Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 A INFLUÊNCIA DA FISIOTERAPIA NOS PARÂMETROS RESPIRATÓRIOS E NA DISPNÉIA EM 1 CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM LEUCEMIA 2 2 3 Cipolat, S. ; Pereira, B. B. , Ferreira, F. V. 1 Referencial Teórico do Trabalho Final de Graduação I, Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. 2 Acadêmicas do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Orientadora do TFGI e Prof. MSC. do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected]; [email protected], [email protected] RESUMO A leucemia é uma neoplasia maligna hematológica, caracterizada por uma proliferação anormal e descontrolada de células leucocitárias na medula óssea, resultando em um acúmulo de células anormais no sangue circulante e uma multiplicidade de alterações fisiopatológicas como a dispnéia. Tal consequência atua como um fator limitante para a prática das atividades de vida diária e de lazer, interferindo por conseguinte, no dia-a-dia de crianças e adolescentes com leucemia. Nesse contexto, o fisioterapeuta pode atuar sob o prisma do alívio da sintomatologia gerada pela condição neoplásica e pelo tratamento, buscando ainda, dentro das possibilidades terapêuticas, a promoção da independência funcional do indivíduo. Assim, o presente artigo trata de uma revisão de literatura sobre o papel da fisioterapia na oncologia hematológica, bem como a sua influência sobre os parâmetros respiratórios e sensação de dispnéia em crianças e adolescentes com leucemia. Palavras-chave: Leucemia. Dispnéia. Fisioterapia oncológica. Fisioterapia. 1 INTRODUÇÃO A incidência do câncer cresce anualmente em todo o mundo, sendo que se constitui na segunda causa de morte por doenças no Brasil, conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidade (BRASIL, 2008). As estimativas para o ano de 2010, válidas também para o ano de 2011, apontam que ocorrerão aproximadamente 489.270 novos casos de câncer no país. Na análise por região e microrregião, a estimativa mostra que “as regiões Sul e Sudeste, de maneira geral, apresentam as maiores taxas, enquanto que as regiões Norte e Nordeste mostram as menores taxas. As taxas da região Centro-Oeste apresentam um padrão intermediário” (BRASIL, 2009). O câncer pediátrico é considerado raro, representa de 0,5 a 3% de todos os tumores na maioria das populações, e permanece, ainda, com a maioria de suas causas desconhecidas, o diferenciando dos tumores em adultos. Entre as principais neoplasias na infância e na adolescência, destacam-se as leucemias, de maior ocorrência; seguido dos linfomas e tumores do Sistema Nervoso Central (BRASIL, 2008). Conforme dados publicados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), a leucemia apresentou taxas consideráveis de mortalidade no ano de 2007, sendo que, na maioria das populações do mundo, o tipo de leucemia mais freqüente, em crianças e adolescentes com menos de 14 anos de idade, é a leucemia linfóide aguda (VIANA, 2003). A leucemia gera uma multiplicidade de alterações fisiopatológicas, cujo início pode ocorrer dias ou semanas antes do diagnóstico. Dentre elas, destacam-se a anemia, neutropenia, trombocitopenia, dor osteoarticular, fadiga, dispnéia, aumento dos linfonodos, fígado, baço e demais sintomatologias (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005; LOPES, 2009). A dispnéia - definida como uma sensação subjetiva de falta de ar - é um sintoma comum em pacientes com câncer avançado. Segundo Marcucci (2005) a dispnéia ocorre em 45 a 70% desses pacientes e pode ser um fator limitante para a prática de atividades diárias como caminhar, subir/descer escadas, tomar banho, alimentar, dentre outros. Nesse sentido, a fisioterapia surge como um meio de controlar e/ou amenizar os sintomas decorrentes das disfunções pulmonares, notadamente a dispnéia, por meio de recursos, técnicas e 1 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 instrumentos adequados, sendo assim, o presente trabalho irá abordar a influência da fisioterapia nos parâmetros respiratórios e na sensação de dispnéia em crianças e adolescentes com leucemia. 2 SISTEMA HEMATOPOIÉTICO O sistema hematopoiético, responsável pela formação das células sanguíneas no homem, é um processo ativo e contínuo que, segundo Lopes (2009), visa estabelecer um equilíbrio homeostático, uma vez que as células lábeis sofrem constantemente apoptose. A hematopoiese, ou hematopoese, ocorre pela primeira vez no saco vitelino, durante as primeiras semanas de vida embrionária. No segundo trimestre de gestação, o fígado, o baço e os linfonodos assumem a função. Após o nascimento, o principal órgão responsável por essa renovação é a medula óssea, através da proliferação e maturação das células-tronco (stem cell), localizada no interior de ossos longos (como fêmur e tíbia), planos (como o esterno), irregulares (como os ilíacos e as vértebras). Entretanto, em casos extremos, como na presença de determinadas condições patológicas, pode haver atividade hematopoiética em órgãos como o baço e o fígado (GUYTON; HALL, 2006; DOUGLAS, 2006). Os elementos figurados do sangue, compreendem os eritrócitos (hemácias ou glóbulos vermelhos); os leucócitos (glóbulos brancos); e os trombócitos (plaquetas). Cada elemento se diferencia por sua morfologia e função, sendo os eritrócitos responsáveis pelo suprimento de oxigênio aos tecidos, através do transporte de oxigênio (O2) pela hemoglobina. Já os leucócitos representam as células de defesa, que combatem os agentes infecciosos, e os trombócitos desempenham um importante papel na hemostasia (GUYTON; HALL, 2006). A produção dessas células hematopoiéticas (ontogênese) é complexa e profundamente regulada, conforme afirmam Goldman e Ausiello (2005), sendo altamente responsiva às necessidades funcionais do organismo. Segundo Henry (1999), na medula óssea estão presentes as células-tronco pluripotentes ou multipotentes, que originam duas células progenitoras principais: (1) a célula-tronco linfóide e (2) a célula-tronco mielóide. Tais células-tronco, por sua vez, proliferam ou diferenciam e entram em maturação, resultando na manutenção de um sistema hematopoiético consistente e altamente reativo às necessidades de oxigenação, de defesa e de hemostasia. Em virtude da complexidade do processo de formação celular, citado anteriormente, qualquer alteração morfofuncional ocasionada durante a hematopoese, provocada tanto por fatores intrínsecos ou extrínsecos, pode levar a uma produção de células modificadas na forma e/ou na qualidade, comprometendo a funcionalidade do organismo. Dessa maneira, o organismo humano torna-se susceptível a várias afecções, dentre elas a leucemia. 3 LEUCEMIA A leucemia é uma neoplasia maligna hematológica, caracterizada por uma proliferação anormal e descontrolada de células leucocitárias (mielógenas ou linfógenas) na medula óssea, ocasionando um acúmulo de células anormais no sangue circulante as quais vêm a substituir as células sanguíneas normais (FORONES et al., 2005; BRASIL, 2009a). A sua etiologia exata é desconhecida, porém alguns autores acreditam que determinados fatores de risco possam desencadear esse processo, tais como: predisposição genética, exposição à radiação ionizante, a vírus oncogênicos e a substâncias químicas (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005; LEITE et al., 2007). Clínica e patologicamente, a leucemia pode ser classificada em linfóide (linfocítica/linfoblástica) ou mielóide (mielógena), e ainda dividida em formas aguda ou crônica. Conforme aduz Guyton e Hall (2006, p. 437): As leucemias linfocíticas são causadas pela produção cancerosa de células linfóides, começando, na maioria dos casos, em um linfonodo ou em outro tecido linfocítico e se disseminando para outras áreas do corpo. [...] a leucemia mielógena, se inicia pela produção cancerosa de células mielógenas jovens na medula óssea que se disseminam por todo o corpo [...]. 2 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 As leucemias agudas são caracterizadas pelo acúmulo de células imaturas da linhagem linfóide ou mielóide, isto é, de células incapazes de se diferenciar em células maduras devido a um bloqueio de maturação, que invadem tecidos adjacentes. Dessa forma, quanto mais indiferenciada a célula, mais aguda é a leucemia e, caso não tratada, causa insuficiência hematopoiética progressiva, levando à morte em alguns meses. As leucemias crônicas, em contrapartida, caracterizam-se pelo acúmulo de células maduras na medula óssea derivadas de clones neoplásicos mais jovens que seguiram o processo normal de maturação. Sua progressão é lenta podendo levar meses ou anos (FAILACE, 2003; FORONES et al., 2005; GUYTON; HALL, 2006). A combinação dessas classificações gera quatro principais tipos de leucemias e o entendimento de cada tipo (mesmo que breve) é indispensável para a compreensão da diagnose e sua respectiva terapia. 3.1 Leucemia mielóide aguda (LMA) A LMA comumente ocorre nos primeiros meses de vida, na meia-idade e na velhice, sendo raros os acometimentos na infância e adolescência (HENRY, 1999). No entender de Kumar, Abbas e Fausto (2005, p. 728): A leucemia mielóide aguda está associada a modificações genéticas que inibem a diferenciação terminal mielóide. Como resultado, os elementos hormonais da medula óssea são substituídos por blastos relativamente diferenciados, que exibem um ou mais tipos de diferenciação mielóide inicial. A taxa de replicação destes blastos é na verdade inferior à dos progenitores mielóides normais, destacando a importância da patologia no bloqueio da maturação e na sobrevivência aumentada. A instalação da LMA ocorre devido a uma infecção aguda ou em condição séptica, gerando sinais e sintomas como anemia, neutropenia, trombocitopenia, fadiga, febre e sangramento espontâneo na pele e mucosas (HENRY, 1999; KUMAR; ABBAS; FAUSTO, 2005). Ainda segundo os autores supracitados (2005), essa patologia é de difícil tratamento, sendo que aproximadamente 60% dos pacientes conseguem a remissão completa com a quimioterapia e desses, 15% a 30% se mantêm livre da doença por cinco anos. 3.2 Leucemia linfóide aguda (LLA) Corresponde a 80% dos casos de leucemia aguda na infância, com pico de ocorrência entre 2 e 5 anos, sendo que, sua maior incidência acontece em crianças brancas do sexo masculino (PEDROSA, 2002; LAKS et al., 2003). Conforme apresenta Leite et.al. (2007, p. 414) a LLA: É uma neoplasia maligna, caracterizada pelo acúmulo de células linfóides imaturas na medula óssea, sendo os sinais e sintomas apresentados pelos pacientes resultantes de graus variáveis de anemia, neutropenia, trombocitopenia e infiltração dos tecidos por células leucêmicas. Segundo Kumar, Abbas e Fausto (2005), a LLA de células B precursoras corresponde a tumores, que se manifestam como leucemias agudas na infância, com um vasto comprometimento da medula óssea e acometimento variável do sangue periférico, ao passo que, a LLA de células T precursoras, é mais rara, caracterizando-se como linfomas em adolescentes do sexo masculino. O seu diagnóstico, de acordo com Lopes (2009, p. 2095), “é definido pela presença de 25% ou mais de células blásticas linfóides na medula óssea” e a sua apresentação clínica pode decorrer “do grau de comprometimento medular, da infiltração leucêmica dos órgãos linfóides e da invasão de outros locais extramedulares”. Geralmente, os portadores da LLA apresentam sinais e sintomas como anemia, febre, sangramento, linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hapatomegalia. A dor osteoarticular é uma queixa importante entre as crianças, estando diretamente associada à fadiga e à presença de 3 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 adenomegalias mediastinais, as quais geram possíveis repercussões como tosse, modificações na voz e dispnéia (LOPES, 2009). Para obtenção de um prognóstico mais qualificado os casos devem ser tratados com quimioterapia intensiva e incrementos na terapia de suporte, como a transfusão sanguínea e a antibioticoterapia, que resultarão em remissão completa da patologia em crianças (HENRY, 1999; LAKS et al., 2003). 4 MÉTODOS DE TRATAMENTO DA LEUCEMIA Por ser uma doença rapidamente progressiva, a leucemia deve ter um tratamento antileucêmico específico iniciado o mais precoce possível, em geral dentro de 48h após o seu diagnóstico (GOLDMAN; AUSIELLO, 2005). Como normalmente a sua etiologia é desconhecida, o tratamento tem por objetivo destruir as células leucêmicas para que a medula óssea volte a produzir células normais (BRASIL, 2009a). Independente do tipo de leucemia, a literatura sugere que o tratamento seja dividido estrategicamente em três fases, com o intuito de controlar a doença ou, se possível, alcançar a sua cura: (1) fase de indução à remissão, na qual se tenta erradicar todas as células malignas do corpo, através da combinação de 3 ou 4 drogas, incluindo corticóide, para o restabelecimento da hematopoese normal; (2) fase de remissão, onde ocorre o desaparecimento aparente dos sintomas e das células anormais na medula óssea; e (3) fase de terapia de manutenção, em geral de longa duração, abrange a continuação do tratamento, para que não haja remissão da doença em função do número expressivo de células indetectáveis que podem persistir e proliferar-se (TECKLIN, 2002; LOPES, 2009). Geralmente, os protocolos de tratamento variam de acordo com o tipo e com a gravidade da leucemia. Os métodos de tratamento comumente aplicados aos pacientes portadores de leucemia compreendem a radioterapia, a quimioterapia e o transplante de células-tronco hematopoiéticas (nova denominação de transplante de medula-óssea). A radioterapia busca, por meio da interação das radiações ionizantes com a matéria, alcançar um índice terapêutico favorável, levando as células malignas a perderem a sua capacidade clonal sem a destruição dos tecidos normais (BRASIL, 2008). No entanto, Lopes (2009, p. 2103), descreve que a radioterapia profilática em sistema nervoso tem sido cada vez menos utilizada, estando reservada para grupos de alto risco. Para o autor, “injeções de drogas no sistema liquórico, geralmente por punção lombar, na chamada quimioterapia intratecal” devem ser utilizadas desde o início da terapia, com a intenção de proteger e tratar o sistema nervoso. A quimioterapia, como forma de tratamentos das neoplasias, consiste na utilização de substâncias químicas, isoladas ou em combinação, para moderar ou aliviar o processo de câncer e impedir a capacidade reprodutiva das células malignas, resultando na morte do tumor (TECKLIN, 2002). Na maioria dos casos de crianças com câncer a quimioterapia é a fonte principal de tratamento, podendo ser combinada com o transplante de medula óssea ou radioterapia (VASCONCELOS; ALBUQUERQUE; COSTA, 2006). Conforme o INCA um “grande progresso para obter cura total da leucemia foi conseguido com a associação de medicamentos (poliquimoterapia), controle das complicações infecciosas e hemorrágicas e prevenção ou combate da doença no sistema nervoso central” (BRASIL, 2009a). “A quimioterapia com protocolos de indução, seguidos de longo período de manutenção leva à remissão duradoura e à cura de 70% dos casos de LLA” (FAILACE, 2003). Marchese (2007, p. 447) afirma que “todas as crianças com leucemia recebem quimioterapia”. Já, “se uma criança com leucemia linfoblástica aguda (LLA) sofre reincidência um transplante de célula-tronco [...] é realizado”. Na tentativa de extinguir as células cancerosas, a quimioterapia e a radioterapia (administradas em doses elevadas) podem provocar a morte de células da medula óssea, necessitando a reposição de novas células saudáveis coletadas de um doador histocompatível, resultando dessa forma, a necessidade de um transplante de medula óssea (TMO) (TECKLIN, 2002). Os principais tipos de TMO correspondem ao transplante autólogo - que utiliza a medula do próprio paciente, e o transplante alogênico - em que o paciente recebe a medula de um determinado familiar ou de um doador não aparentado (CASTRO JR.; GREGIANIN; BRUNETTO, 2001; TECKLIN, 2002). Ao ser submetido a um TMO, o paciente deverá estar clinicamente estável, com a doença de base controlada ou em completa remissão, e será submetido a um sistema distinto de internação, 4 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 protocolo rígido de rotinas, além da previsão das reações e efeitos colaterais que são provocados pelo tratamento (MELLO; DULLEY, 2007; PONTES; GUIRARDELLO; CAMPOS, 2007). Conforme Mello e Dulley (2007, p. 1179): O TMO propriamente dito é o procedimento simples que se inicia com a colheita de células da crista ilíaca do doador em ambiente cirúrgico e segue com infusão venosa periférica do material colhido no receptor. Para que ocorra adequada pega no enxerto, são necessárias aproximadamente 2 a 4 x 108 células nucleadas por quilograma de peso do receptor. No processo de transplante podem ocorrer diversas complicações, como a falha ou rejeição do enxerto, pneumonias intersticiais, infecções, doença hepática veno-oclusiva, efeitos colaterais do tratamento com drogas, hemorragia alveolar difusa, obstrução crônica, bronquiolite obliterante com pneumonia organizada (TECKLIN, 2002; MANCUSO; REZENDE, 2009). A sobrevida dos pacientes transplantados depende de vários fatores como a doença de base, o tratamento anterior, o tempo de evolução, a faixa etária e o número de recidivas (CASTRO JR.; GREGIANIN; BRUNETTO, 2001). Ainda, no mesmo entendimento dos autores supracitados, o TMO não proporciona a todos os pacientes uma sobrevida normal, mas gera uma melhoria considerável no tratamento de doenças em que alternativas terapêuticas são restringidas. 5 FISIOTERAPIA APLICADA À ONCOLOGIA Conforme esclarece o INCA (BRASIL, 2009b), a fisioterapia aplicada à oncologia objetiva principalmente preservar, manter e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas do paciente oncológico, bem como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento da doença. Ainda, o referido instituto afirma que o profissional fisioterapeuta, que atua nessa área, precisa saber lidar com as seqüelas advindas do tratamento oncológico, atuando de forma preventiva para conseguir minimizá-las ao máximo. Os cuidados fisioterapêuticos não se restringem somente à fase do pós-tratamento, mas também às fases que precedem e que ocorrem tais procedimentos. Marim (2009, p. 1) acredita que em todos esses momentos “a principal meta da fisioterapia oncológica é mostrar ao paciente a necessidade de retomar as atividades diárias e oferecer a ele condições para isso”. Sendo que, conforme acrescenta Marcucci (2005, p. 69), “o benefício a ser buscado é preservar a vida e aliviar os sintomas, dando oportunidade, sempre que possível, para a independência funcional do paciente”. Ao se trabalhar com crianças e adolescentes com leucemia, é necessário que o fisioterapeuta, e toda a equipe de saúde, entendam o perfil desse grupo, as características e a evolução da doença oncológica para auxiliar na definição de suas condutas. No tratamento desses indivíduos, a paciência e a utilização de atividades lúdicas são essenciais para fortalecer o vínculo terapeuta-paciente, obtendo-se, assim, um resultado mais satisfatório na execução dos exercícios propostos, sempre lembrando as limitações do sujeito, sua dor, os momentos de indisposição, exames laboratoriais e de imagem (SARMENTO, 2007). A fisioterapia possui uma abrangência de técnicas que permitem alcançar benefícios tanto na sintomatologia quanto na qualidade de vida de seus pacientes, e entre as principais indicações da fisioterapia para pacientes com neoplasias estão: - Alívio e/ou controle da dor: a dor osteoarticular é um dos fatores mais limitantes e de sofrimento para os pacientes oncológicos. Os recursos eletroterapêuticos são meios muito utilizados para o controle e alívio da dor. A estimulação elétrica transcutânea (TENS), por exemplo, traz resultados rápidos, podendo diminuir de forma gradativa e significativa o uso de analgésicos pelos pacientes e de seus efeitos colaterais no organismo (LAMELAS; HAYASHI; SHIGUEMOTO, 2007; MARCUCCI, 2005). - Redução da sensação de fadiga: a fadiga é um sintoma comumente vivenciado pelos pacientes oncológicos, ocorrendo em 75 a 95% dos doentes – podendo chegar a 96% durante a quimioterapia ou radioterapia. É incapacitante e debilitante por comprometer significativamente as atividades diárias e ocasionar prejuízos à qualidade de vida. Apesar disso, Mota e Pimenta (2002) comentam que as intervenções efetivas para o tratamento da fadiga são escassas e pouco conhecidas. Conforme os autores, as intervenções para o manejo da fadiga devem compreender estratégias que visam manter ou aumentar os níveis de energia dos pacientes. Nelas se enquadram: 5 Promovendo Saúde na Contemporaneidade: desafios de pesquisa, ensino e extensão Santa Maria, RS, 08 a 11 de junho de 2010 a transfusão sanguínea para pacientes com anemia, o controle da glicemia, o repouso, uma alimentação adequada e a prática de exercícios físicos. Nesse último é que a fisioterapia desempenha a sua função. Programas de exercícios, que envolvam a realização de atividades físicas leves e do tipo aeróbica, auxiliam na otimização do gasto energético e, consequentemente, controlam a sensação de cansaço (MARCUCCI, 2005). - Combate à dispnéia: A dispnéia pode ser definida, conforme Eakin (1998) e Marcucci (2005), como uma sensação subjetiva e desconfortável de falta de ar. É um sintoma comum em pacientes oncológicos - ocorrendo em 45 a 70% dos pacientes com câncer avançado. De acordo com Costa (2004) a dispnéia “indica que o paciente não está conseguindo ventilar adequadamente seus pulmões, ou se está, não está oxigenando o sangue”. Decorre de “alterações no parênquima pulmonar ou redução da trauma vascular com aumento do espaço morto como resultado de quimioterapia, de excesso de secreção, descondicionamento físico, etc” (MARCUCCI, 2005, p. 73). Em pacientes com leucemia a dispnéia advém de causas extramedulares, como a anemia, e como consequência de adenomegalias mediastinais. Por isso é essencial o controle dos valores indicados nos exames laboratoriais como hemograma e leucograma. Segundo Marcucci (2005) os principais meios fisioterapêuticos para o manejo da dispnéia são: (1) exercícios de controle respiratório, que auxiliam o paciente na sintomatologia e evitam a ansiedade durante um ataque dispnéico; (2) orientações sobre gasto energético, para diminuir a demanda metabólica; (3) relaxamento, útil na diminuição dos aspectos emocionais que envolvem o surgimento da dispnéia e no alívio da tensão muscular gerada pelo esforço respiratório. Ainda, dentre os procedimentos fisioterapêuticos que podem ser empregados para pacientes oncológicos, Marin (2009) destaca a drenagem linfática manual, exercícios ativos/passivos e alongamentos. É importante ressaltar que os pacientes com alterações nos exames laboratoriais não devem ser manipulados. Nesses casos podem ser realizados exercícios de propriocepção e ajuda cinética diafragmática, manipulação escapular e de membros superiores, técnicas de equilíbrio toracoabdominal (RTA), objetivando o relaxamento e melhora na dinâmica respiratória (SARMENTO, 2007). Uma diretriz proposta pelo Children’s Hospital, em Boston, orienta os terapeutas a utilizar as manobras de vibração e percussão quando a contagem de plaquetas for maior que 50 mil, contagens entre 20 mil e 50 mil são indicados o uso de vibração e posicionamento para drenagem brônquica e a contagem abaixo de 20 mil é somente utilizado o posicionamento de drenagem brônquica (SARMENTO, 2007, p. 569). Normalmente os pacientes que apresentam essas alterações hematológicas são submetidos à transfusão de hemoderivados (hemácias, plaquetas, plasma, crioprecipitado), e nesse período as terapias são restritas em virtude das reações de sensibilização adversas, conforme destaca o autor supracitado. Para um prognóstico satisfatório é necessário um atendimento multidisciplinar e humanizado. A fisioterapia como parte dessa equipe, trata as crianças e adolescentes com leucemia não só nos cuidados hospitalares agudos, mas também na reabilitação, no ambulatório, nos cuidados em casa e na escola. Por isso, os fisioterapeutas devem estar informados sobre as peculiaridades da doença, o atual tratamento médico e os efeitos colaterais desse tratamento (TECKLIN, 2002; SARMENTO, 2007). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2008. BRASIL. 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