EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E AS POLÍTICAS DE ESCOLARIZAÇÃO BÁSICA: ENTRE A COMPENSAÇÃO E A EMANCIPAÇÃO Marlene Souza Silva* Universidade Estadual da Bahia – UNEB [email protected] Modalidade: Comunicação Oral Eixo temático: Espaços, tempos, formatos e financiamento de formação continuada de educadores(as) de EJA (trabalhos que focalizam os diferentes espaços e formatos em que acontece a gestão da formação continuada de educadores da EJA) RESUMO Este artigo pretende analisar as políticas de escolarização básica para jovens e adultos, a partir do processo histórico, enfatizando os períodos de (re) democratização como momentos de grande mobilização popular, marcados pela atuação dos movimentos sociais populares, que provocaram transformação na forma de conceber a alfabetização e a educação de jovens e adultos, principalmente pelos movimentos que explodiram no Nordeste brasileiro, como o Movimento de Cultura Popular no Recife e a experiência de Angicos que sucederam a Campanha de Adolescentes e Adultos – CAA, que apresentava características que provocaram o tensionamento entre os interesses governamentais com as políticas compensatórias e os movimentos sociais populares com as políticas de emancipação, com destaque dos grupos marxistas e cristãos. As Conferências Internacionais de Educação de Adultos – CONFINTEA também desempenharam papel importante na elaboração de políticas para a escolarização básica de educação de jovens e adultos, como espaço internacional de discussão com temáticas relacionadas a liberdade, a democracia e direitos humanos. O Movimento dos Fóruns Estaduais de Educação de Jovens e Adultos teve participação efetiva nessas Conferências e, se constituem em espaços abertos e democráticos para propor, acompanhar e avaliar as políticas educacionais de jovens e adultos nas instâncias federais, estaduais e municipais. A atuação dos movimentos sociais populares na educação de jovens e adultos tem sido fundamental para o enfrentamento das políticas de governo de cunho compensatórios e, neste sentido, conclui-se que este breve texto poderá contribuir na formação dos docentes da EJA, alertando-os sobre a possibilidade de pensar em processos pedagógicos que promovam a emancipação/libertação. Palavras chave: EJA; políticas públicas; escolarização básica; movimentos sociais. ABSTRACT This article analyzes the basic education policies for youth and adults, from the historical process, emphasizing periods of (re) democratization as moments of great popular mobilization, marked by the performance of popular social movements that led transformation in the way of conceiving literacy and youth and adult education, mainly by movements that exploded in northeast Brazil, as the Movement of Popular Culture in Recife and the Angicos experience that followed the Adolescent and Adult Campaign CAA, which had characteristics that caused the tensioning between government interests in counter political and popular social movements with the emancipation policies, especially the Marxist and Christian groups. The Adult Education International Conference - CONFINTEA also played an important role in policy for basic education of youth and adult education, as an international forum for discussion with issues related to freedom, democracy and human rights. The Youth and Adult Education of the State Forums Movement had effective participation in these conferences and, constitute open spaces and democratic to propose, monitor and evaluate educational policies for young people and adults in federal, state and municipal authorities. The performance of the popular social movements in youth and adult education has been fundamental to face the compensatory nature of government policies and in this sense, it is concluded that this brief text may contribute to the training of adult education teachers, warning them of the possibility of thinking in educational processes that promote the emancipation / liberation. INTRODUÇÃO A educação de jovens e adultos -- EJA se apresenta hoje como um campo de contradições e ao mesmo tempo de grandes possibilidades. A trajetória política e pedagógica dessa educação nos leva a refletir sobre o movimento sócio-histórico que atravessou décadas marcadas ao mesmo tempo por forças conservadoras e transformadoras, que geraram momentos de grandes avanços, mas também de retrocessos. Nesse contexto, as políticas públicas de EJA foram gestadas de um lado pelos interesses dos grupos governamentais, que se revesavam no poder com a preocupação de garantir o desenvolvimento econômico, e por outro pelas aspirações dos movimentos sociais populares que lutavam pelo direito a educação como condição essencialmente humana. Portanto, compreender como as políticas de escolarização básica foram se constituindo na educação de pessoas jovens e adultas será necessário fazer uma retrospectiva da política brasileira, principalmente nos períodos de (re) democratização que oportunizaram outras formas de pensar e agir, para além de políticas de campanhas de alfabetização, buscando sinalizar a necessidade da continuidade dos estudos, mesmo diante de todos os desafios a serem enfrentados. Assim, para estabelecer a relação entre a escolarização e esses períodos históricos será preciso revisitar alguns movimentos de educação de adultos nos anos 40 até o início dos anos 60, especialmente a experiência de Paulo Freire, em Angicos no Rio Grande do Norte para desconstruir a ideia de que essa e outras experiências que aconteceram nessa época se restringiram, apenas, a prática de alfabetização de adultos. Na realidade esses movimentos foram fundamentais para pensar a práxis educativa na singularidade dos seus sujeitos e, portanto, serviram como referência para estruturar politicamente e pedagogicamente a educação de jovens e adultos. Isso significa que para pensar as políticas de escolarização torna-se imprescindível pensar nos sujeitos coletivos dessa educação a partir do lugar que ocupam na sociedade, levando em consideração seus saberes, suas culturas e seus percursos. Durante os anos 80, a sociedade brasileira vai sofrer profundas mudanças em consequência da retomada do processo de redemocratização do país com o fim do regime militar. A Constituição Brasileira de 1988, resultado de um grande processo de participação popular e democrática, trouxe um novo ânimo para aqueles coletivos que há muito tempo lutavam por direitos sociais. A partir desse momento a educação de jovens e adultos passou a ser reconhecida como modalidade da educação básica assegurada pela Constituição Federal e pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN. Neste contexto, a escolarização básica vai ganhando espaço nas políticas públicas e, mesmo que as preocupações ainda estejam voltadas para a alfabetização de adultos, as discussões em torno dessa temática passam a fazer parte do cenário internacional. As Conferências Internacionais de Educação de Adultos - CONFINTEA e os documentos internacionais vão problematizar temas urgentes e necessários para repensar a educação de adultos a partir do seu próprio conceito, do entendimento de escolarização básica e do significado das políticas governamentais para os seus verdadeiros destinatários. Também nesse período é perceptível a participação dos movimentos sociais de educação popular, representados pelos Fóruns Estaduais de Educação de Jovens e Adultos nos eventos das CONFINTEA, interferindo de forma ativa nas discussões, com proposições no sentido de reconstruir a EJA na dimensão da justiça social e dos direitos humanos. Os caminhos da educação de jovens e adultos, portanto, sempre estiveram intercruzados com os movimentos sociais, porque nascem no seu interior, nas lutas reivindicatórias pelos direitos básicos. Por isso, que um dos propósitos desses movimentos sempre foi aproximar a educação básica dos jovens e adultos da educação popular para que os seus sujeitos possam utilizar, de forma coletiva, a escolarização como instrumento de emancipação. Sem esgotar as discussões, este artigo pretende refletir sobre as políticas de escolarização básica de EJA, fazendo uma análise sobre os papeis dos órgãos governamentais e dos movimentos sociais populares no processo de efetivação para compreender o sentido dessas políticas para os coletivos de jovens e adultos populares. 1. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CONTEXTO DA (RE) DEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA A trajetória da educação de jovens e adultos vai se construindo ao longo do processo histórico, movida pelas forças conservadoras e transformadoras, impostas pelos diferentes grupos que lutam pela educação, reconhecendo-a como valioso instrumento que poderá servir a dominação ou a emancipação. Nesse sentido, não podemos deixar de compreendê-la dentro do contexto político, considerando as mudanças e as especificidades de cada momento da vida do país, influenciado pelas situações econômicas, sociais e culturais. É dentro desse movimento que podemos visualizar essa educação, e fazer uma releitura a partir dos momentos históricos, que a sociedade brasileira exerceu o direito democrático da participação o que provocou mudanças substanciais na educação das pessoas jovens e adultas. No final dos anos 40 até o início dos anos 60, a EJA ganhou visibilidade na agenda nacional, isto porque os governantes, imbuídos da necessidade de implementar políticas de desenvolvimento econômico e social, aguçaram o olhar para o ensino das pessoas adolescentes e adultas, que muitos não tinham o acesso à leitura e escrita. Nesse momento, deu-se início as políticas de campanhas de massa e entre essas ganhou destaque a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA. Essa campanha tinha como intenção maior preparar mão de obra alfabetizada nas cidades e no campo, além de melhorar a situação do Brasil nas estatísticas mundiais de analfabetismo (PAIVA, 1987, p.178). Pelo público atendido nessa campanha, percebia-se que ainda não havia uma preocupação com o ensino específico para adultos, mas uma forma de atender a todos aqueles que estivessem em idade de servir como mão de obra para a indústria. Por isso, vários grupos da sociedade civil reagiram aos seus princípios e promoveram discussões através de congressos e seminários. E foi no II Congresso Nacional de Educação que os professores passaram a se preocupar com o fato de que embora a campanha formasse um subsistema próprio, utilizava as mesmas características da educação infantil (HADDAD E PIERRO, p. 112) Nesse sentido, é oportuno ressaltar que mesmo depois de mais de 50 anos da CEAA, a educação dos adultos continua, ainda hoje, com fortes marcas da infantilização, uma vez que os adolescentes continuam fazendo parte da educação de jovens e adultos, impedindo, desta forma, que se estabeleça uma fronteira nessa educação, a fim de definir quem são os seus verdadeiros destinatários e, portanto, pensar políticas de currículos e metodologias apropriadas para essa modalidade. Mas, de acordo com PAIVA (1987) entre os sentimentos de euforia e decepção a campanha continuava com as mesmas características do período de 1958/64. O preconceito criado contra o analfabeto colocava as pessoas adultas na condição de socialmente inferiores e incapazes, com a falsa justificativa de não possuírem maturidade cognitiva e conhecimentos suficientes, para participar da vida política do país através do voto. Com a intensificação da mobilização popular, em 1962, essa visão preconceituosa começou a ser combatida, pelos grupos dos marxistas e cristãos e mais tarde pelos movimentos populares, através da valorização da cultura e da arte popular e entre estes estão as iniciativas concretas de educação de adultos realizadas no Rio Grande do Norte, fundadas nas ideias do educador Paulo Freire como a experiência de Angicos e a Campanha de Pé do Chão Também se Aprende a Ler e Escrever na Secretaria de Natal, o Movimento de Educação de Base da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil e o Movimento de Cultura Popular no Recife. Com todos esses movimentos de valorização da cultura popular, segundo (HADDAD E PIERRO, 2000, p. 113) a educação e adultos passou a ser reconhecida como instrumento poderoso de ação política. Esses movimentos populares foram se expandindo e ganhando força, principalmente no nordeste brasileiro e em 1964 o país foi atravessado por uma onda de repressão, que culminou com a violação de um dos mais importantes direitos humanos: o direito a liberdade, que ficou registrado na história como o golpe militar. De acordo com (HADDAD e DI PIERRO, 2000 p. 113) a ruptura política ocorrida com o movimento de 64 tentou acabar com as práticas educativas que auxiliavam na explicitação dos interesses populares. Neste período, portanto, as iniciativas de alfabetização ligadas aos movimentos populares representavam uma ameaça para a nova ordem política, uma vez que estas contrariavam os interesses desse regime político, por isso, durante o golpe militar foi criado uma campanha de alfabetização denominada Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL para garantir o estabelecimento de relações sociais em conformidade com o regime instituído. Um estudo feito por JANNUZZI (1979) confrontando pedagogicamente a concepção de alfabetização de Freire e do MOBRAL concluiu-se que neste aspecto as concepções são totalmente opostas, porque utilizavam métodos pedagógicos diferentes, embora usassem as mesmas técnicas. Enquanto Paulo Freire utilizava o diálogo para desenvolver o método, o MOBRAL era basicamente antidialógico, uma vez que os objetivos já estavam previamente definidos. Para a autora, essas diferenças eram marcadas pela intencionalidade política que estava por trás das duas concepções, porque enquanto a freiriana concebia alfabetizar como processo de consciência de si mesmo e do mundo, o MOBRAL entendia alfabetizar como possibilidade de contribuir com o desenvolvimento econômico. Nessa perspectiva, durante vinte anos a educação de jovens e adultos esteve entre a dominação do regime ditatorial e a emancipação dos movimentos populares, isso, porque, mesmo diante de tanta repressão, com o exílio de alguns lideres dos movimentos populares, eles não desapareceram e continuaram resistindo, através da ação dos educadores populares. Somente após 1985, quando o país retomou o processo de redemocratização, tornou-se possível a sociedade civil organizada e os movimentos sociais populares reiniciarem seus trabalhos, ocuparem seus espaços e voltar a reivindicar os direitos sociais e, nesse contexto, a educação de jovens e adultos (HADDAD e DI PIERRO, 2000, p.19) será marcada pela contradição, de um lado com a afirmação no plano jurídico e por outro a negação pelas políticas públicas. Essa contradição revela o quanto ainda é desafiador pensar a educação de jovens e adultos nos espaços governamentais e os esforços que os movimentos sociais populares ainda precisarão enfrentar para assegurar a essa modalidade de educação as políticas públicas necessárias e fazer cumprir a legislação conquistada, com muita luta, ao longo de sua história. 2. AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESCOLARIZAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS E AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS. Conhecer a trajetória da educação de adultos e seus condicionamentos políticos, principalmente nos períodos de maior participação e mobilização popular em torno das questões básicas da vida em sociedade, incluindo a luta pela educação, é de fundamental importância para a compreensão do processo de escolarização e a natureza das suas políticas que vem sendo executadas nos âmbitos federal, estadual e municipal. Uma das questões que a trajetória dessa educação nos revela, se refere a tensão entre o poder hegemônico e contra hegemônico na elaboração e implementação das políticas públicas de educação de adultos, o que vai exigir uma análise criteriosa dessas, uma vez que se constroem como afirma BONETI (2012) nas relações entre o Estado, as classes sociais e a sociedade civil. (...) é possível entender como políticas públicas a ação que nasce do contexto social, mas que passa pela esfera estatal como decisão de uma intervenção pública numa realidade social, quer seja para fazer um investimento ou uma mera regulamentação administrativa. Entende-se por políticas públicas o resultado do jogo de forças que se estabelecem no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos grupos econômicos e políticos, classes sociais, e demais organizações da sociedade civil. (BONETI, 2012, p. 270) Esta é a dinâmica que envolve as políticas públicas e, por isso a existência das contradições entre os interesses dos grupos governamentais e os movimentos sociais tão acentuadas nas ações da educação de jovens e adultos. Isso se tornou mais visível nos anos 90 quando por força da mobilização social nacional, expressa pelos movimentos anteriormente citados e pelas imposições econômicas que criou organismos internacionais para favorecer a nova ordem econômica global, essa modalidade passou por mudanças bastante significativas de regulação e emancipação no seu processo de consolidação da escolarização básica. Como organismo internacional governamental, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO foi responsável pelas ações de educação de adultos e realizou seis conferências internacionais, com a primeira iniciada em 1949. Cada uma das conferências trouxe as marcas do seu tempo histórico, onde os temas revelam as condições políticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais da época com as recomendações expressas através de documentos que possibilitaram fazer uma leitura, considerando todos os condicionamentos presentes na trajetória da educação de adultos, que para ANÍBAL APUD SILVA (2013) torna a UNESCO um “verdadeiro vetor estruturador do campo”. Portanto, todas as CONFINTEA contribuíram para pensar as políticas de educação de adultos, porém nesse texto serão destacadas apenas algumas que contribuíram de forma mais efetiva para analisar o processo educacional, ampliando a discussão sobre a educação dos adultos e o conceito de escolaridade. Assim a terceira CONFINTEA, realizada em 1972, no Japão/Tóquio trouxe uma grande contribuição para pensar as políticas de escolarização quando definiu como tema a Educação do Adulto num Contexto de Educação Permanente. Essa conferência inaugurou um novo olhar sobre a educação de adultos, porque passou a ser responsabilidade dos Estados, possibilitando um repensar sobre a escolarização, a partir de uma compreensão de educação mais política e social na dimensão dos adultos populares como descreve o Relatório Faure, segundo BARROS (2011) (...) o conceito de educação permanente diz respeito a todo o processo educativo, compreendendo todas as suas formas, expressões e momentos, de maneira a garantir a educação global (...) e preparar os adultos para exercerem melhor a autonomia e liberdade. A educação permanente é entendida, neste contexto, como um projeto educativo que inter-relaciona incessantemente a dimensão individual e a dimensão social da educação, pelo que visa sobretudo a construção de um “Homem novo” veiculando um sistema humanista de valores coletivos. (BARROS, 2011, p.136) Esta concepção compreende o processo educativo como expressão das várias formas de aprendizagens inter-relacionadas com as dimensões individuais e sociais, extrapolando, portanto, a lógica escolar de transmissão fragmentada e individualizada de conhecimentos, propondo uma prática democrática e coletiva. Isso, porque foi pensada com a participação efetiva dos movimentos sociais populares, com forte influência da educação popular referendadas nas ideias de Paulo Freire, que defendia a aproximação entre a ciência e a humanização como forma de superação da prática autoritária e conservadora presente nas relações pedagógicas. A partir daí, foi se delineando uma proposta para a escolarização de pessoas adultas reconhecendo suas especificidades como sujeitos sociais e coletivos, que no enfrentamento da vida vão se formando, e nessa dinâmica (re) constroem saberes e (re) produzem culturas. As transformações geradas por essa terceira CONFINTEA se deram pela forma como concebia a educação de adultos, priorizando os princípios educacionais que consideravam o ser humano como sujeito ativo, crítico e criativo, que superavam o limite do paradigma da educação escolar, porque reconheciam todas as aprendizagens e conhecimentos práticos, abarcando todas as dimensões da vida. Essa concepção foi substituída por outro paradigma denominado educação ao longo da vida, criado em 1996, cujos princípios estão descritos no Relatório Delors. O Relatório Delors perfilha que a educação para o século 21 deve ter subjacente os valores e os princípios fundamentais e comuns a toda a comunidade internacional: direitos humanos, tolerância, democracia, luta contra a pobreza, erradicação do analfabetismo, etc. O relatório apela ainda para o papel da educação na construção da coesão social e de uma cidadania ativa e participativa ao longo da vida. (TEODORO e JEZINE, 2011, p.185) O Relatório refere-se às questões centrais vivenciadas pela sociedade mundial da época, que experimentava o grande desenvolvimento tecnológico e, consequentemente, a elaboração de novos conhecimentos. Para facilitar o acesso a esses conhecimentos, a educação se constituiu em um instrumento de fundamental importância, por isso, esse paradigma foi alicerçado em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver e aprender a fazer, incorporando outros conhecimentos, além do formal escolar, como o conhecimento não formal e informal para distinguir o conhecimento validado pela escola do conhecimento aprendido em outros espaços e o conhecimento natural, gerado da própria vida. Para (BARROS, 2011, p. 144) o impacto nas estruturas sociais que essa mudança pode provocar é o que produz a maior ou menor adesão à inovação, e é o que se constitui normalmente como objeto de debate e controvérsia. Em sua análise houve uma ruptura com os pressupostos da educação permanente porque esmaga o potencial de humanização pessoal (BARROS, 2011, p. 191). Já TEODORO E JEZINE citam (ROMÃO, 2002, p.101) que considera, no mínimo, curioso um documento dessa natureza que foge aos padrões hegemônicos servir como base para o cidadão do século 21. O aprofundamento desse paradigma, aprendizagem ao longo da vida, se deu na CONFINTEA VI de 2009, que aconteceu no Brasil, em Belém, com a retomada da discussão sobre o poder da aprendizagem e da educação de adultos, reforçando a educação não formal e informal que se aprende ao longo da vida. Como afirma o DOCUMENTO MARCO DE BELÉM (2010, p. 06) o papel da aprendizagem é fundamental para resolver questões globais e desafios educacionais. Neste período, a educação de jovens e adultos, aqui no Brasil, estava sendo objeto de muitas pesquisas e discussões em torno da escolarização estendida a todos os sujeitos independente da idade com a garantia da continuidade ao longo da vida. Assim, Dessa forma, passou-se a pensar a educação de jovens e adultos como processo educativo, que de acordo com (PAIVA, 2009, p. 19) pode começar da alfabetização articulada obrigatoriamente a outras etapas, que configurem o ensino fundamental completo. Só assim se estará caminhando na direção de repor o direito à educação, anteriormente negado. É neste cenário das discussões nacionais e internacionais, nos encontros e desencontros, na luta pela contra hegemonia, envolvendo governos e movimentos sociais que as políticas de escolarização para a educação de jovens e adultos vão se construindo e demarcando o território, como direito, enquanto espaço de formação/aprendizagem política e social na dimensão da humanização, capaz de tensionar e estabelecer conflitos na perspectiva do reconhecimento como educação de grupos específicos, jovens e adultos populares, que fazem dos saberes da vida um dos instrumentos valiosos para compreender e intervir no mundo. 3. ESCOLARIZAÇÃO BÁSICA DE JOVENS E ADULTOS: ENTRE POLÍTICAS COMPENSATÓRIAS E DE EMANCIPAÇÃO Diante do que analisamos sobre as CONFINTEA podemos afirmar que o processo de escolarização de jovens e adultos no Brasil sofreu forte influência das discussões internacionais e que, coincidentemente, as duas últimas Conferências aconteceram no mesmo período em que o país vivenciava um momento de redemocratização após o fim do golpe militar de 1964. Esse período democrático, de acordo com a análise feita no início desse texto, foi marcado por grande mobilização social e a educação de jovens e adultos conseguiu avanços importantes, no campo da legislação. A nova Constituição Brasileira de 1988 reconheceu, através do Artigo 208, Inciso I, o ensino fundamental obrigatório e gratuito para todos independente da idade. Após oito anos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN, Lei nº 9.394/96 definiu a educação de jovens e adultos como direito subjetivo e assegurou no Artigo 4º, Inciso VII e no Capítulo II, Artigo 37 a oferta de educação regular garantindo o acesso e permanência, considerando as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho. Mas foi a partir desses avanços que surgiram também os grandes desafios a serem enfrentados pelos setores populares na luta pela a garantia de políticas que colaborassem com a emancipação dos sujeitos jovens e adultos. O fato de o Brasil ter sediado última CONFINTEA gerou um clima favorável e criaram-se expectativas alimentadas pelos próprios documentos internacionais que reforçavam temas relacionados a democracia, a liberdade e aos direitos humanos. Porém, ao mesmo tempo em que os discursos apresentavam linguagens semelhantes, ocultavam segundo RODRIGUEZ (2009) profundas divergências entre os mesmos significantes. Nesse sentido, a autora discute o sentido de excluído/incluído na perspectiva da Pedagogia do Oprimido escrita por Paulo Freire. Ser ”excluído” não é um “estar fora de”, mas, pelo contrario, é ser parte fundamental de uma sociedade ocupando um lugar. Politicamente subordinado, culturalmente desierarquizado (...) Por isso, “incluir” é, na realidade, mudar de posição em um conjunto do qual já se tomava parte (...) É portanto, um movimento impossível sem transformações sociais, econômicas, culturais profundas, ou seja sem conflito. (RODRIGUEZ, 2009, P. 327) Essa visão de inclusão na perspectiva freiriana é oposta ao significado de inclusão na visão capitalista globalizante, porém o fato da maioria das políticas educacionais se referir a problemáticas relacionadas a cultura da paz, a diversidade cultural e a sustentabilidade ambiental acaba confundindo e mascarando as suas reais intencionalidades. Por isso, a necessidade de indagar para que e para quem são elaboradas as políticas educacionais? A serviço de que e de quem estão as políticas de escolarização básica de jovens e adultos? As políticas de inclusão capitalista globalizante procura promover pequenas mudanças, sem alterar a ordem hegemônica estabelecida e ideologicamente são capazes de convencer as pessoas, através do racionalismo econômico, de que elas estão fora da sociedade, e para se incluírem precisarão buscar formas de adequar-se as políticas educacionais existentes. Essa situação é percebida quando são oferecidas políticas compensatórias para a correção idade/série, que funciona segundo (PIERRO, 2008, p. 401) como um canal de reinserção no sistema educativo de adolescentes e jovens excluídos precocemente, e de aceleração de estudos para aqueles que representam acentuado atraso escolar. Essa tendência de políticas supletivas e compensatórias na escolarização de jovens e adultos começou desde as primeiras campanhas, nos anos 40, para ampliar a alfabetização até a escolarização do ensino primário elementar (PAIVA, 1987, p. 190) com vistas no desenvolvimento industrial da época. Após a LEI 9.394/96, passou a ser chamada de política de certificação da educação de jovens e adultos, realizada através do Exame Nacional de Competência da Educação de Jovens e Adultos – ENCCEJA para o ensino fundamental, reduzindo a idade de 18 para 15 anos e o Exame Nacional do Ensino Médio e as Comissões Permanentes de Avaliação do Estado da Bahia reduzindo também a idade de 21 para 18 anos. Essas políticas geram como resultado a formação de uma categoria de analfabeto chamada de analfabetos funcionais que, em sua maioria utilizam essa precária escolaridade, devido ao pouco domínio da leitura, escrita e cálculo, como mecanismo para sobreviver e se inserir num subemprego. Ainda se referindo a políticas compensatórias, a escolarização dos jovens e adultos, mesmo assegurada como direito pela legislação, continua marginalizada pelo sistema de ensino. Nos anos 90, com o argumento que a educação de jovens e adultos era muito dispendiosa em termos de custo e não apresentava um resultado satisfatório, resolveu-se focalizar os recursos públicos no ensino fundamental de crianças e adolescentes como forma estratégica de combate ao analfabetismo. Assim foi criado o Fundo de Valorização do Ensino Fundamental – FUNDEF e as matrículas para a EJA foram vetadas. (...) Rompe-se, assim, o princípio da universalidade inerente ao direito humano à educação: embora as leis maiores assegurem a todos o acesso e a progressão na educação básica pública, gratuita e de qualidade, a focalização de recursos para a educação escolar na faixa de 7 a 14 anos suprimiu os meios para que as instâncias administrativas do Estado cumpram adequadamente seu dever na provisão de ensino fundamental aos jovens e adultos. (PIERRO, 2005, p.1123) Além dessa medida não respeitar um direito universal, vital para a formação da pessoa, com a negação do direito a escolarização básica, colocou a educação de jovens e adultos numa condição de marginalidade dentro dos sistemas de ensino, porque, mesmo com o veto presidencial, a demanda continuou crescendo e os estados e municípios, para continuar o atendimento, foram criando mecanismos para burlar o veto, e foi assim que organizaram as classes de aceleração, como ensino regular, para atendimento aos estudantes em defasagem idade/série e serem beneficiados pelo financiamento. Essa medida, portanto, deixou as políticas de escolarização básica na dependência financeira dos estados e municípios e a oferta tornou-se bastante instável. Como a instância federal se eximiu da obrigação com essa modalidade resolveu tomar a iniciativa de realizar parecerias com organizações sociais. Isso implicou em alguns riscos, como esclarece (PIERRO, 2005, p. 1124) a delegação de responsabilidade pública à sociedade civil organizada; tendência regressiva de desconstituição dos direitos educativos dos jovens e adultos e sua conversão em filantropia privada. Os riscos apontados por DI PIERRO (2005) trouxeram sérias consequências para a educação de jovens e adultos. Além de ocupar um lugar marginal no sistema de ensino, a maioria dos estados e municípios não se sentiu responsáveis pelo atendimento prevalecendo a transferência da responsabilidade pela oferta de cursos para instituições privadas, que por falta de conhecimento pedagógico e legal, além de recursos insuficientes apelavam para a improvisação. Por isso, até hoje, muitos municípios desconhecem a legislação que orienta os cursos de educação de jovens e adultos, ignorando as Resoluções Nacionais e Estaduais e as Diretrizes Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos do ensino fundamental. Para superar os efeitos gerados pelas políticas compensatórias, sabendo que muitos desses efeitos ainda prevalecem na maioria dos sistemas de ensino brasileiros, os coletivos populares foram desafiados a posicionar-se na sociedade da qual fazem parte, a fim de sair do não lugar e, nesse processo, os movimentos sociais têm muito a contribuir. As tensas relações entre o Estado e movimentos sociais têm um território concreto, as políticas. Os militantes ao avançar na consciência de serem sujeitos de direitos exigem respostas do Estado. Exigem outras políticas. São sujeitos de outra forma de elaborar, implementar políticas públicas. Lutam por suas políticas agrária, urbana educacional (...) Ao exigir outras políticas desocultam a função política das políticas/programas que o Estado lhe oferece. (ARROYO, 2012, p.291) Nessa tensão entre o Estado e os movimentos sociais, os populares se percebem como sujeitos de direitos e passam a exigir outras políticas, para além das políticas compensatórias, mas políticas de emancipação que possibilite a transformação das estruturas injustas. Nesse sentido, emancipar significa o reconhecimento de que todas as pessoas fazem parte da sociedade e como grupos politicamente situados, alguns ocupam lugares na história que ferem a sua dignidade, pela negação de direitos, gerando conflitos que os impulsionam a buscar transformar radicalmente a realidade política, social, cultural e econômica pelo engajamento na luta coletiva, por melhores formas de organizações da vida em sociedade. Portanto, emancipar é uma tarefa essencial dos movimentos sociais populares e ai está a sua principal função enquanto instrumento de transformação social. Isso porque os movimentos sociais empoderam os populares na medida em que (...) Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e proibições. Aprende-se a acreditar no poder das falas e das ideias, quando expressas em lugares e ocasiões adequadas. (...) E aprende-se, sobretudo, a não abrir mão de princípios que balizam determinados interesses como seus. (GOHN, 2005, p. 19) Isso demonstra a importância da existência dos movimentos no interior da sociedade com a participação dos grupos populares, que através da utilização de pedagogias próprias, denominadas de educação popular, vão desvelando os significados e rompendo com as imposições dos grupos dominantes. Daí que o termo “popular” tem uma importância fundamental na trajetória EJA, pelas possibilidades de honrar a origem, as necessidades e características da maioria da população (FREITAS, 2002, P.53). Conclui-se, então, que para emancipar os sujeitos das estruturas injustas as políticas de escolarização básica devem reconhecer os populares, e suas dinâmicas de vida, como referência na elaboração de instrumentos e estratégias para a efetivação do direito de aprender. Nessa luta constante pela efetivação das políticas de escolarização básica, o Movimento dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos tem desempenhado um papel importante, devido a sua estrutura, organização e funcionamento. São espaços abertos, que possuem baixo grau de institucionalidade, tem caráter suprapartidário, reúnem uma pluralidade de organismos governamentais e não governamentais. (PIERRO, 2005, p. 1130) Portanto, os Fóruns Estaduais são espaços abertos para pensar as políticas de educação de jovens e tiveram uma participação efetiva nas CONFINTEA o que contribuiu para pensar as políticas de escolarização básica de forma ampliada, uma vez que agregam, em sua composição, as instituições governamentais e a sociedade civil organizada representada pelos movimentos e sociais populares. O grande mérito dos Fóruns, segundo PAIVA (2009) é estar onde antes os atores da EJA não estavam, ou seja, concorrendo a recursos, aos cenários de discussões, marcando o lugar político da demanda social por EJA. Essa presença é visível, através das ações que vem realizando como movimento, principalmente no que se refere às ações de informação sobre a legislação que orienta as ações políticas operacionais e pedagógicas da educação de jovens e adultos; de mobilização para tensionar na elaboração de políticas públicas e na efetivação do controle social sobre essas políticas; e na realização de encontros e seminários nacionais de formação de professores na especificidade dessa modalidade. Essas ações são bastante desafiadoras para os Fóruns que continuam lutando pelas problemáticas relacionadas aos recursos financeiros, as políticas de emancipação e pelo cumprimento das metas no Plano Nacional de Educação - PNE de 2014 a 2024. De acordo com (PIERRO, 2010) avaliando os resultados do PNE anterior, de 2001 a 2010, para a educação de jovens e adultos constatou-se mais retrocesso do que avanço. Isso porque, muitas metas não foram cumpridas considerando o prazo e os percentuais que foram estabelecidos nas respectivas metas. Neste contexto os Fóruns Estaduais lutam pela inserção da alfabetização na educação básica de jovens e adultos, e pelo fim das políticas de programas de alfabetização no enfrentamento do analfabetismo; pela correção do valor aluno dessa modalidade calculado pelo Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica - FUNDEB para aumentar a oferta em função da crescente demanda nos estados e municípios; pela revisão do regime de colaboração, com centralização das políticas pela união, para que os estados e municípios possam assumir os encargos pela oferta da escolarização básica da educação de jovens e adultos. Além desses desafios, os Fóruns, ultimamente, têm lutado para assegurar o aumento da oferta de escolarização básica de jovens e adultos no espaço institucional da escola. Esse espaço público, plural, considerado privilegiado para a realização de aprendizagens, por isso, deve estar aberto para os jovens e adultos e suas experiências. Portanto, não podemos eliminar a escola pública, como instituição social, e sim utilizá-la como um espaço de formação, conscientização e politização em sua essência, adotando as práticas político-educacional-culturais como internalizadas ao fazer pedagógico de professores e alunos. Nesta perspectiva o currículo não se elabora ou se planeja, se constrói no movimento, tendo o diálogo como procedimento metodológico constante, em que o global e o particular se completam, vinculados a um conteúdo fundamentado na história de vida dos sujeitos. (JEZINE, 2002, p.06) Nesse sentido, a escola precisa abrir-se para novas práticas educativas formais ou informais voltadas para a emancipação dos grupos populares. Sabemos que a maioria das escolas que existe não foi pensada para acolher os estudantes jovens e adultos, por isso, precisamos aprender com os movimentos sociais populares como organizar as escolas para os jovens e adultos, e ofertar a escolarização básica, de forma que garanta o acesso e a permanência dos estudantes, com a garantia de aprendizagens, transformando a escola com a efetivação de currículos emancipatórios, com tempos e espaços pedagógicos diferenciados, voltados para os reais interesses e necessidades do tempo da juventude e da idade adulta, tendo a história de vida dos coletivos de estudantes e de docentes como conteúdos fundantes, articulados com as áreas de conhecimento escolar, levando em conta a diversidade social, regional, étnica e cultural em que vivem. CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Essa breve análise sobre a trajetória da educação de adultos - EA que, atualmente denominamos de educação de jovens e adultos - EJA, mostrou a intensidade das interconexões dos movimentos sociais, principalmente dos setores populares, com essa educação. Uma das razões está no fato desta ter-se originado da iniciativa social. Nos dois momentos de (re) democratização do país, entre as décadas de 40 até o início de 60 e nos anos 90, a educação de pessoas jovens e adultas passou por significativas transformações. Inicialmente com políticas de programas de alfabetização, com destaque a Campanha de Adolescentes e Adultos – CAA, movidas pelos interesses de governos que usavam a alfabetização como estratégia para o desenvolvimento econômico. Esses interesses entraram em choque com as aspirações dos movimentos sociais de tendência popular que entendiam o processo de alfabetização como uma condição humana. Vários fora os movimentos sociais que eclodiram nessa época com a participação de marxistas e cristãos. Esses movimentos se fortaleceram e passaram a realizar encontros e congressos, para discutir às questões relacionas ao analfabetismo e as políticas de governo. Eles tiveram uma atuação importante na valorização do saber, da cultura e da arte popular, empoderando as pessoas analfabetas e, assim, começaram a combater o preconceito contra o analfabeto e defender o direito ao voto. Esses movimentos também foram importantes para pensar a escolarização de jovens e adultos, lançando as bases para a construção de uma concepção na perspectiva dos populares, articulando saberes/vida/ciência como demonstrou a experiência de Angicos, em Natal/RN, onde Paulo Freire, através da educação popular, conseguiu unir povo/universidade/governo para juntos realizarem a leitura do mundo e a leitura da palavra. As Conferencias Internacionais de Educação de Adultos, realizadas pela UNESCO, também desempenharam um papel importante, na medida em que se tornaram um espaço mundial de discussão, com a possibilidade, em alguns momentos, da participação dos movimentos sociais populares. Aqui no Brasil essa participação foi marcada na CONFINTEA III com inovações de práticas educativas, e na CONFINTEA VI com a participação efetiva, através dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos, na elaboração do documento base preparatório, o que demonstrou, que mesmo com a ditadura militar, as discussões continuaram com temáticas provocativas que desafiavam os movimentos populares, criando tensão entre os interesses representados pelo poder hegemônico e os grupos populares que lutavam por justiça social. Os avanços conseguidos atualmente na escolarização de jovens e adultos deve-se a todo esse processo de luta: a garantia do direito, a gratuidade da educação básica, o reconhecimento da especificidade dos estudantes da EJA e suas histórias de vida, as políticas de formação de professores, de alimentação escolar, de financiamento e do livro didático, todos assegurados pela legislação. Porém, a maioria destas conquistas ainda não se tornou realidade em muitos sistemas de ensino dos estados e municípios e, por isso, há uma tendência de aproximar mais a educação de jovens e adultos e o processo de escolarização dos movimentos de educação popular para fortalecer essa modalidade para que ocupe o seu lugar, dentro do sistema de ensino brasileiro, como política de Estado. REFERÊNCIAS ANÍBAL, Alexandra. Da educação Permanente à aprendizagem ao longo da vida e à validação das aprendizagens informais e não formais: recomendações e práticas. Lisboa- Portugual. CIES e – Working Paper Nº 147/2013. 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