Consequências da violência sexual contra a mulher

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Consequências da violência sexual contra a
mulher
por Joel Rennó Jr.
"Pacientes que sobrevivem aos traumas físicos ou psicológicos gerados por tais
violências não merecem ser chamadas de vítimas e sim de sobreviventes, segundo o
médico Jefferson Drezett, um dos maiores estudiosos brasileiros nesta área"
"Os efeitos emocionais são os
principais: intensos,
devastadores e irrecuperáveis"
A violência física ou sexual contra as mulheres ainda é
alarmante. Perdem-se mais anos de vida saudável,
com incapacidade gerada, do que em doenças graves
como câncer da mama ou de colo de útero.
Há doze milhões de crimes sexuais no mundo. Só nos EUA, há 683 mil estupros por ano,
enquanto que na cidade de São Paulo há o registro de 42 mil estupros por ano.
Pacientes que sobrevivem aos traumas físicos ou psicológicos gerados por tais violências não
merecem ser chamadas de vítimas e sim de sobreviventes, segundo o médico Jefferson
Drezett, um dos maiores estudiosos brasileiros nesta área.
O pior também é que apenas 13% das mulheres que chegam ao IML-SP (Instituto Médico
Legal de São Paulo) conseguem prova material do estupro. Entre 28% a 60% das mulheres
poderão desenvolver DST (doença sexualmente transmissível). Já o risco de infecção de HIV
gira em torno de 0,8% a 2,7%, segundo literatura especializada. Tal risco é duas vezes maior
em gestantes.
É importante haver a quimioprofilaxia para infecção de HIV, nos casos elegíveis e corretamente
indicados. Outras DST, assim como as hepatites B e C, também requerem acompanhamento
médico.
Dados trágicos incluem também uma possível gravidez por violência sexual, já que metade das
mulheres estupradas está no período fértil. A estimativa da taxa de gravidez por violência
sexual tem uma incidência de 1% a 5%. Só nos EUA, há cerca de 32 mil gestações anuais por
violência sexual.
Violência sexual e anticoncepcional de emergência
Em tais gestações indesejadas, por conta do estresse pós-traumático gerado e outros
transtornos mentais ou comportamentais, deve-se oferecer um amplo apoio psicológico aos
envolvidos. Cabe ressaltar que o anticoncepcional de emergência, com derivado de
progesterona (levonorgestrel), quando bem indicado, é uma prevenção contra a gravidez
gerada por violência. Não há quaisquer evidências científicas de que tal método
anticoncepcional seria abortivo, daí não precisar haver oposições neste sentido de grupos
religiosos preocupados com a polêmica questão do aborto.
Os efeitos emocionais são os principais: intensos, devastadores e irrecuperáveis. Até mesmo
alguns profissionais despreparados que atendem tais pessoas podem, sem dúvida, agir de
forma preconceituosa agravando os danos psíquicos. Muitas dessas mulheres desenvolvem
transtornos de sexualidade. Cerca de 18% das sobreviventes têm pensamentos suicidas.
Acolhimento é de grande ajuda na reabilitação psicossocial da mulher
Cabe a todos nós, como cidadãos, governantes ou profissionais da saúde, uma ampla reflexão
sobre tais agravantes. A sociedade precisa se mobilizar para combater tal mazela. Os
psicólogos têm que tomar cuidado para não haver manipulação por parte dos abusadores,
geralmente, pais, tios e padrastos sedutores e educados. Devemos exigir a garantia do
cumprimento dos direitos humanos, protegendo a vítima com dignidade, respeito e
sensibilidade. O atendimento deve ser integral e ético, sem pré-julgamentos ou críticas. O
acolhimento é a melhor ferramenta na reabilitação psicossocial de tais vítimas.
Movimentos sociais
A Marcha da Vadias pode ser considerada um movimento social de sucesso, tanto nas ruas,
como virtualmente. No centro da Recife, o movimento concentrou, inicialmente, mais de 200
pessoas no entorno da Praça do Derby. Na web, o assunto #marchadasvadias foi um dos mais
comentados no Twitter. Os internautas se dividem entre apoio ao o movimento – que defende,
entre as principais bandeiras o fim da violência contra a mulher - e críticas à forma da
mobilização (com mulheres em trajes ousados). Houve também quem se aproveitasse do
momento para fazer algumas piadas sobre a passeata, que é realizada simultaneamente em
vários estados.
“Se o corpo é da mulher, ela dá para quem quiser”, com frases de efeitos como essas
quase 1,1 mil pessoas - segundo a Polícia Militar - invadiram o Centro do Recife neste sábado
durante a Marcha das Vadias. O grupo, que se concentrou no início da tarde na Praça do
Derby, chegou à Praça do Diario no começo da noite. Apesar de circularem por corredores
importantes da capital, como as Avenidas Conde da Boa Vistas e Guararapes, não houve
grandes
transtornos
no
trânsito,
segundo
a
organização
do
movimento.
Uma das características do evento foi a ausência de equipamentos eletrônicos, como carros de
som. No início da noite, as mulheres e famílias que participam do evento realizaram oficinas
sobre direitos da mulher e rodas de música. “Tudo na base do gogó”, revelou uma
manifestante. Procurada pela reportagem do Diario, a PM garantiu que não houve nenhuma
ocorrência registrada durante a Marcha. “Foi um evento pacífico”, disse um policial.
O movimento organizado na capital foi realizado simultaneamente em 17 estados do país. Este
ano, os participantes (sobretudo, as mulheres) levantaram a bandeira contra a
“culpabilização” da mulher em casos de agressão sexual. Isso significa, em outras palavras,
que a Marcha pretende contestar o mito de que as mulheres são culpadas pela agressão que
sofrem.
A dentista Patrícia Sampaio é uma das organizadoras do movimento. “Se o brasileiro é
machista, o pernambucano é mais. A cidade de Escada, em nosso estado, tem a maior
taxa de agressão (assassinato) contra mulheres no país”, revela a dentista. Os dados são
do Instituto Sangari/Ministério da Justiça, que elaborou um mapa da violência contra a mulher.
Segundo o manifesto que lido na Praça do Diario, 15 mil mulheres são estupradas no Brasil
todos os anos. “Mesmo assim nossa sociedade acha graça quando um humorista faz
piada sobre estupro, chegando ao cúmulo de dizer que homens que estupram mulheres
não merecem cadeia, mas um abraço”, critica o texto do movimento.
A Marcha das Vadias teve origem no Canadá. Há cerca de um ano, um policial do país,
durante uma palestra sobre prevenção de estupro, sugeriu que as mulheres evitassem se vestir
como “vadias” para não se tornarem vítimas de abuso sexual. Ainda no mesmo ano,
mulheres do mundo inteiro foram às ruas em protesto pelo direito de se vestir como quisessem.
Da Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
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