J Bras Nefrol 2000;22(1):185-191 9 Fibrose retroperitoneal: relato de dois casos e revisão da literatura Fábio G Silva, Tiago E Rosito, Igor Wolwacz Junior, Walter J Koff, Sandra Genro, Fernando Thomé, Elvino Barros A fibrose retroperitoneal é uma doença rara, geralmente vista em pacientes com idade entre os 40 e 70 anos e é secundária a um processo inflamatório crônico do retroperitôneo que pode comprimir os ureteres. A etiologia é desconhecida na maioria dos casos, ainda que vários fatores, como medicações, doenças malignas e inflamatórias, possam estar envolvidos. O diagnóstico de fibrose retroperitoneal deve ser considerado em pacientes com dor abdominal ou lombar e lesão no retroperitôneo. Os sinais e sintomas são relacionados com comprometimento de estruturas retroperitoneais como veia cava, aorta e ureteres. Quando ambos ureteres são comprometidos, a insuficiência renal do tipo obstrutivo pode se desenvolver. Várias opções medicamentosas têm sido utilizadas nessa situação e as principais são os esteróides, o tamoxifeno e a azatioprina. No entanto, um número significativo de pacientes necessita de algum procedimento cirúrgico. No momento da exploração cirúrgica do retroperitôneo, a ureterólise é realizada depois de identificar claramente o ureter não comprometido com o tecido fibrótico, em geral, junto ao rim ou à bexiga. Mais recentemente, técnicas de videolaparoscopia têm sido utilizadas nessas situações. Apresentamse neste trabalho dois casos de fibrose retroperitoneal: um deles idiopático e o outro, provavelmente, secundário a processo inflamatório crônico. Ambos foram submetidos a procedimentos cirúrgicos convencionais com a liberação cirúrgica dos ureteres ou nefrostomia. Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Endereço para correspondência: Fernando S. Thomé Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos, 2.350 CEP 90035-003 Porto Alegre, RS Tel./fax: (0xx51) 316-8295 Fibrose retroperitoneal. Insuficiência renal aguda. Obstrução urinária. Tamoxifeno. Ureterólise. Retroperitoneal fibrosis. Acute renal failure. Urinary obstruction. Tamoxifen. Ureterolysis. Introdução A fibrose retroperitoneal (FR) é uma doença rara caracterizada pela substituição da gordura JBN22n1.p65 9 retroperitoneal por tecido fibroso.1 A etiologia não está bem definida em dois terços dos casos, sendo essa condição designada fibrose retroperitoneal idiopática (FRI). 2 No restante dos casos existem algumas condições associadas, como uso de drogas, neoplasias, irradiação e doenças crônicas. Embora não exista um quadro clínico característico, pode-se observar uma série de sinais e sintomas mais freqüentemente associados a essa condição patológica. O tratamento dos casos de fibrose retroperitoneal é cirúrgico na maioria das vezes, embora recentemente o uso da droga tamoxifeno tenha tornado o tratamento clínico bastante atraente em casos selecionados.3 Apresentam-se dois casos de fibrose retroperitoneal submetidos a procedimentos cirúrgicos, liberação dos ureteres ou nefrostomia. 08/01/01, 16:24 10 J Bras Nefrol 2000;22(1):1-7 Silva FG et al - Fibrose retroperitoneal Casos clínicos 1) W. L., masculino, 45 anos, negro, pintor, natural e procedente de Porto Alegre, veio à emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) em 1/4/ 96 por redução importante do volume urinário. Relatou que havia um mês iniciara dor lombar bilateral, relacionada aos esforços e aliviada com uso de antiinflamatório não-esteróide intramuscular. Ultimamente notara progressiva diminuição da diurese, evoluindo para anúria nos últimos dias. Referia ainda astenia, vômitos e náuseas, anorexia e gosto metálico na boca. Negou patologias prévias ou uso contínuo de medicação. Negou tabagismo, etilismo ou drogadição. Ao exame, o paciente estava em bom estado geral, lúcido, acianótico, anictérico e eupneico. A pressão arterial era de 150/80 mmHg e a freqüência respiratória de 16 mrpm. O exame cardiovascular mostrou ritmo regular, bulhas normofonéticas, com sopro sistólico e diastólico melhor audível em foco tricúspide 3+/6+, sem desvio do ictus e sem atrito pericárdico. Exame pulmonar e do abdome sem particularidades. As extremidades estavam aquecidas, bem perfundidas e sem edema. Não havia hálito urêmico nem sinais de encefalopatia urêmica. Foram pedidos exames laboratoriais de rotina, mostrando hematócrito de 36%, 10.100 leucócitos com 1% de bastonados, potássio a 5,5 mmol/dl, sódio a 144 mEq/l, uréia a 228 mg/dl, creatinina a 17,9 mg/dl e CO2 total a 20,5 mEq/l. Em 11/4/96, realizou-se tomografia computadorizada de abdome que revelou lesão no retroperitôneo, envolvendo aorta, veia cava inferior e os ureteres (Figuras 1 e 2). As alterações eram compatíveis com fibrose retroperitoneal, provocando obstrução ureteral principalmente à esquerda. O paciente foi então submetido a uma ureterólise com colocação de um cateter duplo J. Ocorreu rápida melhora das condições clínicas e recuperação da função renal. 2) D.G.M., masculino, mulato, 49 anos, frentista aposentado, natural de Vacaria e procedente de São Leopoldo. Paciente com osteomielite crônica em membro inferior esquerdo desde a adolescência. Internado em 5/6/93 no HCPA com queixa de dor em região lombar direita constante e cólica iniciada havia cerca de 4 anos. Referia febre havia cerca de 15 dias e negava sintomas urinários. Durante internação, houve drenagem espontânea de abcessos na região lombar. Uma ecografia abdominal, realizada em maio de 1993, mostrou JBN22n1.p65 10 rim esquerdo com várias áreas císticas relacionadas a importante dilatação pielocalicinal e sinais de atrofia parenquimatosa provavelmente devido a alteração na junção pieloureteral. Rim direito de dimensões preservadas. Uma cintilografia renal, também de maio de 1993, mostrou severa redução funcional do rim esquerdo. Ainda em radiograma da coluna lombar de junho de 1993, observaram-se alterações em L3-L4-L5 provavelmente secundárias à espondilite infecciosa crônica. O paciente recebeu alta com nefrostomia à esquerda e continuou fazendo acompanhamento ambulatorial. A realização de uma tomografia computadorizada em dezembro de 1993 sugeriu fibrose retroperitoneal com obstrução de veia cava inferior, ureteres e extensão intravertebral. Continua em tratamento para osteomielite em membro inferior. Discussão A fibrose retroperitoneal idiopática foi descrita inicialmente por Ormond em 1948.4 É uma doença rara (1:200.000), mais freqüentemente encontrada em homens com idade entre os 40 e 70 anos.5 A etiologia da fibrose retroperitoneal é considerada idiopática em cerca de dois terços dos casos.2,5 O restante está associado a uma série de condições (Tabela 1), como uso de certas drogas, infecções crônicas, hemorragia retroperitoneal, irradiações, tumores retroperitoneais, trauma, aneurisma de aorta abdominal, manipulação cirúrgica da região, extravasamento de urina, entre outros.6 Muitas drogas têm sido associadas ao aparecimento de fibrose retroperitoneal, como a metisergida, bromocriptina, ergotamina, ácido lisérgico, hidralazina e betabloqueadores.2,7 Entretanto, somente a metisergida tem sido mais claramente associada à fibrose retroperitoneal.2, 5 Dos casos apresentados, o primeiro não tinha uma etiologia definida, sendo, portanto, considerado idiopático e, o segundo, provavelmente secundário à doença crônica, a osteomielite. Pela freqüente associação entre a fibrose retroperitoneal idiopática e a presença de placas ateromatosas na aorta, tem sido sugerida uma teoria associando o crescimento do tecido fibroso a um processo imune-mediado. Nessa reação, o antígeno seria o ceróide, lipídio oxidado insolúvel presente na placa ateromatosa, responsável por desencadear o 08/01/01, 16:24 J Bras Nefrol 2000;22(1):1-7 11 Silva FG et al - Fibrose retroperitoneal Tabela 1 Causas mais comuns de fibrose retroperitoneal - Drogas: metisergida, bromocriptina, outras; Tumores: reação desmoplásica e/ou paraneoplásica; Manipulação cirúrgica da região; Aneurisma de aorta abdominal; Irradiação da região; Infecções crônicas; Hemorragia retroperitoneal. Idiopática: maioria dos casos processo imune que culminaria com a fibrose.8 A presença de ceróide em linfonodos regionais e de anticorpos anticeróide circulantes reforça a hipótese de um processo imune.8 Existem também estudos, com técnicas imuno-histoquímicas, mostrando que o infiltrado inflamatório presente na placa fibrótica possui macrófagos abundantes com características fenotípicas diferentes de macrófagos em outras lesões. Se o processo for realmente imune-mediado, os macrófagos podem ser, por meio de suas citocinas, os elementos desencadeadores da reação fibrótica.9 Caso seja mesmo esse o mecanismo fisiopatológico da fibrose retroperitoneal idiopática, existe a sugestão de Mitchinson e colaboradores para a mudança do nome dessa doença para periaortite crônica.10,11 Entretanto, convém lembrar que essa teoria não explica a ocorrência de FRI em crianças e em pessoas sem arteriosclerose importante. Na fibrose retroperitoneal, os ureteres se tornam progressivamente envolvidos por um tecido denso e fibroso, o que resulta em obstrução ureteral que pode ser uni ou bilateral. Por se tratar de um processo insidioso e pela grande quantidade de estruturas presentes no retroperitôneo, o quadro clínico é bastante variável.12,13 Portanto, a obstrução do trato urinário é uma manifestação freqüente da fibrose retroperitoneal e, em geral, é silenciosa e diagnosticada tardiamente.5,13 Não há sinais e sintomas específicos para essa condição. No entanto, dor lombar de intensidade leve a moderada, noctúria e presença de insuficiência renal podem ser as pistas iniciais para o diagnóstico dessa condição pouco lembrada pelos médicos. 5,13,14 Os dois pacientes apresentados tinham quadro obstrutivo significativo, inclusive com insuficiência renal aguda do tipo pósrenal. O quadro de insuficiência renal aguda foi adequadamente tratado com a desobstrução causada pela fibrose retroperitoneal. No primeiro caso, com JBN22n1.p65 11 ureterólise por cirurgia convencional e, no segundo, devido à extensão do processo fibroso, foi realizada uma nefrostomia definitiva. Os sintomas mais comuns de apresentação em uma análise de 60 casos foram dor em flanco (42%), dor lombar (32%), perda de peso (38%), náuseas e vômitos (32%), polidipsia e fadiga (18%), entre outros.13 Dor também foi o achado mais significativo dos dois pacientes apresentados neste trabalho. A dor com duração de meses apresentou uma piora progressiva, acompanhando o quadro obstrutivo. O exame físico costuma ser irrelevante, exceto pela presença constante de hipertensão arterial em mais de 50% dos casos e febre. 5,13 Devido a sintomas tão inespecíficos e vagos, o diagnóstico de fibrose retroperitoneal é freqüentemente esquecido e não realizado nas fases iniciais da doença, como já discutido anteriormente. Por isso, a obstrução urinária é freqüentemente vista na forma bilateral e com insuficiência renal do tipo obstrutivo no momento do diagnóstico. Ocasionalmente, encontraram-se sinais relativos ao avanço da placa fibrótica sobre outras estruturas, como edema de membros inferiores, claudicação intermitente, obstrução intestinal, edema de escroto e hidrocele.5,15 Raramente se consegue palpar massa em região lombar.5,13,14 Do ponto de vista laboratorial, a maioria dos pacientes apresenta uma anemia normocítica e normocrômica e um aumento da velocidade de sedimentação eritrocitária. Proteinúria de leve intensidade está presente na minoria dos pacientes.5 Recentemente foi descrita a associação de fibrose retroperitoneal com alguns marcadores séricos não relacionados previamente a essa doença.21,22 Também tem sido associado com o HLA B-27.23,24 Em relato de um caso de fibrose retroperitoneal induzida por metisergida, os autores encontraram níveis elevados de procolágeno III, anticorpos anticardiolipina e antib2 glicoproteína I.21 Os níveis de procolágeno III foram usados satisfatoriamente para monitorização da regressão do processo fibrótico. Em outro relato, foram encontrados níveis elevados de anticorpos anticitoplasma de neutrófilos perinucleares (ANCAp).22 Essa associação ainda não havia sido relatada e, segundo os autores, essa descoberta poderia aumentar o número de doenças associadas ao ANCA. Todos esses marcadores merecem mais estudos para que sua utilidade clínica seja comprovada. 21,22 08/01/01, 16:24 12 J Bras Nefrol 2000;22(1):1-7 Silva FG et al - Fibrose retroperitoneal O diagnóstico definitivo de fibrose retroperitoneal idiopática não pode ser feito baseado apenas em sua apresentação clínica. Para se ter certeza do diagnóstico, uma série de exames, principalmente de imagem, deve ser solicitada.16-20 No passado, a urografia excretora era considerada o melhor exame de imagem para o diagnóstico de fibrose retroperitoneal, sendo descrito inclusive uma tríade clássica: desvio medial dos ureteres, hidronefrose proximal e estenose ureteral no nível de L4-L5.5,12 Entretanto, hoje em dia, com o desenvolvimento tecnológico e melhores condições para realização de exames de imagem abdominal, a urografia passou a ser secundária no diagnóstico dessa doença, pois os achados nesse tipo de exame são muito pouco específicos. A tomografia computadorizada se tornou o exame de escolha para o diagnóstico de fibrose retroperitoneal, pela clareza com que mostra as estruturas afetadas e a própria massa fibrótica.17,18 Além disso, pode ser útil no diagnóstico diferencial entre adenopatia maligna e fibrose retroperitoneal, uma vez que a primeira usualmente desloca anteriormente a aorta e a fibrose retroperitoneal não.18 Na fibrose retroperitoneal também podese observar uma melhor impregnação pelo contraste, quando comparado com a infiltração neoplásica.17 Entretanto, o uso do contraste nesse tipo de exame pode trazer riscos de nefrotoxicidade, já que os pacientes costumam apresentar algum grau de insuficiência renal. Nesse caso, a ressonância magnética apresenta a vantagem de não usar contraste, embora permita uma pior visualização dos ureteres.19 A cintilografia com Ga-67 também tem sido usada, sendo capaz de evidenciar áreas periaórticas de atividade intensa, como linfomas, metástases, abcessos e processos inflamatórios.20 Usada em colaboração com a tomografia computadorizada, pode ser útil no diagnóstico e no seguimento desses pacientes.19,20 Nos dois casos apresentados, o diagnóstico definitivo foi feito por tomografia computadorizada e confirmado por biópsia (Figuras 1 e 2). O tratamento inicial e o momento dos procedimentos cirúrgicos são definidos pela extensão da doença e grau de comprometimento renal. O objetivo primário do tratamento cirúrgico é dirigido para a preservação da função renal pela desobstrução que pode ser aliviada temporariamente por colocação de um cateter ureteral ou realização de uma nefrostomia percutânea.5,25 O tratamento cirúrgico definitivo é por meio da liberação da estrutura aprisionada pela massa JBN22n1.p65 12 Figura 1. Aspectos normais de uma tomografia abdominal (foto acima). Na imagem da fotografia abaixo, é possível observar nítida massa que envolve a aorta abdominal (seta em cima da massa periaórtica). A= aorta; R=rins Figura 2. Detalhes da massa que envolve a aorta abdominal do paciente com diagnóstico de fibrose retroperitoneal primária. A seta mostra importante massa abdominal em volta da aorta. A=aorta fibrótica, seguido de corticoterapia de longa duração.26 A ureterólise tem sido o procedimento de escolha quando os ureteres estão envolvidos pelo tecido fibroso. Devido ao surgimento freqüente de recidivas, algumas outras técnicas têm sido empregadas, como transposi- 08/01/01, 16:24 J Bras Nefrol 2000;22(1):1-7 13 Silva FG et al - Fibrose retroperitoneal ção intraperitoneal dos ureteres, omentoplastia e a colocação de malhas artificiais para impedir novos envolvimentos dos ureteres.27 O uso de sondas de nefrostomia, como no segundo caso apresentado, é uma opção quando as condições clínicas do paciente não permitem intervenção cirúrgica convencional. Outra opção descrita, particularmente quando já ocorreu comprometimento extenso dos ureteres, é o autotransplante renal.28 Recentemente, com o desenvolvimento tecnológico e novas técnicas endoscópicas, os procedimentos envolvendo o ureter têm se tornado menos agressivos e mais amplos.29,30 Por exemplo Downey et al.30 relataram dilatação percutânea, com balão, de paciente com obstrução ureteral leve, associada à fibrose retroperitoneal idiopática com longo período de alívio da obstrução. Uma técnica de uso crescente é a ureterólise laparoscópica.27,31,32 O primeiro relato na literatura do emprego dessa técnica, na fibrose retroperitoneal, data de 1990.31 As suas vantagens incluem menos dor no pós-operatório, menor tempo de hospitalização e mais rápida recuperação quando comparado com os procedimentos cirúrgicos convencionais.27 Apesar de todo o avanço nas técnicas cirúrgicas e endoscópicas, a opção do tratamento clínico está se tornando mais comum com a descoberta de novos medicamentos.26,33-35 O uso do tamoxifeno, droga antiestrogênica usada para tratamento de câncer de mama e de infertilidade feminina, tem mostrado excelentes resultados e hoje é uma das melhores opções terapêuticas para essa situação.3 A corticoterapia como droga única ou associada a imunosupressores também tem sido descrita, embora ainda não existam estudos clínicos capazes de avaliar sua real eficácia.33-35 Numa análise retrospectiva de 60 casos, 5 pacientes com obstrução bilateral do trato urinário foram tratados apenas com corticóide (prednisolona a 30-60 mg/dia). Desses, 2 tiveram recuperação da função renal, 2 tiveram obstrução corrigida em apenas um lado e o outro não apresentou resposta ao tratamento.13 Nos casos de fibrose retroperitoneal secundária ao uso de metisergida, somente a retirada da droga, sem terapia complementar, parece ser o suficiente para melhora do quadro obstrutivo.2, 6 Os pacientes foram tratados cirurgicamente, o primeiro com ureterólise e o segundo com nefrostomia. Ambos se mantiveram com função renal estável e poucos sintomas. JBN22n1.p65 13 Conclusão No presente trabalho descrevem-se dois casos de fibrose retroperitoneal, o primeiro considerado idiopático e o segundo, provavelmente devido ao processo infeccioso crônico, osteomielite. Embora muitos de seus aspectos fisiopatológicos permaneçam obscuros até o momento, alguns avanços têm surgido no diagnóstico e na terapêutica desses pacientes. O paciente típico é um homem de meia-idade com dor lombar ou abdominal, hipertensão arterial sistêmica e que se apresenta urêmico, anêmico e com uma elevação da taxa de sedimentação eritrocitária. Um número crescente de teorias a respeito da etiologia da fibrose retroperitoneal e novas opções de diagnóstico e tratamento têm surgido ultimamente, mas muitas ainda carecem de estudos mais aprofundados para que possam ser incorporadas à prática clínica. O uso do tamoxifeno, ainda com seu mecanismo de ação pouco esclarecido, parece ser uma boa opção de tratamento. A monitorização desses pacientes deve ser feita com avaliação da função renal, medida da taxa de sedimentação eritrocitária e um método de imagem para avaliar obstrução urinária de preferência utilizando o ultra-som. Summary Retroperitoneal fibrosis is a rare disease usually seen in patients 40 to 70 years old due to a chronic inflammatory process of the retroperitoneum which can obstruct the ureter by extrinsic compression. In most cases the etiology is unknown, although a variety of factors, including medications, malignancies, and inflammatory diseases have been implicated in its development. Diagnosis of retroperitoneal fibrosis should be considered in patients with unexplained abdominal or lower back pain and retroperitoneal lesions. Signs and symptoms are related to compression of retroperitoneal structures, including the inferior vena cava, aorta, and ureters. When both ureters are involved, the patient will develop an obstructive acute renal failure. Various medical therapies have been used in the treatment of patients with retroperitoneal fibrosis, such as steroids, tamoxifen and azathioprine. However a significant number of patients may require surgery. At the same time of the surgical exploration of the retroperitoneum, ureterolysis is performed after 08/01/01, 16:24 14 J Bras Nefrol 2000;22(1):1-7 Silva FG et al - Fibrose retroperitoneal identifying the part of the ureter not involved by the fibrotic tissue, usually near the kidney or bladder junction. Recently there has been interest in applying laparoscopic techniques to treat pathological conditions traditionally managed by open surgery. Two cases of retroperitoneal fibrosis are reported. In one of them the etiology was idiopathic and in the other it was a result of chronic infection. Both cases were treated with ureterolysis by open surgery or nephrostomy. Referências 1. Mitchinson MJ. The pathology of idiopathic retroperitoneal fibrosis. J Clin Pathol 1970;23:681-9. 2. Amis ESJr. Retroperitoneal Fibrosis. AJR 1991;157:321-9. 3. Clark CP, Vanderpool D, Preskitt JT. The response of retroperitoneal fibrosis to tamoxifen. Surgery 1991;109:502-6. 4. Ormond J. 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