Editorial Internacionalização das universidades: a necessidade de navegar em águas estrangeiras* Alessandro Wasum MarianiI, Paulo Manuel Pêgo-FernandesII, Marcos Naoyuki SamanoIII Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Universidades de todo o mundo estão cada vez mais interessadas em propagar e receber conhecimento não somente para fora de seus muros, mas também para fora de suas fronteiras. Esse fenômeno de intercâmbio entre instituições de diferentes países ficou conhecido como internacionalização e é apontado por muitos como de suma importância ao desenvolvimento pleno do ensino. A aproximação entre pesquisadores e formadores de conhecimento de diversas partes do mundo é extremamente benéfica, pois possibilita não somente a troca de experiências, servindo de ajuda mútua com economia de tempo e recursos no desenvolvimento de projetos já em andamento, mas também serve como impulso à promoção e desenvolvimento de ideias completamente novas provenientes desses encontros. Para muitos, a internacionalização das universidades é, de certa forma, uma volta às origens. Conforme colocado por Krawczyk: “É possível observar que, originalmente, no período medieval, a universidade tinha forte caráter internacional e que, como consequência da construção dos Estados nacionais modernos, sofreu um processo de nacionalização.”1 Todavia, os objetivos e os instrumentos pelos quais esse processo retoma sua importância são sensivelmente diferentes. A motivação para essa atual fase de internacionalização tem relação estreita com o conceito criado por Slaughter e Leslie e chamado de “capitalismo acadêmico”, no qual pesquisadores e administradores universitários são induzidos a participar de ambientes cada vez mais competitivos para captação de recursos de quaisquer natureza.1 A tecnologia da informação tem cumprido o papel de instrumento para reduzir as distâncias entre as instituições e as pessoas envolvidas, por meio do uso de ferramentas simples e baratas, como a troca de e-mails, ou de ferramentas mais complexas e de custo elevado, como a realização de teleconferências com diversos pontos participantes. Todavia, o contato real com a promoção de encontros ou visitas de um determinado pesquisador a outro centro ainda são fundamentais nesse processo. Esse é um cenário em que as universidades brasileiras ainda atuam discretamente. Porém, diversas são as iniciativas que denotam uma clara mudança de postura, buscando a inserção de nossas universidades no contexto internacional. Um bom exemplo é o recente fórum promovido pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) versando especificamente sobre a internacionalização. Nesse fórum foram discutidas as nuances desse processo bem como apresentadas algumas propostas para a internacionalização das universidades federais. Além dos representantes das universidades, participaram desse debate representantes do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Educação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), entre outros. Vale citar também uma importante iniciativa por parte do Governo Federal: a criação do Programa Ciências sem Fronteiras, que prevê a criação de 100 mil bolsas para intercâmbio de alunos de graduação e pós-graduação, além de recursos para atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com pesquisadores brasileiros. Não só as universidades federais trabalham para a internacionalização. Na Universidade de São Paulo (USP), a Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais (VRERI) foi instituída para intensificar, estimular e apoiar as ações de internacionalização, e é o órgão da administração que atua de forma transversal, auxiliando pró-reitorias e unidades de ensino e pesquisa nesse quesito. A USP mantém convênios firmados com mais de 50 instituições de todo o mundo. Contudo, somente neste último ano, algumas ações mereceram destaque, como a participação no programa federal Ciências sem Fronteiras, o programa de bolsas de intercâmbio para alunos de graduação e o de bolsas para alunos de universidades estrangeiras, que concederá 50 bolsas a alunos latino-americanos. Com o intuito de realizar parcerias em pesquisa de ponta, merecem destaque algumas iniciativas, como a criação da University *Este artigo foi publicado na versão em inglês no periódico São Paulo Medical Journal/Evidence for Health Care, volume 131, edição número 1, de janeiro e fevereiro de 2013. I Cirugião torácico, Instituto do Coração (InCor), Hospital das Clínicas (HC), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). II Professor associado do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) III Assistente doutor do Grupo de Transplante Pulmonar do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Diagn Tratamento. 2013;18(2):63-4 64 Internacionalização das universidades: a necessidade de navegar em águas estrangeiras Editorial Global Partnership Network (UGPN), um programa especial de colaboração entre a USP, a britânica University of Surrey e a norte-americana North Carolina State University (NCS) e novos convênios com três importantes universidades estrangeiras: a Universidade de Michigan (Estados Unidos), a Universidade de Oxford (Inglaterra) e a Universidade de Toronto (Canadá). Se a internacionalização em nosso país ainda é questão embrionária, para as principais universidades do mundo é questão estratégica, vital, que vem sendo bem explorada. O World University Rankings, promovido pela Times Higher Education, que se propõe a listar as melhores universidades de todo o mundo, analisa e pontua positivamente o grau de internacionalização das instituições avaliadas. Como exemplo, Harvard, segunda colocada em 2011-2012, possui cerca de 19% de alunos estrangeiros. Stanford, a terceira colocada em 2011-2012, tem aproximadamente 21% de alunos estrangeiros.2 Esse é um dos pontos assinalados para desempenhos mais modestos de nossas universidades em tal ranking. Importante consideração sobre a internacionalização, que pode ter impacto no Brasil, é o fato de que as universidades de fora estão prospectando material humano dentro do Brasil: Yale, Princeton e Harvard são alguns dos exemplos. Ao que tudo indica, esse interesse é recíproco: cada vez mais alunos brasileiros têm procurado oportunidades em instituições renomadas de fora do país. A Universidade de Columbia, que possui no Brasil alguns escritórios de representação para intercâmbio, entrevistava até 2007 cerca de 20 candidatos por ano; esse número saltou para 60 em 2008 e, em 2011, foram 100 candidatos entrevistados, sendo que, desses, 15 foram selecionados. Isso fez com que 10% dos calouros estrangeiros este ano na Universidade de Columbia fossem brasileiros. Em 2011, a Reitora da Universidade de Harvard veio ao Brasil na tentativa de firmar parcerias principalmente em áreas estratégicas, como o manejo do meio ambiente. Em 2012, uma delegação da American Association of State Colleges and Universities, entidade que representa mais de 400 instituições de ensino superior norte-americanas, esteve no Brasil na tentativa de ampliar parcerias com as instituições brasileiras. Como dito por José Marques dos Santos, da Universidade do Porto, a internacionalização “não é um fim só por si, mas um instrumento hoje indispensável para cumprir os objetivos estratégicos que emanam da missão de cada universidade”. Contudo, nessa internacionalização, o Brasil terá pouco benefício se não aproveitar esse processo para tentar equiparar nossos próprios polos de pesquisa aos dos maiores centros do mundo, gerando inovações e riqueza para o país. Nesse quesito, talvez um bom exemplo a ser seguido seja o da Coreia do Sul, que, em menos de meio século, tirou o país da pobreza e o levou à categoria de potência econômica. Isto só foi possível com um processo inicial de internacionalização, com a ida de muitos cientistas para os Estados Unidos e Europa e o retorno, trazendo na bagagem conhecimento e vontade de inovar. Enfim, a internacionalização está batendo à porta das universidades brasileiras. É preciso aproveitar e saber como passar por esse processo com sucesso. Traçar estratégias e aplicá-las no menor prazo possível será fundamental para o progresso de nosso país. REFERÊNCIAS 1. Krawczyk NR. As Políticas de Internacionalização das Universidades no Brasil: o caso da regionalização no Mercosul [The Policies of Internationalization of the Universities in Brazil: the Case of the Regionalization of the Mercosur]. Jornal de Políticas Educacionais. 2008;2(4):41-52. Disponível em: http://ojs. c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/jpe/article/viewFile/15027/10075. Acessado em 2012 (27 Nov). 2. The World University Rankings. World University Rankings 2011-2012. Disponível em: http://www.timeshighereducation.co.uk/world-universityrankings/2011-12/world-ranking. Acessado em 2012 (27 Nov). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Alessandro Wasum Mariani Rua Treze de Maio, 1.217— apto 31 Bela Vista — São Paulo (SP) — Brazil CEP 01327-001 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 24 de novembro de 2012 Data da última modificação: 10 de dezembro de 2012 Data de aceitação: 10 de dezembro de 2012 Diagn Tratamento. 2013;18(2):63-4 Revisão narrativa da literatura Aterosclerose: diagnóstico macroscópico nas autópsias João Fernando César Gonçalves do NascimentoI, Luiz Antônio Gil JuniorII, Carlos Augusto PasqualucciIII, Wilson Jacob FilhoIV Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) INTRODUÇÃO A aterosclerose representa o evento patológico inicial das doenças cardiovasculares. Silenciosa e insidiosa, progride lentamente, causando complicações, tais como: insuficiência vascular periférica, infarto cerebral, doenças cardíacas isquêmicas, infarto agudo do miocárdio e morte súbita. Sua característica marcante é o acúmulo progressivo de lipídeos, células inflamatórias, células musculares lisas e tecido conjuntivo na íntima das artérias de médios e grandes calibres.1-7 A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) codifica a aterosclerose e suas complicações no capítulo IX, doenças do aparelho circulatório (Tabela 1).8 Fatores de risco genéticos e ambientais influenciam fortemente o surgimento da aterosclerose nas artérias. Esses fatores podem ser classificados em modificáveis e não modificáveis. Os primeiros são representados por expressões de fenótipo passíveis de intervenção e prevenção, incluem hiperlipidemia, hipertensão arterial, tabagismo e diabetes melito. Os segundos são representados por fatores genotípicos, que representam a herança de cada ser, de difícil abordagem; são eles: envelhecimento, gênero masculino, histórico familiar e anormalidades genéticas no metabolismo das lipoproteínas.9-11 OBJETIVO Esta revisão narrativa tem a finalidade de descrever os principais aspectos macroscópicos da aterosclerose, observadas durante a realização das autópsias, permitindo o diagnóstico anatomopatológico da causa básica da morte nas doenças do aparelho cardiovascular. MÉTODO Realizamos busca sistematizada nas seguintes bases de dados: Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) via PubMed, Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online), utilizando como referência a pesquisa dos termos “Autopsy and Atherosclerosis” entre os anos de 1970 e 2012, conforme Tabela 2. Foram selecionados para discussão os artigos que descreveram aspectos macroscópicos da aterosclerose nas autópsias e outros relevantes para esse estudo, além de livros-textos. RESULTADOS Através da busca sistematizada da literatura, encontramos o total de 739 artigos nas bases de dados que tratavam do tema estudado. Destes, 23 foram selecionados como referência para o trabalho, por estarem diretamente relacionados ao contexto da revisão que propomos; dentre estes, foram escolhidos 5 artigos de revisão e 18 estudos descritivos casuísticos de autopsias que atenderam ao nosso critério de diagnóstico macroscópico da aterosclerose (Tabela 2). DISCUSSÃO O processo patogênico da aterosclerose é complexo e também controverso, a hipótese mais aceita atualmente é a reação à lesão endotelial, que tem como consequência um processo inflamatório crônico no leito vascular. A lesão endotelial pode resultar de cisalhamento pelo fluxo sanguíneo turbulento, por Tabela 1. Aterosclerose e doenças correlacionadas segundo Classificação Internacional de Doenças (CID-10) CID 10 I 63 I 21 I 60 a I62 I 63 I 70 I 70.2 I 71 a I 72 Morbidade Infarto cerebral isquêmico Infarto agudo do miocárdio Hemorragias encefálicas Infarto cerebral isquêmico Aterosclerose Aterosclerose das artérias das extremidades Aneurismas Médico, doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Médico neurocirurgião do Hospital Guilherme Álvaro de Santos. Médico do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). III Médico patologista, professor doutor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Chefe do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (SVOC). IV Professor titular da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):65-8. 66 Aterosclerose: diagnóstico macroscópico nas autópsias Tabela 2. Estratégia de busca sistematizada nas diferentes bases de dados, de 1970 a 2012 Base de dados e data da busca PubMed Lilacs SciELO Embase Estratégia de busca autopsy and atherosclerosis autopsy and atherosclerosis autopsy and atherosclerosis autopsy and atherosclerosis Resultados n Revisão 138 148 59 394 06 05 04 08 00 01 00 04 Estudos sobre autópsias 06 04 04 04 n = número de artigos selecionados como referência para o trabalho. hipertensão arterial, hipercolesterolemia, radicais livres ou hiper-homocisteinemia; esses fatores, agindo isoladamente ou em conjunto, causariam a ativação das células endoteliais com consequente aumento da permeabilidade vascular. Essa ativação do endotélio também é responsável pela aderência leucocitária.3,11 A hiperlipidemia associada ao aumento da permeabilidade vascular permite o depósito de lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) na íntima das artérias; esses terminam por ser fagocitados por macrófagos e células endoteliais. Tanto a oxidação extracelular do LDL-colesterol pela hiper-homocisteinemia, quanto a intracelular pelos macrófagos parecem representar eventos catalisadores do processo aterosclerótico. A partir da oxidação do LDL, os macrófagos são ativados, transformando-se em células espumosas, o endotélio vascular libera citosinas (interleucina 1 e fator de necrose tumoral alfa), que resulta na migração de células musculares lisas e de outras células inflamatórias (monócitos, linfócitos B e T), contribuindo cada vez mais para o processo de aterogênese.3-7,11 As células musculares lisas migraram a partir da camada média arterial, por meio da lâmina elástica, também se transformam em células espumosas por mecanismo semelhante ao que ocorre com os macrófagos. As células espumosas expostas ao fator de crescimento derivado de plaquetas e ao fator de crescimento de fibroblastos passam a produzir colágeno, elastina e proteoglicanos que envolvem o núcleo lipídico do ateroma maduro.11-13 O crescimento progressivo da placa de ateroma causa hipóxia em seu núcleo, com liberação de fatores angiogênicos que promovem neovascularização na periferia do ateroma; esses vasos neoformados são delicados e frágeis e facilmente sangram, com consequente perpetuação do processo inflamatório, deposição de mais moléculas lipoproteicas e formação de hemossiderina (produto de degradação da hemoglobina). As hemorragias no interior da placa de ateroma contribuem para seu crescimento adicional, para a sua ruptura e para o desenvolvimento de eventos trombóticos e embólicos.11-13 Os achados macroscópicos das autópsias de indivíduos portadores de aterosclerose são característicos; nesses indivíduos, a aterosclerose assume o aspecto de placas de gorduras que se apresentam como máculas e traços amarelos, alguns planos, outros pálidos ou amarelados, com protrusão para o lúmen das artérias. Quando a artéria é submetida ao corte, evidencia-se na íntima superfície esbranquiçada e no centro do ateroma, núcleo de cor amarelada. O ateroma complicado caracteriza-se pela presença de calcificações, ulcerações e hemorragias, os vasos tornam-se dilatados, tortuosos ou com dilatações aneurismáticas, esféricas ou fusiformes, que normalmente apresentam trombos em seu interior. Não é rara a presença de dissecção arterial por hematoma que infiltrou as camadas que compõem a parede da artéria (Figura 1).14-16 As artérias coronárias, de indivíduos vítimas de infarto agudo do miocárdio, quando examinadas macroscopicamente, exibem paredes endurecidas, com placas ateromatosas amareladas e por vezes calcificadas; se forem dissecadas, será evidente a presença de aterosclerose complicada com lesões obstrutivas que variam de 80% a 90% nos seus segmentos proximais e ruptura das placas com trombose oclusiva.14,17-19 As oclusões vasculares cerebrais são trombóticas ou embólicas, sendo que as primeiras são responsáveis pela maior parte dos enfartes cerebrais. Os enfartes cerebrais trombóticos são quase invariavelmente ateroscleróticos, e a maior parte ocorre nas artérias carótidas e em suas bifurcações; nas artérias lentículo-estriadas, tálamo-estriadas ou em perfurantes corticais. Quando a oclusão trombótica acontece nas artérias do sistema vértebro-basilar, instala-se infarto isquêmico no tronco cerebral, no cerebelo ou no lobo occipital, sendo suas repercussões catastróficas e frequentemente fatais. Os infartos cerebrais embólicos têm forte tendência a obstruir a artéria cerebral média; são frequentemente causados por fragmentos de placas ateroscleróticas, embora trombos arteriais ou trombos murais, do lado esquerdo do coração, também possam originar êmbolos que atinjam o encéfalo, causando infarto. Alguns êmbolos tendem a se fragmentar espontaneamente, permitindo refluxo de sangue para os vasos lesados por isquemia, ocorre extravasamento de sangue com transformação de um infarto isquêmico em hemorrágico.3,14,15 As artérias cerebrais comprometidas pela aterosclerose apresentam-se sinuosas, com paredes rígidas, exibindo ateromas amarelados e áreas hemorrágicas; no seu interior, são evidentes estenoses e trombos que ocluem parcialmente ou totalmente a luz do vaso. As artérias carótidas internas e os grandes vasos do polígono de Willis são acometidos, em especial a artéria basilar, que se torna tortuosa com dilatações fusiformes em seu trajeto (Figura 1).3,14,15,20 Diagn Tratamento. 2013;18(2):65-8. João Fernando César Gonçalves do Nascimento | Luiz Antônio Gil Junior | Carlos Augusto Pasqualucci | Wilson Jacob Filho o acontecimento inicial de uma série de eventos fisiopatológicos que têm como consequência doenças que comprometem o aparelho circulatório, atingindo preferencialmente os territórios cerebral e cardíaco. REFERÊNCIAS Figura 1. Encéfalo obtido por meio de autópsia realizada no Serviço de Verificação de Óbitos da Capital – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. As lesões amareladas correspondem a placas de aterosclerose complicada; observe a presença de área hemorrágica na artéria basilar. A aterosclerose avançada resulta em comprometimento de vários órgãos, causando moléstias graves, com morbidade e mortalidade expressivas, principalmente nos países ocidentais, onde se destaca em relação a outras doenças. Ela pode ser causa de morte súbita por arritmia cardíaca; nesses casos, costuma ser a primeira manifestação da aterosclerose coronariana grave, que complica com a ruptura da placa de ateroma ou com trombose.3,21 Estudos têm demonstrado a presença de aterosclerose nas autópsias como evento desencadeante dos processos mórbidos que causaram a morte. Descrevem a presença macroscópica da aterosclerose complicada com frequência que varia de 63,7% a 77,9% dos casos de morte de causa cardiovascular e cerebrovascular; estando intimamente relacionada à morte súbita.21-26 As doenças do aparelho circulatório codificadas no CID 10 como infarto cerebral isquêmico (CID 10: I63), hemorragias encefálicas (CID 10: I60 a I62), infarto agudo do miocárdio (CID 10: I21), arteropatias das extremidades (CID: I70.2), aneurisma de aorta (CID 10: I71) e as cardiopatias isquêmicas (CID 10: I42 a I43) constituem doenças com origem fisiopatológica comum: a aterosclerose (CID 10: I70); sendo identificadas como importantes causas de óbito em indivíduos submetidos a autópsia. CONCLUSÃO A descrição das características anatomopatológicas da aterosclerose apresentadas neste trabalho referem-se ao encontro macroscópico dessa lesão durante as autópsias; sua identificação é objetiva e bem definida, representando achado que caracteriza Diagn Tratamento. 2013;18(2):65-8. 1. Alencar YMG, Carvalho Filho ET, Paschoal SMP, et al. Fatores de risco para aterosclerose em uma população idosa ambulatorial na cidade de São Paulo [Risk factors for atherosclerosis in an elderly out patient population in the city of São Paulo]. Arq Bras Cardiol. 2000;74(3):181-96. 2. Reis LM, Cordeiro JA, Cury PM. Análise da prevalência de morte súbita e os fatores de riscos associados: estudo de 2.056 pacientes submetidos a necropsia [Sudden death prevalence analysis and associated risk factors: study with 2056 patients submitted to necropsy]. J Bras Patol Med Lab. 2006;42(4):299-303. 3. Filho GB. Bogliolo: patologia. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. 4. Cortez J. Aterosclerose. 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La lesión aterosclerótica en la muerte súbita cardíaca [The atherosclerotic lesions in the sudden cardiac death]. Rev Habanera Cienc Méd. 2010; 9(3):303-12. 22. Grazillo CL, Benvenuti LA. Caso 2/2007: homem de 49 anos de idade, com insuficiência cardíaca após infarto do miocárdio [Case 2/2007: heart failure in a 49 year-old male with myocardial infarction]. Arq Bras Cardiol. 2007;88(3):361-6. 23. Chiquete E, Valle-Rojas D, Rodríguez-Saldaña J, et al. Carotid and intracranial atherosclerosis in a pediatric population: An autopsy study. Revista Mexicana de Neurociencia. 2012;13(2):93-7. 24. Chacón M, Gazitúa R, Puebla C. [Clinical correlation between the premortem study and autopsy]. Rev Med Chil. 1997;125(10):1173-6. 25. Suchil Bernal L, Osornio Vargas AR. [Cardiovascular pathology and the partial autopsy. The experience at the Instituto Nacional de Cardiología Ignacio Chávez of Mexico]. Rev Esp Cardiol. 1991;44(10):634-8. 26. Gonçalves JFCN, Gil Junior LA, Pasqualucci CA, Jacob Filho W. Aspectos necrológicos do envelhecimento. Diagn tratamento. 2012;17(1):5-8. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: João Fernando César Gonçalves do Nascimento Departamento de Patologia Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Av. Dr. Arnaldo, 455 Cerqueira César (SP) CEP 01246-903 Tel. (11) 3061-7000 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 26 de setembro de 2012 Data da última modificação: 22 de outubro de 2012 Data de aceitação: 18 de janeiro de 2013 PALAVRAS-CHAVES: Doença crônica. Autopsia. Causas de morte. Aterosclerose. Doença das coronárias. RESUMO O diagnóstico macroscópico da aterosclerose nas autópsias é essencial; por ser um processo inflamatório crônico do leito arterial, tem graves consequências para o aparelho circulatório, tendo como resultado o infarto cerebral isquêmico, hemorragias encefálicas, infarto agudo do miocárdio, arteropatias, aneurismas, cardiopatias isquêmicas e morte súbita. Fatores de risco genéticos e ambientais influenciam fortemente seu surgimento. Seu diagnóstico macroscópico durante as autópsias é condição sine qua non para entender a sequência de eventos fisiopatológicos que levaram ao óbito, permitindo a identificação da causa mortis. Diagn Tratamento. 2013;18(2):65-8. Dermatologia Tumor triquilemal proliferante Juliana Polizel OcanhaI, Mariângela Esther Alencar MarquesII, Hamilton Ometto StolfIII Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), Faculdade de Medicina de Botucatu, São Paulo INTRODUÇÃO O tumor triquilemal proliferativo é enfermidade pouco comum que se desenvolve a partir de lesões císticas foliculares. Ocorre em mais de 90% dos casos no couro cabeludo e em 84% dos casos em mulheres idosas.1 Muitos fatores envolvidos na fisiopatogenia têm sido aventados, como eventos traumáticos, inflamatórios e infecções virais.2,3 Caracteriza-se clinicamente por nódulo ou tumoração que pode alcançar grandes proporções, de consistência cística, geralmente no couro cabeludo. Como a lesão é pouco diagnosticada, a história pode ser bastante insidiosa, por se pensar em cisto pilar simples. O diagnóstico definitivo é realizado por exame anatomopatológico. Ainda há discussão se seria uma variante do carcinoma espinocelular ou uma lesão precursora deste.4 Existem relatos de comportamento local agressivo, com recorrências e até metástases. O tratamento é a completa excisão cirúrgica, radioterapia e quimioterapia nos casos agressivos. RELATO DE CASO Paciente de 93 anos, do sexo feminino, procedente do interior de São Paulo, com fototipo seis, que apresentava há seis anos, nódulo em couro cabeludo após trauma. Em abril de 2012 evoluiu com sinais inflamatórios locais (eritema e dor), que a levaram a procurar o serviço, onde foi tratada clinicamente. Ao exame dermatológico havia tumoração cística de três centímetros em região de sutura interparietal, hiperpigmentada, encimada por hiperceratose (Figura 1). Realizada biópsia incisional, na qual se obteve diagnóstico de tumor triquilemal proliferante. Foi realizada exérese em gota da lesão resultando em margens livres confirmadas por exame anatomopatológico (Figura 2). O exame da peça demonstrou lesão dérmica bem delimitada, constituída por blocos de células escamosas com frequente queratinização de padrão triquilemal, ou seja, com ausência da camada granulosa. Atipias celulares discretas, presença de queratinócitos apoptóticos e algumas figuras de mitoses (Figuras 3, 4 e 5). Realizado enxerto local, com curativo de Brown, com bom resultado. A paciente continuará a ser acompanhada no ambulatório a longo prazo. DISCUSSÃO O tumor triquilemal proliferativo é enfermidade rara, conforme se verifica em revisão da literatura (Tabela 1). Ocorre em Figura 1. Aspecto clínico da lesão após antibioticoterapia. Tabela 1. Resultados da busca sistematizada em bases de dados com os descritores em saúde (DeCS) e Medical Subheadings (MeSH) realizada em 4 de março de 2013 Base de dados PubMed Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saude) Embase (Excerpta Medica Database) Estratégia de busca (Proliferating trichilemmal tumour) OR (Proliferating trichilemmal tumours) (Proliferating trichilemmal tumour) OR (Proliferating trichilemmal tumours) OR (Tumor triquilemal proliferante) Proliferating trichilemmal tumour Residente de segundo ano da Disciplina de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Professora adjunta do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp). Professor assistente doutor do Departamento de Dermatologia e Radioterapia, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp). I II III Diagn Tratamento. 2013;18(2):69-71. Artigos obtidos 143 Artigos relacionados 10 0 0 0 0 70 Tumor triquilemal proliferante Figura 2. Aspecto da lesão no sétimo dia de pós-operatório de exérese e enxertia, após retirada de curativo de Brown. Figura 4. Exame anatomopatológico com coloração por hematoxilina-eosina, mostrando queratinização abrupta, em menor aumento (100 x). Figura 3. Exame anatomopatológico com coloração por hematoxilina-eosina, mostrando lesão delimitada, com blocos de células escamosas, no menor aumento (100 x). Figura 5. Exame anatomopatológico com coloração por hematoxilina-eosina, demonstrando presença de pérolas córneas, em maior aumento (200 x). mais de 90% dos casos no couro cabeludo e em 84% dos casos em mulheres idosas.1,2 O caso apresentado se encaixa dentro do perfil habitual de manifestação da doença. Ainda há discussão se o tumor triquilemal proliferante seria uma variante do carcinoma espinocelular ou uma lesão precursora em evolução a este.3 Houve um estudo que aferiu a atividade de p53 e p27kip1 comparativamente entre o cisto triquilemal, o tumor triquilemal proliferante (proliferating trichilemmal tumor, PTT) e carcinoma espinocelular com diferenciação triquilemal (squamous cell carcinoma, SCC), demostrando que não houve diferença em relação à expressão de p53 entre PTT e SCC, sendo quase nula no cisto triquilemal. Isso reforça a ideia de o PTT ser um carcinoma, porém, a expressão de p27kip1 é muito maior no PTT em relação ao SCC, e esta proteína está relacionada a um efeito regulatório do ciclo celular, o que o classificaria como uma neoplasia de grau intermediário em relação à malignidade.4 Eventos traumáticos poderiam ser fatores contribuintes em sua fisiopatogenia, bem como alguns vírus, como HPV (papiloma vírus humano), mas essa relação causal ainda não é muito estabelecida.5,6 A confirmação do diagnóstico se faz por meio de exame anatomopatológico. Caracteriza-se por proliferação de células escamosas, com citoplasma eosinofílico abundante e queratinização abrupta, que exclui a camada granulosa, formando queratina densa e homogeneizada que preenche os espaços císticos. Pode haver áreas de queratinização epidermoide com formação de pérolas córneas. Não há infiltração do estroma adjacente, o que ajuda na diferenciação do carcinoma espinocelular. Há relatos de comportamento local agressivo, com recidivas e até metástases.7,8 Em estudo com 94 casos de tumor triquilemal proliferante, houve relato de recidivas em torno de 1% e de transformação maligna e metástase linfonodal por Diagn Tratamento. 2013;18(2):69-71. Juliana Polizel Ocanha | Mariângela Esther Alencar Marques | Hamilton Ometto Stolf volta de 10%, porém, sem metástases a distância.1 Outro estudo tentou correlacionar alterações anatomopatológicas com comportamento biológico, e mostrou que, aparentemente, o acometimento fora do couro cabeludo, o crescimento rápido, o tamanho maior que cinco centímetros e as atipias estariam relacionadas a pior prognóstico.9 O tratamento é a completa excisão cirúrgica, e radioterapia e quimioterapia nos casos agressivos. No presente relato, optamos por excisão cirúrgica e autoenxertia, com bom resultado. O acompanhamento a longo prazo impera pela possibilidade de doença metastática. CONCLUSÃO Essa neoplasia de células escamosas aparentemente tem comportamento intermediário, em relação à malignidade, e necessita acompanhamento a longo prazo. Há alguns fatores preditores prognósticos no exame anatomopatológico que devem ser considerados, como o índice de mitose e o grau de atipia. Ainda há necessidade de mais estudos para identificar o porquê de alguns tumores terem comportamento indolente e outros, mais agressivo. REFERÊNCIAS 1. Sau P, Graham JH, Helwig EB. Proliferating epithelial cysts. Clinicopathological analysis of 96 cases. J Cutan Pathol. 1995;22(5):394-406. 2. Rao S, Ramakrishanan R, Kamakshi D, et al. Malignant proliferating trichilemmal tumour presenting early in life: an uncommon feature. J Cutan Aesthet Surg. 2011;4(1):51-5. 3. Mones JM, Ackerman AB. Proliferating trichilemmal cyst is squamous cell carcinoma. Dermatopathology: Practical & Conceptual 1998;4:295310. Disponivel em: https://derm101.com/indexDPC. Acessado em 2013 (21 mar). 4. Fernández-Figueras MT, Casalots A, Puig L, et al. Proliferating trichilemmal tumour: p53 immunoreactivity in association with p27Kip1 overexpression indicates a low-grade carcinoma profile. Histopathology. 2001;38(5):454-7. 5. Motegi S, Tamura A, Endo Y, et al. Malignant proliferating trichilemmal tumour associated with human papillomavirus type 21 in epidermodysplasia verruciformis. Br J Dermatol. 2003;148(1):180-2. 6. Erdem H, Yildirim U, Uzunlar AK, et al. Posttraumatic giant proliferating trichilemmal cysts on the parietal region of the scalp. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2011;77(6):707-9. 7. López-Rios F, Rodríguez-Peralto JL, Aguilar A, Hernández L, Gallego M. Proliferating trichelemmal cyst with focal invasion: report of a case and a review of the literature. Am J Dermatopathol. 2000;22(2):183-7. 8. Jung J, Cho SB, Yun M, Lee KH, Chung KY. Metastatic malignant proliferating trichilemmal tumor detected by positron emission tomography. Dermatol Surg. 2003;29(8):872-4. 9. Folpe AL, Reisenauer AK, Mentzel T, Rütten A, Solomon AR. Proliferating trichilemmal tumors: clinicopathologic evaluation is a guide to biologic behavior. J Cutan Pathol. 2003;30(8):492-8. AGRADECIMENTOS Fabiana Lustosa Barros, Érica Cristina Vieira e Viviany Menossi do Amaral pela participação na cirurgia e na análise anatomopatológica INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hamilton Ometto Stolf Departamento de Dermatologia e Radioterapia, s/no Campus Universitário de Rubião Jr. Botucatu (SP) CEP 18618-000 Tel. (14) 3882-4922 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 21 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 19 de abril de 2013 Data de aceitação: 26 de abril de 2013 PALAVRAS-CHAVE: Neoplasias. Classificação. Diagnóstico. Patologia. Dermatologia. RESUMO Contexto: O tumor triquilemal proliferativo é enfermidade pouco comum que se desenvolve a partir de lesões císticas foliculares, com alguns relatos de metástases, porém raras. Relato de caso: Descrevemos o caso de uma paciente de 93 anos, que apresentava tumoração de três centímetros há seis anos em couro cabeludo, que procurou o serviço por complicação associada (infecção). Foi realizada excisão cirúrgica completa, com realização de enxerto cutâneo para fechamento. Conclusões: Essa neoplasia de células escamosas aparentemente tem comportamento intermediário, em relação à malignidade, e necessita acompanhamento a longo prazo. Ainda há necessidade de mais estudos para identificar o porquê de alguns tumores terem comportamento indolente e outros, mais agressivo. Diagn Tratamento. 2013;18(2):69-71. 71 Nutrologia Alimentos integrais Hernani Pinto de Lemos JúniorI, André Luis Alves de LemosII Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM), Centro Cochrane do Brasil INTRODUÇÃO A evolução tecnológica permitiu que os centros urbanos crescessem horizontal e verticalmente, quase sem limites. Esse crescimento deu-se pela supressão dos campos de plantio e dos campos de pecuária que passaram a serem distantes dos grandes centros. A alimentação do homem foi garantida pela industrialização que eliminou a necessidade de caçar, plantar e colher para comer. A geladeira garantiu uma sobrevivência maior dos alimentos, embora meios antigos de conservação estejam ainda presentes, como a secagem, a defumação e a imersão em gorduras e óleos. Atualmente, a grande maioria dos seres humanos depende apenas do poder aquisitivo em dinheiro para conseguir se alimentar. É inegável o que os avanços tecnológicos fizeram de bom para a humanidade em termos de qualidade de vida, entretanto, em termos de alimentação, existem algumas controvérsias. Uma delas é quanto ao processo de refinamento dos alimentos, no qual, independentemente do uso de elementos químicos necessários ao processo, temos a retirada do alimento de elementos essenciais ao nosso organismo, como fibras, vitaminas e minerais. Segundo o glossário temático do Ministério da Saúde,1 alimento integral é aquele não processado ou pouco processado e que mantém em perfeitas condições seu conteúdo em fibras e nutrientes. Se o processo de refinamento dos alimentos os despoja de alguns componentes, tem-se que saber quais as repercussões para o organismo humano hígido e para aqueles propensos a doenças. Na literatura apócrifa, encontramos inúmeros comentários favoráveis aos alimentos integrais: • aumentodaquantidadedefibras:diminuemaincidência de constipação intestinal, a incidência de câncer de cólon e o risco de doenças cardiovasculares por interferir na absorção de gorduras ingeridas; aumentam a saciedade, ajudando na prevenção ou tratamento da obesidade; interferem no índice glicêmico, podendo ser úteis no tratamento do diabetes. • quantidademaiordevitaminaseminerais:ajudamnaprevenção de carências alimentares determinadas por hábitos ou pobreza. MÉTODO Em uma busca sistematizada na literatura na Cochrane Library, Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e PubMed, procuramos trabalhos científicos que dessem sustentabilidade a essas informações. RESULTADOS Na biblioteca Cochrane, encontramos uma revisão sistemática2 que acessou estudos sobre os efeitos dos alimentos integrais, durante um mínimo de quatro semanas, em doenças cardíacas coronárias e seus fatores de risco. Os participantes incluídos foram adultos portadores de coronariopatia ou que tinham pelo menos um fator de risco, como dislipidemia, hipertensão arterial ou sobrepeso. Dez estudos foram incluídos e os autores referem a pobre qualidade metodológica deles. A maior parte desses estudos utilizou a aveia como produto integral. O colesterol total do grupo que recebeu aveia diminuiu significantemente quando comparado com o grupo que recebeu grãos refinados, com intervalo de confiança (IC) de 95%, -0,30 a -0,08, P = 0,0005. O LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade) também diminuiu significantemente no grupo da aveia, com IC de -0,28 a -0,09, P < 0,0001. O HDL-colesterol (lipoproteína de alta densidade) e os triglicérides não tiveram nenhuma mudança significativa entre o grupo de cereais integrais e o grupo de grãos refinados. O peso corporal não se modificou, embora neste desfecho não tenha sido feita metanálise porque uma heterogeneidade significativa estava presente. A glicemia de jejum mostrou tendência a queda no grupo da aveia, porém sem significância estatística, assim como a insulinemia em jejum. Não houve alteração significativa da pressão arterial. Nessa revisão, não há evidência suficiente para tirar conclusões sobre dietas integrais em que não há aveia. I Médico, mestre e doutor em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Médico pesquisador do Centro de Pesquisas em Revisões Sistemáticas do Centro Cochrane do Brasil e médico assistente da Universidade Federal de São Paulo. E-mail: [email protected] II Médico, mestre e doutorando em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Pesquisador colaborador do Centro Cochrane do Brasil. E-mail: [email protected] Diagn Tratamento. 2013;18(2):72-4. Hernani Pinto de Lemos Júnior | André Luis Alves de Lemos Um estudo controlado randomizado3 de 18 meses foi feito em 113 voluntários com índice de massa corpórea (IMC) igual ou acima de 28 kg/m2. O objetivo foi comparar a perda de peso, os resultados metabólicos e ingestão de nutrientes em pessoas obesas submetidas a uma dieta rica em legumes e cereais integrais ou uma dieta controle. A perda média de peso em 6 meses foi de 6,0 kg e 6,3 kg no grupo controle e intervenção, respectivamente, sem diferença entre os grupos (P > 0,05). A ingestão de fibras, vitaminas e minerais foi maior, e o índice glicêmico dietético foi menor no grupo intervenção comparado com o grupo controle. A pressão arterial, os triglicérides e a carga glicêmica foram reduzidos em ambos os grupos em comparação com a linha de base. Embora nenhuma diferença na perda de peso tenha sido observada, em 18 meses, a circunferência da cintura foi significantemente diminuída no grupo intervenção em comparação com o grupo controle (-2,8 cm, IC de -0,4 a -5,1). Esse estudo mostrou que se pode perder peso com uma reeducação alimentar orientada e sem perda de nutrientes essenciais. CONCLUSÃO Enquanto há evidência crescente de estudos observacionais de que cereais integrais têm benefícios para a saúde, não há provas suficientes disponíveis a partir de ensaios clínicos randomizados para tirar conclusões sobre cereais integrais em geral e doença cardíaca coronária, exceto pela aveia, que mostrou alguma evidência para reduzir o LDL-colesterol e níveis de colesterol total em pessoas com fatores de risco preexistentes para doença coronariana em quatro semanas. Os efeitos em longo prazo da aveia não foram avaliados. Estudos bem concebidos e adequadamente estruturados são necessários para avaliar os efeitos benéficos do consumo contínuo de alimentos integrais em longo prazo. REFERÊNCIAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Secretaria de Atenção à Saúde. Glossário temático: alimentação e nutrição. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2008. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/glossario_alimenta.pdf. Acessado em: 2013 (27 fev). 2. Kelly SAM, Summerbell CD, Brynes A, Whittaker V, Frost G. Wholegrain cereals for coronary heart disease. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library; 2009 Issue 1, Art. No. CD005051. DOI: 10.1002/14651858.CD005051.pub2. Disponível em: http://onlinelibrary. wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD005051.pub2/abstract. Acessado em: 2013 (27 fev). 3. Venn BJ, Perry T, Green TJ, et al. The effect of increasing consumption of pulses and wholegrains in obese people: a randomized controlled trial. J Am Coll Nutr. 2010;29(4):365-72. EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO Hernani Pinto de Lemos Júnior. Médico, mestre e doutor em Medicina Interna e Terapêutica e Medicina Baseada em Evidências da Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Médico pesquisador do Centro de Pesquisas em Revisões Sistemáticas do Centro Cochrane do Brasil e médico assistente da Universidade Federal de São Paulo. Diagn Tratamento. 2013;18(2):72-4. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hernani Pinto de Lemos Júnior CEPATIS/Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 740 — 3o andar Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04023-900 Tel./Fax. (11) 5575-2970/5579-0469 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 25 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 25 de fevereiro de 2013 Data de aceitação: 6 de março de 2013 73 74 Alimentos integrais PALAVRAS-CHAVE: Alimentos. Avena sativa. Secale cereale. Oryza sativa. Triticum. RESUMO Introdução: Alimento integral é aquele que não teve sua estrutura modificada no processo de industrialização e manteve as vitaminas, os minerais e as fibras. Objetivo: Verificar evidências do uso dos alimentos integrais na prevenção e tratamento de doenças. Métodos: Busca sistematizada da literatura, por meio de busca eletrônica de artigos que avaliem o uso de alimentos integrais na terapêutica médica. Resultados: Encontramos uma revisão sistemática com 10 estudos com pouca qualidade metodológica e de curta duração. Esse estudo evidenciou uma diminuição significativa do colesterol total e do LDL-colesterol (lipoproteína de baixa densidade), sem influência na glicemia, peso corpóreo, pressão arterial e triglicérides, no grupo suplementado com alimentos integrais. Encontramos um ensaio clínico randomizado com 18 meses de acompanhamento, no qual o grupo que ingeriu alimentos integrais teve perda de peso com diminuição significativa da circunferência abdominal, sem perda significativa de vitaminas, minerais e fibras. Conclusão: Pelos estudos apresentados, os efeitos redutores do colesterol e do LDL-colesterol estão demonstrados em estudos de curta duração. Há necessidade de mais estudos com boa qualidade metodológica para verificarmos em longo prazo todas as alterações metabólicas e consequentes benefícios circulatórios. Diagn Tratamento. 2013;18(2):72-4. POEMs: Patients-oriented evidence that matters Intuição do médico tem bom valor preditivo negativo para a infecção grave em crianças Autores da tradução: Pablo Gonzáles Blasco , Marcelo Rozenfeld Levites , Cauê MonacoIII I II Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Qual é a acurácia da intuição de um médico sobre a gravidade da doença em crianças que não têm sintomas evidentes de infecção grave? RESUMO Um sentimento instintivo de que a avaliação clínica objetiva de uma criança doente está ocultando uma infecção de maior gravidade geralmente identifica infecções graves em excesso. Em alguns casos, porém, essa sensação é acertada. Nesse estudo,1 a preocupação não usual dos pais e a presença de sintomas inespecíficos na criança (como sonolência, respiração anormal, perda de peso e convulsões) estiveram associadas à intuição dos médicos quanto à presença de uma doença mais grave. DESENHO DO ESTUDO Avaliação de teste de diagnóstico (estudo de acurácia). Nível de evidência: 2b.2 CASUÍSTICA Crianças atendidas por médicos de atenção primária por queixas agudas. DISCUSSÃO Pesquisas sobre a cognição e o raciocínio clinico3 já descobriram que os clínicos experientes fazem diagnósticos por meio de duas abordagens distintas: um lento e lógico processo de raciocínio passo a passo ou (mais frequentemente) uma abordagem rápida e intuitiva, baseada no reconhecimento de padrões da doença visto em casos anteriores. Esse estudo, realizado na Bélgica,1 avaliou o papel da última abordagem, chamada de “gut feeling” (intuição), no diagnóstico de crianças com possíveis infecções graves. Os pesquisadores avaliaram consecutivamente 3.890 crianças com idades entre 0 e 16 anos levadas a médicos de atenção primária por afecções agudas. Para cada criança, o médico registrou, além dos dados clínicos, sua “impressão clínica global” (avaliação subjetiva de gravidade com base nos dados da anamnese e exame físico) e se teve ou não um pressentimento intuitivo de que a criança tinha algo mais sério do que as características clínicas sugeriam (mesmo que ele não soubesse o porquê dessa sensação). Após essa avaliação inicial, as crianças foram atendidas da forma habitual e os dados desses atendimentos foram relacionados (por pesquisadores cegos) aos dados de internação e acompanhamento desses pacientes. Uma infecção grave — definida como necessidade de hospitalização por pneumonia, sepse, meningite ou outro quadro infeccioso — ocorreu em 21 crianças (0,54% do total). A sensação dos médicos quanto à maior seriedade esteve presente em 62% dessas crianças, mas também em 2,7% das crianças que não tinham doença grave, resultando em uma sensibilidade de 61,9% e uma especificidade de 97%. Dada a baixa probabilidade de infecção grave nessa população, no entanto, o valor preditivo positivo foi de apenas 10,8% e o valor preditivo negativo foi de 99,8%. Uma intuição acurada identificou duas de seis crianças seriamente doentes cujos quadros clínicos sugeriam doenças não graves (valor preditivo positivo = 4,4%, valor preditivo negativo = 99,8%). As características clínicas individuais fortemente associadas com um pressentimento de doença grave foram apatia da criança, respiração anormal, perda de peso, convulsões e preocupação dos pais. COMENTÁRIO Os resultados clínicos foram avaliados, por meio das informações de internação fornecidas pelos hospitais regionais e de seguimento, por consenso entre pesquisadores cegos aos resultados dos questionários. O que torna esse estudo interessante é o fato de buscar aferir algo extremamente útil e muito usado na prática, mas de difícil ensino e documentação na literatura: o valor da experiência clínica do médico. O estudo contribui para esclarecer que a medicina baseada em evidencias não é contrária à experiência — ambas são essenciais e se complementam para a melhor decisão clínica individualizada. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). III Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):75-6. 76 Intuição do médico tem bom valor preditivo negativo para a infecção grave em crianças Como sugerem os autores do artigo, pode-se aprimorar a precisão dessas intuições refletindo-se sobre quais gatilhos da apresentação clínica nos fazem desconfiar de algo mais sério. No caso desse estudo, cuja população tem baixa probabilidade de infecções graves (incidência anual entre 4 e 5/1.000), para as crianças cuja gravidade da doença não era aparente ao exame clínico, a intuição dos médicos fez diminuiu a probabilidade de erro: quando os médicos avaliaram clinicamente as crianças e consideraram que não havia gravidade, a probabilidade de estarem errados foi de 0,2%. Mas, quando a intuição (eles achavam que estava grave, mas não sabiam dizer o porquê) também foi levada em consideração, a probabilidade desse erro diminuiu para 0,1%. REFERÊNCIAS 1. Van den Bruel A, Thompson M, Buntinx F, Mant D. Clinicians’ gut feeling about serious infections in children: observational study. BMJ. 2012;345:e6144. 2. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www. cebm.net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2013 (5 mar). 3. Stolper E, Van de Wiel M, Van Royen P, et al. Gut feelings as a third track in general practitioners’ diagnostic reasoning. J Gen Intern Med. 2011;26(2):197-203. EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO Pablo Gonzáles Blasco. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Marcelo Rozenfeld Levites. Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Cauê Mônaco. Médico de família, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). INFORMAÇÕES Tradução e adaptação: Sobramfa (Sociedade Brasileira de Medicina de Família) Rua Sílvia, 56 Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01331-000 Tel. (11) 3253-7251/3285-3126 E-mail: [email protected] http://www.sobramfa.com.br Data de entrada: 15 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 5 de março de 2013 Data de aceitação: 22 de março de 2013 Responsável pela edição desta seção: Sobramfa Diagn Tratamento. 2013;18(2):75-6. POEMs: Patients-oriented evidence that matters Lombadas podem auxiliar no diagnóstico de apendicite aguda Autores da tradução: Pablo Gonzáles Blasco , Marcelo Rozenfeld Levites , Cauê MonacoIII I II Sociedade Brasileira de Medicina de Família QUESTÃO CLÍNICA Qual é a acurácia diagnóstica de uma pergunta sobre o aumento da dor ao se passar sobre lombadas em pacientes com suspeita de apendicite aguda? RESUMO A presença de dor durante a passagem de veículos sobre obstáculos redutores de velocidade — também chamados de lombadas ou “quebra-molas” — no caminho para o hospital está associada a uma maior probabilidade de apendicite aguda.1 A ausência de dor é especialmente eficaz para afastar apendicite, em comparação com outros dados clínicos levantados durante a avaliação. DESENHO DO ESTUDO Estudo de acurácia de teste diagnóstico. Nível de evidência: 1b.2 CASUÍSTICA Adultos com suspeita de apendicite aguda em um serviço de emergência. DISCUSSÃO Os autores desse estudo recrutaram 101 pacientes que compareceram a um pronto-socorro inglês e foram avaliados por uma equipe cirúrgica por suspeita de apendicite. A todos eles foram feitas quatro perguntas sobre a sua ida ao hospital, questionando-os sobre se tinham passado por alguma lombada e, em caso positivo, se isso havia causado o agravamento da sua dor abdominal. Sessenta e quatro pacientes haviam ido de carro ou ambulância e se recordavam de haver passado sobre lombadas. Desses, 53% acabaram por ter uma apendicite histologicamente confirmada, 97% dos quais haviam relatado piora da dor associada à passagem sobre lombadas. Dos pacientes que não tiveram apendicite confirmada, 70% também relataram dor. Isso significa que a pergunta sobre lombadas foi útil para excluir os pacientes que não tinham apendicite (sensibilidade de 97% e valor preditivo negativo = 90%; intervalo de confiança (IC) de 95%: 56%-100%; razão de probabilidade negativa = 0,1), embora não tão útil na identificação dos pacientes que tinham apendicite (valor preditivo positivo = 61%; IC de 95%: 47%-74%; razão de probabilidade positiva = 1,4). Pode-se argumentar que esses valores são baixos, mas eles são maiores do que as pontuações de outros sinais e sintomas usados na avaliação clínica, como dor migratória, náuseas e vômitos ou descompressão brusca.1,3 COMENTÁRIO Mais um estudo interessante e didático em que a medicina baseada em evidências se coloca a serviço de objetivar o valor da clínica e da semiologia desarmadas (frequentemente desvalorizadas em detrimento do uso irracional de altas tecnologias) sobre um sintoma muitas vezes relatado espontaneamente pelos pacientes. Uma análise secundária dos mesmos dados incluiu os pacientes que tiveram outros diagnósticos de abdômen agudo (como cisto ovariano roto e diverticulite), aumentando a sensibilidade do sintoma para condições potencialmente graves. Uma das limitações do estudo foi incluir um número menor de pacientes do que foi previsto inicialmente, o que gerou intervalos de confiança muito amplos. Há que se ressaltar que o hospital onde esse estudo foi conduzido se localiza em uma região cujas vias de tráfego são mantidas em ótimas condições, o que facilita a percepção da passagem por lombadas. Isso, no entanto, não deve interferir na utilidade da incorporação desse dado de anamnese em nossa realidade. Na Tabela 1, observam-se os dados comparativos da presença de dor à passagem sobre lombadas em relação a outros sintomas e sinais comumente valorizados na suspeita diagnóstica de apendicite.1 Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). III Médico de família, professor do curso de Medicina do Centro Universitário São Camilo, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):77-8. 78 Lombadas podem auxiliar no diagnóstico de apendicite aguda Tabela 1. Sinais e sintomas observados em casos de suspeita de apendicite e seu valor no diagnóstico Sinal ou sintoma Dor ao passar sobre lombadas Dor migratória Náuseas e vômitos Dor à descompressão brusca Sensibilidade (%) 97 (85-100) 65 (46-80) 79 (62-91) 71 (53-85) Especificidade (%) 30 (15-49) 33 (17-53) 17 (5,6-35) 50 (31-69) VPP (%) 61(47-74) 52 (36-68) 52 (38-66) 62 (45-77) VPN (%) 90 (56-100) 45 (24-68) 42 (15-72) 60 (39-79) LR+ 1,4 (1,1-1,8) 1,0 (0,7-1,4) 1,0 (0,8-1,2) 1,4 (0,9-2,2) LR0,1 (0,0-0,7) 1,1 (0,5-2,1) 1,2 (0,4-3,5) 0,6 (0,3-1,1) VPP = valor preditivo positivo; VPN = valor preditivo negativo; LR+ = razão de probabilidades positiva; LR- = razão de probabilidades negativa. Os valores entre parênteses representam o intervalo de confiança (IC) de 95%. REFERÊNCIAS 1. Ashdown HF, D’Souza N, Karim D, et al. Pain over speed bumps in diagnosis of acute appendicitis: diagnostic accuracy study. BMJ. 2012;345:e8012. 2. Centre for Evidence Based Medicine. Oxford Centre for Evidence-based Medicine - Levels of Evidence (March 2009). Disponível em: http://www. cebm.net/index.aspx?o=1025. Acessado em 2013 (27 fev). 3. Andersson RE. Meta-analysis of the clinical and laboratory diagnosis of appendicitis. Br J Surg. 2004;91(1):28-37. EDITORES RESPONSÁVEIS POR ESTA SEÇÃO Pablo Gonzáles Blasco. Médico de família, doutor em Medicina, diretor científico e membro-fundador da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Marcelo Rozenfeld Levites. Médico de família e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). Cauê Mônaco. Médico de família, membro ativo da Sociedade Brasileira de Medicina de Família (Sobramfa). INFORMAÇÕES Tradução e adaptação: Sobramfa (Sociedade Brasileira de Medicina de Família) Rua Silvia, 56 Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01331-000 Tel. (11) 3253-7251/3285-3126 E-mail: [email protected] http://www.sobramfa.com.br Data de entrada: 15 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 25 de fevereiro de 2013 Data de aceitação: 7 de março de 2013 Responsável pela edição desta seção: Sobramfa Diagn Tratamento. 2013;18(2):77-8. Linguagens Sistema Alfredo José MansurI Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo A expressão “é o sistema” tornou-se trivial nas múltiplas interações de nossa dinâmica social. A palavra sistema tem vasta gama de acepções dicionarizadas, entre elas, a de “conjunto concebido pelo espírito (como hipóteses, crenças etc.) de objetos de reflexão ou convicção, unidos por um fundamento, doutrina, ideologia, teoria, tese”.1 O termo sistema tem sido usado também para pessoas, em expressões do tipo “o sistema dele é assim”. Denota um conjunto de valores, posturas e ações; o “sistema” era o conjunto de atributos de uma pessoa que em certo sentido a identificava e exprimia sua postura e demandava ser acatado. Atualmente, graças ao progresso da tecnologia de informação e suas complexidades, o termo sistema é empregado também para significar conjunto de atributos não mais de pessoas, ou de pessoas individualizadas, mas da máquina ou do conjunto de máquinas ou da rede operacional de máquinas. Ainda que sistemas tenham sido concebidos por programadores que são seres humanos, e têm a ingrata meta de conceberem previamente a realidade para fazê-la conter no sistema, na sua aplicação, o sistema perde capacidades de entendimento, de diálogo, de ajustes e de soluções, características que diferenciam o ser humano vivo e pensante do objeto operacional inanimado. Essa perda dos sistemas foi incorporada na mediação de processos e estimula insistentemente reflexões. Sujeito inexistente (ou indeterminado ou oculto) – o sistema tem em geral requisitos, que, no caso de não serem atendidos, impedem-no de ser iniciado, de “rodar”, e de executar uma ação ou sequência de ações, dependendo do sentido da operação e do resultado almejado — se algo banal, com alternativas, situação na qual não traz maiores consequências, ou algo não banal ou desprovido de alternativas, situação na qual pode ser muito limitante. Às vezes pode ser uma falha ou inconsistência ou falta de informação de quem está a operar o sistema, mas pode ser também uma limitação do sistema, que não consegue ter tradução da realidade que se apresenta. Tampouco há como reclamar por ajustes, pois o sistema é impermeável em prol da sua própria complexidade e segurança; ajustes são mais carac- terísticos dos seres inteligentes, ainda que muitas correções automáticas possam ser autorizadas nas máquinas. A inexistência, indeterminação ou caráter oculto do sujeito do sistema traz um especial caráter de desalento a quem está do lado passivo, requisitando o resultado mediado pela operação. O desalento, tanto de pacientes quanto de médicos e profissionais de saúde, é imperceptível ao sistema e possivelmente a seus monitores. Livros – ensinavam os professores de Medicina uma máxima: os pacientes não leem os livros. Portanto, os médicos e profissionais de saúde deveriam estar abertos para a realidade de tal modo que reconhecessem as doenças e desconfortos do ser humano apesar dos seus embustes, como denominou um dos meus professores, ainda que pudessem não estar nos livros (poderiam ser colocados nos livros depois de descobertos pelos médicos). Talvez hoje em dia uma atualização dessa máxima tivesse que ser: os pacientes (e às vezes os médicos) não conhecem os pré-requisitos dos sistemas. Médicos e profissionais de saúde podem superar as limitações de sistema, mas o sistema por si mesmo não pode. Complexidades – sistemas operacionais de tecnologia da informação são em geral complexos. Mesmo ações consideradas simples têm várias etapas (ligar equipamento, acesso, clicks de comandos, páginas). Ações simples, se obrigadas a operar em um regime de várias etapas, tornam-se complexas. Caráter prático – a eliminação completa de atuação fora dos sistemas, faz com que muitas ações corriqueiras, que poderiam ser feitas de modo simples, quando feitas dentro do sistema, necessitam atender todas as suas etapas em razão de identificação, segurança, comunicação etc. e tornam-se mais complexas. Portanto, a operação dentro do sistema não simplifica em 100% dos casos. Assimetria – As operações mediadas por alguns sistemas garantem privacidade unilateral; portanto, assimetria de privacidade. A Virgínia, em nome de uma empresa, telefona à noite para a casa do José; este se identifica como tal, mas a Virgínia não é Virgínia, é nome fantasia, e pode ser Joana. José está identificado, tem nome, sobrenome, tele- I Livre-docente em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diretor da Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Diagn Tratamento. 2013;18(2):79-81. 80 Sistema Linguagens fone, endereço e está gravado no sistema, e não tem acesso a quem é a Virgínia. Virgínia faz perguntas, interroga José até sobre dados pessoais e depois combina com ele ações. E José fica sem saber com quem conversou — portanto, assimetria das privacidades garantidas pelo sistema, que protege a si mesmo. Eufemismo – “o sistema exige” tornou-se um eufemismo diplomático, e às vezes conveniente, de justificar uma postura pouco receptiva ou até mesmo limitada no atendimento de clientes. É um modo de dizer que uma questão formulada não precisa ser entendida nem resolvida. Dispensa-se e afasta-se o cliente como se fosse uma exigência do sistema. Seria um método eficaz de afastar os clientes físicos e estimular os virtuais, talvez plausível em algumas áreas de atividade. Pessoalidade “excessiva” – do mesmo modo que podemos entender a impessoalidade do sistema, é também interessante lembrar que podemos nos deparar com a pessoalidade “excessiva” do sistema. O operador designado ou habilitado para operá-lo não o desempenha a contento e atribui a limitação ao sistema, quando pode se tratar de limitação do operador. Talvez essa ocorrência não seja incomum. Lembro-me de uma situação na qual a operadora perguntou ao cliente: — o que é que o senhor quer que eu coloque no sistema? Ao que o cliente respondeu: — não conheço o seu sistema, como posso, como leigo, saber disso? Era nitidamente uma inversão da responsabilidade, nesse caso trazida para o cliente, que não tinha dados suficientes para opinar. Talvez por isso muitas vezes exista a insistência de clientes do outro lado do balcão. Segurança — muitas das limitações e restrições dos sistemas de modo geral são “vendidos” no atendimento ao público como item de segurança. Essas restrições, dependendo da área de atuação, são entendidas como expressão de privacidade ou segurança. Frente à surpresa, ouve-se “é para seu próprio benefício”, o que neutraliza e atenua a possibilidade de compreensão ou de interação. Curiosamente, alguns sistemas perguntam se a senha de acesso deve ser armazenada naquele computador. Automatismo — talvez pudessem entrar neste item expressões do tipo “sua ligação é muito importante para nós”, ou “a empresa tal agradece a sua visita”. Pura poluição sonora. Expressões tais que, pelo seu automatismo, perdem o significado social. Frequentemente são falsas porque aquele cliente não é importante para aquela empresa ou porque a visita não foi benquista seria melhor que o cliente resolvesse as suas demandas pela internet etc. Diálogo de surdos — o sistema pode dar origem a um diálogo com pessoas que não são capazes de ouvir. Depois de um longo tempo de espera, de serem teclados cerca de 30 algarismos, colocada uma questão, para o sistema de atendimento ao cliente, provavelmente o operador procura algum tipo de entrada no seu algoritmo, e a partir dessa entrada, há a sequência esperada. Pode dar a sorte de ser algo igual, e se não houver, algo que possa ser considerado o mais parecido pelo interlocutor. Inicia-se então um diálogo (que pode ser longo), no qual ao cliente é contraposto ao “sistema”, às vezes independentemente do que está sendo perguntado. A assimetria de categorizações que pode ser proposta pelo “sistema” e a real pode ser a etapa fundamental para a impossibilidade de diálogo. Categorizações incongruentes do mesmo fenômeno. Fechamento do chamado – a partir de uma pergunta feita, foi aberta uma chamada no sistema, que foi mobilizado, e enquanto não for resolvido — demora de dias, semanas! — houve a necessidade de esperar pela resposta do sistema. Por outro lado, há também a possibilidade de um chamado ter sido feito, uma resposta ter sido dada (que absolutamente não respondeu ao que foi perguntado!) e o chamado dado por “encerrado”. Intimidade – os sistemas têm lá sua intimidade. Quando conversamos com “autoridades” do sistema, ouvimos que nesse nível é mais fácil mexer e fazer algum ajuste. Esse outro ajuste é mais complexo, preciso consultar o Fulano. Surge então um Fulano — o Grande Programador do sistema. Como essas coisas dão trabalho, o Grande Programador avalia com o olhar vago, misto de filósofo contemplativo e de pensador cogitando, como Descartes revivido. Sintetizando, as potenciais percepções frente aos sistemas aqui examinadas — a ausência do sujeito, o desalento, as exigências, a complexidade, a assimetria de privacidade, a não receptividade, inversão de polaridade na relação com clientes, a impermeabilidade — compõem dimensões que, vistas do lado de cá, podem ser lidas como não lógicas, não formais, não pessoais, não físicas, portanto, além de tudo isso. Seriam por acaso supralógicas, supraformais, suprapessoais, metafísicas — transcendentes? Ou ao contrário? Isso nos leva ao encontro da acepção do termo sistema apresentado no primeiro parágrafo: conjunto concebido pelo espírito (como hipóteses, crenças etc.) de objetos de reflexão ou convicção, unidos por um fundamento, doutrina, ideologia, teoria1 — que pode resvalar para a interpretação não racional, mágica, mítica ou do imponderável, numa acepção quase metafísica do termo, metafísica essa sem consciência do Nada. Será que hoje, Nietszche, em vez de escrever ser o homem uma corda sobre o abismo (Der Mensch ist ein Seil, ..., ein Seil über einem Abgrunde), poderia, em pelo menos uma fração de segundo, ter cogitado e ficado tentado a escrever “o homem é uma corda sobre os sistemas?”2 Finalizamos lembrando que a experiência de outros colegas pode contribuir para o exame deste assunto. Diagn Tratamento. 2013;18(2):79-81. Alfredo José Mansur Linguagens REFERÊNCIAS 1. Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva; 2001. 2. Nietzsche F. Also sprach Zaratrustra. Ein Buch für Alle und Keinen. Stuttgart; Philipp Reclam; 1994. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Unidade Clínica de Ambulatório do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 São Paulo (SP) CEP 05403-000 Tel. InCor: (11) 2661-5237 Tel. consultório: (11) 3289-7020/3289-6889 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 25 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 25 de fevereiro de 2013 Data de aceitação: 6 de março de 2013 Diagn Tratamento. 2013;18(2):79-81. 81 Residência e ensino médico Os convocados Olavo Pires de CamargoI, Luiz Eugênio Garcez LemeII Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Nesses primeiros meses do ano, duas convocações chamaram a atenção de todos nós: a convocação para a segunda fase dos exames vestibulares mais disputados e a convocação para a Seleção Brasileira de Futebol, reformatada pelo Felipão. Talvez haja, além da ansiedade provocada, algumas outras coincidências entre ambas. Poucos de nós questionamos os critérios de escolha para a convocação da seleção. Devem ir os melhores, evidentemente com as dúvidas pertinentes (ainda vale a pena convocar o Robinho ou o Kaká?) e as certezas universais (o Neymar de fora nem pensar!). Já quanto ao critério da convocação para a Universidade, a situação não é tão pacífica. Estamos vivendo a cultura de uma avaliação diferenciada por critérios antropológicos e sociológicos que, além de correr o risco de fugir da meritocracia, sistema que a Universidade adota desde sua origem, pode se prestar a comportamentos oportunistas e demagógicos. O que se observa em muitas instituições é uma verdadeira corrida atrás do “politicamente correto” (e ai dos que esboçam alguma objeção, esses “aristocratas reacionários”), muitas vezes de maneira atabalhoada. As instituições federais podem se esconder atrás das determinações do governo, adotando-as de maneira acrítica ou tentando alguns recursos “de manga”, como é o de aumentar as vagas no limite dos alunos admitidos pelas vagas raciais ou de ensino público que, de fato, seriam admitidos como extras. Algumas instituições estaduais tentam um meio termo, inicialmente concedendo um “bônus” aos provenientes do ensino público e agora propondo a criação de uma versão tupiniquim dos colleges, uma espécie de instituição transitória que receberia esses alunos provenientes do ensino público para tentar capacitá-los a acompanhar, posteriormente, a dinâmica universitária. Apesar de desconfortável e triste, a comparação entre os critérios de convocação se impõe. Na convocação da seleção, escolhem-se, dentre muitos, aqueles que mais se destacaram para finalmente serem escalados os 22 atletas que, por mérito próprio, irão participar do Mundial. Muitos atletas veem nisso a sua consagração profissional, não medindo esforços físicos e mentais para serem os felizes selecionados. A vida deles e de suas famílias certamente melhorará após esta convocação. Imaginemos que, neste clima, o governo decretasse que, das 22 vagas, 8 seriam reservadas àqueles jogadores sem a mesma aptidão técnica e física, mas que também teriam o direito de ser convocados. Para tal, seria feito um treinamento intensivo especial para que melhorassem o seu desempenho. Dessa maneira, mesmo com a inevitável queda de produção desta utópica seleção, o que aumentaria notavelmente a chance de fracasso no Mundial, estaríamos dando oportunidade a todos os jogadores brasileiros independentemente de sua capacitação profissional. Muitos de nós, técnicos amadores como quase 200 milhões de brasileiros, bradaríamos que isto seria um suicídio e que a solução passa por se investir nas categorias de base para que todos pudessem melhorar, e assim a escolha fosse universal e justa. O mesmo raciocínio poderia ser aplicado à outra “convocação”. O critério de mérito está na base de toda a estrutura universitária nos últimos nove séculos, e é desta forma que o ideal universitário e o serviço que a Universidade presta à sociedade se mantém. É evidente que o direito a aprender deve ser de todos e isso também não é estranho à Universidade, que foi possivelmente a primeira instituição leiga a colocar lado a lado nobres e plebeus, nativos e estrangeiros, baseando-se no único critério de conhecimento e capacidade de aprendizado e desenvolvimento intelectual. O interessante é que, mesmo entre nós, os “aristocratas retrógrados”, encontram-se muitos oriundos de famílias pobres, de minorias raciais, de imigrantes locais ou estrangeiros que, mesmo não tendo cultura, tiveram a sabedoria de colocar todas as forças em fazer os filhos estudar, em “formar” um filho “doutor”, que passou a ser o orgulho e a referência de todo um grupo familiar. E o mais importante, por mérito próprio e participação cidadã, sem favor algum. Muitos de nós podemos nos lembrar de um tempo, não tão distante assim, em que o ensino público era de boa qualidade, Professor titular e chefe do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Professor associado II do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):82-3. Olavo Pires de Camargo | Luiz Eugênio Garcez Leme às vezes melhor do que o ensino privado, possibilitando uma competição leal nos exames de acesso. Com o tempo e o desleixo, principalmente das autoridades, o magistério foi desprezado, deixando de ter qualquer atrativo para profissionais com quaisquer outras opções. Com isso, o ensino público entrou em colapso, chegando à condição precária de degradada que assistimos. Por outro lado, a degradação não se instala, nessas condições, apenas na qualidade do aprendizado, mas se reflete na incompetência em desenvolver virtudes, uma das principais funções do educador. Desta maneira, o individualismo, o salve-se quem puder, o ser mais malandro, aceita agradecido medidas de exceção institucionalizadas, desde que sejam a seu favor e passam a buscar com carinho aquela avó mestiça que não era valorizada ou a bisavó que diziam ser índia, fato que agora pode trazer algum benefício. É evidente que temos agora nas mãos uma geração muito mal formada em matérias de ensino médio e não apenas nisso, mas em valores humanos, e isso independe do ensino público ou privado. Teremos que fazer alguma coisa sob a pena de esta condição se cronificar e se agravar. O que, no entanto, deveria estar claro é que este é um problema imanente em nossos dias com causas e tratamentos evidentes, e que mudar conceitos transcendentes da alma universitária não é a solução e não pode ser vista como definitiva ou mesmo razoável. A solução passa por uma revalorização do magistério, do oferecimento de educação pública de qualidade e em tempo integral, de suporte acadêmico e humano para os alunos. Sem isso, corremos o risco de perder outras tantas gerações. As duas convocações poderão ser melhores quando nos dedicarmos às categorias de base. INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Olavo Pires de Camargo Rua Barata Ribeiro, 490 – 3o andar — conj. 33 Bela Vista — São Paulo (SP) CEP 01308-000 Tel. (11) 3123-5620 E-mail: [email protected] Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 7 de janeiro de 2013 Data da última modificação: 8 de janeiro de 2013 Data de aceitação: 1o de fevereiro de 2013 Diagn Tratamento. 2013;18(2):82-3. 83 Eletrocardiograma Alterações dinâmicas do segmento ST em paciente com anemia Antonio Américo FriedmannI, Willy Akira Takata NishizawaII, José GrindlerIII, Carlos Alberto Rodrigues de OliveiraIV, Alfredo José da FonsecaIV Serviço de Eletrocardiologia da Clínica Geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Um doente de 61 anos de idade portador de cirrose hepática de etiologia alcoólica foi atendido no pronto-socorro com peritonite bacteriana espontânea. Durante a internação, apresentou hemorragia digestiva alta que determinou estado de choque hipovolêmico. Após reposição da volemia com soluções salina e coloide, o paciente se queixou de dor torácica. O eletrocardiograma (ECG) nessas condições (Figura 1) mostrou infradesnivelamento do segmento ST acentuado (com até -6 mm em V4) e difuso, associado a inversão das ondas T na maioria das derivações. Administrouse isossorbida sublingual, porém, as alterações de ST-T permaneceram inalteradas (Figura 2). Figura 1. Infradesnivelamento difuso do segmento ST com inversão das ondas T na maioria das derivações. Eletrocardiograma realizado após reposição volêmica. Livre-docente, diretor do Serviço de Eletrocardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). Médico assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). III Médico supervisor do Serviço de Eletrocardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). IV Médico assistente do Serviço de Eletrocardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):84-6. Antonio Américo Friedmann | Willy Akira Takata Nishizawa | José Grindler | Carlos Alberto Rodrigues de Oliveira | Alfredo José da Fonseca Os exames de laboratório revelaram elevação discreta dos marcadores bioquímicos de lesão miocárdica (troponina T e enzima CK-MB), da ureia e da creatinina, e anemia muito acentuada (hemoglobina = 5 g/dL). As dosagens de eletrólitos estavam dentro da faixa da normalidade. Após transfusão de sangue total e correção da anemia, o ECG foi repetido (Figura 3). Observou-se então regressão das alterações do segmento ST e da onda T. No dia seguinte, o paciente foi submetido a cateterismo cardíaco que revelou artérias coronárias isentas de processo obstrutivo. DISCUSSÃO As alterações do segmento ST (elevação ou depressão) no ECG ocorrem com maior frequência na doença arterial coronária obstrutiva. Tais manifestações são tão importantes que hoje a classificação das síndromes coronarianas agudas é baseada no ECG. O quadro clínico de dor precordial com alterações dinâmicas e transitórias do segmento ST indica angina instável, enquanto a persistência do infradesnivelamento sugere infarto agudo sem supradesnível do segmento ST. A depressão do segmento ST é também importante marcador de prognóstico adverso, contribuindo para a estratificação de risco de morte ou infarto em pacientes com síndrome isquêmica aguda.1 Entretanto, alterações dinâmicas do segmento ST e da onda T não são específicos de insuficiência coronária aguda e podem ocorrer numa série de outras condições2 que incluem pericardite, miocardite, distúrbio eletrolítico, alteração metabólica, hemorragia cerebral e estado de choque. No caso apresentado, as manifestações de dor precordial, alterações de ST e T no ECG e elevação dos marcadores de lesão miocárdica sugeriam síndrome coronariana aguda. Por outro lado, a evolução do ECG, com ausência de resposta ao vasodilatador, e a regressão das alterações com a correção da anemia mostraram o contrário. Os fatos indicam que, neste paciente, alterações metabólicas, decorrentes sobretudo de anemia acentuada após hemorragia maciça, determinaram as alterações no ECG. A coronariografia confirmou a ausência de doença arterial coronária. CONCLUSÃO O caso relatado mostra a importância para o clínico do conhecimento de outras causas de alterações dinâmicas do segmento ST, além da síndrome coronariana aguda. Figura 2. Persistência das alterações de ST-T após isossorbida sublingual. Diagn Tratamento. 2013;18(2):84-6. 85 86 Alterações dinâmicas do segmento ST em paciente com anemia Figura 3. Regressão das alterações de ST-T após transfusão de sangue e correção da anemia. REFERÊNCIAS 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes (IIa Edição, 2007) da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supradesnível do segmento ST. Arq Bras Cardiol. 2007;89(4):e89-e131. 2. Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR. Desnivelamentos do segmento ST. In: Friedmann AA, Grindler J, Oliveira CAR, Fonseca AJ, editores. Diagnóstico diferencial no eletrocardiograma. 2a edição São Paulo: Editora Manole; 2011. p. 125-44. Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Data de entrada: 8 de março de 2013 Data da última modificação: 8 de março de 2013 Data de aceitação: 14 de março de 2013 EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO: Antonio Américo Friedmann. Livre-docente, diretor do Serviço de Eletrocardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). INFORMAÇÕES Endereço para correspondência: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Prédio dos Ambulatórios Serviço de Eletrocardiologia Avenida Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 155 São Paulo (SP) CEP 05403-000 Tel. (11) 2661-7146 Fax. (11) 2661-8239 E-mail: [email protected] Diagn Tratamento. 2013;18(2):84-6. Medicina baseada em evidências Evidências sobre a combinação de antidepressivos na depressão maior Fábio Lopes RochaI, Cíntia FuzikawaII, Rachel RieraIII, Cláudia HaraIV Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG) INTRODUÇÃO Os antidepressivos são a modalidade terapêutica mais utilizada e estudada da depressão maior. Entretanto, a sua eficácia é limitada. As taxas de remissão variam entre 42% e 46%.1,2 Aproximadamente 30% dos pacientes podem não apresentar remissão mesmo após tentativas múltiplas de tratamento.3 Uma revisão de quatro metanálises de ensaios clínicos submetidos ao Food and Drug Administration nos Estados Unidos sugere que os antidepressivos são apenas marginalmente eficazes no tratamento da depressão maior.4 Várias propostas têm sido sugeridas na literatura para o aumento da eficácia da terapêutica com antidepressivos, entre elas o ajuste da dose, a troca de antidepressivos, a potencialização do antidepressivo com medicamento não antidepressivo e a combinação de dois antidepressivos.5 A combinação de antidepressivos pode ocorrer desde o início do tratamento ou pode ser realizada com a introdução de um segundo antidepressivo ao esquema terapêutico, no caso de resistência ao tratamento. Entretanto, as evidências para o emprego de combinações de antidepressivos são esparsas e controversas.6-9 OBJETIVO O objetivo desta revisão sistemática é apresentar o estado da arte em relação ao emprego de combinação de antidepressivos no tratamento da depressão maior. São enfatizados os resultados de revisões sistemáticas e de ensaios clínicos com qualidade metodológica adequada, abordando tanto a combinação de antidepressivos desde o início do tratamento quanto a combinação de antidepressivos pelo acréscimo de um segundo antidepressivo na vigência de resistência ao primeiro. MÉTODO Foi realizada busca sistemática no PubMed, Embase, Cochrane Library e Lilacs de estudos sobre emprego de combinação de antidepressivos no tratamento da depressão, em 30 de outubro de 2012, utilizando descritores em saúde ou termos relacionados ao tema (Tabela 1). RESULTADOS Foram selecionados 12 ensaios clínicos e duas revisões sistemáticas.3,6,7,10-20 Os estudos foram divididos em dois grupos, segundo a estratégia da combinação de antidepressivos e o tipo de pacientes incluídos. O primeiro grupo foi constituído pelo emprego de combinação de antidepressivos desde o início do tratamento.6,10-15 O outro grupo foi constituído pelos estudos desenvolvidos em duas etapas.3,7,16-20 A etapa inicial consistia no emprego de antidepressivo em monoterapia. A segunda fase, randomizada, consistia na comparação entre a adição de um segundo antidepressivo ao primeiro versus a continuação da monoterapia entre os pacientes que não apresentaram resposta na primeira etapa. Na primeira modalidade, de combinação desde o início do tratamento, foram selecionados cinco pequenos ensaios duplocegos que incluíram, em conjunto, um total de 250 pacientes,10-14 e um estudo maior, com 665 pacientes, mas simples-cego, chamado CO-MED.15 Além disso, foram consultados uma revisão sistemática com metanálise6 e textos complementares. Na segunda modalidade, em que um segundo antidepressivo é acrescentado ao esquema terapêutico em virtude de resposta insatisfatória ao primeiro, foram incluídos cinco estudos controlados, randomizados, envolvendo um total de 565 pacientes,16-20 uma revisão sistemática,7 estudos derivados do Sequenced Treatment Alternatives to Relieve Depression (STAR*D)3 e textos complementares. DISCUSSÃO Combinação de antidepressivos desde o início do tratamento O resultado da metanálise envolvendo os cinco estudos controlados, com um total de apenas 250 pacientes, sugeriu que o Psiquiatra, coordenador da Clínica Psiquiátrica do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (IPSEMG). Psiquiatra, professora adjunta do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Universidade Federal de Minas Gerais. III Coordenadora assistente do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Professora adjunta da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). IV Psiquiatra, professora da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana. I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. 88 Evidências sobre a combinação de antidepressivos na depressão maior Tabela 1. Busca sistematizada por evidências do emprego de combinação de antidepressivos no tratamento da depressão realizada em 30 de outubro de 2012 Base de dados Estratégia de busca Resultado (“Depression”[Mesh]) OR (Depression, Emotional) OR (Depression, Endogenous) OR (Depression, Neurotic) OR (Depression, Unipolar) OR Depressions OR Depression OR (Depressions, Emotional) OR (Depressions, Endogenous) OR (Depressions, Neurotic) OR (Depressions, Unipolar) OR (“Depressive Disorder”[Mesh]) OR (Depressive Disorders) OR (Depressive Disorders, Major) OR (Depressive Neuroses) OR (Depressive Neurosis) OR (Depressive Symptom) OR (Depressive Symptoms) OR (Depressive Syndrome) OR (Depressive Syndromes) OR (Disorder, Depressive) OR (“Depressive Disorder, Major”[Mesh]) OR (Disorder, Major Depressive) OR (Disorders, Depressive) OR (Disorders, Major Depressive) OR (Emotional Depression) OR (Emotional Depressions) OR (Endogenous Depression) OR (Endogenous Depressions) OR (Major Depressive Disorder) OR (Major Depressive Disorders) OR Melancholia OR Melancholias OR (Neuroses, Depressive) OR (Neurosis, Depressive) OR (Neurotic Depression) OR (Neurotic Depressions) OR (Symptom, Depressive) OR (Symptoms, Depressive) OR (Syndrome, Depressive) OR (Syndromes, Depressive) OR (Unipolar Depression) OR (Unipolar Depressions) OR (Psychosis, Involutional) OR (Involutional Psychoses) OR (Involutional Psychosis) OR (Psychoses, Involutional) OR (Paraphrenia, Involutional) OR (Depression, Involutional) OR (Involutional Depression) OR (Melancholia, Involutional) OR (Involutional Melancholia) AND Medline (via PubMed) (“Antidepressive Agents”[Mesh]) OR (2-hydroxydesipramine) OR (Adrenergic Reuptake Inhibitors, Monoamine Oxidase) OR (Agents, Antidepressive) OR (Agents, Second-Generation Antidepressive) OR (“Antidepressive Agents, Tricyclic”[Mesh]) OR (Agents, Tricyclic Antidepressive) OR (amineptin) OR (Amitriptyline) OR (amitriptyline, chlordiazepoxide drug combination) OR (Antidepressant Drugs) OR (Antidepressant Drugs, Tricyclic) OR (Antidepressants) OR (Antidepressants, Atypical) OR (Antidepressants, Tricyclic) OR (“Antidepressive Agents, Second-Generation”[Mesh]) OR (Antidepressive Agents, Second Generation) OR (Antidepressive Drugs, Second Generation) OR (Antidepressive Drugs, Second-Generation) OR (Atypical Antidepressants) OR (Drugs, Antidepressant) OR (Drugs, Second-Generation Antidepressive) OR (Drugs, Tricyclic Antidepressant) OR (Inhibitor, Monoamine Oxidase OR (“Adrenergic Uptake Inhibitors”[Mesh]) OR (“Serotonin Uptake Inhibitors”[Mesh]) OR (Inhibitors, Adrenergic Reuptake) OR (Inhibitors, Adrenergic Uptake) OR (Inhibitors, MAO) OR (MAO Inhibitors) OR (Monoamine Oxidase Inhibitor) OR (Reuptake Inhibitors, Adrenergic) OR (Reversible Inhibitor of Monoamine Oxidase) OR (“Monoamine Oxidase Inhibitors”[Mesh]) OR (Reversible Inhibitors of Monoamine Oxidase) OR (RIMA (Reversible Inhibitor of Monoamine Oxidase A)) OR (Second-Generation Antidepressive Agents) OR (Second-Generation Antidepressive Drugs) OR Thymoanaleptics OR Thymoleptics OR (Tricyclic Antidepressant Drugs) OR (Tricyclic Antidepressants) OR (Tricyclic Antidepressive Agents) OR (Uptake Inhibitors, Adrenergic) OR (Antidepressants, Atypical) OR (Atypical Andidepressants) OR Clomipramine OR Desipramine OR desmethyldoxepin OR dibenzepin OR Dothiepin OR Doxepin OR Imipramine OR Iprindole OR Lofepramine OR melitracene OR metapramine OR mirtazapine OR(“Nortriptyline”[Mesh]) OR Nortriptyline OR noxiptilin OR Protriptyline OR tianeptine OR Trimipramine OR (5-Hydroxytryptophan) OR Amoxapine OR Bupropion OR Citalopram OR (“Fluoxetine”[Mesh]) OR Fluoxetine OR Fluvoxamine OR Maprotiline OR Mianserin OR nefazodone OR (“Paroxetine”[Mesh]) OR Paroxetine OR (“Quipazine”[Mesh]) OR Quipazine OR Ritanserin OR Sulpiride OR Trazodone OR Tryptophan OR Venlafaxine OR Viloxazine OR (“Ritanserin”[Mesh]) OR (“Sulpiride”[Mesh]) OR (“Citalopram”[Mesh]) OR (“Bupropion”[Mesh]) OR (“Trazodone”[Mesh]) OR (“Tryptophan”[Mesh]) OR (“Viloxazine”[Mesh]) OR (“Mianserin”[Mesh]) OR (“Maprotiline”[Mesh]) OR (“Fluvoxamine”[Mesh]) OR (“Amoxapine”[Mesh]) OR (“Trimipramine”[Mesh]) OR (“5-Hydroxytryptophan”[Mesh]) OR (“Protriptyline”[Mesh]) OR (“Iprindole”[Mesh]) OR (“Lofepramine”[Mesh]) OR (“Imipramine”[Mesh]) OR (“Doxepin”[Mesh]) OR (“Dothiepin”[Mesh]) OR (“Clomipramine”[Mesh]) 2.162 AND (Drug Polytherapy) OR (Drug Polytherapies) OR (Polytherapies, Drug) OR (Polytherapy, Drug) OR (Therapy, Combination Drug) OR (Combination Drug Therapy) OR (Combination Drug Therapies) OR (Drug Therapies, Combination) OR (Therapies, Combination Drug) OR (Combinations, Drug) OR Polypharmacy OR (“Drug Therapy, Combination”[Mesh]) OR (“Drug Combinations”[Mesh]) OR (“Polypharmacy”[Mesh]) AND (randomized controlled trial [pt] OR controlled clinical trial [pt] OR randomized controlled trials [mh] OR random allocation [mh] OR double-blind method [mh] OR single-blind method [mh] OR clinical trial [pt] OR clinical trials [mh] OR (“clinical trial” [tw]) OR ((singl* [tw] OR doubl* [tw] OR trebl* [tw] OR tripl* [tw]) AND (mask* [tw] OR blind* [tw])) OR ( placebos [mh] OR placebo* [tw] OR random* [tw] OR research design [mh:noexp] OR comparative study [mh] OR evaluation studies [mh] OR follow-up studies [mh] OR prospective studies [mh] OR control* [tw] OR prospectiv* [tw] OR volunteer* [tw]) NOT (animals [mh] NOT humans [mh]) Continua... Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. Fábio Lopes Rocha | Cíntia Fuzikawa | Rachel Riera | Cláudia Hara Tabela 1. Continuação Base de dados Estratégia de busca Resultado (Depression) or (Depression Emotional) or (Depression Endogenous) or (Depression Neurotic) or (Depression Unipolar) or Depressions or Depression or (Depressions Emotional) or (Depressions Endogenous) or (Depressions Neurotic) or (Depressions Unipolar) or (Depressive Disorder) or (Depressive Disorders) or (Depressive Disorders Major) or (Depressive Neuroses) or (Depressive Neurosis) or (Depressive Symptom) or (Depressive Symptoms) or (Depressive Syndrome) or (Depressive Syndromes) or (Disorder Depressive) or (Depressive Disorder Major) or (Disorder Major Depressive) or (Disorders Depressive) or (Disorders Major Depressive) or (Emotional Depression) or (Emotional Depressions) or (Endogenous Depression) or (Endogenous Depressions) or (Major Depressive Disorder) or (Major Depressive Disorders) or Melancholia or Melancholias or (Neuroses Depressive) or (Neurosis Depressive) or (Neurotic Depression) or (Neurotic Depressions) or (Symptom Depressive) or (Symptoms Depressive) or (Syndrome Depressive) or (Syndromes Depressive) or (Unipolar Depression) or (Unipolar Depressions) or (Psychosis Involutional) or (Involutional Psychoses) or (Involutional Psychosis) or (Psychoses Involutional) or (Paraphrenia Involutional) or (Depression Involutional) or (Involutional Depression) or (Melancholia Involutional) or (Involutional Melancholia) AND Biblioteca Cochrane (via Bireme/BVS) (Antidepressive Agents) or (2 hydroxydesipramine) or (Adrenergic Reuptake Inhibitors Monoamine Oxidase) or (Agents Antidepressive) or (Agents Second Generation Antidepressive) or (Antidepressive Agents Tricyclic) or (Agents Tricyclic Antidepressive) or (amineptin) or (Amitriptyline) or (amitriptyline chlordiazepoxide drug combination) or (Antidepressant Drugs) or (Antidepressant Drugs Tricyclic) or (Antidepressants) or (Antidepressants Atypical) or (Antidepressants Tricyclic) or (Antidepressive Agents Second Generation) or (Antidepressive Agents Second Generation) or (Antidepressive Drugs Second Generation) or (Antidepressive Drugs Second Generation) or (Atypical Antidepressants) or (Drugs Antidepressant) or (Drugs Second Generation Antidepressive) or (Drugs Tricyclic Antidepressant) or (Inhibitor Monoamine Oxidase) or (Adrenergic Uptake Inhibitors) or (Serotonin Uptake Inhibitors) or (Inhibitors Adrenergic Reuptake) or (Inhibitors Adrenergic Uptake) or ( Inhibitors MAO) or (MAO Inhibitors) or (Monoamine Oxidase Inhibitor) or (Reuptake Inhibitors Adrenergic) or (Reversible Inhibitor of Monoamine Oxidase) or (Monoamine Oxidase Inhibitors) or (Reversible Inhibitors of Monoamine Oxidase) or (RIMA (Reversible Inhibitor of Monoamine Oxidase A)) or (Second Generation Antidepressive Agents) or (Second Generation Antidepressive Drugs) or Thymoanaleptics or Thymoleptics or (Tricyclic Antidepressant Drugs) or (Tricyclic Antidepressants) or (Tricyclic Antidepressive Agents) or (Uptake Inhibitors Adrenergic) or (Antidepressants Atypical) or (Atypical Antidepressants) or Clomipramine or Desipramine or desmethyldoxepin or dibenzepin or Dothiepin or Doxepin or Imipramine or Iprindole or Lofepramine or melitracene or metapramine or mirtazapine or (Nortriptyline) or Nortriptyline or noxiptilin or Protriptyline or tianeptine or Trimipramine or Amoxapine or Bupropion or Citalopram or (Fluoxetine) or Fluoxetine or Fluvoxamine or Maprotiline or M ianserin or nefazodone or (Paroxetine) or Paroxetine or (Quipazine) or Quipazine or Ritanserin or Sulpiride or Trazodone or Venlafaxine or Viloxazine or (Ritanserin) or (Sulpiride) or (Citalopram) or (Bupropion) or (Trazodone) or (Viloxazine) or (Mianserin) or (Maprotiline) or (Fluvoxamine) or (Amoxapine) or (Trimipramine) or (Protriptyline) or (Iprindole) or (Lofepramine) or (Imipramine) or (Doxepin) or (Dothiepin) or (Clomipramine) 1.415 AND (Drug Polytherapy) or (Drug Polytherapies) or (Polytherapies Drug) or (Polytherapy Drug) or (Therapy Combination Drug) or (Combination Drug Therapy) or (Combination Drug Therapies) or (Drug Therapies Combination) or (Therapies Combination Drug) or (Combinations Drug) or Polypharmacy or (Drug Therapy Combination) or (Drug Combinations) or (Polypharmacy) Lilacs (via Bireme/BVS) Depression OR depresión OR depressão OR (sintomas depressivos) OR (Ex F01.145.126.350) OR (depressão endógena) OR (depressive disorder) OR (trastorno depresivo) OR (transtorno depressivo) OR melancolia OR (depressão neurótica) OR (depressão unipolar) OR (síndrome depressiva) OR (Ex F03.600.300) OR (neurose depressiva) OR (transtorno depressivo maior) OR (depressive disorder, major) OR (trastorno depresivo mayor) OR (depressão involutiva) OR (melancolia involutiva) OR (parafrenia involutiva) OR (psicose involutiva) OR (Ex F03.600.300.375) [Palavras] and Antidepressivos OR (antidepressive agents) OR (agentes antidepressivos) OR timoanalépticos OR timolépticos OR (Ex D27.505.954.427.700.122) OR (antidepressivos atípicos) OR (antidepressive agents, second-generation) OR (agentes antidepresivos de segunda generación) OR (antidepressivos de segunda geração) OR (Ex D27.505.954.427.700.122.050) OR (antidepressivos tricíclicos) OR (antidepressive agentes, tricyclic) OR (agentes antidepressivos triciclicos) OR (Ex D27.505.954.427.700.122.055) [Palavras] and (terapia por drogas combinada) OR (drug therapy, combination) OR (quimioterapia combinada) OR poliquimioterapia OR (Ex E02.319.310) OR (combined modality therapy) OR (terapia combinada) OR (tratamento multimodal) OR (Ex E02.186) [Palavras] 11 Continua... Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. 89 90 Evidências sobre a combinação de antidepressivos na depressão maior Tabela 1. Continuação Base de dados Estratégia de busca Resultado ‘major depression’/exp OR (‘depression’/exp AND emotional) OR (‘depression’/exp AND endogenous) OR (‘depression’/ exp AND neurotic) OR (‘depression’/exp AND unipolar) OR depressions OR ‘depression’/exp OR (depressions AND emotional) OR (depressions AND endogenous) OR (depressions AND neurotic) OR (depressions AND unipolar) OR (depressive AND disorder) OR (depressive AND disorders) OR (depressive AND disorders AND major) OR (depressive AND neuroses) OR (depressive AND ‘neurosis’/exp) OR (depressive AND ‘symptom’/exp) OR (depressive AND symptoms) OR (depressive AND ‘syndrome’/exp) OR (depressive AND syndromes) OR (disorder AND depressive) OR (depressive AND disorder AND major) OR (disorder AND major AND depressive) OR (disorders AND depressive) OR (disorders AND major AND depressive) OR (emotional AND ‘depression’/exp) OR (emotional AND depressions) OR (endogenous AND ‘depression’/exp) OR (endogenous AND depressions) OR (major AND depressive AND disorder) OR (major AND depressive AND disorders) OR ‘melancholia’/exp OR melancholias OR (neuroses AND depressive) OR (‘neurosis’/exp AND depressive) OR (neurotic AND ‘depression’/exp) OR (neurotic AND depressions) OR (‘symptom’/ exp AND depressive) OR (symptoms AND depressive) OR (‘syndrome’/exp AND depressive) OR (syndromes AND depressive) OR (unipolar AND ‘depression’/exp) OR (unipolar AND depressions) OR (‘psychosis’/exp AND involutional) OR (involutional AND psychoses) OR (involutional AND ‘psychosis’/exp) OR (psychoses AND involutional) OR (‘paraphrenia’/exp AND involutional) OR (‘depression’/exp AND involutional) OR (involutional AND ‘depression’/exp) OR (‘melancholia’/exp AND involutional) OR (involutional AND ‘melancholia’/exp) Embase AND ‘antidepressant agent’/exp OR ‘monoamine oxidase inhibitor’/exp OR ‘tetracyclic antidepressant agent’/exp OR ‘noradrenalin uptake inhibitor’/exp OR ‘serotonin noradrenalin reuptake inhibitor’/exp OR ‘serotonin uptake inhibitor’/exp OR ‘tetracyclic antidepressant agent’/exp OR ‘tricyclic antidepressant agent’/exp OR ‘monoamine oxidase A inhibitor’/exp OR ‘monoamine oxidase B inhibitor’/exp OR ‘citalopram’/exp OR ‘escitalopram’/ exp OR ‘fluoxetine’/exp OR ‘fluvoxamine’/exp OR ‘paroxetine’/exp OR ‘sertraline’/exp OR ‘amitriptyline’/exp OR ‘nortriptyline’/exp OR ‘clomipramine’/exp OR ‘imipramine’/exp OR ‘desipramine’/exp OR ‘doxepin’/exp OR ‘protriptyline’/exp OR ‘trimipramine’/exp OR ‘tianeptine’/exp OR ‘agomelatine’/exp OR ‘maprotiline’/exp OR ‘mianserin’/exp OR ‘mirtazapine’/exp OR ‘reboxetine’/exp OR ‘venlafaxine’/exp OR ‘desvenlafaxine’/exp OR ‘duloxetine’/exp OR ‘milnacipran’/exp OR ‘tranylcypromine’/exp OR ‘moclobemide’/exp OR ‘phenelzine’/exp OR ‘moclobemide’/exp OR ‘amoxapine’/exp OR ‘trazodone’/exp 476 AND ‘drug’/exp AND ‘polytherapy’/exp OR (‘drug’/exp AND polytherapies) OR (polytherapies AND ‘drug’/exp) OR (‘polytherapy’/exp AND ‘drug’/exp) OR (‘therapy’/exp AND combination AND ‘drug’/exp) OR (combination AND ‘drug’/exp AND ‘therapy’/exp) OR (combination AND ‘drug’/exp AND therapies) OR (‘drug’/exp AND therapies AND combination) OR (therapies AND combination AND ‘drug’/exp) OR (combinations AND ‘drug’/exp) OR polipharmacy OR (‘drug’/exp AND ‘therapy’/exp AND combination) OR (‘drug’/exp AND combinations) OR ‘polypharmacy’/exp emprego de combinação de antidepressivos no início do tratamento seria mais eficiente que o uso de antidepressivo utilizado isoladamente.6 Entretanto, além de o número de ensaios clínicos incluídos ter sido pequeno, os estudos apresentavam vários problemas metodológicos. Além disso, as combinações utilizadas foram limitadas. Envolviam apenas a associação de mirtazapina a alguns antidepressivos ou a associação de inibidores seletivos da recaptação de serotonina a antidepressivos tricíclicos. Não se pode extrapolar os resultados para outras combinações. Em alguns casos, é possível questionar a dosagem do antidepressivo utilizado isoladamente. Por exemplo, no estudo de Blier e cols.,11 a dose de fluoxetina pode ter sido muito baixa para alguns pacientes, como os próprios autores admitem. Além disso, o tempo de meia-vida longo da fluoxetina e de seu metabólito norfluoxetina pode ter resultado em um início de ação mais lento que o da combinação de antidepressivos. Dessa forma, pode-se levantar a hipótese de que a maior eficácia aparente da combinação poderia ser resultante do início de ação mais lento do braço fluoxetina.9 Todos os estudos eram de curto prazo, 6-8 semanas, o que impede a avaliação de efeitos em longo prazo. Também não foram realizadas análise de custo-benefício. O CO-MED é o maior ensaio clínico acerca de combinação de antidepressivos, envolvendo 665 pacientes ambulatoriais com depressão maior de intensidade pelo menos moderada, sem psicose, recorrente e/ou crônica. Trata-se de estudo simples-cego que comparou escitalopram, até 20 mg/dia, mais placebo, versus bupropiona, até 400 mg/dia, mais escitalopram, até 20 mg/dia, ou venlafaxina, até 300 mg/dia, mais mirtazapina, até 45 mg/dia. O estudo teve uma fase aguda de 12 semanas e uma fase de longo prazo de sete meses. No curto prazo, as taxas de resposta variaram de 51,6% a 52,4% e de remissão, 37,7% a 38,8%. No longo prazo, as taxas variaram de 57,4% a 59,4% e de 41,8% a 46,6%, respectivamente. Não houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de resposta e remissão em curto ou longo prazo, isto é, nenhuma das duas combinações foi superior à monoterapia.15 Também não houve Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. Fábio Lopes Rocha | Cíntia Fuzikawa | Rachel Riera | Cláudia Hara diferença de resultados quando a análise considerou a cronicidade da depressão.21 A diferença de resultados entre o CO-MED e a metanálise pode-se prender a diferenças metodológicas entre o CO-MED e os outros estudos, como dose utilizada, tempo do estudo, características da depressão ou dos pacientes incluídos. Sabe-se, por exemplo, que depressões mais graves ou com características melancólicas possibilitam melhor detecção de efeito antidepressivo. Por outro lado, a cronicidade, o maior tempo sem tratamento e a presença de comorbidade são indicativos de pior resposta. Outro aspecto muito relevante para os resultados é o tamanho do estudo: a necessidade de uso de vários centros, com a decorrente dificuldade de manter a padronização de critérios entre os centros, pode contribuir para a redução do tamanho de efeito.22 No CO-MED foram utilizadas doses relativamente menores que as utilizadas nos estudos de Blier e cols., a população era mais próxima ao mundo real, com poucos critérios de exclusão no estudo, a frequência de depressão ansiosa era maior e havia menor percentual de depressão com características melancólicas.22-25 Em relação à tolerabilidade, é razoável esperar que a associação de antidepressivos cause mais efeitos colaterais que a monoterapia, exceto em circunstâncias específicas em que um dado efeito de um antidepressivo atenue um efeito colateral do outro antidepressivo como, por exemplo, o possível antagonismo de efeitos colaterais sexuais dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina pela bupropiona.26 Entretanto, a evidência originária dos estudos duplo-cegos é ainda mais frágil que os dados sobre eficácia. Apenas três estudos relataram dados de dropouts decorrentes de eventos adversos. A metanálise não revelou diferença entre os grupos.6 Já o estudo CO-MED, simples-cego, que comparou escitalopram + placebo, escitalopram + bupropiona e mirtazapina + venlafaxina, em curto e médio prazo, mostrou que a ocorrência de efeitos colaterais foi um pouco maior no grupo escitalopram + bupropiona que no grupo escitalopram em ambas as etapas. Por outro lado, o grupo mirtazapina + venlafaxina teve maior frequência e intensidade de efeitos colaterais em relação ao grupo escitalopram em ambos os períodos de avaliação.15 Combinação de antidepressivos em sequência O emprego da associação de antidepressivos desde o início tem como meta aumentar a chance de recuperação do paciente no menor prazo possível, independentemente da existência de resistência ao tratamento. Por outro lado, a introdução subsequente de um segundo antidepressivo ocorre na vigência de resposta incompleta ao primeiro antidepressivo. Foram encontrados apenas cinco estudos controlados, randomizados, envolvendo 565 pacientes, em que a primeira etapa, aberta, consistia em monoterapia com antidepressivo e a segunda fase, randomizada, consistia na comparação entre a Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. adição de um segundo antidepressivo ao primeiro versus a continuação da monoterapia entre os pacientes que não apresentaram resposta na primeira etapa.16-20 Entre os cinco estudos, apenas dois pequenos ensaios relataram benefício da combinação de antidepressivos.18,19 Em ambos, a combinação de antidepressivos foi comparada com a continuidade do antidepressivo inicial na mesma dose da primeira etapa. Dessa forma, mesmo que os resultados sejam confirmados, o que se pode dizer é que o acréscimo de um segundo antidepressivo (mianserina ou mirtazapina) é melhor que manter o antidepressivo inicial na mesma dose da primeira etapa de 4-6 semanas, o que não é normalmente feito na prática clínica. Deve-se destacar que mianserina e mirtazapina são antidepressivos com propriedades hipnóticas, ansiolíticas e orexígenas que podem contribuir para a redução da pontuação de escalas de depressão sem, necessariamente, um efeito verdadeiro na depressão. Alguns desses efeitos também podem atenuar os efeitos colaterais do antidepressivo prévio, mimetizando melhora da depressão. Apenas um número limitado de combinações foi estudado: o acréscimo de mianserina ou de seu análago, mirtazapina, foi avaliado em três estudos18,20,27 e o de desipramina foi avaliado em dois outros.16,17 Não se pode extrapolar os resultados das combinações estudadas para outras combinações. Entre os cinco ensaios, apenas um incluiu um terceiro braço controle constituído pelo antidepressivo adicionado ao esquema terapêutico, em monoterapia.18 Dessa forma, o efeito isolado do antidepressivo isolado não pôde ser avaliado. Os estudos incluídos na metanálise foram todos de curto prazo, com um período de combinação variando de quatro a seis semanas. Dessa forma, não há dados para avaliação da eficácia e tolerabilidade em longo prazo. Também não foram realizadas análises de custo-benefício. Os maiores estudos acerca da combinação de antidepressivos em respondedores incompletos foram conduzidos como parte do estudo Sequenced Treatment Alternatives to Relieve Depression (STAR*D). O STAR*D é o maior e o mais longo estudo já conduzido para avaliar o tratamento da depressão, envolvendo 41 centros primários e especializados nos Estados Unidos e mais de 4.000 pacientes em um período de sete anos. Os critérios de inclusão foram amplos, tornando esses pacientes mais próximos da realidade clínica. Assim, obteve-se uma amostra de pacientes com depressão crônica ou recorrente, com comorbidade clínica e/ou psiquiátrica. Foi utilizada uma sequência de ensaios clínicos para determinar a efetividade e tolerabilidade de várias abordagens. Esses ensaios podem ser divididos em quatro etapas em que diversas estratégias foram estudadas: substituição, combinação de antidepressivos, potencialização e terapia cognitivo-comportamental.3,28,29 Na primeira etapa, todos os pacientes receberam citalopram. Aproximadamente um terço dos pacientes melhorou. A associação de antidepressivos foi estudada nas etapas dois e quatro. 91 92 Evidências sobre a combinação de antidepressivos na depressão maior Na etapa dois, não houve diferença na efetividade da associação citalopram e bupropiona (39%) ou citalopram e buspirona (33%).30 Embora na quarta etapa tenha sido utilizada uma abordagem diferente da discutida neste artigo, pois a combinação de antidepressivos foi introduzida simultaneamente em pacientes refratários a outras estratégias, cabe mencionar que não houve diferença entre o grupo que utilizou venlafaxina mais mirtazapina (16%) e o grupo que usou tranilcipromina (14%).31 A ausência de grupo placebo no STAR*D e outros problemas metodológicos impede conclusões definitivas sobre os seus resultados. Os dados acerca da tolerabilidade da combinação de antidepressivos, realizada pelo acréscimo de um segundo antidepressivo na vigência de resistência ao primeiro, são ainda mais esparsos que os dados de eficácia. Dos cinco estudos analisados na metanálise apenas dois apresentaram dados de dropouts por eventos adversos. Conforme esperado pelo perfil de efeitos colaterais dos antidepressivos envolvidos, nos estudos com mianserina e mirtazapina, ganho de peso e sedação foram relatados. Desipramina foi associada a boca seca, agitação e insônia.7 No STAR*D, a introdução de bupropiona acarretou menos efeitos colaterais e eventos adversos que a introdução da buspirona.30 Na quarta etapa, a associação venlafaxina mais mirtazapina foi mais bem tolerada que a tranilcipromina.31 CONCLUSÃO O emprego de combinação de antidepressivos, seja desde o início do tratamento como forma de aumentar a efetividade, seja pela associação de um segundo antidepressivo em pacientes com resposta insuficiente, não foi adequadamente estudado. Na primeira modalidade, alguns pequenos ensaios controlados fornecem alguma evidência de eficácia para a estratégia. Entretanto, um grande ensaio simples-cego não encontrou vantagem em iniciar o tratamento com dois antidepressivos. Na segunda modalidade, o número limitado de ensaios clínicos, com número pequeno de pacientes incluídos e com limitações metodológicas significativas, não permite qualquer conclusão acerca da eficácia e tolerabilidade da introdução de um segundo antidepressivo ao esquema terapêutico. Em ambas as modalidades, são necessários estudos controlados com placebo, com número adequado de pacientes, de curto e longo prazo, para avaliar a eficácia e a tolerabilidade da combinação de antidepressivos. Esses estudos deveriam considerar as interações farmacocinéticas, pois um antidepressivo pode modificar a concentração plasmática do outro. São necessárias ainda análises de custo-benefício. Finalmente, esforços devem ser realizados para se identificar quais os pacientes com depressão que respondem melhor à associação de antidepressivos. REFERÊNCIAS 1. 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Transtorno depressivo maior. Combinação de medicamentos. Antidepressivos tricíclicos. Antidepressivos de segunda geração. RESUMO O objetivo desta revisão narrativa é avaliar as evidências científicas do emprego de combinação de antidepressivos no tratamento da depressão maior. Foram avaliadas duas modalidades de combinação: a introdução da combinação desde o início do tratamento e a associação de um segundo antidepressivo em pacientes que não apresentaram resposta satisfatória com o primeiro antidepressivo. Foram pesquisadas as principais bases de dados até outubro de 2012, sem restrição de língua (PubMed, Cochrane Library, Embase, PsycINFO, Lilacs, registros de ensaios clínicos e bancos de teses) e referências secundárias. Foram utilizadas revisões sistemáticas recentes, ensaios clínicos não contemplados pelas revisões e artigos de revisão sobre o tema. Ambas as formas de combinação de antidepressivos foram muito pouco estudadas. De maneira geral, os ensaios incluíram número muito pequeno de sujeitos e apresentaram problemas metodológicos significativos. Os resultados são controversos. As evidências existentes não permitem conclusões sólidas acerca da eficácia e tolerabilidade do emprego de associações de antidepressivos. Diagn Tratamento. 2013;18(2):87-93. 93 Medicina sexual O papel da ansiedade na (dis)função sexual Bárbara Braga de LucenaI, Carmita Helena Najjar AbdoII Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo INTRODUÇÃO Diversos fatores interferem negativamente na atividade sexual humana, desencadeando as disfunções sexuais (DS), que se caracterizam por perturbações relacionadas às alterações psicofisiológicas nas fases do ciclo de resposta sexual (desejo, excitação, orgasmo e resolução) ou à dor associada à relação sexual, promovendo sofrimento psíquico e dificuldades no relacionamento interpessoal.1 Embora as DS possam ocorrer em qualquer uma dessas quatro fases do ciclo de resposta sexual, são mais frequentes nas três primeiras, sendo comum um mesmo indivíduo apresentar DS em mais de uma fase do ciclo de resposta sexual.2 A etiologia das DS pode envolver componentes biológicos e psicológicos,3 incluindo condições clínicas gerais (especialmente diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares) e neurológicas, medicações4 e condições psicológicas, entre as quais se destaca a ansiedade.3-5 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO A ansiedade pode ser definida como sentimento de apreensão e medo caracterizado por sintomas físicos, psicológicos e cognitivos. No contexto de estresse ou de perigo, essas reações são naturais. No entanto, algumas pessoas se sentem extremamente ansiosas com as atividades cotidianas, o que pode resultar em sofrimento e prejuízo significativo dessas atividades.6 A expressão neurobiológica da ansiedade é complexa, mas resulta principalmente da liberação de substâncias adrenérgicas (adrenalina e noradrenalina). A sensação de ameaça constante provoca a hiperatividade do sistema nervoso autonômico, desencadeando sintomas somáticos de ansiedade, tais como: secura da boca, aumento de vigília ou estado de alerta, constrição respiratória, sudorese, arrepios, tremor, vômitos, palpitação, dores abdominais, entre outras alterações biológicas e bioquímicas.7 Os transtornos de ansiedade são um grupo de entidades clínicas em que um nível excessivo de ansiedade é o sintoma comum. Esse grupo inclui o transtorno do pânico, a fobia específica e a social, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o transtorno de estresse agudo e o transtorno de ansiedade generalizada (TAG).1 Já as DS podem ser classificadas em: transtorno do desejo sexual hipoativo, transtorno de aversão sexual, transtorno da excitação sexual feminina, transtorno erétil masculino, transtorno do orgasmo feminino, transtorno do orgasmo masculino, ejaculação precoce (EP), dispareunia e vaginismo.1 Embora sejam categorias distintas, DS e ansiedade estão intimamente relacionadas e o diagnóstico de ambas é eminentemente clínico. A queixa do paciente, aliada à presença de alguns elementos na anamnese, é fundamental, sendo necessário, para cada caso, identificar se a ansiedade influenciou a DS; alternativamente, se a DS provocou a ansiedade ou, ainda, se entre os dois problemas não há relação inicial de causalidade.6 No caso das DS, exames de dosagens hormonais e condições clínicas gerais são complementares.3 Todavia, ainda que haja alteração da resposta sexual comprovada por causa orgânica, não é diagnosticada DS se o paciente não apresentar insatisfação frente à sua condição sexual.1 Além da queixa e da insatisfação, deve-se considerar um mínimo de seis meses de sintomatologia para a caracterização da DS.1 Durante a anamnese, é importante investigar as condições sexuais e de saúde geral do(a) parceiro(a), para afastar possíveis equívocos de interpretação ante o quadro referido pelo paciente.8 ANSIEDADE RELACIONADA À ATIVIDADE SEXUAL Desde as primeiras formulações psicodinâmicas3 e, posteriormente, na terapia sexual proposta por Masters e Johnson9 e Kaplan,10 a ansiedade com relação ao desempenho sexual foi considerada a mais importante causa imediata da DS. Masters e Johnson desenvolveram conceito de spectatoring, que seria o monitoramento da própria atividade sexual, com manutenção do foco em si mesmo durante a interação sexual, em vez de uma imersão nos aspectos sensoriais da Psicóloga, pós-graduanda em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. I II Diagn Tratamento. 2013;18(2):94-8. Bárbara Braga de Lucena | Carmita Helena Najjar Abdo experiência erótica. Para os autores, o espectador sexual se distrairia com pensamentos sobre o seu desempenho, o que interromperia o fluxo normal do funcionamento sexual, inibindo a excitação sexual e o orgasmo.9 Barlow11 incluiu o conceito de spectatoring em um modelo causal do processo de atenção durante o funcionamento sexual. De acordo com o autor, déficits no funcionamento sexual devido à dificuldade de excitação são causados por uma incapacidade do espectador em captar corretamente sinais eróticos que são necessários para a excitação. Essa incapacidade desencadearia grande ansiedade acerca do desempenho, provocando a mudança de atenção (spectoring) a fim de evitar o insucesso sexual. Essa distração, no entanto, prejudica o desempenho do espectador sexual. Se a ansiedade relacionada ao sexo provoca um impedimento psicológico para o desempenho da atividade sexual,12 também é possível que, na ausência de problemas sexuais específicos, altos níveis de ansiedade desencadeiem distrações cognitivas (preocupações não sexuais, obsessões, e hipervigilância e sensações corporais somáticas) que podem interferir na resposta sexual.13 Mesmo em mulheres sem DS, estudos demonstraram que distrações cognitivas reduzem a excitação tanto fisiológica quanto subjetiva aos estímulos eróticos.14,15 Nos homens, a ansiedade tem sido considerada central para o desenvolvimento e manutenção da disfunção erétil (DE)3-16 e da EP.5-17 Acredita-se que, em estado de ansiedade, a hiperatividade simpática reduza a capacidade de controle da ejaculação.18 Liu19 examinou o impacto de uma série de fatores psicológicos sobre disfunção erétil entre 44 pacientes do sexo masculino. Os resultados demonstraram que, além dos altos níveis de ansiedade relacionada ao desempenho, os problemas de comunicação também contribuíam para o surgimento da DE. Em mulheres, um estudo turco20 mostrou que a dor pélvica crônica está positivamente relacionada com a ansiedade. Mais recentemente, a ansiedade na fase de excitação também foi associada à dispareunia.21 Uma revisão de literatura22 evidenciou que mulheres com transtornos do desejo sexual são mais preocupadas e ansiosas do que mulheres com bom funcionamento sexual. Katz e Jardine23 corroboraram este achado, concluindo que a ansiedade está intimamente relacionada com a falta de desejo e aversão sexual. Embora a ansiedade também influencie a disfunção de orgasmo,17-24 van Minnen e Kampman25 concluíram que os problemas sexuais das pacientes com ansiedade são mais frequentes na primeira fase do ciclo de resposta sexual (o desejo). Nesse estudo, a qualidade da relação conjugal das pacientes era satisfatória, indicando que os problemas sexuais eram desencadeados pela ansiedade e não por problemas conjugais. Embora usualmente caracterize um impedimento, conforme relatado acima, a ansiedade não é universalmente perturbadora para o funcionamento sexual.25 Experimentos sugerem que, sob Diagn Tratamento. 2013;18(2):94-8. certas condições, a ansiedade facilita a excitação sexual genital. Como exemplo, Hoon e cols.26 e Palace e Gorzalka27 concluíram que a ansiedade induzida melhorou a vasocongestão genital por meio de estímulos eróticos. Mais recentemente, outro experimento13 revelou que mulheres com ansiedade leve ou moderada têm significativamente mais pulsação vaginal do que mulheres sem ansiedade ou com ansiedade grave. Assim, as autoras concluíram que um pouco de ansiedade auxilia a excitação feminina. Desse modo, para a excitação sexual, a ausência de ansiedade pode ser tão prejudicial quanto a ansiedade grave. PREVALÊNCIA Uma alta prevalência de DS tem sido relatada em pessoas com ansiedade.13 Dunn e cols.24 constataram que 34% dos homens e 41% das mulheres tinham alguma DS. Entre os participantes, 21% tinham ansiedade moderada ou grave. Os homens com ejaculação precoce tinham 2,5 mais chances de ter ansiedade grave. Entre as mulheres, a ansiedade foi associada a maior risco (odds ratio, OR) para disfunção de excitação (OR = 3,5), disfunção de orgasmo (OR = 2,0), inibição do desejo (OR = 2,3), secura vaginal (OR = 1,8), e dispareunia (OR = 4,5). Em se tratando de mulheres na menopausa, Schantz e cols.28 demonstraram que entre as pacientes que referiam diminuição do desejo sexual, a prevalência de ansiedade era de 76,7% contra 45,7% das que não relatavam diminuição do desejo (P < 0,01). Entre as mulheres que referiam secura vaginal, a prevalência de ansiedade foi de 75,0% contra 48,4% das que não relatavam a mesma condição (P < 0,02). A prevalência de transtornos de ansiedade varia de 2,5% a 37% em homens portadores de disfunção erétil (DE).29,30 Em pacientes com EP, estima-se que 25% deles tenham fobia social.31 Apesar da correlação entre EP e fobia social ser aceita, também há relação entre ejaculação retardada e fobia social. Bondiger e cols.,32 por exemplo, encontraram 33% de ejaculação retardada em homens com fobia social. Entretanto, o papel específico da ansiedade no funcionamento sexual masculino permanece incerto.6 Kaplan33 encontrou grande prevalência do transtorno de pânico em pacientes afetados pela aversão sexual. A autora mostrou que 25% dos pacientes tinham transtorno de pânico e outros 25% tinham sintomas característicos da síndrome do pânico (sem os ataques de pânico) e sugeriu uma prevalência de 75% de DS em pacientes com transtorno de pânico. Dettòre e cols.34 mostraram que pacientes com transtornos de ansiedade tinham maior risco de apresentar DS do que os controles (indivíduos sem qualquer transtorno de ansiedade). Segundo Kendukar,35 metade dos pacientes com TOC tem DS, enquanto 64% dos pacientes com TAG têm DS. Outro trabalho36 apontou que 73% dos pacientes com TOC estavam 95 96 O papel da ansiedade na (dis)função sexual insatisfeitos com sua função sexual, enquanto para Staebler e cols.37 essa porcentagem foi de 59%. Conforme se pode observar, alguns estudos relacionam DS com sintomas e estado de ansiedade em geral, enquanto outros relacionam as DS com transtornos de ansiedade específicos. De modo geral, as prevalências são elevadas, independentemente do tipo de ansiedade e de DS estudadas. TRATAMENTO Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN) são considerados tratamentos de primeira linha para os transtornos e quadros de ansiedade.38 No entanto, a relação entre ansiedade e funcionamento sexual torna-se mais complicada, uma vez que a maioria das drogas disponíveis como tratamentos de primeira linha (com raras exceções)39 é prejudicial ao funcionamento sexual de homens e mulheres.40 Entre as dificuldades sexuais observadas nos homens em decorrência dos ISRS estão: diminuição da ereção matinal, dificuldade de obter ou manter ereção suficiente para a penetração, dificuldade de excitação e diminuição da libido, anorgasmia ou atraso ejaculatório.41 Em virtude desse último efeito, os ISRS são as drogas mais prescritas para o tratamento da EP.42 Nas mulheres em uso de ISRS, observou-se orgasmo retardado ou anorgasmia, dificuldade de excitação, diminuição da lubrificação e da libido.41 Bahrick e Harris38 recomendam que o tratamento deva ser decidido com o paciente, após informá-lo detalhadamente sobre as opções com seus respectivos riscos e benefícios. Para os pacientes com ansiedade cuja prioridade é o funcionamento sexual, outras categorias de antidepressivos devem ser consideradas.43 Do mesmo modo, o uso de benzodiazepínicos deve ser cuidadosamente avaliado. Eles têm efeito rápido, toxicidade relativamente baixa e grande potência ansiolítica, mas esses benefícios devem ser pesados contra o potencial de comprometimento motor, dependência e sintomas de abstinência.44 Todos os riscos devem ser informados ao paciente.45 Alguns estudos têm mostrado que os pacientes estão insatisfeitos com as informações que recebem dos médicos acerca dos efeitos colaterais dos medicamentos, especialmente em relação ao funcionamento sexual.46,47 Dadas as limitações farmacoterápicas e a ausência de medicações específicas para as DS femininas, o tratamento médico por vezes não é suficiente para os casais retomarem a vida sexual satisfatória. A abordagem das questões relacionais e psíquicas é de fundamental importância.3 As estratégias de intervenção psicológica devem estar centradas no controle dos níveis de ansiedade e no desevolvimento de habilidades sexuais. O foco deve estar na melhora da assertividade e da confiança sexual, bem como na qualidade do relacionamento.5 A terapia cognitivo-comportamental (TCC) como estratégia de intervenção psicológica As teorias cognitivo-comportamentais têm relacionado tanto a ansiedade quanto as DS às formas distorcidas com que as pessoas aprendem a pensar sobre si mesmas ou sobre situações.11-48 Do ponto de vista cognitivo, a ansiedade elevada interfere negativamente no funcionamento sexual porque o indivíduo está “enviezado” para perceber uma situação como ameaçadora. Assim, ele se “distrai” de estímulos sexualmente excitantes e assume interpretações sobre esses estímulos.13 A eficácia da TCC tem sido bem documentada.49 McCabe50 realizou 10 sessões de TCC em mulheres com falta de desejo. O programa incluía intervenções focadas em melhorar a comunicação entre os parceiros, aumentar as habilidades sexuais e reduzir a ansiedade acerca do desempenho sexual. Apesar do curto tempo, houve melhora de 44% das pacientes. Outro estudo51 de mulheres com DS comparou a TCC com um grupo controle. Como resultado, houve melhora significativa (P < 0,05) na qualidade de vida sexual e conjugal, na satisfação sexual, na percepção de excitação sexual, na autoestima sexual, além de melhora nos sintomas de depressão e de ansiedade no grupo que realizou a terapia. Considerando que cognições maladaptativas podem causar tanto ansiedade quanto DS e que essas condições reforçam uma a outra, o trabalho em TCC objetiva identificar e modificar pensamentos e crenças disfuncionais a fim de reestabelecer o funcionamento sexual satisfatório.49 Para tanto, esse tipo de terapia geralmente inclui uma parte educativa e exercícios que abordam as preocupações do paciente acerca de seu desempenho sexual.5 CONCLUSÃO A resposta à ansiedade é complexa e exige investigação acerca de grau, natureza e histórico de cada paciente com queixa sexual. Grau leve ou moderado de ansiedade pode auxiliar na excitação sexual, enquanto graus mais graves e ansiedade patológica (transtornos de ansiedade) prejudicam o funcionamento sexual. Ainda assim, na maior parte dos casos documentados, a ansiedade interfere negativamente na experiência subjetiva e favorece a manutenção das DS. Mesmo nos casos em que não está relacionada à causa da disfunção, a ansiedade geralmente a acompanha e, por isso, deve ser considerada na abordagem diagnóstica e terapêutica, uma vez que a ansiedade acerca do desempenho pode prolongar e exacerbar os problemas sexuais. REFERÊNCIAS 1. American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV-TR). 4th edition. Washington: American Psychiatric Association; 2000. 2. Leiblum SR, Rosen RC. Principles and practice of sex therapy. 3rd ed. New York: Guilford Press; 2000. Diagn Tratamento. 2013;18(2):94-8. Bárbara Braga de Lucena | Carmita Helena Najjar Abdo 3. Althof SE, Leiblum SR, Chevret-Measson M, et al. Psychological and interpersonal dimensions of sexual function and dysfunction. J Sex Med. 2005;2(6):793-800. 4. Abdo CHN. Sexualidade humana e seus transtornos. 2a ed. São Paulo: Lemos; 2000 5. McCabe MP. 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Disponível em: http://www.safpj.co.za/index.php/safpj/ article/view/1460/1799. Acessado em 2013 (28 fev). 44. Western Australian Therapeutic Advisory Group. Western Australian Psychotropic Drugs Committee – WAPDC. Anxiety disorders drug treatment guidelines; 2008. Disponível em : http://www.health.wa.gov.au/docreg/ Education/Population/Health_Problems/HP010922_anxiety_disorders.pdf. Accessed in 2013 (Feb 28). 45. Johnson-Greene D. Informed consent in clinical neuropsychology practice. Official statement of the National Academy of Neuropsychology. Arch Clin Neuropsychol. 2005;20(3):335-40. 46. Happell B, Manias E, Roper C. Wanting to be heard: mental health consumers’ experiences of information about medication. Int J Ment Health Nurs. 2004;13(4):242-8. 47. Rutherford BR, Aizaga K, Sneed J, Roose SP. A survey of psychiatry residents’ informed consent practices. J Clin Psychiatry. 2007;68(4):558-65. 97 98 O papel da ansiedade na (dis)função sexual 48. Beck AT, Emery G. Anxiety disorders and phobias: a cognitive perspective. New York: Basic Books; 1985. 49. Nobre P. Disfunções sexuais. Lisboa: Climepsi Editores PC; 2006. 50. McCabe MP. Evaluation of a cognitive behavior therapy program for people with sexual dysfunction. J Sex Marital Ther. 2001;27(3):259-71. 51. Trudel G, Marchand A, Ravart M, et al. The effect of a cognitive-behavioral group treatment program on hypoactive sexual desire in women. Sexual and Relationship Therapy. 2001;16(2):145-64. INFORMAÇÕES EDITOR RESPONSÁVEL POR ESTA SEÇÃO: Fonte de fomento: nenhuma declarada Conflito de interesse: nenhum declarado Carmita Helena Najjar Abdo. Psiquiatra, livre-docente e professora associada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Fundadora e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. Endereço para correspondência: Bárbara Braga de Lucena ProSex Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785 – 4o andar São Paulo (SP) CEP 01060-970 Tel. (11) 2661-6982 E-mail: [email protected] Data de entrada: 25 de fevereiro de 2013 Data da última modificação: 8 de março de 2013 Data de aceitação: 14 de março de 2013 PALAVRAS-CHAVE: Sexualidade. Ansiedade. Comportamento sexual. Comorbidade. Psicoterapia. Terapia cognitiva. RESUMO Embora sejam categorias distintas, disfunção sexual (DS) e ansiedade estão intimamente relacionadas. A ansiedade relacionada ao desempenho provoca um impedimento psicológico à atividade sexual, assim como, na ausência de problemas sexuais específicos, altos níveis de ansiedade influenciam o surgimento das DS. O diagnóstico de DS em pacientes ansiosos necessita de especial detalhamento acerca do histórico sexual e dos sintomas de ansiedade. O tratamento médico tem limitações farmacoterápicas, sendo de fundamental importância a abordagem das questões relacionais e psíquicas. Diagn Tratamento. 2013;18(2):94-8. Destaques Cochrane Farmacoterapia para hipertensão arterial leve Autora da tradução: Rachel RieraI Autor dos comentários independentes: Agostinho TavaresII RESUMO Introdução: Pessoas sem antecedentes de eventos cardiovasculares ou doenças cardiovasculares representam uma população de prevenção primária. Os benefícios e riscos de tratamento da hipertensão leve em pacientes de prevenção primária não são conhecidos atualmente. Esta revisão examina as evidências dos ensaios clínicos existentes. Objetivos: Quantificar os efeitos da terapia anti-hipertensiva sobre a mortalidade e a morbidade em adultos com hipertensão leve (pressão arterial sistólica de 140-159 mmHg e/ou diastólica de 90-99 mmHg) e sem doença cardiovascular. Métodos: Métodos de busca: Foram pesquisadas as bases de dados CENTRAL (2011, edição 1), Medline (1948 a maio de 2011), Embase (1980 a maio de 2011) e as listas de referências de artigos. A Cochrane Database of Systematic Reviews e a Database of Abstracts of Reviews of Effectiveness (DARE) foram pesquisadas para revisões e metanálises anteriores e metanálises até o final de 2011. Critérios de seleção: Ensaios clínicos randomizados com duração de pelo menos um ano. Coleta e análise dos dados: Os desfechos foram mortalidade, acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana, eventos cardiovasculares e abandono do tratamento devido a efeitos adversos. Principais resultados: Dos 11 ensaios clínicos randomizados identificados, quatro foram incluídos nesta revisão, totalizando 8.912 participantes. O tratamento durante quatro a cinco anos com drogas anti-hipertensivas, em comparação com placebo, não reduziu a mortalidade total (risco relativo [RR] = 0,85; intervalo de confiança [IC] 95% = 0,63 a 1,15). Em 7.080 participantes, o tratamento com medicamentos anti-hipertensivos, em comparação com placebo, não reduziu a incidência de doença arterial coronariana (RR = 1,12; IC 95% = 0,80 a 1,57), acidente vascular cerebral (RR = 0,51; IC 95% = 0,24 a 1,08) e de eventos cardiovasculares (RR = 0,97; IC 95% = 0,72 a 1,32). Abandono do tratamento ou retirada devido a efeitos adversos aumentaram com a medicação anti-hipertensiva (RR = 4,80; IC 95% = 4,14 a 5,57). Conclusões dos autores: Medicamentos anti-hipertensivos utilizados no tratamento de adultos (prevenção primária) com hipertensão leve (pressão arterial sistólica de 140-159 mmHg e/ou diastólica de 90-99 mmHg) não reduziram a mortalidade ou a morbidade. O tratamento levou 9% dos pacientes a interromper a medicação devido a efeitos adversos. Ensaios clínicos randomizados são necessários nesta população para saber se os benefícios do tratamento excedem os riscos. REFERÊNCIA 1. Diao D, Wright JM, Cundiff DK, Gueyffier F. Pharmacotherapy for mild hypertension. Cochrane Database Syst Rev. 2012;8:CD006742. INFORMAÇÕES Este é o resumo de uma revisão Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2012, edição 8, DOI: 10.1002/14651858.CD006742. pub8 (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD006742.pub2/ abstract). Para citação completa e detalhes dos autores, veja referência 1 Tradução e adaptação: Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ O texto completo desta revisão está disponível gratuitamente em: http:// cochrane.bvsalud.org/cochrane/main.php?lib=COC&searchExp=Pharmacoth erapy%20and%20for%20and%20mild%20and%20hypertension&lang=pt. (Este link pode ser temporário). COMENTÁRIOS Nossa capacidade de reduzir a pressão arterial existe, e com o mínimo de efeitos colaterais, na maioria dos indivíduos hipertensos. No entanto, o debate mudou para os riscos e benefícios de medicamentos individualizados, seus efeitos em longo prazo nas doenças cardiovasculares e na doença renal crônica, especialmente para aqueles com hipertensão leve. I Coordenadora assistente do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Professora adjunta da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). II Professor associado e chefe da Disciplina de Nefrologia da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (Unifesp-EPM). Diagn Tratamento. 2013;18(2):99-100. 100 Farmacoterapia para hipertensão arterial leve Com base em dados epidemiológicos e observacionais, o risco cardiovascular aumenta progressivamente a partir de níveis de pressão arterial tão baixos quanto 115/75 mmHg.1 Por outro lado, alguns estudos prospectivos têm mostrado que diminuir a pressão arterial abaixo de 130/80 mmHg parece ainda não ser correto em certos grupos como os idosos, naqueles com comorbidades cardiovasculares, doença renal crônica, diabete melito ou ainda naqueles com alto risco cardiovascular.2-5 Além disso, o estudo ACCORD6 mostrou que a medicação adicional, necessária para alcançar pressões arteriais mais baixas, pode estar associada com efeitos colaterais adicionais. O mais recentemente publicado estudo da Cochrane Database of Systematic Review (2012)7 questiona os riscos e malefícios da farmacoterapia para a hipertensão leve em pacientes em prevenção primária, uma vez que ainda não temos essa informação para esse grupo em específico. Baseados em quatro estudos controlados e randomizados, os autores7 chamam à atenção que as drogas anti-hipertensivas, quando comparadas ao placebo (8.912 participantes – 4 a 5 anos de acompanhamento), não reduziram a mortalidade geral, e, em 7.080 participantes, o tratamento farmacológico, quando comparado a placebo, foi incapaz de reduzir a doença coronariana, acidente vascular cerebral ou eventos cardiovasculares em geral. Mais que isso, a saída de pacientes por efeitos colaterais foi substancialmente maior no grupo da terapia com drogas. Dessas conflitantes informações, surgem duas questões: a primeira refere-se ao nível pressórico no qual nós devemos manter os nossos pacientes e a segunda é como devemos tratá-los, especialmente aqueles com hipertensão leve. Em nossa opinião, é praticamente impossível desenvolver um estudo prospectivo, que compare terapia farmacológica com placebo, em pacientes com hipertensão leve e em prevenção primária. Para termos um número de eventos cardiovasculares suficiente para alcançarmos significância estatística nessa população de baixo risco, nós temos que inscrever um enorme número de indivíduos e acompanhá-los por décadas. Mais que isso, deixar milhares de pacientes sem tratamento por tão longo tempo seria mais um motivo de preocupação. Alguns poderão achar este procedimento muito conservador, no entanto, o assunto é complexo e as informações contraditórias tornam-se confusas na prática clínica. Baseados nos estudos epidemiológicos e prospectivos, como mencionamos anteriormente, acreditamos que o melhor procedimento, no presente, seria manter os níveis pressóricos abaixo de 140/90 mmHg, para os indivíduos com hipertensão leve e baixo risco, iniciando sempre com terapia não farmacológica. Para aqueles que necessitam de níveis pressóricos mais baixos ou não respondem às mudanças de estilo de vida, a terapia deve ser individualizada de acordo com o julgamento clínico. REFERÊNCIAS 1. Lewington S, Clarke R, Qizilbash et al. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular mortality: a meta-analysis of individual data for one million adults in 61 prospective studies. Lancet. 2002;360(9349):1903-13. 2. Tight blood pressure control and risk of macrovascular and microvascular complications in type 2 diabetes: UKPDS 38. UK Prospective Diabetes Study Group. BMJ. 1998;317(7160):703-13. 3. Hansson L, Zanchetti A, Carruthers SG, et al. Effects of intensive bloodpressure lowering and low-dose aspirin in patients with hypertension: principal results of the Hypertension Optimal Treatment (HOT) randomised trial. HOT Study Group. Lancet. 1998;351(9118):1755-62. 4. Cooper-DeHoff RM, Gong Y, Handberg EM, et al. Tight blood pressure control and cardiovascular outcomes among hypertensive patients with diabetes and coronary artery disease. JAMA. 2010;304(1):61-8. 5. Messerli FH, Mancia G, Conti CR, et al. Dogma disputed: can aggressively lowering blood pressure in hypertensive patients with coronary artery disease be dangerous? Ann Intern Med. 2006;144(12):884-93. 6. ACCORD Study Group, Cushman WC, Evans GW, et al. Effects of intensive blood-pressure control in type 2 diabetes mellitus. N Engl J Med. 2010;362(17):1575-85. 7. Diao D, Wright JM, Cundiff DK, Gueyffier F. Pharmacotherapy for mild hypertension. Cochrane Database Syst Rev. 2012;8:CD006742. Diagn Tratamento. 2013;18(2):99-100. Destaques Cochrane Ácido graxo ômega-3 para a prevenção de declínio cognitivo e demência Autora da tradução: Rachel RieraI Autor dos comentários independentes: Rubens José GagliardiII RESUMO Introdução: Evidências de estudos observacionais sugerem que dietas ricas em ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-3 podem proteger as pessoas do declínio cognitivo e demência. A força desse provável efeito protetor foi recentemente testada em ensaios clínicos randomizados. Objetivos: Avaliar os efeitos da suplementação de ômega-3 para a prevenção de demência e declínio cognitivo em idosos cognitivamente saudáveis. Métodos: Métodos de busca: A busca foi realizada na base ALOIS Cochrane Dementia and Cognitive Improvement Group’s Specialized Register em 6 de abril de 2012, utilizando os termos: “omega 3”, PUFA, “fatty acids”, “fatty acid”, “fish”, “linseed”, “eicosapentaenoic”, “docosahexaenoic”. Critérios de seleção: Ensaios clínicos randomizados com ômega-3, fornecido por um período mínimo de seis meses para os participantes com 60 anos ou mais, livres de demência ou disfunção cognitiva no início do estudo. Dois revisores independentemente avaliaram todos os ensaios. Coleta e análise dos dados: Os revisores extraíram os dados sobre incidência de demência, função cognitiva, segurança e aderência a partir dos artigos publicados ou entrando em contato com os autores dos estudos originais. Os dados foram extraídos por dois autores da revisão. Foi calculada a diferença média (DM) ou a diferença média padronizada (DMP), com intervalos de confiança de 95% (IC 95%) com base na análise por intenção de tratar, e as informações sobre segurança e aderência foram resumidas de modo narrativo. Principais resultados: Informações sobre a função cognitiva no início do estudo estavam disponíveis para 4.080 participantes em três estudos e para 3.536 participantes no final do acompanhamento. Em dois estudos, os participantes receberam cápsulas de gelatina contendo ômega-3 (intervenção) ou azeite ou óleo de girassol (placebo) durante 6 ou 24 meses. Em um estudo, os participantes receberam margarina com ou sem ômega-3 por 40 meses. Dois estudos tiveram a saúde cognitiva como desfecho primário, e o outro estudo, sobre doenças cardiovasculares, incluiu a saúde cognitiva como desfecho adicional. Nenhum dos estudos examinou o efeito do ômega-3 sobre a incidência de demência. Em dois estudos, envolvendo 3.221 participantes, não houve diferença entre o grupo ômega-3 e o placebo na pontuação do Mini-mental ao final do acompanhamento, após 24 ou 40 meses de intervenção (DM = -0,07; IC 95% = 0,25 a 0,10). Em dois estudos, envolvendo 1.043 participantes, outros testes de função cognitiva, como a aprendizagem de palavras, memória de dígitos e fluência verbal, não mostraram nenhum efeito benéfico da suplementação de ômega-3. Os participantes de ambos os grupos tiveram pouco ou nenhum declínio cognitivo durante os estudos. Os principais efeitos colaterais relatados com a suplementação de ômega-3 foram leves problemas gastrointestinais. No geral, efeitos adversos menores foram relatados por menos de 15% dos participantes, e foram semelhantes entre os dois grupos. A adesão à intervenção foi de, em média, mais de 90% entre as pessoas que completaram os estudos. Todos os três estudos incluídos nesta revisão são de alta qualidade metodológica. Conclusão dos autores: Ainda faltam evidências diretas do efeito do ômega-3 sobre a incidência de demência. Os estudos disponíveis não mostraram nenhum benefício da suplementação de ômega-3 na função cognitiva em idosos saudáveis cognitivamente. A suplementação de ômega-3 é geralmente bem tolerada, e os eventos adversos mais comumente relatados foram problemas gastrointestinais leves. Mais estudos com maior duração são necessários. Estudos de longo prazo podem identificar maior mudança na função cognitiva nos participantes, o que pode aumentar a capacidade de detectar os possíveis efeitos da suplementação de ômega-3 na prevenção do declínio cognitivo em idosos. I Coordenadora assistente do Centro Cochrane do Brasil (CCB). Professora adjunta da Disciplina de Medicina de Urgência e Medicina Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina — Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). II Professor titular de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e chefe da disciplina de Neurologia da Santa Casa de São Paulo, diretor científico do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina (APM). Diagn Tratamento. 2013;18(2):101-2. 102 Ácido graxo ômega-3 para a prevenção de declínio cognitivo e demência REFERÊNCIA 1. Sydenham E, Dangour AD, Lim WS. Omega 3 fatty acid for the prevention of cognitive decline and dementia. Cochrane Database Syst Rev. 2012;6:CD005379. INFORMAÇÕES Este é o resumo de uma revisão Cochrane publicada na Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR) 2012, edição 6, DOI: 10.1002/14651858.CD005379. pub3 (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD005379.pub3/ab stract;jsessionid=F0C2EAF3F22234CC89B1EF0F241F963A.d04t03). Para citação completa e detalhes dos autores, veja referência 1. Tradução e adaptação: Centro Cochrane do Brasil Rua Pedro de Toledo, 598 Vila Clementino — São Paulo (SP) CEP 04039-001 Tel. (11) 5579-0469/5575-2970 E-mail: [email protected] http://www.centrocochranedobrasil.org.br/ O texto completo está disponível gratuitamente em: http://www. cochranejournalclub.com/omega3-for-prevention-of-dementia-clinical/ pdf/CD005379.pdf. (Este link pode ser temporário). COMENTÁRIOS A presente revisão aborda um assunto de grande interesse atual, que é a eventual perda cognitiva, achado frequente na população de idosos. A possibilidade de uma conduta relativamente simples, como uma suplementação dietética específica, apresenta-se como interessante e esta ampla revisão analisa se a ingestão de ômega-3 PUFA (ácido graxo poli-insaturado) em indivíduos saudáveis acima de 60 anos de idade teria proteção na incidência de demência ou comprometimento cognitivo. Os resultados mostraram conclusões frustrantes, apontando que não houve diferença significativa entre os grupos tratados com o ômega-3 ou placebo. Esse achado, que é contrário à maioria das orientações de combate aos fatores de risco cardiovasculares, merece ser melhor estudado, com a comparação entre grupos com outras doses do ômega-3, outras formas de preparação do produto, maior tempo de acompanhamento e grupos com o emprego de alimentos que contenham o ômega-3 natural (como por exemplo, dietas ricas em peixes, castanhas etc.), o que permitiria uma melhor avaliação do valor preventivo nutricional independentemente do seu preparo industrial. Diagn Tratamento. 2013;18(2):101-2. Instruções aos autores INDEXAÇÃO E ESCOPO A Revista Diagnóstico & Tratamento (ISSN 1413-9979) tem por objetivo oferecer atualização médica, baseada nas melhores evidências disponíveis, em artigos escritos por especialistas. Seus artigos são indexados na base de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). São aceitos artigos originais (ensaios clínicos, estudos coorte, estudos caso-controle, revisões sistemáticas, estudos transversais, avaliações econômicas), relatos de caso, revisões narrativas da literatura (artigos de atualização) e cartas ao editor, que devem enquadrar-se nas normas editoriais dos manuscritos submetidos a revistas biomédicas (do International Committe of Medical Journal Editors1). POLÍTICAS E PROCEDIMENTOS DA REVISTA Após o recebimento do manuscrito pelo setor de Publicações Científicas, os autores receberão um número de protocolo que servirá para manter o bom entendimento entre os autores e o setor. Em seguida, o artigo será lido pelo editor, que verificará se está de acordo com a política e o interesse da revista. Em caso afirmativo, o setor de Publicações Científicas vai verificar se o texto cumpre as normas de publicação expressas nestas Instruções para Autores. Se o texto estiver incompleto ou se não estiver organizado como exigido, os autores deverão resolver os problemas e submetê-lo novamente. Quando o formato estiver aceitável, o setor enviará o trabalho para a revisão por pares, na qual os revisores não assinarão seus veredictos e não conhecerão os nomes dos autores do trabalho. Cada manuscrito será avaliado por dois revisores: um especialista no assunto e um consultor ad hoc (que vai avaliar aspectos metodológicos do trabalho); as discordâncias serão resolvidas pelos editores. Os autores então receberão a avaliação e será solicitado que resolvam os problemas apontados. Uma vez que o setor de Publicações Científicas receba o texto novamente, o artigo será enviado ao editor científico e revisor de provas, que identificará problemas na construção de frases, ortografia, gramática, referências bibliográficas e outros. Os autores deverão providenciar todas as informações e correções solicitadas e deverão marcar , no texto, todos os pontos em que realizaram modificações, utilizando cores diferentes ou sistemas eletrônicos de marcação de alterações, de maneira que elas fiquem evidentes. Quando o texto for considerado aceitável para publicação, e só então, entrará na pauta. O setor de Publicações Científicas fornecerá uma prova, incluindo Tabelas e Figuras, para que os autores aprovem. Nenhum artigo é publicado sem este último procedimento. INSTRUÇÕES PARA AUTORES Diretriz geral: para todos os tipos de artigos Os artigos devem ser submetidos exclusivamente pela internet para o e-mail [email protected] e/ou [email protected]. O manuscrito deve ser submetido em português e deve conter um resumo e cinco palavras-chave em português, que devem ser selecionadas das listas DeCS (Descritores em Ciências da Saúde), conforme explicado em detalhes abaixo (nenhuma outra palavra-chave será aceita). Artigos submetidos devem ser originais e todos os autores precisam declarar que o texto não foi e não será submetido para publicação em outra revista. Artigos envolvendo seres humanos (individual ou coletivamente, direta ou indireta ou indiretamente, total ou parcialmente, incluindo o gerenciamento de informações e materiais) devem ser acompanhados de uma cópia da autorização do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde o experimento foi realizado. Todo artigo submetido deve cumprir os padrões editoriais estabelecidos na Convenção de Vancouver (Requerimentos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Revistas Biomédicas),1 e as diretrizes de qualidade para relatórios de estudos clínicos,2 revisões sistemáticas (com ou sem metanálises)3 e estudos observacionais.4 O estilo conhecido como “estilo Vancouver” deve ser usado não somente quanto ao formato de referências, mas para todo o texto. Os editores recomendam que os autores se familiarizem com esse estilo acessando www.icmje.org. Para a classificação dos níveis de evidência e graus de recomendação de evidências, a Revista Diagnóstico e Tratamento adota a nova classificação elaborada pelo Centro de Medicina Baseada em Evidências de Oxford (Centre for Evidence-Based Medicine - CEBM) e disponível em http://www.cebm.net/mod_product/design/ files/CEBM-Levels-of-Evidence-2.pdf Abreviações não devem ser empregadas, mesmo as que são de uso comum. Drogas ou medicações devem ser citadas usando-se os nomes genéricos, evitando-se a menção desnecessária a marcas ou nomes comerciais. Qualquer produto citado no capítulo de Métodos, tal como equipamento diagnóstico, testes, reagentes, instrumentos, utensílios, próteses, órteses e dispositivos intraoperatórios devem ser descritos juntamente como o nome do fabricante e o local (cidade e país) de produção entre parênteses. Medicamentos administrados devem ser descritos pelo nome genérico (não a marca), seguidos da dosagem e posologia. Diagn Tratamento. 2013;18(2):I-II. Para qualquer tipo de estudo, todas as afirmações no texto que não sejam resultado da pesquisa apresentada para publicação à revista Diagnóstico & Tratamento, mas sim dados de outras pesquisas já publicadas em outros locais, devem ser acompanhadas de citações da literatura pertinente. Os relatos de caso e as revisões narrativas deverão conter uma busca sistematizada (atenção: o que é diferente de uma revisão sistemática) do assunto apresentado, realizada nas principais bases de dados (Cochrane Library, Embase, Lilacs, PubMed, outras bases específicas do tema). Bolsas, apoios e qualquer suporte financeiro a estudos devem ser mencionados separadamente na última página. Agradecimentos, se necessário, devem ser colocados após as referências bibliográficas. A Diagnóstico & Tratamento apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, a partir de 2007, os artigos de pesquisa clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE (http://www.icmje.org/). O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. FORMATO Primeira página (capa) A primeira página deve conter: 1) classificação do artigo (original, revisão narrativa da literatura, relato de caso e carta ao editor); 2) o título do artigo, que deverá ser conciso, mas informativo; 3) o nome de cada autor (a política editorial da revista Diagnóstico & Tratamento é não utilizar abreviações dos nomes dos autores. Assim, solicitamos que os nomes sejam enviados completos), sua titulação acadêmica mais alta e a instituição onde trabalha; 4) o local onde o trabalho foi desenvolvido; Segunda página Artigos originais: a segunda página, neste caso, deve conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto e objetivo; 2) desenho e local (onde o estudo se desenvolveu); 3) métodos (descritos em detalhes); 4) resultados; 5) Discussão; 6) conclusões. Relatos de caso: devem conter um resumo5 (máximo de 250 palavras) estruturado da seguinte forma: 1) contexto; 2) descrição do caso; 3) discussão; 4) conclusões. Revisão da narrativa da literatura: deve conter um resumo (máximo de 250 palavras) com formato livre. O resumo deve conter cinco palavras-chave, que devem ser escolhidas a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), desenvolvidos pela Bireme, que estão disponíveis na internet (http://decs.bvs.br/).6 Referências As referências bibliográficas (no estilo “Vancouver”, como indicado pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Biomédicas, ICMJE) devem ser dispostas na parte final do artigo e numeradas de acordo com a ordem de citação. Os números das citações devem ser inseridos após pontos finais ou vírgulas nas frases, e sobrescritos (sem parênteses ou colchetes). Referências citadas nas legendas de Tabelas e Figuras devem manter a sequência com as referências citadas no texto. Todos os autores devem ser citados se houver menos de seis; se houver mais de seis autores, os primeiros três devem ser citados seguidos de “et al.” Para livros, a cidade de publicação e o nome da editora são indispensáveis. Para textos publicados na internet, a fonte localizadora completa (URL) ou endereço completo é necessário (não apenas a página principal ou link), de maneira que, copiando o endereço completo em seus programas para navegação na internet, os leitores possam ser levados diretamente ao documento citado, e não a um site geral. A seguir estão dispostos alguns exemplos dos tipos mais comuns de referências: Artigo em periódico • a ita u er ra er o er eidenber ntibodiestonuc ear antigens in patients treated with procainamide or acetylprocainamide. N Engl J Med. 1979;301(25):1382-5. Instruções aos autores Livro • t ne roo urrentconceptsinpediatricendocrino o e or : Elsevier; 1987. Capítulo de livro • eppert ircadianr t ms:basicaspectsandpediatricimp ications n: t ne roo editors urrentconceptsinpediatricendocrino o e or : Elsevier; 1987. p. 91-125. Texto na internet • or d ea t r ani ation ca s orprotectiono omenand ir s rom tobacco. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2010/ women_tobacco_20100528/en/index.html. Acessado em 2010 (8 jun). Dissertações e teses • eves istribui odaprote na emenc a osdecamundon os ratos e saguis. [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo; 2009. Última página A última página deve conter: 1) a data e o local do evento no qual o artigo foi apresentado, se aplicável, como congressos ou defesas de dissertações ou teses; 2) fontes de apoio na forma de suporte financeiro, equipamentos ou drogas e número do protocolo; 3) descrição de qualquer conflito de interesse por parte dos autores; 4) endereço completo, e-mail e telefone do autor a ser contatado quanto à publicação na revista. Figuras e tabelas As imagens devem ter boa resolução (mínimo de 300 DPI) e ser gravadas em formato “.jpg” ou “.tif ”. Imagens não devem ser incluídas em documentos do Microsoft PowerPoint. Se as fotografias forem inseridas num documento Microsoft ord asima enstamb mdevemserenviadasseparadamente r ficosdevem ser preparados com o Microsoft Excel (não devem ser enviados como imagem) e devem ser acompanhados das tabelas de dados a partir dos quais foram gerados. O número de ilustrações não deve exceder o número total de páginas menos um. Todas as figuras e tabelas devem conter legendas ou títulos que descrevam precisamente seu conteúdo e o contexto ou amostra a partir da qual a informação foi obtida (por exemplo, quais foram os resultados apresentados e qual foi o tipo de amostra e local). A legenda ou título devem ser curtos, mas compreensíveis independentemente da leitura do artigo. O MANUSCRITO # Relatos de caso devem conter Introdução, Descrição do Caso, Discussão (contendo a busca sistematizada sobre o tema) e Conclusão. # Artigos originais e revisões narrativas devem ser estruturados de maneira que contenham as seguintes partes: Introdução, Objetivo, Método, Resultados, Discussão e Conclusão. A Revista publica revisões narrativas desde que contenham busca sistematizada da literatura. O texto não deve exceder 2.200 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências), da introdução até o final da conclusão. A estrutura do documento deve seguir o formato abaixo: 1. Introdução: as razões para que o estudo fosse realizado devem ser explicitadas, descrevendo-se o atual estado da arte do assunto. Deve ser descrito o contexto, o que se sabe a respeito. Aqui não devem ser inseridos resultados ou conclusões do estudo. No último parágrafo, deve ser especificada a principal questão do estudo e a principal hipótese, se houver. Não se deve fazer discussões sobre a literatura na introdução; a seção de introdução deve ser curta. 2. Objetivo:deveserdescritooprincipa objetivodoestudo brevemente ip teses pré-estabelecidas devem ser descritas claramente. De preferência deve-se estruturar a pergunta do estudo no formato “PICO”, onde P é a população ou problema, I é intervenção ou fator de risco, C é o grupo controle e O vem de “outcome”, ou desfecho. 3. Métodos 3.1. Tipo de estudo: deve-se descrever o desenho do estudo, adequado para responder a pergunta, e especificando, se apropriado, o tipo de randomização, cegamento, padrões de testes diagnósticos e a direção temporal (se retrospectivo ou prospectivo). Por exemplo: “estudo clínico randomizado”, “estudo clínico duplo-cego controlado por placebo”, “estudo de acurácia”, “relato de caso” 3.2. Local: deve ser indicado o local onde o estudo foi desenvolvido, o tipo de instituição: se primária ou terciária, se hospital público ou privado. Deve-se evitar o nome da instituição onde o estudo foi desenvolvido (para cegamento do texto para revisão): apenas o tipo de instituição deve ficar claro. Por exemplo: hospital universitário público. 3.3. Amostra, participantes ou pacientes: devem ser descritos os critérios de elegibilidade para os participantes (de inclusão e exclusão), as fontes e os procedimentos de seleção ou recrutamento. Em estudos de caso-controle, a lógica de distribuição de casos como casos e controles como controles deve ser descrita, assim como a forma de pareamento. O número de participantes no início e no final do estudo (após exclusões) deve ficar claro. 3.4. Tamanho de amostra e análise estatística: descrever o cálculo do tamanho da amostra, a análise estatística planejada, os testes utilizados e o nível de significância, e também qualquer análise post hoc. Descrever os métodos usados para o controle de variáveis e fatores de confusão, como se lidou com dados faltantes (“missing data”) e como se lidou com casos cujo acompanhamento foi perdido (“loss from follow-up”). 3.5. Randomização: descrever qual foi o método usado para implementação da alocação de sequência aleatória (por exemplo, “envelopes selados contendo sequências aleatórias de números gerados por computador”). Adicionalmente, descrever quem gerou a sequência aleatória, quem alocou participantes nos grupos (no caso de estudos controlados) e quem os recrutou. 3.6. Procedimentos de intervenção, teste diagnóstico ou exposição: descrever quais as principais características da intervenção, incluindo o método, o período e a duração de sua administração ou de coleta de dados. Descrever as diferenças nas intervenções administradas a cada grupo (se a pesquisa é controlada). 3.7. Principais medidas, variáveis e desfecho: descrever o método de medida do principal resultado, da maneira pela qual foi planejado antes da coleta de dados. Afirmar quais são os desfechos primário e secundário esperados. Para cada variável de interesse, detalhar os métodos de avaliação. Se a hipótese do estudo foi formulada durante ou após a coleta de dados (não antes), isso deve ser declarado. Descrever os métodos utilizados para melhorar a qualidade das medidas (por exemplo, múltiplos observadores, treinamento etc.). Explicar como se lidou com as variáveis quantitativas na análise. 4. Resultados: descrever os principais achados. Se possível, estes devem conter os intervalos de confiança de 95% e o exato nível de significância estatística. Para estudos comparativos, o intervalo de confiança para as diferenças deve ser afirmado. 4.1. Fluxo de participantes: descreva o fluxo dos participantes em cada fase do estudo (inclusões e exclusões), o período de acompanhamento e o número de participantes que concluiu o estudo (ou com acompanhamento perdido). Considerar usar um fluxograma. Se houver análise do tipo “intenção de tratar”, esta deve ser descrita. 4.2. Desvios: se houve qualquer desvio do protocolo, fora do que foi inicialmente planejado, ele deve ser descrito, assim como as razões para o acontecimento. 4.3. Efeitos adversos: devem ser descritos quaisquer efeitos ou eventos adversos ou complicações. 5. Discussão: deve seguir a sequência: começar com um resumo dos objetivos e das conclusões mais relevantes; comparar métodos e resultados com a literatura; enfatizar os pontos fortes da metodologia aplicada; explicar possíveis pontos fracos e vieses; incluir implicações para a prática clínica e implicações para pesquisas futuras. 6. Conclusões: especificar apenas as conclusões que podem ser sustentadas, junto com a significância clínica (evitando excessiva generalização). Tirar conclusões baseadas nos objetivos e hipóteses do estudo. A mesma ênfase deve ser dada a estudos com resultados negativos ou positivos. CARTAS AO EDITOR É uma parte da revista destinada à recepção de comentários e críticas e/ou sugestões sobre assuntos abordados na revista ou outros que mereçam destaque. Tem formato livre e não segue as recomendações anteriores destinadas aos artigos originais, relatos de casos e revisão da literatura. Documentos citados 1. International Committee of Medical Journal Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Disponível em: http://www. icmje.org/urm_main.html. Acessado em 2010 (7 jun). ransparent eportin o ria s e cometot e statement website. Disponível em: http://www.consort-statement.org. Acessado em 2010 (7 jun). o er oo ast ood in ennie troup mproving the quality of reports of meta-analyses of randomised controlled trials: the QUOROM statement. Quality of Reporting of Meta-analyses. Lancet. 1999;354(9193):1896-900. 4. STROBE Statement Strengthening the reporting of observational studies in epidemio o ec ist on items t at s ou d be inc uded in reports o observational studies. Disponível em:: http://www.strobe-statement.org/index. p pe t na secured u fi e fi eadmin trobe up oads c ec ists c ec ist v combined pd t as ea 62b288689b3dab40c1cb. Acessado em 2010 (7 jun). a nes u ro ut tman ardner ore informative abstracts revisited. Ann Intern Med. 1990;113(1):69-76. 6. BVS Biblioteca Virtual em Saúde. Descritores em Ciências da Saúde. Disponível em:: http://decs.bvs.br/. Acessado em 2010 (7 jun). Diagn Tratamento. 2013;18(2):I-II.