TEMA III | EU COM OS OUTROS AS RELAÇÕES PRECOCES 1. O

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TEMA III | EU COM OS OUTROS
AS RELAÇÕES PRECOCES
1. O que se entende por relação precoce? E por vinculação?
Relação precoce é uma relação recíproca que tem por base o conjunto de comportamentos – chorar,
sorrir, vocalizar, agarrar e gatinhar – que nos primeiros tempos de vida permitem estabelecer a ligação
afetiva entre a criança e quem dela cuida. Vinculação, no sentido que Bowlby lhe dá, é uma necessidade
básica de ligação do bebé à mãe e desta ao bebé, e que se expressa por um conjunto de
comportamentos característicos. Hoje o conceito abrange qualquer comportamento que permita à
pessoa, criança ou adulto, aproximar-se ou manter a proximidade das suas figuras preferenciais ou
privilegiadas, funcionando como elemento organizador da atividade socioemocional.
2. Como se articulam os conceitos de figura, comportamento e relação de vinculação?
A vinculação é uma relação afetiva recíproca que se estabelece entre a criança e uma pessoa específica
– figura de vinculação –, em direção à qual a criança se dirige me busca de sustento, apoio e proteção.
Esta relação de vinculação une a criança e o cuidador num determinado espaço e perdura no tempo,
expressando-se através de comportamentos de vinculação, que são reações que procuram manter a
proximidade da criança com a figura de vinculação.
3. Que características distinguem as relações precoces de vinculação?
A procura de proximidade, a noção de segurança, o comportamento de refúgio e a angústia e protesto
face à separação involuntária.
4. Como se relacionam a imaturidade biológica do bebé e a sua necessidade inata de
vinculação?
O bebé humano nasce frágil e inacabado, com absoluta necessidade inata do outro. Apesar desta
imaturidade biológica, o bebé humano está equipado com um complexo conjunto de aptidões básicas
que servem um objetivo importante: vincular o bebé às pessoas que dele cuidam.
5. Que competências básicas possui o bebé para emitir sinais e relacionar-se?
O sorriso, o choro e as vocalizações são comportamentos de vinculação precoce, a que mais tarde se
juntam o agarrar e o gatinhar.
6. Que papel desempenhou J. Bowlby para o desenvolvimento da teoria da vinculação?
John Bowlby apresentou a primeira teoria consistente acerca da vinculação precoce. Esta nova forma de
perspetivar a criança e de compreender as suas necessidades de afeto contribuiu para a alteração
drástica de atitudes e comportamentos em relação à primeira infância e também para a remodelação e
humanização de diversas instituições (creches, orfanatos, prisões, hospitais, etc.).
7. Que experiências foram realizadas por H. Harlow? Que conclusões delas se retirou?
A observação e registo do desenvolvimento de macacos Rhesus criados em laboratório, em situação de
privação social, com mães substitutas de arame e algodão. As experiências de Harlow permitiram
demonstrar a necessidade inata do conforto de contacto, colocando em questão a teoria dominante que
defendia que o bebé se vincula à mãe porque esta o alimenta, e identificar as consequências
socioafetivas do
isolamento social precoce. Na sua experiência, as crias de macacos estão
acompanhadas por duas mães substitutas, em que uma possui um sistema de aquecimento e está
coberta por algodão e outra é feita unicamente de arame e equipada com um sistema de alimentação.
Harlow observou que os bebés macacos passavam a maior parte do tempo agarrados ao substituto
coberto de algodão (16 a 18 horas por dia), utilizando-o como refúgio e base de exploração.
8. Qual a importância da relação de vinculação?
A relação de vinculação fornece à criança uma base de segurança, a partir da qual é possível a
exploração do meio sem ansiedade. Constrói-se progressivamente e é essencial para o desenvolvimento
e saúde mental da criança.
9. Quais os contributos de M. Ainsworth para a teoria da vinculação?
Um dos seus principais contributos foi uma experiência designada situação estranha, que ativava, em
crianças entre os 12 e os 18 meses, comportamentos representativos de vinculação, induzindo
ansiedade ligeira pela partida e regresso repetidos da figura de vinculação. A forma como as crianças
lidaram com esta ansiedade e as estratégias que encontraram permitiram avaliar a qualidade da relação
de vinculação e distinguir três padrões diferentes: vinculação insegura, vinculação segura e vinculação
evitante.
10. Quais os contributos de R. Spitz para a compreensão do papel da relação precoce?
Spitz defendeu que a carência de cuidados maternos, de ternura, de relações interpessoais e de
comunicação
são
causa
de
elevadas
taxas
de
mortalidade
e
morbilidade
entre
crianças
institucionalizadas. Nesse sentido, a sua investigação levou-o a identificar duas enfermidades que
ocorrem por privação afetiva precoce depois de se terem estabelecido vínculos: depressão anaclítica
(resultante de privação afetiva parcial) e síndrome do hospitalismo (consequência de privação afetiva
total e duradoura).
11. O que é a resiliência? Qual a sua importância na superação de adversidades?
Resiliência, em psicologia, significa a capacidade de adaptação positiva a situações humanas ou naturais
adversas, permitindo a cada indivíduo reconstruir e reconstruir-se sob estas circunstâncias. A superação
da adversidade constrói-se a partir da estreita interação entre cada indivíduo e o meio e prova que,
apesar da importância inegável das relações precoces no desenvolvimento global do indivíduo, não há
determinismos que condicionem de modo absoluto o desenvolvimento humano.
AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS
12. O que se entende por cognição social?
Cognição social é o processo mental em que a realidade social, as pessoas, os contextos sociais, as
relações e o funcionamento interpessoais são interpretados e simplificados a partir das crenças de cada
indivíduo.
13. Como fornam impressões?
As impressões formam-se quando organizamos diversos traços particulares de um indivíduo num todo
coerente que o caracteriza, ou seja, quando concebemos uma grelha de leitura simplificada, que nos
permite criar uma imagem ou ideia sobre essa pessoa e interpretar como variáveis estáveis alguns
aspetos para nós significativos.
14. Que relação existe entre impressões e categorias?
As impressões dependem das categorias, isto é, de classes de pessoas, objetos ou acontecimentos que
criamos para organizar e simplificar a realidade social.
15. O que são atribuições? Qual a sua importância?
Atribuições são processos de cognição social. Fazemo-las quando realizamos uma inferência, isto é,
avançamos uma explicação, sobre as razões de um comportamento de uma pessoa ou de um evento
interpessoal. Ao avançarmos uma explicação, ou seja, ao realizarmos uma atribuição, encontramos uma
causa (interna ou externa, estável ou instável, controlável ou incontrolável).
16. Como se distinguem as atitudes dos comportamentos?
As atitudes refletem-se nos comportamentos, embora não possam ser confundidas com estes.
Correspondem a avaliações que predispõem para responder de forma favorável ou desfavorável a um
objeto, pessoa ou acontecimento. São, pois, juízos avaliativos, que variam na sua direção, intensidade e
acessibilidade, relativamente estáveis e formam-se nos contextos onde nos encontramos inseridos e nas
diversas interações sociais. Não são observáveis, ao contrário dos comportamentos. São orientadas para
o exterior, apesar de serem processos simbólicos que ocorrem dentro de cada um de nós, e podem ser
inferidas a partir do modo como os indivíduos se comportam.
17. Em que consistem as diferentes componentes das atitudes?
Tradicionalmente, considera-se que as atitudes incluem três componentes estreitamente relacionadas
entre si. A componente afetiva refere-se a emoções e sentimentos subjetivos e às respostas fisiológicas
que acompanham uma atitude. A componente cognitiva reporta-se aos pensamentos, crenças e valores,
nem sempre conscientes, através dos quais a atitude é expressa. A componente comportamental alude
ao processo mental e físico que prepara o indivíduo para agir de uma determinada maneira.
18. O que é a dissonância cognitiva?
A dissonância cognitiva é um estado psicológico desagradável decorrente de comportamento incoerente
ou inconsistente com as crenças e atitudes do sujeito que provoca desconforto. Provoca desconforto e
implica a existência simultânea de elementos não concordantes ou opostos entre si que reclamam do
sujeito um esforço de análise, de modo a torná-los mais concordantes.
19. Que relação existe entre expectativas e profecias autorrealizáveis?
A forma como organizamos e percebemos a realidade social permite-nos elaborar expectativas
(previsões) e responder ao que nos rodeia. As profecias autorrealizáveis ocorrem em todos os contextos
em que somos autores e sujeitos de crenças e mostram que, frequentemente, quando fazemos uma
previsão sobre algo (criamos expectativas), passamos a adotar de imediato atitudes e comportamentos
que confirmam as nossas previsões.
20. Em que consiste a influência social?
A influência social engloba tudo o que gera mudança das perceções, juízos e atitudes ou
comportamentos de um indivíduo a partir do seu conhecimento das perceções, juízos e atitudes dos
outros, explicando como adaptamos o nosso comportamento às exigências das situações, contextos e
sistemas instituídos.
21. Que papel desempenham as normas?
As normas influenciam o desempenho dos sujeitos, indicando o comportamento que devem adotar numa
dada situação, isto é, prescrevendo, implícita ou explicitamente, a forma socialmente adequada de
responder a uma situação, ao mesmo tempo que condenam ações que devem ser evitadas. São, pois,
cruciais para o funcionamento harmonioso da sociedade.
22. Em que consistiu a experiência de Sherif no âmbito da normalização?
A experiência autocinética de Sherif consistiu em introduzir os sujeitos participantes num quatro escuro,
colocando-os a cinco metros de um ponto de luz – que, embora fixo, parecia mover-se – e pedir-lhes
que avaliassem o movimento da luz da forma mais exata e independente. Primeiro, a avaliação foi
realizada individualmente, depois em pequenos grupos. As avaliações feitas individualmente revelaram
diferenças acentuadas entre si. Porém, quando realizadas em grupo, em voz alta, tendiam a ser
corrigidas e suavizadas, revelando que a pressão do grupo exerce um efeito normalizador, na medida
em que os sujeitos utilizam o comportamento dos outros para construírem os seus quadros de referência
individuais.
23. Que experiências realizou Asch no contexto do conformismo?
Asch realizou uma experiência de acuidade visual em que os participantes observavam uma linha de
referência e a comparavam com três outras linhas indicando qual delas era igual à de referência. Os
sujeitos cúmplices anunciavam as suas respostas antes de o sujeito
autêntico e cometiam
deliberadamente os mesmos erros. O que se pôde observar é que muitos participantes se conformaram,
isto é, responderam erradamente: 75% cedeu pelo menos uma vez à resposta errada e 25%, não se
tendo conformado, estava visivelmente incomodado por fazê-lo.
24. Como se distingue a normalização do conformismo?
A norma corresponde a uma pressão cognitiva considerada normalizadora, na medida em que há um
processo de negociação entre os indivíduos de um grupo para um valor médio comum. Na normalização
não está definida, à partida, nenhuma norma, sendo a tendência de auto-organização que dá origem ao
processo de emergência de uma norma comum. O conformismo, por sua vez, ocorre em situações em
que existe uma norma maioritária claramente definida e em que uma minoria desviante se conforma
com a maioria legítima, reduzindo a tensão criada por duas perspetivas mutuamente exclusivas. A
influência da maioria gera a redução do conflito individual e conduz à adesão do indivíduo ou grupo
minoritário ao grupo maioritário.
25. A que conclusões chegou Milgram a propósito da obediência?
Com a sua experiência (dos choques elétricos), Milgram demonstrou a tendência para não resistir às
exigências da autoridade, mesmo sabendo que estas são incorretas ou eticamente condenáveis. Quando
as pessoas recebem ordens de uma autoridade que reconhecem como legítima e não se sentem
responsáveis pelas ações que levam a cabo, acontece a obediência, um fenómeno de influência social
marcado pela aquiescência.
26. Que contributos forneceu Zimbardo para o estudo da obediência?
Através da experiência da prisão de Stanford, Zimbardo revelou a força das instituições para transformar
boas pessoas em indivíduos capazes de cometer atrocidades. Esta experiência permite compreender
como é que as situações sociais deformam as identidades pessoais e descrever um importante fenómeno
associado ao modo como os grupos influenciam o comportamento individual: a desindividuação.
27. O que são comportamentos inconformistas?
Comportamentos inconformistas são aqueles que não respeitam o que socialmente está estabelecido
como correto e desejável, isto é, como norma. Estão na base da inovação.
28. Como se organizam as interações sociais?
Organizam-se, simplificadamente, em dois sentidos opostos: interações com os outros em termos
positivos – atração – ou negativos – agressão. Na atração interpessoal a avaliação cognitiva e afetiva do
outro orienta o comportamento do eu no sentido da proximidade, isto é, numa preferência e num gostar
de partilhar a realidade pessoal num contexto de relação. Já a agressão interpessoal é um
comportamento que visa essencialmente o prejuízo: o eu age de forma a causar danos físicos e/ou
psicológicos ao outro, existindo uma intenção negativa de destruição.
29. O que são estereótipos, preconceitos e discriminação?
Os estereótipos são uma categoria, favorável ou desfavorável, que se refere às características pessoais,
especialmente a traços de personalidade ou a comportamentos, partilhada por um grupo social e
cultural. Os preconceitos são atitudes negativas que predispõem para agir desfavoravelmente em
relação a uma pessoa com base na sua pertença a uma determinada categoria. A discriminação é um
tratamento diferencial dado a uma pessoa ou grupo. É, frequentemente, uma manifestação de
preconceitos, envolvendo o tratamento desfavorável, hostil e ofensivo.
30. Como se relacionam estereótipos, preconceitos e discriminação?
Dado que os estereótipos são esquemas cognitivos elaborados sobre as qualidades e características das
pessoas de um determinado grupo ou categoria às quais associamos um tom afetivo favorável ou
desfavorável, funcionando, deste modo, como generalizações precipitadas, a maior parte das vezes sem
fundamentação empírica, apressam as perceções e julgamentos sobre os outros justificando,
consequentemente, a discriminação, ou seja, um tratamento diferencial revelador de preconceitos.
31. Que exemplos podemos apontar de estereótipos, preconceitos e discriminação?
Estereótipo: As mulheres têm uma inclinação natural para cuidar de crianças, os homens necessitam de
aprender a fazê-lo. Preconceito: Os homens são piores cuidadores de crianças do que as mulheres.
Discriminação: A atribuição judicial da guarda de crianças às mulheres baseada neste preconceito.
32. Como se organiza a Escala de Preconceito e Discriminação de Allport?
A escala de Allport organiza-se em cinco níveis sucessivos: antilocução, esquiva, discriminação, ataque
físico e extermínio.
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