O cérebro no autismo Por Ana Caroline Amorim Dias – aluna bolsista MEC/SESu – PET De Ricardo Zorzetto, O cérebro no autismo, Revista Pesquisa Fapesp, pag. 1623, agosto 2011 Os distúrbios do autismo começaram a ser mais bem compreendidos apenas nos últimos anos, incluindo participação significativa de pesquisadores brasileiros. Trata-se de um problema de origem neuropsicológica que se manifesta na infância em maior ou menor grau, prejudicando por toda vida a capacidade de relacionamento. Os últimos levantamentos indicaram um aumento importante no número de casos, provavelmente em decorrência de estratégias mais abrangentes de diagnóstico e da maior vigilância dos profissionais da saúde. O maior e mais recente levantamento no Brasil indica que 0,3% das crianças possuem esse distúrbio, porém, dados relativos à educação e atenção dedicadas as mesmas são desconhecidos. É bem provável que os números obtidos, tanto no Brasil como fora, sejam subestimados. Isso porque mesmo em países com um sistema de saúde bem estruturado, muitos casos não chegam a ser conhecidos. O autista demanda um tratamento contínuo e dispendioso. De acordo com um cálculo feito nos EUA, se gasta 3,2 milhões para manter um autista ao longo da vida, o que inclui educação, despesas médicas e perda da produtividade no trabalho. No Brasil, as crianças identificadas deveriam ser encaminhadas para centros de atenção psicossocial infantil (CAPSi), porém, esses centros são mal distribuídos e as vezes não habilitados, o que leva ao atendimento em AMAs e APAEs. È necessário um levantamento amplo, pois se não há estudos, não há provas de que o problema existe, o que torna difícil a exigência de atendimento. O atendimento médico precoce e de qualidade é fundamental para influenciar a evolução da doença, tanto que se buscam estratégias para identificar com segurança o autismo já no primeiro ano de vida, pois quanto mais cedo se identificam os sinais, melhores as chances de intervir para tentar recuperar a capacidade da criança se relacionar e construir uma linguagem significativa. Quando os casos são confirmados (por volta dos três anos e no Brasil cinco), normalmente o cérebro já atravessou fases importantes de desenvolvimento. Desde a descoberta do autismo, por volta de 1940, não se sabia se as causas eram biológicas ou psíquicas. Muitos acreditavam que o autismo devia-se a criação das crianças por pais frios e distantes (teoria da mãe geladeira). Apenas em 1960 surgiram evidências de que alterações no sistema nervoso central estariam por trás do autismo. O sulco temporal superior, pequena área do lobo temporal, assim como o giro fusiforme, estão envolvidos no processamento de informações relevantes para a interação social, sendo que o funcionamento adequado dessas áreas permite conhecer a intenção e a disposição da pessoa com quem se interage. Nos autistas, identificou-se uma menor atividade no sulco temporal superior, ou seja, o cérebro não funciona normalmente. É consenso hoje que o autismo tem origem genética. Alterações em mais de 200 genes já foram associadas ao distúrbio. Do ponto de vista genético, cada paciente parece ter uma forma própria de autismo. As últimas descobertas despertam a esperança de que um dia seja possível descobrir um tratamento farmacológico para amenizar os traços do autismo ou até mesmo chegar-se à cura, já que se trata de um problema biológico.