Uma proposta didática Ernesto Rosa Os limites devem ser trabalhados duas vezes, uma antes e outra depois das derivadas. A primeira vez é apenas olhando gráficos, intuitivamente, como ocorreu historicamente. Na segunda vez, os épsilons e deltas. Desse modo obtemos melhor rendimento didático, isto significa melhor aproveitamento de conteúdo e de compreensão, com menor aversão. Começamos com alguns exemplos que não precisam vir todos juntos, mas entremeados com outros assuntos, preparando o que virá. 01. Para que valor tende o perímetro de um polígono inscrito em uma circunferência de raio r, quando o seu número n de lados cresce sem parar? E a área? 02. Para que valor tende o raio r da circunferência inscrita no triângulo retângulo onde um cateto mede 6cm e o outro vai para 8cm? E se x cresce além de qualquer número? 6 x 03. O êmbolo da seringa vai sendo pressionado para dentro, fazendo que volume tenda para zero. Para que valor tende a pressão do ar dentro da seringa? Veja o gráfico da função f:IR + → IR + dada pela equação y = 2 x 0 1 2 3 0,2 5 x. y y 0 1 1,4... 1,7... 0,5 2 1,4... 1 x 0 1 2 a) Colocando 1 no lugar de x, em y = x , que ordenada y encontramos? b) Substituindo 0,25 no lugar de x, qual será o y correspondente? c) Para a abscissa 2, qual é a ordenada? O gráfico ajuda a entender que a abscissa 2 dá a ordenada 2 = 1,4... e que as abscissas próximas de 2 dão ordenadas próximas de 2 . Costumamos dizer, com uma licença de linguagem, pensando que x e y são pontos móveis, que: se x se aproxima de 2, então y se aproxima de 1,4..., ou também que, se x se aproxima de 2, f(x) se aproxima de 1,4..., ou x → 2, então y → 1,4..., ou quando x tende a 2, f(x) tende a 1,4..., ou o limite de f(x), para x tendendo a 2, é 1,4..., e escrevemos: lim f(x) = 1,4... x→2 1 Portanto, no exemplo dado, lim f ( x ) = lim x = 2 = 1,4... x →2 x→2 O primeiro e mais geral método para cálculo de limites é EXAMINAR O GRÁFICO. Se f(x) é função de x e x → a, olhe no gráfico para encontrar para onde tende f(x). Só que, no gráfico é aproximado! x e dê os valores aproximados dos limites: c) lim d) lim x ~ x~ 04. Examine o gráfico de y = a) lim b) lim x ~ x~ x →3 x →1,7 x → 0 ,4 x →1,2 Muitas vezes, podemos resolver algebricamente, simplesmente substituindo o x por a. Isso pode ser feito nos pontos onde o gráfico é um “traço contínuo nas proximidades” de f(a), ou seja, x → a acarreta que f(x) → f(a) e, além disso, se x chega ao a, f(x) chega ao f(a). Esse é um segundo método de cálculo de limites. Veja os exemplos (faça os gráficos, pelo menos nas proximidades do ponto estudado): lim (x3 − 5x + 6) = 33 − 5⋅3 + 6 = 27 − 15 + 6 = 18 x →3 lim 3⋅cos x = 3⋅cos π = 3⋅(−1) = −3 x→π lim x→4 2 2 2 x − 3x = 2 4 − 3⋅ 4 = 2 4 = 16 05. Continue substituindo o x, para encontrar os limites: a) lim (3x2 + 4) = b) lim (x2 − 5x + 6) = x →5 d) lim c) x→3 2x +1 x −3 = e) 2 i) lim x −25 = x −5 x →5 sen x = lim lim 2x = x → −1 x → π/6 x→4 Neste último caso deu zero sobre zero, que não é número, então podemos fatorar e “cortar o fator anulante”, para recair no segundo método da substituição. Veja como: 2 (x +5)(x −5) i) lim x −25 = lim = lim (x + 5) = 5 + 5 = 10 x −5 x −5 x →5 x →5 x →5 Era o x−5 que estava anulando o numerador e o denominador quando o x era trocado por 5. 06. Fatorar e “cortar o fator anulante” para calcular os limites: a) lim x→3 x −3 x2 −9 b) lim x→ −6 x 2 + 3 x − 18 x+6 x→3 Vamos compreender como “cortamos o fator anulante”. Veja os dois gráficos das funções f e g dadas por: 2 (x −5)(x −2) f(x) = x −7x +10 = e x −5 x −5 y g(x) = x − 2 y g f 3 0 x − 3 = x −3 c) lim = 5 3 x 0 5 x Os dois gráficos são “quase” iguais, f(x) = g(x) para qualquer número, exceto o 5. Nos dois, quando x tende para 5, o y tende para 3. Só que, g(x) chega ao 3, enquanto que não existe f(5). As duas ordenadas tendem para o mesmo ponto 3, mas somente x 2 −7x +10 = lim (x − 2), apesar de f(5) não ser igual à g(5). Os x −5 x→5 x→5 limites são iguais, não os valores das funções. Como queremos o limite e não o ponto, então “cortamos o fator anulante”, trocando a primeira equação pela segunda, recaindo g(x) chega lá. lim 2 no segundo método, somente para esse cálculo. Um terceiro método é usar limites conhecidos, chamados limites fundamentais. 4 07. Confira o gráfico obtido com a expressão f(x) = . (x + 2)(x −1)2 y x -2 0 x 1 y 0 2 5 0,4 −1 −3 Os números 1 e −2 não servem para encontrar ordenadas. Portanto o domínio de f é D = IR −{1, −2} a) Abscissas muito grandes dão ordenadas positivas e próximas de 0. b) Abscissas próximas de 2 fornecem ordenadas perto de 1. c) Abscissas próximas de 1, sem chegarem ao 1, dão ordenadas muito grandes. d) Abscissas próximas de 0 dão ordenadas próximas de 2. e) Abscissas próximas de −1 dão ordenadas perto de 1. f ) Abscissas próximas de −2, mas do lado direito de −2, dão ordenadas grandes positivas. g) Abscissas perto de −2, mas do lado esquerdo de −2, dão ordenadas “grandes” negativas. h) Com abscissas próximas de −3, obtemos ordenadas próximas de −1/4. i) Com abscissas negativas de módulo grande, obtemos ordenadas negativas e próximas de 0. Parece-me que, nesse ponto, o aluno começa a compreender a difícil ideia de dependência entre as variáveis, portanto passa a compreender um gráfico. y Veja o primeiro limite fundamental. Se x cresce, 1/x vai para zero. A mesma coisa ocorre em uma seringa ideal: volume×pressão, com o volume crescendo. lim 1 = 0 x→ ∞ x 0 x Como conseqüência, temos os limites de funções racionais. FUNÇÕES RACIONAIS f(x) = P(x) Q(x) 08. Lembrando que 1/x vai para zero, quando x vai para infinito, calcular: 6 − 92 2 6 x − 9 x a) lim = lim x→ ∞ 2 − 6 + 8 x→ ∞ 2 x 2 − 6 x + 8 2 x 2x3 + x + 2 b) lim = lim x→ ∞ x→ ∞ 5x2 + 3 2x + = 6 −0 = 6 = 3 2−0+0 2 x 1 x 5+ + 2 x2 3 x2 4x3 − 9 = x→ ∞ 5x 6 − 6 x + 8 c) lim 3 = Em a) o maior expoente do numerador é igual ao maior do denominador e, com x→ ∞, a fração algébrica vai para 6/2 = 3 Em b) o maior expoente do numerador é maior que o maior do denominador e, com x→ ∞, “sobra” x no numerador e o limite é infinito. Em c) "sobra x no denominador" e a fração vai para zero. Mais dois limites fundamentais importantes. 09. Pegue uma calculadora e faça os seguintes gráficos: sen x a) y = , b) y = (1 + 1 ) x , x x com x em radianos, tendendo a zero. com x tendendo a infinito. x 1 x y e 2 1 0 0,5 0 1 lim x→0 sen x =1 x 2 0,1 10 lim x→ ∞ 0,01 0,001 (1 + 1 ) x = e x e = 2,718281... 1 2 5 10 15 100 1000 Ver o artigo “O número e” na RPM nº 68 ou no site www.matinterativa.com.br. Esses limites intuitivos acabam sendo um fechamento do estudo de gráficos. Com esse roteiro e mais exercícios de treinamento, podemos entrar em técnicas de derivação e suas aplicações. Depois, voltar a limites para formalizar e poder fazer as demonstrações. Ver o site: www.matinterativa.com.br 4 y