Economistas defendem controle da entrada de capitais especulativos

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Bancários Rio - RJ
05/03/2012
Notícia
00:06:00
Economistas defendem controle da entrada de capitais
especulativos
Mais recente tentativa do Brasil em lidar com a chamada "guerra cambial", o
reajuste do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado na entrada de
capitais estrangeiros é considerado paliativo por diversos economistas. Para
professores de economia ouvidos pela Agência Brasil, o controle direto sobre a
entrada de capitais especulativos no país seria a melhor ação para conter a
valorização do real.
Os especialistas divergem em relação ao momento em que a medida deveria ter
se iniciado. Eles, no entanto, ressaltam que o controle de capitais é mais eficaz do
que a redução dos juros ou a taxação de operações cambiais para que o Brasil
possa fazer frente aos países desenvolvidos, que, na avaliação do governo
brasileiro, ameaçam a competitividade dos países emergentes com medidas de
política monetária.
Nos últimos dois anos, bancos centrais de economias avançadas têm injetado
dinheiro no mercado para combater a crise global. O exemplo mais recente foi a
liberação de 529 bilhões de euros pelo Banco Central Europeu (BCE), que
emprestou a quantia a 800 bancos do continente com juros próximos de zero. Foi
a segunda operação em pouco mais de dois meses. Em dezembro de 2011, o
BCE havia injetado mais 489 bilhões de euros.
Essas ações estimulam as economias locais, mas resultam na desvalorização
artificial das moedas dos países desenvolvidos. Os países emergentes veem a
cotação do dólar e do euro caírem e têm as exportações cada vez mais
prejudicadas, enquanto as importações ganham incentivo.
Professor titular de economia internacional da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves acredita que o controle de capitais é a
solução mais eficiente para conter a valorização do real. "Do mesmo jeito que o
único remédio para a obesidade é fechar a boca, a única medida eficaz para
conter a valorização do real é o governo barrar a entrada de capital especulativo",
diz.
Gonçalves defende a proibição para estrangeiros comprarem ações na Bolsa de
Valores no mercado secundário (quando os papéis já foram emitidos pelas
empresas e apenas trocam de mãos) e adquirirem títulos públicos. Ele, no
entanto, admite que não há condições políticas para promover essas medidas. "O
governo brasileiro é muito comprometido com o mercado financeiro. Dificilmente,
essas iniciativas iriam para frente", avalia.
André Nassif, professor de economia internacional da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), também apoia o controle
de capitais estrangeiros que entram no país, mas diz que o governo brasileiro
perdeu o momento certo de se contrapor à guerra cambial. "Agora é tarde. O
Brasil não pode fazer nada porque precisa desses capitais para financiar o déficit
em transações correntes", declara.
As transações correntes representam a soma do saldo da balança comercial, das
importações e exportações de serviços e as remessas de lucros, juros e
dividendos ao exterior. Em janeiro, o déficit acumulado em 12 meses atingiu US$
54,1 bilhões (2,17% do Produto Interno Bruto). Para financiar esse rombo, o país
depende da entrada de capitais financeiros.
Segundo Nassif, o governo deveria ter restringido o ingresso de capital estrangeiro
antes de o real começar a se sobrevalorizar, em 2004. "A equipe econômica teve
uma nova oportunidade no início de 2010, quando o real se desvalorizou [depois
da quebra do Lehman Brothers]. Agora, o Brasil terá de esperar a próxima crise
para o dólar subir e o governo poder limitar a entrada de capital."
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