Gestão do cuidado como forma de garantir a

Propaganda
Gestão do cuidado como forma de garantir a integralidade
da atenção na RAS: a experiência do Município de Itajaí (SC)
Introdução
Ser gestora das ações de alimentação e nutrição de um município é um grande
desafio, principalmente em um momento de reestruturação do sistema de atenção à
saúde em redes integradas. Sei disso porque conheço uma gestora de alimentação e
nutrição municipal, e há muito tempo ouço suas histórias... Antes de ocupar esse cargo
de gestão, ela já havia trabalhado em um hospital, onde refletia sempre: "por que esse
paciente chegou ao ponto de precisar ser internado? Sofrer um Acidente Vascular
Encefálico? Estar com câncer? Por que não estamos realizando de maneira suficiente a
prevenção para reduzir o número de casos de doenças que podem ser evitadas?".
Essa profissional interrompeu o trabalho no hospital após passar no concurso
público e ter a responsabilidade de coordenar as ações de alimentação e nutrição na
Secretaria de Saúde do município de Itajaí (SC), com aproximadamente
200 mil habitantes. Inicialmente, as ações da área relacionavam-se,
principalmente ao Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e ao
Programa Bolsa Família (PBF).
As três nutricionistas do município - uma delas lotada em uma unidade que
conta com três equipes da Estratégia Saúde da Família - e outras duas que atendem
em um centro de referência ambulatorial - articulam suas ações com as várias equipes
de saúde, pois a garantia do cuidado integral ao indivíduo, que contemple ações de
promoção da saúde e prevenção e tratamento de doenças e agravos relacionados à
alimentação e nutrição, é complexa e requer atuação de equipes multiprofissionais e
transdisciplinares. Ou seja, além do nutricionista, outros profissionais da saúde devem
ser envolvidos e atuar em ações relacionadas à atenção nutricional.
“Infelizmente, pela falta de profissionais que temos hoje, não
conseguimos atender a toda demanda do município de Itajaí. Muitas
equipes e profissionais colaboram com a atenção nutricional na
atenção básica: nutricionistas, enfermeiros, técnicos de
enfermagem, agentes comunitários de saúde, pediatras, médicos de
saúde da família, psicólogos, fisioterapeuta e, às vezes assistentes
sociais”.
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
Para atender às demandas são realizadas diversas ações, resultado de um
grande trabalho de planejamento e de organização da equipe da Coordenação de
Alimentação e Nutrição do município de Itajaí. Veja na figura!
Atendimento
individual
Ações na escola
Ações locais
de
alimentação
e nutrição
Atenção
domiciliar
(indivíduos
acamados ou
restrito ao
domicilio)
Vigilância
alimentar e
nutricional
Atividades
educativas em
grupo
As nutricionistas articulam suas ações com as várias equipes de saúde e têm a
liberdade de organizar suas agendas para atendimento individual ou, se necessário,
para realização de grupos, conforme o cronograma e a necessidade da população.
A decisão da gestora: a necessidade da atenção integral à saúde!
A gestora costuma dizer:
“Nós ainda não conseguimos fazer um trabalho efetivo de prevenção que
atenda muitas pessoas e que conscientize e sensibilize os usuários. Por
outro lado, há que se reconhecer que houve uma evolução também, em
relação ao que era há quatro anos. Havia apenas um nutricionista no
atendimento na atenção básica, tentando fazer grupos e outras
atividades. Hoje já são três profissionais de nutrição, em parceria com
outros profissionais de saúde e se pretende aumentar esse número!".
2
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
Para construir um bom planejamento e implementar as ações de alimentação e
nutrição, a equipe da área técnica desenvolveu a seguinte estratégia: inicialmente,
elaboram um cronograma prévio desde o início do ano, para que todos se organizem e
estejam disponíveis para as reuniões mensais. Nos encontros conversam sobre tudo o
que está acontecendo e o que pretendem que aconteça. Após cada reunião, um dos
presentes faz a memória e registra as informações, para que seja possível identificar os
itens que foram solucionados e aqueles ainda pendentes. E assim vão organizando as
ações...
A realização da Vigilância Alimentar e Nutricional junto as ESF, que contempla,
entre outras ações, a coleta, inserção e análise de dados no Sisvan, tem contribuído
muito para o planejamento e implementação das ações locais de alimentação e
nutrição, como relatou a gestora a seguir:
Como vocês utilizam o Sisvan para o planejamento municipal das ações de alimentação e nutrição?
“Nós utilizamos essa ferramenta para analisar os dados e planejar as ações.
Quem preenche a ficha são os agentes comunitários e os técnicos de
enfermagem e, às vezes, as enfermeiras. Os nutricionistas e os enfermeiros
têm a senha e o cadastro de acesso ao Sistema para poder monitorar, ver
relatórios, ver dados, fazer a análise dos usuários que estão cadastrados no
Sisvan. Ou seja: não fica restrito à Nutrição! Muitos municípios não têm
nutricionista, e não é por isso que não pode ser feita a vigilância alimentar
nutricional, não é mesmo?”
Por meio das reuniões mensais de equipe, foi possível montar o fluxograma de
atendimento nutricional do município, utilizado desde 2009. Quando há uma
alteração nesse fluxograma, por exemplo, por ausência de algum profissional, ele é
refeito por toda a equipe. A gestora é responsável por comunicar qualquer alteração
às equipes de saúde, garantindo o bom funcionamento do processo.
“Por termos um bom relacionamento e uma boa articulação,
conseguimos nos reunir todo mês para falar sobre o que está
acontecendo e planejar a atenção nutricional no município. Essa
reunião mensal facilita o processo de evolução, de construção. Se
não tivesse, se cada um atuasse de forma independente e da
maneira que achasse que deveria atuar, não teria se avançado
tanto quanto se avançou”.
3
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
O fluxograma de atendimento foi montado a partir do seguinte modelo
estratégico:
Diagnóstico Institucional ou
Organizacional
É um instrumento indispensável de
gestão, que consiste numa análise
detalhada da instituição para
levantar todas as características
internas (forças, fraquezas) e
externas
(oportunidades
e
ameaças),
com
vistas
ao
estabelecimento de prioridades,
alvos e objetivos de um possível
plano de ação (Chiavenato, 2006).
Pode contribuir para uma melhor
tomada de decisão, pois é um
instrumento que apresenta uma
visão global e dinâmica da
instituição e oferece a possibilidade
de gerar, em todos os níveis, uma
excelência organizacional.
S
E o que os relatórios do Sisvan têm revelado?
Os relatórios do Sisvan apontam que as maiores demandas de alimentação e nutrição no município são:
Casos de crianças com alergia
alimentar e desnutrição grave
A incidência de desnutrição no
município não é grande, mas tem
muitas crianças com processos
alérgicos e gestantes de alto risco.
"É feito acompanhamento mensal,
vê-se a evolução da criança e, se for
necessário, é oferecido suplemento
alimentar. Hoje nós conseguimos
fornecer as fórmulas infantis para
alergia alimentar somente de forma a
auxiliar o tratamento da criança. Nós
não conseguimos dar o tratamento
completo. Nos casos de desnutrição,
acionamos o Ministério Público, o
gabinete do prefeito, o Conselho
Tutelar, a Psicologia, o Serviço Social,
quando tem fatores econômicos
envolvidos no contexto familiar, se
necessário”.
DCNTs*
Pacientes acamados
“As DCNTs são as prioridades
de ação. Aí estão crianças obesas,
adultos
obesos,
crianças
diabéticas”.
“Essa demanda está aumentando
e não estamos conseguindo atender
o
fornecimento
de
fórmula
nutricional do paciente acamado.
Aqui, o município utiliza recurso
próprio, pois não existe uma verba
federal para a compra dessa
fórmula.
Para
os
acamados,
nós
fornecíamos cinco latas de fórmula
industrializada por paciente, o que
não dá para 5% do tratamento do
paciente. E esse ano vamos
conseguir fornecer até 90% do
tratamento”.
* DCNTs: Doenças Crônicas Não
Transmissíveis.
4
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
Levando em consideração esse quadro de demandas de alimentação e nutrição,
e considerando o contexto institucional e populacional do município de Itajaí, nesse
momento, observou-se a necessidade de promover o cuidado integral por meio da
organização da atenção nutricional com foco em crianças com alergia alimentar e
desnutrição grave e indivíduos com DCNTs e acamados. É importante destacar que as
ações com foco específico têm levado à melhora nos indicadores de saúde e atuam de
maneira indireta também na prevenção de novos casos dessas doenças/agravos e na
agudização dos já existentes. A perspectiva é que este quadro melhore ainda mais em
médio prazo, com a ampliação e qualificação das ações.
Uma solução gerencial qualificada
Hoje são 30 unidades básicas de saúde no município e aproximadamente 40
equipes de saúde da família.
"Como somos poucos, priorizamos os pacientes diabéticos,
hipertensos, crianças com desnutrição grave e processos alérgicos,
mas sem restringir o acesso das demais pessoas para orientação
sobre alimentação saudável. Para facilitar nosso trabalho,
montamos o fluxograma de atendimento nutricional no município e
nele colocamos tudo aquilo que julgamos prioritário e factível de ser
feito no contexto em que nos encontramos".
Nesse contexto, a gestora municipal de alimentação e nutrição, de maneira a
ampliar o acesso à atenção nutricional da população, tomou decisões gerenciais
baseadas na compreensão da realidade e no planejamento de ações diante das
prioridades e recursos disponíveis. Para potencializar a atenção nutricional no
município, apostou:
5
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
Por fim, verificou-se que a melhor opção para a gestora é organizar a atenção
levando em conta a integralidade do cuidado, mesmo que o enfoque seja dado por
doenças específicas no âmbito da alimentação e nutrição. A complementaridade das
ações preventivas e de promoção da saúde, realizadas concomitantemente as ações de
tratamento, induzidas no município de Itajaí e que podem ser desenvolvidas pelas 36
equipes da Estratégia Saúde da Família, são necessárias para garantir a resolutividade
da atenção básica.
***
6
O nome do município foi explicitado por solicitação formal da equipe envolvida.
Download