanciamento, que caracterizam o segundo projeto. Cabe destacar que vem chegando o término do mandato do presidente Luiz Inácio “Lula” da Silva. Porém, destacam-se os avanços e continuidade que o mesmo obteve na área econômica em relação ao projeto neoliberal, bem como, a ampliação da política de assistência social, principalmente através do Programa Bolsa Família, contudo, não realizando mudanças significativas nas demais políticas públicas do país, particularmente na área da saúde. 54 CAPITULO II 2.1 Política de saúde voltada para o atendimento ao surdo A consolidação da Política de Saúde voltada para o surdo no Brasil é muito recente na história deste país, pois esse segmento social só pôde desfrutar especificamente desse atendimento a partir dos avanços obtidos após a implementação da Constituição Federal de 1988. No que tange a área da saúde, os surdos foram contemplados por legislações, decretos, portarias que abrangem todas as pessoas com deficiência, bem como legislações especificas. O que será nosso foco de análise a seguir. A história da humanidade mostra que desde os tempos mais remotos a existência de pessoas que possuíam algum tipo de deficiência, as quais sempre foram colocadas à margem da sociedade devido ao preconceito e à discriminação. As pessoas com deficiência ainda são ignoradas e mesmo com a evolução da sociedade, o tempo não foi suficiente para afastar a segregação e as dificuldades que essas pessoas enfrentam, para que de fato, a acessibilidade 35 e os direitos sejam garantidos. Conforme o autor Sassaki (1997, p.1) a prática da exclusão social sempre foi uma marca na história da humanidade, principalmente nos séculos passados, onde as pessoas com deficiência sempre eram marginalizadas, consideradas inválidas, sem utilidades para a sociedade e incapazes para trabalhar, características essas atribuídas indistintamente a todos que tivessem alguma deficiência. Algumas culturas simplesmente eliminavam essas pessoas, outras, adotaram a prática de interná-las em instituições de caridade, junto com doentes e idosos. De acordo com a autora Maior (1997, p. 34), nas primeiras décadas do século XX no Brasil, persistiu a crônica omissão do Estado em relação às políticas dirigidas às pessoas com deficiência. Essa autora ressalta que a atuação estatal neste período caracterizava-se como assistencialismo e paternalista, pois cabia à pessoa com deficiência amoldar-se aos padrões da sociedade para ser aceito, ficando a 35 A acessibilidade é garantir a todas as pessoas o direito de acessar os espaços equipamentos urbanos, rádios, TV, internet, órgãos públicos. Fonte: Cartilha Pintando Direitos uma cartilha sobre deficiência e participação. Disponivel em: www.creaba.org.br/imagens/fckimagens/12. 55 atenção a esse segmento social ficara relegada unicamente às entidades filantrópicas e benemerentes. Como exemplo dessa tendência, a autora sinaliza que, basta recordar que a proteção social voltada às pessoas com deficiência durante o período anterior à década de 70 do século XX, concentrava-se na reabilitação das crianças e adolescentes com deficiência, sob a responsabilidade do setor privado. A outra parcela deste segmento que não integravam aos grupos atendidos das entidades filantrópicas continuava sem acesso ao atendimento custeado pelo Estado. Contudo, segundo o autor Ribas (1985), na segunda metade da década de 70 começou a emergir no cenário político brasileiro uma tímida consciência política entre as pessoas com deficiência. Não contrária a essa idéia, a autora Maior (1997) ressalta que, a década de 70 foi assinalada pelo início da organização das associações de pessoas com deficiência em grupos específicos, sendo eles auditivos, físicos e visuais, que se fortalecem na década de 80, culminando em avanços significativos, principalmente na área de reabilitação, tendo como referência o ano de 1981 que representou um marco para os movimentos de luta dos anos anteriores, em face de ser considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano internacional das pessoas com deficiência. O autor Bieler (1990) cita que nesse ano, no Brasil foi iniciada uma série de estudos visando avaliar a atuação nesta área, com a criação de comitês e conselhos nos níveis federal e estadual e em diversos municípios. Esses conselhos foram integrados por pessoas com deficiência, inaugurando uma profícua parceria entre profissionais de reabilitação, técnicos do poder executivo e membros do legislativo (Encontro Nacional Com Procuradores da República e de Justiça, 1993). Cabe ressaltar que em 1986, o Governo Federal criou a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, por meio do Decreto 93481/8636, tendo como atribuições e competências, a elaboração da proposta de uma política nacional de integração das pessoas portadoras de deficiência, bem como, a formulação e execução de uma política de prevenção de 36 Cabe aqui destacar que essa Coordenadoria foi reestruturada por meio da Lei 7853 de 1989, que manteve a entidade como autônoma, com dotação orçamentária própria. (Brasil, 1999a). Entretanto, com a reformulação administrativa proposta pelo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a CORDE passou para o Ministério da Justiça. 56 doenças e criação de programas e projetos no âmbito dos Ministérios da Educação, da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho. Segundo Mendes (1995) ainda na década de oitenta, criaram-se propostas reformadoras do processo de saúde, em paralelo com o processo de redemocratização do país, desencadeando um forte movimento social, denominado Movimento da Reforma Sanitária que fora apontado anteriormente neste estudo, reunindo atores diversificados em uma luta política pelo reconhecimento da saúde como direito social, pela universalização do acesso aos serviços de saúde e pela integralidade da atenção à saúde. A responsabilidade do Estado pela garantia desses direitos foi incorporada ao texto Constitucional de 1988, estabelecendo-se que deve ser assegurada a toda a população “mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e assegurem o acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde” (Brasil, Constituição Federal 1988, art. 196). A Constituição Federal de 1988 foi pródiga ao tratar da pessoa com deficiência, estabelecendo não somente a regra geral relativa ao princípio da igualdade (art. 5º, “caput”), mas também, a competência comum da União, Estado, Distrito Federal e Municípios para cuidar da saúde e promover a assistência pública, a proteção e garantia das pessoas com deficiência (art. 23, II); a assistência social no que se refere à habilitação, reabilitação e benefício previdenciário (art. 203, IV e V); e a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com deficiência (art. 227, II). Sendo, os diretos garantidos, especificamente, para os/as “deficientes” registrados na Constituição de 1988, através dos seguintes artigos: art. 7º, inciso XXXI; art. 23, inciso II; art. 24, inciso XIV; art. 37, inciso VIII; art. 203, incisos IV e V; art. 208, inciso III; art. 227, parágrafo 1º, inciso II e parágrafo 2º e, art. 244. A menção a estes direitos na Constituição Federal foi sem dúvida de grande contribuição e importância às pessoas com deficiência e para os surdos/as, significou um grande avanço, contribuindo para a consolidação, posterior, de outras Leis em favor dessas pessoas. Um ano após a promulgação da nova Constituição Federal do país, foi aprovada a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que trata do apoio às pessoas com deficiência, sua integração social e sobre a CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), institui a tutela jurisdicional de 57 interesses coletivos ou difusos dessas pessoas e, trata das responsabilidades do Ministério Público, que passa a definir a deficiência como a perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividades dentro do parecer considerado normal para o ser humano. Esta lei garante às pessoas com deficiência a integração social, assegurando o pleno exercício dos direitos básicos dessas pessoas, incluindo o direito à educação especial, à saúde, ao trabalho, ao lazer e à previdência social. Esta Lei foi regulamentada, posteriormente, pelo Decreto nº. 3.298, 20/12/1999, que “dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência e consolida as normas de proteção, e dá outras providências”. Este Decreto apresenta as diretrizes nas áreas de saúde, educação, habilitação e reabilitação profissional, trabalho, cultura, desporto, turismo, lazer, capacitação de profissionais especializados e acessibilidade. E, também, especifica as “deficiências”, sendo a “deficiência auditiva” caracterizada como a perda bilateral, parcial ou total, (Art. 4º, inciso II). Cabe destacar que a Lei nº. 7.853/89 e o Decreto nº. 3.298/99 devem ser considerados como dois grandes instrumentos colocados à disposição dos governantes e da sociedade, para a continuidade da luta pela conquista da cidadania desse segmento social. Neste contexto, no ano de 2000, foi normatizada a Portaria SAS nº. 432 que focada na importância social das conseqüências da deficiência auditiva e na necessidade das concessões de Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI) aos usuários do SUS. Contudo, segundo Carvalho (2007) os programas de reabilitação auditiva e o acompanhamento desses indivíduos, não cresceram proporcionalmente, tornando os AASIs, muitas vezes, subestimados e/ou subutilizados. Devido a este fator, tal portaria foi reformulada pelo Ministério da Saúde. Mesmo sendo um grande marco para a Saúde Auditiva, a portaria não garantia atenção integral ao deficiente, afirmada por Bevilacqua et. al.(2010, p. 157) “o Programa previa o credenciamento de Serviços para distribuição de AASI, sem garantir o processo de adaptação e a continuidade do acompanhamento dos pacientes”. O Ministério da Saúde ao reconhecer que a deficiência auditiva é uma questão de saúde pública, institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA) em todas as unidades federativas, respeitando a competência das três 58 esferas de gestão através da Portaria nº. 2.073 de 28 de setembro de 2004 (BRASIL. Ministério da Saúde, 2004). Assim, o Estado ao instituir o PNASA passa estruturar uma rede de serviços regionalizados e hierarquizados que estabeleça uma linha de cuidados integrais e integrados no manejo das principais causas da deficiência auditiva, com vistas a minimizar o dano da deficiência auditiva na população. Essa política permitiu, entre outras coisas37: • Desenvolver estratégias de promoção da qualidade de vida, educação, proteção e recuperação da saúde e prevenção de danos, bem como protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqüidade de indivíduos e coletividades; • Definir critérios técnicos mínimos para o funcionamento e a avaliação dos serviços que realizam reabilitação auditiva, bem como os mecanismos de sua monitoração com vistas a potencializar os resultados da protetização; • Promover a ampla cobertura no atendimento aos pacientes portadores de deficiência auditiva no Brasil, garantindo a universalidade do acesso, a eqüidade, a integralidade e o controle social da saúde auditiva; • Fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos que visem ao estudo do custo-efetividade, eficácia e qualidade, bem como a incorporação tecnológica do processo da reabilitação auditiva no Brasil; • Qualificar a assistência e promover a educação continuada dos profissionais de saúde envolvidos com a implantação e a implementação da Política de Atenção à Saúde Auditiva, em acordo com os princípios da integralidade e da humanização. A consolidação desta política ocorre num processo dinâmico de construção. A implantação das diretrizes apontadas implica descentralização das ações de assistência, articulação intra-institucional e intersetorial de âmbito Estadual e Municipal, bem como a sensibilização e envolvimento da sociedade organizada e segmentos políticos de defesa dos direitos das pessoas com deficiência auditiva, garantindo os princípios e diretrizes de universalidade, eqüidade, regionalização, hierarquização e integralidade da atenção à saúde. Segundo Carvalho (2007), esta nova política visa medidas de intervenção na história natural da deficiência auditiva, através de ações integrais de promoção de saúde, proteção específica e tratamento. De acordo com as estratégias desta nova política, o processo de reabilitação audiológica passa a envolver um trabalho muito mais amplo que prevê a adaptação de próteses auditivas de fluxo contínuo, com acompanhamento médico e fonoaudiológico, tanto para ajustes como para verificações periódicas das condições técnicas e do benefício obtido com o uso desses equipamentos, e quando necessário de terapia fonoaudiológica, além de assistência social e psicológica. 37 Retirado do Art. 2º Portaria GM n° 2.073/04, do Ministério da Saúde. 59 Sobre essa Política Bevilacqua (2010) afirma que após a instituição dessa Política Nacional os estados são responsáveis por sua incorporação às ações de saúde tendo como instrumento o Plano Estadual de Saúde. Tal Plano tem como objetivo explicitar o problema da deficiência auditiva, buscando definir as prioridades para proposição de medidas e ações reais que facilitem o acesso eqüitativo dos usuários do SUS aos SASA‟s, desenhados em rede e com atenção em todos os níveis de complexidade. Busca-se a partir daí a melhoria da qualidade de vida das pessoas surdas, a promoção da saúde auditiva, prevenção de alterações auditivas, detecção precoce e reabilitação do usuário adaptado com AASI. Para o financiamento das ações dos SASA o Ministério da Saúde transfere aos estados e municípios o recurso financeiro pelo Bloco de Financiamento para a Atenção de Media e Alta Complexidade. No inicio da implantação da Política de Saúde Auditiva o financiamento era realizado através do Fundo de Ações Estratégicas e Compensação - FAEC, que se destina ao custeio de novos procedimentos de ações estratégicas emergenciais, entre outros. Pelo FAEC, os procedimentos realizados pelos SASA eram pagos de acordo com a produção através de Autorização para Procedimentos de Alta Complexidade - APAC, respeitando um limite financeiro determinado pelo Ministério da Saúde. A partir de 2008 o recurso da Saúde Auditiva foi transferido para o Limite Financeiro da Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar, sendo necessária maior organização da regulação estadual para inclusão de todos os procedimentos da saúde auditiva na PPI Estadual. Tal ação descentralizou a gestão do recurso possibilitando maior ajuste do financiamento de acordo com as necessidades de cada estado. A responsabilidade do financiamento estadual objetiva garantir recurso complementar para adequação da Política Nacional de Saúde Auditiva. Ao município cabe o financiamento das ações de atenção primaria, a contratação de serviços e profissionais responsáveis por perpetuar as ações em nível local. Cabe também ao município o financiamento dos gostos com o deslocamento do seu cidadão para o atendimento em outros municípios, garantindo a universidade e integralidade do acesso à saúde auditiva (Bevilacqua, 2010, p. 6). Considerando a necessidade de definir ações e de auxiliar os gestores no controle e avaliação da atenção às pessoas com deficiência auditiva, é estabelecida novas Portarias. A primeira SAS/MS nº. 587/10/2004 vem redefinindo as ações de 60 saúde auditiva na atenção primária, atenção na média e na alta complexidade, onde às Secretarias de Saúde dos Estados são delegadas as providências necessárias para organizar e implantar as redes estaduais de atenção à saúde auditiva (BRASIL. Ministério da Saúde, 2004a). A segunda SAS/MS nº. 589/10/2004 vem direcionar o cadastramento dos serviços no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), assim com redirecionar, excluindo alguns procedimentos da classificação/serviços do SIA/SUS (Brasil. Ministério da Saúde, 2004b). A partir da Portaria nº. 587/2004 fica definida a composição das redes estaduais de atenção á saúde auditiva, considerando as ações na atenção básica, na média e alta complexidade. As Secretarias de Estado da Saúde e do Distrito Federal devem considerar os respectivos planos diretores de regionalização, os planos estaduais e municipais, garantindo o fluxo assistencial considerando os três níveis de atenção à saúde (Brasil. Ministério da Saúde, 2004). Conforme esta Portaria, na Atenção Primária de promoção à saúde auditiva é priorizada a prevenção e identificação precoce dos problemas auditivos, as ações informativas e educativas, orientação familiar e encaminhamento quando necessário para o serviço na média complexidade. As ações deverão ser desenvolvidas em estabelecimentos de saúde, devidamente cadastrados no Sistema de Cadastro Nacional, considerando-se a saúde auditiva nos diferentes segmentos: gestantes, crianças, adolescente, adultos e idosos. Na Atenção na Média Complexidade são realizados triagem e monitoramento auditivo, garantida a partir do processo de referência e contra referência do usuário com deficiência auditiva, excluindo o diagnóstico e a protetização de crianças até três anos de idade, usuários com afecções associadas (neurológicas, psicológicas, síndromes genéticas, cegueira, visão subnormal) e perdas auditivas unilaterais. As unidades devem ser articuladas e integradas com o sistema local e regional, oferecendo consulta otorrinolaringológica avaliação fonoaudiológica de linguagem e audiológica; realizar triagem e monitoramento da audição de neonatos, préescolares e escolares, diagnóstico, tratamento e reabilitação de perda auditiva em crianças a partir de três anos de idade. Ainda deve garantir avaliação e terapia psicológica, atendimento em serviço social, orientação à família e à escola. O usuário que não necessita de protetização deverá ser contra-referenciado para a atenção primária com a orientação a ser seguida por aquele nível de atenção. 61 Na Atenção na Alta Complexidade as condutas terapêuticas especializadas devem ser de forma articulada e integrada com o sistema local e regional de referência e contra-referência para o diagnóstico e tratamento da deficiência auditiva. Neste sentido, o serviço deve contar com equipamentos específicos, estrutura física, recursos humanos especializados e estar devidamente credenciado no SUS, para execução das seguintes ações ( SAS/MS nº 587/2004): diagnóstico de perda auditiva em crianças até 03 (três) anos de idade; em usuários com perdas unilaterais; em usuários com afecções associadas e naqueles que apresentaram dificuldade na realização da avaliação audiológica em serviço de menor complexidade; exames complementares de emissões otoacústicas38 evocadas transientes e por produto de distorção e potencial evocado auditivo de curta, média e de longa latência; consulta otorrinolaringológica, neurológica, pediátrica, avaliação audiológica e avaliação fonoaudiológica de linguagem; garantir a reabilitação mediante o tratamento clínico em otorrinolaringologia; seleção, adaptação e fornecimento de prótese auditiva e terapia fonoaudiológica; garantir avaliação e terapia psicológica, atendimento em serviço social, orientações à família e à escola. Com relação ao atendimento, essa Portaria assegura que cada serviço na média e na alta complexidade deverá ofertar consultas e exames aos usuários referenciados que tenham o diagnóstico confirmado de deficiência auditiva e atender consultas gerais e exames em adultos idosos de média complexidade para usuários externos referenciados pela atenção básica para consulta especializada de otorrinolaringologia. Neste caso, o número de consultas a ser oferecido para usuários externos referenciados será de no mínimo 224 por mês, e o mínimo de 112 exames por mês deve ser oferecido para usuários externos referenciados ou de acordo com as necessidades definidas pelo gestor municipal ou estadual (SAS/MS nº. 587/2004). A Política Nacional de Saúde Auditiva permitiu um grande avanço no aprimoramento das ações de saúde auditiva do SUS, principalmente na organização da rede dos serviços de Media e Alta Complexidade. Porém, para a Rede de Atenção à Saúde Auditiva estejam em consonância com a proposta desta Política, integradas aos diversos serviços de saúde, estabelecendo uma linha de cuidados 38 Teste da Orelhinha. 62 integrais, ainda faz-se necessária a articulação destes serviços com a atenção primária em saúde. Bevilacqua (2008) enfatiza que, O número expressivo da cobertura assistencial proporcionado pelas equipes de Saúde da Família no Brasil também tem impacto na Rede de Atenção à Saúde Auditiva, uma vez que, quando capacitados de forma adequada, tais profissionais podem atuar não apenas na promoção da saúde auditiva e na identificação das desordens auditivas, como também na conscientização da comunidade sobre a importância de todas as etapas do tratamento da deficiência auditiva e no resgate dos pacientes faltos dos serviços de referência. Bevilacqua (2008, pág. 92) Esta articulação sistemática entre atenção básica e serviços de alta e média complexidade é de fundamental importância para a garantia de um atendimento com resolutividade, com vistas a minimizar o dano da deficiência auditiva na população. Alem disto, com ações sistemáticas na promoção à saúde auditiva e prevenção das desordens neste nível de cuidado à saúde haverá uma otimização da verba pública, posto que haja maior resolutibilidade das ações promovidas pela Política de Atenção à Saúde Auditiva. A rede estadual de assistência à pessoa com deficiência no SUS deve estar configurada de acordo com o plano diretor de regionalização de cada Estado e Municípios. Para a composição da distribuição geográfica dos estabelecimentos credenciados à rede de atenção à saúde auditiva, deve ser considerada a necessidade de cobertura assistencial do nível de complexidade dos serviços e a capacidade técnica operacional destes serviços, a série histórica de atendimentos realizados, levando em conta a demanda e mecanismos de acesso com os fluxos de referência e contra-referência (Brasil. Ministério da Saúde, 2004a). Desta forma, os novos parâmetros definidos para a distribuição dos serviços na média e na alta complexidade são de um serviço para cada 1.500.000 habitantes. Para os Estados com população inferior a 1.500.000 de habitantes foi estipulado um serviço, e dois serviços com população entre 2.000.000 e 3.000.000 de habitantes. Contudo, os Estados podem solicitar credenciamento para mais de uma Unidade Prestadora de Serviço (UPS) e podem distribuí-los a critério do gestor desde que até 50% (cinqüenta por cento) deles sejam serviços de atenção à saúde auditiva na alta complexidade, sob o código 27/114. Entretanto, o gestor pode solicitar novos credenciamentos na média complexidade e distribuir o quantitativo entre estes, 63 redimensionando o quantitativo de usuários por mês entre as UPS credenciadas no estado (Brasil. Ministério da Saúde, 2006). A Portaria GM/MS nº. 626, de 23 de março de 2006, define os Serviços de Atenção à Saúde Auditiva e os limites físicos e financeiros dos estados, Distrito Federal e municípios, apresentando todos os Serviços de Atenção à Saúde Auditiva, dentre elas, do estado de Minas Gerais:Juiz de Fora - Clinica Dr. Evandro Ribeiro de Oliveira; Alfenas - Hospital Universitário Alzira Velano; Montes Claros – Audiobera; Patos de Minas - Apae Patos de Minas; Pouso Alegre - Instituto Sul Mineiro de Otorrinolaringologia; Belo Horizonte - Hospital das Clinicas da UFMG ; Teófilo Otoni Audiotoni; Governador Valadares – OTOMED; Diamantina - Hospital de Nossa Senhora da Saúde; Formiga - Otocenter de Formiga e São Sebastião do Paraíso Hospital Sagrado Coração de Jesus. Para a autora Logman (2007) predomina na política de saúde a visão clínicopatológica da surdez. Constata-se, segundo essa autora que na área de saúde, ainda não há espaço para aceitação e respeito à cultura surda e à Libras, as quais permitem o desenvolvimento, autonomia e independência das pessoas surdas. O Ministério da Saúde, na legislação acima citada, afirma a importância da formação continuada dos profissionais no que diz respeito a próteses auditivas, aparelhos de amplificação de som e outras tecnologias auditivas e, não se refere à necessidade dos surdos/as de se comunicarem através de sua língua, oficialmente reconhecida pelo Estado - a Libras, dentro dos hospitais, postos de saúde e outras instituições da área. Para esse órgão governamental, o serviço de reabilitação auditiva oferecido pelo SUS significa: Serviços organizados pelo SUS para diagnóstico, e terapias especializadas, triagem, monitoramento e reabilitação da audição em recém nascidos, pré-escolares e escolares, em crianças a partir de 3 anos, jovens e adultos, trabalhadores e idosos, respeitando a reabilitação adequada para cada um desses segmentos. Podem ser de média ou alta complexidade, fornecem a prótese necessária, e têm como objetivo permitir que a pessoa com deficiência auditiva adquira autonomia, independência e melhoria em sua condição de vida (Portal da Saúde, Ministério da Saúde). Portanto, fica claro, a partir deste conceito, que esta política de reabilitação auditiva do Ministério da Saúde situa-se no que Longman (2007) chama de busca pela normalização dos surdos/as: Essa noção de “corpo perfeito” está comumente referenciada ao outro, ao ideal e à norma e, mais grave, tem a assinatura das autoridades médicas. 64 Levantar as linhas divisórias entre o normal e o anormal, o sadio e o doente, o racional e o louco, é começar a entrar no discurso da ideologia do normal quando usa a máscara da norma ou da saúde, que reproduz o discurso da oposição e classificação gerando a violência da discriminação (p.33). A autora reconhece a importância dos serviços de prevenção e diagnóstico da surdez, no entanto, é preciso repensar essa política de “reabilitação”. Assim surgem alguns questionamentos: as pessoas surdas e suas famílias estão sendo levadas a buscarem os serviços de saúde com qual objetivo, encontrar a “cura” para a surdez. Mas, como curar o que não é doença? Como “reabilitar” um bebê que já nasceu surdo/a? Onde está o respeito à diversidade e à identidade lingüística, quando obrigam a criança surda a se “(re)habilitar” à sociedade ouvinte? Para Liliane Longman, a visão que predomina nas políticas públicas voltadas para os/as surdos é da literatura médica e educacional corretiva: É certo que cada surdez e cada surdo têm uma história pessoal, como qualquer pessoa, mas geralmente a surdez é encarada de maneira corretiva, como necessidades especiais ou mesmo como pejorativa e depreciativa. Nunca é trazida como uma questão lingüística ou política, ou como uma diferença que produz sujeitos com uma experiência visual. (LONGMAN, 2007, p.62). Apesar da conquista obtida com a criação do SUS e a consequente garantia da saúde enquanto um direito de cidadania e dever do Estado, a sua implementação vêm sendo marcada pelo enfrentamento de uma série de rebatimento impostos pela modelo econômico adotado no país na década de 1990, fortemente pelo ideário neoliberal. Segundo Mota (2008), esse contexto, tornou possível a formação de uma cultura política da crise, marcada pelo pensamento privatista e pela constituição do cidadão - consumidor39. A discussão da implementação do SUS, da Reforma Sanitária e seus ideais de uma política de saúde justa, igualitária, universal, não foi visualizada no cotidiano, sobretudo devido à implementação da Reforma do Estado, uma das exigências do neoliberalismo. De acordo com Vasconcelos: 39 Para Mota, o cidadão-consumidor “é o sujeito político nuclear da sociedade regulada pelo mercado” (2008, p.164). 65 As garantias constitucionais, antes que pudessem ser asseguradas na vida social, foram atropeladas pela implementação de uma Reforma do Estado, exigida pela forma do capitalismo atual, que como vimos, tem a característica de fragmentar ainda mais, todas as esferas da vida social [...]. (2002, p.91) As propostas de abertura comercial, desregulamentação da economia, privatização, diminuição do papel de Estado e primazia da remuneração do capital financeiro nos gastos públicos representam um vetor contrário ao processo de construção de um projeto de proteção social para o Brasil e à consequente defesa da saúde enquanto um direito universal a ser garantido pelo Estado. Essas medidas têm implicações sobre a possibilidade plena do projeto de reforma sanitária, onde é reduzido de forma sistemática o gasto público per capita em saúde no Brasil. Como afirma NETTO (2001), apesar dos avanços na área da saúde percebemse diversos momentos de retrocesso político-histórico, na política de saúde no Brasil, principalmente após a década de 1990, com contexto histórico propício para a disseminação do neoliberalismo. Houve uma diminuição das verbas para setores sociais, incluindo a saúde pública, ou seja, a qualidade de vida da população não teve mudanças. Segundo Mota (2000) no contexto neoliberal, também os serviços sociais participam mais diretamente do processo de acumulação do capital. Serviços como saúde, educação e previdência, que seriam responsabilidade do Estado, passaram a ser mercantilizados, propagando-se a ideia de que o bom é o que é privado, mas que só estão ao alcance daqueles que tem condições de pagar por ele. Ao serem incorporados pelo capital, esses serviços tem uma utilidade social voltada para o lucro, “de modo a atender necessidades das indústrias, seja ela farmacêutica, de equipamentos, de produto da cesta básica, dos proprietários de grandes hospitais, creches e escolas, bem como do setor financeiro, voltado para os seguros de vida e previdência”. Assim, a ampliação da oferta de serviços públicos de saúde se dá com a participação crescente do setor privado, através de convênios, o que é uma outra dimensão da relação público-privado nas políticas sociais. Cabe aqui observar que, mais do que a questão da estatização versus privatização, o que importa considerar 66 são as formas específicas em que se dão as relações entre o Estado e, no caso, as empresas do setor de saúde. As empresas privadas quando apropriam de questões sociais tais como o aumento das desigualdades sociais e a pobreza no país, pretende de alguma forma chamar a responsabilidade para um contexto em que possam desenvolver seus negócios, adaptando com vantagens às formas de obtenção de lucros. Geralmente as maiorias do empresariado além de se lançar ativamente nas áreas sociais procuram investir em práticas comerciais como marketing, publicidade e assim expõe os produtos que são públicos (prótese, órteses) como uma mercadoria, elevando os custos dos serviços, portanto evidencia-se a relação mercadológica e desconsiderando a questão do direito. Assim, como nas outras políticas sociais, no âmbito da saúde, essa se individualiza, fragmenta, focaliza, e o Estado incentiva sua privatização, como afirma Bravo: As reformas para o campo da Saúde nessa ótica tem apresentado como propostas de caráter focalizado para atender as populações vulneráveis através do pacote básico para a Saúde, ampliação da privatização, estímulo ao seguro privado, desconcentração dos serviços em nível local, eliminando de fonte com relação ao financiamento (2001,p.20) A política pública de saúde na atualidade é analisada em Bravo (2006) como apresentando características de permanência da disputa entre o projeto privatista, voltado para o mercado, e o projeto da Reforma Sanitária, alternando medidas governamentais de fortalecimento e ampliação ora de um, ora de outro projeto. Observe-se, no contexto de Governador Valadares, que a questão dos surdos/as em relação ao serviço de saúde auditiva nesse município não está desvinculada do contexto geral da sociedade capitalista. A PNASA no país fora instituída em 2004, e no município de Governador Valadares é contemplada um depois, onde, no que se refere à habilitação e reabilitação, é prestada por uma empresa privada. Sabe-se que os tratamentos e a reabilitação auditiva concedida através do Programa de Saúde Auditiva, no sistema privado, têm um alto custo e não permitia que a grande parte da população tivesse acesso aos mesmos. 67 Em relação às Leis, mesmo depois de promulgadas, essas são implantadas de modo lento e parcial, sendo ignoradas pela maior parte da população e principalmente pelo poder público. Além disso, para usufruírem seus direitos, as pessoas com deficiência, dentre essas as pessoas surdas precisam sempre recorrer à legislação. Diante do apresentado acerca da situação do surdo no Brasil, além da constituição de uma política de saúde voltada para o/a surdo/a no país, a seguir iremos apresentar sobre a constituição da política de saúde direcionada o surdo no municio de Governador Valadares. 2.2 A Saúde em Governador Valadares e a Política de Atendimento ao Surdo Como mencionado anteriormente, o assunto que se segue discute a Política de Saúde voltada para o atendimento o/a surdo/a em Governador Valadares, perpassando pelas ações na Atenção Primária à saúde, bem como da atenção de Média e de Alta Complexidade no setor público de saúde voltado para atendimento desse segmento. O município de Governador Valadares é pólo macrorregional, dentro do Plano Diretor de Regionalização - PDR delineado pela SES/MG, com população própria de 261.961 habitantes (IBGE, 2008), e com população regional referenciada em torno de 900 mil habitantes. A Secretaria Municipal de Saúde - SMS, criada em 1991, recebeu habilitação em Gestão Plena de Sistema em 24/06/1998, conforme Portaria Ministerial nº. 3.061, sendo o secretário municipal de saúde, o ordenador de despesas; que com a descentralização das ações de saúde passaram a efetuar o controle de toda a rede assistencial, assumindo as prerrogativas e responsabilidades pertinentes ao novo modelo. (Pereira, 2008) A partir da VIII Conferência Nacional de Saúde, organizou-se dos movimentos populares e do tecido social em função da Constituinte e Lei Orgânica Municipal, que definiram as bases para a implantação progressiva do Sistema Único de Saúde - SUS em nosso meio. Desse modo, com a descentralização das ações, a criação da Norma Operacional Básica - NOB 1993 e 96, a Gestão Plena do Sistema e mais 68 recentemente com a Norma Operacional de Assistência à Saúde - NOAS 2001, houve um começo de ordenação municipal, configurada desde o seu primeiro Plano Municipal de Saúde em 1990 e corroborada pelas Conferências Municipais que se sucederam até os dias atuais, onde já se tem uma situação bem definida do modelo a ser perseguido; e, em que pesem as grandes dificuldades e barreiras a serem superadas, já é possível assinalar um grande avanço na organização e implementação deste sistema. Assim, com estudos populacionais bem definidos, metas do Plano Municipal de Saúde estabelecida, razoável capacidade física instalada e crescente interesse e participação social, pode-se julgar viável e extremamente factível a construção adequada e o aprimoramento de um SUS com características modernas do ponto de vista gerencial e uma estrutura sólida e eficaz em suas ações, com pendências no que diz respeito à escassez de recursos humanos capacitados e ao adequado financiamento, que hoje é, historicamente, insuficiente (Pereira, 2008). (...) este sempre se organizou em torno de um modelo hospitalocêntrico e de forma a atender com prioridade os interesses do setor privado em detrimento do setor público. Esta situação começa a se inverter a partir do final da década de 80 e início da década de 90, com a VIII Conferência Nacional de Saúde, organização dos movimentos populares, melhor organização do tecido social em função da Constituinte e Lei Orgânica Municipal, que definiram as bases para a implantação progressiva do SUS em nosso meio. (SMS-GV, 2010, p.5) A Secretaria municipal de Saúde é composta por quatro grandes áreas assistenciais: Departamento de Atenção à Saúde, Departamento de Saúde Coletiva, Departamento de Controle Avaliação e Auditoria e Hospital Municipal de Governador Valadares. O Departamento de Atenção à Saúde é composto por os seguintes serviços, CRASE - Centro de Referência em Atenção Especial à Saúde – Centro de Referência para Tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS; CROS - Centro de Referência em Oftalmologia Social, CEREST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, CADEF - Centro de Apoio ao Deficiente Físico; Centro Viva Vida; CERSAM - Centro Referência em Saúde Mental; CREDEM-PES - Centro de Referência em Doenças Endêmicas e Programas Especiais – atendimento a hanseníase, tuberculoses, leishmaniose, etc.; Policlínica 69 Central Municipal – consultas de especialidades médicas, radiologia, mamografia, Laboratório de Análises Clínicas, que centraliza os exames municipais. O Controle, Regulação, Avaliação e Auditoria da SMS de Governador Valadares são prestadas na própria Secretaria Municipal de Saúde, compostos por médicos revisores autorizadores, enfermeiras auditoras, bioquímicos, odontólogos e assistentes administrativos que fazem análise da produção, autorização de procedimentos, cirurgias eletivas procedimentos de alta complexidade e alguns de média complexidade. Realizam também credenciamentos de novos serviços já cadastrados, apuram denúncias vindas da Secretaria de Estado, Ministério da Saúde ou dos usuários dos serviços de saúde. O planejamento da PPI é realizado em reunião na Gerência Regional de Saúde - GRS de acordo com a predeterminação, considerando o valor per capta do município. A regulação do acesso aos serviços hospitalares e ambulatoriais de média e alta complexidade, de urgência/emergência e eletivos, credenciados ao SUS/MG é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde através do Sistema Estadual de Regulação Assistencial. Utiliza-se o software SusFácil, para agilizar o processo. Caracterizando urgência/emergência, o controle é mais difícil em nível hospitalar, pois a maioria dos usuários é encaminhada ao Pronto Socorro, muitas vezes não passando pela Central de Regulação, desta forma extrapolando a cota pactuada com a nossa Unidade. (Pereira, 2008) Em relação ao orçamento, a União separa cerca de 12% de sua arrecadação total para a saúde. O Estado de Minas Gerais repassa cerca de 4,5% de sua arrecadação aos municípios. Em Governador Valadares o repasse para a saúde é de 15% do orçamento como é preconizado pelo ministério. O município investe 15% do recurso próprio em saúde, conforme fixado pela Emenda Constitucional nº. 29 de 13/09/2000. A assistência primária em saúde é prestada aos seus cidadãos através da rede básica, que conta com, Estratégia de Saúde da Família (ESFs) que são 35 ESFs, com cobertura de 54,68%, representando 143.261 pessoas cadastradas. Em 2008, houve implantação e implementação de 4 equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), atendendo a 8 equipes. Nas Unidades Básicas de Saúde há 4 equipes de Programa de Agentes Comunitário de Saúde (PACS), que ficam responsáveis por mais 22% desta, sendo complementado por 11 unidades básicas 70 de saúde e 3 distritos sanitários. Na zona rural existem 11 postos de saúde, e um em cada distrito rural. No município há 62 equipes de Saúde Bucal. Há atendimento odontológico nas Equipe de Saúde da Família (9 Equipes de Saúde da Família (ESF) básica, 18 Equipes de Saúde da Família com Saúde Bucal Modalidade I e 8 Equipes de Saúde da Família com Saúde Bucal Modalidade II.). Em 14 escolas municipais há consultórios odontológicos com atividade de prevenção e execução de curativos básicos. Nas Unidades Básicas de Saúde e CRASE há 5 consultórios odontológicos, sendo 4 em UBS e 1 no CRASE. Existe um consultório odontológico itinerante para atendimento na zona rural, a Unidade Móvel de Saúde (UMS), Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), localizado nas dependências da Policlínica Municipal, que fazem atendimentos de periodontia, endodontia, prótese entre outras especialidades da odontologia (SMS-GV, 2010). Compõe ainda a atenção primária o Programa Vale Juventude: Iniciado no município em 2004, com o nome de Programa Educacional Afetivo-Sexual – PEAS Vale. É uma parceria entre a Vale e os entes públicos. Em 2008 houve a transição do PEAS Vale para o Vale Juventude – PVJ. Tendo como pressuposto a confiança nas potencialidades do ser humano; valorização da diversidade humana; o protagonismo juvenil/participação juvenil (reconhecimento do adolescente como sujeito de direitos e responsabilidades); garantia dos direitos sexuais e reprodutivos (atenção à educação e à saúde integral do adolescente). Ainda em 2008, o PVJ formou novos facilitadores, realizou reuniões mensais para elaborar um Guia para Atendimento à Saúde Integral de Adolescentes no Município de Governador Valadares-MG (em fase de elaboração), além de participar de reuniões do Grupo de Referência de Governador Valadares. Além dos já referidos na rede de saúde em Governador Valadares, temos o SISVAN - Sistema de Vigilância Nutricional; Assistência Farmacêutica – há postos de distribuição em todas unidades de saúde, e uma Farmácia Central, na Policlínica Central Municipal, que centraliza a dispensação de Medicamentos Sujeitos a Controle Especial (Portaria SVS/MS N.º 344/98), inclusive de talidomida; o Centro de Saúde Dr. Rui Pimenta Filho – unidade de pronto-atendimento adulto e infantil com 6 leitos de observação funcionamento de segunda a sexta-feira, jornada de 12 horas diárias. Auxilia o Hospital Municipal no atendimento de casos menos graves; O Departamento de Saúde Coletiva é responsável pela vigilância epidemiológica, 71 vigilância sanitária, análises de água, análises bromatológicas, setor de imunização e controle das zoonoses no município e com o canil municipal. Todos esses setores possuem um espaço físico próprio e que atende a necessidade e especificidade de cada trabalho; a Cobertura Vacinal: O município de Governador Valadares conta com 47 salas de vacinação de rotina, sendo 39 salas na zona urbana e 8 na zona rural, alem de 1 sala para vacinas especiais. Periodicamente monta-se equipe móvel para realização da vacinação de toda área rural descoberta. Anualmente são realizadas Campanhas de Vacinação contra a Poliomielite (duas etapas) para crianças de 0 a 4 anos de idade e contra a Gripe, para pessoas de 60 anos e mais. Em 2008, o nosso município atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Saúde que e vacinar no mínimo 95% das crianças contra a Poliomielite e 80% dos idosos contra a Gripe; o Hiperdia que está inserido nas diversas unidades, criado pelo do Ministério da Saúde, e estão cadastrados 17.658 hipertensos e 5.158 diabéticos (SIAB/PMGV, novembro/2008). O Hiperdia é um programa que muito impacta na saúde do município, principalmente porque controla o quadro clínico, diminui os casos descompensados e aumenta a sobrevida. Usuários diabéticos e hipertensos sem atendimento na atenção primária podem levar as internações hospitalares por causas evitáveis, sendo consideradas doenças sensíveis à atenção primária. O acesso ao atendimento de média complexidade é feito através da Policlínica Central Municipal que concentra a maioria das especialidades além de alguns serviços credenciados, sendo controlada pela Central de Marcação de Exames e Consultas, do Departamento de Controle Avaliação e Auditoria/SMS. Os municípios que são pactuados com o município de Governador Valadares o atendimento de média e alta complexidade, além das consultas especializadas, obedecem ao mesmo fluxo dos nossos usuários, tendo seu acesso garantido conforme cota estipulada através da Programação Pactuada Integrada (PPI), com a utilização de uma senha que é fornecida pelo controle e avaliação para marcação na central de marcação de exames e consultas especializadas. Após passar pelas consultas especializadas e realização de exames de média complexidade detectando a necessidade de continuidade do tratamento através de procedimentos de alta complexidade o cidadão é encaminhado ao controle avaliação e auditoria que libera o seu tratamento (como quimioterapia, radioterapia, hemodiálise, prótese auditiva e outros). 72 O município conta com estabelecimentos de atendimento de média e alta complexidade SUS e não SUS, registrados no CNES/2008, dentre esses serviços que são prestadores de serviços ao SUS, encontra-se a Clinica OTOMED, credenciada pelo Serviço de Atenção à Saúde Auditiva, no que aprofundaremos mais a frente; conta ainda com o credenciamento de dois serviços de tomografia computadorizada, um serviço de hemodinâmica, radiodiagnóstico EPM III, hemoterapia, tratamento da AIDS, ressonância magnética, medicina nuclear, serviço de órtese e prótese locomotora, laboratórios de análises clínicas e clínicas radiológicas. Além de dois serviços de hemodiálise, radioterapia e quimioterapia, cirurgias eletivas, na rede conveniada. Governador Valadares dispõe de 2,23 leitos por 1000 habitantes, muito abaixo do preconizado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que fixa a necessidade de 4 leitos por 1000 habitantes. No que se referem os equipamentos, o município dispõe de equipamentos dentro do fixado na Portaria/GM 1.101 de 11 de junho de 2002, Ministério da Saúde. Os atendimentos de urgências e emergências são prestados na sua totalidade (100%) pelo Hospital Municipal que chegam pela procura espontânea, ou trazida pelo SAMU (Serviço Atendimento Móvel de Urgência), Resgate do Corpo de Bombeiros, Policias Civil, Militar e Rodoviária. O Hospital Municipal tem um papel imprescindível para o município de Governador Valadares, bem como para a Macrorregião Leste, que tem uma população de 1.407.089 habitantes, por ser o único Pronto Socorro da região e ser o responsável pelo atendimento de 100% da demanda de urgência e emergência, realizando uma média de 1.100 a 1.300 internações por mês e média de 13.000 internações por ano. (Pereira, 2008) Em 28 de setembro de 2004 entrou em vigor a Portaria nº. 2.073 que institui a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva como já explanado anteriormente, essa política para Novaes (2007), trata-se da primeira abordagem específica da questão da saúde auditiva das pessoas surdas ou com perdas auditivas. Antes desta política, apenas era ofertado pelo SUS aparelhos auditivos, tornando uma ação mínima em relação às necessidades dos usuários. Percebendo a necessidade de uma política que englobasse diferentes ações na assistência à saúde auditiva, hoje não se fornece apenas aparelhos auditivos, mas há também um trabalho de acompanhamento do uso desses equipamentos e de terapia fonoaudiológica. 73 No município de Governador Valadares no que tange ao atendimento à saúde auditiva, tem-se o SASA – OTOMED - Nunes e Costa Serviços Médicos LTDA, que compreende o Serviço de Atenção a Saúde Auditiva na Alta Complexidade e o Serviço de Implante Coclear. A OTOMED atende desde dezembro de 2005 os usuários, de acordo com a Portaria SAS/MS nº. 587 e nº. 589 ambas de outubro de 2004, que são pessoas com alterações auditivas, fornecendo o diagnostico e tratamento para adaptação de AASI. Tal serviço abrange a Macro Região Leste de Minas Gerais, realizando em media 240 consultas por mês, fornecendo em media 115 AASI/mês. A OTOMED tem um responsável técnico e conta com uma equipe interdisciplinar, com dez fonoaudiólogas, dois otorrinolaringologistas, uma assistente social e uma psicóloga. Para que o usuário tenha acesso ao SASA, é necessário que o mesmo consulte (no caso de Governador Valadares) no posto de saúde e solicita encaminhamento para a saúde auditiva. Em seguida a Junta Reguladora de Saúde Auditiva (JRSA) ira autorizar a consulta e simultaneamente por meio da Central de Marcação de Consulta o usuário receberá a guia com a data e horário agendado. A partir disso, cabe ao SASA oferecer todo o aparato necessário para um atendimento efetivo e eficiente respaldado em lei. Há situações em que o aparelho não é capaz de suprir a deficiência. Dependendo do tipo de perda auditiva, pode ser que o mais indicado seja o implante coclear, um procedimento cirúrgico que exerce sua função por meio da estimulação elétrica direta das fibras do nervo auditivo, por meio de eletrodos implantados em pacientes onde o ouvido interno está danificado. Anteriormente, todo o estado de Minas Gerais encaminhava a maior parte dos casos de implante coclear em crianças para outros estados. Mas, desde novembro de 2009, começaram a ser realizadas cirurgias de implante coclear pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em Minas Gerais, e Governador Valadares conta com esse serviço desde dezembro de 2009. Serviço esse prestado pela Clínica OTOMED, e Hospital Samaritano. Foram habilitados no Estado, por meio das portarias ministeriais nº 418 e 2.958, publicadas em 25 de novembro de 2009, os serviços do Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, Hospital Samaritano de Governador Valadares, Hospital Maria 74 José Baeta Reis de Juiz de Fora e o Hospital Dilson de Quadros Godinho de Montes Claros. Com o credenciamento, serão implantados por ano em Minas Gerais 96 pessoas com deficiência auditiva, sendo que cada serviço fará duas cirurgias mensais. Para financiar os procedimentos, será incorporado ao teto de média e alta complexidade do Estado um recurso anual de R$ 4.400.439,36. Os prestadores receberão mensalmente R$ 91.675,81 para realização das duas cirurgias. O custo de cada uma é R$ 45.838,0040. Antes da habilitação desse serviço no Estado, os usuários de Minas Gerais eram encaminhados para São Paulo. Segundo a Gerência de Redes Temáticas da Secretaria de Estado de Saúde (SES), por mês eram conduzidos, para o tratamento fora domicílio (TFD), aproximadamente 30 processos para avaliação da possibilidade da realização de cirurgias de Implante Coclear. A Política de Saúde Auditiva é um avanço no sentido de atender os/as usuários/as surdos/as. No entanto, é preciso refletir acerca dessa política, haja vista que pode ocorrer o agravamento da doença pela ausência de articulação das ações voltadas a esse segmento social, acrescido do desconhecimento dos usuários quanto à política de próteses auditivas no município, falta de intercâmbio entre as políticas sociais de forma atender o usuário na sua integralidade, falta às famílias orientação e apoio, quanto ao encaminhamento aos serviços para a intervenção precoce, sensibilização para aceitação da surdez, desenvolvimento emocional e cognitivo da criança e adolescente, e desconhecimento por parte dos profissionais de saúde em geral acerca do fluxo de atendimento do Programa de Atenção à Saúde Auditiva. 2.3 Análise do atendimento ao surdo na área da saúde em Governador Valadares, considerações acerca dos avanços e desafios. A sistematização do estudo acerca da constituição da política de saúde no Brasil, em conjunto com o histórico do/a surdo/a particularizado/a em tal política, 40 Fonte:http://minasempauta4.wordpress.com/2010/11/05/governo-anastasia-promove 2%C2% BAseminario-de-saude-auditiva-e-discute-implante-coclear/ acessado em 15/11/2010 às 18:40. 75 permitiu visualizar que ao longo do tempo houve uma ampliação destas políticas voltada para os/as surdos/as. Continuando esta discussão, será analisado a seguir como é executado o atendimento ao/a surdo/a na saúde em Governador Valadares, bem como as limitações que esse segmento social enfrenta pela não efetivação da política como é preconizada. Com intuito de analisar o atendimento ao surdo na área da saúde, foi aplicado um questionário a 47 surdos/as, sendo esse aplicado na Associação dos Surdos de Governador Valadares – ASUGOV e no SASA, em 05 profissionais (ou 20%) do Serviço de Atenção a Saúde Auditiva (SASA) OTOMED 41, ao Gestor do Hospital Municipal de Governador Valadares (HMGV), a Gestora do Centro de Apoio ao Deficiente Físico Dr. Octavio Soares (CADEF), além de 71 profissionais entrevistados que atuam na política de saúde no Hospital Municipal neste município. Na deficiência auditiva profunda, a intervenção terapêutica precoce e intensa, com uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual - AASI ou, implante coclear42 possibilita o desenvolvimento da fala e linguagem, embora de maneira lenta e com dificuldade, contudo, crianças que utilizam tal aparelho freqüentemente precisarão de leitura orofacial (leitura labial). A contribuição da audição como meio para o desenvolvimento da fala e da linguagem varia muito entre as crianças com deficiência auditiva profunda. Conforme o gráfico abaixo: É ou foi usúario de AASI 4% 28% Não Sim Não respondeu 68% Gráfico 1 - É ou foi usuário de Aparelho de Amplificação Sonora Individual 41 A clínica OTOMED é uma empresa privada credenciada ao SUS que presta serviço a esse seguimento, no entanto, foi optada por sistematizar as questões separadamente, para visualizar a diferença do atendimento dos profissionais da saúde do serviço público e privado. 42 Implante Coclear: é o tratamento da perda auditiva severa por uma tecnologia de substituição da audição natural por prótese no interior do ouvido. 76 É possível perceber que a maioria dos entrevistados (68%), são ou já foram usuário de AASI. Contudo, se for feito o uso de AASI, em conjunto com a intervenção terapêutica e esforço contínuo desde criança, a mesma poderá receber informações utilizando a audição para o desenvolvimento da fala, da linguagem e do aprendizado. Porém não podemos julgar os 28% dos entrevistados que responderam nunca terem feito uso do AASI, pois devemos considerar a cultura deste segmento, porque a surdez possibilita o desenvolvimento de uma cultura com características visuais e, conseqüentemente, a existência de uma identidade cultural diferente das culturas e identidades da sociedade ouvinte. “Ainda hoje, os definidos como portadores de deficiência auditiva, visual, física, mental são inscritos num único grupo social, num único discurso político, numa única ideologia, os quais se materializam ao ser subjetivado através do estereótipo da “universalidade” deficiência, como se existisse uma identidade universal deficiente. Constatou-se, no entanto, ao longo da história, que o único traço que une os grupos que se narram ou são narrados como portadores de deficiência, é o sofrimento da discriminação e exclusão que carregam em todos os momentos das suas vidas.” (Longman, 2007, p. 27). A autora Strobel (2008) reflete que a cultura surda é o jeito do sujeito surdo entender o mundo, ajustando-o com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. Entende-se então que as pessoas surdas vivem em uma cultura diferente da cultura hegemônica dos sujeitos ouvintes. Os surdos, ao serem questionados se os órgãos de saúde dispõem de recursos especiais para atendê-los, observa-se que: 77 Os órgãos da saúde dispõem de recursos especiais para atendê-los 40% Não 60% Sim Gráfico 3 – Os órgãos de saúde dispõem de recursos especiais para atendê-los Assim, ao serem questionados se os órgãos de saúde dispõem de recursos especiais para atendê-los, 40% destes estes explicitam que sim e 60% enfatizam que os órgãos não estão preparados para atendê-los. É importante ressaltar que o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005 regulamentou a Lei de Libras (10.436/2002) preconizando em seu inciso IX, quanto ao atendimento das pessoas surdas ou com deficiência auditiva na rede de serviços do SUS e das empresas detentoras de concessão ou permissões de serviços públicos de assistência à saúde. Este determina que este atendimento deve ser feito “por profissionais capacitados com o uso de Libras e sua tradução e interpretação”, além de ofertar apoio para a capacitação dos profissionais. Sabemos que em abril de 2002 a Presidência da República sancionou a Lei Federal 10.436 decretada pelo Congresso Nacional, que oficializa a Libras em todo o território nacional (Ministério da Educação, 2002) como sendo a língua oficial dos surdos. Contudo, ao contrario da legislação, o que encontramos como resultado, ao perguntarmos para os entrevistados surdos quais os recursos que os órgãos dispõem para atendê-los, apenas 5% declarou que esse atendimento é feito por profissionais que dominam a Libras, sendo no gráfico 4 (em anexo), 64% declaram que os órgãos não estão preparados para atendê-los, pois não conhecem a Língua Brasileira de Sinais. Afirmando tais questionamentos aplicados aos surdos, ao indagar sobre qual a principal dificuldade encontrada ao necessitarem de atendimento na saúde, ainda 78 sim esbarramos com a comunicação sendo a principal dificuldade, com 53% das respostas. Conforme gráfico abaixo Qual a principal dificuldade encontrada ao necessitarem de atendimento na saúde Compreensão 23% 15% Comunicação Falta de interprete ou profissonais qualificados 9% 53% Não respondeu Gráfico 5 – Qual a dificuldade encontrada ao necessitarem de atendimento na saúde A convivência no universo das pessoas com deficiência envolve uma mudança de paradigmas. Para os/as surdos/as, essas mudanças acontecem quando são aceitos e respeitados em suas diferenças. Neste sentido, contar com profissionais capacitados na comunicação com esse segmento social ou a presença de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) no atendimento aos/as surdos/as em espaços da sociedade, dentre esses a saúde, é exemplo de valorização das diversidades. Segundo Novaes (2007), barrar ou retardar a comunicação do cidadão surdo em sua língua natural (Libras) no uso dos serviços públicos da saúde pode levar ao caráter de crime, conforme a Lei nº. 7.853/1989, que prevê punição, com reclusão de 1 a 4 anos e multa, recusar, retardar, dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial, quando possível a pessoa portadora de deficiência (Art. 7°, IV). Completando a discussão, Novaes (2007) afirma que, (...) cabe ao poder publico a prestação de serviços adequados e eficientes para permitir um nível mínimo para a garantia de qualidade de vida. (...) No caso da pessoa surda, o nível mínimo exigido é a preparação para a recepção e comunicação deste durante o uso dos serviços públicos da área da saúde em todas as suas etapas. (2007, p.50) 79 Ainda assim, ao referir sobre a Secretaria de Saúde do município, 76% dos entrevistados surdos afirmaram que os seus serviços não estão preparados para recebê-los, ou seja, a grande maioria. Portanto, ressalta-se que a comunicação nãoverbal é de extrema importância no atendimento aos usuários e permite a excelência do cuidar em saúde. A falta de domínio de uma língua comum entre surdos e ouvintes dificulta ou mesmo impede a interação de conhecimento. Assim, é importante enfatizar que a linguagem (Língua) desempenha um papel decisivo na interação entre o surdo e o meio em que ele vive. ENTREVISTA AOS PROFISSIONAIS – OTOMED Em relação aos profissionais da Clínica OTOMED, ao serem questionados sobre a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo, foi observado no que 40% destes afirmaram fazer uso da fala, outros 40% fazem uso de mímica e escrita, somente 20 % afirmaram fazer uso da Língua de Sinais como forma de comunicação adotada para atender os surdos. Conforme gráfico a seguir, Qual a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo 40% 40% Fala Língua de sinais Mímica e escrita 20% Gráfico 13- Qual a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo A maioria desses profissionais (60%) afirmaram que se sentem preparados para atender o surdo e que a empresa também está preparada para atendê-los, mesmo sendo apenas 20% dos funcionários que sabem a Língua de Sinais. (Apêndice S - Gráfico 14). Ao serem questionados se a empresa fornece o curso de 80 Libras para os funcionários todos responderam que não, porém os mesmos (100%) afirmaram que gostariam de ser capacitados para atender os surdos. Logo, se percebe que, mesmo considerando as respostas acima, é possível perceber que há um despreparo no que diz respeito ao atendimento feito pelo profissional de saúde ao surdo, no que preconiza a comunicação entre surdo e o profissional que o atende. Como forma adotada para conseguir estabelecer uma comunicação com o surdo, os funcionários os orientam a sempre irem para a empresa Otomed acompanhados, para que o acompanhante estabeleça a comunicação entre surdo e profissional. Ainda na entrevista na clinica Otomed, foi aplicado um questionário composto por dez perguntas ao gestor da instituição acerca da prestação de atendimento ao surdo em tal instituição. Ao questionado se o estabelecimento possui em seu quadro de funcionários, profissionais que sabem se comunicar com os usuários surdos por meio da Libras, conforme determina a Lei Municipal nº. 5.150 de 20 de fevereiro de 2003, a resposta foi afirmativa a esse questionamento. ENTREVISTA AOS GESTORES O gestor relatou que sendo a empresa referência em adaptação de prótese auditiva, segue as normas preconizadas nas Portarias 587 e 589 ambas de 2004, para o fornecimento do AASI, bem como trabalham com a reabilitação da audição e da fala das pessoas surdas. Esse serviço existe desde dezembro de 2005, e por meio das portarias ministeriais nº. 418 e 2.958 de novembro de 2009, a empresa credenciou em dezembro de 2009 o serviço de implante coclear, ambos os serviços (serviço de atenção a saúde auditiva e implante coclear) é realizado por uma equipe composta por médicos otorrinolaringologistas, fonoaudiólogas, assistente social e psicóloga. Questionado se a instituição realiza campanhas preventivas em relação à surdez, o gestor relatou que existe atualmente o Projeto de Intervenção 43 da estagiária do Curso de Serviço Social na instituição. 43 Projeto elaborado no 6º período como exigência obrigatória da disciplina de Oficina de Supervisão Acadêmica, implementado nos anos de 2009 e 2010 nesta instituição. 81 Foram entrevistados o gestor do Hospital Municipal de Governador Valadares (HMGV) e o gestor do Centro de Apoio ao Deficiente Físico (CADEF). As informações colhidas nestes estabelecimentos foram analisadas em conjunto, por serem instituições públicas. Ao serem questionados se o estabelecimento possui em seu quadro de funcionários, profissionais que sabem se comunicar com os usuários surdos por meio da Libras, conforme determina a Lei Municipal nº. 5.150 de 20 de fevereiro de 2003, a Gestora do CADEF respondeu que existe neste estabelecimento profissionais qualificados em Libras, já a Direção do HMGV respondeu que não há profissionais qualificados em Libras. Quanto aos projetos que os estabelecimentos desenvolvem, ao perguntar se os estabelecimentos desenvolvem campanhas educativas sobre DST e prevenção e à gravidez indesejada junto a este segmento social, o gestor do HMGV afirmou realizar estas campanhas nos leitos do hospital, porém estas não são adaptadas em Libras. Por outro lado, a resposta da gestora do CADEF foi que não existem campanhas educativas no que tange a essas temáticas. Ainda em relação à campanha, ao questionar se tais estabelecimentos ofertam campanhas sobre prevenção da surdez, os dois estabelecimentos responderam que não oferecem campanha relacionada sobre a temática. Uma questão importante a ressaltar é que, ao ser questionado acerca do fornecimento de aparelhos auditivos e implante coclear, a Gestora do CADEF afirmou ofertar esses serviços na instituição, porém de acordo com as Portarias GM/MS nº. 626, 418 e 2.958 de novembro de 2009, apenas estabelecimentos credenciados como prestadora destes serviços, como a OTOMED, pode prestar tal serviço, o que leva a uma informação que ainda precisa ser melhor esclarecida em relação ao fornecimento de aparelho auditivo e implante coclear neste município. ENTREVISTA AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DO HOSPITAL MUNICIPAL Em relação aos profissionais que atuam na política de saúde de Governador Valadares, quando perguntados se estes já atenderam algum usuário surdo 54% responderam positivamente e 46% responderam negativamente. 82 JÁ ATENDEU USÚARIO SURDO/A Sim 46% 54% Não Gráfico 16 – Já atendeu usuário surdo/a Observa-se no gráfico que o atendimento de pessoas surdas é uma realidade presente no trabalho de profissionais da área de saúde, sendo no Hospital Municipal e na OTOMED em Governador Valadares, em diversas áreas de atuação. O fato de 46% dos participantes não atendeu os /as surdos/as não significa que estes/as nunca tenham procurado os serviços. É importante destacar que com a Constituição Federal de 1988, o cidadão tem o direito e o Estado o dever de oferecer gratuitamente tratamento para a (re) habilitação de pessoas com deficiência, acesso aos estabelecimentos públicos e privados e de seu tratamento adequado; garantia de atendimentos domiciliares, desenvolvimento de programas voltados às pessoas com deficiência, auxílio à maternidade e à infância. O direito a saúde vai desde o usuário receber a informação do médico acerca da deficiência e suas conseqüências até a visita domiciliar, caso a pessoa não tenha condição de locomoção. A Lei Federal n 7853/89, artigo 2º parágrafo único, inciso II assegura esse direito a qualquer pessoa, inclusive sobre os cuidados que ela deve ter consigo, notadamente no que se refere à questão do planejamento familiar, às doenças e seus diagnósticos e ao encaminhamento precoce de doenças, causadoras de deficiência. O direito à saúde não significa, apenas, o direito de estar sadio e de se manter são; não significa apenas o direito a tratamento de saúde para se manter-se bem. Esse direito abrange a garantia e promoção à habilitação e a reabilitação, devendo-se entender a saúde como um estado físico e mental que possibilita ao 83 indivíduo ter uma vida normal, integrada socialmente. De acordo ainda com esta Lei, em seu 2º parágrafo único, alíneas “c e d”, o Poder Público é obrigado a oferecer uma rede de serviços especializados em habilitação e reabilitação, bem como garantir o acesso aos estabelecimentos de saúde pública e privada. Nesse sentido o Sistema de Saúde Pública, não pode abrir mão de se adequar às necessidades dos usuários surdos/as, a fim de que possa prestar a estes, serviços de atendimento digno em todos os seus níveis de atuação. Principal dificuldade encontrada ao atender o surdo 4% 4% 4% Falta de acompanhante 15% Comunicação Não dominar a Libras Não há Não respondeu 73% Gráfico 17 – Principal dificuldade encontrada ao atender o surdo Os profissionais ainda quando perguntados sobre a principal dificuldade encontrada ao atender o surdo, 4% responderam que a falta de acompanhante é um agravante para o atendimento, 73% responderam que é a comunicação, outros 15% responderam não dominar Línguas de Sinais. Diferentemente dessas respostas 4 % responderam que não há dificuldade para atender ao surdo e por último 4% não responderam. Conforme demonstra o gráfico. Percebe-se que a dificuldade para interação com o/a surdo/a aparece num percentual significativo, conforme relato dos profissionais, o que vem de encontro à literatura revista, na qual os autores enfatizam para que ocorra a comunicação, é necessário que o usuário compreenda e seja compreendido, e quando este procura o serviço de saúde, se depara com condições que interferem de forma negativa na qualidade do processo de comunicação conseqüentemente interferindo na assistência prestada (Chaveiro; Barbosa, 2005; Dizeu; Caporali, 2005 Cardoso; Rodrigues; Rachion, 2006). 84 Os participantes que responderam afirmativamente apontaram que a maior dificuldade de interação com o/a usuário/a está na comunicação, no profissional compreender o que o surdo deseja, e quando este se encontra desacompanhado dificulta a compreensão do profissional que o assiste na consulta e nos procedimentos de rotina dos estabelecimentos de saúde pesquisados. Conforme Lima (2007, p.26) apud Novaes (2010) é certo que, caso “a comunicação entre o profissional de saúde e usuário não ocorrer efetivamente, o significado do cuidado prestado pode ser afetado profundamente”. Quando pesquisados sobre a forma de comunicação adotada no atendimento ao surdo/a pelos profissionais da saúde, em relação ao uso de escrita, 20% confirmaram que faziam uso dessa comunicação, 8% afirmaram fazer uso da Língua de Sinais para comunicar, 61% afirmaram que fazem uso da mímica para comunicar. Os 11% afirmaram não adotar nenhuma comunicação para com os usuários. Forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo/a 11% 20% Escrita 8% Língua de sinais Mímica Não há 61% Gráfico 18 – Forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo/a Percebeu-se que se utiliza mais a mímica como forma de comunicação do profissional da saúde com o usuário/a surdo/a. Neste sentido, Silva (1991) apud Rosa (2000) ressalta a importância dos profissionais de saúde estudarem e fazerem uso da comunicação não – verbal, de tal maneira que estes desenvolvam maior habilidade em compreender os sentimentos, dúvidas e dificuldade de verbalização do usuário. O uso de gestos, mímica e expressão corporal como forma de comunicação utilizada pelo e com o/a surdo/a nem sempre são claros e facilmente entendidos, 85 demandando tempo e esforço por parte dos profissionais que os atendem. A ajuda do acompanhante e a leitura labial são recursos mais fáceis de compreensão, citados pelos profissionais. A presença do acompanhante ou Intérprete é importante no processo de comunicação entre o usuário/a e profissional da saúde. Porém apesar de representar auxílio, o acompanhante pode tornar-se um problema quando não permite que o surdo participe ativamente da conversa, pois é ele quem explica ao profissional a dificuldade de saúde do surdo/a e recebe as orientações, limitando a individualidade necessária e minimizando as oportunidades do usuário em expor suas dúvidas (Santos; Shiratori, 2004). Em relação à comunicação através da escrita, segundo Almeida (2000), a escrita do surdo não obedece às exigências da língua portuguesa, uma vez que ele escreve na ordem que são apresentados os sinais através da LIBRAS, e, além disso, a língua de sinais não faz uso de preposições, artigos, conjunções. Portanto, pode ser necessária a presença de um intérprete se o profissional não entender sua escrita. Quando questionados aos profissionais da saúde se a empresa/órgão fornece curso de Libras para os funcionários, 89% responderam que negativamente, 4% responderam positivamente, 4% não souberam responder e 3% não responderam. A empresa fornece curso de Libras para os funcionários 3% 4% 4% Não Sim Não sabe Não respondeu 89% Gráfico 19 – A empresa fornece curso de Libras para os funcionários Segundo Souza et al (2009) a forma mais comum de comunicação entre pessoas é a língua falada. A transferência de conhecimento se faz através dela. Os surdos têm essa forma de comunicação tradicional afetada. Isso faz com que os mesmos tenham como língua padrão as linguagens através de gestos, que utilizam 86 a visão como fonte receptora desses gestos corporais, em sua formação. A falta de comunicação oral torna o surdo desintegrado da sociedade ouvinte, tendo dificuldades de usufruir serviços básicos, como por exemplo acesso a hospitais, já que os ouvintes também têm dificuldades de entender a língua dos sinais. Em decorrência de tais fatos, é indispensável que os profissionais da Saúde de toda rede de saúde no município de Governador Valadares, principalmente aqueles componentes da Atenção Primária de Saúde e também a Clínica credenciada ao Serviço de Atenção à Saúde Auditiva sejam capacitados para se comunicarem de maneira eficiente com tais usuários. Essa capacitação se concretizaria na oferta de cursos de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) a todos os profissionais de Saúde de tais áreas, para que pelo menos esses profissionais tenham um mínimo de entendimento necessário para o atendimento do usuário surdo/a. Cabe então às instituições públicas e à sociedade de modo geral proporcionar meios para que a inclusão social possa verdadeiramente acontecer. Ressalta-se, aqui, a importância do Artigo 3º da Lei Federal nº. 10.436/02 e do Artigo 1º da Lei Municipal nº. 5.150/03, descritos a seguir: As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor (10.436/02: art.3º). Fica estabelecido que as pessoas surdas deverão ser atendidas na repartições públicas e municipais por profissionais que saibam se comunicar por meio da Língua Brasileira de Sinais – Libras (5.150/03, 1º). 87 Gostariam de ser capacitados para atender os surdos 11% 1% Sim Não Não respondeu 88% Gráfico 20 – Gostariam de ser capacitados para atender os surdos Quando perguntado aos profissionais se gostariam de ser capacitados para ao atendimento ao surdo, 88% declararam positivamente, 11% afirmaram não ter interesse e 1% não respondeu. Nota-se que a maioria dos profissionais possui consciência de algumas medidas que devem ser tomadas para oferecer uma melhor assistência ao/a surdo/a e reconhecem a ausência de recursos para atender às necessidades desse usuário. Assim, é necessário destacar que para minimizar os efeitos causados pela falta de comunicação entre os profissionais e o usuário surdo/a a adoção da educação continuada em Libras, ou seja, possibilitar aos profissionais a oportunidade de aprenderem a língua de sinais, continuamente atualizados e acompanhados quanto ao desempenho na troca de informações com o usuário através da LIBRAS. Quando perguntado aos profissionais se sentem preparados para fazer qualquer atendimento ao surdo, do total dos entrevistados 79% afirmaram negativamente e apenas 21% afirmaram positivamente. 88 Você se sente preparado para prestar qualquer atendimento ao surdo 21% Sim Não 79% Gráfico 23 – Você se sente preparado para prestar qualquer atendimento ao surdo Ao serem questionados se quando contratados pela empresa ou órgão público, foram questionados se os mesmos conheciam e utilizavam a língua de sinais, 99% responderam negativamente e 1% positivo, de acordo com o apêndice AC. ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE Foi entrevistado ainda o gestor do Setor Público municipal responsável pela saúde pública em Governador Valadares. Este afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde possui 2.700 servidores públicos e enfatizou que não há atualmente nenhum servidor publico surdo em seu quadro de profissionais. Questionado se possui em seu quadro de funcionários, profissionais Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais – Libras para atender as pessoas surdas, conforme determina a Lei Municipal nº.5.150, de 20/02/2003, esse respondeu negativamente. Diante das respostas apresentadas pelo Gestor, foi possível verificar que a Secretaria Municipal de Saúde não possui esses profissionais Intérpretes de Libras, não fornece para os funcionários cursos de Libras para o atendimento aos/as surdos/as, não oferece campanhas adaptadas em Libras para as pessoas surdas compreenderem. Quando questionado se o município fornece aparelhos auditivos gratuitamente para os/as surdos/as, a resposta foi positivamente, ressaltando que 89 fornece tais aparelhos através do Centro de Apoio ao Deficiente Físico – CADEF e por empresa credenciada para prestar o Serviço de Atenção à Saúde Auditiva no Município. Oferecendo ainda testes preventivos como a Triagem Auditiva Neonatal e o Teste da Orelhinha, contudo, justifica que para a efetivação destes serviços, está ainda em processo de credenciamento junto à Gerência Regional de Saúde de Governador Valadares. 90 CONCLUSÃO Este estudo procurou destacar que a Carta Cidadã de 1988 traz em seu artigo 196, que a saúde é um direito de todos e dever do Estado. Portando, os/as surdos/as também tem direito ao acesso às instituições de saúde, pois é um cidadão como todos os outros, e o Estado tem o dever de assegurar que este atendimento ocorra, e com nível de qualidade de excelência. A inclusão social referente ao atendimento aos/as surdos/as, nos serviços da área de saúde, estabelece-se como fator essencial de qualidade dos serviços prestados, enquanto que a falta de comunicação inviabiliza um atendimento humanizado. A comunicação com os surdos surge como um desafio aos profissionais que lhes prestam assistência à saúde. A relação profissional da saúde e usuário/a surdo/a precisa ser melhorada, porque para os surdos o atendimento digno é atingido quando são compreendidos em suas necessidades, efetivando assim a inclusão na saúde. A comunicação estabelecida com os surdos instaura-se como um dos grandes obstáculos do cuidar em saúde. O bloqueio de comunicação prejudica o vinculo entre profissionais da saúde e surdos, comprometendo o atendimento. Ressaltamos que o intuito da pesquisa diante de entrevistas junto aos profissionais da saúde, não é de responsabilizar individualmente cada profissional, mas sim reivindicando que empregadores e entidades representativas e, de formação profissional da categoria deem atenção à temática, promovendo espaços nos quais os/a profissionais e estudantes possam adquirir esses conhecimentos. Constata-se, através da observação da realidade, que a questão das pessoas surdas não está desvinculada do contexto geral da sociedade capitalista em que vivemos. Os surdos/as necessitam que o Estado assuma sua responsabilidade perante as desigualdades sociais. Para estas pessoas, a autonomia é um direito que, ainda, precisa ser conquistado, tanto em relação às famílias, como em relação à toda sociedade visto que na maioria das vezes eles/as, são tratados como inferiores. 91 A Política de Atenção à Saúde Auditiva, é um avanço no município, porque existe desde dezembro de 2005 o Programa de Atenção à Saúde Auditiva 44 de alta complexidade voltada para o atendimento aos/as surdos/as, que abrange toda a macro-região Leste de Minas Gerais, sendo o mesmo executado por uma empresa terceirizada. Em relação a Triagem Auditiva Neonatal, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, esse serviço está em processo de credenciamento junto a Gerência Regional de Saúde Neste estudo procurou-se apresentar a preocupação com a forma de atendimento da política de saúde a este segmento social. Percebe-se que as ações de acompanhamentos dos indivíduos usuários de prótese auditiva encontram insuficientes, bem como da reabilitação auditiva, especialmente para as crianças. Falta de integração entre os procedimentos de concessão de prótese e os outros níveis de atenção de saúde auditiva no Município de Governador Valadares, especialmente no que concerne ao diagnóstico e monitoramento durante o período de adaptação da prótese e reabilitação da linguagem oral. A integralidade das ações, isto é, a promoção, a prevenção e as ações assistenciais de cura e reabilitação, só acontecem quando cada serviço é capaz de se ver enquanto parte constitutiva do Sistema, e ao desempenhar seu papel predominante, não deixa de lado as demais dimensões da atenção em saúde. Na concepção de Junqueira (2007), os possíveis “nós críticos” de uma rede estatal tornam-se “verdadeiras caixas pretas” ao serem concebidos pela via de entidades prestadoras de serviços. Em relação à prestação do serviço de saúde auditiva no Município, cabe ressaltar que dentre as inconstitucionalidades e ilegalidades presentes nessa mesma reflexão, tem-se o impedimento legal de o Estado desresponsabiliza-se da prestação de serviços como saúde (Art. 196), assistência social (Art. 203 e 204) e educação (Art. 205), garantidos como direitos do cidadão e dever do Estado. No que se refere à saúde, a transferência de serviços encontra impedimento legal na Constituição (Art. 199) e na Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/90 (Art. 24), onde é permitida a participação em caráter complementar, mediante contrato ou convênio, somente quando esgotada a capacidade e disponibilidade de atendimento pelo SUS. ³ Este programa tem como finalidade a protetização e reabilitação das pessoas surdas usuárias de AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual). 92 Segundo Pietro (2002) apud Rezende (2007) a transferência de serviços do poder público a terceiros ou que estes administrem serviços públicos de saúde “(...) significa que a instituição privada, em suas próprias instalações e com seus próprios recursos humanos e materiais, vai complementar as ações e os serviços de saúde, mediante contrato ou convênio”. Nas questões de campanhas educativas no sentido de prevenção a perda auditiva, prevenção às DST/HIV para o público surdos/as, são inexistentes neste município, o que um dado preocupante. O direito dos usuários terem acesso e receberem informações estão asseguradas pela Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1998) no capítulo I, “dos direitos e deveres individuais e coletivos”, artigo 5º, que se refere do direito ao acesso e a receber informações de interesse particular”. Esse direito acima explicitado abrange informações inerentes às pessoas, tanto as que dizem respeito a sua própria pessoa, acerca da sua saúde, quanto aos serviços que estão a sua disposição. É preciso que os profissionais de saúde sejam capazes de fornecer adequadamente informações e esclarecimentos, de forma a facilitar a compreensão do indivíduo a respeito do seu estado de saúde e promoção de uma vida mais saudável. Nesse sentido, os usuários surdos/as só podem compreender acerca dessas informações, quando são transmitidos através da Libras. A desinformação faz com que os usuários fiquem sem entender o que está realmente ocorrendo consigo e as formas de tratamento que lhes estão sendo propostas. Assim, para a eficiência da Política de Atenção à Saúde Auditiva, é necessário realizar estudos aprofundados nesta área, como também levantar maiores dados sobre a deficiência auditiva no município, uma vez que, são poucos os indicadores que possuímos para discutir e assim melhorar a qualidade das políticas públicas. Existe também a necessidade de realizar um trabalho regional, a fim de adequar os serviços às realidades de cada região e municípios. Realizar palestras, conferências sobre o assunto, para orientar e informar a população sobre a existência do programa de concessão de aparelhos auditivos, além de, investir no constante aprimoramento e na capacitação profissional no que tange ao uso da Libras como forma de comunicação com o usuário surdo/a. Tendo em vista a repercussão da deficiência auditiva na vida de uma criança e de sua respectiva família, programas para detecção precoce que visam a triagem 93 e o diagnóstico precoce da surdez são necessários no primeiro ano de vida. Podemos considerá-la medida de prevenção primária fazendo parte dos programas de promoção e proteção à saúde, previstos pela política de saúde brasileira, que podem ser desenvolvidos por instituições governamentais, empresas, associações comunitárias e indivíduos. É necessário pensar e propor ações que visem despertar para a deficiência auditiva em sua fase inicial, pois é nítido o desconhecimento em relação à Triagem Auditiva Neonatal, ao direito garantido à triagem e a assuntos que dizem respeito à surdez. Diante desse panorama a realização deste estudo foi importante e oportuna. As percepções dos surdos em relação aos atendimentos no sistema de saúde constituem-se de dados imprescindíveis para ao acesso aos bens e serviços, respeitando e valorizando as diferenças, melhorando conseqüentemente a qualidade da assistência em saúde. A discussão da assistência à saúde, como fator de inclusão social, não se encerra neste estudo, mas sinaliza para a necessidade de novas pesquisas que sensibilizem e esclareçam os profissionais da saúde para bem atender à comunidade surda. Cabe enfatizar que responder às dificuldades dos surdos quando procuram atendimento à saúde é dever de todos, profissionais da saúde, gestores e sociedade comprometidos em colaborar na construção de uma sociedade inclusiva. É necessário compreender que para o processo de efetivação da PNASA, ter no município de Governador Valadares, políticas públicas mais abrangentes, como a inclusão de programas de triagem auditiva neonatal e a criação de serviços de referência para as maternidades, garantindo, assim, que todos os recém-nascidos sejam avaliados antes do momento de alta. Sendo imprescindível que a atenção primaria passe a ser mais discutida e priorizada pelos gestores da área. "A prevenção, promoção e detecção precoce de problemas auditivos poderiam ocorrer por meio da Estratégia da Saúde da Família. Os agentes comunitários seriam capacitados para notificar possíveis riscos auditivos e apontar casos suspeitos para intervir na perda auditiva no período crítico de desenvolvimento da criança". Desta forma, estabelecer co-responsabilidade com o PACS/ESF, visando à capacitação dos agentes comunitários de saúde e supervisores sobre prevenção e identificação precoce de deficiência auditiva, bem como acompanhar as atividades 94 desenvolvidas e incluir nas ações do PACS/ESF a identificação e encaminhamento das crianças nascidas na comunidade para a realização do teste do pezinho e teste da orelhinha. Para a questão dos dados referente à população dos surdos no município é importante identificar o perfil - população das pessoas com deficiência - realizando censo qualitativo e quantitativo, através do PACS/ESF, CAAD e IBGE. Fazer o mapeamento dos atendimentos das unidades de saúde auditiva com vistas a possibilitar melhores fluxos de referência e contrarreferência de uma unidade a outra e de um nível de complexidade a outro; e também a descentralização dos serviços para garantir melhor atendimento ao usuário, evitando assim grandes deslocamentos. São muitos os desafios em relação à efetivação dos direitos das pessoas surdas nos âmbitos nacional, estadual e municipal, como pudemos constatar a partir do levantamento das principais leis que envolvem surdos/as, apresentado nesse trabalho. Sendo necessário efetivar o Decreto Federal 5.296/04, que assegura atendimento prioritário às pessoas com deficiência na rede de saúde, principalmente municipal e capacitar em LIBRAS, os profissionais de atendimento público nas unidades de saúde para o atendimento aos/as surdos/as além dos demais profissionais das outras áreas, e suas formações acadêmicas, terem nos currículos de seus respectivos cursos, incluída a disciplina de Libras, não como eletiva, mas sim como crédito obrigatório. É imprescindível garantir a participação do segmento dos surdos nos Conselhos de Saúde para viabilizar propostas que atenda às necessidades desse segmento social. Cabe destacar a importância de promover e realizar ações educativas para conscientização e quebra de preconceitos em relação à pessoa com deficiência, reconhecer a Libras como meio de comunicação e expressão das pessoas surdas no Município, determinar que o poder público se empenhe no apoio e difusão do seu uso, que as instituições públicas prestem atendimento aos surdos em Libras. Tais medidas, num futuro próximo, proporcionará a aquisição de saberes que visem modificar as atitudes dos profissionais em relação ao atendimento prestado aos/as usuários/as surdos/as, aos seus familiares, assim como também uma maior interação em situações de convívio profissional com colegas surdos, contribuindo 95 assim, sobremaneira para uma otimização da atuação do profissional, da atenção à saúde e do ato de cuidar. Portanto acreditamos que nosso trabalho abre um leque de possibilidades para futuros estudos, mais aprofundados, sobre diversas questões aqui levantadas e desejamos que a temática seja abraçada por mais profissionais e pesquisadores de várias áreas de conhecimento, principalmente por aqueles que atuam, na prática, com surdos/as, pois é extremamente necessário o estudo sobre esta temática junto à profissão. 96 REFERÊNCIAS AGUIAR, E.A. TCC - A Política de Saúde Mental no Município de Governador Valadares – MG: resgate da dignidade humana? Governador Valadares, 2007 ALMEIDA, Elizabeth Oliveira Crepaldi de. Leitura e Surdez: um Estudo com Adultos não Oralizados. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter Ltda, 2000. BERTOLLI, Filho C. História da saúde pública no Brasil. São Paulo: Ática, 2003. BEVILACQUA, Maria Cecília e MORET, Adriane Lima Mortari. Deficiência auditiva: conversando com familiares e profissionais da saúde. São José dos Campos – SP: Pulso; 2005. 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Esta pesquisa tem por objetivo, compreender a forma de atendimento em relação aos surdos nos órgãos de saúde em Governador Valadares. Questionário para pessoas surdas Data da Entrevista: / / 2010 Nome: ________ (identificação por letra) /Sexo: _____/ Idade___________ Nível de Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Primário: ( ) incompleto ( )completo Secundário:( ) incompleto ( ) completo ( ) Superior: ( ) Incompleto ( ) completo ( ) Profissionalizante Profissão:............................................................................................................ Estado Civil:..................................... É ou foi usuário de Aparelho de Amplificação Sonora Individual? ( ) sim ( ) não 1- Quando necessitam de atendimento na saúde, os órgãos dispõe de recursos especiais para atendê-los? ( ) sim ( ) não Caso a reposta seja sim, de quais recursos dispõe? ( ) intérprete de Libras ( ) Os funcionários dominam Libras ( ) Outros. 2- Estes órgãos estão preparados para receber os surdos, conhece sua língua? ( ) sim ( ) não 3- Qual a principal dificuldade encontrada pelos Surdos ao necessitarem de tais atendimentos? ___________________________________________________________________ ___ 108 Quando necessita de atendimento na saúde, como faz? ( ) vai sozinho ( ) acompanhado 4- Os funcionários têm facilidade para compreendê-los? Por quê? ( ) sim ____________________________________________________________ __________________________________________________________________ ( ) não ____________________________________________________________ __________________________________________________________________ 5- Nestes órgãos ao serem abordados, vocês sofrem algum tipo de discriminação? ( ) sim ( ) não 6 – Os profissionais da saúde ao atendê-lo, prefere que estes falem as línguas de sinais ou tenham intérpretes? ( ) Línguas de Sinais ( ) Intérpretes Por que?_______________________________________________________________ 7 – As campanhas educativas tais como sobre DSTs e prevenção a gravidez indesejadas feitas sem interpretes são compreendidas pelo surdos ? ( ) sim ( ) não 8 – A Secretaria de Saúde está preparada para atender os Surdos? ( ) sim ( ) não Por que? _______________________________________________________________ 9 - Qual a forma de comunicação é adotada pelos funcionários da Saúde? ( ) mímica ( ) com intérpretes de Libras ( ) Escrita ( ) Não há 10- Estes órgãos da Saúde, ao atendê-los, têm diferença quando é público ou privado? Explique. 109 APÊNDICE B- QUESTIONÁRIO AOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE Finalidade: A entrevista é parte integrante do projeto: “O atendimento ao surdo da área da saúde em Governador Valadares”, tendo como finalidade obter dados para o trabalho de conclusão de curso, a ser apresentado para a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNIVALE, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Esta pesquisa tem por objetivo, compreender a forma de atendimento em relação aos surdos nos órgãos de saúde em Governador Valadares. Questionário aos Profissionais da Saúde Data da Entrevista: / / 2010 Nome: ............ (identificação por letra) /Sexo: .../ Idade... . . ...... anos Nível de Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Primário: ( ) incompleto ( )completo Secundário:( ) incompleto ( ) completo ( ) Superior: ( ) Incompleto ( ) completo ( ) Profissionalizante Profissão......................................................................................................................... ..... 1- Você já atendeu o usuário surdo/a? ( ) sim ( ) não 2 – Qual a principal dificuldade encontrada ao atender o Surdo? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3 - Qual a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo? ( ) línguas de sinais ( ) escrita ( ) mímica ( ) não há 4 - A empresa/órgão fornece para os funcionários curso de Libras para atendimento aos Surdos? ( ) sim ( ) não 5 – Os funcionários da Saúde gostariam de ser capacitados para atender os Surdos? ( ) sim ( ) não 6 – Você se sente preparado para fazer qualquer atendimento ao surdo? ( ) sim ( ) não 110 7 – Ao ser contratados por uma empresa/órgão são questionados se sabem a língua de sinais? ( ) sim ( ) não 8- Para você ao atender o surdo, julga necessário um acompanhante? ( ) sim ( ) não 9 – Em sua opinião, a empresa/órgão está preparada para atender os surdos? ( ) sim ( ) não 10 – Há propostas da direção em capacitar os funcionários com a língua de sinais (LIBRAS)? ( ) sim ( ) não 111 APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO PARA GESTORES EM EMPRESAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS Finalidade: A entrevista é parte integrante do projeto: “O atendimento ao surdo da área da saúde em Governador Valadares”, tendo como finalidade obter dados para o trabalho de conclusão de curso, a ser apresentado para a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNIVALE, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Esta pesquisa tem por objetivo, compreender a forma de atendimento em relação aos surdos nos órgãos de saúde em Governador Valadares. Data da Entrevista: / / 2010 Nome: ...... (identificação por letra) /Sexo: .../ Idade... . . ...... anos Moradia: ( ) Própria ( )Alugada ( ) Cedida /Cidade :: ...................................................- Fone: ( ) ............................... Nível de Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Primário: ( ) incompleto ( )completo Secundário:( ) incompleto ( ) completo ( ) Superior: ( ) Incompleto ( ) completo ( ) Profissionalizante Profissão......................................................................................................................... ..... Questionário para Gestores em empresas e órgãos públicos. 1-O estabelecimento funcionários?______________________________ possui quantos 2-Quantos destes são surdos ou deficientes auditivos?_____________________ 3-O estabelecimento possui em seu quadro de funcionários, profissionais que sabem se comunicarem por meio da Língua Brasileira de Sinais – Libras para atender pessoas surdas, conforme determina a Lei Municipal n º 5.150, 20 de fevereiro de 2003? ( ) sim ( ) não Caso seja NÃO sua resposta, como é feito esse atendimento e porque ainda o estabelecimento não possui esses profissionais interpretes de Libras? 4-Quais os projetos desenvolvidos pelo estabelecimento no que tange a campanha educativa sobre DST e prevenção a gravidez indesejada? ___________________________________________________________________ 5-Essas campanhas educativas são adaptadas em Libras para as pessoas surdas compreenderem? ( ) sim ( ) não Caso sua resposta seja NÂO, como o estabelecimento vê essa situação: ________________________________________________________ 6-O estabelecimento fornece aparelhos auditivos gratuitamente para os surdos? 112 ( ) sim ( ) não Caso sua reposta seja SIM, como isto é feito: __________________________________________________________ 7- O estabelecimento fornece gratuitamente implantes cocleares para os surdos? ( ) sim ( ) não Caso sua reposta seja SIM, como isto é feito: __________________________________________________________________ Caso sua resposta seja NÃO, por quê? ___________________________________________________________________ 8- O estabelecimento trabalha na reabilitação da audição e fala das pessoas surdas? ( ) sim ( ) não Caso sua reposta seja SIM, como isto é feito: __________________________________________________________________ 9- É feita alguma campanha preventiva em relação à surdez? ( ) sim ( ) não Caso sua resposta seja SIM, quais os serviços específicos são ofertados em sua empresa/órgãos aos surdos? ___________________________________________________________________ 10- Quais os testes que devem ser feitos em crianças? ___________________________________________________________________ E estes testes são ofertados pelas empresas/órgãos? ( ) sim ( ) não 113 APÊNDICE D - QUESTIONÁRIO PARA GESTORES DE SAÚDE Finalidade: A entrevista é parte integrante do projeto: “O atendimento ao surdo da área da saúde em Governador Valadares”, tendo como finalidade obter dados para o trabalho de conclusão de curso, a ser apresentado para a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNIVALE, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social. Esta pesquisa tem por objetivo, compreender a forma de atendimento em relação aos surdos nos órgãos de saúde em Governador Valadares. Data da Entrevista: / / 2010 Nome: ...... (identificação por letra) /Sexo: .../ Idade... . . ...... anos Nível de Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Primário: ( ) incompleto ( )completo Secundário:( ) incompleto ( ) completo ( ) Superior: ( ) Incompleto ( ) completo ( ) Profissionalizante Profissão......................................................................................................................... ..... Questionário para Gestores de Saúde 1A Secretaria Municipal de Saúde funcionários?______________________________ possui quantos 2- Quantos destes são surdos/as ?_____________________ 3-A Secretaria Municipal de Saúde possui em seu quadro de funcionários, profissionais Intérprete de Língua Brasileira de Sinais – Libras para atender pessoas surdas, conforme determina a Lei Municipal n º 5.150, 20 de fevereiro de 2003? ( ) sim ( ) não Caso seja NÃO sua resposta, como é feito esse atendimento e porque ainda a Secretaria não possui esses profissionais interpretes de Libras? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ______ 4 - A empresa/órgão fornece para os funcionários curso de Libras para atendimento aos Surdos? ( ) sim ( ) não 5 - Quais os projetos desenvolvidas pela Secretaria Municipal no que tange a campanha educativa sobre DST/HIV/AIDS, prevenção à gravidez indesejada e prevenção à surdez? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 114 6 - Essas campanhas educativas são adaptadas em Libras para as pessoas surdas compreenderem? ( ) sim ( ) não Caso sua resposta seja NÂO, como o estabelecimento vê essa situação: ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7 – Como está estabelecido o Serviço de Atendimento ao Surdo no Município? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 8 – O Município fornece aparelhos auditivos gratuitamente para os surdos? ( ) sim ( ) não Caso sua reposta seja SIM, como isto é feito: ___________________________________________________________________ 9 - O estabelecimento fornece gratuitamente implantes cocleares para os surdos? ( ) sim ( ) não Caso sua reposta seja SIM, como isto é feito: __________________________________________________________________ Caso sua resposta seja NÃO, por quê? ___________________________________________________________________ 10 – O Município realiza testes preventivos como a Triagem Auditiva Neonatal e o Teste da Orelhinha? ( ) sim ( ) não E estes testes são ofertados onde e como? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 115 116 APÊNDICE E- GRAFICO 1 É ou foi usúario de AASI 4% 28% Não Sim Não respondeu 68% Gráfico 1- É ou foi usuário de AASI APÊNDICE F- GRÁFICO 2 Sexo dos surdos entrevistados 4% 40% Feminino Masculino 56% Gráfico 2- Sexo dos surdos entrevistados Não respondeu 117 APÊNDICE G - GRÁFICO 3 Os órgãos da saúde dispõem de recursos especiais para atendê-los 40% Não Sim 60% Gráfico 3- Os órgãos dispõem de recursos especiais para atende-los APÊNDICE H – GRAFICO 4 De quais recursos esses orgãos dispõem 11% 5% Intérprete Os funcionarios dominam LIBRAS Outros 84% Gráfico 4 – De quais recursos esses órgãos dispõem 118 APENDICE I - GRÁFICO 4 Estes órgãos estão preparados para receber os surdos, conhecem sua língua 6% Não 30% Sim 64% Não respondeu Gráfico 4 – Estes órgãos estão preparados para receber os surdos, conhecem sua língua APÊNDICE J – GRAFICO 5 Qual a principal dificuldade encontrada ao necessitarem de atendimento na saúde Compreensão 23% 15% Comunicação Falta de interprete ou profissonais qualificados 9% 53% Não respondeu Gráfico 5 – Qual a principal dificuldade encontrada ao necessitarem de atendimento na saúde 119 APENDICE K – GRÁFICO 6 Quando necessita de atendimento na saúde, como faz 2% 43% Vai sozinho Vai acompanhado Não respondeu 55% Gráfico 6 – Quando necessita de atendimento na saúde,como faz APENDICE L – GRÁFICO 7 Os funcionários da saúde têm facilidade para compreendê-los 7% 14% Não tem paciência Não, porque não sabem Libras Não respondeu 79% Gráfico 7 – Os funcionários da saúde têm facilidade para compreendê-los 120 APÊNDICE M – GRAFICO 8 Nestes órgãos ao serem abordados, sofrem algum tipo de discriminação 9% Não 30% Sim 61% Não respondeu Gráfico 8 – Nestes órgãos ao serem abordados, sofrem algum tipo de preconceito APENDICE N – GRÁFICO 9 Os profissionais de saúde ao atendê-lo, preferem que estes falem em língua de sinais ou tenham intérpretes 17% Intérprete Lingua de Sinais 53% 30% Não respondeu Gráfico 9 – Os profissionais de saúde ao atendê-lo, preferem que estes falem em língua de sinais ou tenham interpretes 121 APÊNDICE O – GRÁFICO 10 As campanhas educativas tais como DSTs e prevenção à gravidez indesejadas feitas sem intérpretes são compreendidas pelo surdo 13% Não 47% Sim Não respondeu 40% Gráfico 10 – As campanhas educativas tais como DSTs e prevenção à gravidez indesejada feitas sem interpretes são compreendidas pelo surdo APÊNDICE P – GRAFICO 11 A secretaria de saúde está preparada para atender os surdos 11% 13% Sim Não Não respondeu 76% Gráfico 11- A secretaria de saúde está preparada para atender os surdos 122 APÊNDICE Q – GRÁFICO 12 A forma de comunicação é adotada pelos Interprete funcionários da saúde Escrita Fala 9% 2% Mímica 19% 13% Mímica, escrita e fala 2% 6% Mímica, interprete e escrita Mímica e escrita 13% 25% 2% Mímica e fala Não há 9% Não respondeu Gráfico 12 – A forma de comunicação que é adotada pelos funcionários da saúde APÊNDICE R – GRÃFICO 13 – DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE OTOMED Qual a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo 40% 40% Fala Língua de sinais Mímica e escrita 20% Gráfico 13 – Qual a forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo 123 APÊNDICE S – GRÁFICO 14 Em sua opinião, a empresa está preparada para atender os surdos 40% Não Sim 60% Gráfico 14 – Em sua opinião, a empresa está preparada para atender os surdos APÊNDICE T – GRÁFICO 15 Há propostas da direção em capacitar os funcionários com LIBRAS 20% Não Não tem conhecimento 80% Gráfico 15 – Há propostas da direção em capacitar os funcionários com Libras 124 APÊNDICE U – GRÁFICO 16 DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE HMGV JÁ ATENDEU USÚARIO SURDO/A Sim 46% 54% Não Gráfico 16 – Já atendeu usuário surdo/a Gráfico 16 – Já atendeu usuário surdo/a APÊNDICE V - GRÁFICO 17 Principal dificuldade encontrada ao atender o surdo 4% 4% 4% Falta de acompanhante 15% Comunicação Não dominar a Libras Não há Não respondeu 73% Gráfico 17 – Principal dificuldade encontrada ao atender o surdo 125 APÊNDICE W – GRÁFICO 18 Forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo/a 11% 20% Escrita 8% Língua de sinais Mímica Não há 61% Gráfico 18 – Forma de comunicação adotada de atendimento ao surdo/a APÊNDICE X – GRÁFICO 19 A empresa fornece curso de Libras para os funcionários 3% 4% 4% Não Sim Não sabe Não respondeu 89% Gráfico 19 – A empresa fornece curso de Libras para os funcionários 126 APÊNDICE Y – GRÁFICO 20 Gostariam de ser capacitados para atender os surdos 11% 1% Sim Não Não respondeu 88% Gráfico 20 – Gostariam de ser capacitados para atender os surdos APÊNDICE Z – GRÁFICO 21 Para atender um surdo , julga necessário ele está acompanhado 3% 15% Sim Não Às vezes 82% Gráfico 21 – Para atender um surdo, julga necessário ele está acompanhado 127 APÊNDICE AA – GRÁFICO 22 Na sua opinião a empresa está preparada para atender os surdos 3% 15% Sim Não Não respondeu 82% Gráfico 22 – Em sua opinião a empresa está preparada para atender os surdos APÊNDICE AB – GRÁFICO 23 Você se sente preparado para prestar qualquer atendimento ao surdo 21% Sim Não 79% Gráfico 23 – Gostariam de ser capacitados apara atender os surdos 128 APÊNDICE AC – GRAFICO 24 Ao serem contratados, foram questionados se sabiam Libras 1% Sim Não 99% Gráfico 24 – Ao serem contratados, foram questionados se sabiam Libras 129 APENDICE AD – OFICIO Oficio À Prezado (a) Senhor (a), Solicitamos através desta, autorização, para desenvolver a pesquisa científica “O ATENDIMENTO AO SURDO NA ÁREA DA SAÚDE EM GOVERNADOR VALADARES,”, cujo objetivo é compreender a forma de atendimento em relação aos surdos nos órgãos de saúde em Governador Valadares. A pesquisa faz parte do trabalho de conclusão de curso, a ser apresentado para a Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNIVALE, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social, sob a orientação da Professora Ana Maria Eller Mariano. Para a coleta dos dados da pesquisa, solicitamos acesso às unidades do Hospital Municipal, e disponibilidade dos sistemas de informações e de documentos atinentes ao objeto do estudo. Garantimos que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com outras pessoas, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes. A Sra. tem o direito de ser mantida atualizada sobre os resultados parciais das pesquisas e, caso seja solicitado, daremos todas as informações de que necessitar. Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada com a participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa. Nós nos comprometemos a utilizar os dados coletados somente para pesquisa, sem nunca tornar possível a sua identificação. Em anexo, está o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para ser assinado, caso não tenha ficado qualquer dúvida. Certa de contar com sua habitual colaboração para o desenvolvimento de pesquisas científicas no âmbito da saúde e, mais especificamente, com aquelas relacionadas ao surdo, agradecemos antecipadamente. Ilma. Sr (a). ___________________________ 130 ANEXO 131 ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO I – Identificação do responsável pela execução da pesquisa: - CURSO DE SERVIÇO SOCIAL – FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAL/UNIVALE II - Identificação do Informante: - ___________________________________________________________ III - Informações ao Participante: 3.1 Você está sendo convidado (a) a participar de um trabalho de investigação científica que tem como objetivo geral subsidiar na construção do trabalho de conclusão de curso do Serviço Social, que tem como tema “O atendimento ao surdo da área da saúde em Governador Valadares”, gostaríamos de esclarecer o seguinte: a- A sua participação é voluntária. Se concordar em participar, deixamos claro que em nenhum momento será citado (a) nominalmente, sendo resguardado o sigilo das informações oferecidas, de acordo com os princípios éticos que regulam um trabalho desta natureza. b- O acesso aos dados coletados é restrito aos alunos pesquisadores, portando você está livre de qualquer penalização, risco ou prejuízo. c- A sua participação não lhe confere nenhum privilégio, e você pode decidir-se por se retirar da condição de informante em qualquer momento. d- Depois de coletados, analisados e interpretados, os dados darão origem a um Trabalho de Conclusão de Curso, requisito final para a formação do assistente social, que tem caráter de documento público, guardado o sigilo da citação individual dos informantes. Neste caso as informações produzidas são de inteira responsabilidade dos pesquisadores. IV- Termo de Compromisso: Confirmo ter conhecimento do conteúdo deste termo. A assinatura abaixo indica que concordo em participar da pesquisa, e por isso dou meu consentimento. Governador Valadares, ______ de ___________________ de 2010. IV- Assinaturas: - Participante: ___________________________________________________ - Coordenador da Pesquisa: Discentes do 8º Período do Curso Serviço Social – Dayse Cardoso. Eunice Chaves. Marinez Prates. Sânzya Thelles.