os desafios do processo de ensino-aprendizagem

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OS DESAFIOS DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM MEDIADO
POR TECNOLOGIAS E SUAS IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO ESCOLAR
ALBERTI, Taís Fim – UFRGS
[email protected]
Eixo Temático: Educação: Profissionalização Docente e Formação
Agência Financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Esse artigo faz parte de um trabalho desenvolvido no Seminário Especial: Política e
Educação: O governo da aula no programa de Pós-Graduação da UFRGS. Nesse espaçotempo, refletimos sobre a responsabilidade que tem o professor em fazer com que seus alunos
aprendam. Devido a isso, a educação precisa fazer a diferença no desenvolvimento dos
sujeitos. E, uma boa educação faz a diferença sim, na vida dos alunos. O acesso a educação
permite inserir nossos alunos na cultura social vigente, fazendo com que os mesmos sejam
capazes de participar, criar e transformar. Para isso, precisamos que os professores façam a
diferença na sua prática educacional. Dessa forma, esse trabalho busca relacionar as
discussões realizadas em sala de aula aos processos de ensino-aprendizagem mediado por
tecnologias. Revendo as anotações das aulas e os textos, lembrei-me de uma aula em que a
professora foi o "governo da aula". Ela conduziu tudo o que precisávamos fazer, nos orientou,
questionou e interferiu sempre que necessário na nossa aprendizagem. Ao final, estávamos
todos satisfeitos com a aula, tínhamos entendido as discussões e aprendido. Então, para nossa
surpresa a professora nos disse: "pessoal, eu fui o governo da aula". Nós não tínhamos
percebido que realmente ela usou de seu "poder" como professora e conduziu todo o processo.
Isso não foi ruim, é necessário pois, alguém precisa conduzir e orientar esse processo. E, foi
isso que sempre achei fundamental nos processos de ensino-aprendizagem mediados por
tecnologias - mudam os espaços e tempos de ensinar e aprender, mas o professor continua
sendo fundamental.
Palavras-chave: Formação de professores; Mediação tecnológica; Processos de ensinoaprendizagem mediados por tecnologias.
Formação de Professores: Uma necessidade
As tecnologias de comunicação e informação estão presentes em nosso dia-a-dia,
potencializadas pelos recursos computacionais. Levando em conta a abrangência que as
tecnologias informáticas estão tomando, precisamos nos interrogar como esse processo está
acontecendo. Que mudanças estão ocorrendo? Como agir diante de inúmeras possibilidades?
Que espaços ocupam em nossas vidas e em nossas relações? E, principalmente, que lugar
estão tomando na educação?
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Considerando especialmente o espaço de sala de aula, a apropriação e a utilização de
tais recursos por parte de professores e alunos: como pensar em conhecimento entre tantas
informações que as tecnologias nos oferecem? Como identificar os avanços e obstáculos
presentes na aprendizagem mediada por tecnologias? Enfim, como preparar os professores
para trabalharem nesses novos espaços de ensino-aprendizagem?
Belloni (1998), ao discutir a questão da tecnologia e formação de professores, afirma
que a escola “terá que formar o cidadão capaz de “ler e escrever” em todas as novas
linguagens do universo informacional em que está imerso” (p.146). Esse processo atinge
especialmente os professores pois são eles que vão ensinar. Para tal, também precisam
aprender a ler e escrever mediados por tecnologias. De acordo com Evans e Nation (apud
BELLONI, 2003, p. 53) “tecnologia é uma forma de conhecimento. 'Coisas' tecnológicas não
fazem sentido sem o 'saber-como' (know-how) usá-las, consertá-las, fazê-las”. Assim
podemos nos apropriar desses recursos para fazer a mediação tecnológica com mais
autonomia.
A tecnologia é um recurso a mais para fortalecer o processo de ensino-aprendizagem,
mas sozinha não opera mudanças. De acordo com Fuks et al (2003, p.253) “esta missão
continua sendo da escola, dos professores que em vez de se preocupar em deter, ensinar e
calar seus alunos devem estimulá-los a argumentar, pesquisar e aprender”. Cabe ao professor
orientar esse processo, promovendo, através dos meios comunicacionais inclusão desses
sujeitos na sociedade como cidadãos plenos participantes das transformações, que sejam
críticos, autônomos, éticos e com o poder de decisão.
Segundo Nova e Alves (2003) torna-se imprescindível que as políticas públicas e as
organizações sociais busquem garantir o acesso a essas tecnologias pelas camadas mais
desfavorecidas da sociedade, impedindo assim que as desigualdades se ampliem. Nesse
sentido, a escolarização, “adquire um papel fundamental, de fazer com que essas tecnologias
cheguem a uma camada da população que, de outra forma, não teria, ao menos
momentaneamente, acesso a elas” (p.122). Isso se torna mais um fator importante para a
apropriacão pelos professores e, que estes posteriormente, trabalhem com seus alunos,
inserindo-os nessa cultura escolar.
Percebemos também, que existem resistências, mas que, apesar delas, as inovações
acabam chegando na escola, mesmo um pouco atrasadas. Isso requer um aprimoramento em
nossos estudos, em nossa formação, ou seja, exige mudanças para nos inserirmos nesses
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espaços de aprender e ensinar. Tal contexto cobra dos sujeitos uma transformação cultural na
qual estão implicados diversos valores e concepções de vida, além de conhecimento. Não é
uma mudança individual apenas, ela faz parte de todo um contexto social e educacional e está
inserida em um momento histórico-cultural que afeta toda a sociedade.
Assim, com relação à Educação, as transformações que necessitam ser realizadas
consistem em passarmos de uma cultura escolar, centrada na concepção bancária, para uma
mediada pelas tecnologias, com prática dialógica e problematizadora. Impulsiona-se, assim, o
desenvolvimento da sociedade em rede de forma colaborativa. Para isso acontecer, alunos e
professores não podem ser apenas espectadores das mudanças, eles precisam fazer parte delas,
buscando compreender o que significam para a educação. Compreendendo, principalmente,
esse momento em que a escolarização está numa fase de transição, seja com a chegada de
diferentes tecnologias que possibilitam melhorar nossas práticas, seja pela educação a
distância que permite mais acesso a educação para diferentes pessoas e em diferentes lugares.
Comprometer-se é atuar com as transformações do mundo. Portanto é essa capacidade
de operar, de transformar a realidade de acordo com as finalidades do ser humano, associadas
à sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis. Práxis que, sendo reflexão e ação
verdadeiramente transformadoras da realidade, é fonte de conhecimento e criação (Freire,
1996). Agora precisamos aprender a criar, planejar uma aula, produzir material didático para
nos tornarmos um ser da práxis ao trabalharmos com a mediação tecnológica.
No entanto, muitas vezes, temos concepções das coisas e do mundo ao nosso redor que
estão tão arraigadas e se torna difícil imaginá-las diferente. Mas, fazer parte dessas mudanças,
nos torna capazes de atuar no mundo e com o mundo, dialogar com nossos pares e com
demais sujeitos na busca de uma sociedade mais justa, onde as pessoas tenham oportunidade
de colaborar e participar das transformações.
Quando o ser humano tem condições de compreender sua realidade, ele pode levantar
hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções, transformando-a. Compreender
os desafios que as TIC nos impõem é fundamental, para que professores e alunos não sejam
apenas um objeto dela, mas que procurem condições de recriá-la e transformá-la na prática
educativa. Isso só é possível através de uma prática por parte desses professores, de
experiências com a própria tecnologia.
Portanto, isso pode ser possível através de uma formação que possibilite vivenciar
situações de ensino-aprendizagem que envolvam recursos e procedimentos metodológicos
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inovadores e não somente ouvir sobre, lançando desafios de vivenciar situações de formação
na busca de conhecimentos, discutindo a realidade escolar e a inserção dos recursos
informáticos nesse contexto, inovando na produção de material didático, oportunizando
também a busca de saberes, os quais podem ser pertinentes as suas aulas, através da
transposição didática do material disponível na rede, tornando-se mais uma fonte para a
produção de material didático, possibilitando interfaces entre educação e tecnologia
(ALBERTI, MAZZARDO e DE BASTOS, 2005)
Mediação Tecnológica:Possibilidades e Desafios
Com a mediação tecnológica, é possível inovar em relação aos processos de ensino aprendizagem. Ao mesmo tempo, ela está no centro das discussões educacionais no que diz
respeito a formação continuada de professores, planejamento escolar, organização e produção
de material didático, redimensionamento do trabalho docente e a orientação do processo de
ensino-aprendizagem mediado por tecnologias.
Assim, a educação no escopo da ciência e da tecnologia tem um lugar de destaque nas
transformações da sociedade e na formação dos sujeitos que atuam nela. A adesão a essas
tecnologias não acontece de forma incondicional como se fossem solucionar todos os
problemas educacionais. Precisamos explorar as potencialidades dos recursos das TIC nas
situações de ensino-aprendizagem e “evitar o deslumbramento que tende a levar ao uso mais
ou menos indiscriminado da tecnologia por si e em si, ou seja, mais por suas virtualidades
técnicas do que por suas virtudes pedagógicas” (BELLONI, p. 73, 2003).
A chegada de novas e diferentes tecnologias oportunizou o trabalho coletivo, a
interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade dos atores envolvido nesse processo. O
professor assume um novo papel no processo de ensino-aprendizagem. Torna-se parceiro e
orientador do processo de interlocução e produção de conhecimentos. Dessa forma, queremos
refletir sobre como o professor pode se tornar parceiro de seus alunos em práticas mediadas
por tecnologias sem perder seu lugar de saber-poder?
Conhecendo o funcionamento das TIC é um passo importante, pois segundo Rifkin
(2000, p. 10) "a Era do Acesso também está trazendo consigo um novo tipo de ser humano".
Os jovens da nova geração sentem-se muito mais à vontade para se engajar em atividades
sociais no ciberespaço e se adaptam com facilidade aos vários mundos simulados que
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compõem a economia cultural. O mundo deles é mais teatral que ideológico e mais orientado
a um ethos do brincar, jogar do que um ethos do trabalho. O acesso para eles, se tornou uma
forma de vida. Por isso tudo, eles “entendem”, “navegam” muito mais que os professores.
Mas, pensando bem, até que ponto os alunos entendem sobre isso? E, o que realmente eles
entendem? Será que eles sabem buscar através dessa mediação, uma informação que lhe
ajudará no conhecimento científico e tecnológico necessário a sua formação conceitual?
Segundo, o exemplo citado por Warschauer (2003) em Nova Délfhi, em que o governo
inaugurou um experimento oferecendo acesso a computadores para crianças de uma das
regiões mais pobres da cidade, na tentativa de superar o “fosso digital”, demonstra o quanto o
direcionamento do professor é fundamental. Funcionários do governo e representantes de uma
companhia Indiana de TIC instalaram um quiosque ao ar livre com vários terminais de
computador. O teste não incluía professores. A idéia era permitir às crianças acesso irrestrito
para que pudessem aprender em seu próprio ritmo, ao invés de seguirem a orientação de
professores. Assim: “o projeto de educação minimamente invasivo foi concebido para
inserção de tecnologia num dado ambiente de forma que as crianças pudessem aprender a usar
o computador sem instrutores. Mas sem direcionamento o computador mostrou-se apenas um
brinquedo sofisticado” (Warschauer, 2003: 77).
Devido a isso, consideramos que, a aprendizagem orientada é importante, para
proporcionar aos alunos outros meios aprendizagem (que provavelmente lhes sejam mais
atraentes) e buscar inseri-los dessa forma nas mudanças culturais que estamos vivenciando,
inclusive na educação. A formação de professores para desenvolver trabalhos mediados por
tecnologias garante também que seus alunos aprendam como e onde buscar informações
relevantes e não apenas sites de relacionamentos, música, mensagens instantâneas e outros
que fazem parte de seu dia-a-dia. Aqui entra o professor, com todo o seu conhecimento e
saber a ensinar. Em que é possível mostrar a seus alunos outras possibilidades que a Internet
nos oferece. Se não, o computador será apenas um, brinquedo sofisticado, conforme afirmou
Warschauer (2003). Para tal, o professor precisa estar seguro nessa tarefa .
Portanto, conforme afirma Burbules e Callister (2001) é preciso questionar algumas
dicotomias pouco frutíferas e, em geral, deixar para traz as posições simplistas do
“promocionismo”, segundo o qual as novas tecnologias vão salvar a escola e o
“negacionismo” segundo o qual vão destruir a escola, ou seja "as novas tecnologias se
tornaram indispensáveis para as práticas de ensino" (p. 15). É preciso aprender a trabalhar
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com elas para também aprender a conduzir e orientar uma aula mediada por tecnologias sem
perder a sua responsabilidade enquanto professor.
Para esses autores, precisamos nos dar conta que estamos em meio a um processo de
reformulação de significados e dos fins da educação e não meramente tentando encontrar
formas melhores, mais rápidas ou econômicas de fazer o mesmo que já estamos acostumados
a fazer.
Para participar das transformações que estão acontecendo em relação às tecnologias e
sua mediação na educação torna-se necessário conhecer minimamente as suas especificidades
e praticá-las com os alunos. Então, é criando e recriando, participando das mudanças que
estão acontecendo no contexto educacional, que os professores podem participar e procurar se
inserir, e não apenas observar de longe sem envolvimento. Mas daí advém a pergunta: de que
forma se envolver? Sabemos que isso não é tarefa fácil, e, que muitas vezes a mudança exige
esforços que não nos sentimos capacitados a enfrentar, sendo que muitos nem vão querer
participar e conhecer o novo.
Por isso a apropriação da tecnologia pelos professores também depende de uma
imersão dessa cultura informática nos espaços escolares e de uma formação científicotecnológica que permita essa transição. Muda a forma e a organização escolar, tanto para os
professores como para os alunos. Como uma dessas possibilidades de formação, podemos
citar o “Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação”, cuja proposta se
caracteriza pela integração das diferentes mídias ao processo de ensino-aprendizagem e tem
como objetivo principal contribuir para a formação continuada de profissionais em educação,
em especial professores da Educação Básica para o uso dos recursos tecnológicos no
cotidiano da escola, de forma articulada à proposta pedagógica e a uma concepção
interacionista de aprendizagem (MEC/SEED, 2008). É um curso a distância, gratuito
desenvolvido em parceria com algumas instituições de ensino superior. Ou seja, uma
possibilidade para que os professores busquem formação aliando essa aprendizagem a sua
prática em sala de aula. Além desse curso, existem os Núcleos de Tecnologia Educacional
(NTE) os quais trabalham com formação de professores capacitando-os para uma prática
mediada em sala de aula. Também é possível e necessário criar parcerias entre a Escola e a
Universidade na busca de pesquisa, formação, ação e reflexão.
Para tal, é preciso querer engajar-se nas mudanças e apropriar-se delas. Freire (1996,
p.79) já afirmava que “mudar é difícil, mas é possível”. Esse processo de mudanças requer
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muito esforço e pode resultar em uma educação de qualidade. Precisamos desenvolver formas
de torná-las possíveis. A mediação tecnológica com suas possibilidades se faz cada vez mais
presente no processo de ensino-aprendizagem e os professores, adquirindo mais
conhecimentos científicos-tecnológicos por meio de uma prática mediada, podem tornar a sua
aula muito mais interessante, desafiadora e problematizadora. É um desafio a mais para
aqueles que gostam de tornar seu dia-a-dia desafiador.
Processos de Ensino-Aprendizagem Mediados por Tecnologias
A inserção de diferentes tecnologias nas escolas tem se tornado um problema educativo,
um desafio, uma oportunidade, um risco, uma necessidade... Tudo isso, por razões que pouco
tem haver com as decisões intencionais dos próprios educadores. Fugiu ao controle dos
professores o uso ou não da Internet (por exemplo), pois com a sua difusão o seu uso deixou
de se constituir uma opção sujeita ao controle dos educadores sendo que, seus alunos tanto
dentro como fora da escola, tem acesso a uma enorme possibilidade de informações.
Porém, segundo Burbules e Callister (2001) a metáfora da informação é inapropriada,
pois: 1) a informação nunca é elementar ou primária- temos que questioná-la; 2) não são
apenas tecnologias da informação (não é apenas um intercambio de informações), são também
tecnologias da comunicação; 3) as TIC não constituem apenas um conjunto de ferramentas,
mas também um espaço (o ciberespaço) no qual se produzem as interações humanas na qual
combinam e entrecruzam as atividades de indagação, comunicação, construção e expressão
(espaço de cooperação). Portanto, é buscando se inserir nesse espaço que o professor pode
conduzir os processos de ensino-aprendizagem mediados por tecnologias, orientando seus
alunos para que os mesmos aprendam a questionar as informações disponíveis no
ciberespaço, se comuniquem e aprendam em colaboração e interação com outras pessoas.
Assim, é um espaço onde sucedem coisas, onde as pessoas atuam e inter-atuam. Isso
sugere que: uma maneira mais frutífera de conceber o papel das tecnologias na educação é
considerá-las não um depósito, nem um canal nem um sistema de transmissão onde os
professores provem de informações e os alunos obtêm acesso a elas, mas sim um território
potencial de colaboração, um lugar em que podem desenvolver-se atividades de ensinoaprendizagem. Essas colaborações são capazes de reunir a pessoas que jamais poderiam
interagir face a face, ou fazer isso de modo distinto Não significa que esses espaços são
sempre benignos, mas não são piores nem melhores que qualquer outro espaço social
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(BURBULES e CALLISTER, 2001).
As ferramentas podem ter certos usos e finalidades estabelecidas, mas com freqüência
adquirem outros previsíveis e geram outros efeitos imprevisíveis. Isso sugere que nunca as
usamos sem que elas, às vezes nos usem (somos modificados de um modo muito específico,
cultural e psicológico, corpo, saúde). Talvez seja isso que nos apavore e nos causa uma certa
resistência. Devido a isso, as mudanças introduzidas com as tecnologias sempre vêm
acompanhadas de outras múltiplas mudanças nos processos sociais e pautas de atividades; e
talvez sejam estas últimas, não as “tecnologias”, as que exercem o maior impacto global nas
mudanças sociais (BURBULES e CALLISTER, 2001). Por exemplo: O que gerou a
introdução da Internet em nossas vidas? O que mudou em nossa escrita e em nosso
pensamento com o surgimento de um editor de texto? Será que escrevemos da mesma forma
que antes?
Segundo Marzola e Medeiros (2005, p.17) "a linguagem computacional produz, de fato,
toda uma nova gramática de possibilidades, uma nova maneira de ler , de escrever e de nos
narrarmos". Por isso, precisamos aprender sobre ela, para melhor utilizá-las:
afirmar que as tecnologias - sejam elas um martelo, a escrita, o quadro-negro ou as
TICs - nos impõem sua forma, sua arquitetura, regulando nossos modos de atuar e
de nos movermos nos seus espaços, significa reconhecer que elas requerem um
disciplinamento específico do corpo (controle de movimentos e gestos, certas
coordenações motoras, determinadas posições corporais, etc.) e uma maneira de
pensar segundo a racionalidade própria de seu ambiente. De tal forma que fica
difícil afirmar que é o sujeito que escolhe e faz uso livremente de uma tecnologia,
seja por sua praticidade, por sua rapidez, eficiência, etc. Talvez fosse melhor dizer
que cada tecnologia o sujeita à sua forma, regulamentada no manual de instruções
para o seu uso, o que o obriga a disciplinar-se de uma determinada maneira para
bem utilizá-la (MARZOLA e MEDEIROS, 2005, p. 18 e 19).
Então, ao falar de tecnologias, deve ficar claro que o mais novo talvez não seja a
tecnologia em si, mas sim todas as outras mudanças que a acompanham. Assim, talvez o
papel da TIC na reforma educativa seja muito pequeno se não mudarmos ao mesmo tempo as
práticas e relações educacionais, pois as possibilidades que as tecnologias nos oferecem para
desenvolvermos o processo de ensino-aprendizagem aumentam a necessidade de atuar com a
imaginação, planejar com cuidado e superar desafios que não foram pensados. A frente de
todo esse processo precisa estar o professor. Tudo bem, que precisamos nos sujeitar a ela
(tecnologia), mas por outro lado poderemos por nossa subjetividade em ação, nossa
criatividade modificando-a também para nosso uso. Os recursos tecnológicos são elementos
da cultura produzida pelo ser humano. Assim, espera-se que os sujeitos se apropriem desses
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elementos de forma ativa, critica e emancipatória e não apenas como usuários e consumidores
dela.
No entanto, sabemos que muitos processos de ensino-aprendizagem mediados por
tecnologias apenas transpõem os seus métodos de ensino trabalhados na educação presencial.
Torna-se necessário entender que existem diferenças no uso da tecnologia, conforme aponta
Dowbor, pois senão vamos continuar repetindo o que era feito antes: “as tecnologias sem a
educação, conhecimentos e sabedoria que permitem organizar o seu real aproveitamento,
apenas levam-nos a fazer as mesmas coisas” (2001, p. 9). Portanto, não é apenas a tecnologia
educacional que precisa mudar, mas sim, a própria concepção de ensino-aprendizagem.
Portanto, não basta levar os alunos a um laboratório de informática e deixá-los fazer o
que querem ou “pesquisar informações”. É preciso saber o que você quer que os alunos
aprendam através daquela mediação e como você vai orientar esse processo pois, se
deixarmos o componente de organização por conta dos alunos, podemos perder o foco do
ensino. Devido ao fato de não ter diretividade, pode tornar-se frágil e superficial.
Portanto, podemos dizer que a escolarização no desenvolvimento do ser humano é vital,
e, precisa ser conduzida a fim de desenvolver nos alunos a capacidade de pensamento, de
raciocínio lógico, capaz de mobilizar o aprendizado nas mais diversas situações. Assim, a
partir do momento que o professor conduz e acompanha o processo de ensino-aprendizagem
as construções cognitivas podem ser acompanhadas e verificadas pelo professor nas diferentes
ferramentas tecnológicas. Essas ferramentas permitem um trabalho através da resolução de
problemas, bem como a possibilidade de comunicação e interação através das atividades de
estudo dialógico-problematizadoras (ALBERTI e DE BASTOS, 2008) que favorecem o
amadurecimento cognitivo.
A tecnologia pode abrir caminhos para a construção de experiências com o
conhecimento, o que implica também em organizar a assimilação produtiva de um conjunto
de instrumentos potencializadores desse processo. Conforme Davidov (1988), a educação
precisa ensinar aos alunos os conceitos necessários a sua formação, ou seja, ele precisa
aprender os conhecimentos teóricos. E, para o autor, aprendizagem sem direcionamentos e
orientações não funciona. Apenas levam a transmissão e a reprodução mecânica. A escolha
dos conteúdos a serem trabalhados e a forma como eles serão ensinados, será decisiva no
desenvolvimento qualitativo escolar dos alunos. Precisamos então, nos preocupar com a
organização das atividades de estudo a serem desenvolvidas com os mesmos, já que isso
10005
afetará o desenvolvimento psíquico e intelectual do aluno, influenciando inclusive a formação
de sua personalidade. A tecnologia é um meio para potencializar esse processo, mas a estrela
maior sempre será o professor e o aluno que ao planejarem uma tarefa, criando e recriando
estarão sendo autores desse processo e não simples usuários e consumidores de tecnologia.
Para finalizar
Percebemos que a informatização em nossa sociedade não está apenas na retórica, mas,
sim, presente no cotidiano das pessoas, nas mais diversas situações, como por exemplo, desde
o leitor ótico de um supermercado até os cartões magnéticos do banco. Contudo, estamos
falando de tecnologias sofisticadas, as quais muitos nem têm acesso. Porém, existem diversos
tipos de tecnologias, algumas estão tão próximas e presentes, que nem percebemos mais,
tornaram-se naturais. Tecnologias presentes, por exemplo, em talheres, pratos, fogões,
geladeiras, bem como, instrumentos para garantir nossa escolarização. Todas foram
planejadas e construídas para garantir as mais diversas tarefas realizadas por nós. Portanto,
lidamos com vários tipos de tecnologias durante as atividades cotidianas (KENSKI, 2003).
Nesse trabalho, discutimos a mediação pelas TIC, só que em atividades escolares e não pelo
seu uso cotidiano, mas sim de forma planejada.
Vimos que, a condição para que novas formas de linguagem existam, não pressupõe a
substituição das anteriores, nem sua exclusão. Com o passar do tempo as tecnologias foram
criando uma amplitude muito maior de escolhas, possibilidades variadas de ação e
comunicação. Então, por que não aproveitarmos esses desenvolvimentos em benefício da
educação? Esperamos que essas mudanças aconteçam orientadas pelo conhecimento crítico e
emancipatório. Assim, ao trabalharmos com a mediação tecnológica, os professores e alunos
saberão minimamente sobre o seu funcionamento e possibilidades de trabalho.
Portanto, na educação mediada por tecnologias, uma das possibilidades de trabalho é
que
as
atividades
sejam
caracterizadas
por
problematizações,
acompanhamento,
monitoramento e avaliação de todo o processo. Fundamentadas no diálogo-problematizador,
na autoria e presença de um professor, colocando-lhe o papel de orientador do processo de
aprendizagem dos alunos. O professor é o potencializador para que esse processo aconteça.
Por isso, ele precisa saber o que é essencial planejar em torno das atividades, ações e
operações (LEONTIEV, 1983) que pretende desenvolver com aporte tecnológico. Portanto, o
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professor é o “governo da aula”. E por tal função ele tem responsabilidades com a
aprendizagem de seu aluno.
Por ser a educação uma forma de poder, como afirma Steiner (2005, p. 14) "ensinar
pode ser considerado um exercício de poder, assumido ou não. O mestre possui poder
psicológico, social, físico. Pode premiar ou punir, excluir e promover. O saber, a própria
práxis, definidos e transmitidos por um sistema pedagógico, por instrumentos de
escolarização, são formas de poder". Portanto, é preciso muito cuidado com o uso desse
poder. É preciso ser sábio o suficiente para saber ser o "governo da aula" com dignidade, pois
se não esse poder e o ensino mal utilizados podem destruir a sensibilidade, o desejo de um
aluno em aprender. Conforme coloca o autor: "O ensino ruim, a rotina pedagógica, um estilo
de instrução cínico - quer seja o cinismo consciente ou não - são perniciosos. Destroem a
esperança pelas raízes. O mau ensino é, quase literalmente, assassino e, metaforicamente, um
pecado. Ele diminui o aluno, reduz a uma insanidade abjeta o assunto apresentado" (ibidem, p.
31).
Para finalizar, uma frase que merece uma reflexão: "Bons professores, incendiários
das almas nascentes de seus alunos, podem ser mais raros do que artistas virtuosos ou que
sábios" (STEINER, 2005, p. 31). Por isso, precisamos de bons professores, implicados com
esse processo de ensinar e aprender. Para incendiar almas de conhecimentos ou se não,
seremos apenas “gentis coveiros” (ibidem) enterrando o pouco que ainda resta da educação.
REFERÊNCIAS
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orientação psicopedagógica na implementação de atividades de estudo em Ambientes
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ALBERTI, Taís Fim; MAZZARDO, Mara Denize ; DE BASTOS, Fábio da Purificação.
Ambientes Virtuais de Ensino-Aprendizagem: Os Desafios dos Novos Espaços de Ensinar
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