TRATAMENTO DE COPRODISCITE POR FÍSTULA TARDIA PÓS-OPERATÓRIA: RELATO DE CASO Guilherme de Araújo Gomesa, Mauro Silva Filhoa, Renan Correia Arcanjoa, Ricardo Fiad Bioloa, William Marasini de Rezendea. a Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, Brasil. INTRODUÇÃO Fístulas consistem em comunicações anômalas entre duas superfícies epitelizadas, muitas vezes de difícil tratamento. As fístulas internas representam um desafio diagnóstico e terapêutico, pois tem curso clínico indolente, sendo geralmente suspeitadas pela história de abscessos de repetição, e diagnosticado por estudos de imagens contrastados. Casos descritos na literatura apontam melhores resultados para a abordagem multidisciplinar, incluindo suporte clínico, abordagens cirúrgicas e mais recentemente incorporando o tratamento percutâneo radiointervencionista. OBJETIVOS Descrever um caso raro de fístula retodiscal pós-operatoria, com discite lombar e abscessos pélvicos retroperitonIais de repetição, abordada de forma multidisciplinar, discutindo os desafios diagnósticos e terapêuticos. DELINEAMENTO E MÉTODOS Informações obtidas através da revisão de prontuários médicos, entrevista com o paciente e pesquisa bibliográfica em referências como PubMed e The New England Journal of Medicine. RELATO DE CASO Paciente do sexo masculino, 43 anos, deu entrada no Pronto Atendimento com queixa de dor lombar e febre. Relatava história de acidente automobilístico há 8 anos com trauma pélvico, havendo fraturas complexas em coluna lombossacra e lesões enterais. Realizou nesta ocasião redução das fraturas e enterorrafias. Nos últimos 5 anos deu entrada diversas vezes no Pronto Socorro com quadros de abscessos pélvicos de origem desconhecida, fazendo múltiplas drenagens cirúrgicas abertas dos mesmos. RELATO DE CASO Tomografia de abdome superior e pelve da atual internação (figura 1) identificando abscessos no músculo psoas direito, estendendo-se para o retroperitônIo adjacente, e alterações morfoestruturares na coluna lombossacra comprometendo os níveis de L4, L5 e S1, relacionados ao trauma e cirurgias pregressas. Destaca-se, também, trajeto fistuloso comunicando o disco intervertebral de L5-S1 com a parede posterior da transição do reto-sigmóise, em íntima relação com as coleções retroperitonIais à direita. Realizado antibioticoterapia com Vancomicina e Metronidazol e drenagem percutânea das coleções retroperitoniais à direita, guiada por estudo ultrassonográfico, com implante de dreno pig tail 12 F e aspiração de 120ml de secreção purulenta (estafilococo áureos e klesbiella sp.). Ressonância Magnética (figura 2) caracterizou melhor o trajeto fistuloso entre o disco intervertebral de L5-S1 e a parede posterior reto-sigmoide. Em discussão multidisciplinar, foi optado por abordagem combinada (clinica-cirúrgica-radiointervencionista), que consistiu em colostomia protetora e punção percutânea do disco intervertebral de L5-S1 com agulha 18G, guiado por tomografia computadorizada, com aspiração de 4 ml de secreção purulenta e lavagem com 5 ml de água destilada. Realizado também enema opaco diagnóstico em sala de hemodinâmica para tentativa de fistulografia. Durante o enema opaco transretal, não foi evidenciado extravasamento fistuloso do meio de contraste iodado. Foi realizado, então, cateterismo direto do trajeto fistuloso na parede posterior do reto-sigmóide, por meio de um cateter Simons 1 5F, também por acesso transretal. A fístula foi cateterizada e a fistulografia pelo cateter (figura 3) caracterizou bem a comunicação entre o reto-sigmóide. Realizado embolização desta fístula com solução contendo 1 ml de n-butil-cianoacrilato e 2 ml de lipiodol. O paciente permaneceu com a colostomia protetora por 4 meses. RESULTADOS O paciente apresentou melhora clínica. Tomografia computadorizada 4 meses após o tratamento cirúrgico/radiointervencionista (figura 4), demonstrando resolução completa das coleções permanecendo material embólica hiperdensa ocluindo a coleção discal e o trajeto fistuloso. DISCUSSÃO Fístulas enterodiscais são muito raras. Em revisão de literatura, foram encontrados apenas dois casos relatados, sendo uma etiologia póscomplicações relacionadas a doença inflamatória intestinal e a outra pós ressecção cirúrgica de câncer de cólon. Ambos os artigos abordavam apenas os aspectos diagnósticos, sem referências a abordagem terapêutica. A ressonância magnética também foi o melhor método a diagnosticar a fístula caracterizando bem aspectos anatômicos, que encorajaram a tentativa de sua cateterização direta e embolização. Tanto no estudo tomográfico contrastado, quanto no enema opaco, não houve opacificação da fistula, sendo importante a tentativa de cateterização seletiva com cateter. Consideramos que a colostomia proximal paliativa foi de extrema importância, evitando assim a necessidade da nutrição parenteral. CONCLUSÃO Fístula enterodiscal consiste em uma comorbidade rara, geralmente decorrente de eventos pós traumáticos/cirúrgicos. O diagnóstico deve ser suspeitado em caso de discite de repetição associado frequentemente a abscessos retroperitoneais pélviso. A ressonância magnética tem se mostrado ser o melhor método diagnóstico por imagem. O tratamento multidisciplinar é de extrema importância e o cateterismo seletivo da fístula por acesso transretal com embolização do trajeto se mostrou factível no presente caso, encorajando outras tentativas. REFERÊNCIAS 1. Journal of the American College of Surgeons 190, 588-592 2. J Vasc Interv Radiol. 1993 Jul-Aug;4(4):525-7; discussion 527-9. 3. Brady, Adrian P., et al. "Fibrin sealant in interventional radiology: a preliminary evaluation." Radiology 196.2 (1995): 573-578. 4. Murakami, Masahiro, et al. "Fibrin glue injection method with diluted thrombin for refractory postoperative digestive fistula." The American Journal of Surgery 198.5 (2009): 715719. 5. Heidemann, Jan, et al. "Case report: magnetic resonance imaging in the diagnosis of epidural abscess complicating perirectal fistulizing Crohn's disease." Inflammatory bowel diseases 9.2 (2003): 122-124. 6. Caroline Rey-Jouvina, Jérémie Sellama, Najim Chafaib, Lassaad Yazidc, Anne Miqueld, Francis Berenbauma; Clinical image: Spondylodiscitis due to a fistula between L5-S1 disc and colon. Joint Bone Spine 80 (2013) 100–101 CONTATO: [email protected]