Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira Universidade Estadual Santa Cruz O nível ótimo de produção, lucratividade e a relação custo/benefício na cultura do cacau Antonio César Costa Zugaib, MSc em Economia Rural - UFV Almir Martins dos Santos, PHD em Administação – UM1 Valter Alves Nascimento, MSc em Economia - UFBa Ilhéus – Itabuna Junho - 2008 O nível ótimo de produção, lucratividade e a relação custo/benefício na cultura do cacau Antonio César Costa Zugaib, MSc em Economia Rural - UFV Almir Martins dos Santos, PHD em Administação – UM1 Valter Alves Nascimento, MSc em Economia - UFBa Resumo - Este artigo analisa o nível ótimo da produção de cacau considerando seis níveis de tecnologia (T0 a T6). A metodologia utilizada foi o nível ótimo do uso dos insumos e a relação custo/benefício. Foram determinados ainda os seguintes indicadores econômicos: receita bruta, receita líquida, lucratividade e ponto de nivelamento. A pesquisa considerou ainda o trabalho apresentado por Irfan e Haque, 2004, na Conferência para o desenvolvimento do comércio, nas Nações Unidas, denominado Commodities under Neoliberalism: The Case of Cocoa, onde compara diversos custos unitários de produção de cacau em US$/t de vários países produtores. Comparando os resultados obtidos por Ruf e Milly (1990) e citados por Irfan e Haque (2004), com os resultados deste trabalho, para a tecnologia mais completa a T6, verificamos que o custo unitário de produção aumentou, saltando de US$ 1,62/Kg no período 1995-1999 para US$ 2,29/Kg para maio de 2008. Mesmo comparando com tecnologia mais simples (T0 a T5) constatamos que o custo unitário de produção aumentou. Da mesma forma o preço ao produtor aumentou, saindo de US$ 1,18/Kg para US$ 2,77/Kg. Porém, a relação entre o custo de produção e o preço ao produtor foi reduzida, saindo de 137% para 82,71%. Essa redução na relação se deu não por causa do decréscimo do custo de produção, mas pelo aumento do preço do cacau ao produtor. Políticas no sentido de melhorar a nossa produtividade e conseqüentemente baixar o nosso custo unitário de produção, são condições “sine qua non” para que possamos ganhar em competitividade internacional. Palavras chaves: Nível ótimo, tecnologia, custo unitário de produção. 1. Introdução As empresas necessitam gerenciar cada vez mais os efeitos intrincados do acirramento da concorrência global, que traz rápidas evoluções tecnológicas e fortes mudanças sociais. O empresário, aquele que toma decisões, inova e corre o risco na empresa, precisa administrar estrategicamente o futuro da organização. O que e o quanto produzir são importantes, mas previamente definidos o “como produzir” passa a ser questão estratégica na administração empresarial. O “como produzir” é uma questão que trata da combinação apropriada dos fatores produtivos visando otimizá-los, ou seja, a obtenção de um certo nível de produção ao menor custo disponível. Os preços dos fatores têm um papel fundamental 2 neste processo ao indicarem quais os recursos mais escassos e, portanto, quais os fatores devem ser economizados. O “como produzir” envolve problemas de seleção de combinação de recursos e de técnicas a serem empregadas no processo produtivo. A escolha das técnicas, por sua vez, depende dos preços relativos dos recursos e do nível de produção. Neste contexto surge a tecnologia, ela específica todas as possibilidades técnicas pelos quais os fatores de produção podem ser transformados em bens e serviços. Dentre as diferentes possibilidades técnicas disponíveis a uma empresa, o empresário irá escolher aquela que ele julgar ser mais eficiente economicamente. Ou seja, aquela que propiciar o mesmo nível de produto que as técnicas alternativas, ao menor custo possível. Nesse sentido, faz-se necessário que o empresário administre com competência a função administrativa na qual constam o planejamento, organização, direção e o controle. O controle administrativo envolve medição e avaliação dos resultados do desempenho e a tomada de ação corretiva. Faz-se necessário, contudo, que o produtor esteja familiarizado com esses conceitos, que ele seja competitivo e conheça a eficiência técnica e econômica de sua empresa. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar o nível ótimo de produção ou o ponto de nivelamento, lucratividade e a relação custo/benefício da empresa cacaueira. 2. Metodologia 2.1. Fonte de Dados Os preços da tonelada de cacau no mercado externo foram levantados no site da Bolsa de Mercadorias de Nova York. Os preços médios da arroba de cacau no mercado interno foram levantados no site da Secretaria de Agricultura, irrigação e Reforma Agrária do governo do Estado da Bahia – SEAGRI. Os preços médios dos insumos foram levantados na praça do município de Ilhéus.(Anexo 1) A taxa de câmbio média foi pesquisada no site do Banco Central do Brasil. Todos os preços médios foram tomados para maio de 2008. 2.2. Referencial Teórico Para esse trabalho utilizaremos como referenciais teóricos: O nível ótimo de uso dos insumos, receita bruta, receita líquida, lucratividade, ponto de nivelamento e relação custo/benefício. 2.2.1. Nível Ótimo de Uso de Insumo A pressuposição básica é que o objetivo econômico da firma é a maximização de lucro (π) ou da receita líquida. 3 Na determinação do nível de insumo variável que maximiza lucro, o uso da análise marginal é o mais apropriado. Essa análise é utilizada para comparar o custo do insumo variável com a receita do produto. Um insumo variável deve ser adicionado ao processo produtivo até o ponto onde a mudança na renda, devido ao uso da última unidade de insumo, for maior ou igual à mudança no custo resultante da última unidade empregada desse insumo. Se a última unidade do insumo empregado aumentar mais a receita do que o custo, mais insumo deve ser utilizado. Entretanto, se a última unidade de insumo usado aumentar mais o custo do que a receita, menor quantidade desse insumo deve ser utilizada. Resumindo, um insumo variável deve ser empregado até o ponto onde o valor adicional do produto for maior ou igual ao total adicional do custo do insumo, isto é, no ponto onde o produto físico marginal (PFMa) do insumo vezes o preço do produto for maior ou igual ao preço do insumo, PMax1 * Py ≥ Px1. De outra forma, desde que o valor do produto marginal (VPM = Py * PMax1) do insumo variável for maior ou igual ao preço do insumo, VPMax1 ≥ Px1. A derivação matemática dessa regra de decisão é apresentada a seguir: Max lucro (π) = RT – CT Lucro é dado pela diferença entre a receita total (RT) e o custo total (CT). Na determinação do lucro é necessário, portanto, conhecer a receita e o custo. Os preços dos insumos de produção e a tecnologia constituem-se os determinantes básicos de custo. Uma vez estabelecida à tecnologia, o total de cada insumo necessário para produzir qualquer nível de produto pode ser determinado. O custo total é dado pela soma dos custos variável e fixo. CT = X1 * Px1 + K, Em que X1 é a quantidade do insumo variável usado na produção; Px1, o preço do insumo; e K, o custo dos insumos fixos. A receita total é obtida pelo produto da quantidade total vendida e o preço de venda. RT = Y * Py Em que Y é a quantidade vendida do produto; e Py o preço de Venda. Para maximizar lucro tem-se que diferenciar a função com relação ao insumo variável X1. Assumindo que os preços do produto (Py) e insumo (Px1) sejam constantes, obtém-se: Π = Y Py – X1 Px1 – K 4 ∂π ∂ Py ∂Y ----- = ------- * Y - ------ * Py ∂ X1 ∂ X1 ∂ X1 ∂ Px1 ∂ x1 ∂K ------- * X1 - --------- Px1 - -------- = 0 ∂ X1 ∂x1 ∂X Assumindo Px1, Py e K constantes, tem-se: ∂π ∂Y ∂ X1 ----- = ------ * Py - ------- * Px1 = 0 ∂ X1 ∂ X1 ∂ X1 ∂π ∂y ----- = ------ * Py – Px1 = 0 ∂ X1 ∂ x1 ∂y ----- * Py – Px1 = 0 ∂x1 Px1 PFMax1 = --------Py PFMax1 * Py = Px1 VPMax1 = PX1 Em que VPMax1 é o Valor do Produto Marginal de X1. Para calcular as produções marginais admitiu-se que as receitas líquidas (aqui consideradas lucro), seriam o resultado da diferença entre a receita bruta e o custo operacional da realização de cada prática. Aceitou-se também que não serão usados os custos dos insumos fixos. Reconhecendo essas premissas como verdadeira e tomando-se como ponto de partida a equação de lucro, tem-se: Π = Y Py – X1 Px1 (1) Onde . Π = Lucro Y = Quantidade do produto/há 5 PY = Preço do produto/@ Xi = As diferentes práticas usadas no processo de produção. Px1 = Custo operacional de todas as práticas agrícolas determinado pelo sistema de produção (SP). Derivando-se a equação (1) para maximização do lucro, ratinfazendo a condição de primeira ordem tem-se: Π = Y Py – X1 Px1 ∂Π ----- = ∂ Y * Py – Px1 ∂x1 igualando-se a zero, tem-se: ∂ Y * Py – Px1 = 0 Dessa forma, Px1 ∂ Y = ------Py Onde, ∂ Y = Produto marginal das práticas agrícolas Py = Preço do produto/@ Px1 = Custo operacional de todas as práticas agrícolas determinadas pelo sistema de produção (SP). As produções marginais foram obtidas dividindo-se o custo operacional de cada prática agrícola (PXi) pelos diferentes níveis de preço do produto (Py). Portanto a eficiência econômica da empresa agrícola está sendo calculada à medida que o valor da produção marginal (Py * PFMx1) está sendo maior ou igual ao custo operacional de todas as práticas agrícolas (PX1) definidos pelo sistema de produção (SP). Eficiência Econômica = VPMax1 ≥ PX1 6 2.2.2. Relação Benefício/Custo Este método invoca a idéia central de qualquer análise de investimento, isto é, verificar se os benefícios são maiores do que os custos. Neste trabalho não se utilizará o valor presente líquido para calcular o índice da relação benefício/custo. O benefício (B) será calculado pela multiplicação do preço do produto e a produtividade encontrada de acordo com o sistema de produção utilizado (tecnologia). Enquanto que o custo (C) será determinado pela soma dos custos de todas as práticas agrícolas utilizadas para produzir a produtividade alcançada pelo sistema de produção escolhido. B Índice B/C = ------------------C Foram determinados os seguintes indicadores econômicos: receita bruta (produtividade multiplicada pelo preço de venda), receita líquida (receita bruta menos o custo da tecnologia), lucratividade (receita líquida dividida pela receita bruta) e ponto de nivelamento (Custo da Tecnologia dividido pelo preço de venda). 7 2.3. Principais Tecnologias usadas na cacauicultura Para realização do estudo realizou-se o levantamento das principais práticas agrícolas realizadas na cacauicultura. O beneficiamento corresponde a colheita, quebra, fermentação e secagem do cacau, conforme tabela 1 abaixo: Tabela 1 – Principais práticas agrícolas usadas na cacauicultura. 01 Controle de ervas daninhas – roçagem 02 Desbrota 03 Poda 04 Inspeção/poda fitossanitária (nível 0) 05 Remoção (nível i) 06 Remoção (nível ii) 07 Remoção (nível iii) 08 Combate às pragas – polvilhamento 09 Controle de doenças (3 g p. ativo) 10 Controle de doenças (6 g p. ativo) 11 Calagem 12 Adubação mineral (NPK) 13 Controle de ervas daninhas – herbicidas 14 Adubação nitrogenada 15 Raleamento de sombra - com arboricidas 16 Beneficiamento ( 20 @) 17 Beneficiamento ( 30 @) 18 Beneficiamento ( 36 @) 19 Beneficiamento ( 42 @) 20 Beneficiamento ( 48 @) 21 Beneficiamento ( 60 @) 22 Beneficiamento ( 80 @) Fonte: Dados da Pesquisa Na tabela 2 identificou-se seis principais sistemas de produção (SP) doravante denominados tecnologias (T0 a T6), adotadas para produzir cacau na Bahia, os quais sintetizam a transformação ocorrida após o advento da vassoura-de-bruxa. Por exemplo, a tecnologia T0 envolve as práticas agrícolas 01, que corresponde o controle de ervas daninhas ou roçagem, a 02 a desbrota, a 03 a poda, a 05 a remoção da vassoura-de-bruxa nível 1 e a 16 o beneficiamento para 20@ de cacau que é a produtividade condizente para a tecnologia T0 realizada. 8 Tabela 2 – Principais tecnologias usadas na cacauicultura. T0 (01+02+03+05+16) T1 (01+02+03+05+08+17) T2 (01+02+03+05+09+18) T3 (01+02+03+05+08+09+19) T4 (01+02+03+05+08+11+12+20) T5 (01+02+03+05+09+11+12+21) T6 (01+02+03+05+08+09+11+12+22) Fonte: Dados da Pesquisa Com base nos coeficientes técnicos de mão-de-obra, de insumos e de capital exigidos, bem como dos preços praticados no mês de maio de 2008, no Sul da Bahia, calculou-se os custos de cada prática agrícola usada no processo de produção. 3. Resultados e Discussões Na tabela 3 estão representados os custos totais de cada prática agrícola usada no processo de produção de cacau, conforme dados da pesquisa, levando em consideração o número de vezes que é necessário usar uma determinada prática, bem como quantos em arrobas, em reais e dólares seriam necessários para pagar os custos de realização de cada prática. Tabela 3- Custos totais das principais práticas agrícolas usadas na cacauicultura. CUSTO DA PRÁTICA POR HECTARE PRÁTICAS AGRÍCOLAS 01 - CONTROLE DE ERVAS DANINHAS - Roçagem 02 - DESBROTA 03 - PODA 04 - INSPEÇÃO/PODA FITOSSANITÁRIA (NÍVEL 0) 05 - REMOÇÃO (NÍVEL I) 06 - REMOÇÃO (NÍVEL II) 07 - REMOÇÃO (NÍVEL III) 08 - COMBATE ÀS PRAGAS - Polvilhamento 09 - CONTROLE DE DOENÇAS (3 g P. Ativo) 10 - CONTROLE DE DOENÇAS (6 g P.Ativo) 11 - CALAGEM 12 - ADUBAÇÃO MINERAL (NPK) 13 - CONTROLE DE ERVAS DANINHAS - Herbicidas 14 - ADUBAÇÃO NITROGENADA 15 - RALEAMENTO DE SOMBRA - Com arboricidas 16 - BENEFICIAMENTO ( 20 @) 16 - BENEFICIAMENTO ( 30 @) 17 - BENEFICIAMENTO ( 36 @) 18 - BENEFICIAMENTO ( 42 @) 19 - BENEFICIAMENTO ( 48 @) 20 - BENEFICIAMENTO ( 60 @) 21 - BENEFICIAMENTO ( 80 @) UMA REALIZAÇÃO (@) 2,20 0,94 3,78 0,44 0,55 1,48 4,41 0,66 3,33 5,59 3,36 17,93 1,72 4,13 1,48 5,19 7,86 9,07 10,58 12,23 15,11 20,15 Nº REPETIÇÕES 1,0 2,0 1,0 2,0 4,0 4,0 4,0 2,0 4,0 3,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 TOTAL POR ANO @ 2,20 1,89 3,78 0,88 2,20 5,93 17,63 1,32 13,34 16,76 3,36 17,93 1,72 4,13 1,48 5,19 7,86 9,07 10,58 12,23 15,11 20,15 R$ 152,04 130,32 260,65 60,82 152,04 409,51 1216,36 91,32 920,29 1156,56 231,51 1237,44 118,74 285,22 102,22 357,96 542,29 625,55 729,81 843,63 1042,59 1390,12 US$ 91,59 78,51 157,02 36,64 91,59 246,70 732,74 55,01 554,39 696,72 139,46 745,44 71,53 171,82 61,58 215,64 326,68 376,84 439,65 508,21 628,07 837,42 9 De acordo com a tabela 4, podemos verificar que o nível ótimo de produção ou ponto de nivelamento, de acordo com a tecnologia utilizada T0, são 15,261 arrobas, ou seja, se tomarmos a somatória dos produtos marginais das práticas agrícolas necessárias para compor a tecnologia T0 e multiplicarmos pelo preço de mercado (R$69,00) encontraremos o valor do produto marginal (R$ 1.053,00), que é exatamente igual ao preço dos fatores (US$ 634,35 * R$ 1,66). Isto quer dizer que se o produtor vender 20 arrobas de cacau ele cobrirá todos os custos da tecnologia T0 e lhe sobrará 4,74 arrobas de lucro/ha. Tabela 4 – Receita Esperada, custo da tecnologia, margem bruta e a relação custo benefício das principais tecnologias usadas na cacauicultura. NÍVEIS DE TECNOLOGIA RECEITA ESPERADA (@/HA) (US$) CUSTO DA TECNOLOGIA (@/HA) (US$) MARGEM BRUTA (@/HA) (US$) RELAÇÃO BENEFÍCIO/ CUSTO (@) T0 (01+02+03+05+16) 20 831,33 15,26 634,35 4,74 196,98 1,31 T1 (01+02+03+05+08+17) 30 1246,99 19,26 800,41 10,74 446,58 1,56 T2 (01+02+03+05+09+18) 36 1496,39 32,48 1349,94 3,52 146,45 1,11 T3 (01+02+03+05+08+09+19) 42 1745,78 35,31 1467,76 6,69 278,02 1,19 T4 (01+02+03+05+08+11+12+20) 48 1995,18 44,91 1866,84 3,09 128,34 1,07 T5 (01+02+03+05+09+11+12+21) 60 2493,98 59,81 2486,07 0,19 7,90 1,00 T6 (01+02+03+05+08+09+11+12+22) 80 3325,30 66,17 2750,44 13,83 574,86 1,21 Fonte: Dados da pesquisa A relação custo-benefício mais alta é da tecnologia T1, onde para cada R$ 1,00 investido dar-se um retorno de R$ 1,56. A tecnologia que fornece um retorno custo-benefício menor é a T5, onde para R$ 1,00 investido obtém-se o mesmo R$ 1,00. 10 Analisando os mesmos dados através de um contexto diferente, podemos verificar de acordo com a tabela 5 abaixo utilizando o pacote mais completo que é a Tecnologia 6, com uma produtividade esperada de 80@/ha ao preço de R$ 69,00/@, obtemos uma receita bruta de R$ 5.520,00/ha e um custo de R$ 4.565,74/ha, proporcionando ao produtor uma receita líquida de R$ 954,26/ha. Isto proporciona ao produtor um índice de lucratividade de 17,29% e um ponto de nivelamento de 66,17@/ha. Ao citado custo e com uma produtividade esperada de 80@/ha, a taxa de câmbio utilizada 1US$ = R$ 1,66, podemos obter um custo de produção de US$ 2,29/Kg. Ao preço de R$ 69/@ considerando a mesma taxa de câmbio obtemos um preço ao produtor de US$ 2,77/Kg. Comparando o custo de produção com o preço ao produtor obtemos uma relação de 82,71%. Tabela 5 – Indicadores de Lucratividade e Ponto de nivelamento para diferentes tecnologias na cacauicultura. Indicadores/Tecnologias Produtividade Esperada (@/há) Preço ao Produtor (R$/@) Receita Bruta (R$/há) Custo da Tecnologia (R$/há) Receita Líquida (R$/há) Índice de Lucratividade (%) Ponto de Nivelamento (@/há) Custo de Produção US$/Kg Preço ao Produtor US$/Kg Razão Custo de Produção/Preço ao Produtor Tecnologia 0 Tecnologia 1 Tecnologia 2 Tecnologia 3 Tecnologia 4 Tecnologia 5 Tecnologia 6 20 30 36 42 48 60 80 69,00 69,00 69,00 69,00 69,00 69,00 69,00 1.380,00 2.070,00 2.484,00 2.898,00 3.312,00 4.140,00 5.520,00 1.053,02 1.328,68 2.240,90 2.436,48 3.098,96 4.126,88 4.565,74 326,98 741,32 243,10 461,52 213,04 13,12 954,26 23,69 35,81 9,79 15,93 6,43 0,32 17,29 15,26 19,26 32,48 35,31 44,91 59,81 66,17 2,11 1,78 2,50 2,33 2,59 2,76 2,29 2,77 2,77 2,77 2,77 2,77 2,77 2,77 76,31 64,19 90,21 84,07 93,57 99,68 82,71 Fonte: Dados da pesquisa 11 De acordo com trabalho apresentado por Irfan e Haque, 2004, na Conferência para o desenvolvimento do comércio, nas Nações Unidas, denominado Commodities under Neoliberalism: The Case of Cocoa, as estimativas de custos de produção são fornecidas na Tabela 6, com relação ao período 1995-1999, que contribui mesmo sem às variações anuais. Foram calculados tomando em consideração três fatores: (i) os custos previstos para produzir um Kg de cacau em amêndoas em 1989, realizado por um estudo da International Cocoa Organization - ICCO (Ruf e de Milly, 1990); (ii) um ajuste para as melhorias nos rendimentos entre 1989 e 1995-1999, tomando como uma aproximação para melhorias de produtividade através dos países (derivados da base de dados da Food and Agriculture Organization - FAO of the United Nations); e (iii) uma atualização para os efeitos de mudanças domésticas da inflação e da taxa de câmbio durante o período com base nos dados do Fundo Monetário Internacional. De acordo com o autor, as estimativas resultantes não tomaram em consideração os custos de replantio e da plantação nova e são no melhor dos casos uma aproximação um pouco empírica. Tabela 6 – Estimativa dos Custos de Produção dos Principais Países Produtores de Cacau Países Custo de Produção US$/Kg 1989 Preço aos Preço de Produtores Exportação Razão do Custo de Produção para Preço aos Produtores % 1995-1999 Preço de Exportação % Brasil 1.00 19951999 1.62 Camarões 0.83 0.60 0.82 1.34 73 45 Costa do Marfim Gana 0.66 0.60 0.68 1.36 87 44 0.48 1.27 0.78 1.48 163 86 Indonésia 0.60 0.36 1.17 1.14 30 31 Malásia 1.00 0.85 1.20 1.20 71 71 Nigéria 0.50 2.16 0.92 1.34 235 161 1.18 1.44 137 112 O custo de produção da Indonésia. com 36 centavos de dólar por Kg, é de longe o mais baixo. Embora sua produtividade melhorasse muito durante os anos 90 o declínio catastrófico da taxa de câmbio da rupiah conseqüente da crise financeira asiática de 1997 foi o fator mais importante. De um lado, as estimativas para Gana e Nigéria estão elevadas, provavelmente pelas razões opostas: a inflação doméstica não foi compensada adequadamente por um ajuste na taxa de câmbio, 12 embora ambos igualmente sofreram grandes declínios nas produtividades. Apesar da fraqueza das estimativas, é bem seguro dizer que o Brasil e a Nigéria têm os mais elevados custos de produção, embora por razões diferentes. No Brasil, a causa principal para a alta dos custos de produção foi a queda na produtividade por causa da doença no cacaueiro chamada vassoura-de-bruxa. Na Nigéria, a negligência e a falta de gerenciamento são os fatores principais: a produção do cacau não é prioridade dentro do setor primário da economia nesse país e houve uma migração considerável da população nova para outras áreas. Ainda, segundo Irfan e Haque (2004), sobretudo, as variações nas produtividades dos países parece ser o fator mais importante nos aumentos dos custos de produção, onde a liberalização dos mercados não teve muito impacto. Não há nenhuma evidência sistemática nos países produtores de cacau que a presença ou não do estado no mercado proporcione um ganho financeiro. É evidente que Brasil, Gana, e Nigéria obtiveram uma perda, embora no caso de Gana, os custos eram mais baixos do que o preço de exportação por uma margem significativa. A relação dos custos de produção com o preço ao produtor são similares para República dos Camarões, Costa do Marfim e Malásia. Finalmente, os autores concluem que embora haja somente sete observações, parece existir uma fraca correlação entre a razão do valor do custo de produção dos produtores e a expansão de sua produção durante o período 1989-1999, isto é, um país com um excesso mais elevado sobre custos tende a apresentar um aumento maior em sua produção. Um país com um aumento na produção, por exemplo, a Indonésia, deve corresponder a um baixo custo de produção. O próximo maior aumento ocorrerá na Costa do Marfim, que atingiu mais de 50 por cento do período com uma relação do custo/preço de 87 por cento. Comparando os resultados obtidos por Ruf e Milly (1990) e citados por Irfan e Haque (2004), com os resultados deste trabalho, verificamos que o custo de produção aumentou, saltando de US$ 1,62/Kg no período 1995-1999 para US$ 2,29/Kg para maio de 2008. Note-se que estamos comparando com a tecnologia mais completa a T6, mesmo, se comparássemos com as tecnologias mais inferiores, assim mesmo, o custo de produção teria aumentado (Tabela 7). Da mesma forma o preço ao produtor aumentou, saindo de US$ 1,18/Kg para US$ 2,77/Kg. Porém, a relação entre o custo de produção e o preço ao produtor foi reduzida, saindo de 137% para 82,71%. Essa redução na relação se deu não por causa do decréscimo do custo de produção, mas pelo aumento do preço do cacau ao produtor. 13 Tabela 7 – Estimativa dos Custos de Produção do Brasil em períodos diferentes País Ano Custo de Produção Preço aos Preço de Produtores Exportação Razão do Custo de Produção por Preço aos Preço de Produtores Exportação % % * 1995-99 1.62 1,18 1,44 137 112 Maio 2008 (T6) 2,29 2,77 3,18 83 72 Maio 2008 (T5) 2,76 2,77 3,18 99 87 Maio 2008 (T4) 2,59 2,77 3,18 93 81 Maio 2008 (T3) 2,33 2,77 3,18 84 73 Maio 2008 (T2) 2,50 2,77 3,18 90 79 Maio 2008 (T1) 1,78 2,77 3,18 64 56 Maio 2008 (T0) 2,11 2,77 3,18 76 66 Brasil Fonte: Dados da pesquisa * Ruf e Milly (1990) 14 4. Conclusões Neste trabalho os pesquisadores se propuseram a fazer um exercício sobre a viabilidade dos diversos níveis de tecnologias utilizadas. Logicamente que esse não é um trabalho de campo, portanto, as produtividades dos diversos sistemas de produção são as esperadas, baseadas na experiência dos autores, depois de consultarem também diversos extensionistas da CEPLAC e cacauicultores. Destarte, as principais tecnologias que obtiveram os maiores índices de lucratividade foram a T1 e a T0, e as tecnologias que obtiveram os menores retornos foram a T4 e a T5. Ressalta-se que o produtor que aplicou a tecnologia mais completa, no caso, a T6, ao preço de mercado obtido por arroba de cacau, R$ 69,00, obteve um ponto de nivelamento alto, 66@/ha, bastante superior a média de produtividade existente na Bahia que é em torno de 20 @/ha. Faz-se necessário que o cacauicultor ao se decidir por uma tecnologia a ser utilizada em sua fazenda ele persiga a uma produtividade superior a definida no ponto de nivelamento. Comparando os resultados do trabalho citado Irfan e Haque (2004), com os resultados deste trabalho, verificou-se que a relação custo de produção com o preço ao produtor para o Brasil foi reduzida. Porém, a redução dessa relação ocorreu não devido à redução do custo de produção do cacau, mas por causa do aumento do preço ao produtor. Os preços dos adubos em geral aumentaram o que contribuiu significativamente para o aumento do custo de produção. Nesse sentido, os formuladores de políticas públicas podem verificar que políticas voltadas para a valorização do Real, que poderiam estar barateando o preço dos insumos, principalmente os importados, a exemplo dos adubos, não estão ocorrendo. A conseqüência disso é que o produtor está sendo penalizado por duas vertentes, pelo lado do aumento dos insumos e conseqüentemente do custo de produção e pela valorização do real, já que poderiam estar com um preço melhor e mais competitivo. Políticas no sentido de melhorar a nossa produtividade e conseqüentemente baixar o nosso custo unitário de produção, são condições “sine qua non” para que possamos ganhar em competitividade internacional. 15 5. Bibliografia ANDRADE FILHO, E.N. Análise econômica das práticas agrícolas usadas na produção de cacau. 1990. CEPEC/CEPLAC. BANCO CENTRAL DO BRASIL. <http://www.bcb.gov.br.> Acesso em: 31 maio. 2008. FURLANETO, F. DE P. B.;MARTINS, A.N.;ESPERANCINI, M. S. T. Análise econômica da bananicultura, cultivares do subgrupo cavendish, na região do médio Paranapanema, estado de São Paulo. Informações Econômicas, SP, v.37, n.2, fev. 2007. Irfan ul Haque, Commodities under Neoliberalism: The Case of Cocoa. United Nations conference on trade and development. Intergovernmental group of twentyfour. No. 25, January 2004 MENDES, J.T.G. Economia Agrícola: princípios básicos e aplicações. Curitiba: Scientia et Labor, xv, 399p. : il. 1989. NORONHA, J.F. Projetos Agropecuários. 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Atlas.1996. 16 ANEXO 1 TABELA P/ ATUALIZAÇÃO GLOBAL DA PLANILHA BASE DOS PREÇOS EM Valor amêndoa de cacau Valor do dólar comercial Valor do Salário Mínimo Endosulfan Cobre Sandoz Adesivo Calcário Adubo "B" Uréia Roundup Tordon 101 Gasolina Óleo 2T 1@ US$ litro 1 kg litro sc.50 kg sc.50 kg 1 kg litro litro litro litro Dia R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ 31/5/2008 69,00 1,66 415,00 30,00 28,00 12,00 6,00 150,00 2,00 30,00 70,00 2,80 4,00 17