Prefácio à Segunda Edição Qual a relação entre a economia ecológica e a economia dos recursos naturais e a economia ambiental? A diferença é que as últimas são sub-áreas da economia neoclássica que não consideram a escala macro relativa à biosfera que as abriga como uma questão relevante: não tem nenhum conceito de throughput,1 e se focalizam na eficiência da alocação. A economia dos recursos naturais trata da eficiência da alocação do trabalho e do capital dedicados às indústrias extrativas. Desenvolve muitos conceitos úteis tais como renda de escassez e custo de uso. Do mesmo modo, a economia ambiental também enfoca a eficiência alocativa, desequilibrada por externalidades oriundas da poluição. Os conceitos de internalização de externalidades por impostos Pigouvianos ou direitos de propriedade Coaseanos são certamente úteis e relevantes para a formulação de políticas, mas seu alvo é a eficiência alocativa, por intermédio dos preços “corretos” e não por meio de uma escala sustentável. A Economia Ecológica se conecta à economia dos recursos naturais e à economia ambiental, unindo a depleção com a poluição pelo conceito do throughput. Também dá muito mais atenção aos impactos provocados por atividades econômicas que causam a depleção, a poluição e a degradação entrópica, bem como aos feedbacks do resto do ecossistema. Não negligencia o problema tradicional de alocação eficiente, mas o considera dentro dos contextos maiores da escala sustentável e da distribuição justa. Devido ao fato de que o crescimento nos empurra de um mundo vazio para um mundo cheio, o fator limitante da produção se transformará cada vez mais no capital natural, capital que não é elaborado pelo homem. Por exemplo, a captura dos peixes é hoje limitada já não mais pelo capital investido em barcos de pesca, mas pelo capital natural complementar de populações dos peixes no mar. Enquanto nós nos embrenhamos num mundo cheio, a lógica econômica permanece a mesma, a saber, economizar e investir no fator limitante. Mas a identidade do fator limitante transforma de capital fabricado para capital natural remanescente, e nossos esforços e políticas para economizar devem mudar no mesmo sentido. Conseqüentemente, torna-se mais Não há um termo preciso em português para esta palavra, mas ela pode ser traduzida como “transumo”, entendido como o fluxo metabólico de matéria e energia que entra e que sai da economia para o ecossistema (M.A.R.). 1 importante estudar a natureza dos bens e serviços ambientais – sejam rival ou não-rival, exclusível ou não-exclusível – a fim de saber se são bens do mercado ou bens de propriedade comum. A Economia Ecológica aceita a análise padrão da eficiência alocativa, dada a prévia escolha social das questões de distribuição e da escala. Embora a diferença principal seja o foco na escala, essa diferença tem envolvido mais atenção às frequentemente negligenciadas dimensões de distribuição: a saber, distribuição intergeneracional da base de recursos, e a distribuição dos lugares no sol entre seres humanos e todas as espécies restantes (biodiversidade). Também, enquanto recursos mais vitais terminam de ser bens de livre acesso, e são alocados pelo mercado, a justiça distributiva subjacente à alocação do mercado se torna mais crítica. Outros aspectos do debate referem-se: à polêmica de o capital natural e o fabricado serem principalmente substitutos ou complementares; o grau de acoplamento entre o throughput físico e o PIB; e o grau de acoplamento entre o PIB e o bem-estar. Comparado à Ásia, à Europa, e mesmo aos EUA, o Brasil pode ser considerado relativamente vazio e, conseqüentemente, ainda não estar necessitando de um direcionamento para uma “economia do mundo cheio”. No entanto, os artigos deste livro apresentam evidências que isso não é tão verdadeiro como se poderia imaginar. O Brasil está enchendo-se rapidamente em conseqüência de seu próprio crescimento interno, assim como pelas demandas sobre seus recursos naturais e seus ecossistemas, impostos pela economia do resto do mundo globalizado. O momento para o Brasil se preocupar com a conservação e o uso sábio de seu patrimônio ecológico é agora, antes que tudo esteja esgotado, poluído, e degradado pelo vício do crescimento a qualquer preço, desrespeitando os seus custos e comprometendo a integridade das gerações futuras. --Herman E. Daly, Washington, D.C., março de 2009 (tradução P. May; revisão M.A. Rodrigues)