Uma política pública para os serviços

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Uma política pública para os serviços
Publicado em Domingo, 13 Abril 2014 19:00
Escrito por José Luiz Nogueira Fernandes
Os serviços são responsáveis por 70% do emprego e 69% do Produto Interno Bruto (PIB) do
Brasil, segundo o IBGE. Mas "é pobre o conhecimento que o governo tem do setor", no
entender de Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(IPEA) e atual presidente da Fundação Perseu Abramo.
Por isso, essa evidência ainda não é totalmente percebida na prática, ou seja, não influi nas
políticas públicas, ainda muito voltadas para setores tradicionais, como a indústria, que perde
espaço para o nosso setor nos índices econômicos.
A realidade se impõe no front das atividades econômicas, mas a repercussão disso ainda está
muito defasada, como alerta o jornalista Celso Ming em artigo publicado no jornal O Estado de
São Paulo no dia 24 de março.
A manifestação do jornalista faz parte de uma gradual mudança da visão que os serviços
merecem. Ele chama a atenção para o fato de o governo federal ainda não enxergar com
clareza "sobre o setor que mais cresce e mais emprega na economia, o de serviços".
Celso Ming destaca que para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o IBGE, encarregado das
Contas Nacionais, não calcula corretamente o tamanho do setor nem sua evolução, já que os
dados do PIB seriam subdimensionados.
Em geral, diz Ming, os economistas do Brasil avaliam mal o setor e mostram-se incapazes de
considerar esse desconhecimento nas formulações de política econômica. "O fenômeno é
suprapartidário e extravasa o governo."
O foco da análise procede. Por inércia, as medidas de apoio e saneamento da economia
tendem demasiadamente para setores tradicionais, pois é assim que está posto desde o século
passado. Ter uma performance invejável parece não ser suficiente. Está faltando visibilidade
que justifique o impulso decisivo para que o setor possa deslanchar de vez e cumprir sua
vocação desenvolvimentista de maneira plena.
É preciso enxergar melhor uma atividade que, apesar de concreta e de resultados práticos
reais, tem em sua natureza uma carga de imponderável.
Não se pode medir um serviço da mesma forma que se pesa um produto industrial. Isso tem
desvirtuado a atenção das políticas públicas. Quando o assunto é emprego, baixa
competitividade do setor produtivo, avanço econômico insuficiente, incorporação de tecnologia
e agregação de valor só se pensa na indústria, diz Ming. "Se algo não vai bem com as
montadoras, é porque a política industrial não foi eficaz", nota o jornalista.
Isso influi nas decisões dos formuladores de política econômica, que ainda estão presos à
antiga percepção de que o objetivo estratégico da economia continua sendo a substituição de
importações de manufaturados. Não se leva em consideração a grande diversidade, alcance e
avanço de setores dos serviços, como a informática, a logística, a atividade bancária, os
serviços de comunicação que demandam satélites, criptologia avançada etc.
Os aplicativos, as empresas virtuais com tecnologia de ponta, que criam soluções e dinamizam
a economia também passam lotados pelas ações do governo. É preciso mudar esse enfoque
para que se possa fazer justiça ao que mais importa: a geração de empregos de qualidade, a
cargo dos serviços, já que a indústria não detém a exclusividade das melhores ofertas de
trabalho, como nota o jornalista: "O governo está sempre pronto, por exemplo, a dar benefícios
fiscais e creditícios à indústria, a título de defesa do emprego, mas esquece do setor de
serviços. E quando se trata de "produtividade", não só o governo ignora os avanços nos
serviços propiciados pela Tecnologia da Informação, mas pouco sabe sobre como multiplicar
tais efeitos em benefício do emprego e do progresso econômico.
Mas apesar das dificuldades, vamos avançado. E cada vez convencendo a mídia, a sociedade
e o governo sobre a importância de se dedicar aos serviços tudo o que ele merece, pelo tanto
que faz em favor do desenvolvimento do País.
José Luiz Nogueira Fernandes é presidente da Federação de Serviços do Estado de São
Paulo (FESESP)
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