Notas de Aula de Cálculo Diferencial e Integral Volume I Fábio Henrique de Carvalho c 2013 Copyright Publicado por Fundação Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) www.univasf.edu.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico incluindo fotocopia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem previa autorização, por escrito dos autores. Editoração Eletrônica: Pedro Henrique Araújo Sobral e Thiago Bonfim Primeira impressão, abril de 2013. R938v Fábio Henrique de Carvalho Juazeiro, Univasf. 2013 Inclui bibliografia ISBN 658-62-6235-254-0 1. Calculo Diferencial e Integral. 2. Algebra Linear. 3. Calculo Numerico. 4. Geometria Analitica. 04-0357. Sumário 1 O Limite de uma Função 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Definição de Limite . . . . . . . . . . . 1.4 Limites Laterais . . . . . . . . . . . . . 1.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.6 Propriedades Operatórias dos Limites 1.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.8 Limites Infinitos . . . . . . . . . . . . 1.9 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.10 Limites no Infinito . . . . . . . . . . . 1.11 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.12 O Teorema do Confronto . . . . . . . . 1.13 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.14 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . 1.15 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . 1.16 Exercícios Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . iii . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1 3 4 7 8 9 11 12 17 18 22 22 25 26 32 34 1 O Limite de uma Função 1.1 Introdução x2 − 5x + 4 . Sabemos que f está definida para todo x ∈ R, x 6= 1. x−1 Porém, é possível estabelecer o que ocorre com as imagens de valores de x tão próximos de 1 quanto desejarmos. Para tanto, há duas escolhas: Considere a função racional f(x) = (i) a primeira, mais rudimentar, é considerar uma sequência (ou duas) de valores de x próximos a 1 e determinar as imagens de tais valores. Tanto para x < 1, quanto para x > 1, observa-se que as imagens f(x) se aproximam de −3. Através de uma lista mais abrangente de valores “próximos” de 1, nosso palpite de que as imagens se aproximam de −3 pode ser emitido com maior convicção; porém, isso não caracterizaria uma prova matemática. (ii) a segunda, mais precisa e eficaz neste caso, é observar que para todo x 6= 1 tem-se (x − 1) (x − 4) x2 − 5x + 4 = = x − 4; x−1 x−1 e, portanto, para valores de x próximos de 1 (sejam eles maiores ou menores que 1), f(x) se aproxima de −3. Obviamente, neste exemplo, não convém falar em imagem de 1 por f, já que f nem mesmo está definida para x = 1. No entanto, o número −3 nos diz muito a respeito do comportamento da função f em torno y 1 f x −2 −1 0 −1 −2 −3 −4 −5 1 2 3 4 5 x f(x) x f(x) 0, 9 0, 99 0, 999 0, 9999 .. . −3, 1 −3, 01 −3, 001 −3, 0001 .. . 1, 1 1, 01 1, 001 1, 0001 .. . −2, 9 −2, 99 −2, 999 −2, 9999 .. . ↓ 1 ↓ ? ↓ 1 ↓ ? 1. O Limite de uma Função 2 da abcissa 1, para a qual f não está definida. Diremos que −3 é o limite de f quando x tende a 1 e abordaremos tal noção num sentido mais formal na seção posterior. Exemplo 1.1.1 (A função salto unitário) 0, se x 6 0 1, se x > 0. Obviamente, se x se aproxima de 0 por valores menores que 0 o limite é 0 (e este é igual a f(0)). Por outro lado, se x se se aproxima de 0 por valores maiores que 0 o limite é 1(e, portanto, diferente de f(0) = 0). Considere a função f(x) = y 1 x Exemplo 1.1.2 Considere a função √ x−2 f(x) = , x−4 definida para todo x ∈ R, x 6= ±4. Para valores de x próximos de 4 (mas diferentes de 4) podemos escrever √ √ √ x−2 x−2 x+2 x−4 1 =√ = ·√ = √ x−4 x−4 x+2 x+2 (x − 4) x + 2 e, portanto, quando x se aproxima de 4 o limite é 41 . y (4, 14 ) x Exemplo 1.1.3 Considere a função f(x) = x3 + 2x2 − 2x − 1 , 2x2 + x − 3 definida para todo x ∈ R tal que x 6= 1 e x 6= −3/2. É fácil observar que x3 + 2x2 − 2x − 1 = (x − 1) x2 + 3x + 1 e 2x2 + x − 3 = (x − 1) (2x + 3) . Portanto, para valores de x próximos de 1 e diferentes de 1 (e também de f(x) = x2 + 3x + 1 . 2x + 3 20 de novembro de 2013 −3/2) podemos escrever 1.2. Exercícios 3 Logo, enquanto x se “torna cada vez mais próximo” de 1, f(x) se “aproxima” de 5 5 = 1. y 1 x − 23 1 Exemplo 1.1.4 (A função maior inteiro) Aqui, e em todo o restante do texto, TxU representará o maior inteiro menor do que ou igual a x. Assim, se z é um inteiro, TzU = z; se r ∈ R é um não inteiro TrU é um número inteiro imediatamente menor que r. O gráfico da função f(x) = TxU, também chamada função escada, é uma sequência infinita de degraus de comprimento e altura unitários, representados abaixo. y 2 1 x −2 −1 0 1 2 3 −1 −2 Evidentemente, se r ∈ / Z, o limite de f quando x se aproxima de r é TrU. No entanto, se z ∈ Z, f(x) tende a z − 1 quando x se aproxima de z e x < z e, por outro lado, f(z) tende a z quando x se aproxima de z e x > z. Portanto, o limite de f quando x se aproxima de z não pode existir. 1.2 Exercícios 1.2.1 Com o auxílio de uma tabela de valores, faça uma estimativa do limite de f(x) quando x tende a c. (a) (b) f(x) = f(x) = x−2 x2 + x − 6 c=2 x−3 x2 − 9 c=3 x 1, 9 1, 99 1, 999 2, 001 2, 01 2, 1 2, 9 2, 99 2, 999 3, 001 3, 01 3, 1 f(x) x f(x) 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 4 (c) (d) √ √ x+9− 9 f(x) = x c=0 √ 6−x−3 f(x) = x+3 c = −3 f(x) = (e) f(x) = (f) 1 (2x+1) − 1 7 x−3 x (x2 +1) − x−4 x −0, 1 −0, 01 −0, 001 0, 001 −3, 1 −3, 01 −3, 001 −2, 999 0, 01 0, 1 f(x) x −2, 99 −2, 9 f(x) c=3 x 2, 9 2, 99 2, 999 3, 001 3, 01 3, 1 2, 9 2, 99 2, 999 3, 001 3, 01 3, 1 f(x) 2 5 c=2 x f(x) 1.2.2 Utilize mecanismos de manipulação algébrica (redução ao mesmo denominador, fatoração, “racionalização”, por exemplo) a fim de calcular o valor exato de cada um dos limites do exercício anterior. 1.2.3 Esboce o gráfico de f e identifique possíveis valores de c para os quais o limite de f quando x tende a c não existe. 2 x + 1, x 6 1 (i) f(x) = 3x + 1, 1 < x < 3 6, x>3 x<0 sen x, (ii) g(x) = 1 − cos x, 0 6 x 6 π cos x, x>π 1.3 (iii) h(x) = (iv) y(x) (v) y = x2 − 1, x < −1 ou x > 1 1 − x2 , −1 6 x 6 1 0, x < 0 1, x > 0 √ 1 − x2 , x ∈ [−1, 1] Definição de Limite Definição 1.3.1 Seja f uma função definida na vizinhança aberta de um certo número real c (f não necessariamente está definida na abcissa c). Para que f tenha limite L quando x tende a c é necessário e suficiente que, para todo número real > 0 ( é tomado arbitrariamente pequeno), exista δ > 0, tal que as imagens dos elementos do conjunto (c − δ, c) ∪ (c, c + δ) pela função f pertençam ao intervalo (L − , L + ). Em outras palavras, f tem limite L para x se aproximando de c quando valores arbitrariamente próximos de c (por uma diferença menor que δ) tem imagens arbitrariamente próximas de L (por uma diferença menor que ). Graficamente: 20 de novembro de 2013 1.3. Definição de Limite 5 y f L+ L L− x c−δ c c+δ Em notação matemática, o limite de f é L, quando x tende a c, se ∀ > 0, ∃δ > 0 tal que x ∈ (c − δ, c + δ), x 6= c, implica f(x) ∈ (L − , L + ). x→c Quando tal número real L existe, escrevemos lim f(x) = L, ou ainda f(x)−−−→L. x→c Exemplo 1.3.1 (Limite da Função Constante) Considere k ∈ R uma constante. O gráfico da função f(x) = k é uma reta horizontal (abaixo representamos o gráfico para k > 0 para efeito de ilustração). y (0,k) (c,k) f(x)=k x c Temos que o limite de f quando x tende a c é, obviamente k. De fato, tomando arbitrariamente > 0, é fácil ver que para qualquer δ > 0 escolhido (em particular, para δ = 1) as imagens dos elementos do intervalo (c − δ, c + δ) pertencem ao intervalo (k − , k + ) (na verdade, são todas iguais a k). Exemplo 1.3.2 (Limite da Função Identidade) Considere a função f(x) = x, ∀ x ∈ R. Tomando c ∈ R temos que o limite de f quando x tende a c é igual a c. y f(x)=x c (c,c) c 20 de novembro de 2013 x 1. O Limite de uma Função 6 De fato, dado > 0, para que f(x) ∈ (c − , c + ), isto é, c − < f(x) < c + basta que c − < x < c + . E, portanto, se escolhermos δ = segue que x ∈ (c − δ, c + δ) implica f(x) ∈ (c − , c + ). Exemplo 1.3.3 lim x2 = 9. x→3 De fato, considere > 0. Queremos mostrar que existe δ > 0 tal que −δ < x − 3 < δ ⇒ − < x2 − 9 < . Observe que x2 − 9 = (x − 3) (x + 3) e que −δ < x − 3 < δ ⇒ 6 − δ < x + 3 < 6 + δ. Assim, se considerarmos δ 6 1 temos 5 < x + 3 < 7 e podemos escrever |x + 3| < 7. Agora, 2 x − 9 < ⇔ |(x − 3) (x + 3)| < ⇔ |x − 3| |x + 3| < . Logo, dado se escolhermos δ < min {1, /7} segue −δ < x − 3 < δ ⇒ |x + 3| < 7 e 2 x − 9 = 7 |x − 3| < 7 · δ < . y f(x) = x2 (3,9) x lim x2 = 9 x→3 Exemplo 1.3.4 Considere a função f(x) = Dado > 0, x−3 em torno de c = 1. O limite de f quando x tende a 1 é −1. 2 x−3 < −1 + ⇔ 2 −2 − 2 < x − 3 < −2 + 2 ⇔ −1 − 2 < x < 1 + 2. −1 − < Assim, tomando por exemplo δ = 2 segue para x ∈ (1 − δ, 1 + δ), f(x) ∈ (−1 − , −1 + ). 20 de novembro de 2013 1.4. Limites Laterais 7 y x−3 f(x)= 2 x (1,−1) x−3 = −1 x→1 2 lim 1.4 Limites Laterais Quando houver necessidade, podemos avaliar o limite de f quando x tende a c apenas para valores de x maiores (ou menores que c). Neste caso, estaremos avaliando o limite lateral pela direita (ou pela esquerda) de f quando x tende a c. Definição 1.4.1 Seja f uma função. O limite de f quando x tende a c pela direita é L no caso em que, para todo > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ (c, c + δ) implica f(x) ∈ (L − , L + ). Quando tal x→c+ número L existe, escrevemos lim+ f(x) = L ou f(x)−−−→L. x→c Analogamente, o limite de f quando x tende a c pela esquerda é M no caso em que, para todo > 0, existe δ > 0 tal que x ∈ (c − δ, c) implica f(x) ∈ (M − , M + ). Quando tal número M x→c− existe, escrevemos lim− f(x) = M ou f(x)−−−→M. x→c Obviamente, x → c+ significa que x → c e x > c; e x → c− significa que x → c e x < c. Exemplo 1.4.1 Para a função f(x) = 0, 1, se x 6 0 temos se x > 0 lim f(x) = 0 e x→0− lim f(x) = 1. x→0+ (Obviamente, não existe lim f(x)). x→0 Exemplo 1.4.2 √ A função f(x) = x − 2 está definida apenas para x > 2. Portanto, só faz sentido (em R) avaliar limites (bem como imagens) para f neste intervalo. Em c = 2 temos √ lim+ x − 2 = 0 (Verifique!) x→2 mas não faz sentido avaliar o limite pela esquerda. y x 2 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 8 Exemplo 1.4.3 lim x→−3− x+3 1 1 = lim =− . x2 − 9 x→−3− x − 3 6 y x 3 (−3,− 16 ) Exemplo 1.4.4 Considere f(x) = x + 1, −1, se x > 0 . se x < 0 Temos lim f(x) = −1 e x→0− lim f(x) = 1. x→0+ y x Um fato importante e útil: Teorema 1.4.1. Seja f uma função e seja c ∈ R. Então, lim f(x) = L ⇔ lim− f(x) = lim+ f(x) = L. x→c x→c x→c (A justificativa fica como exercício). 1.5 Exercícios 1.5.1 Ache: x2 − 4 x→0 x3 − 4x (c) lim x3 − 4x x→−2 x2 − 4 (d) lim (a) lim (b) lim x3 − x x→−1 x2 − 1 (e) lim+ x3 − x x→1 x2 − 1 (f) lim 20 de novembro de 2013 y→1 (y − 1) (y − 5) y+2 t2 − 9 t→3 t − 3 (g) lim− x→1 1−x x−1 x2 − x − 12 x−4 x→4 √ y+6−3 (m) lim− y−4 y→3 √ 3 (n) lim− x + 3 (l) lim− 3h2 −h+3 h→0 7h + 6 √ y+3−2 (i) lim− 1−y y→1 (h) lim (j) lim+ x→2 (q) (r) x2 − 5x + 4 x→4 x2 − 7x + 12 √ √ x+1− 2 (p) lim− x−1 x→1 (o) lim+ x−4 (k) lim+ √ x−2 x→4 (x + ∆x)2 − x2 ∆x lim − (x + ∆x)3 − x3 ∆x ∆x→0 ∆x→0 √ x+4−2 (s) lim+ x x→0 x→5 x−2 x2 − 6x + 8 lim + (t) lim+ 1 x+2 − x x→0 1 2 1.5.2 Dê uma justificativa para o Teorema 1.4.1. 1.5.3 Verifique que não existe o limite de f quando x tende a c nos casos: (a) f(x) = 2 x 6 −1 x , (b) f(x) = 0, −1 < x < 1 2 −x , x > 1 x2 + 1, x 6 2 x + 4, x > 2 c=2 (c) f(x) = 0, x 6 0 1, x > 0 c=0 c = −1 e c = 1 1.6 Propriedades Operatórias dos Limites Nas seções anteriores observamos que é imediata a obtenção de limites tais como lim k = k e lim x = c. x→c x→c À partir disso é possível, por exemplo, afirmar que L = lim x3 − 2x2 + 5x + 1 = c3 − 2c2 + 5c + 1 x→c (em particular, para c = 1, temos L = 5), através das seguintes propriedades: Teorema 1.6.1. Sejam c, k, L e M números reais e sejam f e g funções reais. Suponha lim f (x) = L e x→c lim g (x) = M, temos x→c (i) lim kf (x) = kL. x→c (ii) lim [f (x) ± g (x)] = L ± M. x→c (iii) lim f (x) g (x) = LM. x→c (iv) lim x→c f (x) L = (desde que M 6= 0). g (x) M Demonstração : (i) Será deixada como exercício. (ii) Seja > 0. Como lim f (x) = L e lim g (x) = M existem δ1 , δ2 > 0 tais que x→c x→c c − δ1 < x < c + δ1 ⇒ L − e c − δ2 < x < c + δ2 ⇒ M − < f (x) < L + 2 2 (1.6.1) < g (x) < M + . 2 2 (1.6.2) 1. O Limite de uma Função 10 Considere δ = min {δ1 , δ2 }, assim valem simultaneamente as duas desigualdades para f (x) e g (x). Logo, somando membro a membro, temos (L + M) − < f (x) + g (x) < (L + M) + . Agora, observando que < −g (x) < −M + 2 2 tem-se, somando à desigualdade em (1.6.1), −M − (L − M) − < f (x) − g (x) < (L − M) + . Portanto, lim [f (x) ± g (x)] = L ± M. x→c (iii) Provemos inicialmente que, se lim h (x) = 0 então lim [f (x) · h (x)] = 0 (por hipótese, lim f (x) = L). x→c x→c x→c De fato, seja 0 < < 1. Existe δ1 > 0 tal que 0 < |x − c| < δ1 implica |f (x) − L| < 1. Mas, |f (x)| − |L| < |f (x) − L| < < 1. Logo, |f (x)| < 1 + |L| . (1.6.3) Por outro lado, existe δ2 > 0 tal que |x − c| < δ2 implica h (x) < . 1 + |L| (1.6.4) Portanto, tomando δ = min {δ1 , δ2 } valem ambas as desigualdades (1.6.3) e (1.6.4) e 0 < |x − c| < δ implica |f (x) h (x)| = |f (x)| |h (x)| < (1 + |L|) · = . 1 + |L| Agora, se lim f (x) = L e lim g (x) = M, podemos verificar imediatamente pela propriedade (ii) que x→c x→c a função f (x) · g (x) = [f (x) − L] · M + f (x) [g (x) − M] + LM tende a LM quando x tende c. (iv) Primeiramente mostraremos que, se lim g (x) = M e M 6= 0 então lim x→c Seja 0 < < x→c |M| . Existe δ > 0 tal que 0 < |x − c| < δ implica 2 |g (x) − M| < · |M| · e |g (x)| > 2M − |M| 2 1 1 = . g (x) M (2M − |M|) 2 (Justifique!) Logo, 1 · |M| 2M−|M| 1 M − g (x) |g (x) − M| 2 − = = < = . g (x) M Mg (x) 2M−|M| |M| |g (x)| |M| 2 Da igualdade f (x) 1 1 1 L = [f (x) − L] · + f (x) − + g (x) M g (x) M M conclui-se, de modo análogo ao caso anterior, a validade de (iv). Exemplo 1.6.1 Sabemos das seções anteriores que lim x = c. Portanto x→c (i) lim ax = a lim x = a · c, ∀a ∈ R; x→c x→c 20 de novembro de 2013 1.7. Exercícios 11 (ii) lim x2 = lim [x · x] = x→c x→c lim x · lim x = c · c = c2 ; x→c x→c (iii) lim 3x2 − 4x = 3 lim x2 − 4 lim x = 3 · (1) − 4 · (1) = −1. x→1 x→1 x→1 Evidentemente, utilizando a associatividade na adição e na multiplicação em R, podemos estender os itens (ii) e (iii) do Teorema 1.6.1 a mais que duas parcelas e fatores. De fato, por exemplo, se f1 , f2 , . . . , fn são funções reais tais que lim f1 (x) = L1 , lim f2 (x) = L2 , . . . , lim fn (x) = Ln , x→c x→c x→c então lim [f1 (x) f2 (x) f3 (x) · · · fn (x)] = lim f1 (x) lim [f2 (x) f3 (x) · · · fn (x)] x→c x→c x→c = L1 · lim f2 (x) lim [f3 (x) · · · fn (x)] x→c x→c = · · · = L1 L2 L3 · · · Ln , onde em cada uma das igualdades foi aplicado o Teorema 1.6.1. Exemplo 1.6.2 Da observação acima segue que lim xn = cn , ∀n ∈ N. x→c Assim lim x4 − 2 = 1, lim 4x3 − 7x = 0 e x→0 x→2 1.7 x3 − 1 = 0. x→1 x2 + 1 lim Exercícios 1.7.1 Sejam f, g, h funções tais que lim f (x) = 5, lim g (x) = 4 e x→3 x→3 lim h (x) = 3. x→3 Determine: (a) lim [3f (x) − 4g (x) + 5] (d) lim x→3 [f (x)]2 − [g (x)]2 [h (x)]2 x→3 (b) lim [(3f (x) − 5) (h (x) + 2)] (e) lim x→3 x→3 −f (x) [g (x) − h (x) + 2] 6−x 2f (x) − 3g (x) x→3 f (x) − 4h (x) f (x) + g (x) x→3 h (x) (f) lim (c) lim 1.7.2 Mostre que se a e b são constantes arbitrárias, então lim (ax + b) = ac + b. x→c Interprete o resultado graficamente e use-o para calcular: (a) lim (2x − 3) (c) lim (−5x − 4) (e) lim 7x − (b) lim 1 − 4x (d) lim (−3x + 1) (f) x→1 x→1/4 x→−2 x→0 20 de novembro de 2013 x→1/2 4 3 lim (x − 2) x→−1/2 1. O Limite de uma Função 12 1.7.3 Mostre que se m, n e p são constantes arbitrárias então lim mx2 + nx + p = mc2 + nc + p. x→c Interprete o resultado graficamente e use-o para calcular: (a) lim x2 − 2x + 5 (c) lim x→1 (b) lim x→−1 x→−2 −3x2 + 2x − 4 2x2 − 3x + 1 (d) lim 4x2 − 8x x→2 (e) lim x2 + x + 1 x→1/2 (f) lim x→−1/2 x2 + x + 1 √ √ n x = n c, para todo c > 0 e ∀n ∈ N, n > 2 a fim de calcular: x→c √ √ √ x+2 x−2 1 − x4 (a) lim 3 x − 2 √ (g) lim (d) lim x→4 x→1 1 − x x→4 x−4 √ x x−4 x−5 (b) lim √ (e) lim √ (h) lim x→2 x→2 x x−2 x→25 x − 5 √ 2 3 √ 1−x √ x−2 √ (f) lim (c) lim (i) lim x+1 x−1 x→1 1 − x x→9 x→8 x − 8 1.7.4 Utilize que lim 1.8 Limites Infinitos Muito embora tenhamos definido o limite de uma função como um número real nas seções anteriores, em muitos casos (na maior parte das vezes em uma abcissa fora do domínio), o comportamento da função é ilimitadamente crescente ou ilimitadamente decrescente. Se faz necessário então estender o conceito de limite de uma função. O faremos introduzindo os símbolos +∞ (ou ∞) (lê-se “mais infinito”), e −∞ (lê-se “menos infinito”). Definição 1.8.1 Seja f uma função definida em (a, c) ∪ (c, b). (i) Dizemos que o limite de f é +∞ quando x tende a c no caso em que, para todo número real M > 0 existir δ > 0 tal que 0 < |x − c| < δ implique f (x) > M. Notação: lim f (x) = +∞. x→c (ii) Dizemos que o limite de f é −∞ quando x tende a c no caso em que, para todo o número real M > 0 existir δ > 0 tal que 0 < |x − c| < δ implique f (x) < −M. Notação: lim f (x) = −∞. x→c Em outras palavras, lim f (x) = +∞ quando f (x) torna-se tão “suficientemente grande” quanto dex→c sejarmos (excedendo qualquer cota positiva M, fixada arbitrariamente) à medida que x se “aproxima suficientemente” de c. Por outro lado, lim f (x) = −∞ quando f (x) torna-se tão “suficientemente pex→c queno” (“grande” em valor absoluto) quanto desejarmos, à medida que x se aproxima de c. Exemplo 1.8.1 20 de novembro de 2013 1.8. Limites Infinitos 13 1 não está definida em x = 0. Observe que dado qualquer M > 0 é possível x2 1 escolher δ > 0 tal que 0 < |x| < δ ⇒ f (x) > M. De fato, fixado M > 0, para que 2 > M basta que x A função f (x) = x2 < 1 1 1 ⇐⇒ − √ < x < √ . M M M 1 Portanto podemos tomar δ = √ e garantimos que |x| < δ ⇒ f (x) > M. Da arbitrariedade de M M segue lim f (x) = +∞. x→0 Analogamente ao caso acima, mostra-se sem muita dificuldade que lim − x→0 1 = −∞. x2 De fato, se k é uma constante real não nula e lim f (x) = ±∞, então x→c lim kf (x) = k lim f (x) . x→c x→c Do mesmo modo que fizemos anteriormente, podemos definir os limites laterais infinitos, como segue: Definição 1.8.2 Seja f uma função definida em (a, c) ∪ (c, b). (i) O limite de f é +∞ quando x tende a c pela esquerda no caso em que, para todo M > 0 existir δ > 0 tal que c − δ < x < c implica f (x) > M. (ii) O limite de f é +∞ quando x tende a c pela direita no caso em que, para todo M > 0 existir δ > 0 tal que c < x < c + δ implica f (x) > M. No primeiro caso, denotamos lim− f (x) = +∞ e, no segundo, lim+ f (x) = +∞. x→c x→c Trocando f (x) > M por f (x) < −M nas definições acima é possível definir também lim f (x) = −∞ e x→c− lim f (x) = −∞. x→c+ Exemplo 1.8.2 A função f (x) = 1 1 não está definida em x = 2. Observe que, dado M > 0, tomando δ = , x−2 M • se 2 − δ < x < 2 (−δ < x − 2 < 0) então f (x) < −M; e • se 2 < x < 2 + δ (0 < x − 2 < δ) então f (x) > M. Portanto, lim f (x) = −∞ e x→2− lim f (x) = +∞. x→2+ 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 14 y x 2 A fim de estabelecer um paralelo com as propriedades operatórias dos limites finitos, propomos o seguinte teorema. Teorema 1.8.1. Considere c, L ∈ R, L 6= 0, e sejam f e g funções tais que lim f (x) = +∞ e lim g (x) = L. x→c x→c Então: (i) lim [f (x) ± g (x)] = +∞; x→c (ii) lim [g (x) − f (x)] = −∞; x→c (iii) lim [f (x) g (x)] = +∞ x→c quando L > 0 e lim [f (x) g (x)] = −∞ quando L < 0; x→c f (x) f (x) = +∞ quando L > 0 e lim = −∞ quando L < 0; x→c g (x) x→c g (x) (iv) lim g (x) = 0. x→c f (x) (v) lim As propriedades acima podem ser estabelecidas de modo semelhante para limites laterais e também para o caso lim f (x) = −∞ (fazendo-se as mudanças convenientes de sinais). x→c Demonstração : (i) Suponhamos L > 0 e seja M > 0. Existem δ1 > 0 tal que 0 < |x − c| < δ1 implica f (x) > M + 1 e δ2 > 0 tal que 0 < |x − c| < δ2 implica |g (x) − L| < 1. Tomando δ = min {δ1 , δ2 } valem ambas as desigualdades f (x) > M + 1 e −1 + L < g (x) < 1 + L, sempre que 0 < |x − c| < δ. Portanto, somando membro a membro ambas as desigualdades, f (x) > M + 1 e g (x) > −1 + L, segue f (x) + g (x) > (M + 1) + (−1 + L) = M + L > M. Portanto lim [f (x) + g (x)] = +∞. x→c Para o caso L < 0, basta verificar que (nos moldes acima) existe δ1 > 0 tal que 0 < |x − c| < δ1 implica f (x) > M − L + 1 > −M e repetir os passos dados acima. A demonstração de que lim [f (x) − g (x)] = +∞ se faz de modo análogo. x→∞ (ii) Ver exercício 1.9.5. (iii) Suponhamos L > 0 e L 6= 1 e seja M > 0. Existem δ1 , δ2 > 0 tais que 0 < |x − c| < δ1 implica f (x) > −1 + L < g (x) < 1 + L. Logo, f (x) g (x) > M e 0 < |x − c| < δ2 implica L−1 M · (−1 + L) = M. L−1 (Caso L < 0, ver exercício 1.9.6). 20 de novembro de 2013 1.8. Limites Infinitos 15 (iv) Ver exercício 1.9.7. (v) Ver exercício 1.9.8. Com base nos resultados acima, o cálculo de alguns limites torna-se imediato. Exemplo 1.8.3 1 lim cos x + 2 = +∞ x→0 x já que lim cos x = 1 e x→0 lim x→0 1 = +∞. (Propriedade (i)) x2 y 1 x2 cos x+ 1 x2 x cos x Exemplo 1.8.4 Sabendo que lim− tg x = +∞ é imediato que x→ π2 • • • • lim 5 tg x = +∞ x→ π2 − (Propriedade (iii)) lim− tg x = +∞ x (Propriedade (iv)) lim− tg x = −∞ 1−x (Propriedade (iv)) lim− x = 0. tg x (Propriedade (v)) x→ π2 x→ π2 x→ π2 Nos moldes do teorema anterior podemos considerar ainda o seguinte resultado: Teorema 1.8.2. Seja L 6= 0 e suponha lim f (x) = 0 e lim g (x) = L. x→c x→c (i) Se L > 0 e f(x) tende a zero pela direita, então lim x→c g (x) = +∞ f (x) (ii) Se L > 0 e f (x) tende a zero pela esquerda, então lim x→c g (x) = −∞ f (x) 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 16 (iii) Se L < 0 e f (x) tende a zero pela direita, então lim x→c g (x) = −∞ f (x) (iv) Se L < 0 e f (x) tende a zero pela esquerda, então g (x) = +∞ x→c f (x) lim Os resultados permanecem os mesmos no caso de limites laterais. A demonstração é deixada como exercício. Exemplo 1.8.5 Quando x → 2− , x−2 → 0 por valores negativos (pela esquerda) e quando x → 2+ temos x−2 → 0 por valores positivos (pela direita). Logo y y x x lim− x→2 x = −∞ x−2 lim+ x→2 1 − x2 = −∞ x−2 y y x x lim+ x→2 7x = +∞ x−2 lim− x→2 3 − 2x = +∞ x−2 O significado gráfico dos limites infinitos é a existência de assíntotas verticais. A reta x = c é uma assíntota vertical ao gráfico de y = f (x) quando lim− f (x) = ±∞ ou quando lim+ f (x) = ±∞. Abaixo x→c x→c temos dois exemplos ilustrativos. Exemplo 1.8.6 A função y = 1 1 1 possui assíntota vertical x = 0 já que lim− = −∞ e lim+ = +∞ (Verifique!). x x→0 x x→0 x 20 de novembro de 2013 1.9. Exercícios 17 y x Exemplo 1.8.7 O gráfico da função f (x) = De fato, como x2 + 2x + 1 possui uma assíntota vertical em x = 1. x2 − 1 (x + 1)2 x2 + 2x + 1 x+1 = = 2 (x + 1) (x − 1) x −1 x−1 temos lim f (x) = lim− x+1 = −∞ x−1 lim f (x) = lim+ x+1 = +∞. x−1 x→1− x→1 e x→1+ x→1 y x −1 1 −1 1.9 Exercícios 1.9.1 Determine os seguintes limites (a) lim− x−4 x+1 (c) lim (b) lim+ x−4 x+1 (d) lim+ x→1 x→1 5 x→2 x→1 (x − 2) 2 2x − 4 x2 − 1 20 de novembro de 2013 (e) lim− x→1 2x − 4 x2 − 1 (f) lim+ sec πx x→ 12 1. O Limite de uma Função 18 (g) lim− x2 − x→2 1 x−2 (h) lim+ x tg πx (i) lim+ x→ 21 x→1 x2 − x − 6 2 + x − x2 1.9.2 Avalie se cada uma das funções abaixo possui alguma assíntota vertical e determine-a em caso afirmativo. (a) f (x) = 1 (x − 3)2 (b) g (x) = x2 − x − 6 2 + x − x2 (c) y = tg x (d) f (x) = x2 − 4x x2 − 2x − 8 1.9.3 A teoria da relatividade afirma que a massa m de uma partícula depende de sua velocidade v e obedece a relação m0 m= r v2 1− 2 c onde m0 é a massa da partícula em repouso e c é a velocidade da luz. O que ocorre com a massa quando supomos v se aproximando de c? 1.9.4 Um motorista, numa viagem de ida e volta entre duas cidades, distando de d km uma da outra, fez uma média de x km/h na ida e y km/h na volta. Por outro lado, juntando os dois percursos, a velocidade média (ida e volta) foi de 80 km. (a) Obtenha uma expressão que forneça y em função de x. (b) Para cada um dos valores x = 10, x = 20, x = 30, x = 50 e x = 60, encontre os valores de y correspondentes. (c) O que ocorre com y quando x se aproxima de 40? 1.9.5 Demonstre a propriedade (ii) do Teorema 1.8.1. 1.9.6 Mostre que, se L < 0, lim f (x) = +∞ e lim g (x) = L então lim f (x) g (x) = −∞. x→c x→c x→c 1.9.7 Seja L 6= 0 e suponha lim f (x) = +∞ e lim g (x) = L. x→c x→c Mostre que: f (x) lim = x→c g (x) +∞, se L > 0 . −∞, se L < 0 1.9.8 Apresente uma demonstração para o Teorema 1.8.2. 1.10 Limites no Infinito Na seção anterior nos ocupamos dos limites infinitos, isto é, dos casos em que as imagens da função crescem ou decrescem ilimitadamente à medida que a variável independente se aproxima de um número real c (pela direita ou pela esquerda ou por ambos os lados). Agora nos preocuparemos com o crescimento (ou decrescimento) ilimitado da variável independente, e com a consequência disto nas imagens da função. Iniciamos com a seguinte definição: Definição 1.10.1 Seja f definida em (−∞, a) ∪ (b, +∞). (i) O limite de f quando x tende a mais infinito é L no caso em que, para todo > 0, existir x0 > 0 tal que x > x0 implica |f (x) − L| < ; (ii) O limite de f quando x tende a menos infinito é L no caso em que, para todo > 0, existir x0 > 0 tal que x < −x0 implica f (x) − L < ; 20 de novembro de 2013 1.10. Limites no Infinito 19 (iii) O limite de f quando x tende a mais infinito é +∞ no caso em que, para todo M > 0 existir x0 > 0 tal que x > x0 implica f (x) > M (o limite será −∞ quando ∀M > 0, ∃x0 > 0 tal que x > x0 implica f (x) < −M); (iv) O limite de f quando x tende a menos infinito é +∞ no caso em que, para todo M > 0 existir x0 > 0 tal que x < −x0 implica f (x) > M (o limite será −∞ quando ∀M > 0, ∃x0 > 0 tal que x < −x0 implica f (x) < −M); No caso (i) escrevemos lim f (x) = L; no caso (ii), lim f (x) = L; em (iii) denotamos lim f (x) = +∞ x→+∞ (reciprocamente, x→−∞ lim f (x) = −∞; por último, no caso (iv), denotamos x→+∞ x→+∞ lim f (x) = +∞ (reciproca- x→−∞ mente, lim f (x) = −∞. x→−∞ Exemplo 1.10.1 Consideremos a função f (x) = x1 , que está definida para todo x 6= 0. Intuitivamente observa-se que quando x cresce ilimitadamente a razão x1 tende a zero; o mesmo ocorrendo quando x decresce ilimitadamente. De fato, dado qualquer > 0, tomando x0 = 1 sempre que x > x0 = 1 temos x1 = x1 − 0 < . Logo, 1 lim = 0. x→+∞ x 1 Por um argumento análogo, mostra-se que também vale lim = 0. x→−∞ x Exemplo 1.10.2 É fácil observar que, para todo n > 1, (i) lim x→+∞ 1 1 < sempre que x > 1. Assim, segue para todo n > 1 n x x 1 1 = 0 e (ii) lim n = 0 x→−∞ x xn (Ver exercício 1.11.4) Exemplo 1.10.3 A função identidade f (x) = x tem limite +∞ quando x tende a +∞ e limite −∞ quando x tende a −∞. De fato, dado qualquer M > 0, escolhendo x0 = M temos para x > x0 , f (x) = x > M e para x < −x0 , f (x) = x < −M. Portanto, lim x = +∞ e lim x = −∞. x→+∞ x→−∞ Exemplo 1.10.4 Podemos generalizar o exemplo anterior do mesmo modo que fizemos nos exemplos 1.10.1 e 1.10.2. Para todo n ∈ Z, n > 1 temos xn > x sempre que x > 1. Daí (ver exercício 1.11.4), temos (i) lim xn = +∞ sempre que n > 1. x→+∞ Por outro lado, se x < −1 temos x2 > −x, x3 < −x2 , e assim por diante. Portanto: xn > −x sempre que n for par; e xn < x sempre que n for ímpar. É praticamente imediato (ver exercício 1.11.4) que: (ii) lim xn = +∞ sempre que n for par; x→−∞ 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 20 (iii) lim xn = −∞ sempre que n for ímpar. x→−∞ Para limites no infinito valem as seguintes propriedades: Teorema 1.10.1. Sejam k, L, M ∈ R e sejam f e g funções reais tais que lim f (x) = L e lim g (x) = M. x→±∞ x→±∞ Então: (i) (ii) (iii) (iv) lim kf (x) = kL; x→±∞ lim [f (x) ± g (x)] = L ± M; x→±∞ lim f (x) g (x) = LM; x→±∞ lim x→±∞ f (x) L , sempre que M 6= 0. = g (x) M Observe que as propriedades acima são idênticas àquelas do Teorema 1.6.1 e as demonstrações são análogas às esboçadas na seção 1.6. Valem ainda, trocando c por +∞ ou −∞, as propriedades de (i) a (v) do Teorema 1.8.1, da seção 1.8. Exemplo 1.10.5 lim x→+∞ 3 3x + 1 = . De fato, é fácil ver que 5x − 2 5 3+ 3x + 1 = 5x − 2 5− Como 1 lim 3+ =3 e x→+∞ x 1 x 2 x . 2 lim 5− =5 x→+∞ x temos, 3x + 1 3 = . x→+∞ 5x − 2 5 Observe que também vale a igualdade lim 3x + 1 3 = . x→−∞ 5x − 2 5 lim Exemplo 1.10.6 3 2 2x − 3 x − x2 = lim x→±∞ x2 + 1 x→±∞ 1 + 12 x lim 2 3 lim − 2 x→±∞ x 0 x = = 0. = 1 1 lim 1+ 2 x→±∞ x Observe que a passagem na segunda igualdade só pode ser efetuada pois o limite do denominador não é 0. Exemplo 1.10.7 x+1 lim √ = lim x→+∞ x2 + 1 x→+∞ x+1 √ x x2 +1 x 1+ = lim q x→+∞ 20 de novembro de 2013 1 x x2 +1 x2 1+ 1 = lim q x = 1, x→+∞ 1 + x12 1.10. Limites no Infinito 21 no entanto, x+1 lim √ = lim x→−∞ x2 + 1 x→−∞ x+1 −x √ x2 +1 −x −1 − = lim q x→−∞ Observe que, no segundo caso estamos usando o fato |x| = −x. 1 x x2 +1 x2 −1 − x1 = lim q = −1. x→−∞ 1 + x12 √ x2 = |x| e, se x < 0 (já que x → −∞) então Exemplo 1.10.8 3x3 lim 2 = lim x→+∞ x + 1 x→+∞ 3x3 x3 x2 +1 x3 = lim x→+∞ 1 x 3 . + x12 Observe que agora o numerador tende a uma constante positiva e o denominador tende a zero por valores positivos. Do exercício ?? segue 3x3 = +∞. x→+∞ x2 + 1 lim Por outro lado, 3x3 = −∞. (Justifique) x→−∞ x2 + 1 lim O significado gráfico da existência de limites finitos no infinito é a ocorrência de assíntotas horizontais. A reta y = L é uma assíntota horizontal da curva y = f (x) quando lim f (x) = L ou lim f (x) = L. x→+∞ x→−∞ Exemplo 1.10.9 A reta y = 0 é uma assíntota horizontal da curva y = 1 1 . De fato, já temos que lim = 0. x→±∞ x x Exemplo 1.10.10 A curva f (x) = y = 1. x2 + 1 possui assíntotas verticais x = −1, x = 1 (verifique!) e assíntota horizontal x2 − 1 y x 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 22 1.11 Exercícios 1.11.1 Calcule (se possível) os seguintes limites no infinito. Caso não exista o limite, dê um argumento que justifique a não existência. 2x + 6 (e) lim √ x→∞ x2 + 2x + 4 (a) lim x3 − 3x2 + 2 x→∞ (b) x3 − 3x2 + 2 lim x→−∞ (f) 3x − 3 2x2 + 5 √ x2 + 4 (k) lim x→∞ x √ x2 + 4 (l) lim x→−∞ x 2x + 6 lim √ 2 x + 2x + 4 (j) x→−∞ x2 + 1 x→∞ x2 − 1 (g) lim x2 + 1 x→−∞ x2 − 1 (h) 2x2 + 5 x→∞ 3x − 3 (c) lim (d) 3x − 3 x→∞ 2x2 + 5 (i) lim lim 2x2 + 5 x→−∞ 3x − 3 lim lim x→−∞ 1.11.2 Use um artifício algébrico conveniente a fim de encontrar: (a) (b) lim x→+∞ p 4x2 + 1 − 2x p lim 4x2 + 1 − 2x x→−∞ (c) (d) p 4x2 + 1 − x (e) p lim 4x2 + 1 − x (f) lim x→+∞ x→−∞ lim p 3 x3 + 1 − x lim p p 3 3 x3 + x − x3 + 1 x→+∞ x→+∞ 1.11.3 Encontre as assíntotas verticais, as assíntotas horizontais e faça um esboço da curva y = f (x). (a) f (x) = x+1 x−2 (b) f (x) = 1 − 3x x+4 (c) f (x) = 1 + 1 x 1 (d) f (x) = √ 2 x −1 1.11.4 Mostre a validade das afirmações (i) e (ii) do exemplo 1.10.2 e das afirmações (i),(ii) e (iii) do exemplo 1.10.4. 1.12 O Teorema do Confronto Dedicamos esta seção exclusivamente ao Teorema do Confronto e suas consequências. Também conhecido como Teorema Sanduíche, tal resultado é uma ferramenta poderosa do Cálculo, tanto na obtenção de alguns limites não imediatos, quanto na demonstração de outros resultados. Teorema 1.12.1 (O Teorema do Confronto). Considere f, g e h funções definidas em (a, c) ∪ (c, b) tais que g (x) 6 f (x) 6 h (x), para todo x ∈ (a, c) ∪ (c, b). Se lim g (x) = lim h (x) = L x→c x→c então lim f (x) = L. x→c Demonstração : Como lim g (x) = lim h (x) = L, dado qualquer > 0, arbitrariamente pequeno, existem x→c x→c δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que: (i) x ∈ (c − δ1 , c + δ1 ) =⇒ g (x) ∈ (L − , L + ); (ii) x ∈ (c − δ2 , c + δ2 ) =⇒ h (x) ∈ (L − , L + ). 20 de novembro de 2013 1.12. O Teorema do Confronto 23 Tomando δ o menor dos números δ1 e δ2 (δ = min {δ1 , δ2 }) valem ambas as implicações (i) e (ii). Além disso, da desigualdade g (x) 6 f (x) 6 h (x) segue que ∀x ∈ (c − δ, c + δ) tem-se L − < g (x) 6 f (x) 6 h (x) < L + e, portanto, lim f (x) = L. x→c Graficamente: A ilustração do Teorema do Confronto deixa claro porque ele também recebe o nome de Teorema do Sanduíche ou ainda Teorema da Imprensamento. Vamos a alguns exemplos: Exemplo 1.12.1 Embora pouco tenhamos mencionado as funções seno e cosseno nas seções anteriores, agora somos capazes de afirmar que lim sen θ = 0 e lim cos θ = 1. θ→0 θ→0 _ De fato, consideremos no círculo trigonométrico o arco θ = AP no primeiro quadrante, onde A = (1, 0), e seja Q o pé da perpendicular baixada do ponto P até o eixo x. (Ver ilustração abaixo). y P = (cos θ, sen θ) x Q A = (1, 0) Evidentemente, o comprimento do segmento AP é menor (ou igual, no caso extremo) que a medida _ do arco AP. Além disso, aplicando o Teorema de Pitágoras no triângulo retângulo APQ segue 2 (1 − cos θ)2 + sen2 θ = AP 6 θ2 . Portanto, sen2 θ 6 θ2 e (1 − cos θ)2 6 θ2 . Logo, −θ 6 sen θ 6 θ e para 0 < θ < π 2. − θ 6 1 − cos θ 6 θ Como lim+ θ = lim+ −θ = 0, pelo Teorema do Confronto θ→0 θ→0 lim sen θ = 0 θ→0+ e lim (1 − cos θ) = 0. θ→0+ É possível demonstrar de modo análogo que lim sen θ = 0 θ→0− e lim (1 − cos θ) = 0. θ→0− Portanto, lim sen θ = 0 e lim cos θ = 1. θ→0 θ→0 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 24 y y y=sen θ 1 y=cos θ 1 x x −1 −1 De acordo com o que já conhecíamos, através dos esboços dos gráficos das funções seno e cosseno, era natural ter a expectativa dos limites encontrados no exemplo 1.12.1. Mais ainda, é natural ter a esperança que lim sen θ = sen c e lim cos θ = cos c. Retomaremos esta discussão em momentos posteriores. θ→c θ→c Faremos agora uma análise tão importante quanto a anterior, a saber, o que ocorre com a razão para θ suficientemente pequeno. Teorema 1.12.2. sen θ θ sen θ = 1. θ→0 θ lim Demonstração : Do mesmo modo que no exemplo 1.12.1 consideremos no círculo trigonométrico o arco θ = _ AP no primeiro quadrante, onde A = (1, 0), e seja Q o pé da perpendicular baixada no ponto P até o eixo x. Prolongando o segmento OP até encontrar a reta t, perpendicular ao eixo x no ponto A = (1, 0), obtemos, na interseção, o ponto T . (Ver ilustração). y t T P Q O x A _ Assim, PQ 6 AP 6 AT . Além disso, do Teorema de Tales, AT PQ sen θ = =⇒ AT = cos θ OA OQ e T= Logo, sen θ 6 θ 6 sen θ 1, . cos θ sen θ . Como estamos considerando 0 < θ < cos θ 16 θ 1 6 sen θ cos θ ou ainda cos θ 6 π 2 temos sen θ > 0 e segue sen θ 6 1. θ Como lim cos θ = lim 1 = 1, aplicando o Teorema do Confronto, concluímos que θ→0 θ→0 sen θ = 1. θ→0 θ lim 20 de novembro de 2013 1.13. Exercícios 1.13 25 Exercícios 1.13.1 Use as desigualdades −1 6 sen x 6 1 e −1 6 cos x 6 1 a fim de calcular os seguintes limites: (a) lim θ sen θ (f) θ→0 (b) lim xn sen x (n ∈ Z) cos x x→±∞ x (g) lim x2 sen x→0 x→0 (c) lim θ cos θ θ→0 1 (j) lim x 1 − sen x→0 x lim 1 x2 (k) lim θ sec θ 1 − cos x (h) lim x→0 x (d) lim xn cos x x→0 θ→π θ2 sen θ θ2 + 1 θ→0 1, se x ∈ /Q 1.13.2 Seja f uma função definida por f (x) = . 0, se x ∈ Q (e) sen x x→±∞ x2 (i) lim+ lim 4 sen x (l) lim √ x→0 x (i) Dê uma justificativa para a seguinte afirmação: “f não possui limite em c, ∀c ∈ R” (ii) Mostre que lim xn f (x) = 0, ∀n ∈ N. x→0 1.13.3 Calcule os seguintes limites, (caso exista ou justifique a não existência): sen x2 (e) lim x→0 x sen (5θ) (a) lim θ→0 2θ 1 − cos θ θ→0 θ2 (f) lim sen (2θ) θ→0 sen (3θ) (g) tg θ θ→0 θ (h) lim (b) lim (c) lim (i) lim x→0 sen2 x x→0 x 1 (j) lim √ √ x→0 x+1+ x sen θ θ→+π θ − π (k) lim πx − π cos x x h√ √ i (l) lim x+1− x lim x→∞ π − π cos2 x x→0 4x2 (d) lim 1 − cos x x sen x x→∞ 1.13.4 Uma função f é limitada em (a, b) quando existem m, M ∈ R tais que m 6 f (x) 6 M, ∀x ∈ (a, b). Suponha f limitada. Mostre que lim xk f (x) = 0 para todo k ∈ N. x→0 1.13.5 Suponha f uma função limitada definida em (a, c)∪(c, b) e seja g uma função tal que lim g (x) = 0. x→c Mostre que lim [f (x) g (x)] = 0. x→c 1.13.6 Calcule cada um dos seguintes limites: (a) lim x→c 2 x −c 2 1 cos x−c sen (x − c) x→c (x2 − c2 ) (b) lim (c) lim x→0 (d) lim x→0 1 1 − sen x tg x sen ax bx 20 de novembro de 2013 sen ax x→0 sen bx (e) lim 1. O Limite de uma Função 26 1.14 Continuidade A noção de continuidade de uma função, definida ainda nos dias de hoje de modo análogo à forma apresentada por volta do século XIX, é um dos temas fundamentais do Cálculo. Em termos gerais, uma função f : I −→ R é contínua no ponto a ∈ I quando valores de x suficientemente próximos de a nos dão imagens f (x) suficientemente próximas de f (a). Observamos que, em contraste com a noção de limite na qual não havia necessidade da existência da imagem, neste contexto necessariamente a ∈ Df . Definição 1.14.1 Seja f : I −→ R uma função e seja a ∈ I. Diremos que f é contínua em a quando lim f (x) = f (a) . x→a (o que equivale a lim [f (x) − f (a)] = 0.) x→a Em caso contrário, diremos que f é descontínua em a. Exemplo 1.14.1 A função identidade, f (x) = x, é contínua em toda abcissa a ∈ R. De fato, lim f (x) = a = f (a) . x→a Mais geralmente, das propriedade vistas anteriormente, g (x) = xn , com n ∈ N, é contínua em toda abcissa a ∈ R, já que lim g (x) = an = g (a) . x→a Do exemplo 1.14.1 decorre imediatamente que toda função polinomial, definida em toda reta, é contínua em todo a ∈ R. De fato, seja p (x) = bn xn + bn−1 xn−1 + · · · + b1 x + b0 . Então, lim p (x) = bn an + bn−1 an−1 + · · · + b1 a + b0 = p (a) . x→a Exemplo 1.14.2 3 se x < −1 x , Considere a função f (x) = x, se − 1 6 x 6 2 definida para todo x ∈ R. 2 6 − x , se x > 2 y 2 −1 x 2 Já temos que f é contínua para todo a ∈ (−∞, −1) ∪ (−1, 2) ∪ (2, +∞). 20 de novembro de 2013 1.14. Continuidade 27 Observe que se a < −1, f (a) = a3 = lim f (x) ; x→a se −1 < a < 2, f (a) = a = lim f (x) x→a e se a > 2, f (a) = 6 − a2 = lim f (x) . x→a Falta verificar o que ocorre para a = −1 e para a = 2. Mas, lim f (x) = lim − x3 = −1 = lim + x = lim + f (x) x→−1− x→−1 x→−1 x→−1 e lim− f (x) = lim− x = 2 = lim+ 6 − x2 = lim+ f (x) . x→2 x→2 x→2 x→2 Portanto, f é também contínua em a = −1 e em a = 2. Exemplo 1.14.3 1 − x2 , se x 6 0 é contínua para todo a ∈ R. De fato, f é contínua para todo x + 1, se x > 0 a 6= 0. No caso a = 0 temos 1 = lim− f (x) = lim− 1 − x2 = f (1) A função f (x) = x→0 x→0 e 1 = lim+ f (x) = lim+ (x + 1) = f (1) . x→0 x→0 Portanto, o limite existe em a = 0 e é igual à imagem da função em a = 0. Logo, f é contínua também em a = 0. Omitiremos os detalhes neste momento e justificaremos a afirmação no capítulo posterior, mas as funções trigonométricas, a função exponencial e a função logarítmica são contínuas em toda abcissa a pertencente a seu domínio. Assim, as funções (a) y = sen x, x ∈ R, é contínua ∀a ∈ R e, portanto, lim sen x = sen a x→a (b) y = cos x, x ∈ R, é contínua ∀a ∈ R e, portanto, lim cos x = cos a x→a (c) y = tg x, x ∈ R, x 6= π 2 + kπ, com k ∈ Z, é contínua para todo a 6= π 2 + kπ, com k ∈ Z e, logo lim tg x = tg a x→a desde que a 6= π2 + kπ, com k ∈ Z. (Para as funções y = cotg x, com x ∈ R, x 6= kπ, k ∈ Z; y = sec x, com x ∈ R, x 6= y = cossec x, x ∈ R, x = kπ, k ∈ Z, a propriedade é idêntica.) (d) y = ex , x ∈ R é tal que lim ex = ea x→a 20 de novembro de 2013 π 2 + kπ, k ∈ Z; e 1. O Limite de uma Função 28 (e) y = ln x, definida para todo x > 0, é contínua para todo a > 0 e, portanto, lim ln x = ln a, x→a sempre que a > 0. Vejamos agora exemplos de funções descontínuas em alguma abcissa a de seu domínio. Exemplo 1.14.4 2 se x < 1 x , Considere a função g (x) = −1, se x = 1 . −1 + 2x, se x > 1 y x2 2x−1 x 1 −1 Pelo que foi discutido anteriormente, g é contínua para todo a 6= 1. No entanto, em a = 1 temos lim g (x) = 1 (verifique) e g (1) = −1. x→1 Assim, g é descontínua em a = 1. Observe que no exemplo anterior a função tem limite em a = 1, mas este é diferente de g (1). Também pode ocorrer da função não possuir limite em a, evidentemente, neste caso, ela não pode ser contínua em a. Ilustraremos isso no próximo exemplo. Exemplo 1.14.5 x , se x 6= −1 A função h (x) = x − 1 não é contínua em a = −1 já que h (−1) = 0 enquanto o 0, se x = −1 limite de h em −1 nem existe. Considere uma função f descontínua em a. Podem ocorrer duas situações: (i) é possível definir uma função f̃, com imagens coincidindo com as imagens de f para todos os valores diferentes de a, e com f̃ (a) definido de modo que f̃ seja contínua em a. Neste caso, dizemos que f possui descontinuidade removível em a. Observe que para f possuir descontinuidade removível em a basta que exista o número real lim f (x). x→a (ii) não é possível definir uma função f̃ tal como em (i). Neste caso diremos que a descontinuidade em a é irremovível. Descontinuidades irremovíveis ocorrem quando o limite da função não existe no ponto a. No exemplo 1.14.4, temos uma função com descontinuidade removível em a = 1; basta observar que 2 se x < 1 x , g̃ (x) = −1, se x = 1 −1 + 2x, se x > 1 20 de novembro de 2013 1.14. Continuidade 29 é contínua em a = 1. No exemplo 1.14.5 há uma descontinuidade irremovível em a = −1. Descontinuidades irremovíveis ocorrem, evidentemente, em abcissas do domínio da função nas quais o limite não existe. Quando a descontinuidade irremovível em a ocorre porque os limites laterais em a são números reais distintos, dizemos que a descontinuidade é do tipo salto. Exemplo 1.14.6 As funções y (i) y = 0, se x < 0 1, se x > 0 x y (ii) y = x2 − 1, se x 6 1 2x − 1, se x > 1 x y 1 , x 6= 0 (iii) y = x 0, x = 0 x y 1 , x 6= 0 (iv) y = x2 0, x=0 x estão definidas para todo x ∈ R. Em (i), há uma descontinuidade irremovível do tipo salto em a = 0; em (ii), há uma descontinuidade irremovível também do tipo salto em a = 1. Já em (iii) e (iv), ocorrem descontinuidades irremovíveis (que não são do tipo salto), em a = 0. Quando uma função não possui pontos de descontinuidade em seu domínio, dizemos simplesmente que ela é contínua. Isto é, uma função f é contínua quando lim f (x) = f (a) , x→a para todo a ∈ Df . Pelo que foi discutido anteriormente, as funções polinomiais, trigonométricas, exponencial e logaritmo são exemplos de funções contínuas. Observe que a função f (x) = x1 tem domínio Df = {x ∈ R; x 6= 0} e, 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 30 portanto, é contínua (não possui pontos de descontinuidade em seu domínio); no entanto, a função 1 , se x 6= 0 , g (x) = x 1, se x = 0 tem domínio Dg = R e não é contínua, já que não o é em a = 0. Voltemos novamente a atenção aos pontos de continuidade. Exemplo 1.14.7 2x2 − 4x + 1, se x 6 2 . ax2 + b, se x > 2 Determine para quais condições dos valores a e b tem-se f contínua. Sejam a, b ∈ R e considere f (x) = Evidentemente f é contínua para todo a ∈ (−∞, 2) ∪ (2, +∞). Para a = 2 temos f (x) = 2 · (2)2 − 4 · (2) + 1 = 1. Portanto, lim f (x) é, obrigatoriamente, igual a 1. x→2 Já temos lim− f (x) = 1, resta fazer lim+ f (x) = 1. Mas x→2 x→2 lim+ f (x) = lim+ ax2 + b = 1 ⇐⇒ a + b = 1. x→2 x→2 Portanto, basta fazer b = 1 − 4a. No exemplo 1.14.7, observe que para cada uma das situações de a e b abaixo o gráfico da função f é uma curva definida por duas outras curvas, uma à esquerda da reta x = 2 e outra à direita da reta x = 2, que se conectam no ponto (2, 1) (de fato, o gráfico de f nessas condições é uma curva conexa). y y=2x2 +4x+1 • a = 0, b = 1 (2,1) y=1 x y y=2x2 +4x+1 • a = −1, b = 5 (2,1) x y=−x2 +5 y y=2x2 +4x+1 y=x2 −3 • a = 1, b = −3 (2,1) x Para finalizar esta seção, destacamos o seguinte resultado para o qual omitiremos demonstrações. Trata-se de uma ferramente de extrema utilidade no cálculo de limites. 20 de novembro de 2013 1.14. Continuidade 31 Teorema 1.14.1. Sejam f, g : I −→ R funções contínuas em a ∈ I. Então, são também contínuas em a as funções: (i) cf, f + g, f − g, f · g : I −→ R (c=cte); (ii) 1 g , , desde que f (a) 6= 0. f f Além disso, se f : I −→ J ⊂ R e h : J −→ R, considerando f contínua em a ∈ I e h contínua em b = f (a) ∈ J então a composta h ◦ f : I −→ R x 7−→ h(f(x)) é contínua em a. Uma consequência da propriedade acima é que, se uma função f : I −→ J ⊂ R admite uma inversa J −→ I então a continuidade de uma delas implica na continuidade da outra. Considere as funções y = sen θ e y = tg θ. No intervalo aberto − π2 , π2 ambas são injetoras. Além disso, −1 < sen θ < 1, ∀θ ∈ − π2 , π2 , f−1 : lim tg θ = −∞ e θ→− π2 + lim tg θ = +∞. θ→ π2 − y y y=tg θ y=sen θ 1 − π2 π 2 θ − π2 π 2 θ −1 Assim, seno e tangente são funções invertíveis: • A inversa da função y = sen θ, que chamaremos de arco-seno é uma função f que, para cada número real −1 6 y 6 1 define o arco θ = f (y) se, e somente se, y = sen θ e, portanto, − π2 6 θ 6 π2 (observe que no intervalo fechado − π2 , π2 a função seno permanece injetora e é sobrejetiva quando estabelecemos sua restrição ao contradomínio [−1, 1]). Se y = sen θ usaremos a notação θ = arcsen y para denotar a função arco-seno que, pelas considerações acima é uma função contínua e bijetora que leva o intervalo [−1, 1] no intervalo − π2 , π2 . Evidentemente, tem-se por exemplo, arcsen −1 = − π2 , arcsen 0 = −, arcsen √ 3 2 = π 3 e arcsen 1 = π 2. • A inversa da função y = tg θ, que chamaremos arco-tangente, é uma função g que, para cada número real y ∈ R define o arco θ = g (y) se, e somente se, y = tg θ. Se y = tg θ usaremos a notação θ = arctg y para denotar a função arco-tangente. A exemplo do caso anterior a função arco-tangente é uma função contínua e bijetora, porém, leva a reta no intervalo aberto − π2 , π2 . Em síntese, h π πi arcsen : [−1, 1] −→ − , 2 2 y 7−→ θ = arcsen y ⇔ sen θ = y 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 32 π π arctg : R −→ − , 2 2 y 7−→ θ = arctg y ⇔ tg θ = y Da continuidade de tais funções temos, por exemplo: lim arcsen x = 0, x→0 lim arctg x = π , 4 lim√ arctg x = x→ 3 3 π 4 π . 6 lim tg x = −∞ e lim− tg x = ∞ temos x→− π2 + x→ π2 lim arctg x = − x→−∞ 1.15 2 2 x→ x→1 Além disso, como lim√ arcsen x = π 2 e lim arctg x = x→+∞ π . 2 Exercícios 1.15.1 Verifique para cada função abaixo, a continuidade ou não na(s) abcissas indicada(s): (a) f (x) = x2 − 4, x 6 0 2x − 4, x > 0 (b) 1.15.2 A função f (x) = 1 x (c) (x − 2)2 a1 = 0 e a2 = 2 (d) f (x) = a=0 x x2 − 2x , x 6= 0 e x 6= 2 g (x) = − 1 , x=0 2 0, x=2 a1 = 0 e a2 = 2 y= (x − 2)2 x a1 = 0 e a2 = 2 é contínua? E a função g (x) = x ? (x − 2) (x − 2)2 1.15.3 Utilize os resultados dados pelo Teorema 1.14.1 a fim de calcular os seguintes limites: 2 1 (c) lim [ex + cos x] (e) lim − e(x −1) (a) lim sen x2 + π x→0 x→−1 x→0 2 (b) limπ x→ 2 sen x 1 + cos x 2 1 x→0 cos x x x→e ln x (f) lim (d) lim 1.15.4 Em cada um dos casos abaixo, determine constantes reais indicadas para que a função seja contínua. (a) (b) (c) x + 1, , x < −2 f (x) = a, x>2 ax + 1, x 6 1 g (x) = b, x>1 ax2 + b, x 6 1 h (x) = 2ax − b, x > 1 (a ∈ R) (d) a (x − 1) , x < 2 y (x) = 3, 26x64 2 x − b, x>4 (e) 2x + 1, x < a f (x) = x − 1, a 6 x 6 +b 2 x , x>b 2 (a, b ∈ R) (a, b ∈ R) (a, b ∈ R) (a, b ∈ R) 1.15.5 Utilizando que as funções polinomiais, trigonométricas, exponencial e logaritmo são contínuas, juntamente com o Teorema 1.14.1, analise a existência dos seguintes limites. Caso exista o limite, determine-o. 20 de novembro de 2013 1.15. Exercícios 33 (a) lim− sen (ex + x − 1) (e) lim x→0 (b) limπ e x→+1 x2 + 1 sen( π2 x) (h) lim− eln x x→π cos x x→ 2 (c) lim sen x→0 1 x (f) lim x→−1 2 x +1 (x − 1)2x (i) lim+ 2 x x→0 (x + 1) sen( π2 x) (g) limπ ln (sen x) (d) lim+ xx (j) lim tg x→ 2 x→1 x→e π 4 ln x 1.15.6 Calcule os limites: sen (x + h) − sen x x→0 h cos (x + h) − cos x x→0 h (a) lim (b) lim 1.15.7 Seja f uma função real. (i) Se lim f (x) existe é sempre verdade que lim |f (x)| existe? x→c x→c (ii) Se lim |f (x)| existe podemos afirmar que sempre existe lim f (x)? x→c x→c 1.15.8 Calcule, caso existam. (a) lim x→27 (b) lim x→∞ √ 3 x lim x arctg x √ − (e) √ 2 x (i) 2 2 x→ (f) lim arctg x2 (j) lim+ [ln (arctg x)] x→0 x→−1 1 (c) lim √ x→∞ x √ (g) lim arctg x √ (d) lim+ arcsen x − 1 (h) lim+ e− arctg x √ (k) lim+ arctg x x→ 21 x→0 (l) lim arcsen x→0 x→1 lim [π − arctg x] x→ π2 − x→1 √ x−1 1.15.9 Encontre 3 exemplos de funções f tais que lim f (x) < 0 e x→1− lim f (x) = 0. x→1+ x + 1, x < −4 x = −4 . 1.15.10 Considere f (x) = 1, 2 x − 7, x > −4 4 (i) Faça um esboço do gráfico de f. (ii) Calcule lim f (x) e x→−4− lim f (x). Existe lim f (x)? x→−4+ x→−4 (iii) f é contínua em c 6= −4? E em c = −4? (iv) É possível definir L ∈ R e uma função f̃ com f̃ (x) = f (x) , x 6= −4 , tal que f̃ seja contínua? L, x = −4 3x − 4, x < 0 1.15.11 Considere g (x) = 1, x = 0. x + 1, x > 0 (i) Faça um esboço do gráfico de g. 20 de novembro de 2013 1. O Limite de uma Função 34 (ii) Calcule lim− g (x) e lim+ g (x). Existe lim g (x)? x→0 x→0 x→0 (iii) f é contínua em c 6= 0? E em x = 0? (iv) É possível definir L ∈ R e uma função g̃ com g̃ (x) = 1.16 g (x) , x 6= 0 , tal que g̃ se já contínua? L, x=0 Exercícios Complementares 1.16.1 Em cada um dos gráficos abaixo identifique e calcule, caso existam: (b) lim− f (x) (a) f (c) (c) lim+ f (x) x→c (d) lim f (x) x→c x→c y y 1 1 −1 x x 2 −1 c=2 c = −1 e c = 1 y y=x y 2 x 1 x 2 −1 −1 y=−x c=0 c=0ec=2 1.16.2 Em cada um dos itens (a), (b), (c) e (d) do exercício anterior destaque o(s) intervalos em que a função é contínua. 1.16.3 Determine, caso exista, lim− f (x), lim+ f (x), lim f (x) e lim f (x) em cada caso abaixo. Caso x→0 x→0 x→∞ o limite não exista, apresente uma justificativa. 20 de novembro de 2013 x→−∞ 1.16. Exercícios Complementares 35 1 , se x < 2 (a) f (x) = x − 2 x − 1, se x>2 2 x − 2, se x < −1 ou x > 1 (b) f (x) = 0, se x = −1 1, se − 1 < x < 1 1 (i) f (x) = e x , x 6= 0 (j) f (x) = ln x1 , x > 0 sen2 x + cos x − 1 , x 6= 0 x (l) f (x) = tg x − π2 , x 6= kπ com k ∈ Z (m) f (x) = arctg x2 + 1 (k) f (x) = (c) f (x) = x sen x −1 − x, x<0 1, 06x<2 (d) f (x) = 2, x=2 x2 − 4x + 3, x > 2 (e) f (x) = x sen x1 , x 6= 0 x−1 (f) f (x) = √ x2 + 1 (g) f (x) = ln x2 + 1 1 (h) f (x) = e x2 , x 6= 0 (n) f (x) = 3x2 − 4x + 2 √ 4x4 + 1 (o) f (x) = 3x + 2 5x + 1 (p) f (x) = 5x+1 3x + 2 (q) f (x) = sen2 x , x 6= 0 x (r) f (x) = sen2 x , x 6= 0 x2 1.16.4 (As funções hiperbólicas) Para todo x ∈ R podemos definir as funções seno hiperbólico e cosseno hiperbólico, respectivamente, como segue (1) senh x = ex − e−x , ∀x ∈ R 2 (Seno Hiperbólico) (2) cos hx = ex + e−x , ∀x ∈ R 2 (Cosseno Hiperbólico) Além disso, é possível definir ainda as funções tangente hiperbólica, secante hiperbólica, cotangente hiperbólica e cossecante hiperbólica. senh x ex − e−x = x , cosh x e + e−x (3) tgh x = (4) cotgh x = (5) sech x = (6) cossech = cosh x ex + e−x = x , senh x e − e−x 1 2 = x , cosh x e + e−x 1 2 = x , senh x e − e−x ∀x ∈ R (Tangente Hiperbólica) ∀x 6= 1 (Cotangente Hiperbólica) ∀x ∈ R (Secante Hiperbólica) ∀x 6= 1 (Cossecante Hiperbólica) Explique por que cada uma das funções acima é contínua. Além disso, calcule o limite de cada uma delas, (caso exista quando (a) x → 0 (b) x → ∞ (c) x → −∞ |x| para todo c ∈ R? Por quê? x→c x 1.16.5 Existe o limite lim 20 de novembro de 2013 (d) x → 1 (e) x → −1) 1. O Limite de uma Função 36 1.16.6 Seja n ∈ N, n > 2. Verifique a validade da seguinte propriedade: “Se lim f (x) = L ∈ R e x→c existe, então √ n L q p √ n lim n f (x) = n lim f (x) = L.” x→c x→c O que ocorre quando lim f (x) = ±∞. x→c 1.16.7 Dizemos que uma função f é contínua no intervalo fechado [a, b] quando f é contínua em (a, b) e ainda lim+f (x) = f (a) (f é contínua à direita em a) e lim−f (x) = f (b) (f é contínua à esquerda em b). x→a x→b Verifique que √ (i) f (x) = x é contínua em [0, 1]; √ 5 (ii) g (x) = x3 é contínua em [−1, 1]. 1.16.8 Considere a função f (x) = sen f 1 kπ ef 1 π 2 +kπ 1 x definida para todo x ∈ R. Seja k ∈ N arbitrário, calcule . A partir daí, explique o que ocorre com lim f (x). x→0 1.16.9 1.16.1 (O Teorema de Bolzano). Seja f uma função contínua em [a, b]. Se f (a) 6 m 6 f (b) então existe pelo menos um c ∈ [a, b] tal que f (c) = m.” Esta propriedade, chamada também de Teorema do Valor Intermediário é uma das mais importante no Cálculo Diferencial e Integral e na Análise Matemática. Embora não apresentemos uma demonstração do Teorema, sua ilustração é bem intuitiva. y f(b) y=m m f(a) y=f(x) [ ] a b x Observe que, como f (a) 6 m 6 f (b) e f é contínua então o gráfico de f intercepta pelo menos uma vez a reta horizontal y = m. Utilize o Teorema do Valor Intermediário e justifique as seguintes afirmações: (i) Se f é contínua em [a, b] e f (a) · f (b) < 0, então f possui pelo menos uma raiz em (a, b). (ii) Se f é contínua em [a, b] e f (x) 6= 0, ∀x ∈ [a, b], então ou f é sempre positiva em [a, b] ou f é sempre negativa em [a, b] (f não apresenta mudança de sinal). (iii) Se f é contínua em R, lim f (x) = −∞ (respectivamente, +∞) e lim f (x) = +∞ (respectivax→−∞ x→+∞ mente, −∞) então f possui pelo menos uma raiz real. (iv) Se p é uma função polinomial e o grau de p é ímpar, então p possui pelo menos uma raiz real. (v) A função f (x) = x3 ex − 1 possui pelo menos uma raiz no intervalo [0, 1]. Justifique. 1 é tal que g (−1) = −1 e g (1) = 1. No entanto g não possui nenhuma raiz x3 real. Por que isso não entra em contradição com o Teorema do Valor Intermediário? 1, se 0 6 x < 1 1.16.11 Considere a função h (x) = . Observe que h está definida para todo x ∈ [0, 2], ??, se 1 6 x 6 2 mas não existe c ∈ [0, 2] tal que f (x) = 4. Por quê o Teorema do Valor Intermediário não se aplica? 1.16.10 A função g (x) = 20 de novembro de 2013 1.16. Exercícios Complementares 37 20 de novembro de 2013