Ano VI volume 08 Campinas, janeiro 2013 EDITORIAL O ano de 2012 apresentou forte oscilação na taxa de crescimento industrial ao longo do período e acabou fechando o ano com viés de baixa, o que preocupa com relação ao ano de 2013. Os dados coletados pelo IBGE apontam para uma estagnação da atividade industrial brasileira no ano. Desta forma, observa-se que a economia brasileira ainda não apresentou o crescimento econômico esperado pelos condutores da política econômica, apesar dos incentivos monetários e fiscais promovidos durante todo o ano de 2012. A lenta recuperação da economia mundial, pós-crise financeira, também contribuiu significativamente para o baixo desempenho apresentado pela indústria no período considerado. Preocupados em estimular a economia, a taxa de juros caiu ao longo do ano, seguindo as reduções na taxa SELIC, efetuadas pelo banco Central, e, simultaneamente, ocorreu desvalorização do Real em relação ao Dólar. Tais medidas, que procuraram estimular o crescimento da produção interna e dar mais competitividade ao produto nacional no exterior, no entanto, não foram suficientes para gerar um crescimento maior da atividade industrial e do PIB, dado o movimento de incertezas na economia internacional associado às expectativas negativas dos empresários locais, em função de uma tendência de crescimento da taxa de inflação, observada nos últimos meses do ano. Mesmo assim, a boa notícia continua sendo a baixa taxa de desemprego no país. O Brasil registrou, em 2012, o menor patamar de desemprego nos últimos anos. Este movimento nacional também é claramente observado na RMC, que registra baixa taxa de desemprego, permanece, entretanto grande preocupação com a taxa de cambio e o seu repasse para preços (inflação), dado que a região é grande importadora de insumos para abastecer sua produção industrial. Em função destes fatos, a RMC apresentou queda no comércio com o exterior no ano de 2012 em relação a 2011; movimento este que também ocorreu no Estado de São Paulo e no Brasil. Se este movimento não se alterar em 2013, teremos um aumento do déficit no comércio externo na região, com o superávit externo do país também sendo afetado. Boa leitura. NESTA EDIÇÃO Acompanhamento do Comércio Exterior da RMC Indicadores Macroeconômicos pág.02 pág.07 Acompanhamento do Comércio Exterior da Região Metropolitana de Campinas (RMC) Bruno Membrive Adauto Roberto Ribeiro 2012 Destaques • A exportação da RMC alcançou US$ 5,2 bilhões e as importações US$ 13,4 bilhões. O saldo comercial foi deficitário em US$ 8,2 bilhões • As exportações estão em movimento de queda tanto na RMC como no Brasil. Houve recuou na exportação da RMC de 4,6% e no Brasil de 5,3%. As importações cresceram na RMC em 2,2% O fluxo de comércio exterior da RMC pouco se alterou ao longo de 2012 em relação a 2011, no entanto, as alterações ocorridas apontam para uma ampliação do déficit comercial da região com o mundo. Enquanto a importação apresentou um leve crescimento de 2.2%, as exportações registraram queda de 4,6%. Desta forma o saldo negativo supera U$ 8 bilhões. Este déficit, no entanto, é característico da região de Campinas, uma região altamente industrializada e com predomínio de investimentos externos diretos, o que significa uma grande presença de empresas transnacionais, cuja estratégia predominante é importar insumos, partes, peças e componentes, ou seja, bens intermediários, e destinar a maior parte de sua produção para o mercado interno brasileiro. Sendo assim, o valor das importações supera estruturalmente o valor das exportações. Esta situação só se alteraria se construíssemos no país, uma política agressiva de apoio a exportação de bens manufaturados, o que induziria as empresas a aumentar a estrutura produtiva na região, destinando uma maior parcela da produção para o mercado externo. Esta política, no entanto, não existe no momento. Cabe, portanto, medidas pontuais de alivio de custos para as empresa ou de aproveitamento da desvalorização da moeda brasileira, para ampliar a exportação, ao mesmo tempo em que a desvalorização estimula internalizar fornecedores de bens intermediários, o que diminuiria a importação. Estas medidas, no entanto, têm limites, ou seja, não são suficientes para reverter o déficit da região. Em 2012, o destaque dentre os municípios da RMC foi a expansão da exportação de Campinas, um aumento de 13,8% e a recuperação de exportações de Indaiatuba (mais 24,4%) e Sumaré (mais 14,6%). Cabe destacar que tanto Indaiatuba quanto Sumaré são cidades que apresentam uma forte concentra da indústria automobilística em seu território e que contribuíram para a expansão das exportações. Pelo lado negativo, destacaram-se os recuos na exportação de Jaguariúna (menos 72,3%) e Hortolândia (menos 63,7%), municípios com indústrias ligadas aos setores eletro-eletrônicos e de bens de capital que estão apresentando uma maior dificuldade no mercado externo, muito em função de crises na Europa e nos Estados Unidos. Com estes dados, Indaiatuba ultrapassou Paulínia como segundo maior exportador da RMC. Sumaré aparece na quarta posição. Os destinos das exportações da RMC não se alteraram em 2012 em relação a 2011. A Argentina é o maior mercado com participação percentual de 30%, vindo a seguir os Estados Unidos (10,8%) e a Venezuela (5,7%). Com crise na Europa tem crescido as exportações para os países sulamericanos. As exportações cresceram 19,4% para a Bolívia e 9,9% para o Peru. Do lado importador, Campinas, Sumaré, Indaiatuba e Paulínia apresentaram aumentos significativos na importação, relacionando a expansão da exportação com aumentos também nas importações, com exceção de Paulínia, que registrou queda na exportação e aumento na importação, o que tem relação com o comportamento do mercado de petróleo neste momento. Paulínia é o segundo município em importação da RMC, atrás de Campinas. Pela ordem, China, Estados Unidos e Japão são os maiores 2 fornecedores externos de bens para a RMC, com expressivo crescimento em 2012 das importações provenientes dos Estados Unidos e do Japão. Espera-se para 2013, com aumento da desvalorização do Real, um recuo das importações e a conseqüente expansão da exportação, no entanto, este movimento dependerá ainda da recuperação dos mercados consumidores externos dos bens da RMC, em especial, da Argentina, dos Estados Unidos e da Europa. Cabe ainda, observar como as importações provenientes da China se comportarão ao longo de 2013. Tabela 1. Comércio Exterior da RMC - milhões US$ FOB RMC exportação var (%)* importação var (%)* saldo janeiro 357,9 - 931,6 - -573,7 fevereiro 351,8 (1,7) 930,4 (0,1) -578,6 março 478,0 35,9 1.089,5 17,1 -611,5 abril 398,7 (16,6) 1.007,6 (7,5) -608,9 maio 484,4 21,5 1.129,0 12,1 -644,6 junho 411,9 (15,0) 1.139,2 0,9 -727,3 julho 450,4 9,3 1.208,1 6,1 -757,8 agosto 517,3 14,9 1.335,3 10,5 -818,0 setembro 440,0 (14,9) 1.195,1 (10,5) -755,1 outubro 492,0 11,8 1.353,3 13,2 -861,3 novembro 446,1 (9,3) 1.093,2 (19,2) -647,1 dezembro 368,7 (17,4) 922,1 (15,6) -553,5 jan-dez** 5.196,9 (4,6) 13.365,8 2,2 -8.169,0 Fonte: NUPEX-CEA (dados do MDIC). (*) Variação em relação ao mês anterior. Jan-dez** variação em relação ao mesmo período do ano anterior. 3 Tabela 2. Exportação - bilhões US$ FOB jan-dez 2012 242,6 var (%) Brasil jan-dez 2011 256,0 SP 65,8 65,2 (1,0) RMC 5,4 5,2 (4,6) (5,3) Fonte: Nupex-CEA (dados MDIC) Tabela 3. Exportação e Importação - DEZEMBRO - RMC (milhões US$ FOB) Exportação Importação Município dez/11 dez/12 var (%)* Município dez/11 dez/12 var (%)* Americana 34,7 19,1 (45,0) Americana 49,4 41,4 (16,1) Artur Nogueira 0,4 0,6 33,9 Artur Nogueira 0,4 0,6 32,1 Campinas 89,4 95,5 6,8 Campinas 236,6 270,8 14,5 Cosmópolis 9,3 9,2 (1,3) Cosmópolis 4,3 0,7 (82,9) Eng. Coelho 3,9 1,3 (66,6) Eng. Coelho 0,1 0,3 326,6 Holambra 0,5 0,1 (70,9) Holambra 2,8 1,8 (34,9) Hortolândia 10,8 8,9 (17,6) Hortolândia 96,4 110,4 14,5 Indaiatuba 60,7 44,1 (27,3) Indaiatuba 91,3 77,3 (15,3) Itatiba 9,6 6,4 (33,0) Itatiba 13,4 10,8 (19,8) Jaguariúna 10,5 3,5 (67,0) Jaguariúna 43,4 29,9 (31,2) Monte Mor 10,7 12,4 15,7 Monte Mor 16,6 17,7 7,0 Nova Odessa 12,9 9,8 (24,3) Nova Odessa 5,3 4,9 (8,0) Paulínia 65,8 74,5 13,3 Paulínia 171,9 173,2 0,8 Pedreira 1,2 2,7 127,2 Pedreira 1,4 1,4 (5,2) Santa Barbara 3,1 2,8 (10,7) Santa Barbara 13,9 20,9 50,3 Santo Antonio 5,0 3,4 (32,7) Santo Antonio 2,8 1,7 (39,0) Sumaré 45,4 40,8 (10,1) Sumaré 157,6 93,4 (40,7) Valinhos 16,9 13,3 (21,5) Valinhos 16,5 14,7 (11,0) Vinhedo 27,8 20,3 (26,8) Vinhedo 47,2 50,2 6,4 RMC 418,6 368,7 (11,9) RMC 971,2 922,1 (5,1) Fonte: NUPEX-CEA (dados do MDIC) (*) Variação em relação ao mesmo mês do ano anterior. 4 Tabela 4. Exportação e Importação por município - RMC - milhões US$ FOB Exportação Importação Municípios jan-dez 2011 jan-dez 2012 var (%)* Municípios jan-dez 2011 jan-dez 2012 var (%) Americana 400,4 288,5 (27,9) Americana 723,2 537,1 (25,7) Artur Nogueira 7,5 6,9 (7,9) Artur Nogueira 3,7 5,3 45,8 Campinas 1095,0 1246,3 13,8 Campinas 3625,8 3992,7 10,1 Cosmópolis 130,0 115,7 (11,0) Cosmópolis 49,7 55,6 11,9 Eng. Coelho 33,6 43,7 30,1 Eng. Coelho 4,7 2,7 (42,4) Holambra 17,7 16,7 (5,5) Holambra 25,5 28,0 10,0 Hortolândia 391,4 142,0 (63,7) Hortolândia 1311,8 1257,1 (4,2) Indaiatuba 663,1 825,2 24,4 Indaiatuba 1036,8 1151,8 11,1 Itatiba 139,5 135,5 (2,9) Itatiba 196,6 170,4 (13,3) Jaguariúna 308,7 85,5 (72,3) Jaguariúna 1141,8 794,6 (30,4) Monte Mor 150,8 150,4 (0,3) Monte Mor 221,6 223,7 1,0 Nova Odessa 135,3 112,7 (16,7) Nova Odessa 88,5 92,3 4,3 Paulínia 818,5 750,2 (8,4) Paulínia 2049,8 2272,6 10,9 Pedreira 24,9 21,7 (12,7) Pedreira 15,2 13,1 (13,8) Santa Barbara 44,0 46,5 5,7 Santa Barbara 164,8 158,0 (4,2) Santo Antonio 22,9 57,2 150,1 Santo Antonio 23,7 16,6 (29,9) Sumaré 564,5 647,2 14,6 Sumaré 1471,5 1679,7 14,2 Valinhos 173,3 172,7 (0,3) Valinhos 250,7 216,3 (13,7) Vinhedo 324,2 332,2 2,5 Vinhedo 675,9 698,0 3,3 RMC 5.445,4 5.196,9 (4,6) RMC 13.081,2 13.365,8 2,2 Fonte: NUPEX-CEA (dados MDIC) (*) Variação em relação ao mesmo período do ano anterior. Tabela 5. Exportação e importação por categoria de bens - RMC (milhões US$ FOB) Bens exportados jan-dez 2011 part (%)* jan-dez 2012 part (%)* var (%)** BENS DE CAPITAL 1.311,4 24,1 884,1 17,0 (32,6) BENS INTERMEDIARIOS 3.091,5 56,8 3.093,7 59,5 0,1 BENS DE CONSUMO 853,8 15,7 1.009,3 19,4 18,2 DURAVEIS 447,2 8,2 558,2 10,7 24,8 NAO DURAVEIS 49,7 0,9 24,8 0,5 (50,2) COMBUST. E LUBRIFICANTES 24,8 0,5 49,7 1,0 100,8 DEMAIS OPERACOES 164,0 3,0 160,1 3,1 (2,4) TOTAL RMC 5.445,4 100,0 5.196,9 100,0 (4,6) 5 Tabela 5. Exportação e importação por categoria de bens - RMC (milhões US$ FOB) Bens importados jan-dez 2011 part (%)* jan-dez 2012 part (%)* var (%)** BENS DE CAPITAL 5.879,5 44,9 6.035,9 45,2 2,7 BENS INTERMEDIARIOS 6.109,2 46,7 6.316,8 47,3 3,4 BENS DE CONSUMO 1.063,9 8,1 990,9 7,4 (6,9) DURAVEIS 503,3 3,8 493,4 3,7 (2,0) NAO DURAVEIS 560,6 4,3 497,5 3,7 (11,3) COMBUST. E LUBRIFICANTES 28,6 0,2 22,2 0,2 (22,5) TOTAL RMC 13.081,2 100,0 13.365,8 100,0 2,2 Fonte: NUPEX-CEA (dados MDIC) (*) participação % em relação ao total; (**) variação % em relação ao período anterior. Tabela 6. Principais destinos da exportação da RMC - milhões US$ FOB Principais destinos jan-dez 2011 part (%)* jan-dez 2012 part (%)* var (%)** ARGENTINA 1.666,6 30,6 1.570,1 30,2 (5,8) ESTADOS UNIDOS 507,7 9,3 559,3 10,8 10,2 VENEZUELA 298,8 5,5 297,0 5,7 (0,6) MÉXICO 278,8 5,1 289,7 5,6 3,9 CHILE 227,9 4,2 202,6 3,9 (11,1) ALEMANHA 209,2 3,8 187,3 3,6 (10,5) COLÔMBIA 170,9 3,1 148,9 2,9 (12,9) BOLÍVIA 118,8 2,2 141,8 2,7 19,4 PERU 108,8 2,0 119,5 2,3 9,9 100,0 5.196,9 100,0 (4,6) RMC 5.445,4 Fonte: NUPEX-CEA (dados do MDIC) (*) participação % em relação ao total; (**) variação % em relação ao período anterior. Tabela 7. Principais países de origem da importação da RMC - milhões US$ FOB Principais países jan-dez 2011 part (%)* jan-dez 2012 part (%)* var (%)** CHINA 2.403,7 18,4 2.486,8 18,6 3,5 ESTADOS UNIDOS 2.005,8 15,3 2.298,5 17,2 14,6 JAPAO 1.152,7 8,8 1.308,8 9,8 13,5 ALEMANHA 1.013,6 7,7 1.007,2 7,5 (0,6) COREIA DO SUL 907,2 6,9 865,2 6,5 (4,6) REINO UNIDO 545,8 4,2 510,7 3,8 (6,4) MEXICO 581,2 4,4 435,9 3,3 (25,0) TAIWAN (FORMOSA) 326,2 2,5 370,0 2,8 13,4 317,9 2,4 282,4 2,1 (11,2) 100,0 13.365,8 100,0 2,2 ITALIA 13.081,2 RMC Fonte: NUPEX-CEA (dados do MDIC) (*) participação % em relação ao total; (**) variação % em relação ao período anterior. 6 Indicadores Macroeconômicos: Análise de Conjuntura Econômica Matheus Moretto Adauto R. Ribeiro 2012 De acordo com dados do IBGE obtidos na Pesquisa Industrial Mensal, a produção industrial brasileira, ao longo do ano de 2012, manteve-se ao redor dos 125,5 pontos, como podemos observar no gráfico 1 abaixo (medida em relação ao ano de 2002, que foi a base 100). O gráfico apresenta elevação da produção no mês de fevereiro e agosto, porem, a produção industrial acabou fechando o ano com viés de baixa. Em dezembro o índice foi de 124.8 pontos. Os dados apontam estagnação da atividade industrial no ano. Comparando dezembro com dezembro do ano anterior, observa-se que em dezembro de 2011 o índice foi de 127,5 pontos, desta forma ocorreu uma redução de 2,11% na atividade industrial medida ponto a ponto, em 2012. Este comportamento demonstra como a economia brasileira ainda custa a deslanchar, apesar dos incentivos monetários e fiscais promovidos pelo governo federal durante todo o ano de 2012. A lenta recuperação da economia em âmbito mundial também corroborou para o mau desempenho apresentado pela indústria no período considerado. Dentre as medidas adotadas pelo governo para estimular a atividade econômica do país e amenizar os efeitos negativos da crise internacional, ao longo do ano de 2012, ocorreu a intervenção do Banco Central do Brasil (BACEN) no mercado de divisas, com o intuito de proteger a moeda brasileira de fortes oscilações cambiais e, ao mesmo tempo, procurando conduzir uma leve desvalorização do Real em relação ao dólar, medida esta que daria um aumento de competitividade para os produtos e a indústria nacional no mercado externo, e por outro lado inibiria uma expansão excessiva de importações. Percebe-se esta política em ação quando analisamos a evolução da taxa cambial apresentada no gráfico 2, a seguir. Observando os dados, disponibilizados pelo BACEN para o ano de 2012, destaca-se no início do período, que a cotação do dólar estava em R$ 1,79 por dólar e que este valor foi se alterando ao 7 longo do ano. Depois de chegar a R$ 1,72 por dólar em fevereiro, a moeda brasileira sofreu sucessivas desvalorizações em relação ao dólar, até a atingir a cotação de R$ 2,08 por dólar em dezembro, o que representa uma desvalorização total de 16,2%, ao longo doa no, comparado à cotação vigente no mês de janeiro. Com base nesta evolução do mercado cambial, é possível afirmar que foi adotada uma política cambial de flutuação suja, pois, com intervenções limitadas, o Banco Central conduziu o processo de desvalorização do Real ao longo do ano. A questão maior para o banco Central consistia em não deixar a moeda nacional valorizar, para não prejudicar ainda mais as exportações e não permitir uma desvalorização forte, o que poderia estimular alta da inflação, com o aumento de preços dos insumos externos para a indústria local. Outro instrumento de política monetária muito empregado pelo governo brasileiro, no conjunto de estímulos à atividade econômica do país no ano de 2012, foi a taxa de juros, em especial, a redução da taxa básica de juros da economia, a taxa SELIC. Neste aspecto, a atuação do Banco Central atingia, basicamente, duas variáveis do sistema. No mercado de divisas, ao reduzir a taxa básica de juros da economia, ocorre uma redução na atratividade de capital internacional especulativo, que ingressa no país em busca da alta rentabilidade, até então proporcionada pela SELIC. Nestas circunstâncias, há um aumento de moeda estrangeira no país, mais dólares no mercado, forçando a valorização do Real, o que prejudica a indústria nacional ao tornar mais caro seu produto no mercado internacional. Ao mesmo tempo, com a redução da taxa básica de juros da economia, os agentes econômicos se veem obrigados a buscar alternativas de rentabilidade para o capital; sendo que o governo espera que os agentes busquem esta alternativa no setor produtivo, e não na esfera financeira, desta forma, ocorre um incentivo ao investimento produtivo. O gráfico 3, abaixo, demonstra claramente a trajetória de queda da taxa de juros SELIC ao longo de 2012. A taxa definida pelo Banco Central iniciou o ano em 10,5% ao ano, sofreu sucessivos cortes em dosagens que variaram entre 0,25 e 0,75 pontos percentuais, até terminar o mês de dezembro em 7,25% a.a.. Trata-se da menor taxa Selic da série histórica do Banco Central. Ocorreu uma redução de 3,75 pontos percentuais ao longo do ano, comparando o mês de dezembro de 2012 com dezembro de 2011 (11% a.a.). 8 No contexto de um conjunto de medidas expansionistas – políticas monetária, fiscal e cambial –, aplicadas pelo governo durante o ano de 2012 para estimular a atividade econômica, há um efeito colateral indesejado, ou seja, ocorre: o afrouxamento do sistema de metas para a inflação, que estabelece como centro da meta de inflação um índice de 4,5% para o ano, mas que também determina uma banda de trabalho que permite à equipe econômica trabalhar com um índice de inflação de até 2 pontos percentuais para cima (6,5%) ou para baixo (2,5%), a partir do centro da meta de inflação (que é de 4,5%). Numa conjuntura de desaceleração da atividade econômica, com possibilidade de recessão, o Comitê de Política Monetária admite que o sistema opere com uma inflação moderadamente maior (mas dentro do limite superior da banda, de 6,5%) por um prazo de tempo curto, no intuito de estimular a retomada do crescimento econômico do país. O gráfico 4.1, a seguir, apresenta os índices de inflação, mês a mês, do ano de 2012, com base nos dados divulgados pelo IBGE. No entanto, para efeito de análise da evolução da inflação, é mais interessante observar a inflação acumulada em 12 meses, tal como é apresentado no gráfico 4.2. O formato do gráfico 4.2, uma curva em U, demonstra que a inflação reduz seu ritmo de crescimento no primeiro semestre de 2012 e do meio do ano para frente aponta para uma tendência crescente do índice, terminando em 5,84%, em dezembro, ainda abaixo dos 6,22% registrados no mês de janeiro do mesmo ano. Apesar de estar acima do centro da meta para a inflação do ano (4,5%), o índice ainda está dentro do limite máximo de 6,5%, estipulado pelo regime de metas de inflação. De acordo com a linha de tendência linear do gráfico (observada no gráfico 4.2), há uma leve perspectiva de baixa da inflação ao longo do ano, que, espera-se, continue em 2013. 9 Na contramão dos demais índices de desempenho econômico do país, o mercado de trabalho apresentou números robustos durante todo o ano de 2012. Ponto positivo para o desempenho da economia brasileira. A taxa de desemprego, estimada pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE para o conjunto das 6 regiões metropolitanas estudadas, iniciou janeiro com taxa de 5,5% da população economicamente ativa, aumentou até o mês de março (6,2%), comportamento esperado, dada a redução no ritmo das atividades após o período de festas do final do ano, e então inicia-se um ciclo quase ininterrupto de quedas até chegar aos 4,6% verificados no mês de dezembro, sendo este o menor valor da série da pesquisa desde março de 2002. Comparado ao mês de dezembro de 2011 (4,7%), não houve variação. 10 Por fim, o comportamento da Balança Comercial Brasileira, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), apresentou no ano de 2012 um superávit de US$ 19,431 bilhões, valor muito abaixo do registrado no ano anterior (2011), quando registrou um superávit de US$ 29,794 bilhões. Observa-se que ocorreu uma redução de 34,8% no superávit comercial do país, ou seja, aproximadamente 10 bilhões de dólares a menos no saldo comercial do país. No ano, as exportações somaram US$ 242,580 bilhões, valor 5,3% menor, se comparado ao ano de 2011 (US$ 256,040 bilhões). As importações totalizaram US$ 223,149 bilhões, valor 1,4% menor do que o registrado em 2011 (US$ 226,246 bilhões). Os dados registram as dificuldades por que passa parte da economia mundial, com redução de taxas de crescimento em países importantes, em especial crise na Europa, e a conseqüente diminuição do fluxo de comércio exterior. Mesmo assim, o Balanço de Pagamentos do país (registro contábil de todas as transações do país com o exterior), no ano de 2012, segundo dados do Banco Central, apresentou superávit de US$ 19,9 bilhões, valor este, 67,8% menor se comparado com o observado em 2011 (US$ 58,637 bilhões). Os dados indicam, da mesma forma que ocorreu com a balança comercial, que também esta ocorrendo um menor fluxo de capitais em direção ao país. 11 Conselho Editorial: Adauto Roberto Ribeiro Cibele Roberta Sugahara Eduardo Frare Eduardo Leoni José Vicente de Souza Filho Pedro de Miranda Costa Silvia Regina Machado de Campos Comitê Editorial: Eliane Navarro Rosandiski (Editora Geral) Adauto Roberto Ribeiro (Editor Executivo) Centro de Economia e Administração (CEA) Diretor do CEA: Profa. Silvia Regina Machado de Campos Diretor Adjunto do CEA: Prof. José Vicente de Souza Filho Diretor da Faculdade de Administração Profa. Cibele Roberta Sugahara Diretor Adjunto da Faculdade de Administração (Comércio Exterior): Prof. Eduardo Leoni Diretor Adjunto da Faculdade de Administração (Logística e Serviços): Prof. Pedro de Miranda Costa Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas: Prof. Adauto Roberto Ribeiro Diretor da Faculdade de Ciências Contábeis: Prof. Eduardo Frare Pontifícia Universidade Católica de Campinas Reitora: Profa Angela de Mendonça Engelbrecth Vice-Reitor: Prof. Eduard Prancic Pró-Reitor de Graduação: Prof. Germano Rigacci Júnior Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação e Pró-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários: Profa. Vera Engler Cury Pró-Reitor de Administração: Prof. Ricardo Pannain Núcleo de Pesquisa e Extensão do CEA Coordenador: Prof. Candido Ferreira da Silva Filho Rodovia Dom Pedro I, km 136 Parque das Universidades - Campinas - SP CEP 13086-900 Telefone: (19) 3343-6776 Colaboradores Extensionistas Alunos da Faculdade de Ciências Econômicas Bruno Membrive Hugo Pedrosa Matheus Moretto Colaboradores Docentes Prof. Fábio Eduardo Iaderozza (CEA) Profa. Eliane Navarro Rosandiski (CEA) Prof. Izaias de Carvalho Borges (CEA) Assessoria e Divulgação: Departamento de Comunicação da PUC-Campinas [email protected] www.puc-campinas.edu.br/imprensa/boletim_economico