A formação do enfermeiro na visão dos acadêmicos de enfermagem

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ISSN: 1981-8963
DOI: 10.5205/reuol.4656-38001-2-SM.0707201321
Donoso MTV, Rosa EG, Borges EL.
Perfil dos pacientes com pé diabético de um…
ARTIGO ORIGINAL
PERFIL DOS PACIENTES COM PÉ DIABÉTICO DE UM SERVIÇO PÚBLICO DE
SAÚDE
PROFILE OF PATIENTS WITH DIABETIC FOOT AT A PUBLIC HEALTH CENTER
PERFIL DE PACIENTES CON PIE DIABÉTICO DE UN CENTRO DE SALUD PÚBLICA
Miguir Terezinha Vieccelli Donoso1, Elizabeth Geralda Rosa2, Eline Lima Borges3
RESUMO
Objetivo: caracterizar o perfil dos pacientes diabéticos atendidos em um ambulatório de referência para
pessoas diabéticas, com lesões em membros inferiores. Método: estudo transversal descritivo, com 331
pacientes diabéticos com lesões nos membros inferiores, que foram submetidos à avaliação do profissional
enfermeiro. Para coleta de dados utilizaram-se formulário e o prontuário do paciente, submetidos à dupla
digitação por pessoas independentes. Foi empregado o Programa Statistical Package for the Social Science
(SPSS) para gerar análises de frequências de variáveis categóricas e médias de outros tipos de variáveis. Este
estudo teve o projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética, sob o protocolo nº 68/08. Resultados:
entre os pacientes, 51,0% eram mulheres, a maioria idosa, casadas ou em união estável e com baixa
escolaridade. A maioria deambulava e apresentava história de úlcera prévia, 17,5% claudicavam, 4,8%
referiam dor em repouso e 26,9% haviam amputado parte de um membro inferior. Conclusão: o exame físico
do paciente diabético deve incluir avaliação minuciosa dos pés e o enfermeiro desempenha papel
fundamental nesse processo. Descritores: Pé Diabético; Enfermagem; Complicações do Diabetes.
ABSTRACT
Objective: to characterize the profile of diabetic patients cared for at an outpatient clinic for diabetic
people with injuries in the lower limbs. Method: descriptive, cross-sectional study with 331 diabetic patients
with injuries in the lower limbs, who were referred to the evaluation of professional nurses. For data
collection, we used a form and the patients' records, submitted to double typing by independent people. We
applied the software Statistical Package for the Social Science (SPSS) to analyze the frequency of categorical
variables and averages of other types of variables. The research project was approved by the Ethics
Committee, under Protocol No. 68/08. Results: Among the patients, 51.0% were women, most of them older
adults, married or living with a partner in a stable relationship, and with low level of education. Most of them
walked and had history of previous ulcer, 17.5% claudicated, 4.8% reported pain at rest, and 26.9% had
amputated part of a lower limb. Conclusion: the physical examination of diabetic patients should include
thorough evaluation of the feet and nurses play key a role in this process. Descriptors: Diabetic Foot;
Nursing; Complications of Diabetes.
RESUMEN
Objetivo: caracterizar el perfil de los pacientes diabéticos atendidos en un centro ambulatorio para personas
diabéticas, con lesiones en las extremidades inferiores. Método: estudio descriptivo, transversal con 331
pacientes diabéticos con lesiones en las extremidades inferiores, sometidos a la evaluación del enfermero
profesional. Para la recopilación de datos se utilizaron un formulario y los registros de los pacientes,
sometidos a doble digitación por personas independientes. Se empleó el programa Statistical Package for the
Social Science (SPSS) para analizar la frecuencia de variables categóricas y promedios de otros tipos de
variables. Este proyecto de investigación fue aprobado por el Comité de Ética, bajo el Protocolo N° 68/08.
Resultados: entre los pacientes, 51.0% eran mujeres y la mayoría tenía edad avanzada, casadas o en unión
estable y con baja escolaridad. La mayoría caminaba y poseía antecedentes de úlcera anterior, 17,5%
claudicaban, 4,8% afirmaba tener dolor en reposo y 26,9% había amputado parte de un miembro inferior.
Conclusión: el examen físico del paciente diabético debe incluir una evaluación cuidadosa de los pies y los
enfermeros juegan un papel clave en este proceso. Descriptores: Pie Diabético; Enfermería; Complicaciones
de la Diabetes.
1
Enfermeira, Estomaterapeuta, Fundação Hospitalar de Minas Gerais/FHEMIG, Belo Horizonte (MG), Brasil. Email:
[email protected]; 2Enfermeira, Porfessora Doutora em Enfermagem Fundamental, Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG,
Belo Horizonte (MG), Brasil. [email protected]; 3Enfermeira, Professora Doutora em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Minas
Gerais/UFMG, Belo Horizonte (MG). Brasil. [email protected]
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INTRODUÇÃO
Os problemas nos pés de pacientes
diabéticos advêm da aterosclerose e da
neuropatia
periférica.
A
aterosclerose
geralmente leva à isquemia e a neuropatia
causa alterações motoras, sensitivas e
autonômicas. As alterações motoras se
caracterizam pela atrofia secundária dos
músculos esqueléticos nas pernas e pés. As
alterações sensitivas ocasionam a diminuição
da sensibilidade dolorosa e proprioceptiva.
Nas alterações autonômicas são percebidas a
diminuição da sudorese, que leva ao
ressecamento e surgimento de fissuras na
pele e alteração do fluxo sanguíneo.1 O
desenvolvimento das úlceras nos pés está
relacionado a fatores que formam uma tríade
crítica
composta
pela
neuropatia,
deformidade e traumatismos leves.2
Em Belo Horizonte–MG não há estudos
sobre prevalência de diabetes melitus e suas
complicações na população. Entretanto,
existe um dado fornecido pela Gerência de
Atenção ao Adulto da Secretaria Municipal de
Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte (SMSAPBH), que revela que em 2004, no grupo de
pacientes diabéticos, houve uma porcentagem
quase equivalente de amputações no nível da
coxa em comparação às amputações de dedos
dos pés, que foram de 31% e 33%,
respectivamente.
Segundo classificação do Ministério da
Saúde, o grau para desenvolvimento de
úlceras dos pés caracteriza-se como Risco
zero para neuropatia ausente, Risco I para
neuropatia presente sem deformidades, Risco
II para neuropatia presente, deformidades
e/ou doença vascular periférica ou Risco III
caracterizado
por
presença
de
3
úlcera/amputação prévia.
Apesar da existência de um fluxo
determinando que apenas os pacientes
diabéticos que apresentem grau de Risco II ou
III devam ser encaminhados para o centro de
referência para tratamento de pés diabéticos,
cenário desse estudo, tem-se observado na
consulta de enfermagem que uma parte dos
pacientes encaminhados pelas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) ou pelos hospitais não
se enquadra naqueles critérios de risco.
Muitos pacientes encaminhados apresentam
calos, micose de pele e unhas e Risco zero
(neuropatia ausente) ou Risco I (neuropatia
presente
sem
deformidades),
o
que
caracteriza ausência de risco ou baixo risco.
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infecções profundas e extensas com
repercussão
hemodinâmica,
inclusive
pacientes em pós-operatório de amputações,
revascularização ou desbridamento com sinais
de complicações na lesão operatória,
infecção, necrose ou exposição óssea. A
situação descrita suscita dúvidas sobre o real
perfil dos pacientes diabéticos atendidos no
centro de referência, cujo serviço foi
reestruturado há vários anos.
Dessa forma, esse estudo objetiva
caracterizar o perfil dos pacientes diabéticos
atendidos no ambulatório de referência para
pessoas diabéticas com lesões em membros
inferiores. Os resultados poderão subsidiar
discussões junto a Secretaria Municipal de
Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte para
avaliação da linha de cuidados em cirurgia
vascular, com ênfase na atenção ao paciente
diabético com lesões em membros inferiores.
MÉTODO
Trata-se de um estudo transversal
descritivo, realizado em ambulatório de
atendimento a pessoas diabéticas com lesões
em membros inferiores. A população foi
composta
pelos
pacientes
diabéticos
cadastrados e atendidos por enfermeiros em
um período de 12 meses e a amostra foi
constituída
pelos
prontuários
desses
pacientes, totalizando 331 prontuários. Nesse
estudo, a amostra correspondeu à população.
Para a caracterização dos pacientes,
utilizaram-se as seguintes variáveis: sexo;
idade; raça/cor; estado civil; situação
familiar;
escolaridade;
ocupação;
e
procedência. Para avaliação dos membros
inferiores dos pacientes, analisaram-se as
variáveis:
mobilidade;
claudicação
intermitente; dor em repouso; úlcera prévia;
amputação prévia e seu nível; presença de
calos, fissuras, deformidades e seus tipos;
sensibilidade protetora plantar; micose
plantar, interdigital ou onicomicose; e sinais
de insuficiência venosa e arterial. Para
caracterizar a lesão ativa, avaliaram-se as
variáveis: número de lesões; tempo de
existência; área lesada; fator desencadeante;
localização; etiologia; perda tecidual; e
presença de sinais clínicos de infecção.
Observa-se,
paralelamente,
o
encaminhamento de pessoas com lesões muito
graves associadas à isquemia crítica ou a
Para coleta de dados, utilizaram-se
formulários contendo itens sobre o perfil
sócio-demográfico
do
paciente,
suas
condições de saúde e características dos
membros inferiores e da lesão. Os dados
foram extraídos do prontuário do paciente e
submetidos à dupla digitação por pessoas
independentes, checando-se possíveis erros
nesse processo. Foi empregado o Programa
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Statistical Package for the Social Science
(SPSS) para gerar análises de frequências de
variáveis categóricas e médias de outros tipos
de variáveis.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelos
Comitês de Ética e Pesquisa da Universidade
Federal de Minas Gerais/UFMG, Parecer nº
68/08 e da Secretaria Municipal de Saúde da
Prefeitura de Belo Horizonte, Parecer no
023/2008, respeitando-se os princípios que
orientam a realização de pesquisa envolvendo
seres humanos, conforme resolução do
Conselho Nacional de Saúde 196/96.
RESULTADOS
Dos 331 pacientes, 162(48,9%) pertenciam
ao sexo masculino e 168(50,8%) ao feminino.
Quanto à faixa etária, 217(65,6%) pacientes
tinham mais de 60 anos, sendo que a maior
concentração estava na faixa de 60 a 69 anos
(30,8%). A idade variou entre 27 e 94 anos,
com média de 64 anos (± 11,8%). Grande
parte dos pacientes tinha pele de cor branca
(42%), seguida da parda (35,3%) e negra (20%).
Constatou-se que 131 (39,6%) eram casados
ou mantinham união estável. Esse dado não
estava registrado no prontuário de 120
(36,3%) pessoas. A maioria (87,6%) convivia
com familiares, mas 35 pacientes (10,6%)
viviam sós. Apenas três (0,9%) pacientes
possuíam ensino superior completo, 132
(39,9%)
tinham
ensino
fundamental
incompleto e 126(38,1%) eram analfabetos,
caracterizando uma população de baixa
escolaridade. Grande parte da amostra era
composta por aposentados ou pensionistas
(48,6%), seguidos de pacientes formalmente
ativos (29,3%). Quatro pacientes (1,2%)
encontravam-se em licença médica e 56
estavam desempregados (16,9%). A grande
maioria (86,1%) era proveniente do município
de Belo Horizonte, 38 (11,5%) tinham sido
encaminhados pelos municípios da região
metropolitana de Belo Horizonte e sete (2,1%)
do interior de Minas Gerais.
A
maioria
dos
pacientes
(94,0%)
deambulava,
apesar
de
que
23,9%
necessitavam de algum tipo de apoio para
fazê-lo
e
18
pacientes
(5,4%)
não
deambulavam. Contudo, as queixas relativas à
claudicação intermitente foram relatadas por
58 pacientes (17,5%), enquanto 16(4,8%)
apresentavam dor em repouso.
Histórias de úlcera prévia e de amputação
de parte de membro inferior foram positivas
para 206 (62,2%) e 89 (26,9%) pacientes,
respectivamente. Lembra-se que quando há
amputação prévia, o nível dessa intervenção é
classificado em maior quando ocorreu na
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região transmetatarsiana ou acima e menor,
quando
foi
abaixo
da
articulação
metatarsiana. As amputações foram em nível
menor em 59 pacientes (65,6%) e em nível
maior em 25 (27,8%).
Quanto às condições dos pés, 157 pacientes
(47,4%) apresentavam calos ou fissuras e 117
(35,4%) deformidades, sendo as mais
frequentes dedos em garra (56,4%), valgismo
de hálux (14,5%) e dedos em martelo (10,3%).
A sensibilidade protetora dos pés estava
ausente em 104 pacientes (31,4%) e a maioria
(74,9%) apresentava micose nos pés. Sinais de
insuficiência arterial e venosa estavam
presentes em 143 (43,2%) e 172 (52,0%)
pacientes, respectivamente.
No momento da primeira avaliação, 280
pacientes (84,6%) apresentavam ferida ativa,
variando de uma a seis lesões. Dos pacientes
com lesão, 230(72,5%) apresentavam uma
lesão e 62 (22,1%) duas lesões. Os demais
apresentavam três (2,9%), quatro (2,1%) ou
seis (4,0%) lesões. Considerando-se o tempo
de existência das lesões, essas apresentavam
menos de um mês de existência (35,0%) e de
um a quatro meses (38,9%), incluindo até três
pacientes (1,1%) que apresentavam lesão
havia mais de 120 meses. A área das lesões
variou de menos de 50 cm2 a mais de 250 cm2,
sendo
que
244
pacientes
(87,1%)
apresentavam área inferior a 50 cm² e
25(8,9%) com lesões de área de 50 a 150 cm².
Poucos apresentavam grandes lesões com área
entre 15 e 250 cm² (1,4%). Esse dado
encontrava-se ausente em um prontuário.
A localização das lesões era diversa, sendo
essas encontradas na região da perna (28,2%),
artelhos (25,4%), região plantar (15,7%),
laterais (14,3%) ou dorso do pé (13,6%). A
maioria desses pacientes (61,8%) apresentava
lesões classificadas em profunda parcial
(61,8%), profunda total (15,3%) ou superficial
(22,1%). Esse dado não estava registrado em
dois prontuários. Os sinais clínicos locais de
infecção foram apresentados por 71 pacientes
(25,4%).
Quanto à etiologia das lesões, a maioria
dos pacientes (71,8%) não apresentava este
registro no prontuário. Dos que apresentavam
etiologia da lesão definida (24,3%), 20,0%
eram cirúrgicas, 2,1%, neuropáticas, 0,4%
microangiopáticas e 1,4% correspondia a
lesões venosas. Em relação ao risco do pé
para apresentar lesão, este dado não foi
registrado no prontuário de 322 pacientes
(97,3%). Nos prontuários com registro,
constatou-se
risco
zero,
I
e
III,
respectivamente em cinco pacientes (1,5%),
em três (0,9%) e em um paciente (0,3%).
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DISCUSSÃO
As
variáveis
sociodemográficas,
juntamente com a história clínica e a
avaliação de risco para complicações nos pés,
são elementos que contribuem para se
identificar fatores desencadeantes para
formação do pé diabético.4 Nesse estudo não
foi observado variação significante entre os
sexos. No entanto, outros estudos apontam
para o predomínio desse agravo no sexo
masculino.5,6 A idade média dos pacientes
desse estudo foi de 64 anos. A idade próxima
de 60 anos reitera a evolução insidiosa do
diabetes melitus e suas complicações.
Considerando-se que a maioria dos pacientes
encontrava-se na faixa etária acima de 60
anos, muitos já estavam aposentados,
condição já identificada na literatura.7
No que se refere à cor dos pacientes, 42%
eram brancos, resultado muito inferior aos
88% dos pacientes avaliados em pesquisa
sobre pessoas com pé diabético.8 A maioria
dos pacientes (84,6%) apresentava lesão ativa
nos membros inferiores e provavelmente
necessitaria de repouso para recuperação. No
entanto, 29,3% estavam empregados e apenas
1,2% encontravam-se em licença médica. Tais
dados levam a supor que a baixa porcentagem
de pacientes trabalhadores em licença médica
deve-se à falta de seguridade social e/ou
possível redução salarial decorrente da
licença médica.
O suporte familiar é fundamental no
cuidado ao paciente diabético, pois ele é um
aliado para aquisição de orientações de saúde
adequadas e no processo de enfrentamento
da doença.9 No entanto, o fato do paciente
viver em companhia de familiares (88,8%),
fossem companheiros, filhos ou outros, não
diminuiu a ocorrência de complicações, uma
vez que 87,6% dos pacientes desenvolveram
complicações variadas.
Neste estudo foi constatado um percentual
em torno de 47% de analfabetismo ou baixa
escolaridade, constituindo-se um fator
agravante para o desenvolvimento de
complicações crônicas do diabetes, pela
limitação do acesso a informações. Contudo,
estes resultados não correspondem à situação
da região sudeste quando comparados aos
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), nos quais se identificou que
em 2008, 15,8% da população eram
analfabetos.10
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encaminhamento de 13,6% dos pacientes para
Belo Horizonte, onde se dispõe de serviços
especializados no atendimento de pacientes
com esse agravo. A capacidade para
deambular, observada em 70% dos pacientes
constitui um aspecto importante para a autosuficiência. A mobilidade inadequada da
pessoa com diabetes pode desencadear ou
agravar lesões no pé.11
A claudicação intermitente é uma das
manifestações clínicas de insuficiência
arterial periférica que, na grande maioria dos
casos, tende a se localizar na panturrilha,
quando há estenose ou obstrução arterial.12
Essa manifestação foi relatada por 17,5% dos
pacientes desse estudo. A dor em repouso
traduz um estado crítico circulatório em
termos arteriais e corresponde ao estágio 3 na
escala de Fontaine. Esse estágio precede a
ulceração ou gangrena ou corresponde ao
índice de pressão tornozelo-braço (ITB) de
0,13 a 0,39.13 Dentre os pacientes estudados,
44,8% apresentaram dor em repouso.
A alta porcentagem de pacientes com
úlcera prévia (62,2%) obtida pode ser
atribuída à falta de especificidade do dado na
consulta de enfermagem, que possivelmente
inclui
toda
e
qualquer
úlcera,
independentemente de sua etiologia e
localização.
Nesse estudo, amputações de membros
inferiores ocorreram em quase 27% dos
pacientes. A amputação de membro constitui
a mais temida e dispendiosa complicação de
uma lesão de pé.14 A perda de sensibilidade,
as deformidades nos pés e a mobilidade
articular limitada podem resultar em carga
biomecânica anormal do pé. Como resposta
normal, um calo é formado devido ao
excessivo
estresse
mecânico.
Já
o
comprometimento autonômico interfere na
sudorese dos pés, ressecando-os e, dessa
forma, predispondo-os a fissuras.11 A
ocorrência de calos e fissuras foi significativa
neste estudo (47,4%).
A provável inexistência de serviços
secundários de atenção a pacientes com pé
diabético em diversos municípios ou nas
cidades-pólo de Minas Gerais pode justificar o
Dentre as deformidades encontradas nos
pacientes estudados destacaram-se os dedos
em garra, com 56,4% dos pacientes. A
neuropatia leva a insensibilidade, e,
subsequentemente, à deformidade do pé,
com a possibilidade de desenvolver uma
marcha anormal.15 A perda de sensibilidade é
importante
fator
preditivo
de
16
desenvolvimento de úlceras nos pés, uma
vez que, devido à falta de resposta dolorosa,
a neuropatia periférica favorece a repetição
de traumas no tecido, contribuindo para o
desenvolvimento de lesões. Constatou-se essa
alteração em quase 65% da amostra. Já a
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micose esteve em quase 75% dos pacientes
desse estudo. Infecções fúngicas em pacientes
diabéticos frequentemente evoluem para
complicações,
sendo
seu
tratamento
17
imprescindível.
Neste estudo, mais de 43% dos pacientes
apresentavam sinais de insuficiência arterial.
Quando detectada a doença arterial
obstrutiva periférica no paciente diabético,
dois pontos devem ser cuidadosamente
observados: se o paciente tem um quadro
estável de claudicação intermitente e se há
presença de isquemia grave com associação
de lesão trófica e infecção.18
A avaliação dos membros inferiores
também envolveu a identificação dos sinais de
insuficiência venosa, uma vez que alguns
pacientes atendidos pela equipe do centro de
referência apresentavam sinais clínicos desse
agravo. O encaminhamento para o centro de
referência daqueles pacientes com sinais de
insuficiência venosa se deve, provavelmente,
ao fato de que a classificação de risco de
úlcera utilizada pelo serviço define como risco
II os pacientes com sinais de doença vascular
periférica, o que pode incluir insuficiência
venosa. Essa classificação foi revisada em
2006 pelo Ministério da Saúde, que
estabeleceu que, para o risco II, os sinais
devem referir-se à doença arterial periférica.
Entretanto, esta mudança ainda não havia
sido adotada pelo serviço em questão.
Quanto à área das úlceras, a maioria
apresentava área inferior 50 cm2, sendo essa
área pequena compatível com úlceras de
origem neurotrófica, dado confirmado em
pesquisa semelhante.19 O trauma foi a
principal causa do desencadeamento de lesão
nesse estudo. Outro dado relevante refere-se
ao fato de que quase 16% dos pacientes foram
admitidos no serviço após alta hospitalar, com
lesões cirúrgicas abertas devido à amputação,
ao desbridamento, ou ambos. O pé insensível
por neuropatia não ulcera espontaneamente,
ou seja, causas traumáticas encontram-se
associadas, como por exemplo, uso de
calçados inadequados e agressões térmicas ou
mecânicas.20
Nesse estudo, a região do pé mais
acometida foi a dos artelhos (25,4%).
Deformidades
ósseas
nas
cabeças
metatarsianas do antepé representam áreas
de excessiva pressão na superfície plantar na
fase da marcha.4 A presença de lesão nas
pernas foi identificada em 28,2% dos
pacientes. A porcentagem obtida foi
decorrente da presença de úlceras de
etiologia venosa e lesões provenientes de
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Perfil dos pacientes com pé diabético de um…
amputações e/ou desbridamentos, presentes
nas diversas regiões da perna.
Aproximadamente 25% dos pacientes
apresentavam lesões com sinais de infecção.
Alterações na circulação e neuropatia
periférica fazem com que a ocorrência de
infecção seja mais frequente no paciente
diabético, sendo seu controle mais difícil.21
Quanto à profundidade, predominaram as
lesões classificadas como lesões com perda
parcial (61,8%).
Pela história socioeconômica e clínica dos
pacientes associada aos exames gerais,
neurológicos e vasculares específicos dos pés
são detectados fatores de risco que os
pacientes apresentam para desenvolvimento
de úlceras. Podem-se utilizar graus de risco
para classificar pacientes diabéticos, sendo
que esse grau está associado ao risco de
ulceração, necessidade de hospitalização e de
amputação.22
Apesar da importância de se classificar o
risco de instalação de úlcera, apenas 2,7% dos
pacientes tinham classificação de risco
registrada no prontuário. A classificação
permite identificar quais e quantos pacientes
apresentam desde ausência de risco adicional
até alto risco de úlcera. A partir destes dados,
é possível estruturar um sistema gradual de
assistência
que
possa
atendê-los
e
acompanhá-los
de
forma
contínua
e
preventiva,
em
detrimento
de
um
atendimento
puramente
emergencial,
priorizando aqueles que apresentam alto
risco. Lembra-se que no cuidar em
enfermagem configura-se a essência do agir
nessa profissão.23
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ocorrência do que se nomeia como pé
diabético encontra-se interligada a situações
socioeconômicas,
além
dos
fatores
predisponentes e associados à doença de
base. A provável inexistência de serviços
secundários de atenção a pacientes com pé
diabético em diversos municípios favorece
complicações e intervenções mais invasivas,
como a amputação.
Sinais e sintomas do paciente com pé
diabético, como dor em repouso, claudicação
e presença de úlcera, devem ser valorizados e
investigados para possível intervenção. A
neuropatia diabética leva a insensibilidade do
membro, e, subsequentemente a várias
intercorrências que muitas vezes culminam
com a amputação do pé. O exame físico do
paciente diabético deve incluir avaliação
minuciosa dos pés, o que nem sempre
acontece, sendo que o enfermeiro, como
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cuidador desempenha papel fundamental
nesse processo. A equipe interdisciplinar deve
trabalhar em sintonia, atendendo a pessoa
com pé diabético criteriosamente e intervindo
na prevenção desse agravo.
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Submissão: 05/03/2012
Aceito: 08/05/2013
Publicado: 01/07/2013
Correspondência
Miguir Terezinha Vieccelli Donoso
Escola de Enfermagem
Universidade Federal de Minas Gerais /
Campus Saúde
Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / Sala 216
Bairro Santa Efigênia
CEP: 30130-100  Belo Horizonte, (MG), Brasil
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