HOSPITAL PEDIÁTRICO JOSÉ MACHADO DE SOUZA HOSPITAL DE URGÊNCIA DE SERGIPE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA ANA DE FÁTIMA SANTOS BRAVO EVOLUÇÃO PARA ÓBITO EM CRIANÇA PORTADORA DE LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ACOMPANHADA NO HOSPITAL INFANTIL JOSÉ MACHADO DE SOUZA, ARACAJU/SERGIPE E REVISÃO DA LITERATURA ARACAJU 2012 ANA DE FÁTIMA SANTOS BRAVO EVOLUÇÃO PARA ÓBITO EM CRIANÇA PORTADORA DE LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO ACOMPANHADA NO HOSPITAL INFANTIL JOSÉ MACHADO DE SOUZA ARACAJU/SEGIPE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Pós Graduação lato-sensu em Medicina Intensiva Pediátrica e Neonatal de Campinas (Segunda Turma). ARACAJU 2012 Os que estão por trás das nossas vitórias nem sempre recebe mérito justo. DEUS, sei da tua importância na minha e a ti dedico todas as minhas conquistas Aos meus pais Que me proporcionaram uma vida digna onde eu pude acreditar que tudo é possível desde que seja honesto,Integro de caráter tendo a convicção de que desistir nunca seja uma ação contínua na minha vida; que sonhar e concretizar os sonhos só depende da nossa vontade À Rosevânia e Viviane, queridas irmãs Quando tudo parece impossível e inalcançável penso na força que vocês sempre me deram e, de repente tudo se torna possível, Deus as abençoe. Dra. Marília Vieira Febrônio Para começar um grande projeto é preciso valentia Para terminar um grande projeto é preciso Perseverança e amigas como você . Muito grata por tudo SUMÁRIO 1.RESUMO..........................................................................................................4 2.ABSTRACT......................................................................................................5 3. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.........................................................6 4. INTRODUÇÃO.................................................................................................7 5. OBJETIVOS....................................................................................................9 6. METODOLOGIA..................................................................................................9 6.1. LOCAL DO ESTUDO...................................................................................9 6.2.MÉTODO ......................................................................................................9 6.2.1.REVISÃO DE PRONTUÁRIO.....................................................................9 6.2.2.PESQUISA BIBLIOGRÁFICA...................................................................9 6.2.3.CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO............................................10 6.3.ASPÉCTOS ÉTICOS...................................................................................10 6.4.NORMAS ADOTADAS................................................................................10 7.REVISÃO DA LITERATURA..........................................................................11 7.1.DEFINIÇÃO.................................................................................................11 7.2.HISTÓRICO.................................................................................................12 7.3.ETIOPATOGENIA.......................................................................................12 7.4.IMUNOPATOGENIA....................................................................................14 7.5.ALTERAÇÕES PULMONARES NO LES...................................................16 7.5.1.ALTERAÇÃO PLEURAL.........................................................................16 7.5.2.PNEUMONIA............................................................................................16 7.5.3.PNEUMONITE LÚPICA AGUDA.............................................................17 7.5.4.PNEUMONITE CRÔNICA........................................................................17 7.5.5.ALTERAÇÃOES SUBCLÍNICAS.............................................................17 7.5.6.SÍNDROME DO PRULMÃO ENCOLHIDO..............................................18 7.5.7.HENORRAGIA PULMONAR AGUDA.....................................................18 7.5.8.HIPERTENSÃO PULMONAR..................................................................19 7.5.9.TROMBOSE AUTOIMUNE......................................................................19 8.TRATAMENTO...............................................................................................20 8.1MEDIDAS GERAIS.......................................................................................20 8.2.TRATAMENTO MEDICAMENTOSO..........................................................20 8.3.TRATAMENTO MEDICAMENTOSO POR ACOMETIMENTO...................21 8.3.1.COMPROMETIMENTO CUTÂNEO.........................................................21 8.3.2. COMPROMETIMENTO ARTICULAR.....................................................22 8.3.3. COMPROMETIMENTO HEMATOLÓGICO............................................22 8.3.4. COMPROMETIMENTO CARDÍACO.......................................................23 8.3.5.ATEROSCLEROSE..................................................................................23 8.3.6. COMPROMETIMENTO PULMONAR.....................................................24 8.3.7. COMPROMETIMENTO NEUROPSÍQUICO............................................24 8.3.8. COMPROMETIMENTO RENAL..............................................................25 8.3.9. COMPROMETIMENTO NA GESTAÇÃO................................................26 8.3.10.SÍNDROME ANTIFOSFOLÍPIDES.........................................................27 8.4.VACINAÇÃO...............................................................................................28 8.5.INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO NO TRATAMENTO DO LES...............28 9.RELATO DE CASO........................................................................................29 10.EVOLUÇÃO DO CASO CLÍNICO E CONDUTAS.......................................29 10.1.EXAMES LABORATORIAIS.....................................................................32 10.2EXAME ELETROCARDIOGRÁFICO.........................................................34 10.3.ECOGRAFIA.............................................................................................35 10.4.ULTRASONOGRAFIA..............................................................................36 10.5.RADIOLOGIA............................................................................................37 11..DISCUSSÃO SOBRE O CASO CLÍNICO...................................................41 12.CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................43 13.ANEXOS.......................................................................................................44 14.BIBLIOGRAFIA............................................................................................59 Resumo: Em 1851, o médico francês Pierre Lazenave observou pessoas que apresentavam pequenas feridas na pele, como pequenas mordidas de lobo. E em 1895, o Médico canadense Sir William Osler caracterizou melhor o envolvimento das várias partes do corpo e adicionou a palavra "sistêmico" à descrição da doença. Lúpus=lobo eritematoso=vermelhidão sistêmico=todo. O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença crônica de causa desconhecida, onde acontecem alterações fundamentais no sistema imunológico das pessoas: crianças e jovens (LESJ) ou adultos atingindo predominantemente as do sexo feminino. Objetivo: Relatar um caso de LESJ, com evolução dramática por acometimento de múltiplos sistemas e fatores relacionados ao óbito de uma paciente pediátrica no Hospital José Machado de Souza e fazer uma revisão literária das doenças em questão. Metodologia: Revisão de prontuário e pesquisa bibliográfica nas bases de dados MEDLINE, SciELO, Revista Brasileira de Reumatologia PUBMED, BIBLIOTECA COCHRANE Resultado: O sistema imunológico é uma rede complexa de órgãos, tecidos, células e substâncias encontradas na circulação sanguínea, que agem em conjunto para nos proteger de agentes estranhos. O paciente que tem LES desenvolve anticorpos e complexos imunes que reagem contra as suas células normais, com conseqüente inflamação de múltiplos órgãos e sistemas, tais como: comprometimento articular, cutâneo, renal, cardiopulmonar, gastrointestinal, hepático, hematológico, ocular, neuropsiquiátrico, entre outros. Ou seja, o paciente torna-se "alérgica" a ele mesmo. Raramente ocorre antes dos cinco anos e quando se inicia antes de 18 anos é denominado LES Juvenil. Crianças com LESJ apresentam maior atividade da doença e freqüente envolvimento do sistema hematológico, renal e nervoso. Embora não existam estudos epidemiológicos no Brasil, esta é a terceira doença autoimune nos ambulatórios de reumatologia pediátrica, após artrite idiopática juvenil e vasculite primária. O diagnóstico do LESJ baseia-se nos critérios de classificação estabelecidos pelo American College Rheumatology (ARC). Para o diagnóstico de LESJ, assim como para o lúpus de adultos, é necessária a presença de quatro ou mais dos onze critérios, simultaneamente ou não, durante quaisquer intervalos de tempo. Os Glicocorticóides são considerados a primeira opção de tratamento e seu uso objetiva o alívio dos sintomas, o aumento da qualidade de vida, modulação da atividade da doença para prevenir grave morbidade e mortalidade relacionada ao envolvimento de órgãos vitais. Considerações Finais: Há certa demora até se chegar ao seu diagnóstico, embora a sobrevida tenha aumentado, pois além da sintomatologia inespecífica existe uma tendência a se pensar em outras doenças como infecções do trato respiratório baixo de etiologia bacteriana, febre reumática, dengue, leishmaniose visceral, especialmente nos países tropicais onde estas são mais prevalentes. Para otimizar o prognóstico do LESJ é necessária diagnóstica precoce, terapêutica adequada como drogas imunossupressoras, potentes antibióticos e drogas anti-hipertensivas, ficando atento para a mortalidade decorrente de morbidade cumulativa. Palavras-chave: Lúpus Eritematoso Sistêmico, Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil. Crianças. Anticorpo ABSTRACT Summary: In 1851, the French physician Pierre Lazenave observed people who had minor skin wounds, such as small bites wolf. And in 1895, the Canadian physician Sir William Osler best characterized the involvement of various body parts and added the word "systemic" to the description of the disease. Lupus erythematosus = Wolf = redness = systemic whole. Systemic lupus erythematosus (SLE) is a chronic disease of unknown cause in which fundamental changes occur in the immune system of people: children and youth (JSLE) or adults reaching predominantly female. Objective: To report a case of JSLE with dramatic evolution due to the involvement of multiple systems and factors related to the death of a pediatric patient in the Hospital José Machado de Souza and do a literature review of the diseases in question. Methods: Retrospective analysis and literature search in MEDLINE, SciELO, Journal of Rheumatology PUBMED, COCHRANE LIBRARY Results: The immune system is a complex network of organs, tissues, cells and substances found in the bloodstream, which act together to protect us from foreign agents. Patients who have SLE develop antibodies and immune complexes that react against their normal cells, with subsequent inflammation of multiple organs and systems, such as joint involvement, skin, renal, cardiopulmonary, gastrointestinal, hepatic, hematological, ocular, neuropsychiatric, among other. That is, the patient becomes "allergic" to himself. It rarely occurs before age five, and when it starts before 18 years is known as Juvenile SLE. Children JSLE have higher disease activity and frequent involvement of the haematologic system, kidney and nervous. Although there are no epidemiological studies in Brazil, this is the third autoimmune disease in pediatric rheumatology clinics, after juvenile idiopathic arthritis and primary vasculitis. The diagnosis of JSLE is based on the classification criteria established by the American College Rheumatology (ARC). For the diagnosis of JSLE as well as systemic lupus adults, requires the presence of four or more of the eleven criteria simultaneously or not, during any interval of time. The glucocorticoids are considered the first choice of treatment and their use aims at relieving symptoms, improving the quality of life, modulating the activity of the disease to prevent serious morbidity and mortality related to the involvement of vital organs. Conclusion: There is some delay before arriving at his diagnosis, although survival has increased, because in addition to nonspecific symptoms there is a tendency to think of other diseases like lower respiratory tract infections of bacterial etiology, rheumatic fever, dengue, visceral leishmaniasis especially in tropical countries where it is most prevalent. To optimize the prognosis of early diagnostic JSLE is necessary, appropriate therapy such as immunosuppressive drugs, powerful antibiotics and antihypertensive drugs, being aware of mortality due to cumulative morbidity. Keywords: Systemic Lupus Erythematosus, Juvenile Systemic Lupus Erythematosus. Children. Antibody Lista de abreviaturas e siglas LES – Lúpus eritematoso sistémico LESj – Lúpus eritematoso sistémico juvenil ACR - American College of Rheumatology Atc anti-dsDNA - Anticorpos anti-cadeia dupla de DNA IR - Insuficiência renal SNC - Sistema nervoso central EAM – Enfarte agudo do miocárdio SAF – Síndrome antifosfolipidio ANA – Anticorpos antinuclearesAAF – Anticorpos antifosfolipidios SLEDAI – Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index SLEDAI-2K – Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index 2000 SLICC/ACR – Systemic Lupus International Collaborating Clinics/ American College of Rheumatology SMILEY – Simple Measure of Impact of Lupus Erythematosus in Youngsters 1. INTRODUÇÃO O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica do tecido conjuntiva, de etiologia multifatorial que se caracteriza por acometer diversos órgãos e sistemas e apresentar importantes distúrbios imunológicos com a presença de auto-anticorpo dirigidos, sobretudo contra antígenos nucleares, alguns dos quais participam de lesões tissulares imunologicamente mediada. Embora possa ocorrer em ambos os sexos e em qualquer faixa é rara antes dos cinco anos de idade, e tem maior incidência em mulheres, com pico de incidência em torno de 30 anos (DANCHENKO N, 2006: APPENZELLER; MARINI; COSTALLAT, 2005; BEZERRA ET al., 2005; SATO ET al., 2004). As manifestações clínicas dependerão do espectro desses autoanticorpos em cada paciente, sendo que comprometimento músculo-esquelético pode ocorrer em 43% a 92% dos pacientes com LESJ, habitualmente com duração inferior a seis semanas (na fase aguda) O diagnóstico do LES baseia-se em critérios clínicos e laboratoriais elaborados pelo American College of Rheumatology (ACR) em 1982 e revistos em 2007 (ANEXO 1,2 e 3), e é estabelecido quando estão presentes quatro ou mais dos 11 critérios constituintes. As manifestações clínicas inaugurais, mais freqüentemente encontradas no lúpus eritematoso sistêmico juvenil (LESJ) compreendem os sintomas constitucionais como a febre prolongada, anorexia, perda de peso e fadiga alem do envolvimento muco-cutâneo, osteo-articular e renal descritos por Hochberg (1997), De maneira seriada ou simultaneamente e, principalmente, se o paciente for do gênero feminino dos 18 aos 55 anos, torna-se relativamente fácil estabelecer o diagnóstico. Difícil é fazê-lo quando o paciente acometido foge à população alvo e, mais ainda, quando as manifestações clínicas são menos típicas. O LES, quando acomete indivíduos até 18 anos, chamado lúpus eritematoso sistêmico juvenil (LIXO), pode se iniciar isoladamente com artrite ou anemia hemolítica ou púrpura trombocitopênica idiopática (BRAGA ET al., 2003) ou ainda síndrome nefrítica ou nefrótica (ZABALETA-LANZ ET al., 2003). O LESJ apresenta um curso geralmente mais agressivo do que LES em adultos e um prognóstico mais reservado (HILÁRIO, 2003, p.S1; MANGER, 2002; MARINI; COSTALLAT, 1999; PETTY; LAXER, 2005; RUPERT; MARTINI, 2004; STICHWEB; ARCE; PASCUAL, 2004; WEIDEBACH ET al., 1999). Seja pela grande variedade de apresentações clínicas, pela inespecificidade de sintomas no início da doença, pelo tempo ao qual o paciente está exposto à mesma, esta enfermidade tem pior prognóstico quando tem início na infância (IBID). Aproximadamente dois terços de crianças e adolescentes com LESJ apresentarão, segundo Hilário (2003), comprometimento renal durante o curso da doença; em 90% dos casos a nefropatia se desenvolve ainda no primeiro ano. As lesões em 90% são glomerulares e, nos pacientes submetidos à biópsia renal, a glomerulonefrite proliferativa difusa (classe IV da classificação de nefrite lúpica pela OMS/SM/RPS) é a mais freqüente, seguida das classes II (mesangial), III (proliferativa Focal) e V (membranosa). O diagnóstico de nefrite lúpica (LN) tem aumentado nos serviços que realizam biópsia renal rotineiramente, principalmente o de classe V (HILÁRIO 2003). Vários autores reconhecem a importância da biópsia na avaliação de índices de atividade e cronicidade da LN para definir o tratamento mais adequado (BOGDANOVIC ET al., 2004; LATORRE ET al, 1998; MEDEIROS ET al., 2004). Porém, ainda são encontrados resultados controversos quanto à significância prognóstica dos tipos histológicos propostos pela OMS/WHO (MEDEIROS ET al., 2004). A literatura mundial aponta que crianças, pacientes de cor negra, do gênero masculino e aqueles não submetidos a tratamento imunossupressor (da classe III a V de estadiamento histopatológico) ou que apresentem IRA (insuficiência renal aguda) no curso da doença ou mantenham atividade glomerular ou hipertensão arterial refratária apesar do tratamento têm pior prognóstico (BOGDANOVIC ET al., 2004; GOO, ET al., 2004; LATORRE ET al, 1998; MAVRAGANI; MATSOPOULOS, 2003; MEDEIROS ET al., 2004; MORONI; TANTARDINI; PONTICELLI, 2003). Pacientes que possuam eventos vaso-oclusivo primários associados à SAF (Síndrome do anticorpo 17 antifosfolipídio) secundária ao LES têm ainda menor sobrevida renal pela associação com doença micro angiopática (LEE; SCHEVEN;SANDBORG, 2001; MAVRAGANI; MATSOPOULOS, 2003; MEDEIROS ET al., 2004; MORONI; TANTARDINI; PONTICELLI, 2003). Wang, Yang, Lu (2004) descrevem que a sobrevida de pacientes com LN tem aumentado sobremaneira e, em sua casuística a sobrevida renal alcançou 87,82% em 5 anos e 81,06% em 10 anos. Porém, se a nefrite for tratada inadequadamente, a maioria dos pacientes pode evoluir para insuficiência renal crônica terminal (IRCt) em 5 a 10 anos (OLIVEIRA, 2003; PETTY; LAXER, 2005). O sistema nervoso está acometido em 20 a 95% das crianças com LESJ, sendo o maior causador de morbimortalidade nesta população (APPENZELLER; COSTALLAT, 2003; JUNIOR ET al., 2003; OLIVEIRA, 2003; PETTY; LAXER, 2005). Envolve o sistema nervoso central, periférico, autônomo e junção mioneural (IBID). Alguns estudos demonstraram que metade dos pacientes já apresenta manifestações neuropsiquiátricas na abertura do quadro e 40% no decorrer do primeiro ano de doença (APPENZELLER; COSTALLAT, 2003; JUNIOR ET al., 2003). O comprometimento neurológico central ou periférico quando associado a eventos micro angiopáticos relacionados ou não a anticorpos antifosfolípides determina pior prognóstico (APPENZELLER; COSTALLAT, 2003; BORBA; BONFÁ; ASHERSON, 2005; JUNIOR ET al., 2003; LEE; SCHEVEN; SANDBORG, 2001; OLIVEIRA, 2003; PETTY; LAXER, 2005). A sobrevida de pacientes com LES aumentou drasticamente nas últimas 4 décadas (ANEXO 4 e 5), permanecendo as doenças cardiovasculares e infecções como as principais responsáveis pelos óbitos em adultos (COSTALLAT ET al., 1997; MOK; LAU, 2003). No LESJ, segundo Petty; Laxer (2005) houve incremento na sobrevida global nos últimos 30 anos, sendo a doença ameaçadora à vida principalmente nos primeiros 2 anos, pela gravidade da atividade de doença e demora no diagnóstico e na instituição terapêutica. Ao longo da evolução clínica, as manifestações que mais influenciam a sobrevida são: nefrite classe IV e V, encefalopatia e AVE (MARINI; COSTALLAT, 1999; PETTY; LAXER, 2005). Há 20 anos a hemodiálise era ameaçadora à sobrevivência de crianças com IRCt. Atualmente, em crianças com LESJ, com a melhoria das técnicas dialíticas e a melhor estabilização hemodinâmica com a diálise peritoneal, tem-se a sepse como principal causa de óbito (PETTY; LAXER, 2005). Não há grandes séries brasileiras avaliando a sobrevida no LESJ, mas trabalhos da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas) e ICr -FMUSP (Instituto da Criança Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) apontam os processos infecciosos como a principal causa de óbito, principalmente se associados a altas doses de corticosteróides e imunossupressores (FACÓ ET al., 2005; LEN; TERRERI; HILÁRIO, 2002; OPASTIRAKUL; CHARTAPISAK, 2005). Costallat ET al (1997,) descreveram, em sua casuística, como principal causa de óbito, a sepse, mas em sua maioria relacionada à atividade da nefrite ou ao grau de imunossupressão pelo tratamento, o que foi ratificado por Facó ET al (2005). 2 OBJETIVO O objetivo deste trabalho é relatar o caso de uma paciente pediátrica portadora de LESJ que evoluiu para óbito no Hospital Infantil José machado de Souza – Aracaju- em 2012 e fazer uma revisão literária da patologia em questão. 3 METODOLOGIA 3.1 LOCAL DO ESTUDO O presente estudo foi desenvolvido no Hospital Infantil José Machado de Souza localizado na Av. Tancredo Neves, S/N – Bairro Capucho CEP: 49080-470 Aracaju (SE). 3.2 MÉTODO 3.2.1 Revisão de Prontuário Em um primeiro momento, foi feita uma revisão do prontuário da paciente para relato de caso. O prontuário foi resgatado no Serviço de Arquivos Médicos do Hospital Infantil José Machado de Souza onde a paciente permaneceu internado até o seu óbito. 3.2.2 Pesquisa Bibliográfica Em seguida, iniciou-se uma pesquisa bibliográfica da literatura nacional e internacional, abrangendo relatos de caso, estudo de casos, artigos de revisão, artigos originais e metanálise publicados nos últimos anos (de 1990 a 2012) e escritos nas línguas inglesa, portuguesa e espanhola. A pesquisa foi realizada no mês de março e abril de 2012, nos sítios da BIREME/OPAS/OMS - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (http://www.bireme.br), do PUBMED (http://www.ncbi.nlm.nih.gov e BIBLIOTECA COCHRANE (www.thecochranelibrary.com). Os artigos foram obtidos nas bases de dados: SciELO - Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.org), LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, MEDLINE Literatura Internacional em Ciências da Saúde e Revista Brasileira de Reumatologia Os descritores utilizados foram: “Lúpus Eritematoso Sistêmico”, “Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil” e “Crianças”. 3.2.3 Critérios de Inclusão e Exclusão Foram selecionados textos tendo como critérios sua relevância, atualidade, publicação em revistas conhecidas e confiáveis. Foram descartados após a leitura os artigos que não apresentavam metodologia adequada ou não abordavam a área de interesse. 3.3 ASPECTOS ÉTICOS O Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe foi consultado a respeito da necessidade de aprovação ou de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para relato de caso e a instituição referiu que não eram necessários. 3.4 NORMAS ADOTADAS Este trabalho foi realizado segundo as normas do International Committee of Medical Journal Editors (Normas de Vancouver) para apresentação de manuscritos. 4. REVISÕES DA LITERATURA 4.1 DEFINIÇÃO O lúpus eritematoso sistêmico juvenil (LESJ) é uma doença auto-imune de etiologia desconhecida na qual os pacientes apresentam anormalidades imunes características, sobretudo anticorpos contra diversos antígenos celulares e nucleares e, ainda, formação de imunocomplexos, vasculite de pequenos vasos e inflamação de diversos tecidos. Leva, clinicamente, a combinações variáveis de febre, erupções cutâneas, alopecia, artrite, pleurite, pericardite, nefrite, anemia, leucopenia, trombocitopenia e alterações no sistema nervoso central. A evolução clínica é marcada por períodos de remissões, recidivas agudas ou cronicidade. Há a produção de anticorpos não órgão específico incluindo o ANA, DNA e anticorpos antifosfolipídios (HAHN, 2001, p.2037). O diagnóstico de LES baseiase em encontrar, pelo menos, 4 dos 11 critérios estabelecidos pelo American College of Rheumatology desde 1982 e revisados em 1997 (HOCHBERG, 1997, p.1725) durante qualquer intervalo de observação A prevalência do LES é estimada em 15 a 124 casos entre 100 mil indivíduos em áreas urbanas dos EUA, sendo mais comum em negros, latinos e asiáticos (HAHN, 2001). Mas, a prevalência varia de acordo com o país estudado. Por exemplo, é 12 a 24,7 por 100 mil britânicos, 22 por 100 mil canadenses e 39 por 100 mil suíços. A incidência americana anual varia de 2 a 8 por 100 mil habitantes, a saber, 1,8/100 mil/ano em Rochester comparado a 7,6/100 mil/ano em São Francisco, sendo mais de 85% mulheres (GLADMAN; UROWITZ, 2005, p.417). O LES é muito mais comum em mulheres em idade fértil (18 a 55 anos), apesar de poder ocorrer em qualquer idade, mesmo em idosos e crianças. A relação do gênero feminino para o masculino na faixa etária anteriormente citada é de 10:1 e, acima de 55 anos, é de 2:1. A maior incidência do LES é vista nos anos pré menopáusicos (de 20 a 50 anos), mas alguns trabalhos têm mostrado aumento desta incidência em mulheres acima de 50 anos (BODDAERT, 2004, p.348). A sobrevida dos homens é reportada por Bezerra ET AL (2005, p.340); Hahn (2001, p.2038) e Sato ET AL (2004, p.458), como inferior à das mulheres (em 15 anos 58% dos homens com lúpus sobrevivem em comparação a 75% de mulheres). Antes dos 5 anos, o LES é bastante incomum, aumentando a incidência a partir dos 10 anos. A maioria dos casos é diagnosticada na adolescência. Cerca de 25% dos casos de LES se inicia dentro das 2 primeiras décadas de vida (15 a 17% antes de 16 anos). Em crianças distribui-se semelhantemente entre os gêneros, e na proporção de 3 meninas para cada menino na fase pré-puberal. Após a puberdade, estes valores tornam-se mais distantes, alcançando 7 meninas para cada menino (A, 2001, p.2037). Todas as raças são acometidas, mas há um predomínio na raça negra, seguida por asiáticos e, finalmente, brancos (ANEXO 6 e 7). Há diferenças também nos comemorativos clínicos do LES: brancos mais freqüentemente apresentam fotossensibilidade; negros têm maior prevalência de lúpus discóide (LED), anticorpos anti-Sm, anti-RNP, serosite, nefrite e falência renal (GLADMAN; UROWITZ, 2005, p.417). E, de uma maneira geral, negros têm morbi-mortalidade maior (HAHN, 2001, p.2038; MANGER ET al., 2002, p.1066). No Brasil, um estudo realizado por Vilar; Rodrigues; Sato (2003), na cidade de Natal (RN), verificou a incidência de LES de 8,7 por 100 mil / ano, a maior já descrita na literatura e o único estudo de incidência de LES no Brasil. Nesta cidade, no estudo posterior de Bezerra ET AL (2005) predominaram manifestações muco cutâneas e o principal dano descrito foi alopecia cicatricial. Sauma, Nunes, Lopes (2004) relataram em Belém do Pará as mesmas características, em área de condições climáticas semelhantes às de Natal. Estes trabalhos mostram que o LES não só depende da genética, mas também do ambiente ao qual o indivíduo pré-disposto esteja exposto. 4.2 HISTÓRICO Atribui-se ao médico Rogerius (século 12) o nome “lúpus” para descrever a erupção clássica da doença. A explicação mais aceita para a escolha do termo “lúpus” (do latim, lobo) considera que a erupção malar bilateral (avermelhadas, em formato de borboleta) se assemelha ao padrão dos pelos do focinho do lobo. Laurent T. Butt, dermatologista francês, descreveu em 1828 as lesões de pele características da doença. Em 1872 Montz Kaposi, dermatologista húngaro, identificou as manifestações sistêmicas da enfermidade. A denominação “Lúpus Eritematoso” deve-se a Pierre L. A. Cazenave, dermatologista francês que acreditou que a doença seria uma variação da tuberculose. As células do Lúpus Eritematoso foram descobertas em 1948. Em 1894 o quinino foi o primeiro medicamento utilizado no tratamento do Lúpus Eritematoso. Quatro anos mais tarde, observou-se que os salicilatos associados ao quinino apresentaram resultados ainda melhores. Este foi o melhor tratamento disponível até a metade do século quando o norte-americano Philip S. Hench (Prêmio Nobel em 1950) descobriu que os corticóides eram eficazes no tratamento da doença. 4.3 Etiopatogenia Na desregulação imune do LES ocorre degradação anormal das células e perda da auto-tolerância; certos antígenos (sobretudo nucleares) são processados por células de apresentação de antígenos (macrófagos, linfócitos B, células dendríticas) em peptídeos. Há expansão de células T auxiliares (CD 4) auto-reativas que, através da liberação de citocinas (IL-6, IL-4), posterior ativação, proliferação e diferenciação das células B auto-reativas em células produtoras de anticorpos, com conseqüente produção de quantidades excessivas de anticorpos contra muitos antígenos nucleares. Por conseguinte, surge um perfil imunológico típico no paciente com LES – o desenvolvimento de níveis elevados de anticorpos antinucleares (ANA), sobretudo contra o DNA, Sm, RNP, Ro, La e outros. Com o curso da doença, a resposta imune é desviada de anticorpos IgM de baixa afinidade e alta reatividade cruzada – através de (hiper) mutação somática – para anticorpos IgG fixadora do complemento de alta afinidade (principalmente IgG1 e 3) e em epítopos mais limitados nos “auto”antígenos. Idiotipos peculiares dos anticorpos podem estimular a expansão de células T auto-reativais, ajudando assim determinados clones de células B a sofrer expansão, com conseqüente produção de mais ANA específica com idiotipos peculiares. Os 23 hormônios femininos promovem a hiperatividade das células B, enquanto os androgênios podem exercer o efeito oposto. Alguns microorganismos (por exemplo, vírus), podem estimular células específicas nesta região imune. Além disso, a luz ultravioleta (UV) – que exacerba as lesões cutâneas do lúpus – pode estimular os queratinócitos a secretar mais IL-1 que, por sua vez, estimula as células B a produzirem mais anticorpos. Nem todos os auto-anticorpos provocam doença. Com efeito, todos os indivíduos normais produzem auto-anticorpos, ainda que em baixos níveis (HAHN, 2001). Por conseguinte, a variabilidade da doença clínica pode refletir a variabilidade na qualidade e quantidade de resposta imune. Não se sabe ao certo o que provoca exacerbações – embora, clinicamente, ocorram quase sempre após infecções e outros eventos estressantes (NERY; BORBA; NETO, 2004), perpetuando as anormalidades imunes (GLADMAN; UROWITZ, 2004). Os Imuno-complexos (IC) consistem em antígenos nucleares e IgG fixadora do complemento de alta afinidade (especialmente IgG1 e IgG3). Seu potencial patogênico depende do anticorpo (sua especificidade, afinidade, carga e capacidade de ativar o complemento ou outros mediadores da inflamação), da natureza do antígeno (tamanho, carga), da capacidade de o IC ser solubilizado ou ligado a eritrócitos (ambos os sistemas podem estar deficientes no LES), da capacidade de depuração do sistema mononuclear de fagocitose e de outros fatores. São detectados IC na junção dermo-epidérmica em lesões cutâneas, no plexo coróide, no pericárdio, na cavidade pleural e no rim (AZEVEDO, 2001). Ainda há muito a elucidar quanto às manifestações renais, mas é defendida a hipótese de que a exposição da membrana basal glomerular (MBG) aos IC e a alta ou baixa afinidade das Ig envolvidas determina maior ou menor lesão glomerular na gênese das nefrites lúpicas, gerando padrões histopatológicos distintos. Há também produção de ACS(ANEXO 8 e 9) contra antígenos de superfície celular de eritrócitos, leucócitos e plaquetas, resultando em anemia (hemolítica), leucopenia e trombocitopenia. Os ACS contra as células endoteliais foram implicados a vasculites, enquanto os ACS contra as neuronais foram associados à doença cerebral orgânica e os contra antígenos tubulares e glomerulares renais à nefrite lúpica. ACS contra o complexo fosfolipídio-β2glicoproteína I, desde 1995 despertam interesses. Estes 24 parecem interferir no efeito anticoagulante normal da β2-glicoproteína I e, assim, geram tromboses arteriais e venosas, provocando AVE, TVP e infartos placentários (abortos de repetição) complicando o LES com a conhecida SAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídio) secundária ao LES (AZEVEDO, 2001). Acredita-se que as lesões cutâneas sejam de origem multifatorial. A luz UV leva à formação de ACS e IC. O complemento é ativado e surge resposta inflamatória local, aumentando a ligação de anti-Ro, anti-La e anti-RNP a queratinócitos ativados. Altera-se o metabolismo de fosfolipídeos da membrana celular, aumenta a ligação de IL-1 dos queratinócitos e células de Langehans e afeta as células T supressoras. O LES exibe poucas características histopatológicas exclusivas. Nos pacientes com artrite, a histopatologia sinovial tende a ser específica, com material superficial semelhante à fibrina e proliferação do revestimento celular local ou difusa. As alterações vasculares incluem células mononucleares perivasculares, obliteração da luz aumenta de células endoteliais e trombos, enquanto a necrose fibrinóide é rara. Biópsias do eritema malar podem revelar algumas anormalidades da camada basal, bem como depósitos de IC na função dermoepidérmica. Lesões discóides caracterizam-se por hiperceratose, tampões foliculares e alterações das camadas celulares mais basais, incluindo também IC na junção dermo-epidérmicas. A pleura e o pericárdio são infiltrados por células mononucleares. A pneumonite lúpica caracteriza-se por lesão, hemorragia e edema das paredes alveolares, formação de membrana hialina e depósitos de IC. Artérias coronárias quase sempre exibem aterosclerose de início prematuro. A endocardite de Libman-Sacks caracteriza-se por acúmulo de IC, células mononucleares, corpúsculos de hematoxilina e trombos de fibrina e plaquetas. O exame histopatológico do baço quase sempre revela aspecto em “casca de cebola” das artérias esplênicas, que talvez represente arterite subjacente. No cérebro, há micro infartos, infiltração perivascular e alterações vasculares menores. No rim há envolvimento de ACS anti-DNA, IC e micro angiopatia pelos aPL determinando a nefrite (AZEVEDO, 2001). 4.4 IMUNOPATOGENIA Os anticorpos antinucleares têm assumido importante papel em reumatologia, sendo, alguns destes, marcadores diagnósticos, como os ACS anti-DNA bc e Sm no LES; ACS anti-Scl-70 na ESP; ACS anti-centrômero na Síndrome CREST e anti-Jo na dermatopolimiosite. O LES é caracterizado por uma multiplicidade de auto-anticorpos (ANEXO 8 e 9), com uma ou mais especificidades antigênicas. Os anti-ds DNA (ou anti-DNA bc, bicatenular, também designado, de dupla hélice e nativo) são muito específicos para LES e detectáveis em altas concentrações durante doença ativa. É marcador da doença, estando presente em 70% casos. Estudos constataram que o controle destes anticorpos diminuía a progressão do dano renal em pacientes com nefrite lúpica, relacionando a importância clínica da titulação deste AC com atividade da doença (OLIVEIRA, 2003). Os anticorpos anti-DNA uc (unicatenular, ou de hélice simples) relacionamse a antígenos de superfície, por exemplo, contra membranas de hemácias, leucócitos e plaquetas. Anticorpos contra DNA desnaturado são observados em várias doenças, não sendo específicos de nenhuma delas. Entretanto, sua presença no LES parece se relacionar à lesão renal. Quanto aos ACS de histonas, classicamente relacionados ao Lúpus induzido por drogas e não ao LES, formam o nucleossoma e mostram grande afinidade pela MBG, mas não são específicos para nefrite lúpica. Citam-se aqui o H2A-H2B e H3H4. Anticorpos de ribonucleoproteínas (contra o complexo proteína – RNA) são: anti-Smith (anti-Sm), U1-RNP, U2-RNP, U3-RNP, Ro (SSA), La (SSB), Th, 5s-RNP e anti-Jo (T-RNA sintetase). O AC anti-Sm é o mais específico para o LES, considerado marcador da doença e é positivo em 30% dos pacientes (OLIVEIRA, 2003, p.142). Mas, há controvérsias quanto ao seu envolvimento nas manifestações do LES no SNC e rim (PETTY; LAXER, 2005, p.371). ACS antiRNP associam-se a fenômeno de Raynaud e perda da função pulmonar no LES e estão positivos em 19% dos pacientes (ibid). Inclusive, se títulos de anti-RNP forem superiores a 1:10000 e, principalmente, se anti-Sm e DNA bc forem negativos, há de se pensar em DMTC como principal diagnóstico. Anti-Ro/SSA é encontrado em 30-40% dos 26 pacientes com LESJ, associado à lesão de pele, pneumonite intersticial, trombocitopenia idiopática, doença renal, Síndrome de Sjögren e é fator de risco para o desenvolvimento de bloqueio cardíaco completo em 5% das crianças de mães lúpicas, como uma das manifestações do lúpus neonatal. O anti-La/SSB é achado em 14-20% dos casos, correlacionando-se negativamente com quadro renal (OLIVEIRA, 2003, p.142; PETTY; LAXER, 2005). A pesquisa dos anticorpos antinucleares através da imunofluorescência (FAN), constitui um exame de triagem. O FAN é realizado utilizando-se, atualmente, células de carcinoma de laringe (HEp 2) ou hepatócitos de rato. O soro extraído do paciente é diluído e colocado no núcleo de uma destas células. Adiciona-se antiglobulina humana marcada com fluoresceína. O resultado é dado baseado no padrão e no título que representou a maior diluição que evidenciou um padrão discernível. O padrão pode mudar quando se aumenta a diluição, indicando a presença de mais de um anticorpo no soro do paciente. A presença de anticorpos antinucleares no soro não indica, necessariamente, doença reumatológica. Um a 2% da população mundial têm teste positivo sem esboçar doença e 12% das crianças saudáveis têm FAN reator. As chances de positividade aumentam com a idade (20 a 25% dos maiores de 60 anos têm teste positivo). E, estes números são mais altos quando há doença reumatológica na família. No padrão homogêneo do FAN todo o núcleo se cora, demonstrando estarem aí os antígenos de DNA. O padrão salpicado é o mais visto e menos específico e é determinado por reação de anticorpos contra antígenos nucleares extraíveis (AZEVEDO, 2001; MCGHEE; KICKINBIRD; JARVIS, 2004). Os ANA podem ser positivos em uso de medicamentos (procainamida, betabloqueadores, anticonvulsivantes, penicilina e sulfas), hepatopatias crônicas, púrpura hiperglobulinêmica, miastenia gravis, timoma, leucemias, linfomas, tumores sólidos, tireoidite de Hashimoto, anemia perniciosa, colite inespecífica, glomerulonefrite membranosa primária, alveolite fibrosante criptogênica, asbestose, mononucleose infecciosa, dermatite herpertiforme, esquistossomose, tripanossomíase, tuberculose, hanseníase, salmonelose, infecções pelo HIV e klebsiela, e pode ser positivo em outras doenças auto-imunes. Alguns daqueles ACS citados anteriormente também podem ser positivos em vigência destas doenças (AZEVEDO, 2001). Os ACS antifosfolipídios, encontrados em 50% dos pacientes com LESJ, estão associados à trombose de vasos de diferentes tamanhos, levando a diferentes espectros clínicos, desde livedo reticular até trombose venosa, êmbolos pulmonares, abortos espontâneos recorrentes, AVE e mielite transversa. O PTT destes pacientes é prolongado pela interferência deste AC com o complexo ativador de protrombina (fatores V e X ativado, fator plaquetário III e cálcio), in vitro. Esta anticoagulação in vitro não é corrigida completamente pelo plasma normal, por isso, a designação de AC anticoagulante lúpico (LAC). Este AC parece estar mais envolvido com tromboses. O reconhecimento de antígenos-alvo cardiolipina-colesterol-fosfatidil colina, rico em fosfolipídios, torna o exame VDRL falsamente positivo pela presença dos ACS (ACL) anticardiolipina. (OLIVEIRA, 2003, p.144; MCGHEE; KICKINBIRD; JARVIS, 2004, p.5). O fenômeno das células LE, na verdade é uma reação de anticorpo no soro do doente (IgG), com constituintes do núcleo da célula (DNA-Histona) em presença do complemento. O fenômeno ocorre, necessariamente, quando o doente produz IgG que fixe o complemento, induzindo à fagocitose. Mas, quando houver leucopenia intensa, pode ser negativo. Assim, se negativo não impede o diagnóstico de LES. E, quando positivo, não é patognomônico da doença, já que pode ocorrer em outras colagenoses, hepatite crônica ativa e pelo uso de algumas drogas. Desde a revisão dos critérios diagnósticos de 1982 pelo ACR em 1997, não mais se considera a positividade de células LE como um critério para o LES (anexo 11.3). Esta técnica foi substituída pela dos anticorpos antifosfolipídeos, que é mais fácil, barata e específica (HAHN, 2002) 4.5 ALTERAÇÕES PULMONARES NO LESJ O envolvimento pulmonar no LES ocorre, habitualmente, em metade dos pacientes adultos no curso da doença. Em cerca de 5% dos pacientes, os sintomas pulmonares são parte da apresentação inicial (Vitali C,1992).O acometimento pulmonar também é observado no LESJ, com prevalências que variam de 5 a 67% (Caeiro FM,1981:Jongste JC, 1986). Pleura, parênquima pulmonar, vias aéreas, vasculatura pulmonar e os músculos respiratórios podem estar envolvidos por: atividade primária da doença, trombose autoimune, tratamento ou repercussão do acometimento de outros órgãos, freqüentemente rins e coração (Swigris JJ, Fischer A, Gilles J, Meehan RT, 2008). As manifestações pleuropulmonares do LESJ são as mesmas encontradas nos adultos, apresenta amplo espectro clínico variando de casos leves com dor pleurítica a graves com risco de vida, como ocorre na hemorragia pulmonar. Além disto, vários estudos demonstram, tanto no adulto como na criança, envolvimento pulmonar subclínico, evidenciado por alterações nas provas de função pulmonar, freqüentemente sem correlação com exames de imagens (Lilleby V, TM, 2006). Em recente série de necropsias em LES, foi a alteração pulmonar mais freqüente, encontrada em 77% dos óbitos (Keane MP, 2000) 4.5.1 Alterações Pleurais Doença pleural é a alteração pulmonar mais encontrada no LES de adultos, acometendo 17 a 60% dos pacientes em algum momento do curso da doença (Keane MP, 2000). Na faixa etária pediátrica, a pleurite pode ser observada em 30 a 35% dos casos com LESJ (Delgado EA, Malleson PN. 1990). Pleurite pode ser a alteração inicial e preceder outras manifestações do LESJ. Tosse, dispnéia ou febre são sintomas freqüentemente encontrados neste comprometimento. Dor pleurítica pode estar presente mesmo sem efusão pleural e quando associada ao derrame pleural persiste habitualmente por vários dias. Outras causas de efusão pleural devem ser descartadas no lúpus pediátrico, tais como: síndrome nefrótica, insuficiência cardíaca, pancreatite (Campos LMA, Omori CH, 2010), infecções bacterianas e fúngicas (Faco MMM, Leone C, Campos LMA, Febrônio MV, 2007)14 e tuberculose (Campos LM, Kiss MH,2003). Outra causa importante de derrame pleural é o tromboembolismo pulmonar, especialmente na presença de anticorpos antifosfolípides. Em geral o volume do derrame é pequeno a moderado, sendo raramente indicada a toracocentese. Esta deve ser realizada se houver suspeita de infecção. A doença pleural responde adequadamente aos antiinflamatórios não hormonais ou corticosteróides (doses de prednisona de 0,5 a 1,0 mg /kg/ dia). Pequenas efusões podem se resolver espontaneamente (Silva CA, 2006). 4.5.2 Pneumonia A infecção é a principal causa de morbidade no LESJ, devido às particularidades da doença que afetam resposta imune humoral, celular e fagocítica (Carneiro-Sampaio M, 2008), assim como pela imunossupressão medicamentosa. A infecção é uma importante causa de óbito, sendo que a pneumonia é um achado freqüente em necropsias (Quadrelli SA, Alvarez C, 2009). A pneumonia pode ser causada por vírus, bactérias e agentes oportunistas, entre os quais, citomegalovírus e Aspergillus fumigattus são os mais freqüentes. Infecções por Pneumocystis jiroveci são pouco freqüentes, apesar da imunossupressão agressiva (Quadrelli SA, Alvarez C, 2009). Mycobacterium tuberculosis é um importante patógeno em nosso meio e representa grande desafio diagnóstico nestes pacientes, pois pode mimetizar as manifestações clínicas da doença. A tuberculose pode influenciar na morbimortalidade do LES e por vezes ser achado de necropsia, sem diagnóstico prévio (Pereira, JCB, 2008). Conseqüentemente, a vacinação é uma importante medida para reduzir o impacto das infecções no LES, especialmente no LESJ. Em 2009, foi publicado um consenso de imunização para crianças e adolescentes com doenças autoimunes reumatológicas, com as recomendações e contra-indicações de vacinas, especialmente em pacientes imunodeprimidos, reforçando a importância das vacinações contra influenza e pneumococo para os pacientes com LESJ, independente da atividade e do tratamento (Silva CAA, Terreri MTRA, Barbosa CMPL, Hilário MOE, 2009). 4.5.3 Pneumonite Lúpica Aguda A síndrome clínica de pneumonite lúpica aguda está relacionada à atividade da doença e pode ocorrer em cerca de 10% dos pacientes, podendo inclusive ser a apresentação inicial do LESJ (Çiftçi E¸ Yalçinkaya F, 2004). O início dos sintomas é abrupto com ocorrência de febre, tosse, dor pleurítica e hipoxemia. Na radiografia pulmonar observam-se infiltrados interstícios-alveolares, predominantemente nas regiões basais, associados a derrame pleural em 50% dos casos. Outras causas de infiltrado pulmonar devem ser excluídas em especial relacionadas a pneumonia e pneumonite aspirativa. A biópsia a céu aberto pode também ser necessária para afastar outros diagnósticos diferenciais. O prognóstico é desfavorável, com mortalidade em 50% dos casos e os pacientes que sobrevivem pode apresentar infiltrado intersticial persistente que progride para pneumonite crônica intersticial. O tratamento é de suporte, pode ser necessária ventilação mecânica e imunossupressão agressiva (pulso terapia com metilprednisolona e ciclofosfamida endovenosa) e plasmaferese nos casos refratários (Lehman TJA, Sundel R,, 2011). 4.5.4 Pneumonite Crônica A pneumonite crônica é observada habitualmente em 3 a 13% dos pacientes com LES, sendo raramente grave. Os sintomas iniciais são: dispnéia aos esforços, tosse seca, dor pleurítica, dispnéia persistente e crepitações nas regiões basais pulmonares. As provas de função pulmonar mostram diminuição moderada da capacidade pulmonar total e da difusão de monóxido de carbono (DLCO). A tomografia computadoriza de alta resolução pode demonstrar alterações em até 70% dos pacientes com LES. Opacidade em vidro fosco difuso é o achado tomográfico mais freqüente e a fibrose pulmonar é raramente evidenciada (Carmier D, Marchand-Adam S, 2010). Esta última manifestação pode ser seqüela da pneumonite lúpica aguda ou ter início insidioso ( Cheema GS, Quismorio FPM 2000). 4.5.5 Alterações subclínicas As alterações nos testes de função pulmonar são freqüentes, variam entre os estudos e independem de sintomas ou alterações radiológicas. Andonopoulos e cols. compararam 70 pacientes com LES e 70 indivíduos saudáveis, 67% dos pacientes apresentaram alterações nos testes pulmonares. Diminuição da DLCO foi o distúrbio mais observado em 31% dos casos 9 Andonopoulos AP, Constantopoulos HS, 1988). Outro estudo foi realizado por Traynos e cols. que avaliaram alterações pulmonares em 34 pacientes com LES refratário ao tratamento. Em 97% dos pacientes os exames funcionais estavam alterados e foi observada diminuição da DLCO em cerca de 80% dos pacientes. Em 79% deles observouse diminuição da capacidade vital forçada (CVF) e/ou do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1). Estes achados sugerem relação entre a gravidade da doença e o maior acometimento pulmonar (Traynor AE, Corbridge TC, 2005). Em outro estudo envolvendo pacientes na faixa etária pediátrica, porém com média de idade de 28 anos, Lilleby e cols. estudaram o cometimento pulmonar em 60 pacientes com LESJ. Em 37% dos casos havia alguma alteração nos testes de função pulmonar, a diminuição da DLCO foi observada em 26% dos pacientes, distúrbio obstrutivo em 7% e restritivoem 2%. Um aspecto relevante deste estudo foi que o tabagismo foi estatisticamente associado com redução da DCLO (Lilleby V, TM, 2006). Outros estudos, avaliando envolvimento pulmonar, incluíram uma pequena população de pacientes com LESJ. Cerveri e cols. avaliaram 15 pacientes com idade entre 13 e 21 anos e observaram que a redução de DLCO estava possivelmente relacionada à atividade da doença e que houve melhora após cerca de quatro anos de tratamento (Cerveri I, Fanfulla F, Ravelli A, 1996). Trapani e cols. estudaram 15 pacientes com LESJ no início da doença, sem queixas respiratórias, com idade entre 9 e 19 anos e encontraram alguma alteração nos exames de avaliação de função pulmonar em 40% dos pacientes, sendo que 26% apresentaram reduções significativas da CVF e DLCO. Os exames foram repetidos entre 6 e 12 meses após e não mostraram diferença significativa com o tratamento (Lilleby V, TM, 2006). 4.5.6 Síndrome do pulmão encolhido (Shrinking lung syndrome) É uma síndrome rara, pouco conhecida, com uma prevalência ainda não definida, havendo descrição de alguns relatos de casos no LESJ (Ferguson P J, Weinberger M, 2006). 41 Esta síndrome deve ser considerada nos pacientes que manifestam dispnéia, ortopnéia e dor pleurítica que piora na inspiração. A radiografia pulmonar mostra pulmões pequenos e cúpulas diafragmáticas elevadas, sem envolvimento do parênquima ou das pleuras. A tomografia confirma estes achados e pode mostrar linhas de atelectasias nos lobos inferiores resultantes da hipoventilação. As provas de função pulmonar evidenciam distúrbio ventilatório restritivo importante (Ferguson P J, Weinberger M, 2006 Carmier D, Marchand-Adam S, 2010). 36, 41 4.5.7 Hemorragia pulmonar aguda A hemorragia pulmonar aguda é uma das formas mais graves de envolvimento pulmonar com mortalidade de até 90% dos casos. É uma complicação pouco freqüente em cerca de 5% dos pacientes com LES. A prevalência no LESJ é desconhecida, com raros casos na literatura (Çiftçi E¸ Yalçinkaya F, 2004). Tosse, dispnéia, taquicardia, hipoxemia, opacidade “nova” no exame radiológico e queda aguda da hemoglobina (diminuição de 1 g/dl) são sinais e sintomas bastante sugestivos de hemorragia alveolar. A hemoptise é freqüente, raramente é maciça, mas não é obrigatória. A broncoscopia pode ou não evidenciar sangramento ativo. A presença de macrófagos com hemossiderina no lavado broncoalveolar, confirmam o diagnóstico (Beresford MW, Cleary AG, 2005). Os episódios de hemorragia aguda podem ser recorrentes, apesar da imunossupressão. Devido à gravidade dos casos e alto índice de mortalidade, a suspeição precoce, abordagem agressiva, freqüentemente com necessidade de cuidados intensivos, ventilação mecânica, imunossupressão (pulso terapia com metilprednisolona e ciclofosfamida endovenosa em doses elevadas), de antibióticos de amplo espectro, tem melhorado a sobrevida dos pacientes (Beresford MW, Cleary AG, 2005). 4.5.8 Hipertensão pulmonar (HP) É uma entidade distinta e apresenta mecanismo multifatorial. A avaliação sistemática com ecocardiograma na população lúpica evidenciou que HP neste pacientes é freqüente, sendo a segunda causa de HP nas doenças do tecido conectivo, após a esclerodermia. A HP no LES pode ser primária ou secundária. Secundária quando a origem é cardíaca (50% dos casos), pósembólica (13%) relacionada à hipoxemia na fibrose pulmonar (8%) ou associação destes três mecanismos (29%). A prevalência varia de 2 a 14% e o seguimento em cinco anos mostra aumento para 43%. A apresentação clínica é semelhante à HP de outras etiologias, porém o prognóstico é pior (45% de sobrevida em cinco anos), especialmente se estiver relacionada ao fenômeno de Raynaud (presente em 39% dos pacientes com HP). A morte está associada à falência cardíaca. É uma complicação rara na infância, porém mais grave (Beresford MW, Cleary AG, 2005). 4.5.7 Trombose autoimune (síndrome do anticorpo antifosfolípides) De acordo ao novo consenso internacional de classificação da síndrome do anticorpo antifosfolípides (SAF), esta é definida pela presença de trombose vascular (arterial, venosa ou trombose de vasos de pequeno calibre, em qualquer tecido ou órgão) ou pela presença de morbidade gestacional (um ou mais abortamentos antes de 10 semanas, com morfologia fetal normal na ultrasonografia, prematuridade antes de 34 semanas, com recém-nascido normal por eclampsia, insuficiência placentária ou três ou mais abortamentos espontâneos, inexplicáveis e consecutivos antes de 10 semanas com alterações hormonais ou anatômicas maternas), associada à positividade de um ou mais dos anticorpos antifosfolípides, em pelo menos duas ocasiões e intervalos de 12 semanas. Os anticorpos anticardiolipina isotipos IgM e IgG devem apresentar títulos moderados a altos. 47 A SAF ocorre em 48 a 75% dos pacientes com LESJ e pode modificar a expressão da doença( Avcin T, Cimaz R, Silverman ED,,2008). Tromboembolismo pulmonar pode ser uma manifestação rara do lúpus 5.0 TRATAMENTO 5.1 MEDIDAS GERAIS Como parte importante da abordagem terapêutica inicial, algumas medidas gerais são recomendadas, entre elas 1. Educação: informar ao paciente e a seus familiares sobre a doença e sua evolução, possíveis riscos e os recursos disponíveis para diagnostico e tratamento. Recomenda-se a necessidade de cumprimento das medidas estabelecidas pelo medico 2. Apoio psicológico: transmitir otimismo e motivação para o tratamento além de estimular os projetos de vida. 3. Atividade física: repouso nos períodos de atividade sistêmica da doença deve ser recomendado. (Por causa da redução da capacidade aeróbica, medidas visando à melhora do condicionamento físico devem ser estimuladas). A atividade física regular reduz risco cardiovascular e promove melhorada fadiga e da qualidade de vida. 4. Dieta: não ha evidencia cientifica de que os alimentos possam influenciar o desencadeamento ou a evolução da doença. Recomenda-se a adoção de dieta balanceada, evitando-se excessos de sal, carboidratos e lipídios. Déficit de vitamina D pode ocorrer coma fotoprotecao e o uso de antimaláricos, e também nos quadros renais. A suplementação da vitamina D deve ser considerada em todos os pacientes. 5. Proteção: contra luz solar e outras formas de irradiação ultravioleta. 6. Evitar tabagismo: alem de ser fator de risco para aterosclerose, diminui a eficácia dos antimaláricos, favorecendo a manutenção ou a pioradas lesões cutâneas. 7. Controle rigoroso dos fatores de risco cardiovascular: glicemia, hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade. 5.2. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO .O tratamento medicamentoso deve ser individualizado para cada paciente e depende dos órgãos ou dos sistemas acometidos, bem como da gravidade destes acometimentos. Diante do comprometimento de múltiplos sistemas, o tratamento devera ser orientado para o comprometimento mais grave. Quando houver manifestação que não responda a droga, pode ser necessário fazer uso concomitante de diversos medicamentos. Por exemplo, um paciente com nefrite em uso de corticosteróide e imunossupressor, mas com lesões cutâneas refratarias, pode necessitar do uso concomitante de talidomida ou dapsona. Independentemente do órgão ou do sistema afetado, o uso continuo de antimaláricos, preferencialmente do sulfato de hidroxicloroquina, e indicado com a finalidade de reduzir a atividade da doença e tentar poupar o uso de corticóides. A manutenção deste medicamento em pacientes controlados reduz a possibilidade de novo surto de atividade. Melhora do perfil lipídico e redução do risco de trombose são benefícios adicionais atribuídos ao uso de antimaláricos. Alem dos antimaláricos, os glicocorticóides são os fármacos mais utilizados no tratamento e as suas doses diárias variam de acordo com a gravidade de cada caso • Dose baixa: 0 125 mg/kg/dia; • Dose moderada: 0 125 a 0,5 mg/kg/dia; • Dose alta: 0,6 a 1 mg/kg/dia; • Dose muito alta: 1 a 2 mg/kg/dia. • Pulsoterapia com glicocorticóides: Aplicação intravenosa de metilprednisolona (15 a 20 mg/kg/dia), habitualmente por três dias consecutivos. Em virtude de vários efeitos colaterais, os glicocorticóides devem ser utilizados na menor dose efetiva para o controle da atividade da doença e com redução gradual de sua dose, assim que possível. Embora haja grande variabilidade individual na sensibilidade aos glicocorticóides, está demonstrado que o uso de glicocorticóides de longa ação, como a dexametasona, e o mais deletério, devendo ser evitado o seu uso diário. Nos pacientes que não conseguem atingir a dose de manutenção de glicocorticóides menor ou igual a 7,5 mg/dia, esta indicada a associação de outra droga para poupar glicocorticóides, alem dos antimaláricos. Entre os medicamentos com comprovada ação poupadora de glicocorticóides, destacasse também a azatioprina e o metotrexato. Os pacientes em uso de glicocorticóides necessitam de suplementação de cálcio, alem da de vitamina D. É importante o diagnostico diferencial entre atividade da doença e infecção, ressaltando a possibilidade de coexistência de ambas, assim como da presença de comorbidades. 5.3 Tratamento 5.3.1. Comprometimento cutâneo. O tratamento vai depender da extensão do acometimento dermatológico e da gravidade das manifestações extra cutâneas. Salientar que nem toda lesão cutânea e LES especifica, podendo decorrer de complicações do tratamento ou outras dermatoses concomitantes, requerendo condutas diagnosticas e terapêuticas diversas. Fotoproteção Considerando que a radiação ultravioleta B é a principal causadora de fotos sensibilidade e desencadeante das lesões cutâneas, protetores solares com FPS de, no mínimo, 15 deve ser utilizado em quantidade generosa pela manha e reaplicado mais de uma vez ao dia. O uso de bloqueadores solar de amplo espectro podem trazer beneficio adicional pela capacidade de proteção contra UV-A, em algumas lesões cutâneas, como as lesões subagudas bem como no melhor prognostico relacionado as lesões renais e trombocitopenia. Nas lesões cutâneas localizadas, esta indicada terapia tópica com corticóide nao-fluorado na face e em áreas de flexão. Em lesões mais hipertróficas, indica-se corticóide fluorado, podendo ser aplicado sob a forma oclusiva ou de infiltração. Casos refratários podem responder ao usotopico dos inibidores da calcineurina, como o tacrolimo e o pimecrolimo. Terapias sistêmicas para acometimento cutâneo Embora as lesões cutâneas agudas geralmente respondam bem ao tratamento indicado para outras manifestações do LES, na pratica clinica utilizam-se os antimaláricos para O tratamento do comprometimento cutâneo, isolado ou associado às manifestações sistêmicas. As lesões do lúpus cutâneo subagudo costumam responder bem ao uso de Antimaláricos isolados ou em combinação com a terapia tópica. Na falta de resposta em três meses, ou antes, quando a lesão for muito extensa, ou quando houver progressiva piora, pode-se associar prednisona em dose baixa a moderada por curto período. Nos pacientes que mantém lesão cutânea, pode-se associar metotrexato na dose de 10 a 20 mg/semana, azatioprina, clofazimine ou dapsona, indicada principalmente para caso de lúpus bolhoso. A talidomida pode ser indicada nos casos de lesões cutâneas refratarias, mas seu uso e proibido em mulheres férteis. O uso do micofenolato mofetil nos casos cutâneos refratários ainda e controverso. 5.3.2.Comprometimento articular A artrite habitualmente e intermitente e não erosiva, entretanto, cerca de 10% dos casos podem evoluir com poliartrite ou oligoartrite crônica. As artrites agudas, quando não acompanhadas de comprometimento sistêmico, podem ser tratadas com antiinflamatórios não hormonais, desde que não sejam contra-indicados. Caso não haja melhora, pode-se substituir ou associar prednisona em dose baixa. Nas artrites com evolução crônica ou com recidivas freqüentes, não controladas com uso de antimalárico pode se associar metotrexato. Na pratica, em pacientes que evoluem com artrite crônica, em uma ou duas articulações, não responsivos a tratamento medicamentoso antes proposto, pode-se fazer infiltração intra-articular com glicocorticóide de deposito, geralmente com boa resposta, mas não ha nenhum estudo controlado que tenha avaliado esta conduta. 5.3.3.Comprometimento hematológico Não ha estudos controlados avaliando o tratamento das anemias hemolíticas auto-imunes (AHAI). Acrescente-se a essa dificuldade a freqüente associação desta manifestação a outros comprometimentos graves, cujo tratamento pode dificultar a avaliação mais precisa da melhor abordagem do tratamento da AHAI. O tratamento de escolha e feito com prednisona em dose alta, ou muito alta, por 4 a 6 semanas com posterior redução, na dependência da resposta. Setenta e cinco por cento dos casos respondem satisfatoriamente a esta terapêutica. A pulso terapia com metilprednisolona deve ser indicada para casos graves, em que se requer resposta mais rápida e a manutenção e feita com prednisona por via oral em dose baixa. Nos casos refratários a corticoterapia, ou por ocasião da necessidade de altas doses de manutenção, podem-se associar imunossupressores, como a azatioprina, o micofenolato de mofetil, a ciclosporina ou o danazol. Pode ser indicada também administração de anti-CD 20, sobretudo nos casos de risco maior. A imunoglobulina intravenosa mostrou ser eficaz em pacientes com anemia hemolítica auto-imune, podendo ser indicada em casos muito específicos, como os que têm contra-indicação ou toxicidade com outras terapias. Em relação à leucopenias, o tratamento com prednisona deve ser instituído quando a contagem de leucócitos for inferior a 2.000/mL. Em situações de grave neutropenia pode ser prescrito pulso terapia com metilprednisolona associada a fatorestimulador de colônia de granulócitos. As plaquetopenias leves, contagem maior que 50 mil, geralmente não requerem tratamento especifico. A prednisona em dose alta e o tratamento de escolha para plaquetopenia sintomática. A pulso terapia com metilprednisolona pode ser utilizada para plaquetopenia grave, quando se requer resposta mais rápida, embora sua superioridade em relação ao uso de glicocorticóides oral não tenha sido confirmada. Na falta de resposta aos glicocorticóides, danazol, um esteróide androgênico com poucos efeitos virilizantes pode ser utilizado. Outras drogas que tem mostrado alguma eficácia em pequeno numero de casos com trombocitopenia refrataria são: ciclofosfamida, antimaláricos associados à prednisona, azatioprina, micofenolato de mofetil e ciclosporina. A administração de anti-CD 20 também pode ser indicada em casos graves. Imunoglobulina intravenosa pode ser indicada associada à infusão de plaquetas nas plaquetopenias graves, com risco de morte. Seu custo extremamente alto deve ser considerado. A efetividade da esplenectomia em trombocitopenia refrataria a glicocorticóides é controversa. Um relato de caso mostrou resposta favorável e persistente, no entanto, a esplenectomia só deve ser indicada depois da falha de outras terapias medicamentosas. 5.3.4.Comprometimento cardíaco Casos leves de pericardite podem apresentar resposta a antiinflamatórios não hormonais (AINH) e formas mais graves geralmente respondem a corticoterapia em doses moderadas. A pericardiocentese é indicada nos casos de tamponamento cardíaco. A corticoterapia em alta dose, oral ou em pulsos endovenosos, é necessária nas fases iniciais de miocardite. Em casos refratários, utiliza-se imunossupressores (azatioprina ou ciclofosfamida) ou gamaglobulina A endocardite de Libman-Sacks não necessita de tratamento especifico com exceção dos casos com comprometimento hemodinâmico. 5.3.5.Aterosclerose A aterosclerose assume grande importância na doença, pois contribui diretamente para a sua maior morbimortalidade. O processo e precoce e agravado pelo uso crônico de corticosteróides, hipertensão arterial, menopausa precoce e dislipidemias. As lesões endoteliais e a inflamação favorecem a formação da placa aterosclerótica. Por causa do maior risco de infarto agudo do miocárdio (7 vezes maior que a população normal, existe a necessidade de controlar os fatores de risco cardiovascular associados, como citado previamente. Os antimaláricos promovem redução do colesterol total e da LDL, alem de elevação dos níveis da HDL. As estatinas podem ser utilizadas para o controle das dislipidemias, pois também promove redução da espessura me Dio e melhora da função endotelial. 5.3.6.Comprometimento pulmonar Os antiinflamatórios não hormonais (AINH) podem ser utilizados para o tratamento de casos leves de pleurite. Os corticosteróides em doses moderadas são indicados para casos mais graves ou que não responderam ao tratamento inicial com AINH. A azatioprina pode ser utilizada em casos não responsivos. (A pleurectomia, ou a pleurodese, é indicada para casos refratários). A pneumonite aguda e a hemorragia pulmonar são manifestações raras, nas quais a pulso terapia com corticosteróides isolada ou em combinação com ciclofosfamida endovenosa/oral são preconizadas. A plasmaferese também e indicada para o tratamento da hemorragia pulmonar embora os seus resultados sejam controversos. A ciclofosfamida oral ou em pulso terapia mensal, associada ou não a corticosteróides, costuma levar a estabilização ou a melhora da doença pulmonar intersticial. Na hipertensão pulmonar, a anticoagulação oral e recomendada por causa do maior risco de trombose in situ. Os bloqueadores de canais de cálcio são indicados apenas para aqueles que respondem ao teste de vasorreatividade aguda durante o cateterismo. Novas drogas vasoativas, como os análogos da prostaciclina (epoprostenol, treprostinil), o bosentan (antagonista dos receptores da endotelina) e o sildenafil (inibidor da fosfodiesterase 5), podem ser consideradas como opção terapêutica. Uma pequena porcentagem dos pacientes apresenta melhora da hipertensão pulmonar com o uso de corticosteróides e pulso terapia com ciclofosfamida. 5.3.7.Comprometimento neuropsiquiátrico O espectro das manifestações neuropsiquiátricas e muito variável, podendo acometer os sistemas nervoso central e periférico. Em 1999, o subcomitê do Colégio Americano de Reumatologia classificou 19 síndromes neuropsiquiátricas relacionadas a doença lúpica (ANEXO 2). O tratamento das manifestações neuropsiquiátricas devera ser dirigido ao tipo de manifestação apresentada. Embora não haja estudos terapêuticos controlados, podem ser tratadas com glicocorticóides e/ou imunossupressores, preferencialmente a ciclofosfamida, em doses que variam de acordo com a gravidade. Nos casos de doenças cerebrovasculares, em decorrência de fenômenos tromboembólicos, muitas vezes relacionados aos anticorpos antifosfolípides, o uso de anticoagulantes esta indicado. Para o tratamento das convulsões podem ser prescritos anticonvulsivantes, assim como na psicose os anti psicóticos podem ser bons coadjuvantes. A mononeuropatia e a polineuropatia periférica geralmente responde ao esquema de corticosteróides e / ou imunossupressores). A neuropatia craniana ocorre, em geral, em doença ativa, e transitória e responde ao tratamento convencional com glicocorticóides em altas doses. A mielopatia deve ser tratada com pulso terapia de corticosteróides associada à ciclofosfamida endovenosa. Nos casos com comprometimento neurológico grave não responsivos as medidas anteriormente citadas, pode-se indicar imunoglobulina endovenosa ou plasmaferese, embora os resultados sejam controversos. O rituximabe (anti-CD-20) pode também ser uma opção para os casos refratários. 5.3.8.Comprometimento renal Os principais objetivos do tratamento da nefropatia são controlar a atividade inflamatória e prevenir a evolução para a insuficiência renal crônica. Os parâmetros utilizados para avaliar o envolvimento renal e o monitoramento da terapêutica são: • clínico: edema, oligúria e hipertensão arterial; em número significativo de casos pode ser assintomática; • laboratorial: exame do sedimento urinário, proteinúria de 24 horas, creatinina e albumina sérica, depuração de creatina, C3 e anti-dsDNA; • biópsia renal: e recomendável sua realização em pacientes com envolvimento renal, caracterizado por sedimento urinário anormal (cilindrúria) e/ou proteinuria maior que 0,5 g/24 horas e/ou alteração da função renal, excluindo-se sua indicação na nefropatia crônica terminal. Este procedimento poderá melhor orientar o tratamento e o prognostico, devendo ser realizados por profissionais experientes e habilitados. O padrão histológico de glomerulonefrite lúpica deve seguir as novas definições recentemente revisadas pelas sociedades internacionais de nefrologia e patologia (ANEXO 10-ISDKC e OMS). Critérios de resposta à terapia Recentemente, o Colégio Americano de Reumatologia publicou recomendações mínimas para avaliar a resposta terapêutica na nefrite lúpica. Variáveis clínicas (idade, raça, sexo, tempo de doença, comorbidades etc.), laboratoriais (clearence de creatinina, proteinúria, sedimento urinário etc.) e padrão histológico (classificação da ISN/RPS 2004) devem fazer parte da interpretação de resposta terapêutica na nefrite lúpica. Essa avaliação deve ser feita apos o período mínimo de seis meses e permite melhor interpretação apos um ano, mas, idealmente, deve ser considerados apos cinco anos. Medidas gerais na nefropatia 1. Controle rigoroso da hipertensão arterial, estando também indicados os agentes inibidores da angiotensina, tendo em vista seus efeitos antiproteinúricos e renoprotetores, exceto quando ocorrer disfunção renal aguda. 2. Controle da obesidade, dislipidemia e restrição ao uso de antiinflamatórios não esteróides e outras drogas potencialmente nefrotoxicas. Medidas medicamentosas 1. Para os pacientes com glomerulonefrite proliferativas, o glicocorticóide em altas doses e a droga de escolha para a doença ativa pelo período de 6 a 8 semanas, seguindo-se sua redução progressiva. A pulso terapia com metilprednisolona esta indicada para os casos mais graves, com disfunção renal aguda. 2. Nas nefrites proliferativas esta indicada uma fase de indução com agentes imunossupressores citostáticos (nos primeiros 6 meses), particularmente a ciclofosfamida endovenosa, inicialmente sob a forma de pulsos mensais e, posteriormente, bimestrais ou trimestrais (fase de manutenção), ate um ano após a remissão da nefrite. A despeito de algumas controvérsias, ate o momento, a ciclofosfamida e considerada a terapia mais efetiva para o tratamento inicial de nefrite lúpica grave, entretanto, como esta não e capaz de controlar todos os casos e em razão de sua toxicidade, novos esquemas terapêuticos devem ser avaliados. Estudos de metanálise evidenciaram a superioridade do uso associado de imunossupressores na preservação da função renal e na sobrevida dos pacientes com nefrite lúpica, quando comparado ao uso isolado de glicocorticosteroides, sem que se comprovasse superioridade de um imunossupressor sobre o outro. Em casos selecionados, pode-se utilizar o micofenolato mofetil e o esquema sequen cial de dose baixa de ciclofosfamida e azatioprina. Na terapia de manutenção, na tentativa de diminuir os efeitos colaterais decorrentes do uso prolongado de ciclofosfamida, pode-se utilizar azatioprina ou micofenolato mofetil, após a indução da remissão da nefrite lúpica. A opção de indução somente com micofenolato mofetil necessita maiores estudos. Recentes publicações mostram controvérsias, inclusive com respostas diferentes dependendo da raça do paciente 3. Nos pacientes com nefrite membranosa pura, o tratamento e controverso. Podem ser utilizados glicocorticóides e/ou agentes imunossupressores, na dependência do quadro de síndrome nefrótica. Entre os imunossupressores podem ser indicados a ciclofosfamida oral, a ciclosporina, a azatioprina e o micofenolato mofetil. 4. Recentemente, vários estudos com agentes biológicos vêm sendo realizados com resultados promissores. Destacam-se como potenciais drogas para o tratamento da nefrite lúpica o rituximabe, o epratuzumabe, o belimumabe, o abetimo e o atacicepte. 5. Na situação de evolução para a perda cronicamente evolutiva da função renal, com depuração de creatinina menor que 30 mL/min, não esta indicada a terapia imunossupressora, com glicocorticóides ou citostáticos, exceto para o tratamento de manifestações extra-renais. 6. A terapêutica substitutiva renal poderá incluir a utilização de métodos dialíticos e o transplante renal. A indicação deste ultima procedimento devera obedecer a prazo não inferior a um ano de remissão da atividade da doença. 5.3.9 Comprometimento na Gestação Fertilidade e contracepção A fertilidade no lúpus e normal e a gravidez, embora não contra-indicada, deve ser planejada. Considerar atividade, gravidade da doença e toxicidade das drogas. A gravidez e desaconselhada quando houver atividade de doença, especialmente na vigência de nefropatia. Gestações não planejadas devem ser evitadas com método contraceptivo efetivo. Anticoncepcionais orais de baixa dosagem de estrógenos,quando indicados, não têm mostrado indução de atividade significativa da doença, porem é contra-indicado na presença de anticorpos antifosfolípides em virtude do risco aumentado de tromboses. Monitoramento O monitoramento das pacientes com LES deve ser individualizado e a gestação considerada de alto risco, necessitando acompanhamento multidisciplinar, ate o puerpério, por causa da possibilidade de exacerbação da doença. Na gravidez, podem ocorrer eritemas palmar e facial, artralgias e elevação da VHS, dificultando a caracterização da atividade da doença. A presença do antidsDNA e/ou elevação dos seus títulos e consumo do complemento podem auxiliar na diferenciação entre atividade de doença e pré-eclampsia. Pacientes com anticorpos antifosfolípides tem risco maior de pré-eclampsia, perdas fetais, prematuridade e retardo no crescimento fetal. E importante a pesquisa dos anticorpos antifosfolípides, anti-Ro/SSA e anti-La/SSB em virtude da possibilidade da ocorrência da síndrome antifosfolípide e do lúpus neonatal, respectivamente. Existe maior incidência de retardo de crescimento intrauterino, prematuridade, hipertensão induzida pela gravidez e diabetes. Terapia medicamentosa na gestação e amamentação A prednisona, a hidroxicloroquina e a acido acetilsalicílico em baixas doses podem ser utilizadas na gravidez. Quando inevitável o uso de imunossupressores, a opção e a azatioprina. A ciclofosfamida, o micofenolato mofetil, o metotrexato e a leflunomide não devem ser usados. Nas gestantes com anticorpos antifosfolipides sem caracterizar a síndrome antifosfolípide utiliza-se ácido acetilsalicílico 100 mg/dia. Na amamentação, doses de glicocorticóides superiores a 20 mg/dia de prednisona podem determinar riscos para a criança, sendo recomendado intervalo de 4 horas entre a tomada da medicação e a amamentação. 5.3.10.Síndrome antifosfolípide Pacientes com lúpus e anticorpos antifosfolípides com títulos moderados a altos, sem historia de tromboses, podem usar acido acetilsalicílico 100 mg/dia por tempo indefinido. A associação com a hidroxicloroquina pode contribuir para a prevenção da trombose. Nas gestantes, nas mesmas condições e sem perdas fetais pregressas, a conduta deve ser a mesma. Nas pacientes com morbidade gestacional previa, deve-se associar a heparina profilática durante toda a gestação. Outros fatores de risco para tromboses devem ser rigorosamente controlados (anticoncepcionais, hiperlipidemia, HAS, diabetes, fumo, sedentarismo etc.). Nos pacientes com lúpus e trombose(s) previa(s), a anticoagulação oral deve ser feita por tempo indefinido. Nos casos de gestação, essa anticoagulação deve ser feita com heparina fracionada ou de baixo peso molecular. As únicas indicações de corticosteróides na SAF são na plaquetopenia grave e na síndrome catastrófica. Nesta ultima, gamaglobulinas EV e plasmaferese podem ser úteis. Anticoncepção e terapia de reposição hormonal A anticoncepção pode ser feita com progesterona e métodos de barreira ou com associação de ambos. Os progestágenos podem ser utilizados, uma vez que não induzem piora da doença. Os usos de anticoncepcionais orais com estrógenos em baixas doses e a terapia de reposição hormonal não promoveram aumento significativo do risco de exacerbações leves / moderadas. Para minimizar riscos, recomenda-se que estas terapias possam ser utilizadas em pacientes com doença inativa e sem passado de doença grave, e na ausência de anticorpos antifosfolípides, trombose prévia, tabagismo e hipertensão arterial. 5.4.Vacinação As vacinas contra pneumococo e influenza são seguras e tem eficácia semelhante a da população normal. Entretanto, não devem ser administradas nos períodos de atividade da doença, no uso de quaisquer imunossupressores e nos pacientes em uso de prednisona em dose superior a 20 MG/dia. Nestas condições, a vacina contra hepatite B parece ser segura e eficaz. As vacinas com vírus vivos não devem ser prescritas a pacientes com LES. 5.5.Instrumentos da Avaliação O acompanhamento do tratamento dos pacientes com lúpus pode ser fundamentado em instrumentos que sejam capazes de medir, de maneira objetiva, a atividade inflamatória da doença (SLEDAI–ANEXO 11 e SLEDAI -2K), bem como a sua seqüela (SLICC-ACR-). Medidas objetivas de atividade de doença e dano são utilizadas primariamente em ensaios clínicos e estudos observacionais, no entanto, podem ser utilizados na pratica clinica. O principal índice de atividade atualmente utilizado no LES e o SLEDAI (Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index): composto por 24 itens incluindo sinais, sintomas e testes laboratoriais, cada qual recebendo um peso (variando de 1 a 8), de acordo com sua importância ou gravidade. A sua soma resulta escore final, que quanto mais alto maior o grau de atividade (Maximo 105). Uma modificação deste índice sem a inclusão dos testes laboratoriais e o SLEDAI-2 K. Em estudos com pacientes brasileiros com LES juvenil, mostrou boa aplicabilidade. A constatação de lesão irreversível ou seqüela decorrente da doença pode ser medida por meio do SLICC/ACR DAMAGE INDEX (SLICC/ACR: Systemic Lúpus International Colaborating Clinics/ American College of Rheumatology- ANEXO12). O índice de dano pode ficar estável ou aumentar com o decorrer do tempo e possui pontuação máxima de 47 pontos. 6 RELATOS DE CASO Anamnese: Identificação: GSF, sexo feminino, 9 anos, 20 quilos, parda, estudante, natural e procedente do Povoado Taboa, zona rural, Rio Real (BA). Queixa Principal: Febre, tosse e cansaço há 3 dias. História da Doença Atual: Há três dias iniciou quadro de tosse produtiva, febre alta (40ºC), dispnéia e recusa alimentar. A genitora administrou medicação antitérmica (dipirona) mas a melhora foi pouco significativa. Na manhã seguinte procurou atendimento médico no hospital de Rio Real onde inicialmente foi internada e diagnosticada como Pneumonia extensa. No segundo dia da internação, por aumento do desconforto respiratório e dor torácica, foi transferida para o hospital infantil José Machado de Souza, Aracaju/Se. História Patológica Pregressa colhida no Hospital Infantil José Machado de Souza: Manchas avermelhadas predominantemente na face há um pouco mais de cinco meses, dor nos membros há aproximadamente 3 meses, perda de peso progressiva desde então, palidez há um mês. Já foi internada outras vezes com cansaço. Vacinação: A mãe não soube informar sobre o estado vacinal da criança e não havia trazido o cartão de vacinação. História Fisiológica e Social: Moradores de área rural próximo a riacho, dieta predominantemente com vegetais (frutas, legumes e verduras) e eventualmente carnes branca e vermelha. 6.1Evolução e Condutas: 1º dia de internação (11/01/12) Solicitados exames para a paciente: hemograma, glicemia, VHS, eletrólitos, uréia, creatinina, TGO, TGP, radiografia de tórax e EAS. Solicitado parecer da cardiologia pediátrica do Hospital. Pela cardiologia pediátrica foi observado o estado geral muito comprometido da paciente e foi realizado um ECG onde se detectou taquicardia sinusal. Mantido Penicilina Cristalina iniciada no hospital de Rio Real. 2º dia de internação (12/01/2012): a criança permanecia febril, dispnéica, já em uso de Máscara de Ventury 50%. Foi chamado o Cirurgião Torácico para avaliar os resultados das radiografias de tórax. Além da avaliação radiológica o Cirurgião realizou punção torácica com retirada de 20 ml de líquido tipo empiema. A criança foi conduzida ao centro cirúrgico sendo realizado toracostomia no 8º espaço intercostal direito com retirada de 800 ml de líquido espesso francamente purulento. Introduzido dreno tubular e fixado com fio algodão 0. Feito curativo oclusivo. Substituído esquema antibiótico de Penicilina Cristalina para Ceftriaxona e Oxacilina. Recebeu concentrado de Hemácias. Monitorização Cardíaca e Oximetria de pulso. 3º dia de internação (13/01/2012): relato de dois picos febris e queixa de artralgia intensa. Mantido esquema antibiótico e iniciado cetoprofeno. Iniciado antiparasitário. Levantada suspeita de micose pulmonar. 4º dia de internação (14/01/2012): persistência do quadro febril e artralgia (membros superiores e inferiores). Piora significativa da dispnéia mesmo em uso de Máscara de Ventury 50%. Mantido esquema terapêutico associando morfina. Permeabilizado acesso venoso central através da dissecção da veia jugular externa esquerda (em virtude da plaquetopenia) Agitação, queda brusca de saturação, insuficiência respiratória, sendo necessário entubação traqueal e ventilação mecânica à noite. Iniciado sedação contínua, droga vasoativa e bicarbonato. Mantido esquema antibiótico. Radiografia de tórax com infiltrado pulmonar bilateral-SARA. Solicitado vaga na UCI Ped. Solicitados exames de controle e avaliação da Reumatologia. Hematúria macroscópica. 5º dia de internação (15/01/2012): mantendo quadro clínico gravíssimo, internada na área vermelha do Pronto Socorro e sem vaga disponível na UCI Ped. Avaliada pela Reumatologia pediátrica que solicitou exames para a confirmação do diagnóstico de LESJ (FAN, Anti-DNA, Anti-coaglutinante lúpico, Anti-cardiolipina IgM e IgE, VDRL, proteinúria de 24 horas, Urina II, Coombs direto. Tratamento imediato com pulso de corticoterapia por três dias e após, dose de manutenção de solumedrol associado com Azatiaprina, por via enteral ( SNG). Recebeu neste mesmo dia concentrado de plaquetas e plasma. Durante a noite apresentou queda brusca da saturação e desconforto respiratório (em uso de VPM). Chamado cirurgião geral que realizou drenagem pleural( introduzindo um segundo dreno), com melhora as saturação. 6º dia de internação (16/10/2012): apresentou vários picos febris durante as últimas 24 horas. Trocado Ceftriaxona por Cefepime e mantido Oxacilina. Mantido sedação e analgesia. Mantido drogas vasoativas.Recebeu novo concentrado de Plasma fresco e de hemácias.Solicitado nova avaliação da Cirurgia Torácica que pediu nova radiografia de tórax e manteve conduta do cirurgião geral, observou melhora radiológica e clareamento da secreção no primeiro dreno torácico (colocado em 12/01) .7º dia de internação (17/10/2012): segundo dia hoje da pulsoterapia com Metilprednisolona (900mg/dia). Observado vasculite em membros. Criança muito grave, mas sem febre nas últimas 18 horas. Solicitado exames laboratoriais de controle. Mantido esquema antibiótico (D1 Cefepime e D6 de Oxacilina). Recebeu hemocomponente ( plasma fresco).Transferida à tarde para a UCI Ped.Hipertensão Arterial noturna (∆PA149 / 98 – 162 / 104 mmHg) 8º dia de internação (18/10/2012): o paciente manteve-se gravíssima e evoluiu para ascite, sendo observado também rebaixamento dos níveis de consciência. Manteve crises hipertensivas (∆PA 131/84 – 175/102 mmHg). A equipe da UCI Ped solicitou novos exames (ECG, Ultrasonografia de abdome, bioquímica, eletrólitos, glicemia, função renal e hepática e TC de Crânio). Mantido esquema terapêutico inclusive drogas vasoativas e analgesia. Solicitado parecer da Infectologia e Nefrologia pediátrica. 9º dia de internação (19/10/2012): não houve registro de picos febris durante as últimas 36 horas e também não foi observado piora do padrão radiológico, os parâmetros ventilatórios chegaram a ser reduzidos de acordo com as Gasometrias Arteriais colhidas, mas o estado geral da paciente se deteriorava continuamente com aumento da anasarca e da pressão arterial (∆PA 131/93 – 161/104 mmHg). Foi mantido pela Infectologia a cefalosporina ( Cefepime D3) e substituído o betalactamico ( Oxacilina D7) por Glicopeptídico Teicoplamina.O Nefropediatra introduziu um anti-hipertensivo inibidor da ECA(Captopril, 2mg/kg/dia). Demais medicamentos mantidos. Foi solicitado pelo médico diarista da UCI avaliação da Cirurgia Torácica para avaliar 1 dos drenos torácicos que se apresentava “borbulhando” e extravasamento de líquido pleural. Foi realizado Ecocárdiodopplergrafia. 10º dia de internação (20/10/2012): Os últimos exames revelaram alterações muito significativas de uréia e creatinina; picos hipertensivos severos foram apresentados nas últimas 24 horas, não foi possível administrar nenhuma medicação enteral porque a criança apresentou distensão abdominal importante sendo necessária a abertura da SNG, com a eliminação de aproximadamente 250 ml de resíduo gástrico “em borra de café”. Os níveis pressóricos se mantiveram altos durante toda a manhã (∆PA 153/98 – 174/96 mmHg); foi introduzido então Nitroprussiato de Sódio (1 mcg/kg/min) ás 12h50min horas sendo observada queda progressiva dos níveis pressóricos (PA 90 / 45 – 60 / 24 mmHg), quando a medicação foi diminuída para 0,3 mcg/kg/min e feito reposição volumétrica com Ringer Lactatol (∆ PA 67 / 30 71/54 mmHg). Suspenso sedação. A cirurgia torácica optou por manter os dois drenos torácicos. 11º dia de internação (21/10/2012): O Nitroprussiato de Sódio foi completamente suspenso e os níveis pressóricos não voltaram a se elevar (∆ PA 62/27 – 91/35 mmHg), a freqüência cardíaca entre 60 e 112 bpm, a freqüência respiratória entre 25 e 26 ipm, a saturação de oxigênio entre 90 e 99% mas a criança evoluiu com Escala de coma de Glasgow 3. Colhido gasometria arterial, corrigido bicarbonato de sódio , expansão volumétrica (20 ml/kg) de solução fisiológica 0,9%, solicitado exames laboratoriais , radiografia de tórax. A paciente evoluiu com bradicardia e queda de saturação. Realizado manobras de reanimação e ás 14h15min horas a criança foi a óbito. Exames Laboratoriais Quadro 1. Hemograma, bioquímica, função renal, hepática e eletrólitos 11/01 12/01 13/01 15/01 16/01 17/01 19/01 GV 2.84 4,63 5.01 3.69 5.16 4.32 Hemoglobina /dl) 7.4 13,1 14.0 10.2 14.2 11,6 Hematócrito(%) 20,7 35,4 37.5 28.8 40.5 34.4 VCM (fL) 73 77 75 78 HCM (pg) 26.2 28,3 27.9 27.5 CHCM (g/dl) 36.0 37,0 37.3 35.3 Plaquetas 131.000 37.000 29.000 53.000 GB 1.200 4.630 15.000 2.500 10.400 16.700 Segmentados (%) 22,9 54.3 47.5 24,5 67.0 Linfócitos (%) 20.3 5.9 7,0 12,8 11.2 Basófilos (%) 2,4 0,8 0.9 27,2 Monócitos (%) 54.4 38,4 44.3 34.9 21.0 11.9 Eosinófilos (%) 0.0 0,6 0.3 0.1 0.5 0.7 119 94 185 146 75.4 VHS (mm/h) PCR (mg/dl) Glicemia (mg/dl) 98 Uréia (mg/dl) 144 138 159 174 115 59 Cratimina (mg/dl) 1.2 1.0 1,19 1.26 0,7 0,4 TGO(U/l) 81 36 35 TGP(U/l) 31 17 Albumina 2.2 1,6 1,8 Sódio(mEq/l) 130 145 148 Pótássio(mEq/l) 4,3 4.1 5,8 4,8 4,8 4.4 Cloreto(mEq/l) 113 127 122 122 121 116 Cálcio (mEq/l) 6,93 6,93 8,6 8,33 8.52 8.45 2,2 1.9 47 33 28.5 32.6 Magnésio(mEq/l) Proteínas Totais 14 2.0 156 5,2 GGT Fosfatase Alcalina 66 Quadro 2. Exame Sumário de Urina EAS Densidade pH Elementos Anormais Sedimentoscopia Piócitos 6/campo 15/01/12 1.020 6.0 Proteínas + Bactérias: numerosas Cristais de Uratos Amorfos: numerosos 3. Eletrocardiograma Taquicardia Sinusal 4: Ecocardiodopplergrafia Anatomia cardíaca normal; função sistólica bi ventricular preservada; ausência de pericardite/derrame pericárdico. Derrame pleural à direita, 5. Ultrasonografia de Abdome Total Hepatomegalia; Vesícula Biliar espessada (reacional?); Baço e Pâncreas com volume e textura normais; Rins tópicos, anatômicos; arvore Biliar sem sinais de dilatação; Bexiga vazia, presença de Anel de Foley na sua luz. Ascite de moderado a grande volume. 7.5.RADIOLOGIA RADIOGRAFIA DE TORAX ADMISSIONAL (11/01/20120 RADIOGRAFIA DE TORAX 48 HORAS APÓS INTERNAMENTO INICIO DA ANTIBIOTICOTERAPIA COM CEFEPIME MELHORA RADIOLOGICA APÓS INICIO DA PULSOTERAPIA E COMPLEMENTAÇÃO ANTIBIOTICA (OXACILINA E CEFEPIME) 8. DISCUSSÕES SOBRE O CASO CLÍNICO O Hospital Pediátrico José Machado de Souza inaugurado no final de 2011 fica anexo ao Hospital de Urgência de Sergipe em Aracaju, Sergipe e atende crianças e adolescentes, em todas as especialidades, procedente dos 75 municípios do Estado, além de crianças procedentes dos municípios fronteiriços da Bahia e Alagoas. Em vista disto. O relato anterior buscou mostrar uma apresentação típica, de Lúpus Eritematoso Sistêmico na faixa etária pediátrica e as dificuldades comuns até o esclarecimento do diagnóstico final que, infelizmente culminou com o óbito da paciente. Na última década, o maior reconhecimento das doenças reumatológicas pediátricas vem promovendo diagnósticos e encaminhamentos mais precoces que, associado aos avanços terapêuticos permitem a melhora na sobrevivência desses pacientes. Por serem doenças graves, com períodos de recorrência e remissão, necessitam freqüentemente de internações hospitalares para controle da doença ou tratamento das infecções associadas. Óbitos em LESJ ocorrem por atividade e/ou infecção sendo que a mortalidade tanto pode ocorrer no início da doença, relacionado à atividade e infecções como tardiamente, também associado a infecções além de danos cumulativos decorrentes da própria doença ou dos medicamentos utilizados para o seu tratamento (Revista Brasileira de Pediatria, abril 2005) O caso clínico apresentado trata de uma menina de 9 anos de idade, moradora da zona rural da Bahia (Rio Real), que possivelmente apresentava doença insidiosa (5 a 6 meses de evolução), com manifestações clínicas iniciais que, no entendimento dos pais, não comprometiam as suas atividades quotidianas, embora, segundo o relato dos mesmos, tivessem levado a criança para médicos locais investigarem manchas avermelhadas na face, que evoluiu sem melhora ao uso de medicação tópica. O surgimento de dor articular, perda de peso, diminuição de apetite e astenia fez com que a criança fosse internada algumas vezes para que recebesse hidratação venosa e analgésica no seu município de origem. Com a associação de tosse freqüente, desconforto respiratório e febre a criança foi transferida para o Hospital Infantil em Aracaju (ANEXO 13 e 14). O estado geral muito comprometido, a exuberância do quadro respiratório a hipocromia das mucosas e a descompensação observada nos exames laboratoriais e de imagem apresentados no dia da admissão (11 de janeiro de 2012) fez com que nos 3 primeiros dias de internamento o tratamento fosse voltado para a reposição volemica, compensação hemodinâmica (concentrado de hemácias, plasma e plaquetas) e tratamento a infecção aguda respiratória aparentemente bacteriana (pneumococo, estafilococo ou hemófilo). Foi iniciado esquema terapêutico com ceftriaxona e oxacilina nas doses habituais substituindo a Penicilina Cristalina iniciada em Rio Real e usada no primeiro dia da admissão. Foi solicitado também parecer da cardiologia pediátrica que realizou exame Eletrocardiográfico e programou Ecocardiodopplergrafia para investigar disfunção cardíaca. No terceiro dia de internamento e, apesar do uso dos antibióticos a criança evoluiu com picos febris e queixou-se de dor articular intensa. Alguns dados da história clínica e dos exames complementares deixaram dúvidas quanto à etiologia do diagnóstico inicial (Pneumonia Adquirida na Comunidade Complicada) o que levantou a suspeita de micose pulmonar e Lúpus Juvenil. Foi então Iniciado Albendazol e solicitado a avaliação da Reumatologia Pediátrica. Apesar do uso correto da medicação a criança não mostrava melhora clínica e na evolução do quadro clínico associaram-se desordens neuropsíquicas (agitação e ansiedade) e piora do quadro respiratória sendo necessária sedação e entubação orotraqueal além de drogas vasoativas. Radiologicamente observou-se comprometimento de ambos os pulmões sendo indicada a colocação de um segundo dreno tubular no outro pulmão também acometido. Após a avaliação da Reumatologia Pediátrica foram solicitados exames complementares específicos (que serão realizados no Hospital Universitário) e os de controle, além de indicado o início imediato da pulsoterapia. A evolução com vários picos febris fez com que a Ceftriaxona fosse substituída por Cefepime e mantida a Oxacilina, já no sexto dia de internamento. Com a mudança do antibiótico e no terceiro dia da pulsoterapia a febre desapareceu, mas, o estado geral da criança se deteriorava de forma desastrosa: rebaixamento dos níveis de consciência mesmo após suspensão da sedação, disfunção renal, anasarca e hipertensão arterial. A distensão abdominal severa impediu que fossem administrados os medicamentos anti-hipertensivos e a Azatiaprina por via enteral. O óbito da paciente ocorreu no 11º da internação. A presença de infecções aumenta a morbi-mortalidade em crianças com LES, sendo a septicemia a causa mais freqüente, representando 25% a 85% dos óbitos. Apesar do bom relacionamento da equipe técnica do nosso hospital com os familiares da criança, não foi consentido a realização de necropsia, como um instrumento de grande importância para determinar eventos não esclarecidos no óbito da paciente que obteve como causa mortis o diagnóstico de Choque Séptico em decorrência de Pneumonia, tendo como causa base Lúpus Eritematoso Sistêmico Juvenil. 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS A possibilidade de muitos pacientes não serem diagnosticados, a falta de notificação dos casos reconhecidos, o desconhecimento da causa, as dificuldades diagnósticas e a impossibilidade de intervenção terapêutica específica tornam o Lúpus Eritematoso Juvenil uma doença com muitas incógnitas. O LIXO não é uma doença comum em nosso meio, embora faltem estudos de âmbito estadual que avaliem a sua prevalência e incidência. De acordo com estudos nacionais e internacionais, há certa demora até se chegar ao seu diagnóstico, pois além da sintomatologia inespecífica existe uma tendência a se pensar em outras doenças, especialmente nos estados onde estas são prevalentes. Desta forma, diante de um paciente como o descrito neste relato de caso, para o qual se pensou e iniciou a terapêutica para Pneumonia e Pancitopenia inespecífica e que não respondeu ao tratamento, seria interessante abrir o leque de hipóteses diagnósticas abrangendo entre elas o LESJ. ANEXOS ANEXO 1 E 2. CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO DO LES ANEXO 2 ANEXO 3. MANIFESTAÇÕES CLINÍCAS DO LESJ - CASUÍSTICA ANEXO 4. SOBREVIDA ATÉ 60 MESES E MAIS DE 60 MESES SOBREVIDA DE PACIENTES ATÉ 12 ANOS E MAIS DE 12 ANOS ANEXO 5. SOBREVIDA GLOBAL SOBREVIDA MENINAS X MENINOS ANEXO 6. SLICC ENTRE ETNIAS ANEXO 7. TABELA DE ÓBITOS ANEXO 8. ESPECTROS CLÍNICOS DOS AUTO-ANTICORPOS NO LES ANEXO 9. ESPECTRO DE AUTO-ANTICORPO NO LES ANEXO 10. ISDKC E OMS ANEXO 11. SLE-DISEASE ACTIVITY INDEX ANEXO 12. SLICC/ACR-MORBIDADE CUMULATIVA ANEXO 13. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DAS CRIANÇAS COM LUPUS Neison, 1997 ANEXO 14. SINAIS E SINTOMAS SUGESTIVOS DE LES ATIVO FONTE: CECIL, 1997 11. Bibliografia 1. Stichweh D, Pascual V. [Systemic lupus erythematosus in children]. An Pediatr (Barc). 2005 Oct;63(4):321-9. 2. Cooper GS, Dooley MA, Treadwell EL, St Clair EW, Parks CG, Gilkeson GS. Hormonal, environmental, and infectious risk factors for developing systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum. 1998 Oct;41(10):1714-24. 3. Hochberg MC. Updating the American College of Rheumatology revised criteria for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum. 1997 Sep;40(9):1725. 4. Ravelli A, Duarte-Salazar C, Buratti S, Reiff A, Bernstein B, MaldonadoVelazquez MR, et al. Assessment of damage in juvenile-onset systemic lupus erythematosus: a multicenter cohort study. Arthritis Rheum. 2003 Aug 15;49(4):501-7. 5. 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