OS DESAFIOS DO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM MEDIADO POR TECNOLOGIAS E SUAS IMPLICAÇÕES NO CONTEXTO ESCOLAR ALBERTI, Taís Fim – UFRGS [email protected] Eixo Temático: Educação: Profissionalização Docente e Formação Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo Esse artigo faz parte de um trabalho desenvolvido no Seminário Especial: Política e Educação: O governo da aula no programa de Pós-Graduação da UFRGS. Nesse espaçotempo, refletimos sobre a responsabilidade que tem o professor em fazer com que seus alunos aprendam. Devido a isso, a educação precisa fazer a diferença no desenvolvimento dos sujeitos. E, uma boa educação faz a diferença sim, na vida dos alunos. O acesso a educação permite inserir nossos alunos na cultura social vigente, fazendo com que os mesmos sejam capazes de participar, criar e transformar. Para isso, precisamos que os professores façam a diferença na sua prática educacional. Dessa forma, esse trabalho busca relacionar as discussões realizadas em sala de aula aos processos de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias. Revendo as anotações das aulas e os textos, lembrei-me de uma aula em que a professora foi o "governo da aula". Ela conduziu tudo o que precisávamos fazer, nos orientou, questionou e interferiu sempre que necessário na nossa aprendizagem. Ao final, estávamos todos satisfeitos com a aula, tínhamos entendido as discussões e aprendido. Então, para nossa surpresa a professora nos disse: "pessoal, eu fui o governo da aula". Nós não tínhamos percebido que realmente ela usou de seu "poder" como professora e conduziu todo o processo. Isso não foi ruim, é necessário pois, alguém precisa conduzir e orientar esse processo. E, foi isso que sempre achei fundamental nos processos de ensino-aprendizagem mediados por tecnologias - mudam os espaços e tempos de ensinar e aprender, mas o professor continua sendo fundamental. Palavras-chave: Formação de professores; Mediação tecnológica; Processos de ensinoaprendizagem mediados por tecnologias. Formação de Professores: Uma necessidade As tecnologias de comunicação e informação estão presentes em nosso dia-a-dia, potencializadas pelos recursos computacionais. Levando em conta a abrangência que as tecnologias informáticas estão tomando, precisamos nos interrogar como esse processo está acontecendo. Que mudanças estão ocorrendo? Como agir diante de inúmeras possibilidades? Que espaços ocupam em nossas vidas e em nossas relações? E, principalmente, que lugar estão tomando na educação? 9997 Considerando especialmente o espaço de sala de aula, a apropriação e a utilização de tais recursos por parte de professores e alunos: como pensar em conhecimento entre tantas informações que as tecnologias nos oferecem? Como identificar os avanços e obstáculos presentes na aprendizagem mediada por tecnologias? Enfim, como preparar os professores para trabalharem nesses novos espaços de ensino-aprendizagem? Belloni (1998), ao discutir a questão da tecnologia e formação de professores, afirma que a escola “terá que formar o cidadão capaz de “ler e escrever” em todas as novas linguagens do universo informacional em que está imerso” (p.146). Esse processo atinge especialmente os professores pois são eles que vão ensinar. Para tal, também precisam aprender a ler e escrever mediados por tecnologias. De acordo com Evans e Nation (apud BELLONI, 2003, p. 53) “tecnologia é uma forma de conhecimento. 'Coisas' tecnológicas não fazem sentido sem o 'saber-como' (know-how) usá-las, consertá-las, fazê-las”. Assim podemos nos apropriar desses recursos para fazer a mediação tecnológica com mais autonomia. A tecnologia é um recurso a mais para fortalecer o processo de ensino-aprendizagem, mas sozinha não opera mudanças. De acordo com Fuks et al (2003, p.253) “esta missão continua sendo da escola, dos professores que em vez de se preocupar em deter, ensinar e calar seus alunos devem estimulá-los a argumentar, pesquisar e aprender”. Cabe ao professor orientar esse processo, promovendo, através dos meios comunicacionais inclusão desses sujeitos na sociedade como cidadãos plenos participantes das transformações, que sejam críticos, autônomos, éticos e com o poder de decisão. Segundo Nova e Alves (2003) torna-se imprescindível que as políticas públicas e as organizações sociais busquem garantir o acesso a essas tecnologias pelas camadas mais desfavorecidas da sociedade, impedindo assim que as desigualdades se ampliem. Nesse sentido, a escolarização, “adquire um papel fundamental, de fazer com que essas tecnologias cheguem a uma camada da população que, de outra forma, não teria, ao menos momentaneamente, acesso a elas” (p.122). Isso se torna mais um fator importante para a apropriacão pelos professores e, que estes posteriormente, trabalhem com seus alunos, inserindo-os nessa cultura escolar. Percebemos também, que existem resistências, mas que, apesar delas, as inovações acabam chegando na escola, mesmo um pouco atrasadas. Isso requer um aprimoramento em nossos estudos, em nossa formação, ou seja, exige mudanças para nos inserirmos nesses 9998 espaços de aprender e ensinar. Tal contexto cobra dos sujeitos uma transformação cultural na qual estão implicados diversos valores e concepções de vida, além de conhecimento. Não é uma mudança individual apenas, ela faz parte de todo um contexto social e educacional e está inserida em um momento histórico-cultural que afeta toda a sociedade. Assim, com relação à Educação, as transformações que necessitam ser realizadas consistem em passarmos de uma cultura escolar, centrada na concepção bancária, para uma mediada pelas tecnologias, com prática dialógica e problematizadora. Impulsiona-se, assim, o desenvolvimento da sociedade em rede de forma colaborativa. Para isso acontecer, alunos e professores não podem ser apenas espectadores das mudanças, eles precisam fazer parte delas, buscando compreender o que significam para a educação. Compreendendo, principalmente, esse momento em que a escolarização está numa fase de transição, seja com a chegada de diferentes tecnologias que possibilitam melhorar nossas práticas, seja pela educação a distância que permite mais acesso a educação para diferentes pessoas e em diferentes lugares. Comprometer-se é atuar com as transformações do mundo. Portanto é essa capacidade de operar, de transformar a realidade de acordo com as finalidades do ser humano, associadas à sua capacidade de refletir, que o faz um ser da práxis. Práxis que, sendo reflexão e ação verdadeiramente transformadoras da realidade, é fonte de conhecimento e criação (Freire, 1996). Agora precisamos aprender a criar, planejar uma aula, produzir material didático para nos tornarmos um ser da práxis ao trabalharmos com a mediação tecnológica. No entanto, muitas vezes, temos concepções das coisas e do mundo ao nosso redor que estão tão arraigadas e se torna difícil imaginá-las diferente. Mas, fazer parte dessas mudanças, nos torna capazes de atuar no mundo e com o mundo, dialogar com nossos pares e com demais sujeitos na busca de uma sociedade mais justa, onde as pessoas tenham oportunidade de colaborar e participar das transformações. Quando o ser humano tem condições de compreender sua realidade, ele pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções, transformando-a. Compreender os desafios que as TIC nos impõem é fundamental, para que professores e alunos não sejam apenas um objeto dela, mas que procurem condições de recriá-la e transformá-la na prática educativa. Isso só é possível através de uma prática por parte desses professores, de experiências com a própria tecnologia. Portanto, isso pode ser possível através de uma formação que possibilite vivenciar situações de ensino-aprendizagem que envolvam recursos e procedimentos metodológicos 9999 inovadores e não somente ouvir sobre, lançando desafios de vivenciar situações de formação na busca de conhecimentos, discutindo a realidade escolar e a inserção dos recursos informáticos nesse contexto, inovando na produção de material didático, oportunizando também a busca de saberes, os quais podem ser pertinentes as suas aulas, através da transposição didática do material disponível na rede, tornando-se mais uma fonte para a produção de material didático, possibilitando interfaces entre educação e tecnologia (ALBERTI, MAZZARDO e DE BASTOS, 2005) Mediação Tecnológica:Possibilidades e Desafios Com a mediação tecnológica, é possível inovar em relação aos processos de ensino aprendizagem. Ao mesmo tempo, ela está no centro das discussões educacionais no que diz respeito a formação continuada de professores, planejamento escolar, organização e produção de material didático, redimensionamento do trabalho docente e a orientação do processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias. Assim, a educação no escopo da ciência e da tecnologia tem um lugar de destaque nas transformações da sociedade e na formação dos sujeitos que atuam nela. A adesão a essas tecnologias não acontece de forma incondicional como se fossem solucionar todos os problemas educacionais. Precisamos explorar as potencialidades dos recursos das TIC nas situações de ensino-aprendizagem e “evitar o deslumbramento que tende a levar ao uso mais ou menos indiscriminado da tecnologia por si e em si, ou seja, mais por suas virtualidades técnicas do que por suas virtudes pedagógicas” (BELLONI, p. 73, 2003). A chegada de novas e diferentes tecnologias oportunizou o trabalho coletivo, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade dos atores envolvido nesse processo. O professor assume um novo papel no processo de ensino-aprendizagem. Torna-se parceiro e orientador do processo de interlocução e produção de conhecimentos. Dessa forma, queremos refletir sobre como o professor pode se tornar parceiro de seus alunos em práticas mediadas por tecnologias sem perder seu lugar de saber-poder? Conhecendo o funcionamento das TIC é um passo importante, pois segundo Rifkin (2000, p. 10) "a Era do Acesso também está trazendo consigo um novo tipo de ser humano". Os jovens da nova geração sentem-se muito mais à vontade para se engajar em atividades sociais no ciberespaço e se adaptam com facilidade aos vários mundos simulados que 10000 compõem a economia cultural. O mundo deles é mais teatral que ideológico e mais orientado a um ethos do brincar, jogar do que um ethos do trabalho. O acesso para eles, se tornou uma forma de vida. Por isso tudo, eles “entendem”, “navegam” muito mais que os professores. Mas, pensando bem, até que ponto os alunos entendem sobre isso? E, o que realmente eles entendem? Será que eles sabem buscar através dessa mediação, uma informação que lhe ajudará no conhecimento científico e tecnológico necessário a sua formação conceitual? Segundo, o exemplo citado por Warschauer (2003) em Nova Délfhi, em que o governo inaugurou um experimento oferecendo acesso a computadores para crianças de uma das regiões mais pobres da cidade, na tentativa de superar o “fosso digital”, demonstra o quanto o direcionamento do professor é fundamental. Funcionários do governo e representantes de uma companhia Indiana de TIC instalaram um quiosque ao ar livre com vários terminais de computador. O teste não incluía professores. A idéia era permitir às crianças acesso irrestrito para que pudessem aprender em seu próprio ritmo, ao invés de seguirem a orientação de professores. Assim: “o projeto de educação minimamente invasivo foi concebido para inserção de tecnologia num dado ambiente de forma que as crianças pudessem aprender a usar o computador sem instrutores. Mas sem direcionamento o computador mostrou-se apenas um brinquedo sofisticado” (Warschauer, 2003: 77). Devido a isso, consideramos que, a aprendizagem orientada é importante, para proporcionar aos alunos outros meios aprendizagem (que provavelmente lhes sejam mais atraentes) e buscar inseri-los dessa forma nas mudanças culturais que estamos vivenciando, inclusive na educação. A formação de professores para desenvolver trabalhos mediados por tecnologias garante também que seus alunos aprendam como e onde buscar informações relevantes e não apenas sites de relacionamentos, música, mensagens instantâneas e outros que fazem parte de seu dia-a-dia. Aqui entra o professor, com todo o seu conhecimento e saber a ensinar. Em que é possível mostrar a seus alunos outras possibilidades que a Internet nos oferece. Se não, o computador será apenas um, brinquedo sofisticado, conforme afirmou Warschauer (2003). Para tal, o professor precisa estar seguro nessa tarefa . Portanto, conforme afirma Burbules e Callister (2001) é preciso questionar algumas dicotomias pouco frutíferas e, em geral, deixar para traz as posições simplistas do “promocionismo”, segundo o qual as novas tecnologias vão salvar a escola e o “negacionismo” segundo o qual vão destruir a escola, ou seja "as novas tecnologias se tornaram indispensáveis para as práticas de ensino" (p. 15). É preciso aprender a trabalhar 10001 com elas para também aprender a conduzir e orientar uma aula mediada por tecnologias sem perder a sua responsabilidade enquanto professor. Para esses autores, precisamos nos dar conta que estamos em meio a um processo de reformulação de significados e dos fins da educação e não meramente tentando encontrar formas melhores, mais rápidas ou econômicas de fazer o mesmo que já estamos acostumados a fazer. Para participar das transformações que estão acontecendo em relação às tecnologias e sua mediação na educação torna-se necessário conhecer minimamente as suas especificidades e praticá-las com os alunos. Então, é criando e recriando, participando das mudanças que estão acontecendo no contexto educacional, que os professores podem participar e procurar se inserir, e não apenas observar de longe sem envolvimento. Mas daí advém a pergunta: de que forma se envolver? Sabemos que isso não é tarefa fácil, e, que muitas vezes a mudança exige esforços que não nos sentimos capacitados a enfrentar, sendo que muitos nem vão querer participar e conhecer o novo. Por isso a apropriação da tecnologia pelos professores também depende de uma imersão dessa cultura informática nos espaços escolares e de uma formação científicotecnológica que permita essa transição. Muda a forma e a organização escolar, tanto para os professores como para os alunos. Como uma dessas possibilidades de formação, podemos citar o “Programa de Formação Continuada em Mídias na Educação”, cuja proposta se caracteriza pela integração das diferentes mídias ao processo de ensino-aprendizagem e tem como objetivo principal contribuir para a formação continuada de profissionais em educação, em especial professores da Educação Básica para o uso dos recursos tecnológicos no cotidiano da escola, de forma articulada à proposta pedagógica e a uma concepção interacionista de aprendizagem (MEC/SEED, 2008). É um curso a distância, gratuito desenvolvido em parceria com algumas instituições de ensino superior. Ou seja, uma possibilidade para que os professores busquem formação aliando essa aprendizagem a sua prática em sala de aula. Além desse curso, existem os Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) os quais trabalham com formação de professores capacitando-os para uma prática mediada em sala de aula. Também é possível e necessário criar parcerias entre a Escola e a Universidade na busca de pesquisa, formação, ação e reflexão. Para tal, é preciso querer engajar-se nas mudanças e apropriar-se delas. Freire (1996, p.79) já afirmava que “mudar é difícil, mas é possível”. Esse processo de mudanças requer 10002 muito esforço e pode resultar em uma educação de qualidade. Precisamos desenvolver formas de torná-las possíveis. A mediação tecnológica com suas possibilidades se faz cada vez mais presente no processo de ensino-aprendizagem e os professores, adquirindo mais conhecimentos científicos-tecnológicos por meio de uma prática mediada, podem tornar a sua aula muito mais interessante, desafiadora e problematizadora. É um desafio a mais para aqueles que gostam de tornar seu dia-a-dia desafiador. Processos de Ensino-Aprendizagem Mediados por Tecnologias A inserção de diferentes tecnologias nas escolas tem se tornado um problema educativo, um desafio, uma oportunidade, um risco, uma necessidade... Tudo isso, por razões que pouco tem haver com as decisões intencionais dos próprios educadores. Fugiu ao controle dos professores o uso ou não da Internet (por exemplo), pois com a sua difusão o seu uso deixou de se constituir uma opção sujeita ao controle dos educadores sendo que, seus alunos tanto dentro como fora da escola, tem acesso a uma enorme possibilidade de informações. Porém, segundo Burbules e Callister (2001) a metáfora da informação é inapropriada, pois: 1) a informação nunca é elementar ou primária- temos que questioná-la; 2) não são apenas tecnologias da informação (não é apenas um intercambio de informações), são também tecnologias da comunicação; 3) as TIC não constituem apenas um conjunto de ferramentas, mas também um espaço (o ciberespaço) no qual se produzem as interações humanas na qual combinam e entrecruzam as atividades de indagação, comunicação, construção e expressão (espaço de cooperação). Portanto, é buscando se inserir nesse espaço que o professor pode conduzir os processos de ensino-aprendizagem mediados por tecnologias, orientando seus alunos para que os mesmos aprendam a questionar as informações disponíveis no ciberespaço, se comuniquem e aprendam em colaboração e interação com outras pessoas. Assim, é um espaço onde sucedem coisas, onde as pessoas atuam e inter-atuam. Isso sugere que: uma maneira mais frutífera de conceber o papel das tecnologias na educação é considerá-las não um depósito, nem um canal nem um sistema de transmissão onde os professores provem de informações e os alunos obtêm acesso a elas, mas sim um território potencial de colaboração, um lugar em que podem desenvolver-se atividades de ensinoaprendizagem. Essas colaborações são capazes de reunir a pessoas que jamais poderiam interagir face a face, ou fazer isso de modo distinto Não significa que esses espaços são sempre benignos, mas não são piores nem melhores que qualquer outro espaço social 10003 (BURBULES e CALLISTER, 2001). As ferramentas podem ter certos usos e finalidades estabelecidas, mas com freqüência adquirem outros previsíveis e geram outros efeitos imprevisíveis. Isso sugere que nunca as usamos sem que elas, às vezes nos usem (somos modificados de um modo muito específico, cultural e psicológico, corpo, saúde). Talvez seja isso que nos apavore e nos causa uma certa resistência. Devido a isso, as mudanças introduzidas com as tecnologias sempre vêm acompanhadas de outras múltiplas mudanças nos processos sociais e pautas de atividades; e talvez sejam estas últimas, não as “tecnologias”, as que exercem o maior impacto global nas mudanças sociais (BURBULES e CALLISTER, 2001). Por exemplo: O que gerou a introdução da Internet em nossas vidas? O que mudou em nossa escrita e em nosso pensamento com o surgimento de um editor de texto? Será que escrevemos da mesma forma que antes? Segundo Marzola e Medeiros (2005, p.17) "a linguagem computacional produz, de fato, toda uma nova gramática de possibilidades, uma nova maneira de ler , de escrever e de nos narrarmos". Por isso, precisamos aprender sobre ela, para melhor utilizá-las: afirmar que as tecnologias - sejam elas um martelo, a escrita, o quadro-negro ou as TICs - nos impõem sua forma, sua arquitetura, regulando nossos modos de atuar e de nos movermos nos seus espaços, significa reconhecer que elas requerem um disciplinamento específico do corpo (controle de movimentos e gestos, certas coordenações motoras, determinadas posições corporais, etc.) e uma maneira de pensar segundo a racionalidade própria de seu ambiente. De tal forma que fica difícil afirmar que é o sujeito que escolhe e faz uso livremente de uma tecnologia, seja por sua praticidade, por sua rapidez, eficiência, etc. Talvez fosse melhor dizer que cada tecnologia o sujeita à sua forma, regulamentada no manual de instruções para o seu uso, o que o obriga a disciplinar-se de uma determinada maneira para bem utilizá-la (MARZOLA e MEDEIROS, 2005, p. 18 e 19). Então, ao falar de tecnologias, deve ficar claro que o mais novo talvez não seja a tecnologia em si, mas sim todas as outras mudanças que a acompanham. Assim, talvez o papel da TIC na reforma educativa seja muito pequeno se não mudarmos ao mesmo tempo as práticas e relações educacionais, pois as possibilidades que as tecnologias nos oferecem para desenvolvermos o processo de ensino-aprendizagem aumentam a necessidade de atuar com a imaginação, planejar com cuidado e superar desafios que não foram pensados. A frente de todo esse processo precisa estar o professor. Tudo bem, que precisamos nos sujeitar a ela (tecnologia), mas por outro lado poderemos por nossa subjetividade em ação, nossa criatividade modificando-a também para nosso uso. Os recursos tecnológicos são elementos da cultura produzida pelo ser humano. Assim, espera-se que os sujeitos se apropriem desses 10004 elementos de forma ativa, critica e emancipatória e não apenas como usuários e consumidores dela. No entanto, sabemos que muitos processos de ensino-aprendizagem mediados por tecnologias apenas transpõem os seus métodos de ensino trabalhados na educação presencial. Torna-se necessário entender que existem diferenças no uso da tecnologia, conforme aponta Dowbor, pois senão vamos continuar repetindo o que era feito antes: “as tecnologias sem a educação, conhecimentos e sabedoria que permitem organizar o seu real aproveitamento, apenas levam-nos a fazer as mesmas coisas” (2001, p. 9). Portanto, não é apenas a tecnologia educacional que precisa mudar, mas sim, a própria concepção de ensino-aprendizagem. Portanto, não basta levar os alunos a um laboratório de informática e deixá-los fazer o que querem ou “pesquisar informações”. É preciso saber o que você quer que os alunos aprendam através daquela mediação e como você vai orientar esse processo pois, se deixarmos o componente de organização por conta dos alunos, podemos perder o foco do ensino. Devido ao fato de não ter diretividade, pode tornar-se frágil e superficial. Portanto, podemos dizer que a escolarização no desenvolvimento do ser humano é vital, e, precisa ser conduzida a fim de desenvolver nos alunos a capacidade de pensamento, de raciocínio lógico, capaz de mobilizar o aprendizado nas mais diversas situações. Assim, a partir do momento que o professor conduz e acompanha o processo de ensino-aprendizagem as construções cognitivas podem ser acompanhadas e verificadas pelo professor nas diferentes ferramentas tecnológicas. Essas ferramentas permitem um trabalho através da resolução de problemas, bem como a possibilidade de comunicação e interação através das atividades de estudo dialógico-problematizadoras (ALBERTI e DE BASTOS, 2008) que favorecem o amadurecimento cognitivo. A tecnologia pode abrir caminhos para a construção de experiências com o conhecimento, o que implica também em organizar a assimilação produtiva de um conjunto de instrumentos potencializadores desse processo. Conforme Davidov (1988), a educação precisa ensinar aos alunos os conceitos necessários a sua formação, ou seja, ele precisa aprender os conhecimentos teóricos. E, para o autor, aprendizagem sem direcionamentos e orientações não funciona. Apenas levam a transmissão e a reprodução mecânica. A escolha dos conteúdos a serem trabalhados e a forma como eles serão ensinados, será decisiva no desenvolvimento qualitativo escolar dos alunos. Precisamos então, nos preocupar com a organização das atividades de estudo a serem desenvolvidas com os mesmos, já que isso 10005 afetará o desenvolvimento psíquico e intelectual do aluno, influenciando inclusive a formação de sua personalidade. A tecnologia é um meio para potencializar esse processo, mas a estrela maior sempre será o professor e o aluno que ao planejarem uma tarefa, criando e recriando estarão sendo autores desse processo e não simples usuários e consumidores de tecnologia. Para finalizar Percebemos que a informatização em nossa sociedade não está apenas na retórica, mas, sim, presente no cotidiano das pessoas, nas mais diversas situações, como por exemplo, desde o leitor ótico de um supermercado até os cartões magnéticos do banco. Contudo, estamos falando de tecnologias sofisticadas, as quais muitos nem têm acesso. Porém, existem diversos tipos de tecnologias, algumas estão tão próximas e presentes, que nem percebemos mais, tornaram-se naturais. Tecnologias presentes, por exemplo, em talheres, pratos, fogões, geladeiras, bem como, instrumentos para garantir nossa escolarização. Todas foram planejadas e construídas para garantir as mais diversas tarefas realizadas por nós. Portanto, lidamos com vários tipos de tecnologias durante as atividades cotidianas (KENSKI, 2003). Nesse trabalho, discutimos a mediação pelas TIC, só que em atividades escolares e não pelo seu uso cotidiano, mas sim de forma planejada. Vimos que, a condição para que novas formas de linguagem existam, não pressupõe a substituição das anteriores, nem sua exclusão. Com o passar do tempo as tecnologias foram criando uma amplitude muito maior de escolhas, possibilidades variadas de ação e comunicação. Então, por que não aproveitarmos esses desenvolvimentos em benefício da educação? Esperamos que essas mudanças aconteçam orientadas pelo conhecimento crítico e emancipatório. Assim, ao trabalharmos com a mediação tecnológica, os professores e alunos saberão minimamente sobre o seu funcionamento e possibilidades de trabalho. Portanto, na educação mediada por tecnologias, uma das possibilidades de trabalho é que as atividades sejam caracterizadas por problematizações, acompanhamento, monitoramento e avaliação de todo o processo. Fundamentadas no diálogo-problematizador, na autoria e presença de um professor, colocando-lhe o papel de orientador do processo de aprendizagem dos alunos. O professor é o potencializador para que esse processo aconteça. Por isso, ele precisa saber o que é essencial planejar em torno das atividades, ações e operações (LEONTIEV, 1983) que pretende desenvolver com aporte tecnológico. Portanto, o 10006 professor é o “governo da aula”. E por tal função ele tem responsabilidades com a aprendizagem de seu aluno. Por ser a educação uma forma de poder, como afirma Steiner (2005, p. 14) "ensinar pode ser considerado um exercício de poder, assumido ou não. O mestre possui poder psicológico, social, físico. Pode premiar ou punir, excluir e promover. O saber, a própria práxis, definidos e transmitidos por um sistema pedagógico, por instrumentos de escolarização, são formas de poder". Portanto, é preciso muito cuidado com o uso desse poder. É preciso ser sábio o suficiente para saber ser o "governo da aula" com dignidade, pois se não esse poder e o ensino mal utilizados podem destruir a sensibilidade, o desejo de um aluno em aprender. Conforme coloca o autor: "O ensino ruim, a rotina pedagógica, um estilo de instrução cínico - quer seja o cinismo consciente ou não - são perniciosos. Destroem a esperança pelas raízes. O mau ensino é, quase literalmente, assassino e, metaforicamente, um pecado. Ele diminui o aluno, reduz a uma insanidade abjeta o assunto apresentado" (ibidem, p. 31). Para finalizar, uma frase que merece uma reflexão: "Bons professores, incendiários das almas nascentes de seus alunos, podem ser mais raros do que artistas virtuosos ou que sábios" (STEINER, 2005, p. 31). Por isso, precisamos de bons professores, implicados com esse processo de ensinar e aprender. Para incendiar almas de conhecimentos ou se não, seremos apenas “gentis coveiros” (ibidem) enterrando o pouco que ainda resta da educação. REFERÊNCIAS ALBERTI, Taís Fim; DE BASTOS, Fábio Da Purificação. A Teoria da Atividade como orientação psicopedagógica na implementação de atividades de estudo em Ambientes Virtuais. Revista Ciências e Cognição. Disponível em < http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_2/m318289.pdf>. Acessado em: 02/08/2008 ALBERTI, Taís Fim; MAZZARDO, Mara Denize ; DE BASTOS, Fábio da Purificação. Ambientes Virtuais de Ensino-Aprendizagem: Os Desafios dos Novos Espaços de Ensinar e Aprender e suas Implicações no Contexto Escolar. Revista Novas Tecnologias na Educação (RENOTE) CINTED/UFRGS, vol. 3, Nº. 1, mai/2005. Disponível em <http://www.cinted.ufrgs.br/renote/maio2005/artigos/a22_ensinoaprendizagem.pdf>. Acessado em 20/11/2005. BELLONI, Maria Luiza. 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