Módulo III Desenvolvimento Afectivo e Social Tema 1 – Desenvolvimento Afectivo O ser humano é social por natureza; portanto é necessário que se relacione. A base da personalidade do adulto formar-se-á a partir das relações afectivas e da satisfação das necessidades na infância. Isto é, a vida afectiva da criança será a base da vida efectiva do adulto. Os estados afectivos podem dividir-se em: - Emoções ou estados afectivos intensos, têm repercussões (repetições) orgânicas e duram pouco tempo (corar); - Sentimentos ou estados afectivos moderados, estão associados a experiências vividas (recordações, ideias, etc.), duram mais tempo mas são menos intensos que as emoções. Têm menos repercussão orgânica (medo ao lembrar-nos de algo que não aconteceu). O nosso corpo reage organicam/ a estados afectivos (pele de galinha, aumento da pulsação, …). Estas manifestações provêm do Sistema Nervoso Central e do Sistema Endócrino. As emoções também são expressas mediante variações no nosso tom de voz ou expressões corporais ou gestos. Características principais da afectividade na criança Na vida afectiva da criança desde o nascimento até aos 6anos predominam os estados emocionais. A afectividade na criança é diferente da do adulto: - A criança é mais sensível e tem frequentes alterações de humor; - Os estados afectivos são mais intensos que os de um adulto; - Na criança, a afectividade domina a racionalidade; - O fenómeno afectivo que mais domina é a ansiedade, segundo Osterrieth, são 4 os fenómenos que provocam ansiedade na criança: - Medo de perder a atenção do adulto; - Angústia por perder o afecto e valorização do adulto; - O pensamento subjectivo e controlado sobre ela própria faz com que a sua agressividade se volte contra si própria; - A criança sente insegurança ou angústia de que o seu próprio “Eu” se dissipe; neutraliza-o através da negação. Deve-se ter em conta os factores principais que lhe provocam ansiedade e tentar evitá-los c/ o nosso carinho, atenção e valorização. Teoria da Vinculação da criança O comportamento da vinculação é a tendência que a criança tem de procurar a proximidade da mãe ou de outros indivíduos. É uma das 1.as manifestações de comportamento social e afectivo. O bebé utiliza várias respostas para o comportamento de vinculação: a sucção, a preensão, o choro, o seguimento com os olhos em tudo o que se move e o sorriso. Teorias psicológicas sobre a vinculação A. Teoria da “Pulsão secundária” ( Freud): O bebé tem uma série de necessidades fisiológicas (comer, dormir, etc.) e a mãe satisfá-las; assim cria-se o vínculo mãe/ filho; portanto, a vinculação seria 1comportamento adquirido. B. Teoria de John Bowlby: A vinculação é 1comportamento instintivo, desenvolve-se no bebé como resultado da interacção adaptativa com o meio e, em especial, com a mãe. Isto quer dizer que o bebé procura de forma inata a figura de vinculação. Esta teoria é a aceite pela Psicologia. Fases da Teoria de vinculação: 1. Fase de orientação e sinais sem distinção de figuras (do nascimento até aos 2meses) - O bebé age por reflexos perante qualquer figura humana, não diferencia 1pessoa de outra. Segue com os olhos, sorri, deixa de chorar ao ver alguém ou ao ouvir 1voz. 2. Fase de orientação e sinais dirigidos a alguma figura em particular (3 a 6meses) O comportamento dirige-se mais à mãe do que a outras pessoas. Sorriso selectivo. Acalma-se com a presença da voz da mãe. 3. Fase de manutenção da proximidade a 1figura em particular, através da locomoção ou sinais (6meses aos 2/ 3anos) Distingue as pessoas. Os comportamentos de vinculação amplificamse com o seguimento da mãe e o choro quando se vai embora 4. Fase de formação a 1associação ou adaptação a 1objecto (a partir dos 3anos) A figura da mãe converte-se num “objecto” independente, embora se mantenham algumas características do comportamento de vinculação. Desenvolvimento Afectivo segundo a Teoria de Piaget Para Piaget, o desenvolvimento intelectual está ligado ao desenvolvimento afectivo e social. Uma das metas mais importantes do desenvolvimento será que a criança adquira autonomia e aprenda ao mesmo tempo a colaborar, participar e cooperar com as outras crianças, respeitando as regras sociais. Também isto favorecerá o desenvolvimento da personalidade e da solidariedade. Etapas do Desenvolvimento Afectivo Fase - 1 Manifestações afectivas elementares; 1.º estádio: reflexos afectivos e acções instintivas; 2.º estádio: percepções afectivas egocentristas (2.º mês); 3.º estádio: escolha do objecto (final do 1.º ano). Fase 2 - Juízo moral dependente do juízo dos pais (2 aos 7anos); - Aceita não mentir mesmo sem compreender o seu sentido. Fase 3 - Moral autónoma; - Juízo moral independente (desde os 7/ 8anos). Nas crianças de 0 a 6anos predomina o egocentrismo: tentaremos que a criança aprenda o quão importante é que se relacione com outras crianças, as respeite, partilhe, coopere, etc., i.e., que adquira a capacidade de socialização. Evolução da Afectividade segundo a Teoria de Henro Wallon Wallon concebe o homem como 1unidade bio social, desenvolvendo psicologicam/ de maneira progressiva pela interacção do indivíduo e do meio ambiente. Entende que no desenvolvimento afectivo e social da criança há tanto processos orgânicos como factores externos. Distinção de vários Estádios no Desenvolvimento da Afectividade Estádio Impulsivo (0-3meses) - Estabelece-se uma comunicação afectiva à base de gestos, atitudes, movimentos, etc., o bebé sentir-se-á satisfeita física e emocionalm/. Estádio Emocional (3meses-1.º ano) - Por volta dos 6meses a criança expressa alegria, dor, aborrecimento, ...; - Estabelece uma comunicação afectiva e emocional com a mãe. Estádio sensório motor e projectivo (1 aos 3anos) - A criança começa a conhecer as qualidades dos objectos, a sua causa e efeito; - Devido à evolução da marcha e da fala, a criança expõe-se física e socialm/; isto faz com que se afirme a sua personalidade. Estádio do personalismo (3-6anos) - Predomina a procura da independência e enriquecimento do “Eu”; - Encontrar-se-á 1.º numa crise de oposição e, mais tarde, numa etapa de imitação, que durará até aos 5anos; - Perto dos 3anos começa a falar na 1.ª pessoa e utiliza os pronomes. Estádio conceptual e de socialização (6 a 11anos) - Coincide com a idade escolar; - Aumento da capacidade de atenção e disciplina; - Desenvolvimento do seu pensamento (capacidade classificar); - Enriquecimento social (forma grupos). de analisar e Puberdade e Adolescência (11-15anos) - Mudanças fisiológicas e psicológicas; - Etapa da crise, torna-se independente do adulto; - Move-se em grupo. A Concepção Psicoanalítica de Freud Explica o desenvolvimento da personalidade relativam/ à evolução da sexualidade ou sensações de prazer; esta ir-se-á desenvolvendo na criança até que consiga 1relação sexual madura. A Teoria de Freud expõe 3pontos: 1. A concepção sobre o papel das pulsões ou impulsos na origem do comportamento. Dois tipos de pulsões: de conservação e as sexuais; 2. Toda a actividade está submetida a princípios de prazer. Por vezes, alguns mecanismos transformam a possibilidade de prazer em desagrado (repressão); 3. Estabelece as estruturas do aparelho psíquico e os processos que causam o equilíbrio ou desequilíbrios da personalidade. Conflitos Afectivos frequentes na infância (0 aos 6anos) Quando a criança não recebe o afecto de que necessita, sobretudo da figura de vinculação ou da mãe, diremos que se dá a privação afectiva, que pode causar alterações no desenvolvimento psicológico da criança. Se esta privação de afectividade acontece sobretudo durante o 1.º ano, poderão ficar sequelas importantes na criança como: atrasos gerais no desenvolvimento, medo de estranhos, não brinca, falta de sinais de comportamento de vinculação,... Medos Infantis - O medo é uma resposta defensiva emocional normal, perante ameaças reais ou imaginárias, não é um problema psicológico. Tipos de medos: - Os inatos: estímulos intensos, ruídos fortes, medo do escuro, etc; - Os adquiridos: estímulos que se apreendem. Ao associar 1estímulo a 1situação desagradável (medo das batas brancas do pessoal de saúde, associam-nas às vacinas); quando observam alguém que tem medo de alguma coisa, isso faz-lhes ter também medo. Medidas a tomar com 1criança que tem medo: - Ensinar-lhe exemplos de valor (falar de outras crianças que não têm medo das coisas que ela tem); - Associar as relações de medo ao relaxamento (contar à criança um conto quando vai dormir); Não deixar que fuja da causa que lhe provoca o medo, fazer com que o enfrente pouco a pouco; Quando a criança tem medo não devemos negar-lhe essa emoção, não menosprezar o seu medo, mas sim tentar tranquilizá-la e ajudála a diferenciar fantasias. Ciúmes Fraternos - Quando chega 1irmão, a criança sentirá insegurança devido à perda do carinho da figura de vinculação. Costuma reagir com comportamentos regressivos (chupa no dedo, por ex.). Medidas a tomar: Será necessário reagir com certas actividades: - Respeito pelos sentimentos da criança, pois são normais; - Não fazer com que a criança duvide do nosso carinho, nunca lhe dizer “se te portas mal não gosto de ti” ou expressões similares; - Evitar que o problema se agrave, isto poderá acontecer se o nascimento do bebé coincidir com o ingresso do mais velho na escola, o mais velho poderá interpretar este facto como um abandono por parte dos pais; - Deixar participar o mais velho nos cuidados dos mais novos; - Valorizar a criança mais velha, sempre que for possível, elogiar os seus dotes. Anomalias da Linguagem - A falta de clima afectivo pode causar alguns distúrbios da linguagem, como: - Gaguez; - Atraso no aparecimento da linguagem; - Mutismo (ausência de palavra articulada). Enurese - É a incapacidade de controlar o esfíncter urinário a partir dos 3anos durante o dia e dos 4 durante a noite, e não for consequência orgânica ou falta de lhe ter sido ensinado. Pode dever-se a causas físicas ou psicológicas; - As causas psicológicas são as mais frequentes: a criança querer chamar à atenção os pais exigirem demasiado dela, etc; - É normal nas crianças de 4 ou 5anos que tenham algum imprevisto ocasional quanto ao controlo do esfíncter; não lhe deveremos dar importância e muito menos ridicularizar a criança. Outras - alterações: O sono; A alimentação; A aquisição de tiques (pestanejares rítmicos); A aquisição de hábitos (roer as unhas).