Masculinidade e Contemporaneidade: concepções e sentimentos acerca da masculinidade na visão de um grupo de homens adultos - jovens e de meia-idade de Uberlândia-MG Masculinity and contemporaneity: ideas and feelings about masculinity in the Vision of A Men group-Young and middle-aged Uberlândia-MG Autores: FERREIRA, Dayanne, [email protected] [a], OLIVEIRA, Gabriela, [email protected] [a], OLIVEIRA, Jaqueline, [email protected] [a] VASCONCELOS, Sandra, [email protected] [a]. COSTA, Sandra Maria, [email protected] [b], RAMOS, Maria Tereza de Oliveira, [email protected] [c] Resumo Este artigo descreve os resultados finais da pesquisa realizada com 30 homens jovens adultos e de meia-idade, da cidade de Uberlândia-MG, contraposto as seguintes indagações: Que critérios ou parâmetros definiram e/ou definem a identidade masculina? O que delimita o campo do masculino na contemporaneidade? Como os homens se sentem diante desta suposta “crise” instituída? Objetivando investigar acerca das concepções e sentimentos em relação às mudanças relacionadas à masculinidade na era contemporânea. Tratou-se de um estudo transversal, descritivo, qualitativo e quantitativo. Para realização deste estudo, optou-se por utilizar dois instrumentos, a saber, questionário sociodemográfico e entrevista estruturada, elaborada pelas pesquisadoras, contendo 12 questões. Os resultados apontaram que as três hipóteses levantadas inicialmente, foram confirmadas pela pesquisa. Palavras-chave: Homem, sentimentos, masculinidade. Abstract This article describes the final results of the survey with (30) young adult men and middle-aged, in the city of Uberlândia, Minas Gerais, counterposed the following questions: What criteria or parameters defined and / or define male identity? What defines male field in the contemporaneity? How do men feel facing this supposed established "crisis"? Aiming to investigate about the ideas and feelings about the changes related to manhood in contemporary era. This was a cross-sectional, ____________________ [a] Graduandos em Psicologia pelo Centro Universitário do Triângulo – UNITRI [b] Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, professora do Curso de Psicologia – UNITRI [c] Mestre em Educação pelo Centro Universitário do Triângulo - UNITRI descriptive, qualitative and quantitative study. For this study, we chose to use two instruments: a sociodemographic questionnaire and structured interview developed by the researchers, containing 12 questions. The results showed that the three initially hypotheses were confirmed by this research. Keywords: man, feelings, masculinity. INTRODUÇÃO Após a expansão dos movimentos feministas, nas décadas de 1960 e 1970, o “campo do feminino” – que era sempre vinculado à fragilidade, inferioridade e procriação - passou a ser visto sob uma nova perspectiva. Conforme Araújo (2005), as mudanças provocadas pelo feminismo desestabilizaram o modelo masculino tradicional e impuseram a necessidade de sua revisão. Estas mudanças que, se reafirmam na era contemporânea, trazem consigo novos paradigmas acerca do que é “ser homem” na atual sociedade ocidental, abrindo um debate em torno da identidade masculina que aponta para uma crise da masculinidade do homem contemporâneo, juntamente com novas formas de “ser homem”, que estão se tornando possíveis. Segundo Silva (2000), “o homem estaria sendo colocado em xeque porque estaria perdendo a noção de sua própria identidade, passando a buscar uma melhor descrição de si”. Tendo em vista estas questões, o presente trabalho teve por objetivo, investigar as concepções e sentimentos de um grupo de homens (n = 30), jovens adultos e de meiaidade, da cidade de Uberlândia-MG, em relação às mudanças relacionadas à masculinidade na era contemporânea. Uma das hipóteses levantadas foi que o homem contemporâneo identifica mudanças no seu comportamento, assim como no dos outros homens, quando comparados às gerações anteriores. A segunda hipótese foi que as mudanças percebidas pelo homem quanto ao papel que desempenha atualmente, são consideradas (por ele) como positivas. Outra hipótese foi que se esse homem tem dificuldades de se posicionar diante das mudanças de papéis que a própria dinâmica social tem definido para as novas relações de gênero, o que esse homem tem a fazer é reconstruir o seu eu social, reconstruir o retrato que faz da sua masculinidade, da sua virilidade, da sua idéia de machista. [Digite aqui] Gomes, Nascimento e Araújo (2007), afirmam que são necessários mais estudos acerca da historicidade da masculinidade, que busquem explorar esse termo além do biológico, compreendendo-o também como uma categoria que é tida como atributos e funções socialmente construídos, envolvendo tanto diferenças quanto a inter-relação entre os sexos. Além desses, outros estudos que contemplem como os homens se sentem diante das mudanças,visto que este processo de (re) adaptação pode vir em forma de sofrimento psíquico. Em função disso, esta pesquisa mostrou-se relevante, pois possibilitou aos participantes uma reflexão sobre as sensações e sentimentos do homem contemporâneo acerca da masculinidade e a expansão dos conhecimentos sobre essa temática. REFERENCIAL TEÓRICO Segundo Foucault (1986), até o século XVIII não era possível encontrar um modelo de sexualidade humana conforme se entende hoje. A concepção dominante até então era a do one-sex-model, ou monismo sexual, na qual a mulher era entendida como sendo um homem invertido. Costa (1995), afirma que somente entre os séculos XVIII e XIX é que pequenas mudanças passariam a ocorrer, entre elas, o modelo two-sex-model, justificando-se apenas sob diferenças morais. No século XIX, ressaltam-se os discursos médicos que alimentaram o slogan “mente sã num corpo são”, OLIVEIRA, (2004). De acordo com Gay (1995), a identidade sexual e de gênero do homem vitoriano, estava intrinsecamente ligada à representação do seu papel na sociedade, por exemplo, a forma de se vestir. Até meados do século XX, a valentia, a firmeza, a inteligência e a imponência, foram associadas ao ser masculino e vistas como qualidades sobre as quais a própria sociedade gostava de se auto projetar. Este movimento histórico fez com que se consolidasse uma masculinidade e uma virilidade hegemônica comum a todos os homens, como forma de evitar uma possível feminilidade inerente, alguns homens, devido ao medo de tornarem-se homossexuais. Contudo, se a possibilidade de feminilização era mal vista para os homens, a masculinização também o era para as mulheres,e, por conseguinte, sua escolha afetiva e sexual deveria voltar-se para o sexo oposto ao seu, (SILVA, 2000). Todo esse processo de transformações em torno das figuras feminino e masculina é atravessada pelas concepções da psicanálise intitulada por Freud, (1976), [Digite aqui] em sua teoria “Complexo de Édipo”, que tanto homens como mulheres nascem com suas respectivas sexualidades indefinidas sendo os padrões femininos e masculinos sendo formados a partir das influências do meio, mais precisamente das relações que os indivíduos, ainda nos anos iniciais de vida, estabelecem com seus genitores. Freud, (1976), conclui que o sentido biológico, por si só, não explica o comportamento psicossexual e que não são tanto as funções ou desempenhos sociais realizados a julgar a masculinidade/feminilidade, mas os clichês que recaem sobre uma e outra. Portanto, observa-se que uma identidade sexual que se inicia aos dois anos e, é afirmada mais solidamente após o fim da puberdade. De acordo com Gay (1995), além de Freud ter reforçado no imaginário social burguês, contribuiu significativamente para a atual crise da identidade masculina, após a postulação da teoria da bissexualidade inata. Os homens se viram ainda mais atordoados em relação si próprios e às suas respectivas sexualidades. Os estudos sobre a masculinidade na contemporaneidade consideram-se que “o império da subjetividade e da relativização assume lugares cada vez mais consolidados”. É nesse novo contexto epistemológico que os estudos de gênero proliferaram, a tentativa de escapar das armadilhas da naturalização e construir um pensamento capaz de demonstrar como os modelos de feminilidade e masculinidade são construídos culturalmente, (SILVA, 2000). Em sua pesquisa, Valério (2010) considera que o modelo tradicional de masculinidade trazia uma forte ideia de distinção e negação do feminino, e que o paradigma contemporâneo buscou juntar esta diversidade e dispersão; pois, atualmente, fala-se em um paradigma mais flexibilizado, mas que, mesmo assim, ainda mantém algumas regras e princípios de diferenciação. Ainda de acordo com o autor, é a não adequação a esses paradigmas, ou modelos de masculinidades possíveis na atualidade, que provoca a tão discutida crise da masculinidade, que se refere à sensação de malestar e indefinição que o homem passa diante a oscilação que este novo paradigma traz ora exigindo uma identidade masculina tradicional, ora moderna - que se alternam entre si e, também, recombinam outros elemento de constituição de gênero. METODOLOGIA O presente trabalho tratou-se de um estudo transversal, descritivo, qualitativo e quantitativo, uma vez que “mescla” esses dois tipos de estudo. A pesquisa foi realizada [Digite aqui] com homens, adultos jovens (20 a 40 anos) ou de meia idade (40 a 65 anos) considerando a classificação das fases do desenvolvimento humano, definida por Papalia, Olds e Feldman (2010) - residentes e domiciliados na cidade de UberlândiaMG. A amostra, não probabilística por conveniência, foi composta por 30 participantes, seguindo assim as orientações de Barbetta (2002), que sugere a utilização de uma amostra mínima de trinta participantes para a validação da pesquisa. Para realização deste estudo, optou-se por utilizar dois instrumentos elaborados pelas pesquisadoras: o questionário sociodemográfico, contendo os dados de identificação do sujeito, a faixa etária, grau de escolaridade e condição socioeconômica; e a entrevista estruturada, incluindo dez perguntas que buscavam investigar as concepções e os sentimentos de um grupo de homens acerca da masculinidade na contemporaneidade. Após a aplicação individual dos instrumentos, as respostas dos participantes foram organizadas em categorias e, posteriormente, codificadas numa planilha do SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 15.0, programa por meio do qual foram submetidas a estatísticas descritivas como médias, frequências, desvio padrão e Correlação de Pearson. ANÁLISE E DISCUSSÃO Para análise e discussão dos dados foram utilizados o Questionário Sociodemográfico e a Entrevista Estruturada. O Questionário Sociodemográfico investigou questões relacionadas à idade, cor, estado civil, religião, profissão, escolaridade e faixa salarial. Quanto à investigação das concepções e sentimentos dos participantes da pesquisa em relação às mudanças associadas à masculinidade na era contemporânea, foi organizada uma entrevista estruturada, em que as respostas, para uma melhor análise, foram agrupadas em três categorias que são: concepções quanto à masculinidade, características pessoais e sentimentos quanto à mudança de papéis. Com relação às concepções e sentimentos quanto à masculinidade, foi questionado a esses homens se “percebiam alterações no comportamento dos homens das gerações passadas para as gerações atuais” e todos os participantes responderam afirmativamente. [Digite aqui] A respeito das mudanças percebidas, os participantes assinalaram com maior frequência os itens, mudanças no modo de vestir, no modo de tratar as mulheres, na troca de papéis, cuidados pessoais e nas responsabilidades. Sendo que a maioria considerou essas mudanças como sendo positivas. Com a justificativa de que todas estas mudanças contribuem para a igualdade entre as pessoas ou porque o homem está acompanhando uma tendência natural de desenvolvimento. A maior parte dos entrevistados 80%, também responderam que se sentiam influenciados por elas. Para Ribeiro e Siqueira (2007), a existência do homem é fundamentada naquilo que a cultura determina, ou seja, é baseada no momento histórico que este homem está situado, nas crenças e valores de determinada sociedade. Assim, esse homem acompanha as transformações culturais que se dão no decorrer dos anos e vai se ajustando aos padrões exigidos por ela, tornando-se um “novo homem”. Com a finalidade de conhecer um pouco mais sobre as percepções que o homem tem diante da mulher moderna, ou seja, independente, foi possível perguntar sobre “o que os participantes achavam do homem que assume as responsabilidades de casa, enquanto a mulher sai para trabalhar?” Grande parte dos entrevistados acredita que ambos têm direitos iguais, já outros disseram que concordam quando há comum acordo. Em relação aos sentimentos que estas mudanças causavam, as respostas giraram em torno de sentimento de indiferença, que acreditavam nos direitos iguais entre homens e mulheres ou que não tiveram nenhum sentimento diante dessas mudanças. O modelo tradicional de família contemplava uma divisão clara e específica dos papéis, em que o homem era o responsável pelo sistema financeiro, enquanto a mulher era encarregada de cuidar dos filhos e dos afazeres domésticos. Nos dias atuais, essa concepção mudou, os homens já realizam tarefas que antes eram atribuídas somente as mulheres e estas já participam ativamente do mercado de trabalho e também contribuem com a administração financeira da família, estabelecendo novos padrões familiares. Já é possível notar então, em alguns núcleos familiares, uma clara divisão de tarefas, em que tanto o homem quanto a mulher tomam conta dos filhos e participam da vida escolar, as tarefas domésticas passam a ser divididas e a ajuda financeira pode passar a vir dos dois (WAGNER et. al. 2005). [Digite aqui] Falar do homem contemporâneo é tentar falar de nós mesmos, por isso a dificuldade, pois somos ao mesmo tempo “objeto” que escreve e se descreve tentando compreender o além se si... E entendendo que o homem vive imerso em múltiplas identidades deslizantes, plural, acima de tudo discursivo e chamado a refletir, achou se viável questioná-los sobre as novas formas do homem contemporâneo retomando questões sobre o que é ser homem para você? Quais seriam suas concepções à cerca da masculinidade? Cujas respostas foram: 96,67% indicaram a família em primeiro lugar, sendo designada pelo conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa formando um lar, em segundo lugar ficou a “saúde” 80% e em terceiro lugar foram contemplados o trabalho com 43,33%. Como objetivo de conhecer um pouco mais sobre os participantes da pesquisa, questionamos sobre a prática de atividades físicas, os resultados totais foram considerados que 70% praticam atividades, muitas vezes mais de uma atividade, dentre elas, as preferidas são; futebol seguido de caminhada e corrida. Na pergunta “como você se considera”, 96,67% dos participantes apontaram serem “educados”, 93,33%“ um bom filho”, 90,91% “um bom marido”, 90,48% “ um bom pai” 73,33% ser “sensível”, dotado de sensibilidade; que tem sentidos, que pode perceber pelos sentidos; material, concreto, que reage facilmente às mínimas impressões físicas ou morais podendo ser sensível ao frio, aos elogios, emotivo, compassivo, humano, terno, etc. 73,33% apontaram “trabalhador, 43,33 se veem como “antiquado”, adjetivo daquilo que está ou se encontra obsoleto; antigo, fora de uso e 36,67 apontam como “rústico” que significa rude, simples ou grosseiro. Ao perguntá-los, “você chora/expõe seus sentimentos,”73,33% disseram que sim e 26,67% disseram que não choram. Em complemento à questão 86,67% acham adequado o homem chorar e 13,33% discordam. Ao tentar entender o “por que” o homem deve expor seus sentimentos: 50% disseram que deveriam expor seus sentimentos, 33,33 acreditam que, os “sentimentos são inerentes ao ser humano”, sendo este definido como a “ação ou efeito de sentir, de receber impressões mentais, sensação psíquica, tal como as paixões, o pesar, a mágoa, o desgosto etc, bem como a disposição para ser facilmente comovido ou impressionado a emoção terna ou elevada, tal como o amor, a amizade, o patriotismo, a atitude mental a respeito de alguém ou de alguma [Digite aqui] coisa; sentimento de estima, de respeito, de ódio, do dever”, etc. e 16,67% não responderam a pergunta. As diversas concepções presentes na atual sociedade em relação ao conceito do que é “ser homem”, ressalta o interesse de se refletir a masculinidade na visão psicológica (Guerra et al. 2014). As masculinidades criam um lugar simbólico que sustenta a personalidade dos indivíduos, molda as ações e sentimentos tornando–se um padrão a ser adotado (Machin et al. 2010). Explicando melhor, o entendimento de masculinidade pode ser compreendido a partir de uma soma de caracterizantes, atributos e competências que, influenciados por uma cultura, constroem uma preconcepção, “modelo” de homem (GUERRA et al. 2014). Com o objetivo de compreender a concepção de masculinidade que os participantes possuem, foi proposto a eles uma pergunta, “O que é ser homem pra você?”. Ser um homem provedor foi manifestado por 16.66% sujeitos. Santana e Benevento (2013) explicam que devido o “status” de sexo masculino, usualmente, os homens são orientados a posição de provedores da família. Desenvolvendo neles um sentimento de obrigação em trabalhar fora de casa. Os autores afirmam, também, que tal concepção está relacionada a uma construção social, o qual, o individuo está inserido. Os sujeitos também consideraram outros atributos como, ser responsável 43.33%, honesto 20% e os fatores bio-genéticos 16.66%. Embora tenham ocorrido algumas transformações nos últimos anos, em relação aos costumes e valores, aqueles relacionados ao gênero percebe-se que ainda perduram (Swain, 2001 apud Santana e Benevento, 2013). À vista disso, Santana e Benevento (2013), apontam que apesar das características relacionadas ao gênero parecer um conceito fixo elas são modificadas com o tempo, ou seja, a partir da situação histórica em que os indivíduos estão inseridos. Diante disso, os sujeitos foram questionados se concordavam com algumas características atribuídas geralmente ao sexo masculino, tais como: a autonomia dos homens diante das mulheres, seu papel ativo, a iniciativa sexual e a prescrição da força e da disputa. A maioria dos participantes, 40%, discordou e justificou como sendo direitos iguais. No entanto, 26, 67% acreditavam que são características naturais e impostas ao homem por essa razão concordavam. [Digite aqui] Para Destarte Moreira (2012) apud Santana e Benevento (2013), toda função pode ser desempenhada por qualquer sexo, sendo ambos capacitados para desenvolvêlas. Porém, devido às imposições sociais, como os comportamentos e as normas, o meio em que o ser humano está inserido “determina os papéis masculinos ou femininos, instituindo assim o gênero, isto é, hierarquias socialmente constituídas”. Buscando compreender melhor, foi solicitado aos participantes que assinalassem as alternativas que consideravam ser masculinas, tais como: virilidade (vigor e energia), sustento dos filhos, autoridade em relação às mulheres, iniciativa sexual, prescrição de força e de disputa e heterossexualidade. Os resultados apontaram que 80% entendem como características masculinas a virilidade (vigor e energia), 60% a iniciativa sexual, 56,67% o sustento dos filhos, 40% a prescrição de força e de disputa, 33,33% a heterossexualidade e 13,33% a autoridade em relação às mulheres. Para compreender a forma como o homem se sente mais confortável ao sair com uma mulher, foi questionado se eles preferiam: pagar a conta, dividi-la ou deixar que a mulher pague. Dos entrevistados, 50% expressaram sua preferência por pagar a conta e 43,33%, por dividir a conta. Em relação aos sentimentos ao ver uma mulher em um cargo de liderança 23,33% afirmaram serem indiferentes, não possuir estranhamento, 20% relataram que a mulher está no cargo devido a seu mérito, 16,67% que os direitos devem ser iguais e 13,33% manifestaram se sentir satisfeitos e admirar tal conquista. Desta maneira, ao discutirmos sobre a masculinidade, estamos refletindo sobre uma concepção flexível, preservada por estruturas e regras sociais instáveis, que segue as modificações históricas, culturais e políticas. Logo, é concebível pensar na masculinidade em diversos modos de ser homem na sociedade (Grossi, 2004 apud Guerra et al. 2015). Para verificar se a idade dos participantes influenciou na escolha dos itens relacionados às mudanças do comportamento foi realizado um teste chi-quadrado (x²). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nas respostas dadas pelos dois grupos. [Digite aqui] CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa objetivou avaliar as concepções e sentimentos acerca da masculinidade na visão de um grupo de homens adultos - jovens e de meia-idade de Uberlândia-Mg e responder às questões: Que critérios ou parâmetros definiram e/ou definem a identidade masculina? O que delimita o campo do masculino na contemporaneidade? Como os homens se sentem diante desta suposta “crise” instituída? Os resultados indicaram que o homem contemporâneo percebe mudanças em relação às gerações anteriores e consideram estas mudanças como positivas, embora apresentem dificuldades para se reposicionar frente a alguns papéis, os quais estão passando por ressignificações. O homem contemporâneo passa a se enxergar e ser enxergado diante do mundo sob uma perspectiva fragmentada e é aquele que vive dentro de múltiplas identidades, um homem plural, acima de tudo discursivo. Tais resultados demonstram a necessidade de convidar esse homem à refletir, sobre essa nova realidade, cada vez mais complexa, na qual ele convive com a necessidade de organizar as múltiplas informações, muitas vezes com tarefas que exigem rapidez e eficiência num curto espaço de tempo. As três hipóteses organizadas foram confirmadas pela pesquisa: O homem contemporâneo identifica mudanças no seu comportamento, assim como no dos outros homens, quando comparado às gerações anteriores. O homem percebe as mudanças nos papéis que desempenha atualmente, como positivas. O homem tem dificuldades de se posicionar diante das mudanças de papéis que a própria dinâmica social tem definido para as novas relações de gênero, o que esse homem tem a fazer é reconstruir o seu eu social, reconstruir o retrato que faz da sua masculinidade, da sua virilidade, da sua idéia de machista. Diante dos resultados e discussões apresentados, verificamos que todos os participantes perceberam essas mudanças nos comportamentos como também, 80% (24) deles responderam que se sentiam influenciados por elas. Algumas das mudanças identificadas foram, no modo de se vestirem, de tratar as mulheres, nos cuidados pessoais, nas responsabilidades e em relação à troca de papéis. [Digite aqui] Pudemos comprovar a segunda hipótese que levantamos, de que o homem percebe as mudanças nos papeis que desempenha atualmente, como positivas, pois nas entrevistas nos deparamos com a maioria dos homens respondendo que notam as mudanças que vem e ocorrendo e as avaliam com positivas. Quando indagados sobre o porquê dessa opinião, as respostas giraram em torno de, uns acreditando que estas mudanças estão contribuindo para a igualdade entre as pessoas, e outros defendendo a ideia que os homens estão acompanhando uma tendência natural de desenvolvimento. Vale ressaltar que uma outra parcela da amostra, mesmo acordando com as mudanças, acreditam que elas também trouxeram alguns retrocessos. Outro fato que pode confirmar esta hipótese é a certeza que estes homens têm quanto às influências que as mudanças provocam neles mesmo, acordando em sua maioria, que estas acontecem pelo fato de já estarem inseridos na sociedade. Sentimentos de indiferença e crença nos direitos iguais são respostas que estes homens nos deram em relação aos seus sentimentos perante algumas mudanças, embora alguns poucos estejam preocupados com a mudança de valores que esta nova realidade pode trazer. A terceira hipótese da pesquisa, sobre esse homem ter dificuldades de se posicionar diante das mudanças de papéis que a própria dinâmica social tem definido para as novas relações de gênero, o que esse homem tem a fazer é reconstruir o seu eu social, reconstruir o retrato que faz da sua masculinidade, da sua virilidade, da sua idéia de machista, foi confirmada. Ressaltando, que apesar de o homem contemporâneo identificar mudanças no seu comportamento quando comparado às gerações anteriores, consideram as mudanças nos papeis que desempenha atualmente, como positivas, ainda assim tem dificuldades de se reposicionar quanto a isso, e justificam sendo características naturais impostas ao homem pela cultura. O resultado da pesquisa mostrou que alguns dos componentes presentes nas gerações anteriores, estão preservados na contemporaneidade, como resultados das amostras, (80%) dos homens entendem como características masculina a virilidade (vigor e energia), (60%) entendem a iniciativa sexual pertencente ao homem, (56,67%) consideram como parte do masculino o sustento dos filhos e no caso de pagar as contas ou dividirem com as mulheres (50%) preferem pagar sozinhos como modo de se [Digite aqui] sentirem mais confortáveis, o que mais uma vez nos mostram ainda hoje prevalecem as idéias machistas. Considerando que os processos de mudanças implicam em transformação do sujeito, supõe-se que o homem esteja vivenciando a suposta “crise”, pelo fato de estar inserido nessa sociedade que transforma e ressignifica papéis a cada dia. Desta maneira, ao discutirmos sobre a masculinidade, estamos refletindo sobre uma concepção flexível, preservada por estruturas e regras sociais instáveis, que segue as modificações históricas, culturais e políticas, porém conservadoras. O homem contemporâneo passa a se enxergar e ser enxergado diante do mundo sob uma perspectiva fragmentada e é aquele que vive dentro de múltiplas identidades, um homem plural, acima de tudo discursivo, sempre sendo chamado a refletir, sem respostas claras e objetivas, uma realidade cada vez mais complexa. Um homem que convive com a necessidade de organizar as múltiplas informações com tarefas que exigem rapidez e eficiência num curto espaço de tempo. REFERÊNCIAS ARAUJO, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Rev. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro , v. 17, n. 2, Disponível em: p. 41-52, 2005 . <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103- 56652005000200004&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 30/ 03/ 2014. 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