Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 46 Complementos de Cálculo Diferencial A noção de derivada foi introduzida no ensino secundário. Neste capítulo pretende-se relembrar algumas de…nições e resultados já conhecidos e complementar os conhecimentos adquiridos com vista ao cálculo integral que será dado no capítulo seguinte. Anteriormente foram estudadas as funções trigonométricas e respectivas derivadas, mas não foram estudadas as funções inversas das funções trigonométricas. Aqui serão apresentadas as funções inversas das quatro principais funções trigonométricas, seno, co-seno, tangente e cotagente, para as quais serão também calculadas as derivadas. Ao longo deste capítulo todas as funções consideradas são funções reais de variável real. Revisões Algumas derivadas conhecidas: Se c 2 R e f (x) = c, então f 0 (x) = 0 (a derivada de uma função constante é 0) Para 2 R, (x )0 = x 1 (ex )0 = ex Para a 2 R+ , (ax )0 = ax ln a 1 (ln x)0 = x 0 (sin x) = cos x (cos x)0 = sin x 1 (tan x)0 = cos2 x 1 (cot x)0 = sin2 x Observação: Lembrando que p b a xa = x b (1) e que, se a > 0; 1 ; (2) xa constata-se que a fórmula da derivada de x ; 2 R, também se aplica a derivadas de x a 1 = x 2 1 2 = funções do tipo (1) e (2). Exemplos: 1. Se f (x) = p x, então p 0 f 0 (x) = ( x) = 1 x2 0 1 1 = x2 2 1 = 1 1 = p 2 x 2x 1 2 Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 47 1 2. Se f (x) = p ; então 4 x3 0 f (x) = 1 p 4 x3 0 1 = 3 x4 !0 = 0 3 4 x 3 x 4 = 3 1 4 = 3 x 4 7 4 3 = 7 4x 4 Relações trigonométricas tan x = cos x sin x , cot x = cos x sin x Fórmula fundamental da trigonometria cos2 x + sin2 x = 1 p 1 1 2 = 1 + tan x , = 1 + tan2 x cos2 x cos x p 1 1 = 1 + cot2 x Se sin x 6= 0, 2 = 1 + cot2 x , sin x sin x Se cos x 6= 0, cos (x + y) = cos x cos y cos (x sin x sin y y) = cos x cos y + sin x sin y sin (x + y) = cos x sin y + cos y sin x sin (x y) = cos y sin x cos (2x) = cos2 x cos x sin y sin2 x sin (2x) = 2 cos x sin x cos2 x = sin2 x = 1 + cos 2x 2 1 sin x cos y = cos x cos y = cos 2x 2 sin (x + y) + sin (x 2 cos (x y) y) + cos (x + y) 2 Alguns valores das funções trigonométricas 0 sin 0 cos 1 tan 0 cot nd 6 =30o 1 p2 3 p2 3 3 p 3 =45o =60o 4 p 3 p 1 p 2 p2 2 2 1 3 2 1 2 p 3 3 3 2 =90o =180o 1 0 0 1 2 90o = 1 0 nd 0 nd 0 nd 0 = 3 p 4 4 x7 Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 48 Regras de derivação De…nição: Uma função é diferenciável em x 2 R se tiver derivada …nita em x: Teorema: Se uma função f é diferenciável em x 2 R, então f é contínua em x: Derivada do produto escalar: Se k 2 R e f é uma função diferenciável num ponto x 2 R, então a função kf também é diferenciável em x e: (kf )0 (x) = k (f 0 (x)) 0 0 Exemplo: (3x2 ) = 3 (x2 ) = 3 (2x) = 6x: Derivada da soma e do produto: Se f e g são funções diferenciáveis em x 2 R, então as funções f + g e f g também são diferenciáveis em x e: Derivada da soma: (f + g)0 (x) = f 0 (x) + g 0 (x) [abreviadamente (f + g)0 = f 0 + g 0 ] Derivada do produto: (f g)0 (x) = f 0 (x) g (x) + f (x) g 0 (x) [abreviadamente (f g)0 = f 0 g + f g 0 ] Exemplos: 1. Se f (x) = 3x2 e g (x) = 2x então: 0 0 (f + g)0 (x) = (3x2 + 2x) = (3x2 ) + (2x)0 = 6x + 2 2. A derivada de q (x) = 3x5 q 0 (x) = 3x5 0 2x4 + x2 0 2x4 + x2 3x + 8 é 0 (3x)0 + (8)0 = 15x4 8x3 + 2x 3 3. Se f (x) = ex e g (x) = ln x então: (f + g)0 (x) = (ex + ln x)0 = (ex )0 + (ln x)0 = ex + 1 x (f g)0 (x) = (ex ln x)0 = (ex )0 ln x + ex (ln x)0 = ex ln x + ex 4. Se f (x) = sin x e g (x) = cos x então: (f + g)0 (x) = (sin x + cos x)0 = = (sin x)0 + (cos x)0 = cos x sin x 1 1 = ex ln x + x x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 49 (f g)0 (x) = (sin x cos x)0 = = (sin x)0 cos x + sin x (cos x)0 = = cos x cos x + sin x ( sin x) = cos2 x sin2 x Derivada do cociente: Se f e g são funções diferenciáveis em x 2 R e se g (x) 6= 0, então f também é diferenciável em x e: g f g 0 (x) = f 0 (x) g (x) f (x) g 0 (x) [abreviadamente (g (x))2 f g 0 = f 0g + f g0 ] g2 Exemplos: 1. Se f (x) = ln x e g (x) = x então: f (x) g (x) 0 0 ln x = x 1 x ln x (ln x)0 x ln x (x)0 1 ln x x = = = 2 2 x x x2 = 2. Através da regra da derivada do cociente podemos deduzir a derivada da função tan x. f (x) sin x De facto, se f (x) = sin x e g (x) = cos x então = = tan x: Assim, g (x) cos x 0 sin x = cos x (sin x)0 cos x sin x (cos x)0 = (cos x)2 cos x cos x sin x ( sin x) = cos2 x cos2 x + sin2 x 1 = 2 cos x cos2 x 0 (tan x) (x) = = = = Derivada da função composta: Se f e g são funções, f diferenciável em x 2 R eg diferenciável em f (x), então a função g f é diferenciável no ponto x e: (g f )0 (x) = g 0 (f (x)) f 0 (x) Exemplos: 1. Sejam f (x) = ln x e g (x) = x2 : Então (a) (g f ) (x) = (ln x)2 e (ln x)2 (b) (f 0 0 = 2 ln x: (ln x)0 = g) (x) = ln (x2 ) e (ln (x2 )) = 1 2x 2 0 : (x ) = x2 x2 2 ln x x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 2. Seja h (x) = p 50 cos x: p Considerando as funções f (x) = x e g (x) = cos x veri…ca-se que h = f 1 1 0 p sin x 0 p h0 (x) = ( cos x) = (cos x) 2 = 21 (cos x) 2 (cos x)0 = 2 cos x g: Então: A partir da regra da derivada da função composta podem-se deduzir expressões gerais para as derivadas de muitas funções. Exemplos: 1. Seja f (x) uma função qualquer. Para 2 R, qual é a derivada def (x) ? Esta função é a composição de f (x) com a função g (x) = x : Usando a regra da derivação da 0 função composta obtemos (f (x) ) = f (x) 1 f 0 (x) 2. Seja f (x) uma função qualquer. Para calcular a derivada de ln f (x) ; basta observar que ln f (x) é a composição de f (x) com a função g (x) = ln x. Pela regra (ln f (x))0 = 1 0 f 0 (x) f (x) = f (x) f (x) Resumimos as fórmulas assim obtidas na seguinte tabela (que já inclui as derivadas das funções trigonométricas inversas que deduziremos de seguida): Derivadas Se x é uma variável: 0 (x ) = x x 0 x (e ) = e 1 ; 2R x 0 Se f é uma função: (f )0 = f f 0 e f = e :f 1 0 :f 0 ; 2R f 0 (a ) = ax ln a; a 2 R+ 1 (ln x)0 = x 0 (sin x) = cos x = af : ln a:f 0 ; a 2 R+ f0 (ln f )0 = f 0 (sin f ) = cos f:f 0 (cos x)0 = (cos f )0 = sin x 1 (tan x)0 = cos2 x 1 (cot x)0 = sin2 x 1 (arcsin x)0 = p 1 x2 1 (arccos x)0 = p 1 x2 1 (arctan x)0 = 1 + x2 1 (arccot x)0 = 1 + x2 a sin f:f 0 f0 0 (tan f ) = cos2 f f0 0 (cot f ) = sin2 f f0 0 p (arcsin f ) = 1 f2 f0 (arccos f )0 = p 1 f2 0 f (arctan f )0 = 1 + f2 f0 (arccot f )0 = 1 + f2 Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 51 Funções trigonométricas inversas Função inversa da função seno Seja f (x) = sin x Domínio: R Contradomínio: [ 1; 1] Grá…co: y -5 -4 -3 -2 1 -1 1 2 3 4 5 x -1 sin x Como a função seno não é injectiva, para de…nir a inversa temos de restringir h i a função a um intervalo em que seja injectiva. Para isso escolhemos o intervalo ; , no qual a 2 2 função seno é estritamente crescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa do seno num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cujo seno é x; simbolicamente arcsin x: Como sin x e arcsin x são funções inversas, é claro que sin (arcsin x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arcsin x Domínio: [ 1; 1]h i ; Contradomínio: 2 2 Grá…co: y 1.5 1.0 0.5 -1.0 -0.5 0.5 -0.5 -1.0 -1.5 arcsin x 1.0 x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 52 Função inversa da função co-seno Seja f (x) = cos x Domínio: R Contradomínio: [ 1; 1] Grá…co: 1.0 y -5 -4 -3 -2 -1 0.5 1 -0.5 2 3 4 5 x -1.0 cos x Também neste caso, para de…nir a função inversa temos de restringir a função co-seno a um intervalo em que seja injectiva. Para isso escolhemos o intervalo [0; ], no qual a função co-seno é estritamente decrescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa do co-seno num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cujo co-seno é x; simbolicamente arccos x: Como cos x e arccos x são funções inversas, é claro que cos (arccos x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arccos x Domínio: [ 1; 1] Contradomínio: [0; ] Grá…co: y3 2 1 -1.0 -0.5 0.0 arccos x 0.5 1.0 x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 53 Função inversa da tangente: Seja f (x) = tan n x (ou f (x) = otg x) Domínio: R +k :k 2Z 2 Contradomínio: R Grá…co: 10 y 5 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 x -5 -10 tan x Nestei caso, para h calcular a função inversa da tangente, efectuamos a sua restrição ao intervalo ; no qual a função é estritamente crescente e assume todos os valores do seu 2 2 contradomínio. Ao valor da função inversa da tangente num ponto x deste intervalo chamase habitualmente arco cuja tangente é x; simbolicamente arctan x ou arctg x: Como tan x e arctan x são funções inversas, é claro que tan (arctan x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arctan x (ou f 1 (x) = arctg x) Domínio: R i h Contradomínio: ; 2 2 Grá…co: y -5 -4 -3 -2 1 -1 1 -1 arctan x 2 3 4 5 x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 54 Função inversa da cotangente: f (x) = cot x (ou f (x) = cotg x) Domínio: R fk : k 2 Zg Contradomínio: R Grá…co: y 10 5 -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 x -5 -10 cot x Neste caso, para calcular a função inversa da cotangente, efectuamos a sua restrição ao intervalo ]0; [ no qual a função é estritamente decrescente e assume todos os valores do seu contradomínio. Ao valor da função inversa da tangente num ponto x deste intervalo chama-se habitualmente arco cuja cotangente é x; simbolicamente arccot x ou arccotg x: Como cot x e arccot x são funções inversas, é claro que cot (arccot x) = x: Tem-se então: f 1 (x) = arccot x (ou f 1 (x) = arccotg x) Domínio: R Contradomínio: ]0; [ Grá…co: y3 2 1 -5 -4 -3 -2 -1 0 arccot x 1 2 3 4 5 x Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 55 Derivada da função inversa O teorema que se enuncia de seguida permite calcular a derivada da função inversa de uma função dada a partir da derivada da função inicial. Derivada da função inversa: Seja I um intervalo real, f : I ! R uma função monótona 1 e contínua e f 0 : f (I) ! R a inversa de f: Se f é diferenciável num ponto x 2 I e 1 f (x) 6= 0; então f é diferenciável em y = f (x) e: f 1 0 (y) = 1 f 0 (f 1 (3) (y)) Exemplos: Os exemplos que apresentamos mostram como utilizar este teorema no cálculo de derivadas já conhecidas. 1. Vamos calcular a derivada da função ln x usando o facto de ser a função inversa de f (x) = ex : Com é sabido f 0 (x) = ex : Neste caso f 1 (y) = ln y: Aplicando a fórmula (3) obtemos: (ln y)0 = f 1 0 (y) = 1 f0 (f 2. Vamos calcular a derivada da função x 3 = p 3 1 1 (y)) 1 = e(ln y) = 1 y x usando o facto de ser a função inversa de f (x) = x3 : Com é sabido f 0 (x) = 3x2 : p Neste caso f 1 (y) = 3 y: Aplicando a fórmula (3) obtemos: 1 y3 0 p = ( 3 y)0 = f 1 0 (y) = 1 f0 1 (f (y)) = 3 1 p 3 y 2 1 = y 3 2 3 Derivadas das funções trigonométricas inversas arcsin x Se f (x) = sin x então f 0 (x) = cos x e f 1 (y) = arcsin y. Aplicando a fórmula (3) da página 55, obtem-se: (arcsin y)0 = 1 cos (arcsin y) = # ve r p g . 4 7 arccos x Se f (x) = cos x então f 0 (x) = sin x e f p 1 1 1 2 sin (arcsin y) =p 1 1 y2 (y) = arcsen y. Aplicando a fórmula (3) da página 55, obtem-se: (arccos y)0 = 1 sin (arccos y) = # ve r p g . 4 7 1 p 1 cos2 (arccos y) = p 1 1 y2 Matemática - 2008/09 - Complementos de Cálculo Diferencial 56 arctan x Se f (x) = tan x então f 0 (x) = da página 55, obtem-se: (arctan y)0 = 1 ef cos2 x 1 1 2 cos (arctan y) 1 (y) = arctan y. Aplicando a fórmula (3) = 1 1 = 1 + tan (arctan y) 1 + y2 2 # ve r p g . 4 7 arccot x Se f (x) = cot x então f 0 (x) = da página 55, obtem-se: (arccot y)0 = Conclusão: (arcsin x)0 = p 1 x2 1 1 (arccos x)0 = p (arctan x)0 = 1 1 + x2 (arccot x)0 = 1 x2 1 1 + x2 1 ef sen2 x 1 = 1 # ve r p g . 2 sin (arccot y) 1 (y) = arccot y. Aplicando a fórmula (3) 1 = 1 + cot (arccot y) 2 47 1 1 + y2