Livremente vadias

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Livremente vadias
Iasmim Sansara Henriques Cavalcanti
Colégio Central de Ensino, Rua João de Souza Barbosa, s/n.
Orientador: Alexsandro de Oliveira Barbosa
Silenciada durante séculos pela imposição patriarcal reduzida à figura do lar, a
educadora de seus filhos e servidora do homem, a mulher tentar se impor e ocupar um
espaço mais valorizado na sociedade, num campo de trabalho. A mais de um século ela
busca incessantemente lutar pelos seus direitos, pela igualdade de gênero, mostrando
para a sociedade que essa separação desleal é fruto de uma construção social e cultural
desfavorecendo do dito “sexo frágil” tornando-a um individuo sem força e sem voz.
A divisão entre gêneros é considerada uma forma de organização social, e é
feita através da separação entre sexos. Um grave problema desse fenômeno social é o
seu desfavorecimento em relação à figura masculina, resultante de uma visão errônea,
no qual o sexo feminino é descrito sob predicativos de submissão e inferioridade ao
masculino. Mas foi, justamente por não aceitar essa realidade, que surgiram os
movimentos feministas responsáveis pela luta a favor da igualdade de gêneros e que
disseminou-se por todo o mundo, alcançando inclusive o Brasil.
O movimento feminista é responsável por reivindicar conquistas das mulheres
durante os últimos séculos. Esse movimento tem como objetivo lutar pela liberdade,
igualdade e pela abolição das regras opressoras baseadas nas “normas de gêneros”. No
Brasil, se manifestou através de teorias, filosofias, campanhas, marchas e protestos,
tendo destaque em três principais momentos da historia, que vão do final do século XIX
à contemporaneidade. A primeira fase do feminismo é caracterizada pela luta em busca
da conquista de direito ao voto, uma exigência considerada “comportada”, já que as
mulheres buscavam apenas sua inserção na sociedade como cidadãs e não questionavam
as regras de gêneros, nem se impunham a “superioridade” do homem. Já o segundo
momento foi caracterizado por atitudes mais ousadas, em que mulheres de todas as
classes sociais buscavam não só o direito de voto, mas também tratavam sobre assuntos
como a dominação masculina, o direito à educação e ao divórcio, assuntos que para a
época eram polêmicos e por esse motivo essa segunda fase ficou conhecida como
“feminismo mal comportado”. A terceira e mais revolucionaria fase do feminismo
rompeu com todos os limites ao manifestar pensamentos anarquistas.
Depois da conquista de voto, educação e divórcio, a mulher passou a buscar
principalmente a igualdade, a liberdade, a posse de seus direitos com relação à
sexualidade e seu reconhecimento como capaz de se inserir em qualquer área que antes
era apenas atribuída ao homem. Hoje é visivelmente notável a participação de mulheres
em diversos cargos e essa emancipação foi responsável ainda por quebrar antigos tabus
sociais, religiosos e criar uma nova representação de valores no casamento, na sua
liberdade sexual. A mulher poderia agora ditar regras ate mesmo em questões
cotidianas, pois além de esposas e boas mães, elas têm ido às ruas e realizado marchas,
tem lutado e conseguido direitos que as protegem de qualquer tipo de agressão, como a
Lei nº 11.340, conhecida com o “Lei Maria da Penha”, tem exigido respeito e
reconhecimento por conciliar e executar bem suas tarefas no trabalho assim como no
lar.
Apesar de muitas conquistas já alcançadas, o movimento feminista continua
ativo. Frequentemente observam-se em noticiários, revistas e manchetes de jornais,
sejam eles locais ou internacionais, notícias sobre protestos, sejam eles de pequeno,
médio ou grande porte. No nosso país um dos recentes e bastante divulgado protestos
foi “A Marcha das Vadias”, um movimento realizado no Brasil em 04 de junho de 2011,
a partir da influência de um protesto inicial surgido em 03 de abril do mesmo ano em
Toronto, Canadá, onde as mulheres foram às ruas para lutar contra a visão de que elas,
por suas vestimentas, eram responsáveis pelos estupros ocorridos naquele lugar. No dia
26 de maio de 2012, outra macha foi realizada em São Paulo, como protesto contra a
violência contra mulher, defendendo o caso da jovem Eloá Cristina, vítima do mais
longo sequestro em cárcere privado, registrado pela polícia nacional, que resultou no
assassinato da jovem pelo ex-namorado, motivado por um término de relacionamento.
Nessa marcha diversas mulheres traziam como base a seguinte ideia divulgada por seus
representantes: “Meu nome é Eloá, tinha quinze anos, fui sequestrada e assassinada
pelo meu ex-namorado que não queria o fim do namoro. Se namorar só com quem nós
queremos é motivos para sermos assassinadas, motivos para sermos chamadas de
vadia então somos todas vadias, somos todas Eloás”.
Esse cenário de violência contra a mulher, no qual Eloá foi a personagem
principal motivou outras diversas personagens anônimas a manifestarem o seu
incessante desejo de liberdade e posse dos próprios direitos, que vai além de manter sua
boa imagem ante a sociedade, já que termos depreciativos não são capazes de
influenciar as mulheres, nas suas tomadas de decisões. Elas evoluíram e amadureceram
o suficiente para não temer, nem tão pouco recuar por conta de ultrajes, corajosamente
buscando o seu bel-prazer mesmo que para isso elas sejam intituladas “vadias”.
O tempo passou e os movimentos continuaram, porque ainda há tabus a serem
quebrados e conquistas a serem alcançadas. As mulheres galgam os degraus em busca
da homogeneização social entre os gêneros e de maneira corajosa e inovadora
solucionam antigos problemas que antes eram sufocados pela hegemonia masculina.
Lutam contra os atos covardes de violência doméstica, sexual e contra a visão de que a
função da mulher é única exclusivamente cuidar dos filhos e da casa.
Àquelas que ainda permanecem silenciadas pelos agressores com que
convivem diariamente, resta o incentivo para não calarem a voz, denunciarem e, acima
de tudo, possuírem paixão pelo que são, paixão por pertencerem a um sexo que rompeu
com as barreiras das dificuldades e emergiu socialmente de uma forma extraordinária,
pois diferente do que a visão machista apresenta sobre elas, as mulheres são capazes,
poderosas, criativas, capazes de alcançarem qualquer objetivo, pois como diz a canção,
“é uma mentira absurda dizer que a mulher é o sexo frágil.”
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