Resumo Aula-tema 05: Crises Cambiais e a Experiência Latino-americana na Década de 1990 Nesta Aula-tema, serão analisadas as crises cambiais e a experiência latinoamericana na década de 1990. Mas, para dar continuidade sobre esse assunto, precisa-se entender o conceito de âncora cambial e retomar alguns pontos abordados na aula-tema 04 sobre macroeconomia e o seu funcionamento. Conforme visto na Aula-tema 04, se a macroeconomia representa a economia como um todo, dentro de seus estudos estão a política cambial e os regimes cambiais adotados pelos países, bem como a influência dessas políticas junto a fatores financeiros como taxas de juros, taxa de inflação e a economia em geral. A política cambial pode ser definida como as políticas adotadas pelos governos para gerenciar sua taxa de câmbio, adotando estratégias para que, através dela, a economia de seu país evolua positivamente. A ideia de “evolução positiva” dependerá muito de cada governo e das metas econômicas traçadas por cada um. Se a taxa de câmbio é “o preço que se paga para trocar uma moeda pela outra”, os países necessitam de estoques de moedas fortes para garantir a estabilidade monetária e, assim, viabilizar suas transações comerciais com o resto do mundo. Mas para que consigam estocar moedas fortes, necessitam aumentar suas trocas comerciais através das exportações e importações. Em outras palavras, é necessário então um equilíbrio de sua taxa de câmbio através das exportações e importações que realizam. Os governos, em busca da manutenção desse equilíbrio, adotam modelos diferentes de regimes cambiais para direcionar suas taxas de câmbio em busca do melhor funcionamento de seus mercados. Antes de analisar mais detalhadamente os diferentes regimes cambiais e focar no assunto desta aula-tema, faz-se necessário o entendimento do conceito de âncora cambial. A âncora pode ser definida como a fixação do valor de uma ou mais variáveis da economia. © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. Segundo Gremaud e Braga (2010, p. 102), nos anos 70 e 80 a maioria dos países em desenvolvimento decidiu “congelar” algumas variáveis econômicas para controle da altíssima inflação de suas economias, utilizando, inicialmente, a ancoragem das variáveis preço e salário (como foi o caso brasileiro do congelamento dos preços e salários no Plano Cruzado) até que, mais tarde, decidiram fixar a taxa de câmbio. Daí o nome de âncora cambial. Ainda segundo Gremaud e Braga, a realidade dos países apresenta uma variedade de regimes cambiais muito além do que aqueles já conhecidos (flutuante, fixo e de bandas cambais), destacando: Intervenção do governo visando estabilidade cambial por um prazo indefinido; Currency board; Câmbio fixo com reajustes sistemáticos; Câmbio totalmente livre de intervenções; “Flutuação suja”, ou dirty floating; Intervenção governamental para que a taxa de câmbio seja compatível com determinadas metas governamentais (como metas inflacionárias); Bandas simétricas, com limites máximo e mínimo; Bandas assimétricas, quando se estipula somente um dos limites, ou o máximo ou o mínimo; Adoção de outra moeda como moeda local; União monetária com outros países. Dentre os modelos destacados e que diferem (ou que não são subdivisões) daqueles já discutidos em aula anterior, estão o currency board, o dirty floating e a adoção de outra moeda. No modelo de currency board, que também é um regime de câmbio fixo, o país fixa sua taxa de câmbio com uma moeda estrangeira forte e só pode emitir moeda nacional se houver a mesma quantidade de moeda estrangeira em estoque, assegurando sua conversibilidade e proporcionando credibilidade em sua política cambial, uma vez que a moeda nacional está lastreada à moeda estrangeira (Ex.: Argentina). Era como no antigo sistema de lastro em ouro, ou padrão-ouro. O ouro, à © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. sua época, era considerado a moeda aceita mundialmente, e os títulos só eram emitidos caso houvesse o mesmo valor em ouro para troca. A grande vantagem da adoção desse tipo de regime cambial é a credibilidade na política cambial do país. A desvantagem é que o governo não pode emitir moedas sem que haja lastro em moeda internacional, o que diminui a alavancagem financeira para financiamento de gastos, restringindo o desenvolvimento de suas empresas. O regime de currency board foi adotado na Argentina, nos anos 90, como forma de controlar a inflação herdada das crises dos anos 70 e 80. Essas crises acarretaram altos endividamentos aos países da América Latina, diminuindo suas entradas de recursos externos devido à falta de credibilidade por parte do restante do mundo, comprometendo suas taxas de crescimento e provocando um aumento significativo da inflação. Um dos fatores que levou ao fracassou o regime adotado pela Argentina foi que, com a dolarização, seus produtos se tornaram caros, e suas empresas, incompetitivas (Oliveira, 2003). O dirty floating, ou “flutuação suja”, é quando o governo adota o regime de câmbio flutuante (que teoricamente não deveria sofrer intervenções do governo), mas acaba interferindo – de forma não antecipada – quando essa taxa de câmbio oferece algum risco para sua economia. Não existindo essa necessidade, a taxa flutua livremente. A adoção de outra moeda, também definida como ancoragem extrema, é o regime mais radical de ancoragem cambial, como foi o caso da Argentina e do Equador nos anos 90, com a dolarização de suas economias. Neste caso, pode haver a substituição da moeda local pela moeda estrangeira, ou simplesmente a moeda nacional fica fixa em relação ao dólar, em uma paridade de 1 para 1. Em ambos os casos, o governo perde o poder de fazer política monetária, adequando-se à política americana. A vantagem é a utilização de uma moeda forte, estável e com baixo índice de inflação. O Brasil adotou o regime cambial fixo por bandas, sendo assimétricas inicialmente (quando se fixava a taxa de câmbio abaixo de um teto máximo), e © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. depois simétricas (estabelecendo limites mínimo e máximo para flutuação). Após o ano de 1999, o Brasil adotou o regime de “flutuação suja”, rompendo com sua política de âncora cambial (GREMAUD, 2010). Conceitos Fundamentais Lastro – em economia, lastro é o depósito em ouro que serve de garantia ao papelmoeda. Paridade – a definição econômica para paridade é a equivalência ao curso cambial das moedas entre dois países ou duas praças cambiais. Plano Cruzado – plano econômico vigente no Brasil no ano de 1986, no governo do presidente José Sarney, que tinha como principais medidas o congelamento dos preços, dos salários e da taxa de câmbio. Referências CARVALHO, M. A.; SILVA, C. R. L. Economia internacional. 4.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. CAVES, R. E.; FRANKEL, J. A.; JONES, R. W. Economia internacional. São Paulo: Saraiva, 2001. ECONOMIA NET. Dicionário de Economia. Disponível em: <http://www.economiabr.net/dicionario/>. Acesso em: 22 set. 2011. GREMAUD, A. P.; BRAGA, M. B. Crises cambiais e a experiência latino-americana na década de 1990. In: LANZANA, A. E. T. et al. VASCONCELLOS, M. A. S.; LIMA, M.; SILBER, S. (Orgs.). Gestão de negócios internacionais. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. OLIVEIRA, G. C. Liberalização, desregulamentação e currency board: a experiência argentina na década de 1990. Revista FAE, Curitiba, v.6, n.2, p.39-51, maio/dez. 2003. © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional. PRIBERAM. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 22 set. 2011. © DIREITOS RESERVADOS Proibida a reprodução total ou parcial desta publicação sem o prévio consentimento, por escrito, da Anhanguera Educacional.