O uso da Eletroestimulação Neuromuscular para potencialização do alongamento muscular Mylena Valdete da Silva1 Fabíola Ávila Búrigo2 RESUMO A flexibilidade representa um componente da aptidão física, sendo importante para a execução tanto de movimentos simples quanto para o desempenho desportivo, além de ser um componente fundamental para a promoção da saúde. Existem diversas modalidades de alongamento. Baseado nos princípios da técnica de contração-relaxamento da FNP, onde uma contração isométrica antes da manobra de alongamento passivo, promove ganhos maiores de amplitude de movimento, surgiu a hipótese de que o uso da eletroestimulação neuromuscular (NMES) potencializaria o alongamento muscular, já que a NMES é um recurso terapêutico capaz de promover níveis mais profundos de contração muscular. O experimento foi aplicado no grupo muscular isquiotibial de 15 mulheres jovens, não-atletas, sem alterações neuromusculares. Sendo realizado no membro direito o alongamento com a NMES e, no membro esquerdo, apenas o alongamento passivo. Primeiramente, comparouse as ADMs das articulações do quadril, joelho e tornozelo, antes e depois do experimento. Em seguida, foi comparada a eficácia das técnicas aplicadas. Concluiu-se que o uso de ambas as técnicas promovem aumento da ADM articular. Contudo, não houve diferença estatisticamente significativa entre as técnicas aplicadas para promover o alongamento muscular. 1 2 Autora. Acadêmica Orientadora. Especialista ABSTRACT The flexibility represents a componente of physical ability, it’s been importante for the execution as simple moviment as for the sportive performance, de one essential componente forthe health promotion. There are several modality of lengthening. Based on beginning of techinics of contraction-relaxing of PNF, were a isometric contractin, before of maneuver of passive lengthening, promote increase bigger of ampleness movement, emerged the hypothesis of what the use of the neuromuscular eletroestimulation (NMES) could strengthen the muscular lengthening, once what the NMES is one therapeutic recourse able to promote levels more deep of muscular contraction. The experimente was applied one muscular isquiotibial group of fifhteen yong women, non-athlete, withount neuromuscular alterations. It’s been realized, on right member, the lengthening with onde NMES and, on left member, only the passive lengthening. Firtly, was compared the ADM’s of the articulation of hip, knees and ankle, before and aftes of the experiment. Next, was compared the efficaz of technics applied. The use of both techinics promoted significative levels increase of ADM. INTRODUÇÃO Limitações na ADM articular são adaptações orgânicas comumente encontradas nos dias atuais. O ritmo de vida sedentário e ao mesmo tempo agitado, limita a prática de atividades físicas para promoção/manutenção da saúde. Alter (1998) afirma que a aplicação de técnicas de alongamento restaura a ADM quando esta é limitada pela perda de extensibilidade do tecido mole. Na literatura existem poucas indicações do uso da NMES para a promoção do alongamento muscular. Baseado na fisiologia muscular e nos efeitos fisiológicos da NMES, hipotetizou-se que este potencializaria o alongamento muscular. Objetivou-se a analise dos efeitos do uso da NMES na extensibilidade muscular. Associando-o ao alongamento convencional (passivo), a fim de verificar se o seu uso potencializa os efeitos desta manobra terapêutica. E, posteriormente, a identificação do recurso mais eficaz para a promoção de alongamento muscular. MATERIAIS E MÉTODOS Primeiramente , realizou-se a avaliação dos ângulos a serem analisados (T1). Em seguida, a aplicação do experimento em 6 sessões, com a frequência de 3x semanais por duas semanas consecutivas. Posteriormente, realizou-se a reavaliação igualmente a a avaliação, com intervalo entre 24 e 72hs pós evento. • Foi escolhido o grupo muscular isquiotibial por suas características fisiológicas, além da facilidade de trabalhá-lo isoladamente. • No MIE realizou-se apenas o alongamento passivo. Mantendo a posição por 30’ e repetindo por 3x. Já no MID. Esta técnica de alongamento foi escolhida para a comparação do experimento por ser uma técnica muito conhecida e utilizada, além de seus efeitos terem sido comprovados cientificamente por inúmeras vezes. Em DD; com o quadril a ser alongado em flexão e o outro em extensão; aplicou-se, através da mão do terapeuta sobre a face plantar do pé, um força a fim de provocar a extensão do joelho, tanto quanto o músculo permitisse. A outra mão foi posicionada na região ântero-superior da patela, estabilizando a coxa. A flexão do quadril além de 90° foi realizada somente quando a articulação do joelho atingisse a sua extensão total. Baseado nas convenções utilizadas na antropometria, escolheu-se o membro direito para a aplicação do experimento. Os parâmetros utilizados para a aplicação da NMES foram: Frequência média de 2500Hz; Duração de fase de 50%; Frequência de modulação para 30Hz; Intensidade conforme a tolerância de cada voluntária. Cada ciclo de contração – alongamento foi composto por 9 segundos de contração e 21 de repouso. Sendo o alongamento aplicado durante a fase de repouso do aparelho. Realizou-se 3 ciclos. Foram colocados 2 eletrodos em cada lado, paralelamente ao ventre muscular. Respeitando a técnica bipolar citada por Kitchen apud Clayton (1998). Baseado nos princípios de aquecimento e resfriamento, aplicou-se somente a NMES por 1’’ antes e depois do experimento. A pesquisa baseou-se nas bases neurofisiológicas da FNP, mais precisamente na técnica de contração-relaxamento. Segundo McAtee (1998), um músculo está neurologicamente relaxado e, portanto, mais facilmente alongado após uma contração isométrica máxima. RESULTADOS A aplicação do experimento visou o aumento da extensão do joelho, mantendo e/ou aumentando a flexão do quadril e a dorsiflexão do tornozelo. O controle das articulações do tornozelo e quadril. Foi realizado. Contudo estas também são passíveis de modificação, já que são variáveis dependentes da aplicação do experimento. Através deste estudo constatou-se que ambas as técnicas promovem alterações na extensibilidade muscular.Contudo, não se observou diferenças significativas entre os efeitos das mesmas no que diz respeito a aumento de ADM. Refutando a hipótese de que a NMES potencializaria o alongamento muscular.Através de relatos e observações no decorrer da pesquisa, observou-se uma preferência das voluntárias pelo uso da NMES. Deixando assim, uma abertura à novas pesquisas a respeito dos efeitos da NMES na flexibilidade muscular. Resultados do MID (NMES + alongamento) Neste membro, foi aplicado a técnica de alongamento passivo, precedido de contração isométrica induzida eletricamente (alongamento + NMES). Segundo McAtee (1998, p. 7), a técnica de alongamento “contração-relaxamento” baseada nos princípios da FNP é indicada para o aumento da amplitude de movimento quando esta está dentro da normalidade e os movimentos são indolores. Esta técnica consiste de um alongamento passivo precedido por uma contração isométrica. De acordo com Kisner; Colby (1999), esta contração promove uma inibição do reflexo de alongamento, proporcionando relaxamento ao músculo, facilitando, assim, a manobra de alongamento. A NMES promove contração isométrica do músculo onde é aplicado. Todavia, esta atinge níveis muito mais profundos que a contração voluntária máxima. Gráfico 1: Ângulos do quadril, joelho e tornozelo antes e depois da aplicação do alongamento + NMES. ÂNGULOS OBSERVADOS NO MENBRO INFERIOR DIREITO EM DUAS SITUAÇÕES DISTINTAS 200 180 160 140 120 100 80 60 QUA1 JO1 TOR1 QUA2 JO2 TOR2 Min-Max 25%-75% Median value O gráfico acima relaciona-se com a análise dos ângulos relacionados com a aplicação do experimento: quadril, joelho e tornozelo. Antes e depois da aplicação do alongamento com a NMES. Analisando-o, concluiu-se que o alongamento juntamente com a NMES promove aumento da flexibilidade e, conseqüentemente, da amplitude de movimento das articulações do MID, com nível de significância de 1%./ Resultados / MIE (Alongamento) Neste ,membro, aplicou-se apenas a técnica de alongamento passivo. De acordo com a Teoria do Alongamento Muscular, citado por Aldir (1999, p. 43), as fibras musculares são incapazes de alongarem-se sozinhas. É necessária a aplicação de uma força externa ao músculo. O alongamento passivo é uma manobra de alongamento promovida por uma força externa que move o segmento alongado além da ADM livre. Neste tipo de alongamento, o paciente não exerce contração muscular voluntária. O efeito sobre o músculo é estender a porção elástica passivamente. Para Alter (1999, p. 178), “com a técnica do alongamento passivo, o movimento forçado restaura a amplitude de movimento normal, quando ela é limitada pela perda de extensibilidade do tecido mole”. Gráfico 2: Ângulos do quadril, joelho e tornozelo antes e depois da aplicação do alongamento passivo. ÂNGULOS OBSERVADOS NO MEMBRO INFERIOR ESQUERDO EM DUAS SITUAÇÕES DISTINTAS 200 180 160 140 120 100 80 60 QUA1 JO1 TOR1 QUA2 JO2 TOR2 Min-Max 25%-75% Median value O gráfico acima relaciona-se com a análise dos ângulos do membro inferior relacionados com a aplicação do experimento: quadril, joelho e tornozelo. Antes e depois da aplicação do alongamento passivo. A partir de sua análise, concluiu-se que o alongamento passivo promove aumento da flexibilidade e, conseqüentemente, da amplitude de movimento das articulações do MIE, com nível de significância de 1%. Resultados / Comparação entre as técnicas Articulação Média Desvio-padrão Probabilidade Esquerda Direita Esquerda Direita Quadril 2 90,33 88,27 4,84 5,70 14,76% Joelho 2 163,27 167,07 11,46 11,71 37,62% Tornozelo 2 121,13 116,87 8,97 10,97 25,41% A tabela acima mostra os índices probabilísticos resultantes da comparação dos ângulos obtidos após a aplicação das técnicas de alongamento tanto em MIE quanto em MID. Para que houvesse significância probabilística, estes índices deveriam ser menores do que 5% (significância probabilística >5%). Contudo, estes, atingiram muito acima deste valor, nos possibilitando a conclusão de que não existe diferença estatisticamente significativa entre as técnicas aplicadas para promover o alongamento muscular. 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