ABORDAGEM HOLÍSTICA DO PACIENTE DIABÉTICO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Ana Cláudia Ribeiro1 Geise Cristine Espindola2 Ana Paula Ferreira Maciel3 Patrícia Helena Costa Mendes4 O Diabetes Mellitus (DM) é um dos problemas mundiais de saúde mais importantes da atualidade, por ser uma doença com elevada incidência, prevalência, além de morbidade e mortalidade. O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica de alta prevalência. De acordo com a Federação Internacional de Diabetes (IDF), há no mundo 6% da população acometida pela doença, o que corresponde a cerca de 240 milhões de pessoas. No Brasil, o último Censo Nacional de Diabetes, realizado em 1988, revelou que 7,6% a população urbana entre 30 e 69 anos possuía DM (MAGALHÃES et al., 2012). O paciente diabético é vítima de várias complicações decorrentes da progressão da doença, uma vez que é uma doença plurimetabólica que afeta vários sistemas do organismo. Nessa direção, vários autores preconizam que, para qualificar o cuidado ao paciente diabético, há necessidade de buscar estratégias efetivas mediante uma abordagem integral, envolvendo avaliação nutricional, odontológica, médica, psicológica e realização de grupos operacionais para o auto-cuidado em educação continuada. Assim, a abordagem holística do paciente diabético deve ser uma das ações desenvolvidas nas Unidades Básicas de Saúde, pois a Estratégia Saúde da família (ESF) é o principal programa para prevenção de doenças e promoção da saúde em âmbito nacional (OCHOA & VIGO K, 2005). Este presente relato tem o objetivo de descrever as atividades desenvolvidas durante o projeto “Cuidando do diabético na ESF Independência”. Acadêmicos dos cursos de medicina, enfermagem, odontologia, biologia e educação física do PET-Saúde da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, atuantes nas Estratégias Saúde da Família do bairro Independência I e III juntamente com os profissionais de saúde dessas áreas de abrangência desenvolveram o projeto preocupados com a qualidade de vida e a necessidade de abordarem holisticamente o paciente diabético. 1 Acadêmica do curso de graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. Acadêmica do curso de graduação em Medicina pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 3 Especialista em Saúde da Família, Enfermeira e preceptora do PET-Saúde Independência III da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 4 Mestre em Ciências da Saúde, Cirurgiã Dentista e preceptora da Residência Saúde da Família da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 2 234 O Projeto foi operacionalizado em Outubro de 2011 na Unidade de Saúde Independência I e III. As atividades foram iniciadas com o desenvolvimento de grupos operativos sobre 3 temas pertinentes à saúde dos diabéticos: 1) Alimentação e Atividade Física 2) Cuidado com os pés e 3) Administração de Insulina. Houve também aferição da glicemia capilar, distribuição de moldes de aplicação de insulina, consultas médicas e odontológicas individuais. Foram realizadas 36 consultas com pacientes DM tipo 1 e 2, descompensados e controlados. Os atendimentos aconteceram segundo as normas preconizadas pelo Ministério da Saúde e pelas linhas-guias da Secretaria de Estado da Saúde Minas Gerais, com avaliação integral do paciente incluindo avaliação sensitiva e motora e encaminhamentos a especialistas, principalmente oftalmologia e endocrinologia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). O cuidado com os pés foi uma das ações mais abordadas pelo projeto, uma vez que a neuropatia diabética está entre uma das mais frequentes complicações do diabético e, muitas vezes, negligenciada na abordagem do paciente. O pé diabético é caracterizado pela presença de lesões nos pés em decorrência das alterações vasculares e/ou neurológicas peculiares do DM. Trata-se de uma complicação crônica que ocorre em média após 10 anos de evolução do DM e é a causa mais comum de amputações não traumáticas (MILMAN & LEME, 2001). Durante a consulta, fez-se a anamnese, ectoscopia e exame físico completo. Ao exame físico, avaliou-se os fatores de risco para o pé diabético através da inspeção, palpação e testes de sensibilidade. Na avaliação do pé, foram considerados os seguintes itens: deformidade ou proeminência óssea, úlcera, insensibilidade ao monofilamento, diapasão e chumaço de algodão, pressão anormal, calo ou espessamentos, perda de mobilidade articular, pulso tibial posterior ou pedioso dorsal ausente, palidez a elevação, rubor postural, úlcera prévia, amputação e calçado inadequado. Sendo que a presença de qualquer item indica pé em risco. Entre os 36 pacientes avaliados, 30 eram DM tipo 2 (83,33%), sendo 10% destes insulinodependentes, 5,55% diabéticos tipo 01 e 11,11% não souberam informar. Em relação à presença de fatores de risco, 27,77% pacientes não apresentaram nenhum e os 72,2% restantes apresentaram um ou mais fatores de risco. Os achados mais comuns (50% pacientes) foram: anormalidade de pressão arterial, calosidades e espessamentos em pés. Também frequente foi a insensibilidade ao chumaço de algodão e ao monofilamento, presente em 46,15% e 38% pacientes, respectivamente. Vinte e dois por cento (22%) dos pacientes apresentavam calçados inadequados. Do total de pacientes, encontrou-se 01 paciente com úlcera prévia e 01 com perda da mobilidade articular. Dois pacientes apresentaram diminuição dos pulsos. As anormalidades mais comuns encontradas foram as seguintes: sensibilidade diminuída, pele seca com fissuras, calosidades, 235 parestesias e unhas atróficas. Após as avaliações, foram dadas orientações gerais sobre o cuidado com os pés. Além disso, os pacientes receberam um par de meias de algodão e creme a base de uréia para a hidratação dos pés. Assim, o diabetes é uma entidade com fisiopatologia complexa e de prevalência elevada, dependendo de ações de saúde eficazes para prevenção de suas complicações que devem ser proporcionadas, fundamentalmente, pela educação em saúde promovendo o auto-cuidado e por abordagens e intervenções multidisciplinares. A abordagem dos acadêmicos do PET-SAÚDE, juntamente com as equipes de Estratégia de Saúde da Família dos Independência I e III, representou uma estratégia válida na prevenção de lesões nos membros inferiores resultantes de mau controle da doença e práticas inadequadas em relação ao pés do paciente diabético. A atenção com os pés dos diabéticos rastreou pacientes com fatores de risco para neuropatia periférica e comprometimento vascular. O rastreamento reflete a necessidade de uma atenção diferenciada voltada para a identificação dos fatores de risco na tentativa de evitar complicações. Dessa forma, estudos ressaltam a necessidade de os profissionais de saúde avaliarem os pés das pessoas com diabetes de forma minuciosa e com frequência regular, bem como desenvolverem atividades educativas, visando a melhorar o auto-cuidado, principalmente a manutenção de um bom controle glicêmico. A avaliação dos pés constitui-se em passo fundamental na identificação dos fatores de risco que podem ser modificados, o que, consequentemente, reduzirá o risco de ulceração e amputação de membros inferiores nas pessoas com diabetes, melhorando a sua qualidade de vida. 236 Imagem 1: Dia do Pé Diabético (Grupos operativos, Saúde bucal, Saúde dos pés e controle glicêmico Fonte: Acervo pessoal dos autores. Outubro/2011 REFERÊNCIAS MAGALHÃES, G. l; MUNDIM, A. V; OLIVEIRA, C, M, De; JUNIOR, C. A. M. Atualização dos critérios diagnósticos para Diabetes Mellitus utilizando a A1C. HU Revista, Juiz de Fora, v. 37, n. 3, p. 361-367, jul./set. 2012 MILMAN, M. H.S.A; LEME, C. B.M. Pé Diabético: Avaliação da Evolução e Custo Hospitalar de Pacientes Internados no Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Arq Bras Endocrinol Metab vol.45 no.5 São Paulo Oct. 2001 MINISTÉRIO DA SAÚDE, Diabétes Melitus. Cadernos de Atenção Básica - n.º16.Brasília, DF, 2006. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diabetes _mellitus.PDF. Acessado em 06 de Junho de 2013. OCHOA-VIGO, K; PACE, A; E. Pé diabético: estratégias para prevenção. Acta Paul Enferm 2005; 18(1):100-9. 237