nesta Casa, estive muito preocupado com a questão do meio

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26358 Sábado 14
DIÁRIO DO SENADO FEDERAL
nesta Casa, estive muito preocupado com a questão
do meio ambiente, da devastação da nossa natureza,
da destinação adequada do lixo, e é sobre esse tema
que trato neste momento.
Sr. Presidente, o ser humano, durante muito tempo, com a noção de que os bens encontrados na natureza seriam infinitos, podendo, sempre que necessário,
ser encontrados em outros locais, explorou de forma
irracional os recursos que poderiam lhe trazer alguma
espécie de conforto ou acúmulo de patrimônio.
Quem despertou a Humanidade desse sonho
paradisíaco foi o economista religioso inglês Thomas
Robert Malthus, que, há cerca de 200 anos, publicou
o Ensaio sobre o Princípio da População, no qual
afirmava que a produção de alimentos só cresce em
progressão aritmética, ao passo que a população tende
a aumentar em progressão geométrica, sendo contida de forma natural por catástrofes ou pestes ou pelo
próprio homem, com suas guerras.
Agora, estamos observando, por um lado, um
grande decréscimo nas taxas de natalidade, principalmente nos países mais desenvolvidos, mas temos, por
outro lado, o aumento na média de expectativa de vida,
o que nos obriga a uma maior atenção com a utilização
dos recursos fornecidos pela natureza.
No século XX, principalmente na sua segunda
metade, ocorreu um grande movimento em busca
da conscientização dos habitantes do planeta para
a necessidade de preservação do ambiente em que
vivem.
Mas existe no ser humano uma capacidade inexplicável de basear o seu bem-estar no consumismo e
no desperdício dos recursos naturais, principalmente
entre os habitantes das sociedades mais opulentas. O
físico teórico Luigi Sertorio, em seu livro História da
Abundância, lançado recentemente na Itália, “explica
as origens, as causas e os limites da busca excessiva
pelo bem-estar que caracteriza a atual civilização”, de
acordo com o que encontramos em matéria da revista
Planeta, em sua edição de julho de 2004.
Segundo o cientista, a sociedade do consumo e
da produtividade acredita que bem-estar significa muita
comida no estômago e que a felicidade é conquistada
com o acúmulo de dinheiro e de bens materiais. Em
contraste com as populações pobres e subnutridas, as
sociedades ricas estão se tornando gordas, anormalmente obesas e enfrentam, além disso, outros problemas que não atingem as primeiras.
Estatísticas recentes mostram que cerca de um
terço da população norte-americana está acima do
peso normal, e uma parcela considerável já apresenta obesidade patológica. Segundo especialistas, esse
problema já superou o tabagismo. Por sua vez, do
Agosto de 2004
outro lado do Atlântico, nos países ricos da Europa,
a alimentação costuma ser de melhor qualidade, mas
as clínicas para distúrbios psicológicos e os centros
de desintoxicação de alcoólatras e usuários de drogas
aumentam substancialmente suas clientelas. Esses
fatos só fazem comprovar que a boa vida, a abundância e o bem-estar excessivo também podem levar à
doença e à morte.
Podemos dizer que, nesse sentido, já tivemos um
alerta na época do Renascimento, um divisor de águas
na cultura ocidental. Trata-se do célebre personagem
de Rabelais em sua novela Horríveis e Espantosos
Feitos e Proezas do Mui Célebre Pantagruel, que
levou à nossa cultura um adjetivo de forte significação:
quem ainda não terá ouvido a expressão “festa pantagruélica”? Pois esse personagem acreditava que bemestar era sinônimo de barriga cheia. Por isso, deveria
comer até a barriga estourar.
Sr. Presidente, a sociedade atual apenas muda
o enfoque desse estranho personagem, transferindo
sua gula para a avidez que apresenta em relação ao
inumerável universo de objetos criados para satisfazer
uma minoria, deixando à margem grandes contingentes de seres humanos.
E o problema maior dessa “festança” é o lixo produzido, que pode acabar tornando inabitável a nossa
própria casa, isto é, o planeta Terra.
O cientista Luigi Sertorio afirma, em seu livro,
que a espécie humana é energívora, e essa é a moeda
para pagar nossa condição de abundância e de desperdício. Segundo ele, desde os primórdios, o homo
sapiens, por sua debilidade e fragilidade, viu-se obrigado a “emprestar” do planeta a energia de que não
dispunha. Desde a descoberta do fogo, utilizava-se das
florestas para se aquecer, cozinhar, afastar alguns predadores e prolongar a luz do dia. Não demorou para
o fogo passar a ser utilizado na cerâmica e na metalurgia. É fácil inferirmos o aumento desmesurado do
consumo de energia, devido à evolução tecnológica,
até os dias atuais.
A energia emprestada do planeta, se fosse utilizada de forma parcimoniosa, poderia mostrar-se renovável, mas não foi o que testemunhamos na história
da humanidade.
A invenção dos motores térmicos, com a conseqüente utilização de combustíveis fósseis em quantidades sempre maiores, iniciou uma nova etapa tecnológica.
E o século XX assistiu à disputa pela hegemonia
política e pela supremacia econômica, mas a busca
acirrada e contínua de novas invenções levou a um descuido em relação ao meio ambiente, fazendo com que
se acendesse a luz amarela de alerta, avisando que
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