INSTITUTO OSWALDO CRUZ Carlos André Mandarino Silva

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INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular
Carlos André Mandarino Silva
Estudo do envolvimento do receptor nuclear PPAR na infecção pulmonar induzida por
Klebsiella pneumoniae
Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz
como parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Biologia Celular e Molecular
Orientadores: Drª. Adriana Ribeiro Silva
Dr. Cassiano Felippe Gonçalves de Albuquerque
RIO DE JANEIRO
2015
FICHA CATALOGRÁFICA A SER ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
DE MANGUINHOS PARA A VERSÃO FINAL DA TESE (A ser impressa no verso da
primeira folha de rosto)
INDICAR APENAS AS PALAVRAS-CHAVE NA VERSÃO APRESENTADA PARA A
DEFESA PÚBLICA DA TESE
Palavras chaves
Pneumonia, sepse, PPARγ, Klebsiella pneumoniae
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular
Carlos André Mandarino Silva
Estudo do envolvimento do receptor nuclear PPAR na infecção pulmonar induzida por
Klebsiella pneumoniae
ORIENTADORES: Drª. Adriana Ribeiro Silva
Dr. Cassiano Felippe Gonçalves de Albuquerque
Aprovada em: _____/_____/_____
EXAMINADORES:
Prof. Drª. Ana Paula D'Alincourt Carvalho Assef
Prof. Drª. Patricia Burth
Prof. Drª. Gisele Pena de Oliveira
Prof. Drª. Tatiana Paula Teixeira Ferreira
Prof. Drª. Ana Paula Teixeira Monteiro
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2015
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Roberto e Silvana, pelo amor incondicional, por toda a educação, ajuda e
incentivo, sempre apoiando as minhas escolhas.
A minha esposa Fabiana e meu filho, João Vitor, por toda compreensão nos momentos de
ausência, por estarem do meu lado sempre, alegrando meus dias e me motivando nesta
caminhada.
Agradeço aos meus orientadores, Drª. Adriana Ribeiro Silva e Dr. Cassiano Gonçalves de
Albuquerque, por terem me aceitado no seu grupo, por todos os ensinamentos, arranjando
sempre uma solução simples e correta nos momentos de desespero.
Aos amigos, Alessandra, Carol, Cristina, Gabriel, Larissa, Priscila, Raissa e Vitor, pela
amizade e por estarem sempre dispostos a me ajudar nos dias dos experimentos. Sem vocês
seria impossível concluir este trabalho.
A Rose Branco pela amizade, carinho e por todo o seu apoio administrativo.
Aos vizinhos de bancada, André Costa, Isaclaudia e Isabel, pela paciência com o amigo
espaçoso nos dias de experimento. E por profetizar a seguinte frase: “Não importa o quanto
você se organize, no final do mestrado vai ficar muito atolado”. Vocês estavam certos!
A todos da secretaria acadêmica da Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do
Instituo Oswaldo Cruz, pelo apoio acadêmico e técnico para a realização deste trabalho.
iv
SUMÁRIO
Resumo................................................................................................................................. vii
Abstract................................................................................................................................
viii
Lista de abreviaturas............................................................................................................
ix
Lista de figuras..................................................................................................................... xii
1. Introdução..................................................................................................................... 1
1.1.Sepse: Conceito e epidemiologia.....................................................................
1
1.2.Fisiopatologia da sepse....................................................................................
2
1.2.1. Origem das infecções.................................................................................
2
1.2.2. Reconhecimento de produtos microbianos e ativação da resposta
inflamatória................................................................................................ 3
1.2.3. Mediadores da resposta inflamatória.........................................................
4
1.2.4. Ativação dos macrófagos...........................................................................
5
1.2.5. Ativação do endotélio e migração de células inflamatórias....................... 5
1.2.6. Mecanismos microbicidas dos neutrófilos................................................. 7
1.2.7. Tratamento na sepse................................................................................... 7
1.2.8. Receptores Ativados por Proliferadores de Peroxissomos........................
8
1.2.9. Agonistas dos PPAR..................................................................................
10
1.2.10. Papel do PPARγ no pulmão.......................................................................
11
2. Objetivos.......................................................................................................................
14
2.1. Objetivos gerais..............................................................................................
14
2.2.Objetivos específicos.......................................................................................
14
3. Materiais e métodos.....................................................................................................
15
3.1.Animais...........................................................................................................
15
3.2.Inoculação com K. pneumoniae.......................................................................
15
3.3.Tratamento com ligantes do PPARγ................................................................
16
3.4.Lavado broncoalveolar..................................................................................... 16
3.5.Contagem total e diferencial das células do lavado broncoalveolar................
16
3.6.Análise do grau de severidade da sepse – escore clínico................................. 16
3.7.Histologia e escore patológico.........................................................................
17
3.8.Avaliação da carga bacteriana.........................................................................
17
3.9.Dosagem de citocinas....................................................................................... 17
v
3.10.Análise estatística........................................................................................... 18
4. Resultados.....................................................................................................................
19
4.1. Análise da sobrevida de animais infectados com K. pneumoniae..................
19
4.2. Efeito do pós-tratamento com rosiglitazona na sobrevida dos animais
após a injeção intratraqueal de bactérias.......................................................... 20
4.3. Efeito da rosiglitazona no escore clínico de gravidade da sepse em
camundongos inoculados com de K. pneumoniae........................................... 21
4.4. Análise do tecido pulmonar.......................................................................... 22
4.5. Analise da celularidade do lavado broncoalveolar de camundongos
inoculados com K. pneumoniae e tratados com rosiglitazona......................... 23
4.6. Efeito da rosiglitazona sobre a produção de citocinas no lavado
broncoalveolar.................................................................................................. 25
4.7. Quantificação de unidades formadoras de colônia no lavado
broncoalveolar de animais submetidos a instilação intratraqueal com K.
pneumoniae...................................................................................................... 27
4.8. Análise do papel do PPARγ nos parâmetros inflamatórios de animais
inoculados com K. pneumoniae....................................................................... 29
5. Discussão.......................................................................................................................
31
6. Conclusões..................................................................................................................... 36
7. Referências Bibliográficas...........................................................................................
vi
37
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Estudo do envolvimento do receptor nuclear PPAR na infecção pulmonar induzida por
Klebsiella pneumoniae
RESUMO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Carlos André Mandarino Silva
A pneumonia é uma das principais causas de sepse, com alta mortalidade nas unidades
de terapia intensiva (UTI), mesmo com os recentes avanços da medicina. O estudo da sepse e
de novas alternativas terapêuticas permanecem um desafio devido à complexidade desta
síndrome, cujo principal componente é uma resposta inflamatória exacerbada. O PPARγ
(receptor ativado por proliferadores de peroxissoma) é um fator de transcrição da família de
receptores nucleares, caracterizados por seu padrão de distribuição nos tecidos e por sua
função metabólica. Recentemente, várias populações de leucócitos, incluindo
monócitos/macrófagos, linfócitos e células dendríticas, também têm sido evidenciadas
expressando PPARγ, sugerindo um importante papel para esta molécula na regulação de
respostas imunes. O fármaco antidiabético rosiglitazona pertence à família das
tiazolidinedionas. Este fármaco é agonista de PPARγ e apresenta além dos efeitos no
metabolismo da glicose, uma potente ação anti-inflamatória, inclusive nas células do trato
respiratório. Nosso objetivo principal foi caracterizar o papel do PPARγ em um modelo de
pneumosepse em camundongos Swiss webster. Os animais foram desafiados com a bactéria
Klebsiella pneumoniae, uma importante causadora de infecções relacionadas à assistência à
saúde, tanto no meio ambiente comunitário quanto hospitalar. Foram feitas análises de
sobrevida, parâmetros inflamatórios, produção de citocinas, migração celular e eliminação
bacteriana no lavado broncoalveolar 24 horas após a instilação intratraqueal de K.
pneumoniae. Os animais foram tratados ou não com o agonista de PPARγ, rosiglitazona e/ou
seu antagonista, GW9662, 5 horas após o desafio com a bactéria. O tratamento aumentou a
sobrevida e causou melhora no quadro clínico dos camundongos desafiados e tratados com
rosiglitazona. A rosiglitazona diminuiu a produção de mediadores pró-inflamatórios como
TNF-α, IL-6. A infecção com K. pneumoniae levou a um aumento no acúmulo de neutrófilos
no pulmão e o pós-tratamento com rosiglitazona foi capaz de reverter este fenômeno,
diminuindo também o número de unidades formadoras de colônias (UFC) do lavado
broncoalveolar. A administração do antagonista do PPARγ, GW9662 30 min antes da
administração da rosiglitazona foi capaz de reverter seus efeitos anti-inflamatórios,
demonstrando que os efeitos protetores da rosiglitazona dependem da ativação do PPARγ. A
elucidação dos mecanismos moleculares pelos quais o PPARγ modula a sepse induzida por
pneumonia é de extrema importância para que novas intervenções terapêuticas sejam
propostas para o tratamento da sepse.
vii
INSTITUTO OSWALDO CRUZ
Estudo do envolvimento do receptor nuclear PPAR na infecção pulmonar induzida por
Klebsiella pneumoniae
ABSTRACT
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Carlos André Mandarino Silva
Pneumonia is a leading cause of sepsis with high mortality in intensive care units
(ICU), even with recent medical advances. The study of sepsis and new therapeutic options
remain a challenge due to the complexity of this syndrome, whose main component is an
exaggerated inflammatory response. The PPARγ (receptor peroxisome proliferator-activated)
is a transcription factor of nuclear receptor family characterized by their pattern of tissue
distribution and its metabolic function. Recently, various leukocyte populations, including
monocytes / macrophages, lymphocytes and dendritic cells, also have been evidenced
expressing PPARγ, suggesting a role for this molecule in regulation of immune responses.
The antidiabetic drug rosiglitazone belongs to the family of thiazolidinediones. This drug is
PPARγ agonist addition to the effects and features in the metabolism of glucose, potent antiinflammatory action, including the respiratory tract cells. Our main objective was to
characterize the role of PPARγ in a pneumosepse model in mice Swiss webster. The animals
were challenged with Klebsiella pneumoniae bacteria, a major cause of infections related to
health care, both through community and hospital environment. Survival analyzes were
performed, inflammatory parameters, cytokine production, cell migration and bacterial
elimination in the bronchoalveolar lavage fluid 24 hours after intratracheal instillation of K.
pneumoniae. The animals were treated or not with the PPARγ agonist rosiglitazone and / or
its antagonist, GW9662 5 hours after challenge with bacteria. The treatment increased the
survival and caused improvement in the clinical picture of and challenged mice treated with
rosiglitazone. Rosiglitazone decreased production of proinflammatory mediators such as
TNF-α, IL-6. Infection with K. pneumoniae led to an increase in neutrophil accumulation in
the lung and the post-treatment with rosiglitazone was able to reverse this phenomenon, also
reducing the number of colony forming units (CFU) of bronchoalveolar lavage. The
administration of the PPARγ antagonist, GW9662 30 min before administration of
rosiglitazone was able to reverse its anti-inflammatory effects, demonstrating that the
protective effects of rosiglitazone depend on the activation of the PPARγ. The elucidation of
the molecular mechanisms by which PPARγ modulates the pneumonia-induced sepsis is of
utmost importance so that new therapeutic interventions are proposed for the treatment of
sepsis.
viii
Lista de Abreviaturas
AMP
-
Adenosina monofosfato
cAMP
-
Adenosina monofosfato cíclico
AP-1
-
Proteína ativadora-1
BASES
-
Estudo epidemiológico da sepse no Brasil
BPM
-
Batimentos por minuto
BSA
-
Albumina bovina sérica
CBP
-
Proteína Ligadora de CREB
CREB
-
Elemento de resposta ao AMP cíclico
CD
-
Grupo de Diferenciação
CECAL
-
Centro de Criação de Animais de Laboratório da Fundação Oswaldo Cruz
CLP
-
Ligadura e punção cecal
CEUA
-
Comitê de Ética no Uso de Animais
CXCR2
-
Receptor 2 da quimiocina CXC
TMB
-
Tetrametilbenzidina
DMSO
-
Dimetil Sulfóxido
ELISA
-
Ensaio imunoenzimático
ERN
-
Espécies reativas de nitrogênio
ERO
-
Espécies reativas de oxigênio
EPM
-
Erro padrão da média
fMLP
-
formil-metionil-leucil-fenilalanina
G-CSF
-
Fator estimulador de colônia de granulócitos
GM-CSF
-
Fator estimulador de colônia de macrófago-granulócito
HE
-
Hematoxilina e eosina
HDAC
-
Histona deacetilase
HMGB1
-
Proteína 1 do grupo box de alta mobilidade
ICAM
-
Molécula de adesão intercelular
IFN
-
Interferon
IL
-
Interleucina
Ig
-
Imunoglobulina
iNOS
-
Óxido nítrico sintase induzida
ix
i.p.
-
Intraperitoneal
KC
-
Homóloga murina da quimiocina IL-8
LBP
-
Proteína ligante de LPS
LTB4
-
Leucotrieno B4
LPS
-
Lipopolissacarídeo
LT
-
Leucotrieno
MAPK
-
Proteína quinase ativada por mitógeno
MIF
-
Fator inibidor da migração de macrófagos
MMP
-
Metaloproteinases
NADPH
-
Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo-Fosfato
NFAT
-
Fator nuclear de ativação de linfócitos T
NF-kB
-
Fator nuclear kappa-B
NETs
-
Redes extracelulares formadas por neutrófilos
NO
-
Óxido nítrico
NcoR
-
Receptor nuclear co-repressor
NOD
-
Domínio de Oligomerização Nucleotídeo
PAF
-
Fator de ativação plaquetária
PAMP
-
Padrões moleculares associados a patógenos
PBS
-
Salina Tamponada por Fosfato
PKC
-
Proteína quinase C
PG
-
Prostaglandina
15dPGJ2
-
15 deoxi -2,14 prostaglandina J2
PMA
-
Forbol 12-miristato 13-acetato
PMNs
-
Leucócitos Polimorfonucleares
PPAR
-
Receptor ativado por proliferador de Peroxissomo
PPRE
-
Elemento responsivo ao proliferador de peroxissomo
PRR
-
Receptor de reconhecimento de padrões
RIG
-
Gene do ácido retinóico induzível
RXR
-
Receptor X retinóide
SIRS
-
Síndrome da resposta inflamatória sistêmica
SP-A
-
Proteína surfactante A
SRC-1
-
Receptor co-ativador de esteróides 1
x
STAT
-
Transdutor de Sinal e Ativador de Transcrição
TGF-β
-
Fator transformador de crescimento β
TLR
-
Receptores do tipo toll
TNF
-
Fator de necrose tumoral
TSA
-
Ágar de soja triptica
UTI
-
Unidade de Terapia Intensiva
UFC
-
Unidade Formadora de Colônia
VCAM
-
Molécula de adesão vascular
xi
Lista de Figuras
Figura 1.2.8. Mecanismos da inibição da expressão de genes pró-inflamatórios
dependentes de PPARγ......................................................................................................
10
Figura 1.2.9. Estrutura química da rosiglitazona e pioglitazona......................................
11
Figura 1.2.10. Expressão e efeitos do PPARγ em células estruturais e células do
sistema imunológico nos pulmões.....................................................................................
12
Figura 4.1. Analise da taxa de sobrevida de animais inoculados com diferentes
concentrações de K. pneumoniae....................................................................................... 19
Figura 4.2. Rosiglitazona aumenta a sobrevida dos animais infectados com K.
pneumoniae........................................................................................................................ 20
Figura 4.3. Efeito da rosiglitazona sobre o escore clínico de gravidade da sepse............
21
Figura 4.4. Histologia e escore patológico do tecido pulmonar.......................................
22
Figura 4.5. Análise da celularidade de amostras do BAL de camundongos tratados
com rosiglitazona............................................................................................................... 24
Figura 4.6. Efeito da rosiglitazona na produção de citocinas...........................................
26
Figura 4.7. Efeito do agonista de PPARγ rosiglitazona sobre a carga bacteriana
presente no BAL................................................................................................................
28
Figura 4.8. Análise do papel do PPARγ na iinflamação induzida por K.
pneumoniae........................................................................................................................ 30
Figura 5. Esquema final.................................................................................................... 35
xii
1. Introdução
1.1.Sepse: conceito e epidemiologia
A Sepse é uma associação entre a Sindrome da Resposta Inflamatória Sistêmica
(SIRS) e um quadro de infecção (1). Esta resposta inflamatória sistêmica pode também ser
desencadeada por procesos não infecciosos como trauma, isquemia, queimadura, pancreatite e
hemorragia. É determinada por um conjunto de efeitos tais como a taquipnéia, alterações de
temperatura, taquicardia e alterações no número de leucócitos. Esta síndrome resulta de uma
complexa interação entre o microorganismo infectante e a resposta imune, pró-inflamatória e
pró-coagulante do hospedeiro (2, 3).
Como a população de pacientes sépticos é bastante diversificada, e tendo em vista que
diferentes estímulos e agentes podem servir de gatilho para desencadear a sepse, ela passou a
não ser definida como uma doença, e sim como uma síndrome, o que levou à necessidade de
um consenso para uma melhor definição. Assim, a Síndrome da Resposta Inflamatória
Sistêmica em humanos é definida quando dois ou mais dos seguintes sintomas clínicos são
diagnosticados: temperatura corporal > 38 ºC ou < 36 ºC; frequência cardíaca > 90 bpm;
frequência respiratória > 20 movimentos/minuto; leucometria> 12.000/mm3 ou < 4.000/mm3
ou ainda, presença de mais de 10% de bastonetes. Quando a SIRS ocorre secundariamente a
um processo infeccioso, é denominada Sepse, que quando acompanhada por falência de um
ou mais órgãos, é classificada como Sepse Grave. O choque séptico ocorre quando há
hipotensão severa não revertida pela expansão volêmica adequada e administração de
vasoconstritores (1, 4, 5).
A sepse é a principal causa de morte em unidades de terapia intensiva (UTI), sendo
considerada uma das maiores causas de morte nos Estados Unidos (6), com uma incidência
em torno de 750.000 casos/ano, acometendo três indivíduos em cada mil habitantes,
resultando em 215.000 mortes/ano. Em pacientes internados a incidência é estimada em 2,26
casos por 100 altas hospitalares. Na Europa a incidência é de aproximadamente um caso a
cada mil habitantes (7, 8). No Brasil, estudos epidemiológicos sobre sepse são escassos. Nas
últimas décadas, aproximadamente 25% dos pacientes internados em UTI apresentaram
critérios diagnósticos para sepse grave e choque séptico, com taxas progressivas de
mortalidade por sepse (34,7%), sepse grave (47,3%) e choque séptico (52,2%). O Estudo
Epidemiológico da Sepse no Brasil (BASES) desenvolvido em cinco UTI dos estados de São
Paulo e Santa Catarina, mostrou uma incidência de sepse, sepse grave e choque séptico de
1
46,9%, 27,3% e 23%, respectivamente. A mortalidade nestes pacientes foi 33,9%, 46,9% e
52,2%, respectivamente (9).
1.2.Fisiopatologia da Sepse
1.2.1. Origem das infecções
A infecção pode ter sua origem na comunidade ou ser de origem nosocomial, quando
ocorre durante a hospitalização, não estando presente no momento da admissão hospitalar,
sendo esta última relacionada com uma maior taxa de mortalidade (10). A pneumonia, um
distúrbio inflamatório agudo de natureza infecciosa, é a principal infecção encontrada em
ambos os casos (infecção nosocomial ou comunitária) tanto no Brasil (11, 12) quanto no
mundo (1, 13). A pneumonia está associada com uma quantidade considerável de doenças na
maioria das regiões do mundo (14, 15). É uma das principais doenças infecciosas graves,
sendo responsável por um considerável número de internações hospitalares, com uma
incidência crescente em muitas partes do mundo e um aumento da taxa de complicações
graves como a sepse (16, 17).
As bactérias (tanto as gram-positivas quanto as gram-negativas) são os principais
microrganismos responsáveis pelas infecções pulmonares que desencadeiam a sepse. Nos
casos das pneumonias adquiridas na comunidade, ocorre o predomínio das bactérias grampositivas, enquanto que nos casos das pneumonias adquiridas no hospital, as gram-negativas
são as mais encontradas (1). As enterobactérias (como Escherichia coli e espécies de
Klebisiella) são os principais microrganismos responsáveis pela sepse gram-negativa, sendo
que infecções por K. pneumoniae são as principais responsáveis pelas pneumonias
nosocomiais (1, 18).
A bactéria Klebsiella pneumoniae é um bacilo entérico, membro da família das
Enterobacteriaceae, está intimamente associada ao trato gastrointestinal de mamíferos, e não
raramente tem sido isolada na boca de indivíduos com ou sem doença periodontal e em
orofaringe de portadores assintomáticos. A colonização da orofaringe é uma importante fonte
de infecções pulmonares em pacientes debilitados por alcoolismo, diabetes e portadores de
doenças pulmonares crônicas. As infecções causadas por Klebsiella spp. tendem a ocorrer em
pessoas imunocomprometidas sendo responsável por alta taxa de mortalidade (19).
Nos indivíduos normais, a árvore brônquica abaixo da carina é isenta de
microrganismos, o mesmo não acontecendo nas vias aéreas superiores e cavidade oral, onde,
2
habitualmente, vivem microrganismos saprófitas e patogênicos. A estrutura das vias aéreas e
sua segmentação progressiva, a filtração aerodinâmica e o transporte mucociliar compõem os
principais mecanismos de defesa mecânicos que atuam para impedir que microrganismos
cheguem até os alvéolos pulmonares, um importante local de trocas gasosas e altamente
vascularizado (20). Em alguns casos, microrganismos conseguem transpor estes mecanismos
de defesa das vias aéreas superiores, atingindo os alvéolos pulmonares. Esta porção final do
trato respiratório inferior conta com uma população de macrófagos alveolares residentes, cujo
principal função é fagocitar e eliminar os microrganismos que chegam até o local. Quando
não é possível eliminar os patógenos, estas células devem coordenar uma resposta
inflamatória, que dependendo da sua intensidade, pode levar ao desenvolvimento das doenças
inflamatórias pulmonares como a pneumonia (21, 22).
Desta forma, a pneumonia pode ser definida como um distúrbio inflamatório agudo, de
natureza infecciosa, que ocorre no parênquima pulmonar e está associado com evidência
clínica e/ou radiológica de consolidação de parte ou partes de um ou ambos os pulmões (23).
1.2.2. Reconhecimento dos produtos microbianos e ativação da resposta inflamatória
Na vigência de uma infecção local o agente infeccioso é reconhecido por células
residentes que iniciam a produção de mediadores inflamatórios (24). O reconhecimento de
microrganismos pelas células do hospedeiro depende da expressão de receptores de
membrana capazes de identificar moléculas associadas aos microrganismos, sendo chamados
de receptores de reconhecimento padrão (PRR). Esta família de receptores reconhece
diferentes produtos microbianos, chamados de padrões moleculares associados a patógenos
(PAMP), tais como o lipopolissacarídeo (LPS), flagelina, zimosan e peptidoglicano (25, 26).
O início da resposta do hospedeiro pelo reconhecimento dos PAMP durante a sepse envolve
três famílias de receptores de reconhecimento padrão: receptores do tipo Toll (TLR);
receptores do tipo NOD (Domínio de oligomerização de nucleotídeo) e receptores do tipo
RIG-I (Gene do ácido retinóico induzível). A interação entre essas famílias de receptores
assegura uma coordenação fina e eficiente da resposta imune inata (24, 27, 28).
A ativação da sinalização do TLR induz ativação de proteínas adaptadoras envolvidas
na transdução de sinal. A sinalização via estas proteínas adaptadoras, culmina com a ativação
de uma série de fatores de transcrição, entre eles o fator nuclear κB (NF-κB), levando a
expressão e supressão de um grande número de genes. Entre os genes expressos em resposta a
3
ativação da via de TLR e NF-κB, estão os que codificam citocinas pró-inflamatórias, como o
fator de necrose tumoral-α (TNF-α) (29).
1.2.3. Mediadores da resposta inflamatória
Em resposta a presença de microrganismos, as células do sistema imune inato como
macrófagos e neutrófilos liberam diversos mediadores inflamatórios, dentre os quais as
citocinas que atuarão como indutoras ou moduladoras da inflamação. O desequilíbrio entre os
dois processos, com liberação excessiva de citocinas pró-inflamatórias, leva ao dano tecidual
e consequentemente, a disfunção de órgãos (30).
As citocinas são produzidas e liberadas por diferentes tipos celulares incluindo
linfócitos T, linfócitos B, mastócitos, células fagocíticas, células dendríticas, mononucleares e
neutrófilos, entre outras (31, 32).
De forma geral, as citocinas são classificadas em subgrupos, como: interleucinas (IL),
TNF-α, fatores de crescimento transformante (TGF), quimiocinas, interferons (IFN) e fatores
estimuladores de colônia (CSF). Elas também podem ser classificadas conforme sua atividade
biológica como: pró-inflamatórias (IL-1β, IL-6, IL-8, TNF-α,) e anti-inflamatórias (IL-10)
(33).
Mediadores como o TNF-α, as interleucinas (IL-1β, IL-6, IL-8), o fator inibitório de
migração de macrófagos (MIF), e mediadores lipídicos (PAF – Fator de ativação plaquetária,
leucotrienos e prostaglandinas), tem sido associados com a sepse (34, 35). Em humanos com
sepse e em animais submetidos a modelos experimentais de sepse, as citocinas são liberadas
de maneira sequencial denominada “tempestade de citocinas”. Nestes casos, o TNF-α é
apontado como mediador primário da inflamação, sendo implicado com um grande número de
doenças infecciosas e não infecciosas(36). Ele está associado com as anormalidades
hemodinâmicas, leucopenia e coagulopatia observados no curso da doença (35-37). Além
disso, o TNF-α é um potente indutor da liberação de outras citocinas como a IL-1β, IL-6 e IL8 (11, 32). Tanto a IL-1β assim como o TNF-α induzem febre, sendo que a IL-1β ainda induz
a produção e liberação de IL-6 (38). A IL-6 além de ser um mediador inflamatório, também
funciona como um marcador da gravidade da sepse. Já foi descrito que níveis elevados de IL6 e IL-8 são preditores no prognóstico da sepse e estão associados com a disfunção de
múltiplos órgãos e a mortalidade precoce e tardia (39, 40).
A família da IL-1 (IL-1α, IL-1β, IL-18) desempenha importante papel no
desenvolvimento da resposta imune e do processo inflamatório por meio da liberação de
4
outras citocinas e quimiocinas, além de estimular a síntese de eicosanóides como a
prostaglandina E2, aumenta a expressão da enzima óxido nítrico sintase induzida (NOSi) e de
metaloproteinases (MMP1) (41, 42). A IL-1 é sintetizada principalmente por monócitos e
macrófagos, age sinergicamente com o TNF-α amplificando a resposta inflamatória,
promovendo a expressão de moléculas de adesão nas células endoteliais e nos leucócitos, e
desta forma a diapedese celular (42).
1.2.4. Ativação dos macrófagos
Os macrófagos são células fagocíticas mononucleares altamente especializadas.
Atuando como sentinelas, são as primeiras células do sistema imune inato a reconhecer
componentes microbianos através dos receptores de superfície (43). A ativação destes
receptores por PAMP estimula a fagocitose e a internalização dos microrganismos para
vesículas intracelulares, onde são destruídos. Durante a infecção, os macrófagos atuam como
células apresentadoras de antígenos, potencializando a ativação de Linfócitos T e B através do
aumento na expressão de moléculas do complexo principal de histocompatibilidade de classe
II, de moléculas CD40 e de receptores de TNF-α na sua superfície (44). Além das citocinas e
quimiocinas, estas células também produzem espécies reativas do oxigênio, como ânion
superóxido (O2), radical hidroxila (OH), peróxido de hidrogênio (H2O2), e espécies reativas de
nitrogênio, como o óxido nítrico (NO), aumentando a sua capacidade bactericida e citotóxica
(45). Desta forma, a ativação de macrófagos durante um processo inflamatório, poderá
amplificar esta resposta, que se for exacerbada, conduzirá para a sepse e choque séptico.
1.2.5. Ativação do endotélio e migração de células inflamatórias
A ativação de alguns receptores, como por exemplo os TLR, leva à secreção de
quimiocinas e citocinas, como a IL-1β, TNF-α, IL-6, IL-8 entre outras, que irão favorecer o
recrutamento de leucócitos para o sítio de infecção (46). A produção destes mediadores
inflamatórios por células residentes leva à ativação do endotélio, aumento da permeabilidade
vascular e inicia o processo de influxo de leucócitos circulantes para o tecido. A ativação de
células endoteliais pelo TNF-α, por exemplo, causa alterações na morfologia celular e na
expressão de moléculas de adesão, que culminam com a adesão e o extravasamento de
leucócitos para o tecido (47). Dentre eles, o neutrófilo é o primeiro e seu número aumenta
5
significativamente dentro das primeiras horas após a infecção. Por isso, esta célula é por
muitos considerada a primeira linha de defesa do organismo contra infecções (48).
O recrutamento de neutrófilos para o sítio de infecção é um elemento crucial na
resposta do sistema imune inato. Na maioria dos tecidos, a cascata de recrutamento de
leucócitos envolve as seguintes etapas: marginação, rolamento, aderência e transmigração
através da parede dos vasos em direção a gradientes quimiotáticos. O recrutamento de
neutrófilos é iniciado por mudanças na superfície do endotélio, que resultam da estimulação
por mediadores inflamatórios (incluindo a histamina, leucotrienos e citocinas) que são
liberados a partir de leucócitos sentinelas nos tecidos quando eles entram em contato com
patógenos (49).
Na fase de marginação e rolamento dos neutrófilos ocorre a interação entre as Lselectinas, que são constitutivamente expressas nos leucócitos circulantes, com as E-selectinas
e P-selectinas cuja expressão é aumentada nas células endoteliais após a ativação por
quimiocinas e mediadores inflamatórios tais como o TNF-α (50). A adesão dos leucócitos nas
células endoteliais ocorre através das integrinas, que são moléculas responsáveis por aumentar
a afinidade entre as células. A integrina α1β2 também conhecidas por CD11a/CD18, são
expressas na maioria dos leucócitos e são moduladas por componentes microbianos, citocinas
inflamatórias e quimiocinas. Estas integrinas interagem com moléculas de adesão na
superfície das células endoteliais, tais como as ICAM (molécula de adesão intercelular-1) e
VCAM (molécula de adesão vascular) (51).
A transmigração (diapedese) é o estágio final da migração dos neutrófilos e consiste
na passagem dos neutrófilos pelo endotélio através das junções estreitas das células
endoteliais e das células infectadas ou lesadas. Este processo é regulado por um amplo
espectro de moléculas quimiotraentes incluindo tanto componentes microbianos como o
formil-metionil-leucil-fenilalanina (fMLP), LPS, quanto componentes derivados do
hospedeiro como citocinas (TNF-α, IL-1), componentes do complemento (C3a, C5a),
mediadores lipídicos (leucotrieno B4, PAF, PG) e quimiocinas (CXCL8), liberados pelas
células residentes e pelas células recrutadas ao foco infeccioso (52).
6
1.2.6. Mecanismos microbicidas dos neutrófilos
Uma vez alcançado o foco infeccioso, os neutrófilos são capazes de fagocitar e
eliminar os microorganismos invasores. A expressão de receptores para a porção Fc de
imunoglobulina (Ig) G (FcγRIII) e de proteinas da cascata do complemento (C3R) pelos
neutrófilos permite o reconhecimento e a fagocitose de microorganismos opsonizados (53).
Estes microorganismos são eliminados pela ação de espécies reativas de oxigênio (ERO) e
nitrogênio (ERN), e enzimas citotóxicas armazenadas nos grânulos citoplasmáticos dos
neutrófilos (54). A produção de ERO depende da atividade da enzima nicotinamida adenina
dinucleotídeo fosfato (NADPH) oxidase. A atividade de NADPH oxidase gera peróxido de
hidrogênio e outras EROs e, em conjunto com a enzima mieloperoxidase, transforma íons
cloreto em ácido hipocloroso, um potente composto antimicrobiano (53).
Embora a participação de outros mecanismos microbicidas seja reconhecida, como
peptídeos antimicrobianos (defensinas), proteases e ERN, a produção de ERO e ácido
hipocloroso é considerada o mais importante mecanismo antimicrobiano de neutrófilos (51).
Recentemente, um novo mecanismo antimicrobiano de neutrófilos foi descrito. São as redes
extracelulares de neutrófilos (NET), estruturas extracelulares composta por DNA associado às
histonas e às proteínas de todos os tipos de grânulos neutrofílicos que auxilia no
aprisionamento físico e morte de bactérias (55).
1.2.7. Tratamento na sepse
De acordo com as Diretrizes Internacionais para Gestão da Sepse grave e choque
séptico de 2012, o objetivo principal do tratamento do paciente séptico é a manutenção de um
suporte cardiorrespiratório e metabólico, que permita manter o paciente vivo até a sua
recuperação integral e paralelamente combater o agente infeccioso. Desta forma, as principais
terapias aplicadas para o tratamento da sepse e choque séptico incluem: a) controle do agente
infeccioso através da antibióticoterapia, b) reversão do choque, com reposição volêmica e
aminas vasoativas, suporte ventilatório e nutrição precoce, c) medidas adicionais como terapia
com proteína C ativada, corticóides e o controle da glicemia e, d) avaliação hemodinâmica da
perfusão tecidual (56).
Para um correto diagnóstico do microrganismo causador, é recomendada a obtenção
das culturas bacterianas antes do início da antibioticoterapia, desde que a cultura não cause
um atraso significativo no início da administração do antibiótico. A antibioticoterapia
combinada é a mais indicada no caso de pacientes com alto risco, ou seja, aqueles que
7
apresentam sepse grave e choque séptico, pois normalmente terá que ser iniciada antes da
conclusão do diagnóstico preciso, cobrindo todos os possíveis patógenos (56). A falha para
iniciar a antibioticoterapia apropriada está relacionada com o aumento de morbidade e
mortalidade. Atualmente, existem outras abordagens terapêuticas aplicadas à sepse, dentre as
quais pode-se destacar o uso de hemoderivados (manutenção da concentração de
hemoglobina, a utilização de hemodiálise) e ainda, o tratamento com corticosteroides, antiinflamatórios que se ligam a receptores nucleares, regulando atranscrição de genes
relacionados à inflamação (56-58).
1.2.8. Receptores Ativados por Proliferadores de Peroxissomos
Os receptores ativados por proliferadores de peroxissoma (PPAR) são fatores de
transcrição da família de receptores nucleares, caracterizados por seu padrão de distribuição
nos tecidos e por sua função metabólica. Estruturalmente podem ser incluídos como membros
da subfamília de receptores que incluem os receptores para os hormônios esteróides, para a
vitamina D3 (VDR) e para o ácido 9-cis retinóico (RXR) (59).
Já foram descritos 3 isotipos de PPAR em mamíferos: o PPARα, PPARβ/δ e o PPARγ
(58). O PPARα é encontrado no fígado, músculo, coração, endotélio e rins. Tem como
principais ligantes endógenos os ácido graxos livres e exógenos os fibratos, fármaco utilizado
para tratamento no controle da hiperlipidemia. Os receptores PPARα são envolvidos na
oxidação de ácidos graxos livres, na transcrição de fatores com atividade anti-inflamatória e
no metabolismo de lipoproteínas (60). O PPARβ/δ é expresso em fígado, intestino, músculo e
tecido adiposo e, está envolvido na regulação do metabolismo de colesterol (61). O PPARγ é
expresso principalmente no tecido adiposo, desempenhando um papel fundamental na
diferenciação dos adipócitos e servindo também como um importante regulador da transcrição
de genes envolvidos no metabolismo da glicose e lipídeos (61), mas também é expresso pelo
endotélio vascular, plaquetas, monócitos e por macrófagos, sugerindo um significativo papel
para esta molécula na regulação de respostas imunes (62).
Após a ativação por seus agonistas, o PPARγ se liga ao RXR, formando um complexo
heterodímero PPAR-RXR que se liga a sequências exclusivas do DNA localizadas na região
reguladora ou promotora de genes-alvo, conhecidas como elementos responsivos aos PPAR
(PPRE). Este mecanismo mediado pela ligação do receptor à sequência exclusiva de DNA é
conhecido como transativação gênica e modula a transcrição de genes envolvidos no controle
8
do metabolismo de lipídeos, na homeostasia da glicose, na diferenciação celular, proliferação
e apoptose, bem como na resposta inflamatória (63).
Além disso, estudos indicam que agonistas dos PPAR são agentes que possuem
propriedades anti-inflamatórias, uma vez que inibem a expressão de citocinas próinflamatórias, quimocinas e moléculas de adesão, entre outros, por meio de outro mecanismo
biológico denominado de transrepressão (64, 65). A transrepressão também denominada
regulação negativa é o mecanismo pelo qual agonistas dos PPAR ativam receptores celulares
e inibem a liberação de substâncias como, por exemplo, mediadores pró-inflamatórios.
Existem cinco mecanismos pelos quais o PPARγ atua para inibir a transcrição de genes próinflamatórios. Dentre eles destacam-se: 1) o heterodímero PPAR-RXR liga-se a outros fatores
de transcrição tais como o fator nuclear-kappa B (NF-κB), o fator ativador da proteína 1 (AP1), o fator estimulador e ativador de transcrição-1 (STAT-1) e o fator nuclear de ativação de
linfócitos T (NFAT), desta forma, impedindo a ligação destes FT a suas regiões responsivas
no DNA, reduzindo a expressão de mediadores pró inflamatórios (62, 66), 2) o heterodímero
PPARγ/RXR ativado liga-se a proteínas co-ativadoras como, por exemplo, a proteína ligante
em resposta a ativação do AMPc (CBP) e a proteína co-ativadora 1 do receptor de esteróide
(SCR1), que são essenciais para a ativação de AP-1 e NF-κB, inibindo a expressão de genes
pró inflamatórios mediada pela ativação destes FT (67), 3) Em resposta a sumoilação, o
PPARγ pode transreprimir os genes pró inflamatórios dependentes de NF-kB pela inibição da
degradação de um complexo proteosssomal formado pelo receptor nuclear co-repressor (NcoR) + histona deacetilase 3 (HDAC3) + proteína transduscina do tipo β1 (TLB1/TLBR1),
todos responsável pela ativação do NF-kB no sítio promotor (68), 4) o heterodímero
PPARγ/RXR é capaz de inibir a fosforilação de algumas proteínas kinases (MAPK)
promovendo a inibição da cascata de ativação destas e consequente inibição da transcrição de
mediadores promovida pela ativação dos PPARγ (62, 69), e 5) O PPARγ pode inibir a
translocação da proteína quinase Cα (PKCα) atenuando a ativação da NADPH oxidase e
consequentemente a produção de ROS pelos macrófagos (fig. 1.2.8) (70).
O PPARγ possui ligantes endógenos e exógenos, o principal ligante endógeno é o
derivado da prostaglandina D2 [15-Deoxi-Delta-12,14-prostaglandina J2 (15D-PGJ2)] (71).
Dentre os ligantes exógenos (sintéticos), destacam-se as tiazolidinedionas (glitazonas) que são
fármacos antidiabéticos utilizados na clínica no controle do diabetes tipo II e o antagonista
sintético GW9662 (72).
9
Figura 1.2.8. Mecanismos da inibição da expressão de genes pró-inflamatórios
dependentes de PPARγ. Em presença do agonista, o PPARγ (A) se associa diretamente com
fatores de transcrição pró-inflamatórios (FT), tais como o NF-kB, STAT, e AP-1 e inibe a
expressão de genes pró-inflamatórios; (B) sequestra fatores de transcrição co-ativadores, tais
como o CBP (proteína de ligaçãoCREB) e SRC-1 (Receptor Co-activator de esteroides 1)
inibindo a sua ligação com FT pró-inflamatórios, diminuindo a expressão de genes próinflamatórios; (C) em reposta a sumoilação (Su), o PPARγ inibe a degradação do complexo
(NcoR)+(HDAC3)+(TLB1/TLBR1), o qual por sua vez, permitiria a expressão dos genes próinflamatórios regulados pelo o NF-kB. (D) além desses 3 mecanismos de transrepressão, o
PPARγ pode inibir MAPK que são necessárias para a indução da expressão de genes próinflamatórios. (E) A expressão do PPARγ inibe a translocação da PKCα, consequentemente
inibindo a ativação da NADPH oxidase. Em C e E, a formação do heterodímero com o RXR
não é necessária. Figura adptada de Schmidt et al., 2010 (59).
1.2.9 Agonistas dos PPAR
As tiazolidinedionas ou glitazonas incluem a pioglitazona, rosiglitazona, troglitazona e
ciglitazona. Estas apresentam como característica química comum um anel diona, que confere
as mesmas a atividade anti-hiperglicêmica e o restante da molécula difere entre os fármacos
do grupo e é responsável pela especificidade farmacodinâmica e farmacocinética (Fig. 1.2.9
(72). Estas drogas têm sido descritas como agonistas de PPARγ e são sensibilizadoras da ação
da insulina. Elas representam 21% das prescrições médicas para pacientes com Diabetes
Mellitus tipo 2 nos Estados Unidos e 5% na Europa (73). Ambas glitazonas ligam-se em torno
de 99% às proteínas plasmáticas. A rosiglitazona apresenta um tempo de meia-vida (t½)
plasmática de 100-150 h, incluindo seus metabólitos, enquanto a pioglitazona apresenta t½ de
16-24 h, incluindo seus metabólitos (74).
10
Figura 1.2.9. Estrutura química da rosiglitazona e pioglitazona. Figura adaptada de
Gomes, 2006 (75).
1.2.10. Papel do PPARγ no pulmão
O PPARγ é expresso em macrófagos e monócitos (76), eosinófilos (77, 78), células
dendríticas (79, 80), linfócitos B e T (81), mastócitos (82), linhagens de células epiteliais das
vias aéreas (Beas e A549) (83-86), fibroblastos primários (Burgess e cols., 2005) e na
musculatura lisa das vias aéreas (87). No pulmão, o PPARγ esta presente principalmente no
epitélio das vias aéreas e em diferentes células inflamatórias, residentes e estruturais, das vias
aéreas (88).
Dados da literatura relatam um significativo papel para o PPARγ na modulação da
inflamação pulmonar, uma vez que diversos tipos celulares foram evidenciados expressando
esta molécula (89). Em células epiteliais das vias respiratórias o tratamento com agonistas do
PPARγ inibiu a produção de citocinas induzidas por fatores quimiotáticos de neutrófilos e
monócitos/macrófagos, incluindo a IL-8 e MCP-1, reduzindo significativamente a expressão
da enzima iNOS (83, 86). Nas células do musculo liso das vias aéreas, o tratamento com
agonistas de PPARγ também reduziu a produção de citocinas e fator de estimulação de
colônias granulócitos de macrófagos (G-CSF e GM-CSF), que são importantes ativadores de
fatores de sobrevivência para os eosinófilos e neutrófilos, respectivamente. No mesmo estudo,
os agonistas PPARγ se mostraram mais potentes do que o glicocorticóide dexametasona na
inibição do crescimento e liberação de G-CSF pelas células da musculatura lisa (fig. 1.2.10)
(87).
11
Figura 1.2.10. Expressão e efeitos do PPARγ em células estruturais e células do sistema
imunológico nos pulmões. Figura adaptada de Becker et al., 2006 (88).
No pulmão, os macrófagos alveolares participam nas defesas do hospedeiro através da
produção inicial de quimiocinas tais como IL-8 e MCP-1, e de fatores de crescimento, tais
como GM-CSF, que aumentam a sobrevivência dos monócitos. Além disso, os macrófagos
alveolares estão envolvidos na regulação da inflamação e na resposta imune adaptativa. Desta
forma PPARγ tem efeito anti-inflamatório em monócitos/macrófagos (89). Esta atividade
benéfica também foi encontrada para PPARγ em macrófagos alveolares (90). O tratamento
com agonistas do PPARγ foi capaz de reduzir significativamente a produção de citocinas em
macrófagos alveolares humano e de rato, quando estimulados com TNF-α e IL-12 (90). Em
macrófagos alveolares de rato, os agonistas do PPARγ também suprimiram o burst oxidativo
induzido por PMA e a expressão iNOS induzida por LPS em co-estimulação com IFN-γ (90).
Estes estudos sugerem uma complexa interação entre o início e a resolução do processo
inflamatório conjuntamente às alterações na expressão do PPARγ. Dado que este receptor
pode ser regulado, tanto por mediadores inflamatórios quanto pelos níveis endógenos de seus
ligantes. Entretanto, ainda não foi determinado se os efeitos dos ligantes do PPARγocorrem
via receptor ou não (88).
12
Embora existam trabalhos que descrevam algumas propriedades anti-inflamatórias dos
agonistas do PPARγ em modelos experimentais, ainda não está bem esclarecido o mecanismo
de ação molecular pelo qual o PPARγ esteja envolvido no controle da infecção e aumento da
sobrevida de animais sépticos. Desta forma o presente estudo visa elucidar os mecanismos
moleculares pelos quais o PPARγ atua para modular a inflamação durante a sepse em um
modelo de infecção pulmonar causada pela bactéria K. pneumoniae, uma importante
causadora de infecções relacionadas à assistência à saúde, tanto no meio ambiente
comunitário quanto hospitalar (91). Para este fim, foram utilizados modelos animais, onde
avaliamos as taxas de letalidade, as contagens bacterianas, índices inflamatórios em animais
desafiados com a bactéria K. pneumoniae, após o tratamento com ligantes do PPARγ. E
propor novas abordagens terapêuticas adjuvantes com os tratamentos da sepse já praticados.
13
2.
Objetivos
2.1. Objetivo geral
O objetivo do presente estudo é avaliar o papel do receptor PPARγ em modelos de
pneumosepse induzida pela bactéria K. pneumoniae .
2.2.
Objetivos específicos
2.2.1. Investigar os efeitos da ativação do PPARγ na sobrevida e no escore clínico de animais
após o desafio com a K. pneumoniae;
2.2.2. Investigar o papel da ativação do PPARγ na migração de células inflamatórias para os
pulmões de animais após o desafio com a K. pneumoniae;
2.2.3. Estudar o envolvimento da rosiglitazona na eliminação bacteriana, na produção
citocinas em animais desafiados com a K. pneumoniae;
14
3.
Materiais e métodos
3.1. Animais
Foram utilizados camundongos da linhagem Swiss webster machos pesando entre 20 e
30 gramas fornecidos pelo Centro de Criação de Animais de Laboratório (CECAL) da
FIOCRUZ. Os animais foram mantidos em isoladores ventilados (Gabinete Biotério mod.
EB-273, Insight, Brasil) no biotério do Pavilhão Ozório de Almeida até o momento do
experimento, com livre acesso a água e ração, sendo submetidos a um ciclo de 12 h de
claro/escuro. Os animais receberam uma dose de vermífugo (Drontal Puppy - Bayerl) por via
oral (gavagem) e foram utilizados uma semana após o tratamento. Os protocolos utilizados
nesta tese foram aprovados pelo comitê de Ética no Uso de animais da Fundação Oswaldo
Cruz (CEUA nº 0260/05-FIOCRUZ).
3.2.
Inoculação com K. pneumoniae
A bactéria utilizada foi a Klebsiella pneumoniae – ATCC 700603 (American Type
Culture Collection, Rockville, MD, EUA). As bactérias patogênicas foram obtidas a partir de
10 passagens em camundongos C57/BL6 (injeção intratraqueal e recolha do baço 24 h depois)
e congeladas em freezer - 80 ° C em caldo de infusão cérebro coração (BHI) contendo glicerol
a 10% até à sua utilização. Após a sequência de passagens, as bactérias foram congeladas na
fase log de crescimento. Antes de cada ensaio, alíquotas foram descongeladas, lavadas duas
vezes em solução salina estéril, suspensas em caldo BHI e incubadas por 18 h a 37 ° C antes
da inoculação. Posteriormente centrifugadas a 14000 rpm por 5 min para a separação do meio
de cultura, o pellet resultante foi ressuspenso em solução salina estéril. A concentração da
suspensão bacteriana foi determinada através de um espectrofotômetro (SpectraMax 190),
medindo a quantidade de absorbância a 650-660 nm e comparada com uma curva padrão
predeterminada. As bactérias foram em seguida diluídas em salina estéril para a concentração
desejada para a inoculação. Os camundongos foram anestesiados através da inalação com
isoflurano. A traqueia foi exposta e 50 µL de inoculo bacteriano ou de solução salina foram
administradas através de uma agulha estéril de calibre 26G. A incisão na pele foi fechada com
fio de sutura. Os animais foram acompanhados até que morreram ou foram sacrificados 24 h
após a infecção.
15
3.3.
Tratamento com ligantes de PPARγ.
Os animais foram tratados com o agonista de PPARγ, rosiglitazona (0,5mg/kg,i.p.)
e/ou com antagonista GW9662 (0,5 mg/kg, i.p.) 5 horas após a instilação. Em experimento de
análise de sobrevida a rosiglitazona também foi administrada 5 h após a cirurgia. Os animais
receberam injeção i.p. de veículo DMSO como controle do tratamento. Todas as análises
foram realizadas 24 h após o procedimento cirúrgico.
3.4.
Lavado broncoalveolar
A lavagem broncoalveolar (BAL) foi realizada para obter os leucócitos nos espaços
alveolares. A traqueia foi exposta e um cateter de polietileno de 1,7 mm de diâmetro exterior,
inserida. Foi instilado para os pulmões através da traqueia 1 ml de PBS estéril, e o fluido de
lavagem broncoalveolar foi aspirado.
3.5.
Contagem total e diferencial das células do lavado broncoalveolar
A contagem total de células do lavado broncoalveolar foi efetuada em câmeras de
Neubauer em microscópio óptico (Olympus, aumento de 10x), após a diluição de 40X das
mesmas em solução de Turk. A análise diferencial de leucócitos foi realizada sob objetiva de
imersão em citoesfregaços preparados em citocentrífuga (Cytospin-Shandon-450 rpm por 5
minutos) e corados com Panótico. Foram contadas 100 células consecutivas em microscópio
de luz, com objetiva (aumento de 100x) de imersão em óleo. A quantidade de cada tipo
celular foi calculada a partir da porcentagem encontrada com relação ao número total de
células. Para obtenção dos sobrenadantes, os lavados broncoalveolares foram centrifugados a
900 g durante 10 minutos e armazenados a -80°C para análises futuras.
3.6.
Análise do grau da severidade da sepse - escore clínico.
Os animais foram submetidos à instilação intratraqueal de K. pneumoniae e tratados de
acordo com item 3.3. Após 24 horas, os animais tiveram o escore clínico avaliado. Para fazer
o escore, foram analisados os seguintes parâmetros: piloereção, força ao agarrar um objeto,
taxa de respiração (antes e depois do esforço), alteração nas fezes, lacrimação/alteração nas
pálpebras, alteração de temperatura corporal, alerta (escape ao toque), exploração do ambiente
e atividade locomotora. Para cada parâmetro apresentado, o animal recebia um ponto e na
ausência do parâmetro ele não pontuava. Em seguida, os pontos eram somados para a
classificação clínica do animal, sendo que o escore 0 significa que o animal não apresentou
16
nenhuma alteração clínica, e o escore menor ou igual a 3 significa uma sepse leve, entre 4 e 7
significa uma sepse moderada e entre 8 e 11 significa uma sepse grave (92).
3.7.
Histologia e escore patológico
Os animais foram anestesiados através de inalação de vapor de isoflurano e
posteriormente perfundidos com solução salina (NaCl 0,9%, 4ºC) por 3 minutos. A traqueia
foi localizada e os pulmões foram preenchidos com 1 mL de solução de formalina 4%,
retirados e deixados nessa solução por 24 h para fixação, quando então a solução foi
substituída por etanol 70%. O lóbulo esquerdo do pulmão foi então desidratado e incluído na
parafina e foram realizados cortes transversais de 5 μm com o auxílio de um micrótomo. Os
cortes foram corados com hematoxilina-eosina (HE) e analisados em microscópio de luz.
As pontuações da lesão pulmonar levam em consideração a hemorragia intra-alveolar, a
infiltração de leucócitos e rompimento do tecido. Foram realizadas análises qualitativas e
comparativas entre os grupos, com diferentes graus de gravidade.
3.8.
Avaliação da carga bacteriana
Os animais foram submetidos à instilação intratraqueal e 5 horas após tratados com
rosiglitazona e/ou GW 9662 ou veículo. No tempo 24 h, foi realizado o BAL em fluxo
laminar. Em seguida foram coletadas alíquotas do BAL e feitas diluições de 1:100 e 1:1000
em PBS e 20 µL dos lavados foram plaqueados em placa de Ágar MacConkey (Merck) e
incubadas na estufa a 37ºC por 24 h para posterior contagem de unidades formadoras de
colônias (UFC). Os resultados foram expressos em número de unidades formadoras de
colônia por mL.
3.9.
Dosagem de citocinas
Os sobrenadantes de lavado broncoalveolar foram estocados a -80°C para dosagens de
citocinas tais como TNF-α e IL-6 pelo método ELISA (ensaio imunoenzimático). Foram
utilizados anticorpos monoclonais específicos (Duo set kit – R&D Systems). Foi utilizado o
protocolo da Pharmingen, no qual placas de 96 poços (Nunc) foram revestidas com anticorpos
de captura. As placas foram cobertas com papel alumínio e incubadas overnight a 4°C. No dia
seguinte, após 3 lavagens com PBS/Tween, os sítios inespecíficos foram bloqueados pela
adição de PBS/BSA 1%. Após 1 h as placas foram lavadas por 4 vezes com PBS/Tween
17
novamente e, em seguida, foram adicionadas proteínas recombinantes em diferentes
concentrações (curvas padrão), bem como as amostras de lavado peritoneal. Novamente as
placas foram incubadas overnight a 4°C. No último dia após a rinsagem, o anticorpo de
detecção foi adicionado também diluído em PBS/BSA 1% +Tween 20 a 0,05 %. Após 1 h de
incubação a temperatura ambiente, adicionou-se avidina-peroxidase (diluição 1:200, R&D).
Após 30 minutos, as placas foram lavadas com solução de lavagem e em seguida, adicionouse a solução de TMB (3,3′,5,5′-Tetrametilbenzidina, Sigma). A reação foi paralisada com a
adição solução de ácido sulfúrico (Próquimios) 2 N (50 μL/poço) e a leitura foi feita no
comprimento de onda de 405 nm em espectrofotômetro (Spectra Max, Molecular Devices®).
3.10. Análise Estatística
Os resultados foram representados como média e erro padrão da média (EPM) e
avaliados estatisticamente através da análise de variância (ANOVA) seguida pelo teste t de
Student-Neuman-Keuls (SNK) no software GraphPadPrisma 5.0. Os valores de p<0,05 foram
considerados significativos. As curvas de sobrevida foram expressas como percentagem de
camundongos vivos, observados num período de 0-168 horas. Para a curva de sobrevida foi
utilizado teste estatístico Mantel-Cox-logrank, no qual P<0,05 foram considerados
significativos.
18
4.
Resultados:
4.1. Análise da sobrevida de animais infectados com K. pneumoniae.
Nós investigamos a relação entre unidades formadoras de colônia (UFC) de K.
pneumoniae e taxa de mortalidade durante 7 dias. A taxa de sobrevivência dos animais foi de
100% (salina), 90% (1 x 107 e 1 x 108), 60% (2 x 108), 40% (5 x 108) e nenhum animal
morreu antes de 48 h. Com base no resultado dessa curva, para os demais experimentos o
número de 5 x 108 UFC por animal foi escolhido por apresentar uma taxa de sobrevida em
torno de 40%, e os demais parâmetros foram avaliados 24 horas após a inoculação da bactéria.
Sobrevida (%)
100
Salina
80
K. pneumoniae 1 x 107
60
K. pneumoniae 1 x 108
K. pneumoniae 2 x 108
40
K. pneumoniae 5 x 108
20
0
0
24
48
72
96
120
144
168
horas
Figura 4.1. Análise da taxa de sobrevida de animais inoculados com diferentes
concentrações de K. pneumoniae.
Camundongos foram submetidos à instilação
intratraqueal com K. pneumoniae (1 x 107, 1, 2 e 5 x 108 UFC). Os animais controle
receberam a inoculação do mesmo volume de solução salina estéril. A curva de sobrevida foi
analisada por um período de 7 dias. Os resultados foram expressos como porcentagem de
sobrevivência e são representativos de dois experimentos diferentes. Foram utilizados 10
animais por grupo.
19
4.2.
Efeito do pós-tratamento com rosiglitazona na sobrevida após a injeção
intratraqueal de bactérias.
Para analisarmos se o tratamento com rosiglitazona seria capaz de melhorar a
sobrevida dos animais neste modelo de pneumosepse, os animais foram tratados com
rosiglitazona (0,5 mg/kg) por via i.p. 5 h após a injeção de bactérias. A sobrevida foi avaliada
em um período de 7 dias.
Os camundongos que receberam a bactéria K. pneumoniae e tratados com salina
tiveram uma taxa de sobrevida de 30%. Porém, o pós-tratamento com rosiglitazona em
animais sépticos foi capaz de melhorar a sobrevida dos animais de forma relevante, com taxa
de sobrevida de 70%. Os animais que receberam solução salina estéril intratraquealmente,
tratados ou não com rosiglitazona, foram usados como controle.
Sobrevida (%)
100
Salina + DMSO
80
*
60
Salina + Rosi
K. pneumoniae + DMSO
K. pneumoniae + Rosi
40
20
0
0
24
48
72
96
120
144
168
horas
Figura 4.2. Rosiglitazona aumenta a sobrevida dos animais infectados com K.
pneumoniae. Camundongos submetidos à instilação intratraqueal com 5 x 108 UFC de K.
pneumoniae foram tratados com rosiglitazona (Rosi) ou veículo (DMSO) 5 horas após o
estímulo. A taxa de sobrevida foi avaliada por 7 dias. N= 10 animais por grupo. (*) representa
significância estatística quando comparado ao grupo controle (K. pneumoniae + DMSO).
20
4.3.
Efeito da rosiglitazona no escore clínico de gravidade da sepse em camundongos
inoculados com de K. pneumoniae.
Para avaliar a gravidade da sepse nos animais, fizemos um escore ou pontuação dos
sinais clínicos 24 horas após o procedimento cirúrgico. Quanto maior o escore maior a
gravidade da sepse (92). Os animais controle, tratados ou não com rosiglitazona, tiveram um
escore clínico próximo de zero, mostrando que a manipulação cirúrgica dos animais, o
anestésico e o tratamento com a rosiglitazona por si só, não afetaram o quadro clínico dos
animais. No entanto, 24 horas após injeção de bactérias, os animais que receberam apenas
solução salina como tratamento já apresentavam um escore que indicava sepse moderada.
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
os
i
on
ia
e
K
K
.p
.p
ne
u
ne
u
m
m
on
ia
e
Sa
lin
a
+
+
D
M
R
SO
os
i
R
+
D
+
a
Sa
lin
#
*
M
SO
Escore 24 h
Todavia, o tratamento com rosiglitazona foi capaz de reduzir significativamente esse escore.
Figura 4.3. Efeito da rosiglitazona sobre o escore clínico de gravidade da sepse.
Camundongos receberam K. pneumoniae intratraquealmente e foram tratados com
rosiglitazona ou veículo nos animais controles. Vinte e quatro horas após foi realizada a
análise do escore clínico. Dados representados como média (n= 5/grupo Salina + DMSO e
Salina + Rosi; 9/grupo K. pneumoniae + DMSO; 8/grupo K. pneumoniae + Rosi). (*)
representa diferença estatística em relação aos grupos Salina + DMSO e Salina + Rosi. (#)
representa a significância em relação ao grupo K. pneumoniae + DMSO (p<0,05).
21
4.4.
Análise do tecido pulmonar
Para avaliar o impacto da infecção no local, foi realizada a análise histológica do
tecido pulmonar. Camundongos foram inoculados intratraquealmente com 5 x 108 UFC de K.
pneumoniae e tratados com rosiglitazona (0,5 mg/kg, i.p.) ou salina nos animais controles, 5
horas após o procedimento cirúrgico. Vinte e quatro horas após os pulmões foram coletados.
Podemos observar, na figura 4.4A, as imagens representativas de secções de tecido pulmonar
de camundongos. O tratamento com rosiglitazona levou a redução no infiltrado inflamatório,
quando comparadas ao grupo de animais que receberam K. pneumoniae e tratados com salina.
Foi realizada a quantificação do dano microscópico pulmonar através da atribuição de
escores, a qual está ilustrada Figura 4.4B.
A)
B)
Escore de extensão da lesão pulmonar com base na análise histológica
Salina +
Salina + Rosi K. pneumoniae +
DMSO
Lesão pulmonar
-
-
K. pneumoniae +
DMSO
Rosi
+++++
+++
As pontuações da lesão pulmonar levam em consideração a hemorragia intra-alveolar, a infiltração de leucócitos
e rompimento do tecido. O símbolo - representa as áreas sem infiltrado inflamatório e os símbolos + à + + + + +
representam o grau da lesão pulmonar.
Figura 4.4. Histologia e escore patológico do tecido pulmonar. Camundongos receberam
K. pneumoniae intratraquealmente e foram tratados com rosiglitazona ou veículo nos animais
controles, 5 horas após a inoculação. 24 h após a injeção de bactérias os pulmões foram
coletados. Cortes dos pulmões foram obtidos, corados com HE e examinados ao microscópio
óptico (A) Imagens representativas do escore da lesão pulmonar (B).
22
4.5.
Análise da celularidade do lavado broncoalveolar de animais inoculados com K.
pneumoniae e tratados com rosiglitazona
Os neutrófilos são células que possuem um papel crucial na defesa contra infecções
bacterianas, incluindo a sepse. Estas células estão envolvidas na eliminação de
microorganismos por causa do seu amplo estoque de enzimas proteolíticas e sua rápida
produção de espécies reativas de oxigênio (93).
Investigamos então, o papel da rosiglitazona na resposta inflamatória induzida pela
infecção microbiana causada pela K. pneumoniae e analisamos o perfil leucocitário no lavado
broncoalveolar dos animais. Para tal, camundongos foram inoculados com 5 x 108 UFC de K.
pneumoniae e tratados com rosiglitazona (0,5 mg/kg) por via i.p. 5 horas após a instilação,
enquanto o grupo controle recebeu apenas solução salina estéril. Após 24 h, foram obtidas
amostras do BAL para contagem de leucócitos totais e determinação da contagem diferencial.
As análises da celularidade do BAL, como mostrado na figura 4.5A, demonstraram um
aumento significativo no número de leucócitos totais nos animais desafiados com a K.
pneumoniae tratados com veículo quando comparados com o grupo controle. Este aumento
correspondeu ao aumento do número de neutrófilos, não havendo diferença significativa nas
células mononucleares entre os grupos. O tratamento com rosiglitazona foi eficaz em reduzir
o número de leucócitos totais, assim como o número de neutrófilos no BAL quando
comparados com o grupo K. pneumoniae + salina.
23
A)
Totais
N° cel (x10-6)
8
*
Salina
Salina + Rosi
K. pneumoniae
K. pneumoniae + Rosi
6
4
#
2
0
B)
Mononucleares
2.5
Salina
Sal + Rosi
K. pneumoniae
K. pneumoniae + Rosi
N° cel (x10-6)
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
C)
Neutrófilos
8
Salina
Salina + Rosi
K. pneumoniae
K. pneumoniae + Rosi
N° cel (x10-6)
*
6
4
#
2
0
Figura 4.5. Análise da celularidade de amostras do BAL de camundongos tratados com
rosiglitazona. Camundongos receberam K. pneumoniae intratraquealmente e foram tratados
com rosiglitazona ou veículo nos animais controles, 5 horas após a inoculação. Vinte e quatro
horas após a injeção de bactérias, amostras do BAL foram recolhidas para a análise da
celularidade. Os dados representam a média ± E.P.M. (n=7/grupo). (*) representa diferença
estatística em relação aos grupos Salina e Salina + Rosi. (#) representa a significância em
relação ao grupo K. pneumoniae com relação ao grupo K. pneumoniae + Rosi (p<0,05).
24
4.6.
Efeito da rosiglitazona sobre a produção de citocinas do lavado broncoalveolar.
Estudos prévios têm demonstrado um relevante papel de quimiocinas e citocinas pró e
anti-inflamatórias na patogênese da sepse. Diversas células da resposta imune inata como
macrófagos e neutrófilos ao reconhecerem produtos bacterianos através dos seus receptores de
superfície, irão produzir vários mediadores inflamatórios, como as citocinas e quimiocinas.
Estes mediadores atuam promovendo ativação celular e maior recrutamento de leucócitos para
o tecido (49). Desta forma, resolvemos investigar se o tratamento com rosiglitazona poderia
alterar o padrão de produção de algumas citocinas importantes na sepse. Os animais foram
instilados com a K. pneumoniae por via intratraqueal e tratados com rosiglitazona ou veículo
(grupo controle) 5 horas após o procedimento cirúrgico. No tempo 24 h, o BAL coletado, foi
centrifugado e o sobrenadante livre de células foi obtido, e as citocinas como IL-6 e TNF-α
foram dosadas através do método ELISA. Os animais que foram estimulados com a bactéria e
receberam apenas o veículo produziram mais TNF-α e IL-6. O tratamento com rosiglitazona
foi capaz de reduzir a produção de TNF-α e de IL-6 (figura 4.6 A e B, respectivamente).
25
A)
2.5
IL-6 (ng/ml)
2.0
1.5
1.0
0.5
os
i
R
SO
M
+
D
on
ia
e
m
on
ia
e
+
+
K
K
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.p
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u
ne
u
m
Sa
lin
a
Sa
lin
a
+
D
R
M
SO
os
i
0.0
B)
1.5
TNF- (ng/ml)
*
1.0
#
0.5
SO
+
on
ia
e
ne
u
K
K
.p
.p
ne
u
m
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lin
a
+
+
D
R
M
os
i
R
M
SO
D
+
a
Sa
lin
os
i
0.0
Figura 4.6. Efeito da rosiglitazona na produção de citocinas. Camundongos receberam K.
pneumoniae intratraquealmente e foram tratados com rosiglitazona ou veículo nos animais
controles, 5 horas após a inoculação. Vinte e quatro horas após a indução da sepse, alíquotas
do BAL foram obtidas e centrifugadas. No sobrenadante do lavado foram detectadas a
produção de IL-6 (A), TNF-α (B) Foram utilizados 7 animais por grupo. Os resultados
representam a média ± E.P.M (n=7/por grupo). (*) representa diferença estatística em relação
aos grupos Salina + DMSO e Salina + Rosi. (#) representa a significância em relação ao
grupo K. pneumoniae + DMSO com relação ao grupo K. pneumoniae + Rosi (p<0,05).
26
4.7.
Quantificação de UFC no lavado broncoalveolar de animais submetidos à
instilação intratraqueal com K. pneumoniae.
Neste experimento, investigamos o efeito do tratamento com rosiglitazona na carga
bacteriana presente no pulmão de animais instilados com K. pneumoniae. Para isso,
camundongos Swiss foram inoculados intratraquealmente com 5 x 108
UFC de K.
pneumoniae e tratados com rosiglitazona (0,5 mg/kg, i.p.) ou salina nos animais controles, 5
horas após o procedimento cirúrgico. Vinte e quatro horas após, tiveram amostras de BAL
recolhidas para determinação das UFC. Como podemos observar na figura 4.7, o tratamento
com rosiglitazona levou a redução na carga bacteriana presente no BAL, quando comparadas
ao grupo de animais que receberam K. pneumoniae e tratados com salina.
A)
*
#
BAL
400
200
K
.p
ne
R
os
um
on
ia
e+
D
M
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ia
um
on
.p
ne
K
27
i
SO
i
R
os
+
a
lin
Sa
lin
a
+
D
M
SO
0
Sa
UFC x 10-6
600
B)
Figura 4.7. Efeito do agonista de PPARγ rosiglitazona sobre a carga bacteriana presente
no BAL. Camundongos receberam K. pneumoniae intratraquealmente e foram tratados com
rosiglitazona (Rosi) ou veículo nos animais controles, 5 horas após a inoculação. Vinte e
quatro horas após a indução da sepse, alíquotas do BAL foram plaqueadas para análise de
UFC. (A) Contagem manual de UFC e (B) Foto representativa do gráfico exposto, de pelo
menos 6 animais por grupo. (*) p< 0,05 em relação ao grupo Salina; (#) p< 0,05 em relação
ao grupo K. pneumoniae + DMSO.
28
4.8.
Análise do papel do PPARγ nos parâmetros inflamatórios de animais inoculados
com K. pneumoniae.
A fim de avaliar se os efeitos antiinflamatórios da rosiglitazona demonstrados acima
são através da ativação do PPARγ, os animais foram desafiados com a bactéria K.
pneumoniae e tratados ou não com o agonista, a rosiglitazona, e/ou com o antagonista,
GW9662, 5 horas após o desafio. 24 horas após o procedimento cirúrgico foi avaliada a
gravidade da sepse, através do escore clínico (fig. 4.8 A), a migração de neutrófilos para o
foco infeccioso (fig. 4.8 B) e a produção de citocinas pró-inflamatórias (fig. 4.8 C) dos
animais com sepse. O tratamento com a rosiglitazona foi capaz de melhorar o escore clínico,
reduzir a migração de neutrófilos e também reduzir a produção de citocinas pró-inflamatórias
como o TNF-α e a IL-6. O tratamento com o antagonista do PPARγ, GW9662, quando
administrado em conjunto, foi capaz de reverter os efeitos antiinflamatórios rosiglitazona.
29
A)
*
B)
+
6
-6
Neutrófilos (x10
)
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
*
4
#
2
W
ia
G
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K
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W
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G
W
K
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lin
a
D
+
a
Sa
lin
+
0
M
SO
escore 24 h
#
D)
2.5
*
TNF- (ng/ml)
1.5
1.0
0.5
0.5
M
SO
a
+
D
+
a
Sa
lin
Sa
lin
R
Sa Sa
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G
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0.0
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G
G
W
W
+
R
os
i
0.0
*
1.0
Sa
lin
IL-6 (ng/ml)
2.0
1.5
Figura 4.8. Análise do papel do PPARγ na inflamação induzida por K. pneumoniae.
Camundongos receberam 5 x 108 UFC de K. pneumoniae intratraquealmente e foram tratados
com rosiglitazona (Rosi) e/ou GW9662 (GW) ou veículo nos animais controles, 5 horas após
a inoculação. Os dados representam a média ± E.P.M. (pelo menos 5 animais por grupo) Vinte e
quatro horas após a indução da sepse foi feita a análise do escore clínico (A). Alíquotas do
BAL foram recolhidas para a análise da celularidade (B) e posterior dosagem de citocinas IL6 (C) e TNF-α (D). (*) representa significância do grupo K. pneumoniae + DMSO em relação
aos grupos Salina (p< 0,05). (#) representa significância do grupo K. pneumoniae + Rosi em
relação ao K. pneumoniae + DMSO (p< 0,05). (+) representa significancia do grupo K.
pneumoniae + GW + Rosi em relação ao grupo K. pneumoniae + Rosi (p< 0,05).
30
5.
Discussão
Atualmente a síndrome séptica pode ser originada da regulação deficiente da resposta
imune inata do indivíduo aos produtos microbianos. O desequilíbrio entre a produção de
mediadores pró e anti-inflamatórios é considerado pivô no desequilíbrio desta resposta. De
fato, diversos estudos pré-clínicos demonstraram que o desbalanço de mediadores impede a
manutenção da homeostasia do indivíduo e está amplamente aceito que a resposta
inflamatória sistêmica é mais fatal do que a invasão do patógeno propriamente dita (94, 95),
uma vez que há relatos de muitos pacientes onde a infecção foi controlada, mas a resposta
inflamatória perdurou levando estes pacientes a óbito “estéril”, ou seja, sem a presença do
microrganismo que desencadeou a sepse (97).
Os pulmões são os locais mais comuns de infecção na sepse, respondendo por quase
50% de todas as fontes de infecção (6). Além disso, os principais microrganismos
responsáveis pela sepse gram-negativa são da família Enterobacteriaceae (por exemplo,
Escherichia coli e Klebsiella sp.) e infecções causadas por K. pneumoniae estão entre as
principais responsáveis pela pneumonia nosocomial (18). Modelos animais vêm sendo usados
para estudar a fisiopatologia da sepse com o objetivo de reproduzir as alterações observadas
na sepse humana (96). No presente trabalho, utilizamos um modelo de sepse induzida por
pneumonia, que consiste na injeção por via intratraqueal de bactérias K. pneumoniae nos
pulmões de camundongos Swiss. Este modelo satisfaz diversos critérios essenciais para um
bom modelo de sepse: possui uma fonte local de infecção, induz septicemia e libera produtos
microbianos na periferia do sítio de injúria. Portanto, é um modelo de grande valia para a
investigação de diversos aspectos da sepse, tais como, metabolismo, antibioticoterapia,
presença de componentes microbianos, função imunológica e secreção de mediadores
inflamatórios (97).
As Tiazolidinedionas (TZD) são potentes medicamentos sensibilizadores de insulina
que atuam através da ativação do PPARγ. A pioglitazona, a troglitazona e a rosiglitazona são
TZD com potentes propriedades de sensibilização da insulina e largamente utilizadas para o
tratamento de diabetes tipo 2 (72). Além do controle da glicose, a ativação do PPARγ por
estas drogas também tem sido envolvida na modulação da aterosclerose, proliferação de
adipócitos e inflamação (98). De fato, os ligantes naturais e sintéticos de PPARγ foram
testados em modelos experimentais de sepse devido aos seus efeitos anti-inflamatórios
31
conhecidos. As evidências mostram que o tratamento com TZD e ligantes naturais para
PPARγ reduz a liberação de IL-6, IL-10, TNF-α, CCL2 e também a infiltração de neutrófilos
no pulmão e no fígado induzido na sepse polimicrobiana ou endotoxemia (99). Além disso, o
tratamento de camundongos endotoxêmicos com agonistas de PPARγ reduziu os níveis das
proteínas de alta mobilidade eletroforética do grupo B1 (HMGB1) e marcadores para
disfunção orgânica. Como consequência, a sobrevivência dos animais foi significativamente
aumentada por estes tratamentos (100).
A administração de rosiglitazona 5 h após a injeção de bactérias se mostrou bastante
eficaz na prevenção da mortalidade por sepse, melhorando a sobrevida dos animais nas
primeiras 24 h e permanecendo assim por toda a cinética de análise. O tratamento dos animais
com rosiglitazona em 5 h tem grande relevância clínica, uma vez que neste momento os
animais já se encontravam com a sepse estabelecida. Interessantemente, no presente modelo,
não foi observada qualquer mortalidade antes de 24 h após a inoculação de bactérias. Essa
mortalidade lenta pode ser uma vantagem em comparação com os outros modelos de sepse
que apresentam uma mortalidade significativa dentro de 6-12 h após o desafio e,
consequentemente, não podem ser reproduzidas da forma como ocorre durante a sepse
humana (101). A fim de avaliar a gravidade da sepse, foi feito um escore clínico no qual
foram atribuídas pontuações de acordo com a evolução da doença nos animais. Deste modo
avaliamos que o modelo de sepse adotado no presente estudo foi classificado como sepse
moderada e que o tratamento com rosiglitazona foi capaz de melhorar a condição clínica
destes animais. Além disso, o antagonista de PPARγ, GW9662, reverteu este efeito protetor.
Isto sugere que a resposta da rosiglitazona é mediada pelo receptor PPARγ.
Um dos controles do organismo contra a infecção é a eliminação bacteriana por
células da resposta imune inata, como os macrófagos e neutrófilos. Os neutrófilos são as
primeiras células do sistema imunológico que chegam para eliminar o patógeno invasor. Estas
células quando ativadas, produzem uma série de mediadores pró-inflamatórios (TNF-α, IL1β), ROS e NO. O intenso influxo de neutrófilos para os pulmões está associado ao dano
tecidual causado pela liberação do conteúdo dos grânulos das células polimorfonucleares. O
excesso na produção desses mediadores está envolvido no dano tecidual, aumento da
permeabilidade vascular e falência dos órgãos (102).
A análise histológica dos pulmões dos animais desafiados com a K. pneumoniae
mostrou um importante infiltrado de células para o espaço alveolar e o tratamento com a
rosiglitazona foi capaz de reduzir significativamente o número destas células no pulmão. Da
32
mesma maneira que a análise histológica, a contagem de células das amostras do BAL dos
animais sépticos também mostrou uma grande quantidade de leucócitos, principalmente de
neutrófilos, presentes no lavado broncoalveolar dos animais desafiados com a bactéria. O
tratamento com a rosiglitazona foi capaz de reduzir o acúmulo de neutrófilos neste local,
efeito revertido pelo tratamento com o GW9662. A ativação do PPARγ possui um importante
efeito anti-inflamatório neste modelo. Estes resultados corroboraram com o estudo mostrado
por (103) em que outra glitazona, a Ciglitazona foi capaz de diminuir o infiltrado de
leucócitos no pulmão, fígado e cólon em um modelo sepse polimicrobiana em ratos, que foi
relacionada com uma evidente redução da mortalidade nos animais sépticos.
Na sepse, a excessiva e prolongada produção de citocinas na resposta inflamatória, é
ainda mais deletéria do que a infecção propriamente dita. Esta teoria é especialmente notável
na sepse grave, na qual a excessiva produção de citocinas pró-inflamatórias causam aumento
na permeabilidade capilar, dano tecidual e falência múltipla de órgãos (35). Trabalhos in vitro
tem sugerido que as vias de NF-kB e da AP-1 controlam vários genes inflamatórios, tais como
os de iNOS, moléculas de adesão e citocinas (104, 105). O TNF-α é uma citocina próinflamatória produzida principalmente por macrófagos e mastócitos ativados, sendo
considerado um mediador essencial da inflamação. Esta citocina induz a vasodilatação
levando a hipoperfusão tecidual, choque e falência de órgãos. Os macrófagos e mastócitos
bem como as células endoteliais e os fibroblastos também produzem IL-6, em resposta a
estímulos como endotoxinas bacterianas, IL-1 e TNF-α (36). A IL-6 atua estimulando os
linfócitos B e T e induz a febre (106). Estudos mostram que o alto nível de IL-6 está associado
com o aumento da mortalidade na sepse grave (107, 108). Por outro lado, a via de sinalização
que induz a expressão da IL-6 foi essencial para o desenvolvimento da inflamação sistémica,
a qual foi demonstrada em animais knockouts para esta citocina (108). Estas evidências
sugerem que tanto a IL-6, quanto o TNF-α podem ter um papel fundamental no
desenvolvimento da sepse.
As nossas análises demonstraram que o tratamento com rosiglitazona diminuiu a
produção dessas citocinas. E mais uma vez, o antagonista de PPARγ, GW9662, reverteu este
efeito protetor, indicando que a resposta da rosiglitazona é realmente mediada pelo receptor
PPARγ na produção citocinas.
A bactéria K. pneumoniae desenvolveu diversos mecanismos para resistir ao sistema
imune inato do hospedeiro. Sua patogenicidade pode ser atribuída à produção de enterotoxina
estável ao calor; à habilidade de metabolizar a lactose; à presença de cápsula ou
33
lipopolissacarídeo; à presença de adesinas com ou sem fímbrias que favorece sua adesão às
mucosas e às células epiteliais (109). Estes mecanismos protegem a bactéria das defesas
mecânicas e celulares do trato respiratório e favorecem a infecção. Desta forma, é de grande
importância a descoberta de novos alvos moleculares que venham auxiliar o hospedeiro no
combate a infecção.
A eliminação bacteriana é essencial para impedir a disseminação do microrganismo
(92). Para avaliar o papel da rosiglitazona na eliminação bacteriana, foi feita a contagem do
número de UFC presente no pulmão de animais tratados e não tratados com rosiglitazona (0,5
mg/kg), após 24 h da indução da sepse. Desta forma, foi observado que o tratamento com
rosiglitazona permitiu uma redução significativa no número de UFC recuperadas a partir do
BAL, corroborando com a hipótese de que os efeitos deste fármaco seriam parcialmente
responsáveis pela diminuição da mortalidade dos animais sépticos. De maneira interessante,
em um trabalho de Araújo, 2012 (110), também foi possível observar um efeito protetor da
rosiglitazona, no crescimento bacteriano em um modelo de sepse polimicrobiana induzida por
CLP (ligadura e punção cecal) em camundongos Swiss. Neste estudo, o pós-tratamento com
rosiglitazona (0,5 mg/kg, i.v.) 15 min após o processo cirúrgico diminuiu da carga bacteriana
(UFC) no lavado peritoneal destes animais. A autora relata ainda que esta eliminação
bacteriana pode estar associada à indução do mecanismo de NETose envolvendo a formação
de NET (redes extracelulares de neutrófilos) pela rosiglitazona (artigo submetido). As NET
são estruturas formadas por fibras de cromatina associadas a proteínas de grânulos
citoplasmáticos que confinam e matam patógenos, auxiliando na contenção do processo
infeccioso. Este mecanismo também previne o dano colateral ao tecido do hospedeiro por
reter proteases tóxicas e reduzir a sua atividade proteolítica (111-113). Estes dados reforçam a
idéia de que os ligantes de PPARγ interferem no crescimento bacteriano em diferentes
modelos experimentais de sepse.
Em conjunto, nossas analises permitiram avaliar o papel da ativação do receptor
nuclear PPARγ para modular a resposta inflamatória provocada pela bactéria K. pneumoniae.
O tratamento dos animais com rosiglitazona teve ação em diversos parâmetros
fisiopatológicos da sepse, modulando a resposta inflamatória, reduzindo o infiltrado celular no
foco infeccioso, aumentando a eliminação bacteriana, melhorando o quadro clínico e
diminuindo a mortalidade dos animais sépticos (fig. 5). Futuros esclarecimentos sobre os
mecanismos moleculares pelos quais PPARγ modula a inflamação poderão melhorar a nossa
34
compreensão a respeito do papel imuno-modulador do PPARγ nas doenças inflamatórias
pulmonares e sistêmicas como a sepse e também sugerir um potencial uso como adjuvantes
no tratamento de tais doenças.
Figura 5. Esquema final. Os animais receberam K. pneumoniae por via intratraqueal e foram
tratados com o agonista PPARγ, rosiglitazona (rosi). A ativação do PPARγ reduziu a
expressão de citocinas pró inflamatórias, como TNF-α e IL-6, diminuindo o acúmulo de
neutrófilos e aumentando a eliminação bacteriana. Refletindo na melhora dos sinais clínicos
dos animais e consequentemente no aumento da sobrevida.
35
6. Conclusões

O agonista de PPARγ rosiglitazona diminuiu a migração de neutrófilos no foco
infeccioso, alem de reduzir a síntese de citocinas, como o TNF-α e IL-6 no BAL de
animais submetidos à instilação intratraqueal com K. pneumoniae.

O tratamento com a rosiglitazona reduziu carga bacteriana no BAL de animais
submetidos à instilação intratraqueal com K. pneumoniae.


O tratamento com a rosiglitazona aumentou o escore clínico e a sobrevida dos animais
desafiados com a bactéria K. pneumoniae.

Os efeitos antiinflamatórios da rosiglitazona foram revertidos quando administrada
juntamente com o GW9662, indicando que o mecanismo de ação desta glitazona
depende da ativação do PPARγ.
36
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