Jornal A Tarde, sexta-feira, 27/08/1993 Assunto: POLÍTICA PROBLEMAS DA FOME Debatemo-nos com uma multiplicidade de problemas: um deles, extremamente sério, o da fume. Esse atinge uma proporção elevadíssima da população e mobiliza muita gente. Mas há aspectos, nessa questão, que são, ao que parece, menos complicados, como o da produção e preço dos alimentos. Noticia-se agora, por exemplo, que vamos produzir, ainda este ano, mais soja. Este cereal tornou-se nos últimos tempos uma fonte primacial de divisas para o País, com sua exportação, e essas divisas são, por sua vez, indispensáveis para as importações de mercadorias essenciais. Fechar essa fonte é, assim, impensável. Mas temos outras, as quais podem ser fomentadas, pensando em que necessitamos produzir a custo razoável mais alimentos. (Entre parênteses: a política de exportação de bens “coloniais”, adotada pelas metrópoles imperialistas desde o século XVI, era ainda em 1960 preconizada pela CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) como o remédio para a crise na região). Seria o caso de uma política agrícola que tivesse em vista a necessidade de mais feijão, mais carne, mais trigo, mais açúcar e não sei quantos mais alimentos. Enquanto isso, continuamos a velha política de produzir mais para exportação do que para consumo da população, sendo, como somos cada dia mais, uma população em média paupérrima. E por falar nisto, carecemos de um plano bem-organizado, sério, de encorajamento e auxílio à produção que chamaria doméstica, nas peque nas roças e quintais para provimento das famílias, suprindo, exigências cotidianas de aves, de raízes e frutas, de grãos. Tudo isso é realista e prático, embora Já pareça tarefa, por exemplo, para um ministério, temos as secretarias de Agricultura dos estados. Estas bem se podem ocupa, de planos como tais, inclusive distribuindo sementes, ensinando técnicas, regadio, adubação, mesmo custeio honesto desses plantios e fiscalizando o aproveitamento das colheitas. Nada utópico, nada técnico. A situação é tal no País, que precisamos sair do convencional e tradicional para o imediatamente produtivo e realista. Quanto se perde entre nós porque falta transporte, que deve ser prioritário, para os alimentos, por deficiência de armazenamento, justamente para o feijão, a cebola, o arroz!... Os ministérios e as secretarias de Agricultura, de Economia, de Planejamento deviam estar juntos, planejando, sem muitas complicações, a ação nesse sentido. Não temos tempo a perder. Necessitamos de mais espírito prático no particular e menos palavras. Enquanto isso, maior controle da grande agricultura da soja e de outros produtos alimentícios indispensáveis à exportação e mesmo a nosso gado para que a carne, os ovos sejam mais abundantes e sadios para nossa gente, para os pobres, os miseráveis. Não fosse desrespeitoso para os que agora agem com reta intenção, seria o momento de um “basta” ao palavreado e uma tomada de resolução em ordem a soluções práticas, concretas desses problemas. Mais alimentos nos mercados, nas feiras! Alimento abundante ou, ao menos, suficiente, e barato, acessível.