Tratamento cirúrgico da espondilolistese degenerativa e ístmica da

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109
ARTIGO ORIGINAL/ORIGINAL ARTICLE
Tratamento cirúrgico da espondilolistese degenerativa e
ístmica da coluna lombar: avaliação clínica e radiológica
Surgical treatment of degenerative and isthmic lumbar spine
spondylolisthesis: clinical and radiographic evaluation
Marcos Antonio Tebet1
Wagner Pasqualini2
Marcio Penna de Carvalho3
Alexandre Ferracioli Fusão4
Eduardo Lavor Segura5
RESUMO
ABSTRACT
Objetivo: analisar os resultados clínicos e radiográficos de pacientes com diagnóstico de espondilolistese ístmica e degenerativa
submetidos à descompressão, artrodese e instrumentação por via
posterior com parafusos pediculares. Métodos: foram estudados
de forma prospectiva 50 pacientes, sendo 25 portadores de
espondilolistese degenerativa L4-L5 e 25 de espondilolistese
ístmica L5-S1, entre janeiro de 2001 e janeiro de 2004. A avaliação
clínica foi realizada por meio da aplicação pré e pós-operatória do
questionário funcional de dor lombar baixa de Oswestry e da Escala analógica visual de dor. A análise radiográfica consistiu na
mensuração pré e pós-operatória do ângulo de lordose lombar,
ângulo de inclinação sacral, ângulo lombo-sacro, ângulo de
escorregamento e porcentagem de escorregamento. Resultados:
foi observado índice do questionário de dor lombar de Oswestry
médio pré-operatório e pós-operatório de 50,74% e 17,96%
respectivamente.A angulação média da lordose pré-operatória foi
de 31,1graus e 28,1 graus após a cirurgia. A média da inclinação
sacra pré-operatória foi de 44,18 graus e pós-operatória de 42,02
graus. O ângulo de escorregamento médio pré-operatório foi de
24,33 graus e de 19,74 graus no pós-operatório. Conclusão: os
autores concluíram que o tratamento cirúrgico da espondilolistese
ístmica e degenerativa por via posterior com descompressão,
artrodese e instrumentação com parafusos pediculares leva à melhora clínica significativa mesmo sem redução radiográfica da listese.
Objective: To analyze the clinical and radiographic outcomes of
patients diagnosed as having isthmic and degenerative
spondylolisthesis and treated with decompression, arthrodesis and
instrumented posterior pedicle screw fixation. Methods: Fifty
patients were prospectively studied from January 2001 to January
2004, 25 of whom with L4-L5 degenerative spondylolisthesis and
25 with L5-S1 isthmic spondylolisthesis. Clinical evaluation was
carried out using pre and postoperative Oswestry Low Back Pain
Disability Questionnaire and visual analog scales for interpretation
of pain intensity. Radiographic analysis consisted in measuring
and comparing the lumbar lordosis angle, the sacral inclination
angle, the slipping angle and the slipping percentage before and
after operation. Results: Index of the questionnaire of lumbar pain
of Oswestry was observed medium preoperative and postoperative
of 50,74% and 17,96% respectively. The medium angulation of the
preoperative lordosis was of 31,1 degrees and 28,1 degrees after
the surgery. The average of the preoperative sacred inclination
was of 44,18 degrees and postoperative of 42,02 degrees. The
angle of medium slip preoperative it was of 24,33 degrees and of
19,74 degrees in the postoperative. Conclusion: that surgical
treatment of isthmic and degenerative spondylolisthesis by
decompression, arthrodesis and instrumented posterior pedicle
screw fixation provides significant clinical improvement even
without radiographic reduction in listhesis.
DESCRITORES: Espondilolistese; Avaliação da dor;
Resultado de tratamento; Fusão espinhal;
Coluna vertebral; Região lombar; Dor
lombar
KEYWORDS: Spondylolisthesis; Pain evaluation; Treatment
results; Spinal fusion; Vertebral spine; Lumbar
region; Lumbar pain
Trabalho realizado no Instituto da Coluna, Jundiaí, São Paulo (SP), Brasil.
1
Professor Adjunto da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo (SP), Brasil.
Professor Voluntário do Grupo de Cirurgia da Coluna da Faculdade de Medicina da UNICAMP - Campinas, São Paulo (SP), Brasil.
3
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo (SP), Brasil.
4
Residente do 3º ano do Instituto Jundiaiense de Ortopedia e Traumatologia - Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo (SP), Brasil.
5
Residente do 3º ano do Instituto Jundiaiense de Ortopedia e Traumatologia - Faculdade de Medicina de Jundiaí, São Paulo (SP), Brasil.
2
Recebido: 05/02/2005 - Aprovado: 07/01/2006
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(2):109-116
2006;5(1):13-18
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INTRODUÇÃO
A primeira descrição de espondilolistese foi creditada a
Herbinaux, um obstetra belga, em 1782, que notou uma proeminência óssea à frente do sacro que causava problemas no
parto. Este termo foi usado por Kilian em 1854 e é derivado do
grego spondylos (vértebra) e olisthesis (escorregamento).
Espondilolistese é definido como um deslocamento ou
escorregamento anterior ou posterior de uma vértebra sobre
outra1. O termo espondilolistese degenerativa foi descrito
por Newman em 1955, após ter observado um deslizamento
das vértebras com o arco neural intacto que era resultado da
degeneração das articulações facetárias lombares2.
Wiltse et al., em 1976, estabeleceram uma classificação amplamente utilizada, baseada na etiologia e compreendida em
cinco tipos3. Os tipos degenerativo e ístmico são as formas
mais comuns observadas neste sistema de classificação4.
Atualmente, o tratamento apropriado para a espondilolistese ístmica e degenerativa é controverso4. Na maioria das publicações a presença de déficit neurológico constitui a indicação
mais precisa para o tratamento cirúrgico que visa a descompressão
da raiz nervosa afetada5,6,7,8,9. A adição de instrumentação é
advogada por muitos cirurgiões nos casos em que está associada a estenose de canal, instabilidade segmentar (clínica ou radiológica) entre as vértebras, escorregamento acima de 50% e
correção de listese ou deformidades cifóticas10.
A instrumentação tem sido recomendada para aumentar
a estabilidade e, assim, favorecer a artrodese, diminuir o
tempo de reabilitação e promover o retorno mais rápido do
paciente para suas atividades diárias11.
Uma revisão da literatura mostra que não existe relação
direta entre o grau de escorregamento das vértebras e os
achados radiográficos pré-operatórios com o resultado clínico final após o tratamento cirúrgico12,13,14,15,16,17.
O objetivo deste estudo é avaliar os resultados clínicos
e radiográficos de pacientes com espondilolistese
degenerativa e ístmica submetidos à descompressão e
artrodese com instrumentação por via de acesso posterior.
MÉTODOS
Os critérios para inclusão neste estudo foram:
espondilolistese degenerativa entre a quarta e a quinta vértebra lombar e espondilolistese ístmica entre a quinta vértebra lombar e a primeira vértebra sacral; falha de tratamento
conservador por um período mínimo de seis meses; tratamento cirúrgico com artrodese associada à instrumentação
cirúrgica com parafusos pediculares por via de acesso posterior; tempo mínimo de um ano de seguimento radiográfico
pós-operatório; avaliação clínica pela Escala Analógica Visual de Dor (EAVD)18 e questionário funcional de dor lombar baixa de Oswestry19 pré e pós-operatório.
Os critérios de exclusão foram: anomalia congênita grave;
cifose congênita; osteoporose generalizada; espondilolistese
pós-traumática e espondilolistese patológica.
Foram avaliados, de forma prospectiva, 50 pacientes sendo 25 com espondilolistese degenerativa e 25 com
espondilolistese ístmica, submetidos à artrodese e
instrumentação cirúrgica por via posterior entre janeiro
COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18
2006;5(2):109-116
Tebet MA, Pasqualini W, Carvalho MP, Fusão AF, Segura EL
de 2001 e janeiro de 2004. A idade dos pacientes variou
entre 22 e 75 anos de idade, com média de 53,16 anos,
totalizando 26 pacientes (52%) do sexo masculino e 24 (48%)
do sexo feminino. Antes da cirurgia todos os pacientes informaram seu nível de dor utilizando a EAVD que varia de
zero (sem dor) a dez (dor forte) e responderam ao questionário de dor lombar baixa de Oswestry. A mesma avaliação foi
repetida na última consulta pós-operatória. A EAVD foi aplicada através de um modelo padrão, que consiste de uma linha
horizontal num total de dez centímetros, onde o paciente indica
o seu nível de dor, sendo que zero representa “ausência de
dor” e dez, “a pior dor imaginável”.
O questionário, respondido pelo paciente, é constituído
por dez questões que servem para avaliar as limitações das
várias atividades do cotidiano e fornecer um percentual do
seu nível de função. Os dados são interpretados de acordo,
com os escores obtidos, sendo: 0%-20%: incapacidade mínima (paciente consegue realizar a maioria das atividades
diárias); 20%-40%: incapacidade moderada (este grupo tem
mais dor e problemas ao sentar, levantar peso e ficar de pé);
40%-60%: incapacidade severa (a dor ainda é o principal
problema, porém viajar, cuidados pessoais, vida social, atividade sexual e o sono estão afetados); 60%-80%: incapacidade grave (a dor afeta todos os aspectos da vida do paciente tanto em casa quanto no trabalho); 80%-100%: restrito
ao leito ou exagerando os sintomas (podemos diferenciar
durante o exame clínico).
Todos os pacientes foram submetidos a estudo
radiográfico que incluía radiografias em ântero-posterior,
perfil e oblíqua esquerda e direita. As radiografias pré-operatória e pós-operatória foram analisadas para quantificar a
espondilolistese em ângulo de lordose lombar, ângulo lombo-sacro, ângulo de inclinação sacral, ângulo de
escorregamento e porcentagem de escorregamento.
Os pacientes foram posicionados em decúbito ventral com
coxins na região torácica e na altura das cristas ilíacas anteriores. A incisão foi realizada sobre o processo espinhoso da
vértebra proximal e distal ao nível de fusão com dissecação
cuidadosa e técnica hemostática. A descompressão do
forâmen neural acometido foi realizada removendo metade
da lâmina caudal e metade da lâmina cefálica, conjuntamente com facetectomia medial bilateral caudal e cefálica e
foraminectomia.Em todos os casos foi utilizada instrumentação
com parafusos pediculares retrógrados como descrito por
Weinstein et al. em 199212. Nos casos de espondilolistese
ístmica foi realizada a laminectomia. Foi utilizada a técnica descrita por Macnab e Dall, em 1971,21 e Wiltse et al., em 1998,22
para artrodese em um único nível entre os processos transversos. A tábua externa do ilíaco foi exposta por uma outra incisão
cirúrgica e foram removidos fragmentos de osso córtico-esponjoso da tábua externa e do osso esponjoso medular e foram
locadas ao longo do processo transverso entre L5 e S1 e sobre
as lâminas na artrodese entre L4 e L5. A decorticação das lâminas
e dos processos transversos foi realizada com o uso de broca de
decorticação de alta rotação antes da colocação do enxerto ósseo. A análise estatística aplicada foi pelo teste t student. O valor
P<0,05 foi considerado de significância estatística.
Tratamento cirúrgico da espondilolistese degenerativa e ístmica da coluna lombar: avaliação clínica e radiológica
111
RESULTADOS
Avaliação Clínica
O tempo de início de dor lombar foi de no mínimo um ano
e de no máximo 30 anos, com média de seis anos; o tempo
de início de irradiação da dor para os membros inferiores
foi de no mínimo um ano e no máximo 15 anos com média
de 2,5 anos nos pacientes com espondilolistese L4-L5.
Os pacientes com escorregamento vertebral L5-S1
apresentaram tempo de início da dor lombar com no
mínimo um ano e no máximo 15 anos, com média de sete
anos e irradiação da dor para os membros inferiores com
no mínimo um ano e no máximo 10 anos, com média de
três anos. Os escores calculados do questionário de dor
lombar baixa de Oswestry mostraram um índice médio pré
e pós-operatório de 50,74% e 17,96% respectivamente. A
Tabela 1 sumariza os dados obtidos referentes aos
pacientes com espondilolistese L4-L5 e a tabela 2 os
dados dos pacientes com espondilolistese L5-S1.
TABELA 1 - Idade, sexo, segmento anatômico de escorregamento, escores pré e pós-operatórios da
EAVD e Oswestry dos pacientes com espondilolistese L4-L5
Caso
Idade
Sexo
EVAD
Segmento
PRÉ
Escores Oswestry
PÓS
PRÉ
PÓS
1
64
F
L4-L5
8
1
60%
6%
2
59
F
L4-L5
10
8
38%
30%
3
62
M
L4-L5
7
3
46%
13,5%
0%
4
53
M
L4-L5
7
0
14%
5
63
F
L4-L5
6
3
62%
20%
6
67
M
L4-L5
6
0
44%
0%
7
27
M
L4-L5
4
1
10%
4%
32%
8
58
M
L4-L5
5
2
54%
9
75
F
L4-L5
10
0
66%
0%
10
48
M
L4-L5
10
0
80%
44%
11
52
F
L4-L5
9
2
42%
8%
40%
12
61
F
L4-L5
9
6
48%
13
62
F
L4-L5
6
1
49%
14
50
F
L4-L5
7
3
70%
15
36
F
L4-L5
6
2
40%
4%
22%
6,5%
29%
16
46
M
L4-L5
7
3
42%
17
54
M
L4-L5
10
0
76%
0%
18
50
M
L4-L5
6
1
50%
10%
19
43
M
L4-L5
3
1
14%
14%
48,5%
20
37
F
L4-L5
6
5
60%
21
51
M
L4-L5
10
1
48%
36%
22
57
F
L4-L5
10
5
56%
34%
23
64
M
L4-L5
10
1
60%
18%
12%
60%
24
43
F
L4-L5
10
0
70%
25
31
M
L4-L5
10
6
64%
Fonte: Idade em anos; M= masculino; F= feminino; Segmento= segmento anatômico de escorregamento; EAVD= escala analógica visual de dor; PRÉ= préoperatório; POS= pós-operatório
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
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Tebet MA, Pasqualini W, Carvalho MP, Fusão AF, Segura EL
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TABELA 2 - Idade, sexo, segmento anatômico de escorregamento, escores pré e pós-operatórios da
EAVD e Oswestry dos pacientes com espondilolistese L5-S1
Caso
Idade
Sexo
EAVD
Segmento
PRÉ
Escores Oswestry
PÓS
PRÉ
PÓS
1
46
F
L5-S1
5
7
28%
40%
2
54
M
L5-S1
6
6
36%
36%
3
49
M
L5-S1
7
5
36%
26,5%
4
43
M
L5-S1
8
3
40%
28%
5
22
M
L5-S1
7
0
22%
6%
6
62
M
L5-S1
10
0
72%
0%
7
55
F
L5-S1
5
2
36%
24%
8
34
F
L5-S1
7
3
48%
18%
9
31
M
L5-S1
4
0
32%
0%
10
47
M
L5-S1
8
5
44%
24%
11
54
F
L5-S1
7
1
62%
22%
12
71
F
L5-S1
6
1
54%
10%
13
57
F
L5-S1
8
0
76%
0%
14
55
F
L5-S1
5
4
50%
40%
15
54
M
L5-S1
9
0
40%
16%
16
51
F
L5-S1
10
0
48%
0%
17
55
M
L5-S1
8
0
44%
0%
18
67
F
L5-S1
7
3
76%
36%
19
65
M
L5-S1
7
1
72%
2%
20
71
F
L5-S1
8
0
64%
6%
21
69
M
L5-S1
8
0
78%
0%
22
65
M
L5-S1
3
0
32%
0%
23
61
F
L5-S1
10
0
92%
4%
24
52
M
L5-S1
7
6
52%
50%
25
55
F
L5-S1
5
0
40%
18%
Idade em anos, M: masculino, F: feminino, Segmento: segmento anatômico de escorregamento, EAVD: escala analógica visual de dor, PRÉ: pré-operatório,
POS: pós-operatório. Age, in years, M: male, F: female, Segment: slipped anatomical segment, VAS: visual analogic scale, PRE: preoperative, POS:
postoperative.
AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA
ANÁLISE ESTATÍSTICA
As angulações médias de lordose pré-operatórias foram de 41,04º,
e pós -operatórias de 37,14º. Quanto ao ângulo lombossacro a
média antes da cirurgia foi de 31,1º e 28,1º após a cirurgia. A média
de inclinação sacra pré-operatória foi de 44,18º e pós-operatória
de 42,02º. Em relação ao ângulo de escorregamento, encontramos uma média de 24,33º nas radiografias pré-operatórias e média de 19,74º pós-operatoriamente. Por fim, as medidas mostraram média de 23,32% de escorregamento pré-operatório e 21,90%
de escorregamento pós-operatório. A Tabela 3 apresenta os dados radiográficos obtidos referentes aos pacientes com
espondilolistese L4-L5, e a Tabela 4, os dados dos pacientes
com espondilolistese L5-S1.
Os resultados da análise estatística do t test, mostraram
melhora significativa (P <0,05) dos escores pós operatórios. Os Gráficos 1 e 2 apresentam os resultados obtidos.
Houve dois casos (4%) de falha do instrumental, sendo submetidos a nova intervenção em média nove meses após a cirurgia inicial. Outros dois pacientes (4%)
evoluíram com infecção pós-operatória superficial, que
foram tratados com debridamento e antibioticoterapia
endovenosa apropriada. Nenhum paciente teve novo
quadro de radiculopatia, estenose ou progressão da
listese inicial.
COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18
2006;5(2):109-116
Tratamento cirúrgico da espondilolistese degenerativa e ístmica da coluna lombar: avaliação clínica e radiológica
DISCUSSÃO
O tratamento cirúrgico da espondilolistese sintomática envolve a descompressão dos forames de conjugação associada ou
não à laminectomia combinada com artrodese. Os benefícios
da artrodese com ou sem instrumentação cirúrgica permanecem controversos.
Yuan et al.8 em 1994 publicaram um trabalho tipo coorte com
seguimento de 2.684 pacientes portadores de espondilolistese
degenerativa, sendo que 81% foram tratados com fixação com
parafusos pediculados. Eles observaram um maior índice e uma
diminuição no tempo de consolidação (89,1% vs 70,4%) no
grupo com instrumentação e, também, melhor alinhamento do
balanço sagital lombar. O grupo com instrumentação comparado com o grupo sem instrumentação apresentou uma considerável melhora funcional e neurológica. Richtene et al.23 em 1996
realizaram um estudo prospectivo e concluiu que a possibilidade de consolidação da artrodese é três vezes maior nos pacientes submetidos à instrumentação. Fischgrund et al.24 em 1997,
falharam em demonstrar as vantagens da instrumentação com
a adição de parafusos pediculares.
Nesta série realizamos o procedimento cirúrgico com
instrumentação em todos os casos, pois a descompressão
neural associada a artrodese sem instrumentação tem um risco
potencial de progressão da listese, o qual está associado a um
maior estreitamento do espaço do disco, conseqüente estenose
foraminal progressiva, e uma cifose progressiva, levando a um
aplanamento da coluna lombar, o que resulta num comprometimento do balanço sagital lombar. Isto reforça a importância
da prevenção da progressão da listese e a manutenção da
lordose no pós-operatório da espondilolistese. Em nosso estudo observamos a manutenção dos ângulos no pré e pósoperatório. Ângulo de lordose lombar (41,04º - 37,14º), ângulo
lombossacro (31,1º – 29,1º) inclinação sacral (44,18º – 42,02º). A
pouca variação destes ângulos permitiu a manutenção do alinhamento sagital.
Kawakami et al.25 em 2002 estudaram o efeito da redução da listese e a restauração do balanço sagital, e
enfatizaram a necessidade de instrumentação para redução
da listese e restauração do balanço sagital, o que melhorava
o resultado clínico e funcional. Em contrapartida,
Montgomery e Fischgrund26 em 1994 salientam que a redução da listese exige um nível extra de fusão e que a redução
aumenta os riscos de complicações. Não optamos pela redução da listese que apresentava 23,32% de escorregamento
no pré–operatório e 21,9% de escorregamento no pós-operatório. Acreditamos que esta leve melhora ocorreu devido
ao posicionamento na mesa operatória25.
Existem diversos métodos para avaliação clínica funcional e não há uniformidade entre eles. Alguns são de difícil
aplicação e interpretação por serem questionários bastante
complexos e longos, outros são desenvolvidos pelos próprios autores como os apresentados por Kim et al.27 em 1990
e Zuchermann et al.28 em 1992, e depois não mais reproduzidos por outros autores.
Optamos pela associação da escala analógica visual de dor
e do questionário de incapacidade de Oswestry. Consideramos a EAVD como um método simples de avaliação da dor na
113
literatura18. O questionário de Oswestry é destinado a avaliar
pacientes com dor na coluna lombar baixa, o que torna este
questionário objetivo para ser aplicado em casos de
espondilolistese lombar, e que nos permite medir a porcentagem de alívio da dor.
Verificamos uma melhora clinicamente significativa nos
pacientes quando avaliados pelo EAVD e Oswestry. A média
de nossos pacientes apresentava incapacidade severa (40% a
60%) no pré-operatório e evoluíram para incapacidade mínima
(0 a 20%) no pós-operatório. Nossos pacientes puderam verificar qualitativamente a melhora da dor, pois realizamos um
estudo prospectivo, diminuindo as variações de avaliação
verificadas em estudos retrospectivos que acrescentam viés
como: a definição da dor pré-operatória, fatores como mudança em hábitos de vida e situação da dor real por ocasião da
primeira consulta.
Sintomas neurológicos com dor irradiada para o membro
inferior foram observados em 30 pacientes. Os demais apresentavam dor lombar com ou sem irradiação para nádegas remissiva ao tratamento clínico. Consideramos que este critério
clínico de inclusão foi determinante na obtenção de bons resultados, uma vez que os pacientes encontravam-se em situação incapacitante como comprovado pela avaliação pré-operatória através do questionário de Oswestry e da escala
analógica visual de dor.
No Grupo I avaliamos os pacientes com espondilolistese
degenerativa entre L4 e L5 e no Grupo II avaliamos pacientes
com espondilolistese do tipo ístmico. Observamos que houve
benefício clínico com o tratamento de descompressão e
artrodese associada à instrumentação cirúrgica na maioria dos
pacientes, exceto em um paciente que mostrou piora no pósoperatório e outros dois que permaneceram em situação clínica
inalterada.
As complicações mais comumente encontradas na literatura são quebra de implantes, soltura do instrumental, proeminência sintomática do implante, recidiva dos sintomas, lesão
neurológica e infecção, variando de 2 a 50%, conforme diferentes autores29. A taxa de complicação em nosso estudo foi de
8%, sendo 4% de falha do implante e 4% de infecção no sítio
cirúrgico.
Nos pacientes que apresentaram falha do implante observou-se a existência de não união associada, e foram submetidos à nova intervenção cirúrgica em média nove meses após a
cirurgia inicial. Os casos de infecção foram superficiais e tratados de forma convencional com debridamento cirúrgico e
antibioticoterapia apropriada.
Um caso do Grupo II mostrou piora no pós-operatório
sem regressão do quadro neurológico; e também apresentou infecção, o que consideramos ter sido fator de piora no
prognóstico.
CONCLUSÃO
Concluímos que o tratamento cirúrgico da espondilolistese
ístmica e degenerativa por via de acesso posterior com
descompressão, artrodese e instrumentação com parafusos
pediculares leva a melhora clínica significativa mesmo sem redução radiográfica da listese.
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(2):109-116
2006;5(1):13-18
Tebet MA, Pasqualini W, Carvalho MP, Fusão AF, Segura EL
114
TABELA 3 - Medidas radiográficas pré e pós-operatórias dos ângulos de lordose lombar, ângulo
lombossacro, ângulo de inclinação sacral, ângulo de escorregamento e porcentagem de
escorregamento dos pacientes com espondilolistese L4-L5
Caso
Segmento
Lordose
Ang L.S.
Ang I.S.
Ang Esc
% Esc
PRÉ
PÓS
PRE
PÓS
PRÉ
PRÉ
PÓS
PRÉ
PÓS
PRÉ
1
L4-L5
32
30
27
20
49
49
17
15
12
12
2
L4-L5
25
21
30
12
47
50
12
12
20
12
3
L4-L5
41
36
17
15
60
57
15
13
17
15
4
L4-L5
46
40
22
15
45
41
46
47
19
19
5
L4-L5
40
38
20
20
38
35
20
20
30
30
6
L4-L5
27
25
48
45
43
40
14
10
9
9
7
L4-L5
42
40
27
27
45
42
9
9
10
10
8
L4-L5
43
32
50
43
53
45
23
20
22
20
9
L4-L5
35
31
25
21
50
44
15
12
20
18
10
L4-L5
43
39
29
28
50
47
10
8
12
12
11
L4-L5
68
52
43
39
47
42
50
35
50
50
12
L4-L5
46
40
17
17
30
31
39
23
27
26
13
L4-L5
42
31
49
42
51
47
20
19
25
22
14
L4-L5
40
39
22
21
40
37
18
15
26
24
15
L4-L5
43
30
50
48
30
30
16
14
25
25
16
L4-L5
42
40
29
29
34
33
15
11
22
20
17
L4-L5
52
39
38
27
52
49
20
16
22
22
18
L4-L5
49
39
39
26
53
48
20
20
16
13
19
L4-L5
38
42
24
23
36
32
40
30
32
32
20
L4-L5
30
29
48
42
39
40
18
13
19
16
21
L4-L5
33
30
20
20
41
38
25
22
25
23
22
L4-L5
32
30
30
29
64
63
23
20
17
17
23
L4-L5
41
40
36
35
50
48
25
19
18
15
24
L4-L5
55
36
40
15
54
47
20
14
25
25
25
L4-L5
45
40
30
28
30
30
23
20
21
20
Segmento= segmento anatômico de escorregamento; Lordose= ângulo de lordose lombar; Ang.L.S= ângulo lombossacro; Ang. I.S= ângulo de inclinação sacral; Ang
ESC= ângulo de escorregamento; %ESC= porcentagem de escorregamento; PRÉ= pré- operatório, POS: pós- operatório
COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18
2006;5(2):109-116
Tratamento cirúrgico da espondilolistese degenerativa e ístmica da coluna lombar: avaliação clínica e radiológica
115
TABELA 4 - Medidas radiográficas pré e pós-operatórias dos ângulos de lordose lombar, ângulo
lombossacro, ângulo de inclinação sacral, ângulo de escorregamento e porcentagem de
escorregamento dos pacientes com espondilolistese L5-S1
Caso Segmento
Lordose
PRÉ
Ang L.S.
Ang I.S.
Ang Esc
% Esc
PÓS
PRÉ
PÓS
PRÉ
PÓS
PRÉ
PÓS
PRÉ
PÓS
1
L5-S1
44
38
14
14
33
34
38
20
29
29
2
L5-S1
35
32
30
27
40
40
40
32
36
36
3
L5-S1
68
68
18
15
50
50
53
30
22
8
4
L5-S1
70
50
45
40
50
45
60
45
70
70
5
L5-S1
31
30
18
22
50
45
22
14
18
17
6
L5-S1
55
53
31
31
50
48
37
33
20
20
7
L5-S1
32
31
30
27
50
45
17
16
21
20
8
L5-S1
65
65
52
54
52
56
9
8
53
53
9
L5-S1
52
50
30
26
47
43
30
26
13
10
10
L5-S1
25
30
30
30
50
50
15
20
33
23
11
L5-S1
29
27
45
43
39
36
16
12
10
10
12
L5-S1
29
27
20
21
47
43
20
16
19
19
13
L5-S1
25
29
28
27
49
47
20
20
30
26
14
L5-S1
28
26
49
43
41
40
17
12
20
20
15
L5-S1
45
39
19
17
43
40
21
14
26
26
16
L5-S1
26
27
24
28
30
32
20
19
10
10
17
L5-S1
43
37
15
15
35
32
36
24
26
26
18
L5-S1
51
50
29
26
46
45
31
27
15
14
19
L5-S1
27
27
28
24
32
31
21
19
12
12
20
L5-S1
36
31
21
20
40
39
27
22
23
23
21
L5-S1
31
31
23
25
36
36
19
14
22
20
22
L5-S1
27
28
25
26
29
24
20
16
11
10
23
L5-S1
38
35
27
27
42
39
35
29
18
18
24
L5-S1
60
59
52
50
49
50
22
24
52
52
25
L5-S1
50
50
42
40
48
46
20
18
16
16
Segmento= segmento anatômico de escorregamento; Lordose= ângulo de lordose lombar; Ang.L.S= ângulo lombossacro; Ang. I.S= ângulo de inclinação sacral; Ang
ESC= ângulo de escorregamento; %ESC=porcentagem de escorregamento; PRÉ= pré- operatório; POS= pós-operatório
Gráfico 1 - Escores Oswestry pacientes
Gráfico 2 - Escores Oswestry pacientes
espondilolistese L4-L5
espondilolistese L5-S1
PRÉ=pré-operatório; POS=pós-operatório
PRÉ=pré-operatório; POS=pós-operatório
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(2):109-116
2006;5(1):13-18
Tebet MA, Pasqualini W, Carvalho MP, Fusão AF, Segura EL
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Correspondência
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